O CRISTÃO PRECISA DE HUMILDADE, CARIDADE E DISCERNIMENTO

peregTais são as ações santas e agradáveis, que exijo dos meus servidores, ou seja, as virtudes internas devidamente comprovadas. Eu não me contento com atos só exteriores, corporais, realizados em diferentes e numerosas mortificações, com atos que na realidade são apenas meios para se atingir a virtude. Tais penitências pouco me agradam, se não se fazem acompanhar das virtudes internas, indicadas acima. Digo mais: se uma pessoa se penitencia sem discernimento, pondo todo o seu afeto na mortificação enquanto tal, até impedirá sua perfeição. Quem se penitencia há de valorizar o amor, desprezar a si mesmo, ser humilde, paciente; há de ter todas as virtudes, deve alimentar o desejo da minha glória e a salvação dos homens. Essas virtudes mostrarão que seu egoísmo morreu e que perenemente destrói a sensualidade através do amor pela virtude.

É com tal discernimento que se deve praticar a penitência. Em outras palavras: é mister dar mais importância às virtudes que à mortificação. Esta última será um meio para aumentar as virtudes e será feita de acordo com a necessidade, na exata medida das forças pessoais. Aqueles que consideram as mortificações como essencial, obstaculizam a própria perfeição. Seria esta uma atitude tomada sem a iluminação do autoconhecimento e sem a exata consideração da minha bondade; estaria fora do reto caminho. Seria uma atitude sem discernimento, que valoriza o que eu não valorizo, que não despreza o que eu desprezo. O discernimento consiste num exato conhecimento de si e de mim; o discernimento enraíza-se nesse autoconhecimento. É como um rebento intimamente unido à caridade.
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DAS AFEIÇÕES DESORDENADAS

abcSe, porém, alcança o que desejava, sente logo o remorso da consciência, porque obedeceu à sua paixão, que nada vale para alcançar a paz que almejava. Em resistir, pois, às paixões, se acha a verdadeira paz do coração, e não em segui-las. Não há, portanto, paz no coração do homem carnal, nem no do homem entregue às coisas exteriores, mas somente no daquele que é fervoroso e espiritual.

Todas as vezes que o homem deseja alguma coisa desordenadamente, torna-se logo inquieto. O soberbo e o avarento nunca sossegam; entretanto, o pobre e o humilde de espírito vivem em muita paz. O homem que não é perfeitamente mortificado facilmente é tentado e vencido, até em coisas pequenas e insignificantes. O homem espiritual, ainda um tanto carnal e propenso à sensualidade, só a muito custo poderá desprender-se de todos os desejos terrenos. Daí a sua freqüente tristeza, quando deles se abstém, e fácil irritação, quando alguém o contraria.

A Imitação de Cristo – Tomás de Kempis

A TÁTICA DO COMBATE (VIDA ESPIRITUAL)

olhaHi in curribus et hi in equis: nos autem in nomine Domini Dei nostri invocabimus (Sl 19,8).

Uns confiam em seus carros, outros em seus cavalos; quanto a nós, apoiamo-nos no nome do Nosso Deus que invocamos.

Se o trabalho da perfeição é uma luta, há, pois, uma estratégia a adotar, uma tática a seguir. Nos combates humanos, triunfa aquele que tem fé em si. O grande recurso do general é manter no coração do soldado a confiança no seu próprio valor.

No combate com o divino amor, o guerreiro mais terrível é a criancinha que nenhuma confiança tem em si mesma, e tudo espera de Jesus que com ela combate. Entretém incessantemente em tua alma a desconfiança absoluta em ti mesma e exalta cada vez mais tua confiança em Deus, e vencerás.

O pais do divino amor é situado além das fronteiras humanas. A nenhum homem é dado pretender sequer, com suas próprias forças, fazer ainda que um passo no caminho que para lá conduz.

O natural e o sobrenatural aproximam-se, entrelaçam-se tão bem, que a alma se engana muitas vezes. Ela atribui a si um papel que pertence exclusivamente à graça. Jesus insinuou-Se de tal modo em seu ser que não raro ela julga andar só, quando é levada em Seus divinos braços.
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NOBREZA E SERVIDÃO DA FAMÍLIA

nobreQuem não receia os berços tem de amar o trabalho. Enfrentar com alegria o dever conjugal é sujeitar-se a múltiplos cuidados, aos longos dias de labor, numa época em que todas as condições da vida social estão concebidas e estão adaptadas à medida mesquinha do indivíduo. Com uma leviandade aterradora para que quer refletir um pouco, a França do século dezenove, a “França eterna” dos poetas e dos discursos oficiais instalava-se comodamente numa política de desnatalidade como se tivesse renunciado a perpetuar-se. Aceitar a família numerosa num ambiente destes, correspondia a uma vocação ao heroísmo.

O senhor Martin e a esposa não recuaram diante da perspectiva. Para dizer a verdade, a dificuldade, se existia, não os colocava ante um problema. Nunca leram Malthus. Ainda não se ouvira falar de Ogino (1). Por um certo tempo puderam “realizar” o esplendor de uma união santificada pela continência voluntária. Nem mesmo lhes ocorreu a idéia de frustrarem a natureza ou de atentarem contra o plano divino. Os filhos nasciam: eram acolhidos como uma benção do Céu, e, em razão do mandato confiado, lá se arranjavam para os alimentar, para os vestir, para os educar, para os dotar. Deus, que impunha a tarefa, daria os meios …

Entretanto lidavam sem descanso. O estabelecimento de ourivessaria tinha cada vez mais fregueses. Os clientes sérios preferiam aquele comerciante afável, de probidade legendária, que, nem por uma fortuna, violaria o descanso dominical. Nas outras joalharias era ao Domingo que a animação redobrava, que as vendas atingiam o auge.

Os camponeses iam a Alençon fazer compras, fornecer-se para casamentos e para fazer presentes. Dirigiam-se habitualmente ao grande armazém do Barateiro, na rua da Ponte Nova e depois encaminhava-se, instintivamente para a relojoaria situada mesmo na frente. Mas encontravam a porta fechada. Impacientavam-se, mas em vão. A ordem era inviolável: se queriam comprar bugigangas, relógios, jóias, que fossem a outro lado. Ali respondiam-lhes com as palavras de Joana d’Arc ligeiramente modificdas: Continuar lendo

ENTRE OS SANTOS DE DEUS

rezaQuem percorre a vida dos santos encontra verdadeiras glórias da vida doméstica e conjugal. Ora a mulher, ora o marido, ora ambos são santos.

… Sueva, mais tarde conhecida por Santa Serafina, teve um marido infame. Maltratava-a, ostensivamente gabava-se de ter amante, e por fim tocou a esposa para fora de casa. Nossa santa apegou-se com Deus e do seu sofrimento fez uma ascensão ao céu. – Realmente, há muitos casamentos infelizes e não é pouco viver amarrado pelos laços matrimoniais a um homem que em vez de ser auxílio é tormento para sua consorte.

Só um dia a infeliz esposa padeceu mais com o marido, do que num ano inteiro por causa de outras pessoas.

Há esposas que logo falam em divórcio, correm atrás de desquites, etc. Sueva mostrou o melhor meio: apegar-se a Deus e à religião. Em Deus há força e consolo. E quantas vezes o sofrimento da esposa converte o marido!

Dois casais mártires: Nicander e Daria, Marciano e esposa. O procedimento da duas mulheres foi tão diferente, leitora, que logo te pões a censurar a mulher de Marciano.
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AS MISSAS PELO PAPAI

meninaRefere o Pe. Mateo, apóstolo da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que estando na Inglaterra em tempo de muito frio, preparava para a primeira comunhão um grupo de crianças de seis a nove anos.

– Dizei a vossas mamães que estou pregando o reino do Sagrado Coração e que vós haveis de ser seus missionários.

Depois que acabei de pregar, veio uma menininha e disse-me:

– Padre, meu pai nunca vem à Igreja. Vou contar à minha mamãe o que o Sr. nos disse e eu nunca perderei a missa.

Eu lhes havia pregado sobre o Coração de Jesus e pedido que me ajudassem a salvar almas ouvindo uma ou mais missas.

A menina, chegando a casa, disse à mamãe que todos os dias iria ouvir missas por seu pai.

– De manhã faz muito frio, filhinha.

– Não faz mal, mamãe, preciso fazer algum sacrificio para salvar a alma de meu papai.

– Bem, faça como quiser.

Três meses depois encontrei-me com a mesma menina.
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PRINCIPAIS DEVERES DO PADRE

padreO próprio Jesus Cristo diz que viera ao mundo para acender o fogo do amor divino. Eis ao que o padre deve consagrar toda a sua vida e todas as suas forças. Não tem que trabalhar em adquirir tesouros, honras e bens terrenos, mas unicamente em ver a Deus amado de todos os homens. Somos chamadas por Jesus Cristo, diz o autor da Obra imperfeita, não a procurar os nossos próprios interesses, mas a glória de Deus… O amor verdadeiro não se procura a si próprio; deseja em tudo andar à vontade do amado. Na antiga Lei disse o Senhor: Separei vos de todos os povos, para que fôsseis meus. Considerai estas palavras como dirigidas aos padres: Para que sejais meus, inteiramente aplicados aos meus louvores, ao meu serviço e ao meu amor; e, segundo S. Pedro Damião, para que sejais os cooperadores e dispensadores dos meus sacramentos; e segundo Sto Ambrósio: Para serdes os guias e pastores do rebanho de Jesus Cristo. Acrescenta o santo Doutor que o ministro dos altares não é mais seu mas de Deus.

O próprio Senhor diz que separa dos outros homens os padres, para os ter inteiramente unidos a si. O divino Mestre disse: Se alguém me está associado, que me siga; Si quis mihi ministrat, me sequatur (Jo. 12, 26). Para seguir a Jesus Cristo, deve o padre fugir do mundo, socorrer as almas, fazer amar a Deus, declarar guerra ao pecado. Deve olhar como feitas a si as injúrias contra Deus: Caíram sobre mim os ultrajes dos que vos ofendem. Entregues aos negócios do mundo, não podem os leigos render a Deus o tributo de homenagem e reconhecimento que lhe é devido; por isso, diz um sábio autor, o Pe. Frassen, é necessário escolher dentre os outros homens alguns que, pelo seu próprio estado, sejam obrigados a prestar ao Senhor a honra que lhe pertence.
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DEUS QUER SERVIR-SE DE MARIA NA SANTIFICAÇÃO DAS ALMAS

mariaA conduta das três pessoas da Santíssima Trindade, na encarnação e primeira vinda de Jesus Cristo, é a mesma de todos os dias, de um modo visível, na Igreja, e esse procedimento há de perdurar até à consumação dos séculos, na última vinda de Cristo.

Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e chamou-as Maria10. Este grande Deus tem um tesouro, um depósito riquíssimo, onde encerrou tudo que há de belo, brilhante, raro e precioso, até seu próprio Filho; e este tesouro imenso é Maria, que os anjos chamam o tesouro do Senhor11, e de cuja plenitude os homens se enriquecem.

Deus Filho comunicou a sua Mãe tudo que adquiriu por sua vida e morte: seus méritos infinitos e suas virtudes admiráveis. Fê-la tesoureira de tudo que seu Pai lhe deu em herança; é por ela que ele aplica seus méritos aos membros do corpo místico, que comunica suas virtudes, e distribui suas graças; é ela o canal misterioso, o aqueduto, pelo qual passam abundante e docemente suas misericórdias.

Deus Espírito Santo comunicou a Maria, sua fiel esposa, seus dons inefáveis, escolhendo-a para dispensadora de tudo que ele possui. Deste modo ela distribui seus dons e suas graças a quem quer, quanto quer, como quer e quando quer, e dom nenhum é concedido aos homens, que não passe por suas mãos virginais. Tal é a vontade de Deus, que tudo tenhamos por Maria e assim será enriquecida, elevada e honrada pelo Altíssimo, aquela que, em toda a vida, quis ser pobre, humilde e escondida até ao nada. Eis a opinião da Igreja e dos Santos Padres.12 Continuar lendo

FÉ JUVENIL — FÉ VARONIL

jovemÉ bem possível, — oxalá todos o conseguissem! Que tenhas podido levar, da meninice para a mocidade, são e salvo o teu maior tesouro, tua fé infantil: e conseguido vencer, sem maiores abalos, os escolhos e tempestades dos anos da adolescência. Infelizmente, ainda assim, não estás fora de perigo. Uma última e grande prova te espera: cumpre transformar tua fé juvenil em fé varonil.

Aqui é preciso mencionar o grande número de moços que perderam a preciosa jóia da fé, durante o período universitário, após a terem conservado intacta, apesar das tentações, no decorrer do curso secundário.

Ao entrar no mundo, tua primeira observação será, infelizmente, que a religião, na vida de muitos camaradas teus e na de muitos adultos, tem um papel de somenos importância, se não estiver de todo estiolada. Por toda parte hás de ver quão facilmente moços sem experiências se metem pelo caminho da descrença. Contudo, não conseguirás ver quantos, já velhos, depois de experiências amargas, voltam ao ideal perdido. E, todavia, assim é.

Kant o grande filósofo, em sua adolescência, descreu de Deus, do livre arbítrio, da imortalidade da alma, mas viu-se finalmente na obrigação de declarar isso tudo como verdades indispensáveis.

Virchow e Du Bois-Rayínond, outrora próceres do materialismo, deram-lhe as costas. Vehr. Wundt e outros sábios de renome consideram suas próprias obras materialistas como estultícia e pecados de juventude.
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AS VÁRIAS POSIÇÕES TOMADAS NA CRISE ATUAL

frame-crise-na-igreja1) PROGRESSISMO: se subdivide em diversas categorias:

a) Obediência cega: aqueles que não admitem resistência às autoridades. É a posição mais cômoda na crise atual. Tem vários graus. Há até aqueles que dizem: “Prefiro errar com o Papa a acertar sem ele”, “Se o Papa fosse para o inferno eu iria junto”. Peca por excesso: chama-se subserviência. Destes tais dizia São Bernardo: “Aquele que faz o mal, sob o pretexto de obediência, faz antes um ato de rebeldia do que de obediência”.

b) Ultra-progressismo: são aqueles que, seguindo os princípios do Concílio Vaticano II, são mais lógicos e vão até às últimas conseqüências, sendo mais avançados do que as próprias autoridades auto-demolidoras da Igreja, não respeitando os freios que estas, por receio de escândalo, tentam impor. São os que, por exemplo, promovem os cultos afros, na linha da inculturação preconizada por João Paulo II; são os que pregam o ecumenismo total, na linha do encontro ecumênico de Assis; são os que apóiam as invasões de terra e o socialismo, na linha da teologia da libertação, etc.

c) Oficialismo: é a posição daqueles que, talvez pelo receio de serem chamados cismáticos, procuram tranqüilizar a própria consciência dizendo que seguem as autoridades oficiais da Igreja, mesmo quando favorecem à autodemolição. É a tentação da oficialidade, que reconhecemos ser bastante forte e sedutora, como se viu na Paixão de Jesus, quando a grande maioria do povo preferiu ficar do lado das autoridades religiosas oficiais que condenavam injustamente a Jesus, que ficou com poucos amigos fiéis.

Os que defendem tal posição teriam ficado com Aarão, sumo sacerdote oficial escolhido por Deus, que levou o povo a adorar o bezerro de ouro; teriam ficado com Caifás, sumo sacerdote oficial, que condenou a Jesus, teriam ficado com o Papa Libério, que favoreceu ao semi-arianismo e excomungou Santo Atanásio; teriam ficado com o Papa Honório que foi anatematizado pela Igreja, após sua morte, por ter também favorecido à heresia. Continuar lendo

LUTAR SEMPRE – DESÂNIMO NA VIDA ESPIRITUAL

cavaleiro cruzadoLabora sicut bonus miles Christi (II Tim 2,3)

Trabalha como um bom soldado de Cristo

Os combates pelo amor são longos e por vezes difíceis, e toda alma, por pouco generosa que seja, verifica em si mesma, em dados momentos, um movimento de depressão que se chama desânimo.

Essa depressão nasce insensivelmente da acumulação de contratempos e reveses sucessivos. A alma sente-se abatida, depois, de repente, um acidente qualquer, uma pequena indisposição, uma fadiga corporal, uma palavra de repreensão, uma falta de atenção sobrevêm a nosso respeito e a alma desanima.

Então tudo se torna pesado. A conversação espiritual é insípida, os livros que de ordinário a estimulavam perdem o sabor, os exercícios espirituais tornam-se um ônus intolerável. Nada a encoraja, tudo a aborrece e a desgosta.

A vida espiritual parece uma ilusão; atingir-lhe o cimo, uma impossibilidade. E ela senta-se tristemente a meia encosta sem forças para as alturas. Eis, por certo, um sério obstáculo, que impede por vezes o caminho às almas mais resolutas. Importa procurar as causas do desânimo e os meios de frustrar-lhes a influência paralisante. Continuar lendo

PELA SANTA MISSA ADORAMOS DIGNAMENTE A DEUS

massNossa primeira obrigação para com DEUS é adorá-Lo e honrá-Lo. Sendo DEUS de Majestade infinita, homenagens infinitas Lhe devemos. Infelizes que somos! Onde encontraremos oferenda digna de nosso Criador? Passai vós em revista todas as criaturas do Universo: coisa alguma encontrareis digna Dele.

Ah! é que uma oferenda digna de DEUS não pode ser senão o próprio DEUS. Necessário é que Aquele mesmo. que está assentado no Trono de Sua Majestade, desça para oferecer-se como vítima sobre nossos Altares, a fim de que a homenagem corresponda perfeitamente à Excelência de sua Grandeza infinita.

É isto é o que se realiza na Santa Missa, única Homenagem pela qual DEUS é adorado na medida que merece, porque é adorado por DEUS mesmo, isto é, por JESUS que, pondo-se sobre o Altar em estado de Vítima, adora a SANTÍSSIMA TRINDADE por um ato de inefável dependência tanto quanto Ela merece. E de tal modo que todas as outras homenagens que Lhe possam prestar as criaturas, comparadas a essa Humilhação de JESUS, desaparecem como as estrelas em presença do Sol.
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É NA DIFICULDADE QUE SE PROVAM AS VIRTUDES

sofrAcabei de explicar como, sendo útil ao próximo, o homem manifesta seu amor por mim. Agora vou dizer como cada pessoa mostra possuir a paciência ao ser injuriada pelos outros; a humildade, quando se acha diante do orgulhoso; a fé, diante do infiel; a esperança, na presença de quem nada espera; a mansidão e a benignidade, ante o irascível. Todas estas virtudes revelam sua existência e são exercitadas no próximo, da mesma forma como é nele que os maus cometem seus pecados.

Vê bem. É diante da soberba que aparece a humildade. O homem humilde vence o orgulho, pois o orgulhoso é incapaz de prejudicar quem é humilde. Do mesmo modo o descrente – que não me ama, nem em mim espera – não faz diminuir a fé do homem fiel ou a esperança daqueles que a possuem no coração por meu amor. Ao contrário, até as faz crescer e manifestar-se mediante o amor altruísta. Meu servidor, percebendo que se trata de um descrente ou desesperado que não confia em mim, nem nele – pois aquele que não me ama, também não acredita em mim, não confia em mim, mas deposita a sua afeição na própria sensualidade – meu servidor não deixa de amar verdadeiramente tal pessoa, certo de que ainda encontrará em mim a salvação. Como vês, o servidor fiel comprova sua fé na descrença e na desesperança alheia. Em casos semelhantes e em qualquer outro que ocorra, ele demonstra possuir a virtude.
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BELEZAS CANINAS

cachSe em tua família há muita vida repartida e acusada pela presença dos filhos, estarás livre, prezada leitora, de erros como o seguinte. Em certa cidade há um salão para embelezamento de cães. Penteados à escolha da dona dos cachorros de estimação. E também pintura para as unhas dos bichanos, em cores da moda. Até agora há escolha para cinco penteados diferentes. Dizem que uma dona de certo macaco é boa freguesa do instituto…

Tais provocantes aberrações só podem vingar em casas onde faltam filhos, ou existe apenas um só, que veio ao mundo controlado ou também descontrolado. Não é em vão que São Paulo avisa uma verdade. Qual? Salva-se a mulher pelos filhos. São eles uma defesa legítima contra criminosos desvios do coração e provocantes gastos desnecessários. Tivessem tais donas, de cachorros e macacos, filhos para pentear e não viveriam rodeadas de tais ridículos, culpadas de tais pecados.

Tremendo desvio do coração mostram certas famílias onde os animais domésticos vivem mais cuidados e assistidos do que os filhos. De um rei cruel, a quem a lei proibia matar suínos, diziam os vassalos:
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CONVÉM FALAR?

otimSe a formação da inteligência do adolescente exige sérios estudos e o hábito da reflexão, a do coração e da vontade impõe a concepção de um ideal moral, que ajudará o jovem a expulsar de seu pensamento tudo aquilo que poderia deturpá-lo.

É evidente que se a pureza requer educação específica, esta só produzirá efeitos se for precedida de uma formação de consciência.

Ensinar a criança a amar o bem sob todas as suas formas, a detestar o mal mesmo quando se apresente sob aspectos agradáveis, a agir de modo que todas as suas disposições morais resumam-se no temor de desagradar a Deus e na vontade de agradá-lo, tais devem ser as preocupações constantes do educador.

É lógico que a consciência da criança discernirá tanto mais facilmente o mal no terreno da pureza, quanto maior for a sua formação nos outros setores. Mas daí não se deve concluir que seja suficiente uma formação geral, e, por conseguinte, desnecessário prevenir a criança contra os perigos que, um dia, poderão ameaçar a sua pureza.

Ao contrário, julgamos que o maior dano que se possa fazer à juventude é recusar-lhe as explicações que devem guiá-la e esclarecê-la, quando surgem as primeiras curiosidades do espírito e os sintomas da puberdade. Continuar lendo

CARÁTER DA MULHER

caraterÉ evidente que o caráter feminino difere em muitos pontos do homem. O traço dominante que, segundo Heymans, dirige todas estas diferenças, é a grande emotividade da mulher. A mulher é mais emotiva que o homem. Esta maior emotividade faz-se sentir em toda a vida psíquica.

Em primeiro lugar nas aptidões intelectuais:

A mulher nota melhor que o homem o que lhe interessa e menos o que a deixa indiferente. Nada lhe escapa da toilette da sua interlocutora ou dos sentimentos que despertam a respeito do seu rosto. A afetividade dirige também a sua memória: nada esquece das coisas que a impressionaram ou a interessaram; retém verdadeiramente com o coração. A mesma influência da emotividade sobre a imaginação, que é geralmente mais concreta, mais rica, mais viva que a do homem.

Julga-se muitas vezes que a mulher é menos inteligente do que o homem. Heymans insurge-se contra esta afirmação. Segundo ele, a inteligência da mulher não é inferior a do homem, mas sob a influência de maior emotividade, a mulher lança-se para outros objetos, e segue nas suas pesquisas outras direções.

No trabalho propriamente intelectual e sobretudo no trabalho científico, o homem sobrepuja nitidamente a mulher.
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CONSEQUÊNCIAS MORAIS DA FORMAÇÃO DA INTELIGÊNCIA

conseqPara ensinar à criança a mostrar-se íntegra e respeitosa para consigo mesma e para com o próximo, é preciso que a mãe se proíba qualquer expressão indelicada em suas relações de intimidade com o bebê. Como poderá ele, comumente tratado de “molequinho”, “amolantezinho” ou até de algum nome de animal mais ou menos repugnante, aprender a respeitar-se a si mesmo?

Logo que chegar ao período de seu desenvolvimento, que o leva a procurar reproduzir os termos e palavras dos adultos, ele empregará as mesmas expressões, tanto para se designar a si próprio como para qualificar os outros. Isto representa terreno perdido relativamente à formação da delicadeza dos sentimentos.

Embora outras expressões tais como “meu Jesus” ou “meu Tesouro” não tenham caráter algum grosseiro, devem, igualmente, ser banidas da linguagem das mães. Tendem a diminuir, no espírito infantil, o sentimento dos valores morais ou religiosos. Se o bebê é um “Jesus”, não virá ele a considerar o verdadeiro Jesus como um simples companheiro? E se for qualificado de “tesouro”, como não haverá de se revoltar diante das severidades necessárias? Continuar lendo

AS OITO BEM-AVENTURANÇAS DE UMA CASA

familia_rezando2As oito bem-aventuranças de uma casa

1 – Bem-aventurados a casa onde se reza, porque Deus habitará dentro dela.

2 – Bem-aventurada a casa onde se guardam as festas, porque seus moradores tomarão parte nas festas do céu.

3- Bem-aventurada a casa onde se não sai para freqüentar diversões mundanas, porque nela reinará a alegria cristã.

4 – Bem-aventurada a casa cujos filhos são logo batizados, porque nela se criarão bem-aventurados para o céu. Continuar lendo

É NO HOMEM QUE SE AMA A DEUS

santa-catarina-de-siena-frameComo disse, todos os pecados são cometidos através do próximo, no sentido de que eles são ausência da caridade, que é a forma de todas as virtudes. No mesmo sentido, o egoísmo, que é a negação do amor pelo próximo, constitui-se como razão e fundamento de todo o mal. Ele é a raiz dos escândalos, do ódio, da maldade, dos prejuízos causados aos outros. O egoísmo envenenou o mundo inteiro e fez adoecer a hierarquia da Igreja e o povo cristão.

Já te disse que as virtudes se fundamentam no amor pelos outros; é da caridade que a virtudes recebem a vida. Sem ela nenhuma virtude existe, pois as virtudes se adquirem no puro amor por mim. Afirmei igualmente que o autoconhecimento produz na pessoa a humildade e a repulsa da paixão sensível, fazendo-a conscientizar-se da lei perversa que existe em seus membros e continuamente luta contra o espírito. Diante disto, o cristão luta e se opõe à sensualidade, com empenho a submete à razão e procura descobrir em si mesmo a grandeza da minha bondade. Inúmeros são os favores que lhe faço. Ao reconhecer que gratuitamente o retirei das trevas e o transferi para a verdadeira Sabedoria, no autoconhecimento ele se humilha. Assim consciente da minha benevolência, o homem me ama direta e indiretamente. Diretamente, não pensando em si mesmo ou em interesses pessoais; indiretamente, através da prática da virtude. Toda virtude é concebida no íntimo do homem por amor de mim; fora do ódio ao pecado e do amor à virtude, não existe maneira de me agradar e de se chegar até mim. Depois de ter concebido interiormente a virtude, a pessoa a pratica no próximo.

Aliás, tal modo de agir é a única prova de que alguém possui realmente uma virtude. Quem me ama, procura ser útil ao próximo. Nem poderia ser de outra maneira, dado que o amor por mim e pelo próximo são uma só coisa. Tanto alguém ama o próximo, quanto me ama, pois de mim se origina o amor do outro.
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O FIM DO SACERDÓCIO

SACERQuer Deus que todos os homens cheguem a salvar-se, mas nem todos pelos mesmos caminhos: assim como no Céu há diversos graus de glória, também na terra há diversos estados, que assinalam outros tantos caminhos diferentes para ir para o Céu. Entre esses estados, o mais nobre, o mais sublime, que se pode chamar o estado por excelência, é o estado sacerdotal, em razão dos fins altíssimos para que foi estabelecido. 

Quais esses fins? Só celebrar missa, recitar o ofício, e viver depois como os seculares? Não, por certo; o fim que Deus se propôs foi estabelecer na terra pessoas públicas, encarregadas de tudo quanto respeita à honra da sua divina majestade e à salvação das almas: Porque todo o Pontífice, escolhido dentre os homens, é estabelecido o favor dos homens, para exercer as funções do culto para com Deus, e oferecer dons e sacrifícios pelos pecados; deve saber compadecer-se dos que pecam por ignorância. Assim fala S. Paulo, e o Sábio diz de Aarão que ele fôra escolhido, para desempenhar funções sacerdotais e louvor ao nome de Deus. Foi assim que o cardeal Hugues aplicou as palavras: Habere laudem. E Cornélio A-Lápide ajunta: Assim como o ofício dos anjos é louvar incessantemente a Deus no Céu, assim o dos sacerdotes é louvá-lo constantemente na terra. Continuar lendo

O MENINO QUE FOI ENFORCADO TRÊS VEZES

palesEstamos na Palestina, pátria de Jesus, onde se disse a primeira Missa e os Apóstolos fizeram sua primeira comunhão…

E que é hoje a Palestina? Terra de desolação, de maometanos, cismáticos, judeus e poucos católicos.

Um menino cismático de oito anos começou a sentir-se atraido à religião dos católicos, a seus cantos e festas que lhe contavam seus companheiros.

Um dia quis ir ver. Com muito segredo, por temor dos pais, assistiu à missa numa capela.

Ficou encantado. Depois da missa continuou ali com as crianças do catecismo.

Terminada a cerimônia, o Padre, que não o conhecia, aproximou-se dele para saudá-lo carinhosamente.

O coração estava ganho, e o menino, às escondidas, continuou a ouvir a missa todos os domingos. Um dia, porém, o pai o descobriu e perguntou-lhe:
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QUANDO SE DEVE EXCITAR A CONTRIÇÃO PERFEITA?

filho_prodigo1. Se, com fidelidade e bom desejo, me tens seguido até aqui, cristão leitor, deixa que, olhando-te afetuosamente e apertando-te a mão, te diga de todo o coração e com a maior insistência: dá este prazer a Deus e à tua alma: fase devotadamente todas as noites, com tuas orações, um ato de contrição perfeita. Não deixes passar noite alguma sem exame de consciência e contrição, como não deixes passar manhã alguma sem purificar a intenção. Não pecarás, é claro, se o deixares de fazer alguma vez; porém tem por bom e saudável o conselho que te dou.

E não me digas que isso de exame de consciência e contrição é coisa própria de sacerdotes e homens perfeitos e não para ti; não te escuses com o “não há tempo”; “está a gente tão cansado quando chega a noite…”

Quanto tempo julgas que é necessário? Meia hora? Não. Um quarto de hora? Também não; alguns poucos minutos bastam. Não costumas recitar algumas orações antes de te deitares? Pois, em seguida à tua pequena oração, pensa uns momentos nas faltas e pecados do dia que acaba de passar, e reza, pausadamente e com fervor, diante do Crucifixo, o ato de contrição. Depois podes recolher-te tranqüilo. Deste ao Senhor as boas noites, e ele te respondeu: “Boa noite, filho”. Ele perdoou-te misericordiosamente os teus pecados. Que te parece? Fá-lo desde esta noite e jamais te arrependerás. Continuar lendo

SÉTIMA VELA: O DOM DE SABEDORIA (AS SETE VELAS DE MEU BARCO)

menina“Agora, escreveu São Paulo, isto é, aqui na terra, há três grandes virtudes: a fé, a esperança e a caridade. Mas no Céu, só haverá a caridade, que é a maior das três.”

Se, entre os dons do Espírito Santo, há dois que vêm em auxílio de nossa fé: os dons de Inteligência e de Ciência, e outro para ajudar à nossa esperança: o de Temor, deve haver também um para auxiliar a nossa caridade: é o dom de Sabedoria.

Sabedoria quer dizer possuir grande número de conhecimentos: sábio é aquele que estudou muito, que sabe muitas coisas.

Mas a verdadeira Sabedoria não é bem isso! Tanto para as crianças quanto para os grandes, ter verdadeira sabedoria é fazer o que é razoável, em vez de seguir a fantasia, o capricho, ou as más inclinações. Ser sábio é procurar o caminho certo para alcançar o alvo, quando decidimos fazer uma viagem.

E a Sabedoria que nos dá o Espírito Santo é ainda melhor e mais do que isso! Deus é perfeitamente sábio. Tudo quanto ele faz, é perfeito. E ele tudo faz por amor. Deus não pode cometer o menor erro, a menor falha. Mas, o que é ainda mais maravilhoso, é que até com nossas tolices e nossos pecados Deus possa fazer prodígios de amor! Adão e Eva tinham desobedecido: Deus poderia ter privado do Céu todos os homens, pois o Céu era um presente suplementar – certamente o mais belo! – que ele nos tinha feito. Em vez disso, imaginou enviar-nos seu próprio Filho, para nos mostrar o seu amor, morrendo na Cruz e conduzindo-nos de novo ao caminho do Céu. Continuar lendo

SEXTA VELA: O DOM DE CIÊNCIA (AS SETE VELAS DE MEU BARCO)

bernardeteO dom de Inteligência nos é dado pelo Espírito Santo para que a nossa fé seja mais viva; assim, esse dom de Inteligência nos faz, de certo modo, ver ou pelo menos “adivinhar” Deus.

O dom de Ciência vai também ajudar-nos a crer ainda melhor, pois faz-nos compreender a palavra de Deus: a História Sagrada, o Evangelho, o catecismo…

Há nos Salmos uma bela frase, que diz o seguinte:

“Tua palavra, ó Senhor, é uma luz, e ela dá a inteligência aos pequeninos.”

Bernadete tem quatorze anos: não sabe ler nem escrever. Pequena, magrinha, sofrendo de crises de asma que a impedem de desenvolver- se, apesar disso, ajuda a mãe a cuidar dos irmãozinhos, na miserável casa em que vivem em Lourdes.

A casa é tão pobre e escura, que é conhecida como “o calabouço”. Bernadete vai por vezes passar algumas semanas, ou até meses, com sua ama numa aldeia vizinha. Lá, toma conta dos carneiros na montanha. A ama gostaria que a menina aprendesse a ler. Afinal, ela já tem quatorze anos. E a boa mulher procura ensiná-la. Mas não há meio! É incrível, como Bernadete tem a cabeça dura!

– Não entra nada nessa cabecinha! diz a ama. Não entra nada! Continuar lendo

QUINTA VELA: O DOM DE INTELIGÊNCIA (AS SETE VELAS DE MEU BARCO)

tomasTodos sabem, com certeza, o ato de fé. As crianças o recitam de vez em quando na aula de catecismo, ou de noite, quando rezam. Ter fé é acreditar que Deus existe, não só porque vemos todas as belas coisas que ele criou: o mar, as montanhas, as estréias, os animais, as plantas… Mas é, sobretudo, crer que Deus nos criou para o conhecermos e o amarmos. É acreditar que Deus nos enviou Seu Filho, Jesus Cristo, para falar-nos dele. É crer que esta vida, na terra, é apenas preparação para a vida verdadeira que Deus nos reserva no Céu, vida que será infinitamente mais bela que nossa vida de hoje, e que não terá fim.

Crer é uma maravilha! Mas, às vezes, a gente fica com vontade de ver as coisas! É um pouco como quando viajamos de trem, subindo uma serra: o trem passa por túneis e tudo fica escuro. Sabemos que, depois do túnel, teremos uma vista mais bonita do que a que ficou para trás, mas dá vontade de ver logo toda a paisagem, como aqueles que viajam de avião.

Quando o Espírito Santo vem habitar a nossa alma, pelo dom de Inteligência, ele pode fazer-nos compreender e sentir que tudo quanto acreditamos pela fé, é absolutamente verdade.

Se o pecado original não tivesse produzido uma confusão no mundo, e principalmente em nossa alma, compreenderíamos sem dificuldade, mesmo sem a ajuda de nossos olhos do corpo, que Deus é muito mais real do que tudo quanto vemos ao redor de nós. Isso seria normal, pois foi Deus quem criou tudo. Continuar lendo

QUARTA VELA: O DOM DE CONSELHO (AS SETE VELAS DE MEU BARCO)

boscoVamos falar aqui de um outro pequeno João, um outro grande Santo, que a Igreja chamará SÃO JOÃO BOSCO.

– Atenção! gritou Joãozinho. E, ágil como um esquilo, salta sobre a corda que esticou firmemente entre duas árvores do campo, ao lado da modesta casinha de sua mãe. Sua carinha redonda ri de contente! Os olhos castanhos brilham, cheios de alegria. Os cabelos pretos e crespos esvoaçam ao vento.

Na corda estendida, sobre a qual se equilibra perfeitamente, o menino dá viravoltas, pula, dança. Ao redor dele formou-se um ajuntamento: não só de crianças, mas também de gente grande. Todos têm os olhos fixos no pequeno acrobata de dez anos. Ninguém quer perder um só de seus movimentos!

Agora, João dá cambalhotas na grama, anda de mãos no chão e cabeça para baixo, “planta bananeira”. Depois, lança ovos no ar e apara-os com agilidade, sem deixar cair nenhum. Em seguida, aproxima-se dos espectadores e faz a mágica de tirar uma moeda do nariz de um pequeno! Mas o mais bonito é a dança do chapéu, que Joãozinho faz voltear na ponta de uma varinha. É extraordinário! Equilibra a vara no cotovelo, depois no ombro, no queixo, no nariz, na testa, e o chapéu sempre rodopiando! Toda a gente aplaude:

– Bravo! Joãozinho, bravo! Você é formidável! Continuar lendo

TERCEIRA VELA: O DOM DE FORTALEZA (AS SETE VELAS DE MEU BARCO)

tarcisioNa semi-obscuridade das catacumbas, o Bispo acaba de oferecer o Santo Sacrifício da Missa. Com ar grave, volta-se para o pequeno grupo de fiéis que terminam sua ação de graças. Na penumbra, procura com o olhar um mensageiro seguro a quem possa confiar o Pão Consagrado, isto é, o Corpo de Cristo, para ser levado às tristes e úmidas prisões, onde os cristãos aguardam a hora do martírio.

– Tarcísio! chama o Bispo.

Uma criança levanta-se. Um menino de belos olhos leais e corajosos. Silenciosamente, aproxima-se do Bispo. Já compreendeu o que esperam que ele faça. Não é a primeira vez que isso acontece.

– Sim, eu o levarei.

Sob o amplo manto de lã, Tarcísio leva escondido o seu Deus. Calmo, forte, recolhido, segue pelas ruas de Roma. Ele é ainda uma criança. No meio de toda aquela gente, passará despercebido e ninguém suspeitará de onde vem e para onde vai, pois, sem saber bem porquê, todo o povo da cidade deseja a morte dos cristãos. Tarcísio julga que não será notado. Mas sabe perfeitamente o que acontecerá se o apanharem levando a Eucaristia aos prisioneiros: será a morte!

O menino sente-se tão feliz com a difícil missão que lhe confiaram, caminha tão recolhido, rezando em silêncio, que nem vê, na esquina de uma pequena praça, um grupo de seus colegas dc escola, que organizavam uma grande partida de jogo.

– Tarcísio! Tarcísio! Venha cá!

– Precisamos de um companheiro para o nosso jogo! Continuar lendo

FÉ INFANTIL — FÉ JUVENIL

meninoSe este livro, cair nas mãos de um jovem náufrago já talvez da fé, vou suplicar-lhe apenas que considere tranquilamente o que perdeu com a fé e o que lucrou com a incredulidade.

Recorda-te, caro jovem, do tempo em que eras menino de fé viva. Ora, não te assustes! Imagino-te menino de sete ou oito amos, ao lado do atual moço de 17 ou 18 anos.

Interessante encontro!

Aquele rapazinho de grandes olhos claros, roupa à marinheira, olha-te receoso, a ti, ó jovem musculoso, de corpo desenvolvido, bigode já crescido. O rapazinho eras tu… e quão feliz te sentias!

Lembras-te? — Pela manhã era acordar na caminha branca, e, inocente, começar a oração da manhã: Em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo. — Como se passava alegre o dia inteiro! — À noite, depois de rezar e dar boa noite aos pais, era adormecer com o sorriso nos lábios. Como eras feliz então…

Mas depois…

Depois, leste um livro ou tiveste conversas com um companheiro leviano, ou, não sei porque, em tua razão que se desenvolvia surgiu o pensamento: “Será realmente tudo como eu acredito? Será verdade tudo o que creio?”
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SEGUNDA VELA: O DOM DE PIEDADE (AS SETE VELAS DE MEU BARCO)

piedadeHá muitos e muitos anos, no Norte da África, em Tipasa, onde hoje é o território da Argélia, vivia um povo que não conhecia Nosso Senhor.

Adorava como deus um dragão representado por uma estátua horrível e riquíssima, feita de ouro e prata, com dois diamantes no lugar dos olhos. Para esse dragão, o povo tinha construído um templo magnífico no alto de um rochedo, à beira-mar.

Todo o ano, no mês de maio, os moradores de Tipasa faziam uma grande festa em honra de seu deus, com procissões, danças, divertimentos, nos quais todos comiam muito, e bebiam ainda mais!

A pequena Salsa tinha horror a essas festas, pois era cristã! Vendo aquela gente adorar um ídolo ridículo, em vez de adorar a Deus, que é nosso Pai, sentia imensa tristeza.

Salsa não era muito crescida, tinha apenas quatorze anos, mas amava tanto a Deus que não podia deixar de procurar fazer alguma coisa por Nosso Senhor.

Assim, numa noite de festa do deus-dragão, ela encaminhou-se às escondidas para o templo no alto da rocha.

Todos os guardas tinham bebido muito e dormiam um profundo sono, deitados do lado de fora. Que sorte, para Salsa! Rapidamente, entra no templo e faz a volta do ídolo, procurando ver se está preso no pedestal. Observa então que a estátua é feita de duas partes: a cabeça é aparafusada sobre o corpo. Isso facilitará muito o seu trabalho! Devagar, para não fazer barulho, a corajosa menina faz girar a cabeça até que fique solta. Justamente, ali pertinho, há uma grande janela aberta sobre o mar, e, com um forte empurrão, a horrível cabeça é lançada às ondas. Ninguém percebeu nada! Continuar lendo

PRIMEIRA VELA: O DOM DE TEMOR (AS SETE VELAS DE MEU BARCO)

joaoO pequeno João Yepes brincava com seus amiguinhos à beira de uma lagoa. Era uma lagoa lodosa, cheia de lama escura e suja. Os meninos cortavam pequenos ramos de árvore e os jogavam com toda a força na água: formavam assim uma pequena frota. Era muito divertido! Mas de repente, zás! Ao jogar um pau, João escorrega e cai no charco. Na margem, seus companheiros gritam, assustados. João é ainda muito pequeno: só tem cinco anos! Vai se afogar! Está afundando na lama, e só se vê a sua cabecinha fora do lodo.

Eis, porém, que uma pessoa lhe estende os braços. Uma moda resplandecente de pureza e de luz debruça-se sobre a água: é a Virgem Maria. Admirado ao ver a aparição, o menino procura sair da lagoa e estende também os bracinhos. Mas, vendo que suas mãos pretas do lodo imundo iam sujar as mãos tão brancas e tão puras de Nossa Senhora, João recua e mergulha de novo os braços na lama. Manchar as mãos tão lindas da Virgem Santíssima?… Nunca! Joãozinho prefere afundar naquele pântano e até morrer ali, se for preciso.

O dom de Temor, é isso! É o medo de manchar, ainda que pelo menor pecado, pelo egoísmo, pela mentira, o reflexo da infinita pureza de Deus em nossa alma. É o medo de entristecer, por pouco que seja, o Espírito Santo que habita em nós. É o medo de causar a mais leve mágoa a Jesus, que tanto sofreu por nossos pecados. Não é o medo de ser castigado, de se machucar, ou de ter que se esforçar muito… É o contrário disso. Continuar lendo