O amor de Deus e o espírito de Nosso Senhor não podem estabelecer a sua morada num coração onde reinam o espírito e o amor do mundo; ora tudo o que cerca as crianças junta-se às suas próprias inclinações, para as levar para o amor deste mundo perverso, que é o inimigo jurado de Jesus Cristo «Em volta da crianças, diz o judicioso Rollin, não há senão louvores aos que amontoam grandes riquezas, que têem grandes equipagens, que vivera principescamente, que têm ricos palacetes… Carecem, pois, estas crianças dum monitor fiel e assíduo, dum advogado que defenda, junto delas, a causa da verdade, da honra e da razão, que lhes faça notar a falsidade que reina em quase todos os discursos, e conversações dos homens.» Carecem dum guia inteligente, que as arranque a esses jardins íloridos que o mundo lhes apresenta, e que só servem para a sua perdição, afim de que possam entrar no caminho espinhoso das virtudes cristãs, que conduz à eterna felicidade. Quem será esse monitor fiel, esse benfazejo guia, senão uma atenta mãe, que faça notar a seus filhos a vaidade de tudo o que passa, repetindo-lhes muitas vezes: — «Não ameis o mundo, meus filhos, porque o mundo só vive de falsidades. Não há no mundo senão concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e orgulho.» Três fontes envenenadas de todos os nossos males e de todas as nossas iniquidades, que é preciso extirpar do coração das crianças. «Quem não sabe que, na grande obra da educação, temos a lutar contra a tríplice concupiscência, nada sabe, e nada pode, diz o ilustre bispo d’Orleans.»
É pois a sensualidade o primeiro inimigo que temos a combater, isto é o amor do que lisonjeia o corpo, a moleza, a ociosidade com o vício que a segue de perto. Já neste livro nos insurgimos contra certas mães que concedem e procuram a seus filhos tudo o que pode lisonjear os seus gostos; inútil será tornar a falar sobre este ponto. Mas por quantas outras facilidades se não intertêem estas fraquezas nas crianças! Satisfazem-se todos os seus caprichos, para que nada tenham a sofrer; até lhes chegam a tirar o ar, com medo que tenham muito calor no verão, e muito frio no inverno. Mal se acusam da mais pequena dor, logo lhes tiram o estudo, e à menor indisposição, pai, mãe e criados andam numa roda viva, prodigalizando-lhes mil atenções e cuidados. Deixam-nas dormir até tarde na cama; talvez até as deixam estar na cama, sem dormir, e lamentam-nas, pelo que sofrem no colégio.
Parecem fúteis estes pormenores, mas têm um grande alcance, pelas fantasias que se sofrem aos meninos e que tão legítimas se julgam. No entretanto o conjunto de todas as estas sensualidades tira-lhes toda a energia, e toda a força física e moral, não lhes deixando ardor senão para o pecado. Continuar lendo