LANÇAMENTO DO BOLETIM PERMANÊNCIA

O dia 6 de janeiro, festa da Epifania de Nosso Senhor, seria também aniversário de Julio Fleichman, meu pai, que participou junto a Gustavo Corção e outros alunos e amigos, da fundação da Permanência, em 1968. 

Dr. Júlio, como era conhecido, presidiu o movimento e dirigiu a Revista Permanência entre 1969 e 2003. Dois anos depois de ceder o cargo, veio a falecer, vítima de um câncer no cérebro.

Levados pelo alto nível intelectual e religioso de Gustavo Corção, os amigos da Permanência sempre pautaram o trabalho na formação profunda e séria da doutrina católica, em seus diversos pontos.

No entanto, iniciaram nos anos 70 o Boletim Permanência, com o objetivo de oferecer aos seus leitores textos mais curtos sobre assuntos de atualidade política, civilizacional ou cultural. 

A Revista Permanência foi relançada, após 22 anos de inatividade, com o número de Natal de 2011, e consolidou-se como órgão trimestral de formação católica tradicional no Brasil. 

Por iniciativa da equipe de colaboradores da Revista Permanência, relançamos hoje a edição digital do Boletim Permanência, que nossos leitores encontrarão no seguinte link:

boletim.permanencia.org.br

Complementar ao site Permanência, o Boletim mantém a mesma postura daquele lançado por Julio Fleichman: textos curtos, análises de fatos noticiados na mídia, política, cultura, fatos religiosos relevantes etc.

Porém, enquanto o site de formação mantém atualizações semanais e artigos mais longos, o boletim é atualizado todos os dias, ou mesmo várias vezes ao dia, dependendo dos acontecimentos.

Convidamos nossos leitores a freqüentarem  assiduamente essa nova página da Permanência.

Dom Lourenço Fleichman OSB

DA SAGRADA COMUNHÃO – PONTO III

Resultado de imagem para comunhão joelhosConsideremos, finalmente, o grande desejo que tem Jesus Cristo de que o recebamos na Santa Comunhão… Sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora… (Jo 13,1), mas por que Jesus Cristo chamava a sua hora aquela noite em que devia começar sua dolorosa Paixão?… É porque naquela noite ia legar-nos este divino Sacramento, com o fim de unir-se ele mesmo às almas queridas de seus fiéis. Este sublime desígnio fê-lo exclamar então: “desejei ardentemente celebrar convosco esta Páscoa” (Lc 12,15), denotando com estas palavras o divino Redentor o veemente desejo que nutria de estabelecer conosco essa união na Eucaristia…

Desejei ardentemente… Assim o obriga a falar o amor imenso que nos tem — disse São Lourenço Justiniano.

Quis ocultar-se sob as espécies de pão, a fim de ser acessível a todos. Se houvesse escolhido para este portento algum alimento esquisito e caro, os pobres não poderiam recebê-lo frequentemente. Outra classe de alimento, mesmo que não fosse seleto e precioso, não se encontraria em toda parte. Por isso, o Senhor preferiu esconder-se sob as espécies do pão, porque o pão facilmente se encontra e todos os homens o podem procurar.

O vivo desejo que tem o Redentor de que com frequência o recebamos sacramentado, movia-o a exortar-nos muitas vezes: “Vinde, comei o pão; e bebei o vinho que vos preparei. Comei, amigos, e bebei; inebriai-vos, meus muito amados” (Pr 9,5; Ct 5,1); venho a vô-lo impor como preceito:

“Tomai e comei; este é meu corpo” (Mt 26,26)

E para nos atrair a recebê-lo, estimula-nos com a promessa da vida eterna.

“Quem come a minha carne, tem a vida eterna. Quem come este pão, viverá eternamente” (Jo 6,55.59) Continuar lendo

A ESPÓRTULA E AS INTENÇÕES DE MISSA

Os fiéis que desejam que o sacerdote celebrante aplique a missa, ou melhor, o fruto especial da missa, por sua intenção particular, dão a ele uma esmola chamada “espórtula”, que pode variar de acordo com as regiões e suas custas correspondentes. Esta é uma prática fundada na razão e na tradição eclesiástica e aprovada pela Igreja, que substituiu o antigo e piedoso costume dos fiéis oferecerem a matéria da Missa e doações para o sustento digno do clero e dos pobres confiados à Igreja.

Estas ofertas livres e generosas, ao serem suprimidas ao longo do tempo, foram substituídas pelas espórtulas e direitos paroquiais ou direitos de estola, que costumam ser mal interpretados, quase sempre por ignorância ou por informação insuficiente.

Então, é possível dizer que as missas são vendidas? De nenhum modo. O sacerdote não vende a missa e os fiéis não a compram. O sacerdote oferece o fruto comunicável da Missa em benefício dos fiéis que lhe pedem.

AS INTENÇÕES DA MISSA

Os fiéis, ao pedirem uma missa e oferecerem as “espórtulas” correspondentes, indicam ao padre uma ou mais intenções, que ele leva em conta ao celebrar. Essas intenções podem ser por si ou por outra pessoa, por vivos ou falecidos, por assuntos materiais ou espirituais, em ação de graças ou pedindo por elas, etc. É possível rezar por todos os vivos, não se excluindo da intenção de orações nem mesmo os infiéis e acatólicos ou excomungados; no entanto, para estes somente é possível rezar a Missa em particular. Quanto às pessoas privadas de sepultura eclesiástica, tais como os comunistas, maçons, suicidas e duelistas, divorciados, aqueles que viviam maritalmente sem a bênção da Igreja, aqueles que tenham solicitado a cremação e aqueles que cometeram um pecado grave público, também é possível celebrar missas por eles, mas não publicamente, nem uma Missa de Requiem, seja de aniversário de falecimento ou qualquer funeral público. Continuar lendo

DA SAGRADA COMUNHÃO – PONTO II

Resultado de imagem para comunhão véuConsideremos, em segundo lugar, o grande amor que nos manifestou Jesus Cristo ao outorgar-nos este dom preciosíssimo; pois que o Santíssimo Sacramento é dádiva unicamente do amor. Segundo os decretos divinos, foi necessário que o Redentor morresse para nos salvar.

Mas que necessidade há para que Jesus Cristo, depois de sua morte, permaneça conosco a fim de ser sustento de nossas almas?…

Assim o quis o seu amor. Foi unicamente para manifestar-nos o imenso amor que nos tem que o Senhor instituiu a Eucaristia — disse São Lourenço, expressando o mesmo que São João refere em seu evangelho:

“Sabendo Jesus que era chegada a sua hora de trânsito deste mundo ao Pai, tendo amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jó 13,1)

Isto é, quando o Senhor viu que se aproximava o tempo de afastar-se deste mundo, quis deixar-nos maravilhosa prova de seu amor, dando-nos o Santíssimo Sacramento, como precisamente significam estas palavras: “amou-os até ao fim”, ou seja “amou-os extremamente, com sumo e ilimitado amor”, segundo a explicação de Teofilacto e São João Crisóstomo.

Notemos, como observa o Apóstolo, que o tempo escolhido pelo Senhor para nos fazer este inestimável donativo foi o de sua morte. Continuar lendo

O FUTURO DA IGREJA E DAS VOCAÇÕES

Tradução: Permanencia

O Pe. Davide Pagliarani, Superior Geral da Fraternidade São Pio X, concedeu uma entrevista exclusiva ao site oficial do Distrito Francês da FSSPX, La Porte Latine, na qual relembra a fecundidade da Cruz para as vocações e as famílias. Ele enfatiza particularmente a necessidade de guardar o espírito autêntico do fundador, Dom Marcel Lefebvre, “um espírito de amor pela fé e pela verdade, pelas almas e pela Igreja”, em face da recente canonização de Paul VI e da promoção da sinodalidade na Igreja.

Faz agora cinco meses que o senhor foi eleito Superior Geral da Fraternidade São Pio X, para um mandato de doze anos. Estes cinco meses certamente lhe permitiram uma primeira visão geral sobre a obra fundada por Dom Marcel Lefebvre, em complemento à sua já rica experiência pessoal. Qual a sua impressão e quais as prioridades para os próximos anos?

A Fraternidade é uma obra de Deus, e quanto mais a conhecemos, mais a amamos. Duas coisas mais me impressionaram. Primeiro, o caráter providencial da Fraternidade: ela é o resultado de escolhas e decisões de um santo guiado unicamente por uma prudência sobrenatural e “profética”, cuja sabedoria apreciamos mais e mais à medida que os anos passam e a crise da Igreja se agrava. Depois, pude constatar outra vez que não temos a regalia de sermos poupados: o Bom Deus santifica todos os nossos membros e fiéis mediante os fracassos, as provas, as decepções, em uma palavra, pela cruz e não por outros meios.

Com 65 novos seminaristas este ano, a Fraternidade atingiu o recorde de ingressos em seus seminários dos últimos trinta anos. O senhor foi reitor do seminário de La Reja, na Argentina, durante quase seis anos. Como pretende favorecer o desenvolvimento de vocações ainda mais sólidas e numerosas?

Estou persuadido de que a verdadeira solução para aumentar o número e a perseverança das vocações não reside principalmente nos meios humanos, ou por assim dizer, “técnicos”, tais como boletins informativos, visitas apostólicas ou publicidade. Antes de tudo, uma vocação para nascer precisa de um lar onde se ame a Nosso Senhor, à Cruz e ao seu sacerdócio; um lar onde não se respira amargura nem crítica para com os padres. É por osmose, ao contato com pais verdadeiramente católicos e com padres profundamente impregnados do espírito de Nosso Senhor, que uma vocação desperta. É nesse âmbito que se deve continuar trabalhando com todas as nossas forças. Uma vocação jamais é o resultado de um raciocínio especulativo, nem de uma lição que tenhamos recebido e com a qual estejamos intelectualmente de acordo. Esses elementos só podem ajudar a responder ao chamado de Deus sob a condição de se seguir aquilo que dissemos antes. Continuar lendo

DA SAGRADA COMUNHÃO – PONTO I

Resultado de imagem para comunhão fsspxAccipite et comedite: hoc est Corpus meum – “Tomai e comei; este é meu Corpo” (Mt 26, 26)

Consideremos a grandeza do Santíssimo Sacramento da Eucaristia, o amor imenso que Jesus Cristo nos manifestou nesta dádiva tão preciosa e o vivo desejo que nutre de ser por nós recebido. Vejamos, em primeiro lugar, a grande mercê que nos fez o Senhor ao dar-se a nós como alimento na santa comunhão. Disse Santo Agostinho que, sendo Jesus Cristo Deus onipotente, nada melhor pôde dar-nos. Que maior tesouro pode receber ou desejar uma alma do que o sacrossanto corpo de Cristo? Exclamava o profeta Isaías:

“Publicai as amorosas invenções de Deus” (Is 12,4)

E em verdade, se nosso Redentor não nos tivesse obsequiado com dádiva tão valiosa, quem é que ousaria pedi-la? Quem é que se atreveria a dizer-lhe:

“Senhor, se quereis demonstrar o vosso amor, ocultai-vos sob as espécies do pão e permiti que as recebamos para o nosso sustento…”?

Tal pensamento houvera de ser considerado como loucura.

“Não parece loucura dizer: comei minha carne e bebei meu sangue?” — exclamava Santo Agostinho

Quando Jesus Cristo anunciou a seus discípulos este dom do Santíssimo Sacramento e afastaram-se do Senhor, murmurando:

“Como pode este dar-nos a comer sua carne?… Dura é esta doutrina, e quem a pode ouvir?” (Jo 6,53)

Mas o que ao homem nem sequer é dado imaginar, concebeu-o e realizou-o o grande amor de Cristo. Continuar lendo

MEDITAÇÃO PARA A TARDE: JESUS CRISTO TEM FEITO E PADECIDO TUDO POR NOSSO AMOR

Resultado de imagem para PADECIMENTO JESUSDilexit me, et tradidit semetipsum pro me — “Ele me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gal. 2, 20).

Se é verdade, ó meu Jesus, que por meu amor abraçastes uma vida penosa e uma morte amargosa, posso dizer com razão, que a vossa morte é minha, que são minhas as vossas dores, meus os vossos merecimentos, que, em suma,Vós mesmo sois meu, já que por meu amor Vos entregastes a tão grandes padecimentos. Ah, meu Jesus! Nada me aflige tanto como o pensar que houve um tempo em que Vós éreis meu, e eu voluntariamente Vos tenho perdido repetidas vezes. Perdoai-me e estreitai-me ao vosso peito, nem permitais que eu ainda torne a ofender-Vos. Amo-Vos de toda a minha alma. Vós quereis ser todo meu, eu quero ser todo vosso.

O Filho de Deus, por ser Deus verdadeiro, é infinitamente feliz. Contudo, observa Santo Tomás, Ele tem feito e padecido tanto por amor do homem, como se sem este não pudesse ser feliz: quasi sine ipso beatus esse non posset. Se Jesus Cristo, durante a sua vida terrestre, tivera de merecer a eterna bem-aventurança para si mesmo, que é que mais pudera fazer do que carregar-se de todas as nossas fraquezas, tomar sobre si todas as nossas misérias, para depois terminar a vida com uma morte tão dura e ignominiosa? Mas Jesus era inocente, santo e bem-aventurado em si mesmo; tudo quanto tem feito e padecido, tem-no feito a fim de merecer para nós a graça divina e o paraíso perdido. — Desgraçado de quem não Vos ama, ó Jesus meu, e não vive abrasado no amor de tão grande bondade!
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PARA O ÚLTIMO DIA DO ANO: DEVEMOS APROVEITAR O TEMPO

tempoEcce breves anni transeunt, et semitam per quam non revertar ambulo — “Vê que passam os breves anos, e eu caminho por uma vereda pela qual não voltarei” (Iob. 16, 23)

Sumário.
 Com razão o Espírito Santo nos exorta a que conservemos o tempo, porquanto o tempo é não somente precioso, mas ainda de muito curta duração. Lembra-te de como se passaram depressa os doze meses desse ano que hoje termina. Dize-me, irmão meu, como é que até hoje tens empregado o tempo? Esforças-te, ao menos, em resgatar o tempo perdido, empregando-o melhor para o futuro? Quem sabe? Talvez o ano que finda, seja o último da tua vida!

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O tempo, sobre ser a coisa mais preciosa, porque é um tesouro que só neste mundo se acha, é ainda de muito curta duração. Ecce breves anni transeunt. Lembra-te de como se passaram depressa os doze meses do ano que hoje finda! É, portanto, com razão que o Espírito Santo nos exorta a conservarmos o tempo, e não deixarmos perder-se um só momento sem o aproveitarmos bem. Mas, ai de nós! Quão diversamente vão as coisas! Ó tempo desprezado, tu serás a coisa que os mundanos mais desejarão na hora da morte, quando ouvirem dizer que para eles não haverá mais tempo: Tempus non erit amplius.

E tu, irmão meu, em que empregas o teu tempo? Deus te concedeu a graça de teres chegado até ao dia de hoje, com preferência a tantos milhares e milhões de pessoas, talvez da tua idade, ou mesmo mais novas, talvez fortes como tu ou ainda mais robustos, com a mesma compleição que tu, ou talvez mais sadia. Elas morreram e tu estás vivo! Elas estão reduzidas à podridão e cinzas no túmulo e tu estás aqui meditando! Elas na eternidade, e muitas infelizmente no inferno, e tu ainda no tempo! Mas como é que passas o tempo? Em que coisas o empregaste até hoje?

Faze aqui, aos pés de Jesus Cristo, um exame geral da tua vida. Pondera, por um lado, as inúmeras graças com que Deus te tem cumulado especialmente no correr deste ano; por outro, recorda as faltas, as imperfeições, quiçá os pecados, com que continuamente, desde o primeiro dia do ano até este último, tens ofendido o Senhor, retribuindo-Lhe a liberalidade infinita com ingratidão. Ah! Se não resgatares desde já o tempo inutilmente perdido, ou quiçá mal empregado, ele te causará remorsos amargosos, quando, no leito da morte, te achares próximo àquele grande momento do qual depende a eternidade! Continuar lendo

VIDA DE TRIBULAÇÕES QUE JESUS CRISTO COMEÇOU A LEVAR DESDE O SEU NASCIMENTO

MENINO-Jesus-E-CRUZDefecit in dolore vita mea, et anni mei in gemitibus — “A minha vida tem desfalecido com a dor, e os meus anos com os gemidos” (Ps. 30, 11).

Sumário. A vida de Jesus Cristo foi um martírio contínuo, e mesmo um duplo martírio, porque tinha continuamente diante dos olhos todas as dores que haviam de atormentá-Lo até à morte. Entre todas aquelas dores, porém, a que mais o afligiu, foi a previsão dos nossos pecados e da nossa ingratidão depois de tamanho amor da sua parte. É, pois, verdade, ó Jesus, que com os meus pecados Vos tenho causado aflição durante toda a vossa vida!

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Jesus Cristo podia salvar-nos sem padecer nem morrer; mas não quis. A fim de nos fazer conhecer até que ponto nos amava, quis escolher uma vida toda de tribulações. Por isso, o profeta Isaías o chamou: virum dolorum — “Homem das dores”, porque a vida de Jesus Cristo devia ser uma vida toda cheia de dores. A sua Paixão não teve seu princípio no tempo da sua morte, mas sim, no começo da sua vida.

Vêde que Jesus, apenas nascido, é posto na manjedoura de uma estrebaria, onde tudo concorria para o atormentar. É atormentado na vista, que não descobre na gruta senão paredes grosseiras e negras. É atormentado no olfato, pelo fedor das imundícies dos animais que ali se acham. É atormentado no tato, pelas picadas da palha que lhe servia de cama. Pouco depois de nascido, vê-se obrigado a fugir para o Egito, onde passou vários anos da infância, na pobreza e no desprezo. Nem diferente foi a sua vida depois em Nazaré; e eis que finalmente termina a sua vida em Jerusalém, morrendo sobre uma cruz, pela veemência dos tormentos.

De sorte que a vida de Jesus foi um martírio contínuo, e mesmo um duplo martírio, por ter sempre diante dos olhos todos os sofrimentos que em seguida deviam atormentá-Lo até à morte. À soror Maria Madalena Orsini, queixando-se um dia a Jesus crucificado, disse-lhe: “Mas, Senhor, Vós passastes somente três horas pregado na cruz, ao passo que eu já estou sofrendo vários anos” Jesus, porém respondeu-lhe: “Ó ignorante! Que estás dizendo? Desde antes de nascer sofri todas as dores da minha vida e da minha morte.” Continuar lendo

SÃO JOSÉ E A PRIMEIRA COMUNHÃO

Resultado de imagem para são joséO célebre Pe. Leonard, grande missionário na Itália, chorava toda vez que tinha de pregar um retiro de primeira comunhão.

– Mas, Padre, que é que tem o Sr.? perguntavam-lhe.

– Ah! não sabeis (respondia) que se preparam para o dia da primeira comunhão vários calvários, onde Jesus Cristo será de novo crucificado? Nada mais comum do que este crime entre os meninos. Não sabeis que muitos ocultam seus pecados na confissão; outros se confessam mal; outros não têm arrependimento; outros, enfim, não compreendem a grandeza do ato que vão fazer? Por pouco que se ame a Deus, é impossível não chorar e não sentir horror de semelhante atentado.

Impressionado com estas palavras, um piedoso Diretor de Colégio mandava rezar todos os dias do mês de março para que nenhum dos alunos cometesse tão horrendo pecado.

Nove dias antes da comunhão deviam fazer uma novena a S. José, a fim de que todos se preparassem bem para a primeira comunhão e não se encontrasse nenhum Judas entre os mesmos. Certa vez, no último dia da novena, véspera da primeira comunhão, um menino muito sobressaltado veio cedinho à procura do confessor, dizendo-lhe antes de confessar-se.

– Padre, a noite passada não pude dormir. Parecia-me ver S. José, que, irado, me dizia: “Infeliz, pedem-me os meninos que não haja entre eles nenhum Judas e tu queres ser um, pois ocultaste teus pecados de impureza”… É por isso que aqui estou para reparar todas as minhas confissões sacrílegas e dizer-lhe tudo o que tenho na consciência.

Tesouro de Exemplos – Pe. Francisco Alves

ALEGRIA TRAZIDA AO MUNDO PELO NASCIMENTO DE JESUS CRISTO

Resultado de imagem para nascimento de jesusEvangelizo vobis gaudium magnum, quod erit omni populo: quia natus est vobis hodie Salvator — “Anuncio-vos um grande gozo, que será para todo o povo; e é que vos nasceu hoje o Salvador” (Luc. 2, 10).

Sumário. Organizam-se grandes festejos num país, quando ao rei nasce seu filho primogênito. Quanto mais não devemos nós festejar o nascimento do Filho unigênito de Deus, que veio do céu para nos visitar. Talvez alguém deseje carregar o Menino Jesus nos braços; mas avivemos a nossa fé e lembremo-nos de que na santa comunhão recebemos, não somente em nossos braços, mas também dentro do nosso peito, o mesmo Jesus, que por nosso amor esteve deitado no presépio de Belém.

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O nascimento de Jesus Cristo trouxe alegria geral ao mundo inteiro. É Ele o Redentor desejado durante tantos anos e com tamanho ardor, que por esta razão foi chamado o Desejado das gentes, o Desejado das colinas eternas. Eis que já veio, nascido numa gruta estreita. Façamos que o anjo nos anuncie o mesmo gozo que anunciou aos pastores, e que nos diga:  Ecce enim evangelizo vobis gaudium magnum, quod erit omni  populo: quia natus est vobis hodie Salvator — “Anuncio-vos um grande gozo, que será para todo o povo; e é que vos nasceu hoje o Salvador”.  — Que festejos não se organizam num país, quando nasce ao rei seu filho primogênito! Muito mais devemos nós festejar o nascimento do Filho de Deus, que veio do céu para nos visitar, movido unicamente pelas entranhas da sua misericórdia:  per víscera misericordiae Dei nostri, in quibus visitavit nos oriens ex alto (1).

Nós nos achávamos em estado de condenação, e eis que Jesus veio para nos salvar: Propter nostram salutem descendit de coelis — “Desceu dos céus para a nossa salvação”. Eis aí o Pastor, vindo para salvar da morte as suas ovelhas, dando a vida por amor delas. —  Ego sum pastor bonus; bonus pastor animam suam dat pro ovibus suis (2)  — “Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a própria vida pelas suas ovelhas”. Eis aí o Cordeiro de Deus que veio sacrificar-se para nos obter a graça divina e fazer-se nosso libertador, nossa vida, nossa luz, e nosso alimento no Santíssimo Sacramento. Diz Santo Agostinho que, entre outras razões, Jesus quis ser  posto numa manjedoura, onde os animais acham o pasto, para nos dar a entender que se fez homem também para se tornar nosso alimento.  Continuar lendo

MEDITAÇÃO PARA A TARDE: FELICIDADE DE QUEM NASCEU DEPOIS DA REDENÇÃO E NA IGREJA CATÓLICA

Resultado de imagem para menino jesus cruzUbi venit plenitudo temporis, misit Deus Filium suum, ut eos, qui sub lege erant, redimeret — “Quando chegou a plenitude do tempo, enviou Deus a seu Filho, para que remisse aqueles que estavam debaixo da lei” (Gal. 4, 4).

Que graças devemos dar a Deus por nos haver feito nascer depois de já realizada a grande obra da Redenção humana! É isso o que quer dizer a palavra  plenitudo temporis — “plenitude do tempo”— , tempo venturoso pela plenitude da graça que Jesus Cristo nos mereceu pela sua vinda. Infelizes de nós, se, réus de tantos pecados como somos, tivéssemos vivido nesta terra antes da vinda de Jesus Cristo!

Antes da vinda do Messias, ah! Em que lamentável condição se achavam os homens! O verdadeiro Deus era apenas conhecido na Judéia; em todas as outras partes do mundo reinava a idolatria, de modo que os nossos antepassados adoravam a pedra, a madeira e os demônios.

Adoravam um sem-número de falsos deuses. Somente o verdadeiro Deus não era amado, nem mesmo conhecido. Ainda em nossos tempos, quantos países não há onde é reduzido o número de católicos e todos os demais são pagãos ou hereges, dos quais a maior parte com certeza se condenarão! Quanto mais nós devemos ser agradecidos a Deus, porque não somente nos fez nascer depois da vinda de Jesus Cristo, mas além disso em um país católico!

Senhor meu, graças Vos dou. Ai de mim, se, depois de cometer tantos pecados, vivesse no meio dos infiéis ou dos hereges! Reconheço, ó meu Deus, que me quereis salvo, e eu desgraçado tantas vezes quis perder-me perdendo a vossa graça. Redentor meu, tende piedade de minha alma que tanto Vos custou! Continuar lendo

FESTA DOS SANTOS INOCENTES

Girolamo_Donnini_Matanza_de_los_Inocentes_Fondazione_Pietro_ManodoriHerodes… mittens occidit omnes pueros, qui erant in Bethlehem, et in omnibus finibus eius, a bimatu et infra — “Herodes… espalhando emissários, fez matar os meninos todos que havia em Belém, e em todo o seu termo, que tinham dois anos e daí para baixo” (Matth. 2, 16)

Sumário. Devemos considerar bem que o Senhor é a Sabedoria infinita, que sabe tirar o bem do mal. Por isso, o que nós chamamos um mal, é as mais das vezes uma graça singular. De tantas crianças que hoje veneramos sobre os altares e que formam a corte de Jesus, se não tivessem sido mortas por Herodes, quem sabe quantas no tempo da Paixão teriam gritado: Crucifige eum: Crucifica-o; quantas se teriam condenado!

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Depois que os Magos ofereceram os seus presentes místicos ao Menino Jesus, foram avisados em sonho pelo anjo, que não voltassem a Herodes, como tinham prometido, mas que por outro caminho voltassem para sua pátria. Por isso o príncipe cruel, receoso de que Jesus lhe quisesse tirar o reino, e vendo que os Magos o haviam enganado, irritou-se fortemente e mandou fossem mortos todos os meninos que havia em Belém e em todo o seu termo, que tivessem dois anos e daí para baixo, segundo o tempo que havia colhido das informações dos Magos:  Mittens occidit omnes pueros — “Enviando emissários mandou matar todos os meninos”.

Considera aqui os profundos juízos de Deus. Encarando a matança dos Inocentes com olhos humanos, não se sabe explicar como é que o Senhor, que é um Pai amoroso, pode ver tantas mães em desolação e uma cidade inteira com os seus contornos inundada de sangue inocente. — Devemos, porém, ponderar que Deus é a Sabedoria infinita, que sabe tirar o bem do mal. O que nós chamamos um mal, é as mais das vezes uma graça singular. Quantos dentre os Meninos inocentes teriam levado vida cheia de trabalhos e afinal talvez se tivessem condenado! Alguns talvez tivessem chegado ao extremo de tomar parte na Paixão do Redentor e gritado com os outros judeus: crucifige eum — “crucifica-o”. Em lugar disso, com a morte padecida por causa de Jesus Cristo, ficou-lhes segura a eterna salvação. Mais, são a corte nobre do Deus-Menino e com suas pequeninas palmas adornam o berço do Cordeirinho imaculado. Pelo que Santo Agostinho diz que “Herodes com os seus obséquios nunca pudera favorecer tanto as crianças bem-aventuradas, quanto as favoreceu com o seu ódio”. Continuar lendo

MEDITAÇÃO PARA A TARDE: OFERECIMENTO DO CORAÇÃO A JESUS MENINO

A verdadeira data do nascimento de Jesus: festa de SucotDilectus meus mihi et ego illi, qui pascitur inter lilia. — “O meu amado é meu e eu sou dele, que se apascenta entre as açucenas” (Cant. 2, 16).

Alma devota, aviva a tua fé e a tua confiança. O mesmo Jesus que, por nosso amor, baixou do céu à terra e quis nascer numa gruta fria, está agora, abrasado no mesmo amor, escondido no Santíssimo Sacramento. Que é o que faz ali? Respiciens per cancellos (1) — “Olha por entre as grades”. Qual amante aflito pelo desejo de ver seu amor correspondido, Jesus de dentro da Hóstia consagrada, como que por entre uma grade estreita, olha-te sem ser visto, espreita os teus pensamentos, os teus afetos, os teus desejos, e convida-te suavemente achegar-te a si. Eia pois, dá contento ao Amante divino e aproxima-te d’Ele.

Lembra-te, porém, do que ordena:  Non apparebis in conspectu meo vacuus (2) — “Não aparecerás em minha Presença com as mãos vazias”. Quem se chegar ao altar para me honrar, não se chegue sem me presentar alguma oferta. Na noite do Natal, os pastores que foram visitar oMenino Jesus na gruta de Belém, trouxeram-lhe os seus presentes. É pois mister que tu também Lhe ofereças o teu presente. Que poderás oferecer-lhe? O presente mais precioso, que possas trazer  para o Menino Jesus, é um coração penitente e amante:  Praebe, fili mi, cor tuum mihi (3)  — “Meu Filho, dá-me o teu coração”.

Ó meu Senhor, eu não devia ter ânimo de me chegar a Vós, vendo-me tão manchado de pecados. Mas já que Vós, Jesus meu, me convidais com tamanha benevolência e me chamais com tamanho amor, não quero resistir. Não quero fazer-Vos esta nova afronta que, depois de Vos ter tantas vezes virado as costas, deixasse agora por desconfiança de aceder a vosso doce convite. Mas sabeis que sou pobre de tudo e que não tenho nada que oferecer-Vos. Não tenho senão o meu coração, e este Vô-lo dou. Verdade é que este meu coração durante algum tempo Vos tem ofendido, mas agora está arrependido, e contrito como se acha, eu Vô-lo ofereço. Sim, meu divino Menino, peza-me de Vos ter dado desgosto. Confesso-o: tenho sido um traidor, um ingrato, um desumano fazendo-Vos sofrer tanto e derramar tantas lágrimas no presépio de Belém; mas as vossas lágrimas são a minha esperança. Sou um pecador e não mereço perdão, mas dirijo-me a Vós, que, sendo Deus, Vos fizestes criança para me perdoar. — Pai Eterno, se eu mereci o inferno, vêde as lágrimas desse vosso Filho inocente; são elas que Vos imploram o meu perdão. Vós não negaes nada às súplicas de Jesus Cristo. Atendei-O, visto que Vos pede que me perdoeis nestes dias santíssimos, que são dias de alegria, dias de salvação, dias de perdão. Continuar lendo

FESTA DE SÃO JOÃO EVANGELISTA

joaoDiscipulus ille quem diligebat Iesus — “O discípulo a quem Jesus amava” (Io. 21, 7).

Sumário. Consideremos as provas de predileção especial que Jesus deu a seu discípulo João. Chamou-o um dos primeiros, ao apostolado; fê-lo seu confidente, na última ceia permitiu-lhe que reclinasse a cabeça sobre o seu peito; finalmente, no Calvário fê-lo herdeiro do que tinha de mais caro, dando-lhe como mãe a Maria. Nós também temos recebido de Deus muitas provas de pedileçâo; mas que diferença entre a nossa correspondência e a de São João!

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Considera as provas de predilecção que Jesus deu a São João. Chamou-o um dos primeiros, ao apostolado; e ainda que fosse o mais joven de todos, Jesus lhe comunicou os arcanos mais recônditos do seu coração, fê-lo seu confidente, de sorte que o Príncipe dos Apóstolos, não se animando a interrogar o Senhor na última ceia, rogou a João que o fizesse. Junto com São Tiago, seu irmão, e São Pedro, Jesus o fez testemunha do milagre da ressurreição da filha de Jairo, da sua gloriosa Transfiguração no Tabor e de sua agonia no horto. Também na última ceia, quando Jesus quiz fazer os supremos esforços de seu amor, e deu a todos, pela instituição da santíssima Eucaristia, um penhor especial do seu afeto, deu todavia um penhor especialíssimo para o seu amado João. Fê-lo sentar-se a seu lado e permittiu-lhe reclinasse a cabeça sobre o seu peito. Desse contato, diz Santo Agostinho, João tirou os sublimes conhecimentos de mistérios incompreensiveis, que depois registrou no seu Evangelho e que lhe alcançaram o nome de teólogo divino por excelência, e de águia entre os evangelistas. 

Mas a mostra mais patente de afeto deu Jesus Cristo a este seu Benjamin no Monte Calvário, quando, prestes a expirar, lhe deu Maria por mãe, instituiu-o herdeiro do que havia mais caro, e declarou-o primogênito entre os filhos adotivos da Mãe de Deus. — Detém-te aqui para te alegrar com o Santo; escolhe-o para teu protetor especial, e dá graças a Jesus Cristo por lhe haver concedido tantos favores singulares. Mas ao mesmo tempo dá-lhe graças pelos mesmos benefícios que te fez, chamando-te ao seu seguimento, vindo dentro de teu peito na santa Communhão e dando-te Maria Santíssima por teu refúgio, tua advogada e tua mãe.
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MEDITAÇÃO PARA A TARDE: UMA VISITA À GRUTA DE BELÉM

grutaTranseamus usque Bethlehem, et videamus hoc verbum, quod factum est — “Cheguemos até Belém, e vejamos o que é isto que sucedeu” (Luc. 2, 15).

I. Tende ânimo, Maria convida todos, os justos e os pecadores, a entrarem na Gruta para adorarem seu divino Filho e beijarem-Lhe os pés. Eia pois, ó almas devotas, entrai e vêde sobre a palha o Criador do céu e da terra, feito Menino pequenino, mas tão encantador, tão radiante que para toda a parte irradia torrentes de luz. Já que Jesus nasceu, a gruta não é mais horrorosa, senão foi feita um paraíso. Entremos e não temamos.

Jesus nasceu, e nasceu para todos. Ego flos campi, et lilium convallium: Eu, assim manda-nos avisar Jesus, eu sou a flor do campo, e a açucena dos vales (1). Jesus se chama açucena dos vales, para nos dar a entender que, assim como Ele nasceu tão humilde, assim somente os humildes o acharão. Por isso o anjo não foi anunciar o nascimento de Jesus Cristo a César nem a Herodes; mas sim a pobres e humildes pastores. Jesus chama-se também flor dos campos, porque, segundo a interpretação do cardeal Hugo, quer que todos o possam achar. As flores dos jardins estão reclusas e não se permite a todos procurá-las e tomá-las. Ao contrário, as flores dos campos estão expostas à vista de todos, e quem quiser as pode tirar: é assim que Jesus Cristo quer estar ao alcance de todo aquele que O desejar.

Entremos, pois a porta está aberta: Non est satelles, qui dicat: non est hora — “Não há guarda”, diz São Pedro Crisólogo, “para dizer que não são horas.” Os príncipes deixam-se ficar fechados nos seus palácios, cercados de soldados, e não é fácil obter-se audiência. Quem deseja falar com os reis, tem de afadigar-se muito, e bastante vezes será mandado embora com o conselho de voltar em outro tempo, por não ser dia de audiência. Não é assim com Jesus Cristo. Está na Gruta de Belém, como criancinha, para atrair a quem vier procurá-Lo. A gruta está aberta, sem guardas nem portas, de modo que cada um pode entrar à vontade, quando quiser, para achar o pequenino Rei, para falar com Ele e mesmo abraçá-Lo, e assim satisfazer a seu amor.
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FESTA DE SANTO ESTÊVÃO, PROTOMÁRTIR

estevaoElegerunt Stephanum, virum plenum fide et Spiritu Sancto — “Elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Epírito Santo.” (Act. 6, 5).

Sumário. Eis aí o belo elogio com que a Sagrada Escritura presta homenagem às virtudes de Santo Estêvão: chama-o cheio de fé, cheio de graça, cheio de fortaleza, em uma palavra, cheio do Espirito Santo. Alegremo-nos com o santo Protomártir, e em seu nome demos graças a Deus. Volvendo depois os olhos a nós mesmos, vejamos se ainda, e em que grau, as mesmas belas virtudes se acham em nossa alma, visto que nos foram infusas pelo sacramento do Batismo.

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Considera o belo elogio com que o Espirito Santo presta na Sagrada Escritura homenagem às virtudes do Protomártir Santo Estêvão. Chama-o em primeiro logar cheio de fé: Elegeram Estêvão, homem cheio de féElegerunt Stephanum virum plenum fide (1). Ser cheio de fé, segundo Santo Tomás (2), quer dizer, não somente ter uma firmeza eminente em crer todas as verdades reveladas, junto com um amor ardente à revelação e uma conformidade perfeita com a vontade de Deus que revela; mas quer dizer além disso, possuir o depósito inteiro da fé com o conhecimento explicito de todas as suas partes. Por esta razão São Jerônimo diz que Santo Estêvão era doutíssimo na lei. — O Espirito Santo chama Santo Estêvão em segundo lugar cheio de graça e de fortaleza:  plenus gratia et fortitudine, porque advogava a causa de Jesus Cristo ao mesmo tempo com doçura e com zelo ardentíssimo.

Temos a prova naquele sublime discurso que fez antes de morrer. Depois de pedir ao povo e aos anciãos que o escutassem em quanto lhes pregasse a salvação, Santo Estêvão expoz-lhes em seguida todos os favores que tinham recebido de Deus e a negra ingratidão com que lhe haviam pago. Vendo, porém, que com bons modos não conseguia abrandar-lhes o coração, começou a deitar-lhes à cara os seus defeitos, e com coragem heróica concluiu dizendo que eram homens duros de cerviz, e de corações e ouvidos incircuncisos, que sempre resistiam ao Espirito Santo (4).— Afinal a Sagrada Escriptura chama Santo Estêvão cheio de todos os carismas celestiais: Cum autem esset plenus Spiritu Santo (5). Por isso se diz que fazia grandes prodigios e milagres entre o povo (6); que não se podia resistir à sua sabedoria (7); que o seu rosto era refulgente como o de um anjo (8); e que pouco antes de expirar teve a ventura de ver os céus abertos, a glória de Deus, e Jesus à direita de Deus (9). — Alegra-te como santo Diácono e dá graças a Deus por havê-lo enriquecido com tantas virtudes. Volvendo em seguida os olhos à tua própria alma, vê se em ti se acham as mesmas virtudes e o modo como as praticas, visto que te foram infusas no sacramento do Batismo. Continuar lendo

NATIVIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Resultado de imagem para NASCIMENTO DE NOSSO SENHORImpleti sunt dies ut pareret (Maria); et peperit filium suum primogenitum — “Completaram-se os dias em que (Maria) devia dar à luz; e deu à luz o seu filho primogênito” (Luc. 2, 6).

Sumário. Imaginemos ver a Jesus já nascido na gruta de Belém, e ouvir os anjos cantar glória a Deus e paz aos homens de boa vontade. Quais devem ter sido os sentimentos que então se despertaram no coração de Maria, ao ver o Verbo divino feito seu filho! Qual a devoção e ternura de São José ao apertar contra o coração o santo Menino! Unamos os nossos afetos com os desses grandes personagens.

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Quando Maria Santíssima entrou na gruta, pôs-se logo em oração. De súbito vê uma refulgente luz, sente no coração um gozo celestial, abaixa os olhos, e, ó Deus! que vê? Vê já diante de si o Menino Jesus, tão belo e tão amável, que enleva os corações. Mas treme e chora; segundo a revelação feita a Santa Brígida, estende as mãozinhas para dar a entender que deseja que Maria o tome nos braços. Maria, no auge de santa alegria, chama José. — Vem, ó José, disse ela, vem e vê, pois já nasceu o Filho de Deus. Aproxima-se José, e vendo Jesus nascido, adora-O por entre uma torrente de doces lágrimas.

Em seguida, a santa Virgem, movida de compaixão maternal, levanta com respeito o amado Filho, e conforme a já citada revelação, faz por aquecê-Lo com o calor de seu rosto e do seu peito. Tendo-O no colo, adora o divino Menino como seu Deus, beija-Lhe os pés como a seu Rei, e beija-Lhe o rosto como a seu Filho e procura depressa cobri-Lo e envolvê-Lo nas mantilhas. Mas ai, como são ásperos e grosseiros os paninhos! Além disso, são frios e úmidos, e naquela gruta não há lume para, aquentá-los.

Consideremos aqui os sentimentos que surgiram no coração de Maria, quando viu o Verbo divino reduzido por amor dos homens a tão extrema pobreza. Contemplemos a devoção e a ternura que ela experimentou quando apertava o Filho de Deus, já feito seu filho, contra o coração. Unamos os nossos afetos aos de tão boa Mãe e roguemos a Deus Pai “que o novo nascimento do seu Unigênito feito homem, nos livre do antigo cativeiro, em que nos tem o jugo do pecado” (1) . Continuar lendo