DO AMOR DE DEUS – PONTO I

Resultado de imagem para praying crucifixNos ergo diligamus Deum, quoniam Deus prior dilexit nos – “Amemos nós a Deus, porque Deus nos amou primeiro” (1 Jo 4, 19)

Considera, antes de tudo, que Deus merece o teu amor, porque ele te amou antes de ser amado por ti, e, de todos quantos te hão amado, é o primeiro (Jr 31,3). Os primeiros que te amaram neste mundo foram teus pais, mas só te amaram depois que te conheceram. Mas Deus já te amava antes de existires. Mesmo antes da criação do mundo, Deus já te amava. E quanto tempo antes de ter criado o mundo começou a te amar?… Talvez mil anos, mil séculos?… Mas não computemos anos nem séculos. Deus te amou desde toda a eternidade (Jr 31,3). Enfim: desde que Deus é Deus, sempre te tem amado; desde que se amou a si mesmo, também amou a ti. Com razão, dizia a virgem Santa Inês:

“Outro amante me cativou primeiro”

Quando o mundo e as criaturas requestaram o seu amor, ela respondia: Não, não vos posso amar. Meu Deus foi o primeiro a amar-me, e é justo, portanto, que só a ele consagre todo o meu amor.

Assim, meu irmão, Deus te tem amado desde toda a eternidade; e só por amor te escolheu entre tantos homens que podia criar, deu-te a existência, colocou-te no mundo e, além disso, tirou do nada inumeráveis e formosas criaturas que te servem e te lembram esse amor que ele te dedica e que tu lhe deves.

“O céu, a terra e todas as criaturas, dizia Santo Agostinho, me convidam a amar-vos”

Quando este Santo contemplava o sol, a lua, as estrelas, os montes e os rios, parecia-lhe que tudo falava, dizendo: Ama a Deus, que nos criou para ti, a fim de que o ames. O Padre Rancé, fundador da Trapa, não via os campos, as fontes e os mares, sem recordar-se, por meio dessas coisas criadas, do amor que Deus lhe tinha. Também Santa Teresa disse que as criaturas lhe repreendiam a ingratidão para com Deus. E Santa Margarida de Pazzi, ao contemplar a formosura de alguma flor ou de um fruto, sentia o coração transpassado pelas flechas do amor divino e exclamava: O Senhor, desde toda a eternidade, pensou em criar estas flores, a fim de que o ame! Considera, além disso, o particular amor de Deus, fazendo-te nascer num país cristão e no seio da santa Igreja. Quantos vêm ao mundo entre idólatras, judeus, maometanos e heréticos, e por isso se perdem!… Continuar lendo

EM QUE COISAS NOS DEVEMOS CONFORMAR COM A VONTADE DIVINA

confor“Si bona suscepimus de manu Dei, mala quare non suscipiamus? — “Se temos recebido os bens da mão de Deus, porque não receberemos também os males?” (Iob 2, 10.)

Sumário. É certo que tudo o que acontece no mundo, acontece pela vontade ou permissão divina. Mesmo quando alguém nos prejudica nos nossos bens ou na reputação, ainda que Deus não queria o pecado do ofensor, quer todavia os efeitos, isto é, a nossa pobreza e humilhação. Quando, pois, nos acontecem desgraças, seja qual for a sua causa imediata, consideremo-las como vindas das mãos de Deus, e aceitemo-las não só com paciência, senão com alegria, porquanto serão no céu as jóias mais preciosas da nossa coroa.

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Devemo-nos conformar com a vontade de Deus, não só nos males que nos vêem diretamente d’Ele, tais como doenças, desolações espirituais, perda de bens ou de parentes; mas ainda nos que vêem só indiretamente de Deus, isto é, por meio dos homens, como infâmias, desprezos, injustiças e todas as outras espécies de perseguições. É de observar que, quando alguém nos faz algum agravo nos bens ou na honra, Deus não quer o pecado do que nos ofende, mas sim a nossa pobreza e a nossa humilhação. Numa palavra, tudo vem de Deus, tanto os bens como os males.

Chamam-se males, porque nós os chamamos e os fazemos assim. Se os recebêssemos com resignação das mãos de Deus, não seriam para nós males, mas bens. As pedras preciosas que mais adornam a coroa dos Santos, são as tribulações que aceitaram por amor de Deus, pensando que tudo nos vem das suas mãos divinas. — Quando o santo homem Jó recebeu a notícia de que os Sabeus lhe haviam roubado os bens, que respondeu ele? Dominus dedit, Dominus abstulit (1) — “O Senhor os deu, o Senhor os tirou”. Não disse: o Senhor me deu esses bens e os Sabeus m´os roubaram; mas disse: o Senhor m´os deu, o Senhor m´os tirou. Por isso bendisse o nome do Senhor, pensando que tudo tinha acontecido pela sua vontade: Sicut Domino placuit, ita factum est; sit nomen Domini benedictum.

Quando os santos mártires Epicteto e Astion eram atormentados com ganchos de ferro e tochas acesas, não proferiam senão estas palavras: “Senhor, cumpra-se em nós a vossa vontade!” E quando expiravam, as suas últimas palavras foram estas: “Bendito sejais, ó Deus eterno, por nos terdes dado a graça de cumprir em nós o vosso santo beneplácito.” — A mesma coisa nós devemos fazer, quando nos sucedam algumas contrariedades; recebamo-las todas da mão de Deus, não só com paciência, mas até com alegria; seguindo o exemplo dos apóstolos, que se regozijavam de ser maltratados pelo amor de Jesus Cristo (2). Que maior satisfação poderemos ter, do que abraçar algumas cruzes e saber que abraçando-as podemos ser agradáveis a Deus? Continuar lendo

ÚLTIMO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES: O FIM DO MUNDO E O PROCEDIMENTO DOS BONS CATÓLICOS EM TEMPO DE PERSEGUIÇÃO

persegErit tunc tribulatio magna, qualis non fuit ab initio mundi usque modo — “Será então a aflição tão grande, que, desde que há mundo até agora, não houve outra semelhante” (Matth. 24, 21).

Sumário. A perseguição que o espírito infernal suscitará no fim do mundo não é a única que devemos temer. Cada dia os ímpios tramam uma revolta igual à do Anticristo, como de sobejo demonstram os males que nos sobrevêem e as guerras que a Igreja Católica tem de sustentar. Aproveitemos os ensinos que Jesus Cristo nos dá no presente Evangelho: Sejamos constantes na fé; humilhemo-nos perante Deus, confessando que temos merecido os seus castigos, e rezemos com fervor, a fim de que sejam abreviados os dias de provação.

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I. No Evangelho de hoje Jesus Cristo nos fala da destruição de Jerusalém e ao mesmo tempo do fim do mundo prefigurado pela ruína daquela cidade infeliz. “Será tão grande a aflição”, diz Jesus, “que desde que há mundo até agora, não houve nem haverá outra semelhante. E se não se abreviassem aqueles dias, não se salvaria pessoa alguma; mas hão de abreviar-se em atenção aos escolhidos: Propter electos breviabuntur dies illi.” (1) — Passando depois a dar-nos avisos apropriados àqueles tempos, recomenda-nos o Senhor especialmente a constância na fé, e prossegue: “Então, se alguém vos disser: Aqui está o Cristo, ou ei-lo acolá; não lhe deis crédito. Pois se levantarão falsos Cristos e falsos profetas; farão grandes prodígios e maravilhas tais, que (se fôra possível) até os escolhidos se enganariam. Vêde que eu vô-lo adverti antes: Ecce praedixi vobis.

Meu irmão, esperas e estás confiado que não presenciarás esta última tribulação, mas nem por isso creias que não te dizem respeito os avisos do Redentor. São Gregório afirma: “A perseguição que o espírito infernal suscitará nos últimos tempos não é a única que devamos temer; porque cada dia os ímpios tramam a revolta do Anticristo, e até agora este mistério de iniqüidade se planeja às ocultas no seu coração: Iam nunc occultus operatur.Ou, para melhor dizer, já está planejado e está sendo executado pela guerra continua e múltipla movida contra a Esposa de Jesus Cristo, a Igreja Católica. — Aproveita-te, pois, dos avisos do Senhor: “Sêde sóbrios e vigiai, porque vosso adversário, o diabo, como leão a rugir, anda ao redor, buscando a quem devore: resisti-lhe fortes na fé.” (2) Continuar lendo

ENTREVISTA COM D. MARCEL LEFEBVRE

Resultado de imagem para MARCEL LEFEBVREEntrevista com S.E.R. Dom Marcel Lefebvre, feita por um jornalista do The Age, de Melbourne, Austrália.

– Por qual razão chegou-se a este desacordo entre o senhor e o Vaticano?

O desacordo proveio das novas orientações do Concílio Vaticano II e das reformas que se seguiram.

A “liberdade religiosa”, em nome da qual se suprime a todos os Estados católicos, está concebida em um sentido que é absolutamente oposto à doutrina oficial da Igreja católica.

O “ecumenismo” que arrasta a reforma litúrgica é uma atitude totalmente nova da Igreja a respeito dos não católicos (sejam protestantes, muçulmanos, budistas e até comunistas, maçons, etc.), manifestamente oposta à doutrina e à prática da Igreja católica durante vinte séculos.

Finalmente, a ideia de “colegialidade” mal compreendida está quebrando a unidade da Igreja constituindo Igrejas nacionais, pela desaparição do exercício da autoridade pessoal do Papa e dos bispos, contra a constituição divina da Igreja.

– O senhor vê alguma solução nas circunstâncias presentes? E se há uma, qual é?

A única solução é o retorno à doutrina tradicional e à experiência saudável da tradição segundo a sabedoria que a Igreja sempre manifestou para sua aplicação no espaço e no tempo. Continuar lendo

MARIA SANTÍSSIMA SOCORRE OS SEUS DEVOTOS NO PURGATÓRIO

Nossa Senhora salvando as Almas do Purgatório. | Our lady, Imagens  católicas, Arte católicaGyrum coeli circuivi sola, et profundum abyssi penetravi — “Eu só rodeei o giro do céu, e penetrei a profundidade do abismo” (Ecclus. 24, 8).

Sumário. Felizes de nós se formos devotos da Santíssima Virgem! Ela não só nos socorrerá na nossa vida, mas também depois da morte, aliviando-nos e mesmo livrando-nos do purgatório. Oh, quantas almas subiram diretamente ao céu pela intercessão de Maria! Procuremos, pois, crescer sempre no amor desta querida Mãe, e aos outros obséquios que em sua honra praticamos, ajuntemos mais este: de orar pelas almas que penam no purgatório, porque, sendo elas esposas de Jesus Cristo, são também filhas de Maria.

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Muitos ditosos são os devotos desta piedosíssima Mãe, porque são por ela socorridos não só neste mundo, mas também no purgatório são assistidos e consolados com a sua proteção. E porque as almas do purgatório têm mais necessidade de alívio, pelo muito que estão padecendo, sem poderem socorrer-se por si mesmas, Nossa Senhora muito mais se empenha em socorrê-las ali. — Diz São Bernardino de Sena que Maria Santíssima tem naquele cárcere das almas esposas de Jesus Cristo um certo domínio e pleno poder. E São Boaventura, aplicando-lhe esta passagem do Eclesiástico: Profundum abyssi penetravi— “Penetrei as profundidades do abismo”, chega a dizer que nossa piedosa Mãe não se despreza de entrar algumas vezes naquela santa prisão, para visitar e consolar suas aflitas filhas com a sua doce presença.

Mas a Santíssima Virgem não só favorece e consola os seus devotos no purgatório, como também dali os tira e livra com a sua intercessão. Referem abalizados autores que Maria, estando para ir ao paraíso, pediu e obteve de seu Filho a graça de levar consigo todas as almas que então se achavam no purgatório. E desde então, como afirmam Gerson, São Bernardino de Sena, São Pedro Damião e outros, a benigníssima Senhora tem o privilégio de livrar os seus devotos daquelas penas; e todos os anos, no dia da sua Assunção, bem como nas festividades do Nascimento e da Ressurreição de Jesus Cristo, Maria desce para este fim ao purgatório, acompanhada de legiões de anjos.P

Bem sabida é a promessa que Maria Santíssima fez a todos aqueles que trouxessem o escapulário do Carmo: que no sábado depois da sua morte seriam livrados daquele cárcere penosíssimo. — Vede, pois, quanta razão tem a Igreja em dar à Santíssima Virgem o belo título de Nossa Senhora do Sufrágio. Continuar lendo

COMUNICADO DA CASA GERAL DA FSSPX SOBRE O ENCONTRO ENTRE O CARDEAL LADARIA E D. DAVIDE PAGLIARANI

Fonte: FSSPX Itália – Tradução: Dominus Est

Na quinta-feira, 22 de novembro, D. Davide Pagliarani, Superior Geral da Fraternidade São Pio X, esteve em Roma, a convite do Cardeal Luis Ladaria Ferrer, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. D. Davide foi acompanhado por D. Emanuele du Chalard. O Cardeal Ladaria foi assistido por Mons. Guido Pozzo, Secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei .

O encontro foi realizado nos escritórios da Congregação para a Doutrina da Fé, das 16h30 às 18h30. Seu objetivo era permitir que o cardeal Ladaria e D. Pagliarani se reunissem pela primeira vez e fizessem juntos um balanço das relações entre a Santa Sé e a Fraternidade São Pio X, depois da eleição do novo Superior Geral em julho passado.

Durante o encontro com as autoridades romanas, lembrou-se que o problema fundamental é de natureza puramente doutrinária, e nem a Fraternidade nem Roma podem eludi-lo. É precisamente por causa dessa irredutível divergência doutrinal que todas as tentativas de redigir um esboço de uma declaração doutrinal aceitável para ambos os lados fracassaram nos últimos 7 anos. Por isso que a questão doutrinal permanece absolutamente primordial.

A própria Santa Sé não diz nada de diferente quando afirma solenemente que o estabelecimento de um estatuto jurídico para a Fraternidade não poderá ser feito senão após a assinatura de um documento de caráter doutrinal.

Portanto, tudo leva a Fraternidade a retomar a discussão teológica, consciente que Deus não lhe pede, necessariamente, que convença seus interlocutores, mas que ofereça à Igreja o testemunho incondicional da Fé.

O futuro da Fraternidade está nas mãos da Providência e da Santíssima Virgem Maria, como demonstra toda a sua história, desde a sua fundação até hoje.

Os membros da Fraternidade não querem fazer outra coisa senão servir a Igreja e cooperar efetivamente em sua regeneração, a fim de dar vida pelo seu triunfo, se assim necessário. Mas não lhes cabe escolher os meios, nem os fins que somente a Deus pertence.

Menzingen, 23 de novembro de 2018

AMOR EXCESSIVO DE JESUS CRISTO PARA COM OS HOMENS

crucifNos praedicamus Chirstum crucifixum, Iudaeis quidem scandalum, gentibus autem stultitiam — “Nos pregamos a Cristo crucificado, que é de fato para os judeus escândalo e para os gentios loucura” (I Cor. 1, 23).

Sumário. O mistério da Redenção é tão sublime, que os gentios o chamavam uma loucura. Julgavam impossível que um Deus onipotente e felicíssimo se tivesse feito homem e tivesse morrido numa cruz pela salvação dos homens. Como há, pois, cristão que sabem isso pela fé, e vêem um Deus tornado, por assim dizer, louco por amor dos homens, e todavia vivem sem O amar, e mesmo O ofendem e injuriam?… Se no passado nos unimos àqueles ingratos para ofender Jesus, peçamos-Lhe humildemente perdão.

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São Paulo diz que os gentios, ouvindo-o pregar de Jesus crucificado por amor dos homens, olhavam isto como uma incrível loucura. E como, diziam eles, seria possível crer que um Deus todo-poderoso, que de ninguém tinha necessidade para ser o que é, infinitamente feliz, haja querido, para salvar os homens, fazer-se homem e morrer numa cruz? Seria isto a mesma coisa, diziam eles, que crer um Deus tornado louco por amor dos homens: para os gentios uma loucura. E por isto deixavam de crer.

Mas esta grande obra da Redenção, que os judeus criam e chamavam uma loucura, sabemos nós pela fé que Jesus a empreendeu e a completou. “Nós podemos ver”, diz São Lourenço Justiniani, “a Sabedoria eterna, o Filho unigênito de Deus, tornado, por assim dizer, louco pelo amor excessivo que tinha aos homens.” — O Bem aventurado Jacopone, que no mundo era tão distinto pelo seu saber, tendo-se feito franciscano, parecia enlouquecer pelo amor que consagrava a Jesus Cristo. Um dia apareceu-lhe Jesus e disse: “Jacopone, para que fazes estas loucuras?” — “Porque as faço?” respondeu ele, “porque Vós m´as haveis ensinado. Se eu sou louco, Vós fostes mais louco do que eu, por terdes querido morrer por mim: Stultus sum, quia stultior me fuisti.
Da mesma sorte, Santa Maria Madalena de Pazzi, arrebatada em êxtase, exclamava: “Ó Deus de amor! Ó Deus de amor! É muito grande, meu Jesus, o amor que Vós tendes aos homens. Não sabeis, minhas queridas irmãs, que o meu Jesus não é senão amor? Ainda mais: louco de amor? Sim, louco de amor, digo que Vós o sois, ó meu Jesus, e sempre o direi.” Acrescentava que quando chamava a Jesus amor, queria ser ouvida pelo mundo inteiro, a fim de que o amor de Jesus fosse conhecido e amado de todos os homens.
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OS TRÊS DEGRAUS DA FORCA

Imagem relacionadaEra no tempo da famosa rainha Isabel que governou a Inglaterra de 1558 a 1603. Foi uma rainha cruel e mandou matar fria e injustamente a muitíssimos de seus vassalos simplesmente por serem católicos convictos e fervorosos.

Entre as inúmeras vítimas de seu ódio satânico estava João Post, natural de Pereth (Cumberland), grande devoto da Mãe de Deus. Ainda na hora trágica da morte deu prova desta sua devoção.

Foi assim: Ao ser conduzido à forca, em presença de inúmeras espectadores, ajoelhou-se no primeiro degrau da forca e rezou em voz alta: ” O anjo do Senhor anunciou a Maria; e ela concebeu do Espírito Santo”. E rezou logo em seguida uma Ave-Maria.

Subiu, depois, ao segundo degrau e rezou com voz forte: “Eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a vossa palavra. E rezou outra Ave-Maria.

Subiu, enfim, ao terceiro degrau, que era o último do cadafalso, ajoelhou-se pela última vez e rezou: “E o Verbo de Deus se fez homem e habitou entre nós”. Rezou a terceira Ave-Maria, encomendando-se fervorosamente a Nossa Senhora.

Entregou-se então ao carrasco e sofreu heróicamente o martírio, sendo enforcado por causa de sua fé inabalável em Jesus Cristo e na santa Igreja Católica.

Meu irmão, também nós estamos condenados à morte. Todos havemos de morrer. Pode-se dizer que nos aproximamos dela, subindo também três degraus: um pela manhã, outro ao meio-dia e o terceiro à tarde.

Imitemos o exemplo desse santo mártir, rezando três vezes ao dia, como é costume entre os bons católicos, o “Anjo do Senhor”.

Tesouro de Exemplos – Pe. Francisco Alves

JESUS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO, NOSSO CONSOLADOR

santVenite ad me omnes, qui laboratis et onerati estis, et ego reficiam vos — “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Matth. 11, 28).

Sumário. Enquanto vivermos sobre a terra, nunca nos faltarão angústias, tribulações e trabalhos; aliás ela não seria para nós um vale de lágrimas. Se, porém, quisermos sentir menos o peso das cruzes, amemos muito a Jesus, e habituemo-nos a recorrer freqüentemente a Ele no seu Santíssimo Sacramento. Imaginemos vê-lo ali coroado de espinhos, coberto de chagas, aflito e chorando a ingratidão dos homens. Unamos as nossas lágrimas com as de Jesus. Oh, quanto é doce chorar com o nosso divino Consolador!

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Quando o nosso Divino Redentor estava na terra, convidava todos a que a Ele recorressem para serem consolados, dizendo-lhes: Vinde todos a mim. E os factos correspondiam às palavras: pois, como diz São Lucas: Jesus andou de lugar em lugar, fazendo bem e sarando a todos os oprimidos do demônio(1) — Ora, no Santíssimo Sacramento do Altar o nosso amabilíssimo Jesus exerce continuamente o mesmo oficio de Consolador das almas. Ali está noite e dia, cheio todo de misericórdia, esperando, chamando e acolhendo todos os que o vêm visitar.

Vendo que são tão poucos os que querem gozar das suas consolações e movido pelo seu amor e pelo desejo de nos fazer bem, chega a queixar-se pela boca do Profeta: Num quid resina non est in Galaad, aut medicus non est ibi? (2) — Não há bálsamo em Galaad, e não se encontra aí medico algum? Galaad é uma montanha da Arábia, rica em ungüentos aromáticos; segundo o venerável Beda, ela é figura de Jesus Cristo, que nos preparou na Eucaristia todos os remédios para as nossas enfermidades. — Porque então, parece nos dizer o Divino Redentor, porque vos queixais das vossas misérias, ó filhos de Adão? Pois, quaisquer que sejam os vossos males, neste Sacramento achareis o médico e os remédios. Oh! Se recorresseis sempre a mim, certamente não serieis miseráveis como sois.

Falem aqui aqueles corações venturosos que fizeram a experiência. Convence-te, dizem eles, de que a alma que se detém, embora pouco recolhida, diante do Santíssimo Sacramento, recebe de Jesus mais consolações do que as que o mundo pode dar com todos os seus festins e divertimentos. Oh, que delícias sentimos, estando com fé perante um altar, e entretendo-nos familiarmente com Jesus, que está ali expressamente para ouvir e atender os que O invocam; pedindo-Lhe perdão das penas que Lhe temos causado; expondo-Lhe as nossas necessidades, como faz o amigo ao amigo; pedindo-Lhe as suas graças, o seu amor, o seu paraíso! E, acima de tudo, que alegria celeste se sente ao fazer atos de amor para com esse amável Senhor que está sobre o altar, inflamado em amor por nós! Mas a que vêm tantas palavras? Gustate et videte, quoniam suavis est Dominus (3) — “Experimentai e vêde como o Senhor é suave”. Continuar lendo

OS PAIS VERDADEIROS DE QUE PRECISAMOS

Resultado de imagem para FAMILIA CATOLICA QUADROPe. Hervé de la tour, FSSPX

A necessidade de nosso tempo é formar homens de caráter que se tornem autênticos líderes espirituais de suas famílias. Infelizmente, o liberalismo infectou tanto as nossas mentes, que mesmo entre católicos tradicionais homens verdadeiros se tornaram raros. Nosso propósito neste artigo é fornecer alguns conselhos úteis sobre um dos mais sérios problemas do mundo moderno ― a ausência de pais verdadeiros ― recorrendo à robusta doutrina de Santo Tomás de Aquino contida na Summa Theologica. Ao apresentar a substância dos princípios luminosos do Doutor Angélico em linguagem simples, esperamos que todos possam tirar proveito de sua sabedoria.

É no estudo de Santo Tomás sobre a virtude da fortaleza, freqüentemente identificada com a coragem, que encontraremos muitos dos elementos de que precisamos. Em latim, uma das palavras possíveis para fortaleza é “virtus” (que também significa virtude). A raiz dessa palavra é “vir”, que significa “homem”. Vê-se assim que a masculinidade está associada à coragem. Para que tenhamos verdadeiros pais, precisamos de verdadeiros homens; e verdadeiros homens são homens fortes. Mas o que é exatamente a força? Santo Tomás explica que a fortaleza é uma virtude moral relacionada com o perigo. O homem encontra muitos males ameaçadores durante sua existência e tem de encará-los de maneira razoável controlando seu medo; é a coragem que permite que o homem lide com essas dificuldades e obstáculos. Há dois atos que fluem dessa virtude: o ataque e a defesa. Por isso, a fortaleza será divida em magnanimidade, que pode ser traduzida como “grandeza de alma” (magna anima), e perseverança. A magnanimidade é o que faz com que alarguemos o nosso coração e empreendamos uma grande obra com confiança. A perseverança permite que permaneçamos firmes e resistamos ao mal por um longo tempo, resistindo à tentação de desistir.

O problema é que o pecado original danificou severamente nossa natureza humana, levando a certa perda de nossa antiga inclinação para o bem. Uma das desordens introduzidas pelo pecado original é a ferida da fraqueza, que debilita a fortaleza. Desde a queda de Adão, não é fácil ter coragem; tendemos a cair em pecados que se opõem à fortaleza. Por exemplo, o pecado da pusilanimidade (ou pequenez de alma) leva-nos a subestimar nosso próprio poder e, conseqüentemente, à paralisia. Vemos um exemplo claro dessa disposição desafortunada na história do Evangelho sobre o servo que enterrou no chão o talento de seu senhor por medo da severidade de seu mestre, em vez de se munir de esperança e fazer o talento frutificar. Ele tinha os dons necessários para realizar a tarefa, mas por desânimo não teve coragem de agir, pensando que o encargo estava além de sua capacidade. Continuar lendo

PARA NOS PREPARARMOS PARA A MORTE NÃO DEVEMOS ESPERAR PELO ÚLTIMO MOMENTO

Resultado de imagem para moribundoEstote parati: quia qua nescitis hora Filius hominis venturus est – “Estai preparados; porque não sabeis em que hora tem de vir o Filho do homem” (Mt 24, 44)

Sumário. Devemo-nos persuadir de que o tempo da morte não é o momento próprio para regular as contas. Que dirias de um homem que tendo de entrar em concurso para uma cadeira, quisesse instruir-se somente na hora da prova? Não seria tido por louco o comandante de uma praça que esperasse que o cercassem para fazer provisão de viveres e munições? Não seria loucura da parte de um piloto, se não se munisse de âncoras e cabos senão no momento da tempestade? Tal é todavia o procedimento de um cristão que espera que a morte chegue para por em ordem a sua consciência.

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Todos sabem que havemos de morrer, que se morre uma só vez e que não há coisa mais importante do que esta, porque do instante da morte depende o ser-se feliz ou desgraçado para sempre. Todos sabem igualmente que da boa ou da má vida depende a boa ou má morte. Como então se explica que a maior parte dos cristãos vivem como se nunca devessem morrer ou como se importasse pouco morrerem bem ou mal? Vive-se mal, porque se não pensa na morte: Memorare novissima tua et in aeternum non peccabis (1) — “Lembra-te de teus fins últimos e nunca pecarás”.

Devemo-nos persuadir de que o tempo da morte não é o momento próprio para regular as contas e por a salvo o negócio da salvação eterna. Os prudentes do mundo tomam, em tempo oportuno, para seus negócios, todas as providências para obter tal lucro, tal posto; e na saúde do corpo nunca adiam o emprego dos remédios necessários. — Que dirias de um homem que, tendo de entrar em concurso para uma cadeira, somente procurasse instruir-se no momento da prova? Não seria taxado de louco o comandante que esperasse o momento do cerco para fazer provisões de viveres e munições? Não seria loucura da parte de um piloto, se não cuidasse em munir-se de âncoras e de cabos, senão no momento da tempestade? Tal é todavia o procedimento do cristão que espera que a morte chegue, para por em ordem a sua consciência.

Quando a morte cair sobre eles como tempestade”, diz o Senhor, “então invocar-me-ão, e não os escutarei; comerão o fruto de seu caminho” — Cum interitus quasi tempestas ingruerit… tunc invocabunt me, et non exaudiam; comedent fructus viae suae (2). O tempo da morte é um tempo de perturbação e confusão: então os pecadores invocam o socorro de Deus, mas somente com o receio do inferno, em que se veem próximos a cair, sem verdadeira conversão; e por isso Deus não os atende. É justo que então só provem os frutos de sua má vida: Quae seminaverit homo, haec et metet (3) — “O homem colherá o que tiver semeado”. — Não basta receber então os sacramentos; é preciso morrer detestando o pecado e amando a Deus sobre todas as coisas. Como, porém, aborrecerá os prazeres proibidos aquele que até então os amou? Como amará a Deus sobre todas as coisas aquele que até esse momento mais tiver amado as criaturas do que Deus? Continuar lendo

DA PROVA DO VERDADEIRO AMOR

Resultado de imagem para joelhos igreja catolicaJesus: Filho, não és ainda forte nem prudente no amor.

A alma: Por que, Senhor?

Jesus: Porque por qualquer contrariedade deixas o começado e com ânsia excessiva procuras a consolação. O homem forte no amor permanece firme nas tentações e não dá crédito às astuciosas sugestões do inimigo. Assim como lhe agrado na prosperidade, não lhe desagrado nas tribulações. Quem ama discretamente não considera tanto a dádiva de quem ama, como o amor de quem dá. Atende mais à intenção que ao valor do dom, e a todas as dádivas estima menos que o Amado. Quem ama nobremente não repousa no dom, mas em mim acima de todos os dons. Nem tudo está perdido, se sentires, às vezes, menos devoção, a mim ou meus santos, do que desejaras. Aquele sentimento terno e doce que experimentas, às vezes, é efeito da graça presente, um como que antegosto da pátria celestial; nele não te deves firmar muito, porquanto vai e vem. Mas pelejar contra os maus movimentos do coração e desprezar as sugestões do demônio é sinal de virtude e grande merecimento.

Não te perturbem, pois, estranhas imaginações, oriundas de matéria qualquer. Guarda firme teu propósito, e tua reta intenção fixa em Deus. Não é ilusão o seres, alguma vez, subitamente arrebatado em êxtase, e logo depois caíres de novo nos costumados desvarios do coração. Porque mais os padeces contra a vontade do que és causa deles, e enquanto te desagradarem e os repelires, serão para ti ocasião de merecimento e não de perdição. Continuar lendo

A SALVAÇÃO É O NOSSO ÚNICO NEGÓCIO

Resultado de imagem para ajoelhado igrejaPorro unum est necessarium — “Só uma coisa é necessária” (Luc. 10, 42.)

Sumário. O único fim pelo qual o Senhor nos pôs neste mundo é a salvação de nossa alma. Pouco importa sermos aqui pobres, perseguidos e desprezados, salvando-nos nada mais teremos a sofrer e seremos felizes por toda a eternidade. Se, porém, perdermos este negócio e nos condenarmos, de que nos servirá no inferno termos gozado de todos os prazeres do mundo, de havermos sido ricos e cortejados? Perdida a alma, está perdido tudo e para sempre! Meu irmão, dize-me, como cuidaste até hoje deste negócio único?… Estás ao menos resolvido a tratá-lo no futuro seriamente?

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São Bernardo lamenta a incoerência dos cristãos, que tratam de loucura os brinquedos infantis, e chamam negocio sério as suas ocupações terrestres, enquanto na realidade elas não são senão loucuras maiores. De que serve, diz o Senhor, ganhar o mundo inteiro e perder a alma? Quid prodest homini, si universum mundum lucretur, animae vero suae detrimentum pafiatur?(1) — Se te chegares a salvar, meu irmão, pouco importa que tenhas neste mundo sido pobre, perseguido e desprezado; salvando-te, nada mais terás a sofrer e serás feliz por toda a eternidade. Se, porém, perderes a alma e te condenares, de que te servirá no inferno o teres gozado de todos os prazeres do mundo, o haveres sido rico e cortejado? Perdida a alma, perdem-se os prazeres, as honras, as riquezas, perde-se tudo.

Que responderás a Jesus Cristo no dia das contas? Se um rei encarregasse o seu embaixador de ir a uma cidade para tratar um negócio importante, e se, chegado ali, em vez de cuidar do negócio que lhe fora confiado, só pensasse em festas, espetáculos e banquetes, e assim levasse o negócio a mau êxito, que contas daria ao rei quando voltasse? Ó Deus! Que contas mais rigorosas não terá de dar ao Senhor no dia do juízo aquele que, colocado no mundo, não para se divertir, enriquecer, adquirir honras, mas para salvar a alma, de tudo se tiver ocupado exceto dela? Os mundanos só pensam no presente e nunca no futuro.

São Filippe Neri, conversando um dia em Roma com um moço talentoso, chamado Francisco Zazzera, que só pensava nas coisas do mundo, falou-lhe desta maneira: Meu filho, alcançarás grande fortuna, será bom advogado, depois prelado, depois talvez cardeal, e quem sabe? Talvez Papa. E depois?… E depois?… Vai, disse-lhe, vai e pensa nestas duas palavras, Francisco voltou para casa, e tendo refletido seriamente nestas duas palavras: E depois?… E depois?… renunciou às ocupações mundanas e entrou na Congregação de São Filipe, entregando-se inteiramente aos trabalhos de Deus. Continuar lendo

CONFRARIA DOS HOMENS PARA A CASTIDADE

Dom Lourenço Fleichman OSB
Capelão responsável

Confraria dos Homens para a Castidade é uma iniciativa da Capela Nossa Senhora da Conceição, de propor a todos os homens católicos, jovens e adultos, solteiros, casados ou viúvos, um combate mais eficaz e duradouro contra a pornografia e os pecados de impureza que assolam a sociedade moderna de modo assustador. S. Excelência, Dom Alfonso de Galarreta aprovou oficialmente a criação da Confraria.

Oferecemos esta Confraria, este combate singular, aos homens e não às mulheres, por acreditarmos que os homens devem recuperar seu papel na sociedade familiar e na sociedade civil. Papel este deixado de lado por 200 anos de Liberalismo, de hedonismo e de decadência moral da humanidade. Se um homem recupera sua saúde espiritual e a fortaleza própria do seu estado, as mulheres de sua casa, sejam elas mãe, irmãs, esposa ou filhas, seguirão o exemplo dos homens fortes e castos. O resultado esperado é o restabelecimento da ordem da natureza na sociedade, com os homens sendo valorosos, fortes, virtuosos, e as mulheres se espelhando no belo exemplo dos soldados de Cristo para serem elas também santas e virtuosas.

Mas, por favor, não vejam nessa distinção nenhuma sombra de desprezo ou diminuição do papel das mulheres. Não se trata de nada disso, pois é uma questão de vida espiritual, e não de vida social. A espiritualidade masculina é diferente da espiritualidade feminina. A Confraria trabalha nos homens, para favorecer toda a sociedade. Os homens castos elevarão a casa e a cidade a uma vida sob o domínio da graça. Isso é o que importa. Continuar lendo

DA PERFEITA RESIGNAÇÃO COM A VONTADE DIVINA

Resultado de imagem para se humilhandoMeus cibus est ut faciam voluntatem eius qui misit me, ut perficiam opus eius — “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou, para consumar a sua obra” (Io. 4, 34).

Sumário. É um ponto de fé que Deus não quer senão o que é melhor para nós; isto é, a nossa santificação. Se quisermos, pois, ser santos e achar mesmo na terra a paz verdadeira, procuremos ter a nossa vontade em repouso, unindo-a sempre à vontade amabilíssima de Deus. Remetamos ao Pai celestial toda a nossa solicitude, certos de que, afinal, tudo cede para o maior bem do justo. Em cada adversidade, seja qual for, repitamos a palavra habitual dos santos: Seja feita a vossa vontade!

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O que nos sustenta na nossa vida mortal é o  alimento; eis porque Jesus Cristo disse que o seu alimento era o cumprir a vontade de seu Pai. Deve isso ser também o sustento das nossas almas; porque nossa vida consiste em cumprirmos a vontade divina; quem não a cumpre está morto (1). — O Sábio escreve: Fideles in dilectione acquiescent illi (2) — “Os que lhe são fiéis no amor, concordam com Ele”. Aqueles que são pouco fiéis no amor divino, quereriam que Deus acquiesceret eis, concordasse com eles; isto é,  se conformasse com a vontade deles e lh´a fizesse em tudo. Aqueles, porém, que amam a Deus, acquiescunt illi, concordam com Ele, conformam-se com tudo o que Deus faz tanto deles mesmos como dos seus bens. Em todas as adversidades que os afligem, nas enfermidades, nas injúrias, nos desgostos, na perda de bens ou de parentes, eles têm sempre na boca e no coração a palavra tão familiar aos santos: Fiat voluntas tua — “Seja feita a vossa vontade”.

Deus não quer senão o que é melhor para nós, isto é, a nossa santificação: Haec est voluntas Dei: sanctificatio vestra (3) — “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação”. Procuremos, pois, conservar a nossa vontade em repouso, unindo-a sempre à vontade de Deus, tranquilizemos igualmente o nosso espírito pelo pensamento que tudo o que Deus faz é melhor para nós. Quem não fizer assim, nunca achará a verdadeira paz.

Toda a perfeição alcançável nesta terra, lugar de purificação e, por consequência, de penas e trabalhos, consiste em sofrer com paciência tudo o que contraria o nosso amor próprio, e para sofrê-lo com paciência, não há meio mais eficaz do que sofrê-lo para cumprir a vontade de Deus. — Aquele que se conforma em tudo à vontade de Deus está sempre em paz, e não o entristecerá coisa alguma que lhe suceda: Non contristabit iustum quidquid ei acciderit (4). E porque é que o justo não se entristece, aconteça-lhe seja o que for? Porque sabe que tudo o que acontece neste mundo acontece pela vontade divina e que afinal todas as coisas contribuem para o seu bem (5). Numa palavra, a vontade divina embota, por assim dizer, todos os espinhos, e tira a amargura de todas as tribulações que nos sobrevierem neste mundo. Continuar lendo

VI DOMINGO DEPOIS DA EPIFANIA: O GRÃO DE MOSTARDA E A IGREJA CATÓLICA

mostSimile est regnum coelorum grano sinapis, quod accipiens homo seminavit in agro suo — “O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo” (Matth. 13, 31).

Sumário. No Evangelho de hoje a Igreja Católica é comparada a um grão de mostarda; porque, posto que pequena na sua origem, em breve se dilatou de tal modo, que todas as nações se puseram debaixo da sua proteção. Já que temos a ventura de pertencer a esta Igreja, demos graças por isso a Deus. Se, porém, desejamos que a fé nos salve, meditemos freqüentemente nas máximas salutares da fé e façamos por não sermos do número daqueles que, vivendo no pecado ou na tibieza, são membros mortos ou moribundos.

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I. O divino Redentor compara o reino dos céus, isto é, a sua Igreja, a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. E com razão; pois, assim como a mostarda é a menor das sementes, assim a Igreja de Jesus Cristo foi na sua origem muito pequena e desprezível aos olhos dos homens. — Pequena e desprezível em seu fundador; que, posto que fosse Deus, quis passar sua vida na obscuridade e nas humilhações e afinal morreu crucificado entre dois ladrões, pelo que dizia o Apóstolo que Jesus foi para os judeus escândalo e para os gentios loucura (1). — Pequena também e desprezível em sua doutrina; porque quanto à fé impõe para crer dogmas superiores e, na aparência, contrários à razão humana; quanto às obras, ensina máximas bastante difíceis e humilhantes: manda-nos sofrer as injúrias, perdoar aos inimigos, renunciar a nós mesmos. — Pequena finalmente e desprezível nos meios para se propagar; pois que para a sua dilatação foram escolhidos doze pobres pescadores, homens sem prestígio e sem instrução: Quae stulta sunt huius mundi elegit Deus (2) — “Deus escolheu o que é insensato segundo o mundo”.

Mas assim como o grão de mostarda, “quando tem crescido, é a maior de todas as hortaliças e se faz árvore, de maneira que vêm as aves do céu e se aninham em seus ramos”, assim também a Igreja de Jesus Cristo, pequena e desprezível na sua origem, com o auxílio de Deus cresceu em breve tempo de tal maneira, que uma multidão de pessoas, e entre estas reis, imperadores e sábios, a ela vieram abrigar-se, achando a verdadeira felicidade. — Meu irmão, dá graças ao Senhor por teres nascido no grêmio desta Igreja; cuida, porém, que não sejas um membro morto ficando no estado de pecado, ou moribundo, vivendo em tibieza voluntária. Continuar lendo

DA CONFIANÇA NA PROTEÇÃO DE MARIA SANTÍSSIMA – PONTO III

Resultado de imagem para nossa senhora manto debaixoConsideremos, em terceiro lugar, que Maria Santíssima é advogada tão caridosa, que não somente auxilia aos que recorrem a ela, mas que vai procurando por si mesma os desgraçados para os defender e salvar.

Convida a todos, a fim de alentar-nos a esperança de todos os bens, se nos acolhermos sob sua proteção. “Em mim há toda a esperança de vida e virtude. Vinde todos a mim” (Ecl 24,26). “A todos nos chama, justos e pecadores”, exclama o devoto Pelbardo, comentando esse texto.

Anda o demônio ao redor de nós, procurando a quem devorar, diz São Pedro (1Pd 5,8). Mas esta divina Mãe, como diz Bernardino de Bustos, vai procurando sempre a quem possa salvar. Maria é Mãe de misericórdia, porque sua caridade e clemência a obriga a compadecer-se de nós e cuidar constantemente de salvar-nos, como mãe carinhosa, que não pode ver os filhos em risco de perder-se sem logo os socorrer.

E efetivamente, quem, depois de Jesus Cristo, tem mais cuidado da nossa salvação do que vós? exclama São Germano. São Boaventura acrescenta que Maria se mostra tão solícita em socorrer aos pecadores, que não parece ter outro desejo além deste.

Ela ajuda certamente aos que se lhe recomendam e a ninguém desampara. É tão benigna — exclama Idiota — que não repete a ninguém. “Mas isto não basta para satisfazer o coração terníssimo de Maria, disse Ricardo de São Vitor; ela antecipa-nos as súplicas e serve os nossos interesses, ainda antes de lhe pedirmos. E é tão misericordiosa que, onde vê misérias, acode logo e não pode ver ninguém necessitado sem socorrer. “Assim procedia na sua vida mortal, como bem se depreende do que sucedeu nas bodas de Caná, na Galiléia, quando faltou vinho, e ela, sem ser rogada por ninguém, vendo a aflição em que se achavam os jovens esposos, suplicou ao divino Filho que lhes poupasse aquele desgosto, dizendo: “Não têm vinho” (Jo 2,3), alcançando assim do Senhor que, milagrosamente, transformasse água em vinho. Continuar lendo

MARIA SANTÍSSIMA LIVRA OS DEVOTOS DO INFERNO

nossaQui audit me, non confundetur: et qui operantur in me, non peccabunt — “Aquele que me ouve, não será confundido, e os que obram por mim, não pecarão” (Ecclus. 24, 30).

Sumário. É impossível que se perca um devoto de Maria que fielmente a serve e a ela se recomenda. Com efeito, como poderíamos imaginar que Maria, a mais amante de todas as mães, podendo livrar um filho seu da morte eterna só com um pedido ao Juiz da graça, deixe de o fazer? Eis porque o demônio detesta tanto a alma devota da divina Mãe e se esforça por fazê-la relaxada. Examina a tua devoção à Santíssima Virgem, e toma a resolução de a fazer crescer mais e mais.

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A asserção de que é impossível um devoto de Maria Santíssima condenar-se não se estende àqueles devotos que abusam da sua devoção a fim de pecar com menos temor; porque esses presumidos, pela sua confiança temerária, merecem castigo e não misericórdia. Estende-se tão somente àqueles devotos que, com o desejo de se emendarem, são fiéis em obsequiar à divina Mãe e em recomendar-se a ela. Estes digo eu que é moralmente impossível perderem-se, porquanto a benigníssima Senhora alcançar-lhes-á luz e força para saírem do estado de perdição.

Esta sentença é conforme à doutrina dos Padres e Doutores da Igreja. Santo Anselmo diz que “assim como quem não é devoto de Maria nem dela é protegido, é impossível que se salve; assim também é impossível que se condene quem se encomenda à Virgem e dela é visto com complacência”. Confirma isto Santo Antonino quase com as mesmas palavras. E Santo Hilário acrescenta que isto sucederá ainda àqueles que no tempo passado ofenderam muito a Deus. Pelo que Santo Efrém dá à Nossa Senhora o belo título de Protetora dos condenados: Patrix damnatorum; e chama a devoção à Virgem salvo-conduto para não ser desterrado para o inferno: Charta libertatis.

E na verdade, se é certo o que diz São Bernardo, que à Maria não pode faltar nem poder nem vontade de nos salvar, como poderá suceder que um devoto fiel seu se perca? Que mãe, podendo facilmente livrar seu filho da morte com um só pedido de graça ao juiz, deixaria de o fazer? E poderemos pensar que Maria, a Mãe mais amorosa que possa haver, podendo livrar um filho da morte eterna, e podendo-o fazer tão facilmente, não o queira fazer? Ah! Isso é impossível! Continuar lendo

OS 8 SINAIS DA TIBIEZA E A PENA PELA MEDIOCRIDADE NA PRÁTICA DA VIRTUDE

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Fonte: Capela Santo Agostinho

Os sinais da tibieza em geral são os oito seguintes:

Omissão fácil das práticas de piedade

A alma fervorosa tem a sua vida de piedade toda dirigida por um regulamento particular fácil de ser observado e bem criterioso. Não omite facilmente qualquer prática de piedade. E’ de uma fidelidade extrema, sobretudo à meditação. Se graves ocupações ou verdadeira necessidade a impedem, procura, logo que seja possível, suprir a falta. A alma tíbia sob qualquer pretexto omite os exercícios de piedade, passa dias sem meditação, e até mesmo sem práticas de piedade de qualquer espécie. Ora, isto é exatamente o contrário do fervor. “Não digo que isto prove tudo, diz o Pe. Faber, mas prova muito. Seja como for, sempre que existir tibieza, existirá este sintoma”.

Fazer os exercícios de piedade com negligência

Na tibieza também há oração, missas, confissões, comunhões, terços, etc., mas a rotina vai inutilizando tudo. A rotina e a má vontade. Confissões e comunhões mal preparadas, orações com inúmeras distrações voluntárias. E o pior ainda a falta de generosidade e de todo esforço para se corrigir.

Outro sinal de tibieza é a alma sentir-se aborrecida com o pensamento de que tudo vai mal na sua vida espiritual.Não se sente inteiramente à vontade com Deus. Não sabe exatamente onde está o mal, mas tem certeza de que tudo não está em ordem. É um mal-estar, um aborrecimento interior. E, sem paz, o tíbio se agita inutilmente e vai deixando arraigar-se no coração o hábito do pecado venial. Este sinal anda sempre com os dois primeiros. Desde que faltou generosidade numa alma para ser fiel aos seus deveres de piedade, estas omissões e negligências acabam deixando-a num estado lamentável de aborrecimento das coisas santas e até de Nosso Senhor. Continuar lendo

DAS IGNOMÍNIAS QUE JESUS CRISTO SOFREU NA SUA PAIXÃO

cristDabit percutienti se maxillam, saturabitur opprobriis — “Oferecerá a face ao que o ferir, fartar-se-á de opróbrios” (Thren. 3, 30).

Sumário. Ah, a quantas ignomínias se submeteu o nosso pobre Jesus no tempo da sua Paixão! Foi traído por um dos seus discípulos, renegado por outro e abandonado por todos. Foi escarnecido como mentecapto, posposto a Barrabás, açoitado como um escravo, tratado como rei de teatro, condenado a morrer crucificado entre dois ladrões. E para que? Para nos provar o seu amor, e ensinar-nos pelo seu exemplo a sofrer com paciência os desprezos e injúrias. E todavia ficamos sempre orgulhosos e amamos tão pouco a Jesus Cristo!

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As mais graves injúrias que sofreu Jesus Cristo são as que lhe foram feitas no dia da sua morte. Sofreu então primeiro o opróbio de se ver abandonado por todos os seus amados discípulos, dos quais um o traiu, outro o renegou e quando Jesus foi preso no horto, todos fugiram e o abandonaram. Em seguida, os judeus apresentaram-no a Pilatos como um malfeitor digno de ser crucificado a um simples pedido deles. Por Herodes e toda a sua corte foi escarnecido como louco: Sprevit illum Herodes cum exercitu suo (1).

Depois foi posposto a Barrabás, um ladrão e homicida; pois, à pergunta de Pilatos a quem devia soltar, os judeus responderam gritando: Non hunc, sed Barabbam (2) — “Não queremos solto este, mas Barrabás”. Foi flagelado como escravo, porque esta pena se infligia só aos escravos. Foi burlado como rei de teatro; porquanto, depois de por escárnio O haverem coroado de espinhos, saudaram-No como rei, e, escarrando-Lhe no rosto, diziam: Ave, rex Iudaeorum (3) — “Ave, rei dos judeus”. Depois foi condenado a morrer entre dois ladrões conforme já fora predito por Isaias: Et cum sceleratis reputatus est (4) – “Ele foi posto no número dos celerados”.

Finalmente morreu crucificado, quer dizer, da morte mais ignominiosa à qual naqueles tempos eram condenados os criminosos, pelo que (como está escrito no livro Deuteronômio (5)) os Hebreus consideravam o crucificado como maldito de Deus e dos homens. É por isso que São Paulo escreve: “Cristo nos remiu da maldição da lei, fazendo-se por nós maldição, porque está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no lenho” (6). — E nota o que em outro lugar acrescenta o Apóstolo: não foi por necessidade, mas por livre escolha que o Senhor teve uma vida tão cheia de tribulações e uma morte acompanhada de tantas ignominias, renunciando a uma vida suntuosa e deliciosa, de que nesta terra podia gozar (7). Oh, diz Santo Agostinho, se esta medicina não basta para curar o nosso orgulho, não sei o que o possa curar: Quid eam curet nescio. Continuar lendo

DA CONFIANÇA NA PROTEÇÃO DE MARIA SANTÍSSIMA – PONTO II

Imagem relacionadaConsideremos, em segundo lugar, que Maria é advogada tão clemente quanto poderosa, e que não sabe negar sua proteção a quem recorre a ela. Os olhos do Senhor estão voltados sobre os justos, disse David. Mas esta Mãe de misericórdia, segundo afirma Ricardo de São Lourenço, fita os olhos nos justos como nos pecadores, a fim de que não caiam; e, se tiverem caído, para ajudar-lhes a que se levantem.

Afigurava-se a São Boaventura, quando contemplava a Virgem, que estava vendo a própria misericórdia. São Bernardo nos exorta a que em todas as nossas necessidades recorramos a essa poderosa advogada, porque é toda doçura e bondade, para aqueles que se lhe recomendam.

É por isso que Maria é chamada formosa como a oliveira. Quasi oliva speciosa in campis (Ecl 24,19); pois assim como a oliveira produz azeite suave, símbolo da piedade, assim da Virgem Santíssima promanam graças e misericórdias para todos aqueles que se refugiam na sua proteção.

Tem, pois, razão Dionísio Cartusiano para lhe chamar advogada dos pecadores que a ela recorrem. Qual não será a mágoa do cristão que se condena, quando pensar que tão facilmente se podia ter salvado, recorrendo a esta Mãe de misericórdia, e que não o fez, nem haverá já tempo para remediá-lo! A bem-aventurada Virgem disse a Santa Brígida: Continuar lendo

A SANTÍSSIMA EUCARISTIA, NOSSA FORÇA CONTRA NOSSOS INIMIGOS

eucaParasti in conspectu meo mensam adversus eos, qui tribulant me — “Preparaste uma mesa diante de mim, contra aqueles que me angustiavam” (Ps. 22, 5).

Sumário. Meu irmão, se te achas languido no bem, fraco no combate espiritual, põe a culpa sobre ti mesmo, porque não recebes a divina Eucaristia, ou a recebes sem as devidas disposições. Todos os Santos testemunham, e a experiência o confirma, que este divino Sacramento apaga o fogo das paixões, dá força e coragem para vencer o mundo com as suas vaidades, e debela todas as forças dos inimigos infernais. Numa palavra, os demônios, vendo uma alma incorporada no seu divino Chefe pela santa comunhão, ficam atemorizados e sem forças contra ela.

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É com razão que a Santíssima Eucaristia foi simbolizada pelo pão milagroso que o Anjo preparou para Elias; pois, assim como o Profeta se sentiu de tal modo fortalecido, que pôde subtrair-se à fúria de Jesabel e chegar ao monte do Senhor, assim os cristãos fortalecidos por este pão divino terão força para vencer todos os formidáveis inimigos que lhes estorvam o caminho da perfeição.

Diz São Cirilo de Alexandria, e confirma-o Santo Tomás, que, “quando Jesus Cristo está dentro de nós, mitiga o ardor da nossa concupiscência, acalma as inclinações desregradas da carne, e robustece a piedade”. Este Sacramento, qual fonte de água, apaga o fogo das paixões que nos consomem; por isso, quem se sentir abrasado pelo fogo de alguma paixão, aproxime-se da Mesa sagrada e logo a paixão será morta ou amortecida. — Pelo que dizia São Bernardo: “Meus irmãos, se alguém não sente tão freqüente nem tão violentamente os movimentos da ira, da inveja, da incontinência, agradeça-o ao Santíssimo Sacramento, que operou nele tão salutar mudança.”

Mais admirável ainda é a força que este alimento divino nos comunica para vencermos o mundo com as suas vaidades. D´onde credes que tiraram os primeiros cristãos aquela força heróica pela qual arrostavam a perda de todos os bens e mesmo a vida, entre os tormentos mais cruéis? Da recepção freqüente da santíssima Eucaristia: Erant perseverantes in communicatione fractionis panis — “Eles perseveravam na comunhão do partir do pão”. Foi ali também que todos os santos acharam a força para se porem acima de todo o respeito humano. Continuar lendo

AS ALMAS DO PURGATÓRIO

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FonteHojitas de Fe, 11 | Seminário Nossa Senhora Corredentora, FSSPX
Tradução:
Dominus Est

A Igreja, durante todo o mês de novembro, após ter honrado e exaltado seus filhos do céu, e invocado sua intercessão, não quer esquecer seus filhos do Purgatório. Dedica a eles a Comemoração dos Fiéis Defuntos, e dá indulgências especiais durante os primeiros oito dias de novembro, e consagra todo este mês a orar pelas almas dos defuntos. No que nos diz respeito, três motivos devem nos levar a interessar-nos por estas santas almas:

1º Primeiramente, porque são almas necessitadíssimas de nossa misericórdia e de nossos sufrágios: “Estive na prisão e me visitastes”.

2º Depois, porque um dia nós teremos que encontrá-las no Purgatório (se a bondade de Deus assim o permitir), razão pela qual muito nos interessa saber o que é dessas almas, qual é seu estado, como Deus as trata…

3º Finalmente, porque muitas vezes imaginamos o Purgatório como o lugar da justiça de Deus, de uma justiça inflexível, de uma justiça sem misericórdia: quando, na realidade, é ao contrário uma invenção da misericórdia de Deus, mesmo que seja uma misericórdia em que o homem já não pode mais merecer e deve reparar todos os pecados de sua vida.

Detenhamo-nos neste último ponto, considerando as três razões pelas quais a misericórdia divina se manifesta no Purgatório: • primeiro, no amor que as três Pessoas divinas têm por essas almas abençoadas; • segundo, no amor e na conformidade que essas almas têm para com Deus; • terceiro, no próprio sofrimento que essas almas têm que suportar. Continuar lendo

DESESPERO DOS RÉPROBOS NO INFERNO

inferMortuo homine impio, nulla erit ultra spes — “Morto o homem ímpio, não restará mais esperança alguma” (Prov. 11, 7).

Sumário. Enquanto o pecador vive, há sempre esperança de conversão; mas quando a morte o arrebatou no estado de pecado, não lhe resta mais esperança alguma e verá sempre diante dos olhos a sentença de sua eterna condenação. Sim, porque o inferno tem uma porta de entrada, mas não de saída. O que o réprobo começa a sofrer no primeiro dia da sua entrada, terá de sofrê-lo sempre. Qual não seria, pois, o nosso desespero, se por desgraça nos viessemos a condenar!… Ó Pai Eterno, pelo amor de Jesus Cristo, castigai-me como quiserdes, mas poupai-me na eternidade.

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Quem entra uma vez no inferno, nunca mais dele sairá. Este pensamento fazia Davi exclamar tremendo: “Ó Senhor, não me afogue a tempestade, nem me absorva o mar profundo, nem cerre o poço a sua boca sobre mim.” (1) Mal cai um réprobo neste poço de tormentos, logo se fecha a entrada e não se abre mais. O inferno tem uma porta de entrada, mas não de saída, diz Eusébio Emisseno: Descensus erit, ascensus non erit. Eis como ele explica as palavras do salmista: Não cerre o poço a sua boca sobre mim: Enquanto vivo, pode o pecador ter esperança de conversão, mas se a morte o surpreender no estado de pecado, perdê-la-á para sempre: Morto o homem ímpio, não restará mais esperança alguma.

Se os condenados pudessem ao menos embalar-se em alguma falsa esperança e assim achar algum alívio na sua desesperação! O homem enfermo mortalmente e estendido no leito, apesar de desenganado pelos médicos, ainda busca iludir-se e consolar-se dizendo: “Quem sabe se ainda não se encontra um médico ou um remédio que me possa curar?” Um criminoso condenado às galés perpétuas acha também uma consolação neste pensamento: “Quem sabe se algum acontecimento não me tirará destas cadeias?” Se o réprobo pudesse ao menos dizer igualmente: “Quem sabe se um dia não sairei desta prisão?” E assim iludir-se com alguma falsa esperança. Mas não: no inferno não há esperança, nem verdadeira nem falsa; não há o quem sabe.

Statuam contra faciem (2) — “Eu t´o porei diante de tua face”. O desgraçado réprobo terá incessantemente diante da vista a sentença que o condena a gemer eternamente nesse abismo de sofrimentos. O condenado não sofre somente a pena de cada instante, mas sofre a cada instante a pena da eternidade, vendo-se obrigado a dizer: O que sofro atualmente, sofrê-lo-ei sempre. Pondus aeternitatis sustinent, diz Tertuliano: os réprobos gemem sob o peso da eternidade. Continuar lendo

DA CONFIANÇA NA PROTEÇÃO DE MARIA SANTÍSSIMA – PONTO I

Resultado de imagem para santíssima virgemQui invenerit me, inveniet vitam, et hauriet salutem a Domino – “Quem me encontrar, encontrará a vida, e alcançará do Senhor a salvação” (Pr 8, 35)

Quantas graças devemos render à misericórdia divina, exclama São Boaventura, por ter-nos dado como advogada a Virgem Maria, cujas súplicas podem alcançar-nos todas as mercês que desejamos!… Pecadores, meus irmãos, mesmo que nos acharmos já condenados ao inferno em vista das nossas iniquidades, não desesperemos, entretanto.

Recorramos a esta divina Mãe, abriguemo-nos debaixo do seu manto, e ela nos salvará. Ela apenas exige de nós a resolução de mudar de vida. Tomemo-la, pois; confiemos verdadeiramente em Maria Santíssima, e ela nos alcançará a salvação… Porque Maria é advogada piedosíssima, advogada que a todos nós deseja salvar.

Consideremos, primeiramente, que Maria é advogada poderosa, que tudo pode junto ao soberano Juiz, em proveito e benefício daqueles que devotamente a servem… Singular privilégio concedido pelo mesmo Juiz, Filho da Virgem!

“É grande privilégio que Maria seja poderosíssima junto a seu Filho”

Afirma Gerson que a bem-aventurada Virgem nos obtém de Deus quando lhe pedirmos com firme vontade e que como rainha ordena aos anjos que iluminem, aperfeiçoem e purifiquem os seus devotos. À vista disto, a Igreja, querendo inspirar-nos confiança nessa nossa grande advogada, induz-nos a invocá-la com o título de Virgem poderosa: Virgo potens, ora pro nobis… Continuar lendo

DAS SECURAS ESPIRITUAIS

secPosuit me desolatam, toto die moerore confectam — “Pôs-me em desolação, afogada em tristeza todo o dia” (Thren. 1, 13).

Sumário. O Senhor prova os que o amam com securas e tentações. Quando, pois, te achares em tal provação, não percas a coragem, mas entrega-te com abandono inteiro à misericórdia divina. Faze continuamente atos de humildade e resignação, confessando que mereces ser tratado assim e ainda pior. Não omitas sobretudo nenhuma das tuas boas obras e orações, muito embora as faças sem gosto e contra vontade. Virá o tempo em que serás bem pago por tudo.

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Diz São Francisco de Sales que a verdadeira devoção e o verdadeiro amor de Deus não consistem em sentir consolações espirituais nos exercícios de piedade, mas em ter uma vontade resoluta de só querer e fazer aquilo que Deus quer. É só para este fim que devemos orar, comungar, praticar a mortificação e qualquer outra virtude que agrada a Deus, muito embora façamos isso sem satisfação alguma e no meio de mil tentações e aborrecimentos de espírito. “Pelas securas e tentações”, diz Santa Teresa, “o Senhor experimenta os que O amam. Posto que a secura continue durante toda a vida, não deixe a alma de fazer oração; virá tempo em que será bem paga por tudo.”

Segundo o aviso dos mestres da vida espiritual, devemos, no tempo da desolação, exercitar-nos principalmente em fazer atos de humildade e de resignação. Não há tempo mais próprio para conhecermos a nossa fraqueza e miséria como quando na oração estamos áridos, aborrecidos, distraídos e desgostosos, sem fervor sensível, mesmo sem desejo sensível de progredirmos no amor divino. — Então a alma diz: Senhor, tende compaixão de mim! Vede como sou incapaz de fazer qualquer ato de virtude. Ela deve também praticar a resignação e dizer: Meu Deus, deixai-me ficar nesta escuridão e aflição; seja sempre feita a vossa vontade! Não desejo consolações; basta-me estar aqui para Vos agradar. E assim deve ela perseverar na oração todo o tempo determinado.

A maior pena, porém, das almas amantes da oração, não é tanto a secura, como a escuridão, na qual a alma se vê privada de toda a boa vontade, e tentada contra a fé e contra a esperança. Eis porque nesse tempo a solidão lhe é um horror, e a oração lhe parece um inferno. Então ela deve criar coragem e lembrar-se que esses temores de ter consentido na tentação ou na desconfiança, não são senão temores vãos e tormentos da alma, mas não atos da vontade e por isso são isentos de pecado. Continuar lendo

AS 5 FUNDADORAS DO MOSTEIRO DE SÃO JOSÉ (EUA) RECEBEM SEUS HÁBITOS BENEDITINOS

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Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Desde a época de São Bento e Santa Escolástica, santos irmãos, houveram mosteiros beneditinos, tanto masculinos como femininos, frequentemente fundados perto um do outro em memória da proximidade da primeira família beneditina.

Desde que Monsenhor Lefebvre abençoou a fundação do mosteiro beneditino para os homens nos Estados Unidos, em 1991, o Mosteiro de Nossa Senhora de Guadalupe, os monges foram questionados inúmeras vezes por jovens senhoras: “Quando haverá um convento beneditino nos Estados Unidos para meninas americanas? ” Mas com o passar dos anos, apesar do grande desejo, orações e esforços, parecia que um convento nunca seria fundado. Os próprios monges estavam engajados em realizar verdadeiros esforços heroicos para sobreviverem e construírem seu próprio mosteiro no meio das extremas dificuldades causadas pelo terreno rochoso, seco e implacável de uma árida montanha localizada no sudoeste do Novo México. Então, por 25 anos ou mais, as jovens senhoras de língua inglesa que sentiam o chamado para se unirem às Beneditinas não tinham outra opção senão deixar sua terra natal e sua cultura, aprender uma nova língua e entrar em um convento beneditino francês. Este inconveniente acabou por ser uma situação muito difícil para muitas.

Mas, anos de esperança, orações e sacrifícios finalmente deram frutos no tempo de Deus, e Ele escolheu 2018 para ser o ano abençoado que veria, finalmente, a fundação do Mosteiro de São José, um convento beneditino América do Norte! Este convento foi fundado com a bênção, especial patrocínio e caridade de Sua Excelência D. Bernard Fellay. Em fevereiro de 2018, ele pregou pessoalmente o primeiro retiro e orientou 10 jovens que estavam considerando fortemente a vida beneditina. Cinco delas iniciaram imediatamente seu postulado e, em 17 de outubro, estavam prontas para se tornarem noviças e, oficialmente, fundadoras deste convento americano. D. Fellay lhes havia prometido em fevereiro que voltaria e oficiaria esta cerimônia, e para o deleite de ambas as comunidades, pôde cumprir sua promessa.

Muitas outras jovens visitaram o convento neste ano, e algumas logo se juntarão em breve, enquanto outras tem discernido com seus diretores espirituais que podem entrar sem dificuldade.

As fundadoras são os frutos das paróquias da FSSPX e estão felizes por terem se unido ao ramo contemplativo da grande obra da Tradição. O Mosteiro de Nossa Senhora de Guadalupe e o Mosteiro de São José pedem suas orações pela perseverança de suas vocações, e também pedem sua ajuda para construir mais celas para as excelentes vocações que batem à sua porta.

A NOTÍCIA DA MORTE

morte2De lectulo, super quem ascendisti, non descendes, sed morte morieris — “Não te levantarás da cama em que jazes, mas certamente morrerás” (4 Reg. 1, 4).

Sumário. Imagina que estás com um doente a quem restam poucas horas de vida. Os parentes, vendo que o estado dele piora sempre, resolvem-se afinal, depois de uma funesta demora, a anunciar-lhe a aproximação da morte. Ah! Quais serão então os sentimentos do enfermo? Qual será a sua mágoa? Especialmente se tiver vivido com o coração apegado aos bens da terra, por cujo amor ofendeu a Jesus Cristo?… Meu irmão, se na hora da morte não quiseres ter as mesmas angústias, ajusta agora as contas da tua consciência, e na enfermidade chama o confessor antes do médico.

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Imagina que estás junto de um doente a quem restam poucas horas de vida. Pobre enfermo! Considera como está oprimido pelas dores, pelos desfalecimentos, pela angústia do peito, pela falta de ar e pelo suor frio; a cabeça está enfraquecida a tal ponto que pouco ouve, pouco entende e quase não pode falar. A sua maior desgraça é que, próximo à morte, em vez de pensar na alma e na preparação das contas para a eternidade, só pensa nos médicos e nos remédios, para se livrar da doença e dos sofrimentos que aos poucos o fazem morrer.

Se ao menos os parentes e amigos o avisassem do estado perigoso em que se acha! Mas não, entre todos os parentes e amigos não há um só que tenha coragem de lhe dar a notícia da morte e de avisá-lo que receba os sacramentos. Todos se escusam de lhe falar nisso, para não o magoarem (ainda bem se não cometem o excesso de o iludirem com mentiras). — No entanto, ainda que se lhe não anuncie a aproximação da morte, vendo a família toda agitada, as consultas dos médicos repetidas, e multiplicados os medicamentos freqüentes e violentos, o pobre moribundo cai na confusão e diz consigo: Ai de mim! Quem sabe se já não terá chegado o fim dos meus dias!

Ó meu Deus, como me sinto contente por ser religioso! Desde já Vos agradeço que na morte me fareis ser assistido pelos queridos confrades da minha Congregação, que terão por único interesse a minha salvação e me hão de ajudar todos a bem morrer. — Tu, meu irmão, quando te sentires doente, não esperes que o médico, os teus parentes te digam que te confesses; fala tu mesmo nisso, visto que, para não te magoarem, os outros não te avisarão, senão quando estiveres desenganado ou quase desenganado. Faze desde já o propósito de chamar em primeiro lugar o teu confessor; antes ao médico da alma que o do corpo. Lembra-te que se trata da alma, que se trata da eternidade, e que, perdendo-a então, tê-la-ás perdido para sempre, irremediavelmente. Continuar lendo