Fonte: Courrier de Rome – Tradução: Dominus Est
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1. “Roma perderá a fé e tornar-se-á a sede do Anticristo”. Esta suposta profecia, acrescentada ao Segredo de Mélanie, a vidente de La Salette, é invocada com frequência para confirmar o estado atual da crise na Igreja. As aparições da Santíssima Virgem em La Salette foram “reconhecidas” pela Igreja. O que este fato significa? Que crédito se pode capitalizar da referida profecia?
2. O termo “aparições” designa determinados fenômenos que, apesar de sua diversidade, têm em comum serem portadores de um sentido inteligível, às vezes até de uma mensagem determinada. Eles tornam conhecido algo que, até então, era incógnito: neste contexto, podemos falar, portanto, de “revelação”. Mais especificamente, falamos de “aparições” ao dizer que elas são “revelações privadas”. E pretendemos, por isso, distinguir as revelações em questão da Revelação propriamente dita, a Revelação divina, chamada “pública”, que foi finalizada com a morte do último dos apóstolos, que está contida, como em suas fontes, nas Sagradas Escrituras e na Tradição, que é conservada e explicada pelo Magistério da Igreja e que se destina, como meio necessário de salvação, a todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares.
Para melhor compreender o sentido dessa distinção, imaginemos que a revelação, compreendida, em geral, como um ensinamento que Deus endereça ao homem, seja definida, inicialmente, por seu propósito[1], e esse propósito é duplo: transmitir o conhecimento das verdades de fé necessárias a todos para a salvação e dirigir, na prática, as ações destes ou daqueles em vista de sua melhor santificação. O primeiro objetivo define, como tal, a Revelação pública. O segundo propósito define, como tais, as revelações privadas. É possível que, mesmo após a morte do último dos apóstolos, Deus continue a revelar aos homens seus desígnios providenciais. Não se trata mais de comunicar o conhecimento das verdades de fé, necessárias a todos e em todos os tempos, trata-se de manifestar determinado detalhe do plano divino, conforme decide a conduta particular de alguns em uma época ou em um dado lugar[2]. Notemos que o qualificativo “privadas” não quer dizer, necessariamente, que essas revelações sejam destinadas, em si, ao bem próprio de uma única pessoa física. Elas podem abranger vários indivíduos, grupos inteiros e até toda a Igreja de uma determinada época. Não obstante, em todos esses casos haverá uma única entidade moral. E a mensagem sempre interessará, a título de conselho, a algum privilegiado, mas não, a título de preceito, a uma parte apenas da Igreja, e não toda a Igreja enquanto tal, ou seja, enquanto instituição. O concílio de Trento, no decreto sobre a justificação[3], adota a expressão “speciali revelatione”, terminologia talvez menos clássica, porém melhor. Continuar lendo