DIÁLOGO ENTRE O DIRETOR E O ESCRUPULOSO
O diretor. Conheço os males de que a vossa pobre alma sofre; compadeço-me deles do fundo de minhas entranhas; quisera curá-los; mas sabeis qual seria o meio disso, depois de tudo o que acabais de ler?
O escrupuloso. Não; ignoro-o, e desejo vivamente que mo ensineis.
O diretor. Tende uma confiança sem limites na misericórdia divina pela mediação de Nosso Senhor Jesus Cristo, que derramou o Seu sangue por vós, que vos procurou como uma ovelha desgarrada através das sarças e dos espinhos, e que quis expiar pessoalmente os vossos pecados para vos dar a paz e a salvação. Poderíeis desesperar e perder confiança à vista do que Deus fez por vós dando-vos Seu Filho, que se fez a Si mesmo vítima por vós? Que há que não obtenhais pela mediação de Jesus Cristo? Que há que não acheis n’Ele? Força, luz, justiça, santidade, consolação, perseverança; porquanto Jesus Cristo é um dom universal em quem estão encerrados todos os outros dons e todos os tesouros da graça. “Dando-nos seu Filho, diz S. Paulo, Deus não nos deu todas as coisas com Ele?” (Rom 8, 33). Deu-no-lo para ser o suplemento universal de todas as nossas misérias, de toda a nossa indignidade. E que quereríamos que Deus fizesse a mais para nos inspirar sentimentos de confiança e de amor? Que pode Ele acrescentar a admirável economia da redenção, da religião, dos sacramentos, da mediação da SS. Virgem, de tantos caminhos abertas à vossa confiança?
O escrupuloso. Mas eu não mereço senão os repúdios e a indignação de Deus; todas as minhas orações são más, e Deus não pode escutar-me.
O diretor. Mas Jesus Cristo, o Filho único do Pai, que intercede por nós, que por nós oferece o preço dos Seus méritos, do Seu sangue e dos Seus trabalhos, não merece bem ser escutado em nosso favor? Poderíamos crer que tal Pai pudesse recusar alguma coisa a tal Filho que Lhe oferece tal preço? Este pensamento não seria injurioso tanto ao Pai como ao Filho? Continuar lendo