SOFRER AO INVÉS DE AGIR?

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Diante dos erros modernos que ele desaprova, o Padre “X” optou por permanecer em silêncio, oferecendo os sofrimentos que isso lhe causa. Isso é realmente admirável?

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Ouvimos, por vezes, ecos de um ou de outro sacerdote de boa-fé que, demasiado conservador aos olhos de sua hierarquia, é obrigado a reduzir o ardor apostólico e a obedecer às injunções progressistas. Ele então se encontra acorrentado à toda-poderosa Equipe de Animação Pastoral e, com relutância, tem que lidar com a ecologia e o ecumenismo mais do que com a salvação das almas. Ele deve então ensinar as almas a viverem bem aqui na Terra de acordo com as máximas do mundo, ao invés de pregar as virtudes celestiais do desprezo por esta terra de exílio. Muitos padres conservadores dizem que sofrem com isso. Queremos acreditar neles! Substituem o ministério sacerdotal pelo ministério do sofrimento: o sofrimento por não poder cumprir o seu ministério. Mas é suficiente sofrer?

Encontramos no Papa Paulo VI uma atitude semelhante. Em 21 de junho de 1972, durante uma audiência geral, ele revelou parte de suas notas pessoais: 

Talvez o Senhor me tenha chamado e me mantenha neste serviço[o papado] não tanto por qualquer aptidão que eu possua ou para que eu governe e salve a Igreja das suas dificuldades atuais [grifo nosso], mas para que eu sofra algo pela Igreja e fique claro que Ele, e mais ninguém, a guia e salva

Romano Amerio, autor do famoso livro Iota Unum (compre aqui ou aqui) sobre a crise na Igreja, qualifica esta admissão como “exorbitante“: Deus o teria chamado ao ofício papal, mas não para que governe. Amério mostra que Paulo VI não se contentou com essas estranhas palavras, mas que muitas vezes renunciou sua autoridade diante dos muitos desvios graves que marcaram seu pontificado. Para sua função pública de pastor supremo, o Papa substituiu assim uma virtude pessoal: sofrer em vez de comandar. Como se um pai abandonasse seu papel para sofrer exclusivamente as dificuldades de sua família. Dificuldades que não deixarão de surgir precisamente porque o pai abandona sua função. Paulo VI procurou assim “salvar a Igreja” não por sua ação, mas por seu sofrimento…devido, em parte, à sua inação. Continuar lendo

ELES TREMIAM DE MEDO ONDE NÃO HAVIA NADA A TEMER

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Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Pe. Frédéric Weil, FSSPX

Os tempos não são mais de festa. Há alguns anos, o medo invadiu nossas sociedades. A esperança está desaparecendo do nossos horizontes em favor de um mundo de incertezas. O católico deve se juntar ao terror que o cerca?

Terror ambiente

Terrorismo, aquecimento global, tensões sociais e raciais, censura, confrontos urbanos, fluxos migratórios e ainda por cima o famoso vírus: estes são os novos avatares do terror contemporâneo que pairam sobre este mundo como pássaros de mau agouro. De novembro de 2015 a 2017, a França passou 2 anos em “estado de emergência” através de 6 prorrogações devido aos atentados. Em janeiro de 2019, a jovem Greta Thunberg falou na cúpula de Davos sobre o aquecimento global: “Quero que entrem em pânico, quero que sintam o medo que sinto todos os dias“, como uma profetisa de um apocalipse sem revelação divina. Mais recentemente o jornal Liberation, em sua edição de 4 de outubro de 2020, publicou um artigo sobre o perigo dos “tranquilizadores” que erraram ao quebrar o consenso do medo. “Eles me assustam muito“, disse um médico sobre essas pessoas. Era preciso temer quem tranquilizava.

As posições se invertem quando se fala em vacina. O campo do medo então se torna o de “tranquilidade” e vice-versa, de modo que não podemos designar de maneira unívoca um campo do medo. Um medo é correlativo a um outro: uma pessoa que não teme o vírus pode temer medidas governamentais, anátemas jornalísticos, crítica de colegas, discussões acaloradas, denúncias da vizinhança, multa ou mesmo a perda de um trabalho.

O que varia é o que tememos: o objeto de nossos medos é um indicativo de quem somos. Continuar lendo