A COMUNHÃO DOS ADÚLTEROS E A “OUTRA”

O Casamento da Virgem. Giotto, c. 1305 (afresco).

Fonte: Boletim Permanencia

“As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador. Ora, assim como a Igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo.”

(Epístola de S. Paulo aos Efésios, V, 22-28)

Eis a sublime lição que nos dá a Santa Igreja em cada casamento que celebra: a santa união de Cristo com seu Corpo Místico é o modelo da união entre os esposos, que Nosso Senhor elevou à ordem sacramental.

Nos últimos anos, sob o pontificado de Francisco, cresce a perplexidade de muitos fiéis (e até prelados) ante o escândalo da condescendência papal com o adultério. Mesmo em ambientes distantes e às vezes hostis à Tradição, levantam-se vozes estarrecidas com a oficialização, pelas mãos do Papa, de uma praxe há muito consumada em paróquias mais vanguardistas: a comunhão dos divorciados “recasados”. Espantam-se com razão, porque as palavras de Nosso Senhor não deixam margem à dúvida: “Todo aquele que abandonar sua mulher e casar com outra, comete adultério; e quem se casar com a mulher rejeitada, comete adultério também”[1].

Mas se hoje Roma contemporiza com as relações adúlteras, se da Cátedra de Pedro nos vem uma voz estranha, diferente da do Bom Pastor, a chamar de “misericórdia” a crueldade de confirmar o pecado ao invés de corrigi-lo, é porque meio século atrás um outro adultério ainda mais grave se introduziu no templo católico: um concílio ecumênico deu carta de repúdio à Fé de sempre para se unir às ideologias do mundo moderno, na infidelidade conhecida como aggiornamento. Não é à toa que Monsenhor Lefebvre, o fidelíssimo Atanásio do século XX, definiu a obra do Concílio e suas reformas como uma união adúltera entre os homens da Igreja e os princípios da Revolução[2]. E nosso Gustavo Corção, pouco depois, vislumbrou na novilíngua conciliar, no espírito saído do Vaticano II, os trejeitos e gafes que denunciavam a traição à Esposa com a “Outra”[3]. De fato, não há adultério sem a “outra”. Continuar lendo

SÃO GUIDO E AS NOTAS MUSICAIS

Guido d'ArezzoFonte: Boletim Permanencia

Quando ouvimos uma melodia mal nos damos conta que qualquer música é composta por uma combinação de apenas sete notas: Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si.

Porém, nem sempre foi assim.

São Guido d’Arezzo, monge beneditino italiano, nascido na cidade de Talla, entre 991 e 994, cresceu sob os muros do mosteiro em Pomposa, a Magnífica, na costa adriática, próximo a Ferrara.

Desde de tenra idade, São Guido amadureceu em um ambiente de alta cultura. Rodeado de afrescos bizantinos, vasta biblioteca e membro do coro de canto gregoriano. Depois, mudou-se para a cidade de Arezzo.

Apaixonado por música, o monge percebeu a dificuldade dos estudantes para aprender a complexa notação neumática da escala musical, composta de virga ascendente, tractulus descendente, gravis alto descendente, punctum, podactus, clives e outros elementos.

Já adulto, São Guido dedica-se a teoria. Lê e relê as obras dos grandes melômanos da Antiguidade, até que, em 1026, publicou o Micrologus, onde resumia as notas musicais a apenas sete tons distintos.

São Guido desenvolveu um método para ensinar os cantores em pouco tempo, e rapidamente se tornou famoso em todo o norte da Itália.O seu trabalho é tão completo e primoroso que até hoje, quase mil anos depois, não houve quem modificasse a escala musical.

DESCONSTRUINDO O CONSTRUTIVISMO

Fonte: Boletim Permanencia

A matéria saiu na Gazeta do Povo e está aberta ao acesso de não-assinantes. Na verdade, o texto deveria ser repassado de mão em mão até que todos lessem – alguns, as vítimas do construtivismo, com mais dificuldade do que outros.

Segue abaixo uma edição resumida do texto, mas recomendamos a sua leitura integral e da pesquisa que lhe serviu de fundamento.

Alunos aprendem quando o ensino é sistemático, explícito, em que o estudante não orienta o andamento das aulas, mas segue o professor, que é quem comanda o processo de aprendizagem. Isso é o que aponta uma pesquisa publicada na mais conceituada revista acadêmica de Educação do mundo, a Review of Educational Research, primeira no ranking de impacto do Scimago Journal Ranking, indicador internacional utilizado para medir a qualidade de estudos científicos.

A partir de um levantamento feito com resultados de 328 estudos publicados em 50 anos, entre 1966 e 2016, sobre diferentes métodos para ensinar, focando em 4 mil efeitos, quatro pesquisadores da Universidade de Oregon chegaram à conclusão que a “instrução direta”, que parte do princípio que todos os alunos podem aprender, desde que recebam instruções bem planejadas, tem resultados mais robustos comparados com outros métodos.

Os alunos na instrução direta aprendem mais e com rapidez. Além disso, ao longo do tempo, têm mais autoestima e não perdem o que aprenderam, mesmo se submetidos a um método pior.

Segundo a pesquisa, isso é assim porque, pelas evidências científicas, na instrução direta:

  • os alunos dominam conhecimentos básicos que são pré-requisito para conceitos mais complexos – busca-se que o aluno tenha um repertório mínimo para cada etapa antes de avançar;
  • a instrução é clara, não ambígua;
  • ao invés de ter um conceito defeituoso formado por si mesmo, o aluno aprende diretamente (não precisa ‘reinventar a roda’) – dito em outras palavras, o estudo mostra que é mais fácil aprender algo novo do que corrigir um conceito defeituoso, mal aprendido;
  • o aluno está na série correta de acordo com o que sabe, nem à frente, nem atrasado;
  • o aluno recebe um reforço positivo para celebrar seus avanços e, só depois de aprender o básico, é estimulado a produzir ciência (investigar e desenvolver novos conhecimentos).

A matéria avança no detalhamento da pesquisa e suas conclusões e, como já dissemos, é leitura obrigatória para os pais com filhos em idade escolar.

O VALOR DE UMA ORAÇÃO

O gráfico abaixo pretende ter mapeado a oração mundo afora.

Fonte: Boletim Permanencia

O quadro não é animador. A primeira reação de um católico é observar, com tristeza e ironia, que se reza mais aos demônios do que a Deus. Quantitativamente, ao menos. A favor dos católicos, pode-se argumentar que a oração entre nós é voluntária e privada. Não se trata, portanto, de uma obrigação social que não se pode recusar sob o risco de graves sanções. Compensa-se em qualidade o que se perde em quantidade e histrionismo.

Nesse caso, podemos perguntar: quanto vale uma verdadeira oração ao único Deus verdadeiro, feita em silêncio e recolhimento, às vezes sob o risco da própria vida, como entre chineses, islâmicos ou norte-coreanos?

Sozinhos, na escuridão dos seus quartos, provavelmente sem sequer um terço que os guie ou uma simples velinha acesa – porque é com medo que rezam – são como Jesus no Jardim das Oliveiras. Quanto vale essa oração?

Ou quanto vale a oração dos que enfrentam o escárnio e indiferença de um mundo paganizado ou desafiam a própria Igreja para rezar as orações de sempre: a Missa verdadeiramente católica (que é sacrifício e não banquete), o Rosário com seus três terços (e não quatro), o Pai Nosso que perdoa dívidas (e não ofensas)?

Há uma pequena oração, não mais que umas poucas palavras recitadas em alguns segundos, que Jesus em pessoa transmitiu a Santa Gertrudes e que, se rezada com fé, valeria a cada vez, a liberação antecipada de mil almas do Purgatório.

Eis uma medida bem humana da misericórdia infinita de Deus: umas poucas palavras recitadas com fervor por um relés pecador e mil almas serão resgatadas para a Glória. Eis o quanto vale uma verdadeira oração.

Eterno Pai,
ofereço-Vos o Preciosíssimo Sangue de Vosso Divino Filho Jesus,
em comunhão com todas as Missas rezadas hoje em todo o mundo;
por todas as santas almas do purgatório,
pelos pecadores de todos os lugares,
pelos pecadores de toda a Igreja,
pelos de minha casa e de meus vizinhos.
Amém.

O AMOR DO PAPA À TRADIÇÃO

Fonte: Boletim Permanencia

Mais um pouco e só restará às irmandades Ecclesia Dei virar tribos amazônicas para sobreviver. O Papa Francisco está liquidando com elas. Depois dos Franciscanos e Franciscanos da Imaculada, e das Pequenas Irmãs de Maria do Redentor da Diocese de Laval, Roma decidiu agora exterminar com a Fraternidade Sacerdotal Familia Christi.

Fundada em 4 de junho de 2014 pelo Arcebispo de Ferrara, Dom Luigi Negri, e elevada à condição de sociedade de vida clerical apostólica, em 8 de setembro de 2016, ela foi a primeira comunidade Ecclesia Dei da Itália.

Monsenhor Negri confiou à irmandade a paróquia de Santa Maria de Vado, no centro histórico de Ferrara, igreja construída no final do século XV no local de uma capela do século X, palco de um milagre eucarístico, em 28 de março de 1171.

Mas, logo em seguida, em fevereiro de 2017, o Papa decidiu substituir Monsenhor Negri, sob o pretexto de que chegara aos 75 anos. O intuito era, entre outras coisas, dar início ao processo de demolição da Irmandade Familia Christi, que se tornara o refúgio de muitos noviços dos Franciscanos da Imaculada, e era, naquele momento, o alvo da perseguição romana.

 Em dezembro de 2018, o superior da Fraternidade foi demitido e um comissário foi nomeado para liderar a Fraternidade e decidir o seu futuro: Dom Daniele Liboni, um jesuíta nomeado Bispo Auxiliar de Roma por Francisco em dezembro de 2017.

O comissário começou proibindo a celebração da missa tradicional em público e confinou os irmãos em um monastério isolado. Finalmente, em 30 de junho de 2019, Dom Liboni proferiu seu veredicto: todos os postulantes e noviços serão obrigados a deixar a Fraternidade, que não pode mais receber.

É essa a sorte das congregações que tentam se equilibrar entre um escrupuloso legalismo e a necessária defesa da Tradição, entre a Igreja de sempre e a subserviência a um Concílio que só mal tem feito à Igreja.

A TIBIEZA

Pe. Michel André

“Ninguém pode servir a dois senhores: odiará a um e amará ao outro;
ou se apegará a um e desprezará o outro”. (Mt 6, 24).

A exemplo de alguns Padres da Igreja, pode-se ver em Mamon, o falso deus sobre que fala Nosso Senhor, não apenas o dinheiro, mas também outros apegos terrestres, materiais, que entravam o progresso espiritual.

Quero-vos falar da tibieza, doença da alma muito comum – ela contagia a metade ou bem três quartos dos cristãos que estão em estado de graça; e isso é realmente terrível, já que é preciso crer nas palavras da Escritura: “Deus vomita os mornos de sua boca”, i. é, ele os expulsa para longe de si, e por conseqüência, essas almas estão em grande perigo de cair no inferno eterno, caso não mudem de vida.

Ora, a tibieza, que afeta tanto os clérigos – i. é, os padres e os bispos – quanto os laicos, se encontra em três tipo de pessoas:

  1. Em primeiro lugar, as que saíram duma má vida, em estado de pecado mortal, para retornar a uma vida normal, em estado de  graça. Mas então, satisfeitas consigo mesmas, cessam os esforços e não querem mais se elevar…
  2. Há aquelas que, depois de atingirem uma vida fervorosa, amiúde bem jovens, esfriam para uma vida de tibieza, de mediocridade. Deus vela para que não despenhem para muito baixo! É o caso de inúmeros religiosos, se se levar em conta as palavras da Imitação, e a experiência cotidiana!
  3. Finalmente, há o caso dos cristãos que naturalmente são felizes: eles nunca buscaram se tornar melhores. Deve-se pois sacudir-lhes a indolência, o torpor – eles dormem!; mais das vezes, só de uma coisa precisam: um bom diretor espiritual, que lhes apontará os caminhos da vida perfeita.

Mas em que consiste esta terrível doença espiritual, ignorada por tantos cristãos, e contudo tão difundida? Quais são os sintomas, entre os “bons” cristãos? (Contine a ler)

Pode-se distinguir pelo menos dois: Continuar lendo

AMAZONIS LAETITIA

Quando os bispos professavam a fé católica e os índios brasileiros manisfestavam seus ritos e expressões culturais. Será isso a “conversão ecológica” proposta por Francisco?

Fonte: Boletim Permanencia

O “Instrumentum Laboris”(‘Rancoris’ seria o termo apropriado) do próximo Sínodo Pan-amazônico publicado este mês pelo Vaticano é mais uma prova da apostasia epidêmica do clero oficial.

A propalada preocupação com o ‘povo de Deus’ que habita a selva amazônica, não esconde o desprezo pela fé e doutrina católicas por seus entusiasmados promotores.

Não perderemos tempo aqui demonstrando todos os erros e abusos presentes no documento. Quantos sites não já o fizeram? Não nos iludimos tampouco com a pretensa diferença entre Francisco e os outros papas desde João XXIII. Diferença de grau, não de espécie: modernistas tout court.

Mas queremos sucintamente salientar dois pontos. Tão somente dois.

Primeiro: o ataque frontal ao sacerdócio.

A irreverência com que propõem admitir o que chamam de viri probati ao sacramento da ordem demonstra uma estratégia de muito conhecida dos estudiosos. Trata-se de admitir uma exceção aplicável a um lugar específico, em uma época específica, e, depois, criar, a partir da exceção, uma casuística e uma jurisprudência que a tornem replicável em outras (quando não, em quaisquer) circunstâncias, locais e épocas.

Tal ignomínia é similar à proposta de admissão à comunhão de divorciados ‘recasados’ pela exortação Amoris Laetitia. Nada mais infame. Primeiro quebraram o vínculo matrimonial depois o celibato clerical, tudo em nome de Laetitia – a “alegria”. Há que se perguntar: de quem? Continuar lendo

O DEVER DOS POBRES DE ABORTAR

Nathalie Lieven, a juíza responsável por essa decisão hedionda

Fonte: Boletim Permanencia

A juíza inglesa Nathalie Lieven autorizou, no dia 21 de junho, a realização por médicos do sistema público de um aborto forçado numa moça grávida de 22 semanas, sob o pretexto de que ela é deficiente mental e sofre de transtornos de humor. A autorização foi dada a despeito da discordância da moça e de sua mãe, que se prontificou a assumir a criança. Mãe e filha são nigerianas e católicas.

O episódio, no entanto, gerou uma tamanha onda de protestos – não só entre católicos, mas também em grupos pró-vida – que três outros juízes felizmente derrubaram a decisão na segunda-feira, no dia 24 de junho.

Na sentença, a juíza afirmara estar consciente da “imensa intrusão” que sua decisão significava, mas dizia acreditar que agia “em defesa dos interesses” da moça, cujo nome e idade não foram revelados, mas que teria “pouco mais de 20 anos” e a idade mental de uma criança de nove anos.

O aborto como direito revela sua verdadeira face: quando se trata de pobres ou deficientes, fazem dele um dever.

Na sua loucura, os médicos e a juíza garantiram que o aborto seria “menos traumático” (sic) do que a presumida separação da criança, decorrente da falta de condições materiais da família para criá-la. Segundo a juíza, a avó não teria meios de cuidar satisfatoriamente da filha e do neto, e acabaria tendo de entregá-lo a um orfanato para adoção. A assistente social que acompanhava a família também foi contra o aborto.

Aos poucos, o verdadeiro sentido do aborto institucionalizado vai mostrando o seu verdadeiro sentido: o controle da natalidade dos pobres.

A DISNEY A FAVOR DO ABORTO

Fonte: Boletim Permanencia

A Disney se tornou um império bilionário humanizando animais. Agora, coloca esses animais humanizados a serviço da desumanização dos homens: tornou-se a favor do aborto.

Na pessoa do presidente da companhia, Bob Iger, a Disney ameaçou encerrar suas atividades no estado da Georgia, nos EUA, se a lei estadual antiaborto recentemente aprovada entrar mesmo em vigor em abril do ano que vem. Antes dela, a Netflix já anunciara decisão semelhante.

A Georgia é considerada a Hollywood do Sul, porque oferece incentivos fiscais para a industria cinematográfica filmar em seu território.

No dia 7 de maio, o governador do estado, o republicando Brian Kemp, assinou a lei proibindo qualquer tipo de aborto quando o coração do bebê já puder ser detectado da barriga da mãe.

Vários atores e atrizes já haviam se declarado contra a lei e a favor do aborto, mas Netflix e Disney foram as primeiras empresas a se manifestar publicamente. Por ora, tudo segue no terreno da ameaça e é de supor que os respectivos departamentos financeiros estejam estudando o que será melhor para os negócios: abrir mão dos incentivos ou aderir ao boicote.

O fato é que Disney e Netflix decidiram apoiar os abortistas. Na Georgia? Não, obviamente, não. Nos EUA e no mundo.

O que podem os católicos esperar das próximas levas de filmes produzidos pela gigante do streaming e dos filmes para crianças (para as crianças que sobreviverem, bem entendido) da Disney?

OBS: Remetemos o leitor a outro post deste ano em que tratamos da pauta politicamente correta desta companhia.

OU UMA COISA, OU OUTRA

A coisa é simples: não é possível ser católico e acreditar na tal Unidade Transcendente de todas as religiões. Ponto final.

A Torre de Babel, Pieter Bruegel

Fonte: Boletim Permanencia

Essa ideia, da qual a Torre de Babel é uma alegoria exemplar, é o fundamento do perenialismo, cuja versão cabocla ronda nossas igrejas e capelas. Supõe que todas as religiões – o catolicismo inclusive – têm uma origem comum: seriam como que traduções mais ou menos imperfeitas de uma mesma realidade.

Colocam-se assim no mesmo saco o erro e a verdade, como se fosse indiferente abraçar a Religião revelada por Deus ou algum delírio excogitado pelos homens. Será preciso recordar aqui os rudimentos mesmos do Catecismo?

P: Que nos proíbe o primeiro Mandamento?
R: O primeiro Mandamento proíbe-nos a idolatria, a superstição, o sacrilégio, a heresia, e todo e qualquer outro pecado contra a religião. (Catecismo de S. Pio X)

Não é preciso pensar muito para ver que o perenialismo faz pouco do sangue dos mártires e da constância dos religiosos, tem como inúteis as missões e o apostolado, desdenha do Sacrifício da Cruz.

Não é tudo. Dentro da louca perspectiva deles, o Catolicismo, longe de ser a Verdade Revelada pelo Deus Vivo, seria necessariamente a mais equivocada e estúpida de todas as religiões por sua pretensão à exclusividade, por declarar Extra Ecclesiam nulla salus est (fora da Igreja não há salvação). Jesus, ao dizer “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, só poderia ter se enganado.

P: Somos obrigados a acreditar em todas as verdades que a Igreja ensina?
R: Sim, somos obrigados a acreditar em todas as verdades que a Igreja nos ensina, e Jesus Cristo declarou que quem não crê, já está condenado.

Se a tese da unidade transcende de todas as religiões é vitoriosa, só pode ser no sentido de ter granjeado para si o respeito e a admiração de uma quantidade de mentes débeis, de todo ignorantes da doutrina católica.

O que é pior, no Brasil, essa baboseira exotérica (sim, com “x” mesmo), após as inevitáveis adaptações, produziu um falso catolicismo meio-conservador meio-ecumênico que, como se disse acima, hoje toma de assalto muitas igrejas e capelas, com o beneplácito, diga-se, de alguns sacerdotes.

Como um pouco de catecismo lhes faria bem!

P: Que é a heresia? 
R: A heresia é um erro culpável de inteligência, pelo qual se nega com pertinácia alguma verdade de fé. 

Formam, enfim, no máximo, mais uma seita, cuja característica mais original é ser daquelas a que se pode acrescentar o apodo “dos Últimos Dias”, mas não porque aguardem o apocalipse para breve, mas porque — por não se estribarem na doutrina revelada — suas opiniões e análises mudam ao sabor dos ventos da conveniência, de tal modo que o que foi dito nos “últimos dias” sempre difere do que fora dito nos “últimos dias” anteriores. Aqui, no entanto, não se encontrará unidade transcendente ou imanente para as suas opiniões.

O SEGREDO DO CONFESSIONÁRIO

São João Nepomuceno lançado da ponte Carlos, em Praga.

Fonte: Boletim Permanencia

Entre as muitas perversidades do mundo contemporâneo, vemos renascer o ânimo contra o sigilo do sacramento da confissão. Na Austrália, alguns estados já aprovaram lei obrigando o padre a revelar às autoridades certos crimes que lhe forem confessados. Nos Estados Unidos, um projeto de lei do mesmo teor será avaliado em breve pelo senado na ultra-liberal California, e os padres infratores poderão até mesmo ser presos.

Tudo isso é inaceitável para toda alma verdadeiramente católica. O sigilo da confissão é inviolável por instituição divina. “O sacramento necessariamente exige que o confessor oculte os pecados”, ensinava Santo Tomás, e o direito canônico de 1917 determina: “O sigilo da confissão é inviolável” (Cânone 889).

É esse o ensinamento constante da Igreja, e não são poucos os mártires do sigilo do confessionário. São João Nepomuceno, por exemplo, foi torturado e afogado por ordem de Venceslau IV, rei da Boêmia, por recusar-se a contar-lhe os pecados que a rainha lhe revelara em confissão. Mais próximo de nós, no México, em plena guerra Cristera, houve um sacerdote assassinado por se recusar a dizer aos agentes do governo o que ouvira no confessionário.

Mas o mundo moderno liberal, com seu dogma da soberania popular, “não reconhece nenhum limite que lhe seja exterior, nenhum valor que lhe seja superior, nenhum outro direito que possa resistir-lhe”, estando preparadas as bases para o Estado totalitário. Se os governantes se julgam em condições de desprezar o direito natural — como fazem na questão do aborto — como imaginar que respeitarão as leis da Igreja?

O Liberalismo é nosso inimigo e, sim, a guerra é espiritual.

 

ENTRE MANIFESTAÇÕES E CONSAGRAÇÕES

Fonte: Boletim Permanencia

A semana foi agitada pelo chamado às ruas dos apoiadores de Jair Bolsonaro e pelo anúncio de que o bispo Dom Fernando Rifan levou ao Presidente um texto de Consagração do Brasil ao Imaculado Coração de Maria, o que será feito hoje. Como não é de espantar, muitos católicos se perguntam como deveriam se posicionar em relação a esses dois eventos.

Em relação às ruas, às manifestações, já deixei claro como nos posicionamos, mas é sempre bom lembrar. Os católicos não devem se juntar em manifestações com outros grupos, com outras religiões, com instituições contrárias à fé católica, ou que reduzem as questões aos chamados denominadores comuns, de modo a deixar de lado os princípios católicos que deveriam sempre nortear o pensamento nesses pontos. Isso é um ensinamento constante dos papas anteriores ao Concílio Vaticano II, e aparece de modo muito forte na encíclica Mortalium Animos, de Pio XI, de 1938.

Por outro lado, isso não significa que um pai, vendo que uma manifestação movida por intenções retas acontece perto de sua casa, não possa descer à rua com sua família, de modo privado e discreto. Saibamos agir prudencialmente, e respeitar essa proibição da Igreja com inteligência e bom senso. A vida privada é algo prático, que depende do juízo prudencial de cada um.

Mas que fique claro que isso só pode ser feito de modo privado, o que exclui agrupamentos católicos, combinações de grupos de whatsapp e coisas do gênero.

Em relação à consagração do país a Nossa Senhora, vamos tentar analisar essa questão pensando nas pessoas envolvidas no caso.

Em primeiro lugar, o aparecimento de Dom Fernando Rifan no contexto da política nacional. A figura não nos traz confiança, tendo sido um traidor de sua formação junto a Dom Antônio de Castro Mayer, a quem renegou por um anel de ametista e uma mitra. Os interesses desse bispo passam sempre na frente de suas convicções, e estas vão mudando de acordo com as exigências dos inimigos da Igreja, a quem hoje ele serve. Isso a ponto de exigir de seus padres e seminaristas que aprendam e celebrem a missa nova, tão claramente condenada pelo grande confessor da fé que foi Dom Antônio.

O segundo personagem a entrar em cena é o presidente da República, que não esconde seu envolvimento com a seita protestante. Agora mesmo ele acaba de criar novos vínculos com os hereges. A própria manifestação do dia 26 está virando um evento “evangélico”. Podemos muito bem assistir ao presidente fazendo a consagração, e no dia seguinte, estar num culto protestante, para agradar a sua esposa, ou para conseguir algum proveito político. Eu gostaria muito que o católico Jair Bolsonaro compreendesse o seu papel de chefe de uma nação católica, mas não é o que percebemos em suas ações.

A terceira personagem a entrar em cena é a Virgem Maria. E devemos nos perguntar se Nossa Senhora gostaria de estar metida num movimento ecumênico, ou na duplicidade de seu papel de intercessora junto a seu Filho, para salvar o Brasil do caos. Sim, claro, vamos pedir a ela hoje, e amanhã vamos ser cúmplices dos que renegam a santidade da Mãe de Deus ou a desprezam publicamente.

Em quarto lugar, há a Pátria brasileira, que sofre pela incapacidade do governo Bolsonaro de canalizar as forças ainda sadias do país, permitindo que as brigas intestinas entre aqueles que deveriam se apoiar mutuamente, levem o país ao desastre. É claro que, para o Brasil, uma consagração a Nossa Senhora, ao seu Imaculado Coração, seria de grande importância. Porém, o que aparece nessa análise é que estamos diante de uma consagração mais política do que religiosa. Nesse caso, preferimos que não aconteça, e que esses senhores deixem em paz a Virgem Maria.

Nossas orações, nossas missas, nossos sacrifícios, valem muito mais do que essa farsa que estão montando no Brasil.

DEVERES DOS PAIS PARA COM OS FILHOS

Estimada senhora, na carta anterior eu lhe dizia que há aproximadamente dois séculos o homem mudou a ordem desejada por Deus e, com isso, por sua desobediência, propagou erros e maus costumes em toda a sociedade, nas famílias e na educação dos filhos. Tentarei mostrar essa desordem para ajudá-la em sua vocação de educadora de seu filho – vocação que, sem dúvida, se tornou muito difícil em nossos dias. A senhora percebe que em todas as partes só se fala dos direitos da criança, a tal ponto que se poderia pensar que os pais não têm mais nada a dizer. A criança sabe disso e aproveita a situação para satisfazer seus caprichos e não obedecer mais, sob pena de se rebelar na época da adolescência. Mas será que o ensinaram verdadeiramente a obedecer? Desde pequeno? Em verdade, nesse momento da adolescência, alguns pais se encontram desprovidos de meios e não sabem mais o que fazer.

O QUE NOS ENSINA O CATECISMO SOBRE ISSO?

Em primeiro lugar, os três primeiros mandamentos nos ensinam nossos deveres para com Deus, que é nosso Criador e Senhor de todas as coisas; esses deveres são:

– A adoração que se deve só a Deus, Uno e Trino (honrar o próprio Deus);

– O respeito para com o santo Nome de Deus (honrar o seu santo Nome);

– A santificação do Dia do Senhor (honrar o seu santo Dia).

O nome de Deus está inscrito nesses três mandamentos.

Depois vêm os outros sete mandamentos, que nos ensinam nossos deveres para com o próximo e, portanto, nossas relações com ele. O objeto do quarto mandamento concerne a todos nós e nos dita nossos deveres para com o próximo: nossos pais, nossos superiores, nossos educadores; mas, antes de tudo, nossos pais.

“HONRARÁS TEU PAI E TUA MÃE”

O Livro do Êxodo (cap. 20, v. 12) diz: “Honra teu pai e tua mãe, para que vivas longo tempo na terra que o Senhor, teu Deus, te dá”. Esse mandamento está formulado em alguns catecismos deste modo: “honrarás pai e mãe, para que vivas longo tempo”. Dito de outro modo, quem observa esse mandamento recebe as bênçãos de Deus, inclusive sobre a terra.

Esse mandamento tem como objeto principal os deveres da criança para com seus pais; mas compreende também os deveres dos pais para com seu filho, assim como os deveres recíprocos dos patrões e dos empregados, dos maridos e das esposas.

Gostaria, em primeiro lugar, de falar dos deveres dos pais de família. Isso ajudará a senhora a ter o trato adequado com seu filho, para ajuda-lo, por sua vez, a cumprir bem o quarto mandamento. É bom que a criança saiba que também a senhora tem deveres para com ela. De fato, se a criança está inteirada da obrigação que seus pais têm perante Deus de trata-la da forma que a seguir estudaremos, ela mesma dará mais importância aos conselhos e reprovações dos pais.

Quais são os deveres dos pais para com seus filhos? Voltemos o olhar para a Sagrada Família, mais especialmente no mistério de Jesus encontrado no Templo pela Santíssima Virgem e por São José.

O primeiro dever é alimentá-lo. Por alimento, devemos entender todo o necessário para viver: alimentos, roupas, moradia. Desse modo, o pai de família deve trabalhar para atender às necessidades de sua família. Neste aspecto, cumpre ensinar à criança o dever da gratidão.

O segundo dever é instruí-lo. Há duas instruções: a comum, recebida na escola, e a religiosa, proporcionada com o catecismo. Jesus alude à segunda quando responde à Sua Mãe quando ela o encontra no Templo: “não devo me ocupar das coisas de meu Pai?”.

A primeira instrução oferece à criança algumas “receitas” para a vida presente. Tem verdadeira importância e não se deve descuidar dela, porque ao filho instruído será mais fácil ganhar a vida. Mas a segunda instrução proporciona ao filho os meios para alcançar mais tarde a felicidade eterna. Essa última instrução, portanto, oferece ao filho o máximo bem, e é a mais necessária, já que dela depende sua eternidade, ditosa ou infeliz. Os pais que se descuidam dela são gravemente culpáveis (daí a importância da escolha de uma escola verdadeiramente católica).

O terceiro dever é educá-lo. Quer dizer, corrigi-lo e incentivá-lo, uma vez que a criança tem defeitos – inimigos de sua alma – assim como qualidades e talentos que devemos fazer frutificar. Esse não foi o caso da Santíssima Virgem e de São José, pois eles não tiveram jamais de corrigir o Menino Jesus. Ele só tinha virtudes. Mas Ele e Nossa Senhora foram as únicas crianças desse gênero; assim, o dever de todo pai é ter em conta aqueles dois elementos com vistas à educação da criança. O que diz a Santa Escritura a respeito? “Não poupes nada na correção do filho”. E em outra parte: “Um cavalo sem domar se torna insuportável, e a criança abandonada à sua vontade se torna insolente”.

Essas palavras se aplicam muito bem à criança malcriada. E creio que muitos pais criam mal seu filho descuidando-se desse terceiro dever. Não basta corrigi-lo; é preciso corrigi-lo bem, quer dizer, adequar o castigo à falta. Muito frequentemente tenho visto pais castigarem de maneira inconsiderada; a senhora pode ter certeza de que nesse caso o castigo não produzirá bons frutos, mas más consequências. Normalmente o castigo tem como primeira finalidade a correção e, portanto, deve ser proporcional à falta. Se Deus quiser, falarei mais longamente sobre este ponto em outra carta.

São Pedro Damião dizia: “Aquele que não repreende seus filhos quando roubam ovos, há de vê-los logo roubando cavalos. Quem no começo era só um ladrãozinho se tornará com o tempo um grande ladrão”.

Um provérbio diz: “Quem ama castiga”. Em geral, quando se leva a criança a reconhecer sua falta e a arrepender-se (a meu ver, isso é o mais importante), ela aceitará o castigo, pois as crianças têm um grande senso de justiça (a menos que já tenham sido deformadas nesse aspecto).

O quarto dever é dar bom exemplo. Tal pai, tal filho. Tal mãe, tal filha. A atitude dos pais é o livro com o qual os filhos se instruem. Um provérbio diz, com razão, que se aprende mais com os olhos do que com os ouvidos. O bom exemplo dos pais é o melhor catecismo do filho. Não basta que os pais evitem o mal; é necessário que façam o bem, que rezem a Deus de manhã e de noite, que assistam à Missa no domingo, que recebam regularmente os Sacramentos e que cumpram todos os deveres cristãos.

Uma última observação: pelo amor de Deus que reina na alma de seu filho batizado, agora que se aproximam as férias de verão, não se esqueça, querida senhora, de aproveitar a oportunidade para lhe ensinar o pudor, o respeito ao seu próprio corpo, portador da presença divina em sua alma. Ensine-lhe a vestir-se corretamente, como Jesus se vestiria. E para isso faça com que a própria roupa da senhora não contradiga as suas palavras. A criança tem um espírito lógico. Vê muito bem o exemplo que a senhora lhe oferece. Se a senhora tiver a coragem de dar-lhe o bom exemplo, ela mesma respeitará e porá em prática suas palavras.

Que Nossa Senhora seja sempre sua guia e modelo, especialmente durante as férias em família.

Irmãs da Fraternidade São Pio X

Fonte: Permanencia

O RESPEITO DEVIDO ÀS AUTORIDADES

“A autoridade é a grande aliada da liberdade”

Fonte: Boletim Permanencia

O propósito deste texto é tratar da pergunta seguinte: Qual o dever do católico diante das autoridades civis?

Santo Tomás de Aquino ensinava que “governar é dirigir para o fim devido”, e que os que governam têm de certo modo excelência superior a dos governados (S.T. IIa IIae, q. 102, a. 2). Leão XIII, em Immortale Dei, vai além, e afirma que “A autoridade dos príncipes reveste uma espécie de caráter mais sagrado do que humano”.

Tudo isso parecerá chocante à mentalidade moderna, segundo a qual a liberdade é o bem supremo e a autoridade não passa de um mal necessário — hay gobierno? Soy contra. Essa idéia que nos torna por princípio avessos a todo governo, e faz parecer que a única atitude sensata é a do antagonismo, é diametralmente oposta ao ensinamento da Igreja.

Pe. Jean-Dominique ensina que foi no iluminismo que surgiu a idéia de contrapor liberdade e autoridade, governado e governante. Montesquieu seria o principal responsável por essa reviravolta. Nas suas “Cartas Persas”, narra a história de um povo que um dia resolveu escolher um rei para governar e, para tanto, elegeu o mais virtuoso dos homens. O novo rei, no entanto, protesta que morrerá de desgosto, pois antes o povo era livre, e agora submisso.

Pura bobagem, a autoridade é tudo menos inimiga da liberdade. Ensina Mons. de Ségur que a autoridade é o poder “delegado por Deus a alguns homens para proteger, ajudar e estimular a liberdade dos outros”. Por isso mesmo, conclui, não é menos digna de estima do que a liberdade. Continuar lendo

O CATOLICISMO NÃO É “JUDAICO-CRISTÃO”

Fonte: Boletim Permanencia

Este texto é o resumo de um longo artigo do historiador argentino Rúben Calderón Bouchet (1918-2012).

Tornou-se moda entre os cristãos referir-se à nossa religião com a denominação de judaico-cristã. A Igreja, na medida em que rompeu sua conexão original com a Sinagoga, adaptou seu magistério às exigências da civilização greco-latina e se separou de tudo aquilo que, na tradição israelita, pudesse ter de hebraico. A atitude de Pedro e de Paulo ao tomar Roma como centro do seu apostolado foi, desde o começo, favorável a um entendimento profundo com as expressões mais notáveis da civilização helênico-romana.

Política, arte, ciência, economia e língua vinham agora do mundo gentio greco-latino. De Israel se conservava a Escritura e, com ela, o conteúdo da tradição revelada, mas examinado à luz dos princípios impostos pelo mistério do Verbo Encarnado. O encontro de gregos e cristãos foi decisivo para o futuro de uma assembleia religiosa cuja catolicidade dependia dessa união.

Ninguém pode negar que o povo de Israel, como qualquer outro, teve usos e costumes que dependiam naturalmente de seu temperamento, de suas virtudes, de seus vícios, das vicissitudes da sua história, de sua ignorância e de seus conhecimentos. Separar isso dos conteúdos revelados tem sido a tarefa do Magistério da Igreja.

O Símbolo de Niceia é uma condensação particularmente feliz desse discernimento e prepara, no início do século IV, a formulação de uma Teologia Dogmática que pouco terá que adicionar a seu conteúdo essencial, no transcurso dos séculos. Continuar lendo

A TENTAÇÃO DOS SANTOS

Fonte: Boletim Permanencia

O texto a seguir foi extraído do artigo Padre Pio, Vaticano e Novus Ordo Missae, publicado no último número da Revista Permanência. É consolador (ainda que não seja novidade) ouvir dos santos que também eles padecem de tentações. De tentações proporcionais à sua santidade, seja em duração, seja em intensidade. Nossa comunhão com eles também se manifesta aqui – e sobretudo aqui – nesse terreno tão terrível e movediço.

Parece que Deus espera que os justos expiem de modo especial, por meio da tentação, os pecados públicos dos seus contemporâneos. Num tempo em que a psicanálise, com sua aptidão para oferecer desculpas para o pecado, ganhava terreno, Padre Pio – como Teresinha – teve de passar por uma crise quase intolerável de escrúpulos, que o atormentou por três longos anos. Então, depois da tempestade veio a noite, a noite da alma que perdurou dezenas de anos, com lampejos ocasionais de luz:

Vivo numa noite perpétua… Vejo dificuldades em tudo e não sei se ajo bem ou mal. Vejo que não se trata de escrúpulos: a dúvida que sinto quanto a estar ou não agradando ao Senhor me esmaga. Essa ansiedade me persegue em todos os lugares: no altar, no confessionário, em todo canto!

É com o pensamento nas suas experiências místicas que devemos interpretar suas máximas: “O amor é mais belo na companhia do medo, porque assim se torna mais forte. Quanto mais se ama a Deus, menos medo se sente!”

Santa Teresinha do Menino Jesus opôs o caminho da infância espiritual ao racionalismo orgulhoso de seu tempo, mas também sofreu tentações terríveis contra a fé. Seu brado, “Eu acreditarei!”, é bem conhecido. Padre Pio também padeceu violentas e prolongadas tentações contra a fé, como testemunham suas cartas ao Fr. Agostino:

“Blasfêmias cruzam a minha mente incessantemente, e mais ainda idéias falsas, idéias de infidelidade e descrença. Sinto minha alma transfixada a cada segundo da minha vida, isto me mata… Minha fé só se mantém pelo esforço constante da minha vontade contra todo tipo de sedução humana. Minha fé é fruto dos esforços contínuos que me imponho. E tudo isto, Padre, não é coisa que aconteça uma ou duas vezes ao dia, mas é contínuo… Padre, como é difícil crer!”

Que lição preciosa para nós, caso nos vejamos, por exemplo, surpreendidos em tentações de tão alto grau.

A ATUAL PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA NO MUNDO ISLÂMICO

Nota da Permanência:

Siri Lanka, 21 de abril de 2019. Um grupo de muçulmanos se lançou contra três igrejas deixando um saldo de mais de 200 mortos.

Não se tratou de um caso isolado, no entanto, e sim de apenas um capítulo a mais na longuíssima lista dos crimes do islamismo.

Todos se lembram do massacre do Bataclan ou do assassinato do Padre Hamel, na França; ou ainda, dos atentados do Domingo de Ramos de 2017, no Egito, que deixaram 47 mortos, ou dos ataques em Barcelona no mesmo ano, deixando muitos mortos e mais de cem feridos. Os atentados de 11 de setembro permanecem nas memórias de todos.

No entanto, é pouco conhecida a real extensão da perseguição religiosa atual no mundo islâmico. Afeganistão, Iraque, Egito, Nigéria e Paquistão são alguns dos países em que ela se mostra sistemática, geral e sangrenta. É criminosa a omissão da imprensa em noticiar esses fatos.

O mérito do texto que apresentamos em seguida, tirado do artigo Muslim Persecution of Christians, é precisamente o de revelar a extensão dos horrores que ocorrem nas terras de Alah.

Advertimos o leitor, contudo, contra o uso do termo “cristãos” – adotado pelo autor para designar comumente católicos, protestantes e ortodoxos. Se aos olhos dos algozes islâmicos não há diferença entre eles, tal como a água e o azeite, não se misturam a Verdade e o erro.  

Atual perseguição religiosa no mundo islâmico  

Robert Spencer

A imagem popular das Cruzadas apresenta os guerreiros ocidentais aterrorizando os infiéis, convertendo-os à força, expulsando-os de suas terras e impondo-lhes governos cristãos. Muitos acreditam que elas ainda existem e não são meras ruínas da História. Para evitar as acusações de estar seguindo seus “passos negros”, o presidente George W. Bush retirou tal palavra do seu vocabulário, logo que os europeus o repreenderam por referir-se a uma “cruzada americana contra o terrorismo”. De fato, as Cruzadas foram uma tentativa de resgatar as terras cristãs que o Islã conquistou, mas hoje o que se vê é a ocultação do poderio islâmico ressurgente – uma realidade temível – pela doutrina do “politicamente correto”. Não existem cruzadas cristãs em curso, mas apenas uma irresoluta e inconsistente campanha contra o terrorismo; a única ofensiva religiosa atual é a perseguição implacável e brutal de cristãos em territórios islâmicos, como não se via desde os tempos do Império Otomano. 

A partir da fatwa infame de Osama Bin Laden contra “judeus e cruzados” decretada em 1998, os jihadistas declararam guerra ao Ocidente, justificando seus ataques como campanhas de defesa a uma suposta guerra santa cristã. Em janeiro de 2011, o jornalista de esquerda Seymour Hersh repetiu essa teoria no Qatar, e afirmou que o general aposentado Stanley McChrystal, junto com militares que estavam de serviço nas unidades de operações especiais, integrava uma conspiração cujo objetivo era promover uma cruzada contra os muçulmanos: “Eles sabem muito bem o que estão fazendo, essa não é uma atitude incomum entre os militares; sem dúvida, trata-se de uma cruzada. Eles se consideram os defensores dos cristãos e, como no século XIII, protegem-nos dos muçulmanos. É a tarefa deles” 1 Continuar lendo

A VINGANÇA DOS COVARDES

Valle de los caídos, Espanha

Fonte: Boletim Permanencia

No pequeno cemitério do Vimieiro, aldeia do centro de Portugal, uma simples lápide de pedra com uma cruz encima e “AOS 1970” gravado em um dos lados, indica a última morada do homem providencial que governou o país entre 1932 e 1968: António de Oliveira Salazar. A poucos metros dali encontra-se a pequena igreja do seu baptismo e, mais acima, a modesta casa que o viu nascer.

O despojamento da sepultura, a simplicidade do povoado, a humildade do lar natal, contrastam com a dimensão extraordinária alcançada pelo homem e pela obra de restauração nacional que realizou em sua pátria.

Três atributos são – ou deveriam ser – fundamentais em um governante: inteligência, integridade e dedicação. Se não é tarefa fácil identificar uma dessas qualidades em um homem público, mais difícil é encontrar duas, e improvável encontrar as três simultaneamente. Para o bem de Portugal e dos portugueses, a Salazar foi concedida – e amplamente – a graça de possuir aquela tríade de ouro do verdadeiro condutor da Polis. Não apenas inteligência, mas uma inteligência superior; não só integridade, mas uma integridade – pese a redundância – absoluta; não apenas dedicação, mas uma dedicação total da sua pessoa a Portugal.

E nele, essas três características essenciais não estavam “soltas” a flutuar no espaço, mas solidamente ancoradas em um profundo amor a Deus e à pátria. Só então pode entender-se o núcleo do seu pensamento político, no qual a nação é o valor supremo na ordem temporal e o Estado “o ministro de Deus para o bem comum” – conceitos naturalmente incompreensíveis para a mentalidade materialista, hedonista e mundialista dos nossos dias. Continuar lendo

UMA LUVA PARA TODAS AS ALMAS

A Torre de Babel, Pieter Brueghel

Fonte: Boletim Permanencia

“Há o orgulho, esse vício capital que mais do que tudo pesa no mundo do homem. Vício geral, vício universal, apego do eu, desregrada estima de sua própria excelência, erro interior, falsa avaliação do próprio ser, afronta a Deus único e perfeito.

Se nós escrevemos num papel amassado “orgulhoso” e o soltássemos dum oitavo andar da Avenida Rio Branco, ele cairia certo, em cima de rico ou de pobre, de sábio ou de néscio. Certíssimo. Luva para qualquer alma. Adjetivo para qualquer humano substantivo.

O orgulho é o primeiro e último vício, o mais persistente, o mais difundido. Não há idade que lhe resista; não há condição social que dele se defenda. A concupiscência tem momentos de pacificação. Arde em desejos quando não possui, mas pacifica-se, neutraliza-se quando atinge o bem cobiçado. O orgulho, não. Quanto mais servido mais ampliado fica. É uma fome inextinguível. Quando parece estar pacificado é justamente quando está mais exasperado. O orgulho é uma coisa feia. É sobretudo uma coisa transcendentalmente ridícula. É a mais comumente merecida das acusações, mas é também a mais grave.

[…]

O orgulho é um movimento da vontade, e procede de um erro, de um equívoco central. Sua composição é pois em tudo contrária à luz: é uma teimosia em campo obscuro, alimenta-se de erro, e desenvolve-se na medida em que a vontade não consulta a sua regra. Tanto pode ocorrer num homem de estudo como num homem iletrado, mas é mais provável que se desenvolva naquele que se nutre de mentiras vitais e que não se examina. O que se pode sensatamente dizer do homem muito lúcido, do poeta, do filósofo, é que a sua parcela de orgulho fica mais pública, mais visível. Mas não se pode dizer que essa parcela existe nele por causa da lucidez, da poesia e da filosofia. Não. Anda por aí muito orgulhoso calado, muito orgulhoso sem armas, muito orgulhoso que inventa seu próprio universo moral, que acha sozinho, na latrina talvez, a sua própria filosofia, a sua própria religião. Continuar lendo

O REMÉDIO É A MORTE

Fonte: Boletim Permanencia

Da eutanásia ao homicídio é só um passo.

E a esquerda holandesa não se envergonha de dá-lo. O Esquerda Verde (GroenLinks) quer limitar os procedimentos cirúrgicos em pacientes com mais de 70 anos e permitir que os geriatras do hospital decidam se vale a pena operar ou mesmo manter vivo um paciente idoso. Como se ele fosse um fogão ou uma geladeira, um simples cálculo de custo x beneficio decidirá se o seu destino será a sala de cirurgia ou o cemitério.

O mais perverso é que esse partido se originou da fusão, em 1991, do Partido Comunista, do Partido Socialista Pacifista, dos Radicais e do (pasmem!) Partido Popular Evangélico. Parece piada, mas é só uma tragédia.

A proposta foi apresentada ao parlamento holandês por Corinne Ellemeet e já ganhou o apoio da presidente da Associação Geriatria Clínica da Holanda, Hanna Willem , para quem a interrupção do tratamento vai “acrescentar qualidade de vida para o paciente.” Inacreditável!

“Um processo de seleção deve ser feito quando for o caso de um tratamento avançado e caro “, o que incluiria operações cardíacas, tratamentos de câncer, diálise renal entre outros procedimentos. A prioridade, nesses casos, segundo Corinne, deve ser dada aos mais jovens.

Em outras palavras, a disposição do paciente para continuar lutando pela vida não terá nenhum valor, prevalecerá a opinião do geriatra e suas previsões sobre “as expectativas em relação à qualidade de vida da pessoa”.

 

A CONSAGRAÇÃO DO GÊNERO HUMANO

Fonte: Boletim Permanencia

Ainda está para ser escrita a relação entre os papas do século XX e as aparições de Nossa Senhora de Fátima: Bento XV era o papa no tempo das aparições, era por ele que as crianças ofereciam seus tão generosos sacrifícios; Pio XI foi o único expressamente mencionado nas aparições e Pio XII foi sagrado bispo precisamente no dia 13 de maio de 1917.

A relação continua com os papas do pós-concílio: João Paulo II, por exemplo, foi baleado no aniversário das aparições, também em um 13 de maio. E quem será aquele Papa e toda a gente ao seu redor, que Jacinta menciona?

– Posso dizer que vi o Santo Padre e toda aquela gente?
– Não. Não vês que isso faz parte do segredo e que por aí logo se descobria?

Num post recente comentamos como as aparições foram de certo modo preparadas pelos papas que imediatamente as precederam, e destacamos o papel de Leão XIII na promoção do Rosário. Mas há outra relação deste pontífice com as aparições, uma relação um tanto mais misteriosa, envolvendo também Portugal e uma consagração.

Escreveu o biógrafo Charles de T’serclaes: Continuar lendo

BEM VINDO À MATRIX

Fonte: Boletim Permanencia

Em abril de 2011, um homem de 23 anos invadiu a escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, assassinou 11 crianças, e depois cometeu suicídio.

Em outubro de 2017, um vigilante noturno entrou na creche Gente Inocente, na cidade de Janaúba, MG. Dez crianças e dois adultos morreram.

Semana passada, dois homens, um de 17 e outro de 25 anos, invadiram a escola Estadual Raul Brasil, na cidade de Suzano, SP, armados e atirando a esmo. Assassinaram cinco adolescentes e três adultos, depois se suicidaram.

É impossível não tentar traçar um paralelo entre essas tragédias. Esses crimes têm um aspecto moral em comum que a imprensa tem falhado em levar em consideração: o desprezo à vida.

Por que vivemos numa sociedade que despreza a vida?

Fundamentalmente porque o pensamento que orienta o mundo é materialista, nega a espiritualidade da alma e o fim último do homem. A religião católica, única verdadeira, foi reduzida às catacumbas, e o que nos chega do oriente com o nome de religião não passa de uma aeróbica da vaidade.

Há uma cena no primeiro filme da série Matrix que resume esse desprezo à vida: o protagonista entra no saguão da sede da polícia e se depara com uma multidão, sabendo que terá de matá-la. Ele vacila, mas é consolado por um de seus companheiros: “É um favor que você faz a eles”. A frase talvez não seja exatamente esta, mas é essa a idéia: matá-los era a maneira de libertá-los de uma vida de ilusão. A cena vale por um tratado. O próprio filme, aliás, é um resumo do pensamento gnóstico que é o fundo metafísico de todas as falsas religiões: a vida não vale nada.

O problema da sociedade descristianizada já começa na própria definição de vida. A discussão sobre o “direito ao aborto” é só o exemplo mais trágico do quão baixo chegamos nesse “conceito”: não importa a vida, mas o momento em que o ser vivente merece ser considerado vivo.

A partir daí, não será de estranhar que se venha depois a discutir quando poderá ser considerado morto. Variando apenas o juiz: ora um médico psicopata a favor da eutanásia, ora um tirano em busca de “soluções finais”.

O ROSÁRIO É INDESTRUTÍVEL

Fonte: Boletim Permanência

“Minha mãe, vou rezar o terço com o Francisco, que foi o que Nossa Senhora mandou que nós fizéssemos”, disse Jacinta logo após revelar à mãe quem tinha visto na Cova da Iria.

Jamais se dirá o bastante sobre a importância que Nossa Senhora deu ao Rosário em Fátima. Nas seis vezes em que apareceu aos pastorinhos sem exceção, a Virgem mandou rezarmos o terço. Por que tanta insistência nessa devoção em particular?

Ora, num post recente, falávamos que quando as missas eram rezadas no rito de sempre, que é o mesmo sacrifício em substância que o sacrifício da cruz, havia como que uma rede de graças cercando o planeta. Com seus quatro fins, a Santa Missa traduzia em linguagem humana o indizível cântico dos anjos do Céu.

Em tempos normais, a Missa deveria ser o centro da vida do católico e o principal meio de santificação, como escreveu Garrigou-Lagrange:

“Para toda alma interior, a Missa deve ser, cada manhã, como a fonte eminente, de onde derivam todas as graças de que temos necessidade durante o curso do dia, fonte de luz e de calor, semelhante na ordem espiritual, ao que é o nascer do sol na ordem da natureza. […] Este então deveria ser o maior ato de nossos dias e na vida de um cristão, sobretudo de um religioso, todos os outros atos quotidianos só deveriam ser o acompanhamento daquele, ou seja, todas as outras orações e pequenos sacrifícios que devemos oferecer ao Senhor durante o dia.” Continuar lendo

UM LABORATÓRIO DE ABOMINAÇÕES

A tentação de Santo Antão, Hieronymus Bosch

Fonte: Boletim Permanencia

A inversão dos critérios e da compreensão da realidade já se tornou de tal modo grave no Canadá – uma espécie de laboratório dos modernismos de todos os tipos – que o Estado já considera famílias católicas incapazes de adotar crianças e educá-las adequadamente, por conta de suas crenças “preconceituosas”.

Foi o que aconteceu com um casal católico que decidiu adotar uma criança. Depois de um longo processo, eles foram entrevistados por uma assistente social que, em dado momento, lhes perguntou sobre “sua crença religiosa” e se de fato acreditavam em certas partes desatualizadas da Bíblia”. Eles responderam simplesmente que acreditavam na Bíblia. Mais adiante, num tom casual, a assistente comentou que seu filho era homossexual e que, na infância, sofrera muito nas mãos dos que consideravam o homossexualismo um pecado.

Foi a senha para o que viria a seguir. Poucas semanas depois, o casal recebeu uma notificação do Estado comunicando que o seu pedido de adoção fora rejeitado, apesar de todas as suas qualidades.

Não chega a ser uma surpresa que o caso tenha ocorrido no Canadá, mundialmente conhecido por sua cultura impregnada de paganismo: liberação irrestrita do aborto até a última semana de gravidez, validade das uniões homossexuais, legalização da maconha “para fins recreativos”, suicídio assistido, eutanásia (chamada de “morte clinicamente assistida”). Em setembro último, foi noticiado que “especialistas em ética” já estão debatendo a possibilidade da aplicação da eutanásia em crianças, sem consentimento dos pais. Os “direitos dos trans” também contam com ampla aceitação e promoção no país; após a proibição por Donald Trump do ingresso de transgêneros nas Forças Armadas dos EUA, os militares canadenses convidaram cidadãos de “todas as orientações sexuais” ao alistamento.

O Partido Liberal do primeiro-ministro, Justin Trudeau é o principal motor dessa “revolução dos costumes” no Canadá. Foi sob a liderança de Jean Lesage, que governou a província de Quebec de 1960 a 1966, que a “Revolução Tranquila” ou “Revolução Silenciosa” introduziu a secularização dos costumes nessa importante região canadense. A gradual substituição da influência da Igreja pela do Estado nos sistemas de educação, de saúde e em inúmeras obras sociais levou ao completo desmantelamento das tradições religiosas dos quebequenses, que trocaram a arraigada crença sobrenatural na Religião Católica por uma mera identificação cultural com o “elemento francês”, de base meramente nacionalista.

E assim cumpre-se no Canadá, e de modo cada vez mais acelerado, o que disse Nossa Senhora em La Salette: “Os governantes civis terão todos um mesmo objetivo, que consistirá em abolir e fazer desaparecer todo princípio religioso para dar lugar ao materialismo, ao ateísmo, ao espiritismo e a toda espécie de vícios”.

UM FILHO DE SÃO FRANCISCO QUE REVIVIA A PAIXÃO

Pe. Denis Quigley – FSSPX

Padre Pio foi o primeiro sacerdote da história da Igreja Católica a receber estigmas visíveis. Ter os estigmas é trazer em seu corpo “marcas semelhantes às chagas do corpo crucificado de Jesus Cristo”.

Na história da Igreja, o número de estigmatizados reconhecidos é bem raro. Il Padre apresentou estigmas aparentes durante cinquenta anos e perdeu tanto sangue ao longo desse tempo que, conforme a ciência médica, normalmente não teria podido viver tanto.

Na realidade, Padre Pio já trazia estigmas invisíveis desde agosto-setembro de 1910. Ele rezou para que eles se mantivessem escondidos dos olhos dos homens. No entanto, no dia 20 de setembro de 1918, no momento em que fazia sua ação de graças após a missa, recebeu os estigmas visíveis.

Seu diretor espiritual lhe ordenou que descrevesse tudo o que se passou naquele dia. Eis o que escreveu Padre Pio:

“… eu vi surgir diante de mim um personagem misterioso.. sangue corria das suas mãos, dos pés e do lado. Essa visão me aterrorizou… A visão do personagem desapareceu e percebi que sangue corria das minhas mãos, dos meus pés e de meu lado. Imagine o martírio a que me submeti e que continuo a viver quase todo dia.

“O sangue continua a correr da chaga do coração incessantemente, sobretudo na noite de quinta-feira até o sábado. Meu Pai, morro de dor por causa desse suplício e da confusão que reina na minha alma… Suplicaria fortemente diante d’Ele e não cessaria de suplicar para que, na sua misericórdia, afastasse de mim não o suplício nem a dor — pois vejo a impossibilidade disso e quero me embriagar da dor — mas as marcas externas, que são para mim fonte de humilhação insuportável e indizível.” Continuar lendo

NÃO É A GILLETTE QUE FAZ O HOMEM

Fonte: Boletim Permanencia

Durante séculos, a navalha foi um símbolo da masculinidade. Até que a lâmina de barbear apareceu e tomou o seu lugar na vida prática dos homens.

Mas quando o fabricante mais famoso dessas lâminas se considera apto a dizer ao seu público como agir para que se tornem “homens melhores” (the best men can be), já não se trata de fazer a barba, mas a cabeça de metade da população. Enfim, já não é marketing, é “engenharia social”.

Mas a julgar pelos resultados, a Gillette abusou da pretensão – talvez por desprezar a água benta. No mês passado, a empresa lançou pelo youtube uma campanha polêmica em que retrata homens e meninos como estereótipos do pior comportamento humano.

O vídeo tem menos de 2 minutos, e começa com a cena de quatro homens bem barbeados, de raças e idades diferentes, olhando-se no espelho com cara de culpa. As palavras “bullying”, “assédio sexual” e “masculinidade tóxica” são ouvidas no fundo.

A sequência seguinte mostra um adolescente sendo perseguido; um menino recebendo mensagens de ‘bullying’ no celular; pedaços de reportagem sobre o #Metoo; cenas de assédio de um patrão; um chefe humilhando a subalterna; homens mexendo com mulheres na rua; garotos brigando sob o olhar de adultos, que apenas comentam: “Boys will be boys” (“Garotos são assim mesmo”).

No próximo bloco, a virada: o tom muda e o que vemos são homens refletindo sobre as consequências de seus atos. E então, o gran finale: as cenas do começo se repetem, mas agora há homens que reagem defendendo as vítimas de abuso, apartando a briga, etc. – sob o olhar admirado de meninos de raças diferentes.

A chamada “masculinidade tóxica” (do inglês toxic masculinity) é a carapuça que a Gillette quer vestir no homem “de sempre”, a quem ela considera machista, homofóbico, misógino, herdeiro do patriarcado, entre outros adjetivos pejorativos que invertem a sua autopercepção.

No seu site oficial a marca torna claro seu desejo: ” … como uma companhia que encoraja os homens a buscarem o seu melhor, nós temos a responsabilidade de garantir que promovamos versões positivas, alcançáveis, inclusivas e saudáveis daquilo que se considera ser homem”. E continua: “Nosso slogan precisa continuar a inspirar todos nós a sermos melhores todos os dias, e ajudar a criar um novo padrão para os meninos admirarem e para os homens atingirem… porque os meninos de hoje são os homens de amanhã”.

Mas, ao contrário do esperado, a desaprovação superou os aplausos. Com 30 milhões de views, há 1,4 milhão de dislikes contra 767 mil likes. Afinal, homens ainda são homens.

SÓ NÃO TINHA CATÓLICO

Fonte: Boletim Permanencia

No último dia 15, o Cardeal do Rio de Janeiro organizou e presidiu um ato inter-religioso na Candelária chamado “unidos na esperança”. Dom Orani explicou o evento: “É o momento de nós, enquanto religiões que estão nessa grande cidade, dizer que estamos juntos, somos solidários, temos esperança, temos confiança”.

Ato inter-religioso na Candelária

Poderíamos perguntar em que espera o Cardeal? Para nós, que esperamos em Deus, é absurda a idéia de uma ‘união na esperança’ com adeptos de falsas religiões. Porque, como ensina Santo Tomás, “A fé precede a esperança” (IIa IIae, q. 17). Em outras palavras: não há virtude da esperança sem a fé.

Poderíamos lamentar que na Arquidiocese do Rio de Janeiro pareça não valer o ensinamento de Pio XI em Mortalium animos. Na Encíclica, após mencionar a realização de “assembléias e pregações” nas quais são convidados a participar membros de diversas religiões, o Papa declara:

“Sem dúvida, estes esforços não podem, de nenhum modo, ser aprovados pelos católicos, pois eles se fundamentam na falsa opinião dos que julgam que quaisquer religiões são, mais ou menos, boas e louváveis (…)”

Quem nos dera se nosso episcopado ainda se levantasse em defesa da Santa Igreja, combatendo os erros modernos e, sobretudo, as falsas religiões que infelizmente se multiplicam no nosso país. Em outros tempos, era assim que falavam os bispos do Brasil:

“Mas o que pedis à Igreja Católica é a tolerância ou é o suicídio? Ela não pode sem contradizer toda a sua história, sem renegar a sua própria essência, sem anular-se, sem aniquilar-se completamente, sem trair a Jesus Cristo, admitir o princípio que todas as religiões são igualmente verdadeiras, ou que todas são falsas, ou que sendo uma só verdadeira, seja indiferente abraçar esta ou as outras; como se a verdade e o erro tivessem os mesmos direitos perante a consciência!” (Pastoral coletiva de 1890)

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O que percebemos com tristeza é que tinha de tudo nesse evento presidido pelo Cardeal e arcebispo do Rio de Janeiro: maçom, muçulmano, budista etc. Só não tinha católico.

O SUPREMO NÃO É SAGRADO

Fonte: Boletim Permanencia

“Supremo enfrenta processo de dessacralização”, diz o título da coluna de Josias de Souza. Mas o “sacro”, a que um dia já se arvorou o Supremo Tribunal Federal, é só uma versão secularizada da verdadeira sagração do poder.

Coroação de D. Pedro II. Óleo sobre tela, 2,38 x 3,10 m, de François-René Moreaux, 1842

Depois de proclamar a independência frente a Portugal, D. Pedro I fez questão de ser sagrado Imperador pelas mãos do clero, numa cerimônia muito semelhante às rubricas litúrgicas do Pontifical Romano. Ainda que sua motivação pudesse ser meramente terrena (de afirmar a legitimidade do grito do Ipiranga), aquele ato não deixava de reconhecer a verdadeira origem de todo o poder.

Mesmo com toda a contaminação liberal da monarquia, reforçada no segundo reinado, o Imperador reteve em alguma medida essa aura de sacralidade, que se expressava na confissão do Catolicismo como religião oficial do Estado e lhe dava uma autoridade supra-partidária, um ente moral acima das disputas de facção e dos interesses menores. Foi justamente quando pretendeu fazer-se “homem comum” que D. Pedro II foi derrotado: desde a forma mais liberal de se vestir até os anseios de se desfazer do papel de monarca para se tornar um mero professor. Mas, sobretudo, seu tiro no pé foi o pouco caso para com a Igreja, a única instituição no céu e na terra capaz de lhe conferir a marca da sacralidade. Sufocou vocações, proibiu claustros, deixou a Igreja à míngua. Chegou ao cúmulo de chancelar, em 1872, a prisão de Dom Vital e Dom Macedo Costa, os dois bravos bispos que escolheram a fidelidade a Roma no combate à maçonaria.

Com o golpe da República em 1889, o Exército toma para si o Poder Moderador que antes pertencera ao monarca. Mas como já não havia por trás a Igreja para conferir sacralidade, a função perdeu o seu caráter intocável. Outros logo se lançaram nessa disputa, que não é de poder, mas de autoridade; fruto de reconhecimento, não de fria imposição legal. Continuar lendo

A GUERRA É SOBRENATURAL

Fonte: Boletim Permanencia

Houve um tempo em que no Reino da Igreja a luz nunca se punha. A cada segundo, em algum lugar, uma missa começava, sempre igual nos gestos e palavras em latim, e o mundo vivia então envolto por um coro de vozes sussurradas que simulava, no limite do humano, a eternidade dos anjos em sua louvação a Deus.

E assim o catolicismo resistia à pressão das trevas. Não eram tempos fáceis. E a luta era feroz e desigual. Escritores católicos que desde 1789 resistiam – e são tantos os nomes esquecidos! – se amparavam sobrenaturalmente nesse coro de vozes. Mas com o tempo – sempre o tempo – o coro foi se apagando, se apagando, se apagando – até que em dado momento as trevas prevaleceram: o tempo engoliu a eternidade – e cada missa hoje é o que o padre pretenda que ela seja, e cada igreja hoje é o que o padre pretenda que ela seja, e cada fiel hoje é o que ele pretenda ser. Uma legião de cabeças – e em cada cabeça, uma sentença.

É o tempo pós-conciliar, o nosso tempo.

Num texto que se poderia dizer profético, Dans Les Ténèbres, Léon Bloy percebeu e consignou o que vinha. É talvez o livro mais pesado da literatura ocidental: 30 páginas e toneladas de amargura, tristeza e o que ainda restava de revolta ao guerreiro agonizante.

Ali se anunciava o fim. O ano era 1917. Cinquenta anos depois a derrota era completa. A missa se extinguira, o coro se calara e os espíritos malignos dominavam o ar, os ares. E estão no ar, triunfantes: no rádio, na tv, agora nos celulares, na internet.

Uma derrota completa.

Só em uma ou outra catacumba ao redor do mundo, a velinha de umas missas de verdade resiste ao vento que não cessa, cintilando, aqui e ali, gemendo, esporádicas, mas impávidas. Temos fé.

Mas tão completa é a derrota que hoje se acredita que a guerra é cultural. Vejam só: há católicos que acreditam que a guerra é cultural. Por quê? Porque não são mais católicos. E nem sabem. Engolem resignadamente o biscoitinho insosso que é a hóstia e, às vezes, até recitam a missa em latim. Vejam só, em latim…

Mas acreditam que a guerra é cultural, e chegam a desejar o mal menor como se fosse um bem. São guerreiros de vento lutando contra as fantasmagorias que lhe oferecem os professores de nada: “nós contra eles”, aprenderam – não sabem que a uma certa distância mal se distinguem.

Não. A guerra é sobrenatural. Por princípio.