Continuação do post: O AMOR MATERNO
Já acima o dissemos, e convém insistir neste ponto: a mãe deve amar todos os filhos sem exceção. Não são eles todos uma porção de si própria? Não os trouxe todos no seu seio, e não os alimentou com o seu leite? Concentrar num só, ou em alguns, todas as afeições, e ter pelos outros uma espécie de indiferença, ou mesmo de aversão, seria ir de encontro, não só contra natureza, mas contra a lei de Deus; seria perdê-los a todos, a uns por excesso, e a outros por deficiência de amor materno. As preferências injustas são efetivamente tão funestas aos filhos preferidos, como aos que o não são.
A criança, que se sente objeto da predileção de seus pais, torna-se orgulhosa e altiva; acaba por desprezar seus irmãos, enchesse de fatuidade e de egoísmo; numa palavra é uma criança estragada, isto é, perdida, como diz Mgr. Dupanloup na sua obra Da Educação, que teremos ocasião de citar muitas vezes.
Os que se vêm privados injustamente das carícias e dos favores, que seus pais prodigalizam com tanta profusão aos outros seus irmãos, tornam-se tímidos, tristes e desconfiados, desde a mais terna mocidade. Não podendo desenvolver-se por seu espírito, ficam sempre enterradas as suas faculdades naturais debaixo dum frio silêncio. Não podendo amar a mãe, que os não ama, o seu coração torna-se duro e insensível. Mais tarde a inveja cria profundas raízes na sua alma; são cheios de ciúme e muitas vezes de ódio contra os que lhe preferiram: inveja e ódio que produzem muitas vezes as mais funestas divisões nas famílias, e não acabam senão com a vida. Qual foi a origem das guerras de Esaú contra Jacob, senão a predileção que Rebeca, sua mãe, tinha por Jacob?
Ninguém ignora esta história, que é contada pelos livros santos: Jacob amava José acima de todos os outros filhos, porque o tivera na sua velhice, e também, sem dúvida, por causa das suas admiráveis qualidades e da sua inocência. Em testemunho da ternura e da estima singular que tinha por essa criança, havia-lhe dado um vestido de diversas cores. Vendo essa predileção de seu pai por José, conceberam os seus irmãos tamanho ódio contra ele, que não podiam falar-lhe sem azedume. Um dia, enquanto guardavam os rebanhos, vêem chegar José, enviado pelo Pai, para os vigiar. — «Vamos, dizem uns para os outros, excitados por seu amor invejoso, matêmo-lo, e deitêmo-lo a esta cisterna.» Por conselho de Ruben o mais velho, desistem disso, mas apenas José chega, despem-no, metem-no dentro da cisterna, e vendem-no depois por vinte peças de prata a mercadores ismaelitas. Ah! quantas lágrimas não custou ao pobre pai a predileção que tinha pelo filho! Rasgou as roupas, cobriu-se dum cilício, e não cessou de chorar, dizendo na amargura da sua alma: «Um animal cruel devorou José!» Em vão todos os outros filhos se reuniram para enxugar as suas lágrimas… ele não quis receber consolações. Continuar lendo →
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