Em uma conjuntura tão perigosa, será ainda possível ao simples fiel, ao modesto padre do campo ou da cidade, ao religioso que se sente cada dia mais isolado dentro de sua ordem; será possível à religiosa que se pergunta se ela não foi mistificada em nome da obediência; será possível a todas estas ovelhinhas do imenso rebanho de Jesus Cristo e de seu vigário não perderem a cabeça, resistirem a um imenso aparelho que os induz, progressivamente, a mudar de fé, mudar de culto, mudar de hábito religioso e de vida religiosa, em uma palavra mudar de religião?
Gostaríamos de repetir para nós mesmos com toda a doçura e acerto as palavras de verdade, as palavras simples da doutrina sobrenatural aprendidas no catecismo, que não agravassem o mal mas antes nos persuadissem profundamente, pelo ensinamento da Revelação, de que Roma, um dia, será curada; de que a Igreja que vemos, em breve perderá sua aparência de autoridade. Logo essa igreja se transformará em poeira, pois sua principal força vem de sua mentira intrínseca que passa por verdade, sem nunca ter sido efetivamente desmentida de cima. Gostaríamos, no meio de tão grande catástrofe, de nos dizer palavras que não estivessem muito defasadas com o misterioso discurso, sem ruído de palavras, que o Espírito Santo murmura no coração da Igreja.
1 —Mas por onde começar? Sem dúvida pela lembrança da verdade primeira que diz respeito ao senhorio de Jesus Cristo sobre sua Igreja. Ele quis uma Igreja que tivesse à frente o bispo de Roma, que é seu vigário visível e, ao mesmo tempo, bispo dos bispos e de todo o rebanho. Conferiu-lhe a prerrogativa da pedra a fim de que o edifício não ruísse nunca. Pediu, em uma oração eficaz, que seu vigário, ao menos, entre todos os bispos, não naufragasse na fé de sorte que, tendo-se recuperado depois de quedas das quais não seria necessariamente preservado, confirmasse por fim seus irmãos na fé; ou então, se não for ele em pessoa que fortaleça seus irmãos na fé, que seja um de seus primeiros sucessores.
Tal é sem dúvida o primeiro pensamento de conforto que o Espírito Santo sugere a nossos corações nestes dias desolados em que Roma está parcialmente invadida pelas trevas: não há Igreja sem vigário do Cristo infalível e detentor da primazia. Por outro lado, quaisquer que sejam as misérias, mesmo no domínio religioso, deste vigário visível e temporário de Jesus Cristo, é o próprio Jesus quem governa sua Igreja, que governa seu vigário no governo da Igreja; que governa seu vigário de tal maneira que este não possa comprometer sua autoridade suprema nas desordens ou cumplicidade que mudariam a religião. — Até aí se estende, em virtude da Paixão soberanamente eficaz, a força divina da regência do Cristo subido ao céu. Ele conduz sua Igreja tanto de dentro como de fora e domina sobre o mundo inimigo. Faz sentir seu poder a este mundo perverso, mesmo e sobretudo quando os operários da iniqüidade, como o modernismo, não somente penetram na Igreja, mas pretendem se fazer passar pela própria Igreja. Continuar lendo