ESTUDO SOBRE O NATURALISMO DOS “MISTÉRIOS LUMINOSOS” DO PAPA JOÃO PAULO II – PARTE 1/4

Apresentamos um Comentário do Padre Peter R. Scott – FSSPX, que dividimos em 4 partes para publicação, sobre o Naturalismo da Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae de João Paulo II, publicada em 16 de outubro de 2002.

Fonte: SSPX Asia – Tradução: Dominus Est

jp

Naturalismo e o Rosário

Não deve existir nada que possa alegrar tanto o coração de um católico tradicional como uma carta apostólica de um papa sobre o Rosário. O que poderia ser mais propício para a renovação da devoção à Nossa Senhora? O que de mais poderoso poderia superar a impiedade dos nossos tempos? O que, em última análise, poderia estar mais de acordo com os pedidos de Nossa Senhora de Fátima sobre a consagração e o triunfo do Imaculado Coração? O que de fato poderia ser mais efetivo como resposta ao ecumenismo, à liberdade religiosa e aos outros erros do Concílio Vaticano II, incompatíveis como são com a verdadeira devoção à Nossa Senhora?

Entretanto, nosso entusiasmo inicial acerca de um pronunciamento papal sobre o Rosário se esvaece tão logo estudamos a carta e percebemos que ela é uma tentativa velada de promover o naturalismo da revolução pós-conciliar, e isso vem disfarçado no tratamento dado à mais tradicional devoção que os católicos conhecem. Como isso poderia ser possível? Como poderia um papa errar recomendando o Rosário? Como poderia Nossa Senhora abandonar aqueles que continuam a recitar suas Ave-Maria? Como poderia um católico criticar um papa que diz que o Rosário é “sua oração predileta”, “Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade” (§2)? Continuar lendo

OREMOS PELOS MÁRTIRES CRISTÃOS DE HOJE

assisi_0_0Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Um novo encontro inter-religioso acontecerá em Assis no dia 20 de setembro de 2016, presidido pelo Papa Francisco. Armado com os imutáveis ensinamentos dos Papas até o período anterior ao Concílio Vaticano II, a Fraternidade São Pio X não rezará junto com os 400 representantes de religiões do mundo que invocarão suas crenças em Maomé, Buda, Confúcio e Kali, juntamente com a profissão da fé católica: Creio em Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, e de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos.

A Fraternidade rezará com e por aqueles que atualmente são objetos de perseguição por sua fidelidade ao Credo Católico, pelos cristãos martirizados no Egito, Síria, Iraque, Nigéria, Paquistão, Tailândia, Indonésia, Filipinas …

O Capítulo Geral da Fraternidade São Pio X fez questão de recordar sua declaração final de 14 de Julho de 2012: “Nos unimos a todos os cristãos que sofrem perseguições em países espalhados pelo mundo e que sofrem pela fé católica, muitas vezes até a morte. Seu sangue, derramado em união com o da Vítima em nossos altares, é o símbolo da renovação da Igreja in capite et membris, de acordo com o velho proverbio que diz: ‘sanguis martyrum semen christianorum’.” (DICI no. 259, 10/08/12)

Para pedir a Deus pela paz, sem qualquer erro ecumênico ou ambiguidade inter-religiosa, a FSSPX faz suas as palavras a da Coleta da Festa de Cristo Rei, instituída por Pio XI: “Onipotente e sempiterno Deus, que quiseste restaurar todas as coisas em vosso amado Filho, Rei do universo: concedei propício que todas as nações da terra que estão divididas pela ferida do pecado, possam se submeter ao suavíssimo jugo de seu governo“.

Fr. Alain Lorans

MADRE TERESA DE CALCUTÁ: VERDADEIRA OU FALSA CARIDADE?

Irmão Marie-Dominique, O.P.

O testemunho dos santos tem o seu valor; a nossa época teve o testemunho de Madre Teresa de Calcutá, humilde filha da Albânia, que – pela graça de Deus – se transformou em um exemplo de exercício da caridade e de serviço à promoção do ser humano para o mundo inteiro.” (Bento XVI, em 8 de março de 2009)[1].

Reuníamo-nos todas as manhãs na casa geral e gozávamos da alegria de nos ajoelharmos ao pé do túmulo de Madre Teresa.

Era impressionante observar um budista em posição de lótus ao lado de um muçulmano de rosto em terra e, próximo a eles, um cristão de joelhos. Nisso há um mistério! Lá estavam os três, sem se defrontarem; melhor ainda, estavam trabalhando juntos, pois é a caridade que os reúne.(Pe. Benoît-Joseph, da comunidade das Beatitudes[2]).

I. Elementos Biográficos

1. Infância

Em 26 de agosto de 1910, nascia Gonxha (Inês) Bojaxhin, na cidade de Skopie – que então se chamava Üsküb – na Macedônia, ainda sob o domínio turco[3]. Os católicos eram ali minoritários, espremidos entre ortodoxos hostis e muçulmanos.

Os pais de Gonxha eram emigrantes da Albânia. Eles já haviam dado à luz Aga e Lázaro, quando Gonxha, a última de seus filhos, veio ao mundo.

Rapidamente a criança revelou saúde frágil, sempre acometida de gripes e problemas respiratórios. Quando atingiu a idade escolar, os pais decidiram matriculá-la, primeiro em uma escolinha administrada por religiosas, depois em uma escola laica sem Deus, no liceu estatal, a exemplo dos outros filhos. Eram pouquíssimos os católicos em Skopje, para que dispusessem de um estabelecimento confessional que assegurasse educação integral. Continuar lendo

“TRANSGÊNERO” É UMA DOENÇA MENTAL E DEVE SER TRATADA COMO TAL, AFIRMA PROFESSOR DE PSIQUIATRIA DO HOSPITAL JOHN HOPKINS

Defensores pró-transgenerismo, disse McHugh, não querem saber sobre estudos que mostram entre 70% e 80% de crianças que expressam sentimentos transgêneros e “espontaneamente perdem esses sentimentos” ao longo do tempo

Tnsg

The New Observer | Tradução Sensus fidei: O “transgênero”, mania atualmente sendo promovida pelos meios de comunicação controlados como “a próxima fronteira dos direitos civis” é, na verdade, uma doença mental e a sua promoção é incitar transtornos mentais, afirmou o Professor e ex-Diretor do Departamento de Psiquiatria do Hospital Johns Hopkins.

Transgenerismo é uma doença, não um direito, afirma Dr. McHugh

Transgenerismo é uma doença, não um direito, afirma Dr. McHugh

Uma doença mental, não um ‘estilo de vida’

Dr. Paul R. McHugh, MD, atualmente eminente Professor do Serviço de Psiquiatria do mundialmente famoso hospital, também disse que as mudanças de sexo são “biologicamente impossíveis” e que os médicos que “promovem a cirurgia de redesignação sexual estão colaborando para a promoção de um transtorno mental.”

Além disso, ele afirmou que “transgenerismo é um transtorno mental que necessita de tratamento”, assim como a sociedade trataria quaisquer outros transtornos mentais, e não deve ser apresentado pela mídia ou pela classe médica da maneira como tem sido feita.

Dr. McHugh, autor de seis livros e de pelo menos 125 artigos médicos revisados, fez suas declarações em um artigo no Wall Street Journal intitulado “Cirurgia Transgênera não é a solução”, no qual ele explica que a cirurgia transgênera não é a solução para pessoas que sofrem de uma “desordem de ‘suposição’” — a noção de que a sua masculinidade ou feminilidade seja diferente do que a natureza lhes atribuiu biologicamente. Continuar lendo

OS CATÓLICOS LIBERAIS E A FALÊNCIA DO ESTADO LAICO

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Diante do avanço da legislação anticristã no Brasil, as lideranças  dos diversos grupos religiosos estão em busca de um entendimento para empreender uma reação comum e impedir a aprovação de leis que agridem a consciência moral da imensa maioria da população brasileira. Em princípio, essa atitude poderia compreensível e louvável, contanto que observadas todas as regras da prudência para afastar qualquer perigo de um falso ecumenismo e irenismo.

Mas há uma coisa que merece reparo nessa frente ampla das “religiões” contra as forças maçônicas a serviço do Reino do Anticristo e da Sinagoga de Satanás. É que no embate com o inimigo, quando este defende sua plataforma política contra o Direito Divino e Natural e recusa uma interferência das religiões nos debates em curso no Congresso Nacional argumentando que o Estado brasileiro é laico, os representantes da frente ampla das religiões, principalmente os católicos liberais, saem em defesa do Estado laico dizendo que os verdadeiros inimigos deste são os políticos ateus ou agnósticos que se mostram intolerantes e incapazes de manter um diálogo democrático com seus adversários.

Dizem também os parlamentares da frente ampla das religiões que os seus adversários estão esquecidos de que o Brasil não é um Estado ateu, visto que no preâmbulo da Constituição Federal se diz que os representantes do povo brasileiro promulgam a carta magna sob a proteção de Deus. E argumentam que Estado laico significa que o Estado não sofre uma incidência direta das instituições religiosas em sua organização. Continuar lendo

PAULO VI, O SEPULTADOR DA TRADIÇÃO

Nota da Permanência: Apresentamos a seguir um capítulo do livro “Cem anos de modernismo” (Cent ans de modernsime. Généalogie du Concile Vatican II, Editions Clovis, 2003) do padre Dominique Bourmaud, FSSPX.

Capítulo XXII

Há mais de um século que os Carbonários, a maçonaria italiana, tinham planejado destruir o papado:

“O trabalho que empreenderemos não é obra de um dia, nem de um mês, nem de um ano: pode durar vários anos, talvez um século; mas em nossas fileiras morre o soldado e a luta continua… O que devemos buscar e esperar, como os judeus esperam o Messias, é um Papa de acordo com nossas necessidades… E este pontífice, como a maioria dos seus contemporâneos, estará mais ou menos imbuído dos princípios humanitários que começaremos a pôr em circulação… Quereis estabelecer o reino dos escolhidos sobre o trono da prostituta da Babilônia? Que o clero marche sob o vosso estandarte, crendo sempre marchar sob a bandeira das Chaves Apostólicas… Estendei vossas redes… no fundo das sacristias, dos seminários, dos conventos… Tereis pregado uma revolução de tiara e capa pluvial, marchando com a cruz e a bandeira, uma revolução que não necessitará senão ser ligeiramente estimulada para atear fogo em todos os extremos da terra”[1].  Leia mais

Na falta de um revolucionário de tiara e capa pluvial, comparou-se Paulo VI com Moisés guiando o povo escolhido para fora do Egito rumo à terra desconhecida da Promessa. Também é apresentado freqüentemente como um Hamlet que terminou no trono de Pedro. Seu temperamento indeciso resultava, talvez, da falta de uma formação intelectual sólida, uma vez que Giovanni Battista Montini (1897-1978) não havia seguido seminário algum… realidade ainda mais lamentável pelo fato de que seu pai, homem influente, publicava uma revista de tom liberal. Deste fato procediam suas utopias juvenis de que é possível colaborar com a esquerda mas não com a direita[2]. Essas deficiências intelectuais não faziam mais que aumentar, pelo predomínio que, nele, a imaginação tinha sobre a realidade: Continuar lendo

A PROTESTANTIZAÇÃO DO CONCÍLIO VATICANO II – PARTE 3

concilio_vaticano_ii

  1. A constituição dogmática sobre a Revelação Divina “Dei Verbum”

Esta constituição abandona a doutrina católica das duas fontes da Revelação, para aproximar-se do sola scriptura dos protestantes. Apresentam-nos de imediato no capítulo 1 a Revelação não mais como comunicação das verdades sobre Deus e suas intenções salvíficas, mas como auto-comunicação de Deus; nisto põem em evidência a passagem da perspectiva objetiva à perspectiva subjetiva.

No artigo 5, descrevem a fé como encontro pessoal com Deus, e dom do homem para com Ele; não se deveria mais considerar a tradição como complemento quantitativo e material da Escritura. Ela teria apenas uma dupla função de reconhecimento do teor do cânon e certidão da revelação. De modo ambíguo, não apresentam o magistério abaixo da palavra de Deus, senão que a seu serviço.

Reconhece-se fortemente no artigo 12 a exegese moderna com sua “Formengeschichte”, embebida no espírito protestante de Bultmann. Não mais se atribui à Santa Escritura a inerrância, mas só dizem que ela ensina a verdade.

artigo 19 fala que os Evangelhos oferecem o veraz e o sincero – no texto originam, acrecentaram: “alimentados pela força criativa da comunidade primitiva”, suprimido após o protesto de muitos dos Padres do Concílio. Na 2ª frase deste artigo, assume o Concílio sem meias palavras a exegese moderna: os apóstolos pregavam uma compreensão mais plena do Cristo, os redatores dos Evangelhos “redigiram” o material desta prédica, i. é., material que eles selecionaram, resumiram e atualizaram. Continuar lendo

A PROTESTANTIZAÇÃO DO CONCÍLIO VATICANO II – PARTE 2

protIII. A INFLUÊNCIA DOS PROTESTANTES SOBRE O CONCÍLIO

Com tamanha presença de protestantes no Concílio – presenças direta e indireta – como espantar-se da influência sobre o Concílio e seus documentos? Citemos-lhe alguns para fundamentar a afirmação:

  1. O decreto “Sacrosanctum Concilium” sobre liturgia

Já no artigo 5, encontramos a noção de mistério pascal, que põe a tônica da Redenção na Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e arrefece a realidade do sacrifício expiatório da liturgia.

No artigo 6, mencionam o mistério pascal duas vezes.

No artigo 7, equiparam a presença do Cristo na Santa Missa e na substância transubstanciada com a presença no ministro da ação litúrgica, na virtude dos sacramentos, na palavra, ou com a presença que há onde duas ou três pessoas estiverem reunidas em seu nome. Uma tal ordem de coisas é um empréstimo manifesto dos protestantes.

No artigo 22, há clara descentralização da competência, em matéria litúrgica: a partir de agora é o bispo local, e sobretudo a conferência episcopal as estâncias decisórias.

Nos artigos 24 e 51, fala-se da grande importância da Santa Escritura na liturgia. Continuar lendo

A PROTESTANTIZAÇÃO DO CONCÍLIO VATICANO II – PARTE 1

cviiConferência do Sr. Padre Franz SCHMIDBERGER no Simpósio de Teologia em Paris, outubro de 2005.

RESUMO DA POSIÇÃO PROTESTANTE

1 – O ponto de partida do protestantismo, sua base filosófica e teológica, é sem dúvida a concepção de Lutero acerca do pecado e da justificação.

Para ele, corrompeu o pecado totalmente a natureza humana, não há sequer liberdade moral. Assim, nada encontra a graça de Deus que curar, transformar, divinizar, limitando-se tão-só a uma declaração exterior: Deus encobre o pecado com o manto dos méritos de seu Filho, não imputando-lhe de pecado, contudo o pecador conserva sua natureza corrompida.

2 – De tal parecer do estado da natureza decaída, decorrem os quatrosoli de Lutero:

a)Sola fide: salva-se o homem só pela fé; notem que, entre os reformadores, concebe-se a fé enquanto fé confiante nos méritos do Cristo Redentor, e não enquanto plena aceitação da Revelação de Deus sob impulso da graça. As boas obras – o jejum, a oração, a esmola, a penitência, a mortificação – não contribuem para a salvação, antes são sinais de fé. Exprime Lutero desta forma seu pensamento de modo categórico: “Peca fortemenTe e crê mais fortemente ainda, e tu serás salvo”. Continuar lendo

DE CAPITULAÇÃO EM CAPITULAÇÃO CHEGAMOS ÀS DIACONISAS

Na igreja conciliar é assim. Tudo começa com as “coroinhetes”. Após um período a candidata pode ser “elevada” à categoria de “Ministra” da Liturgia, depois da Comunhão, ser “gerente” da paróquia…. até chegar no que vemos hoje!!

********************

Foi anunciada pelo Vaticano há poucos dias a constituição de uma comissão de teólogos e teólogas encarregada de estudar o diaconato feminino na Igreja primitiva. A referida comissão é fruto de um pedido de  um grupo de religiosas ao papa Francisco I, que a instituiu após “muita oração e reflexão” – assim diz a nota da Santa Sé.

De acordo com os melhores estudiosos do assunto, não há nenhuma dúvida de que as diaconisas dos primeiros tempos da Igreja eram mulheres piedosas que se encarregavam de obras de caridade, recebiam uma bênção (com imposição das mãos do bispo) e tal bênção não era absolutamente um sacramento, mas apenas um sacramental.

À luz da tradição constante da Igreja e do magistério dos papas, não procede nenhuma discussão sobre a admissibilidade do sacerdócio feminino na Igreja Católica. Se por desgraça amanhã houver o abuso de uma ordenação de diaconisas, o sacramento da ordem a elas conferido, sobre ser um sacrilégio, será inválido, mas poderá originar uma enorme confusão na Igreja porque já não serão vistas essas reverendas diaconisas como leigas mas como membros do clero e pertencentes à hierarquia eclesiástica. E certamente não se contentarão em ser diaconisas permanentes mas vão pretender galgar os graus mais altos da hierarquia. Continuar lendo

MUITO CUIDADO COM OS NEO-MODERNISTAS!!!

INTRODUÇÃO
Em primeiro lugar, creio haver mister uma observação preliminar, não ignorando da possibilidade de existir consciências falseadas. Aliás, a observação não é minha mas de São Pio X na Encíclica “Pascendi”, com a qual condenou o Modernismo. Diz o imortal Pontífice: “Pasmem embora homens de tal casta (=os modernistas) que nós os ponhamos no número dos inimigos da Igreja; não poderá, porém, pasmar com razão quem quer que , postas de lado as intenções de que só Deus é juiz, (sublinhado meu) se aplique a examinar as doutrinas e o modo de falar e de agir de que lançam eles mão” (sublinhado meu). Ao falar dos neo-modernistas podemos e até devemos, aplicar o mesmo princípio acima enunciado. O próprio Divino Mestre declarou que pelos frutos se conhece a árvore. 
Outra observação: Entre nós tradicionalistas, ou melhor dizendo, entre aqueles que, pela graça de Deus, permanecem fiéis à Santa Madre Igreja, e, portanto, devem combater o Modernismo, é extremamente necessário que não aja divisão e sobretudo REBELIÃO contra a autoridade legítima;  pois isto, é fazer papel de sapa no próprio exército. Em uma palavra: é, mesmo pretendendo combater o modernismo,  fazer o papel  dos mesmos.  
Uma última observação que é de Santo Agostinho: “In principiis unitas, in dubiis libertas, in omnibus charitas” – Nos princípios unidade, nas coisas livres liberdade, em tudo a caridade. 
 
O modernismo, nos últimos tempos, recebeu o nome de “Progressismo”. É o modernismo colocado em prática através do fator “progresso”. Como vimos na postagem anterior, os modernistas ensinam que a Igreja mostra-se incapaz de defender eficazmente a moral evangélica, porque adere obstinadamente a doutrinas imutáveis, que não podem conciliar-se com o progresso moderno; e o progresso das ciências exige que se reformem os conceitos da doutrina cristã sobre Deus, a Criação, a Revelação, a Pessoa do Verbo Encarnado e a Redenção. Como eles sabem que esta mudança na doutrina, nos dogmas da Igreja, não é aceita pelos católicos, nem mesmo por aqueles que só conhecem o Primeiro Catecismo, usam, então, o disfarce, para assim conseguirem uma baldeação ideológica inadvertida. Em outras palavras, não atacam de frente, têm paciência diabólica para trabalhar as mentes aos poucos e de maneira disfarçada. Fazem uma lavagem cerebral mudando as idéias tradicionais, aos poucos, sem a pessoa perceber. Agem mais através dos ambientes que vão criando com imprecisões de linguagem e termos ambíguos. Há, no entanto, um critério para surpreendê-los, critério este que não falha. Qual é? É o seguinte: Todas as suas imprecisões , ambiguidades,  novos formulários, etc., obedecem à mesma direção. Operam no sentido de afastar os fiéis da Tradição, das fórmulas tradicionais, dos limites precisos entre a verdade e o erro, dos costumes elaborados lenta e seguramente pelos séculos de Cristianismo, de tudo enfim que indique, sem o menor perigo de engano, o Cristianismo ortodoxo, a fidelidade à Revelação e ao Espírito de Jesus Cristo.

Continuar lendo

AS MARCAS DA “IGREJA MUNDIAL”

O famoso teólogo jesuíta Karl Rahner, que foi um dos pais da hermenêutica da “descontinuidade” em uma conferência na cidade de Bruxelas, afirmava que “a partir do Concílio, a Igreja se tornava mundial”
RM

Karl Rahner dá as pistas da verdadeira finalidade progressista revolucionária imanente no Concílio Vaticano II: “O Concílio é naturalmente uma indicação muito abstrata e formal daquilo que vai se formando até que se configure totalmente esta Igreja Mundial”

Carmelitas Eremitas — El Ermitaño / Sensus Fidei: O Concílio Vaticano II fez surgir, segundo alguns teólogos, uma nova Igreja. A partir deste tempo, já não se deveria chamar a Igreja de Católica, mas sim de Igreja Mundial (!) A antiga Una e santa Igreja Católica caracterizada pela cultura Greco-romana, não teria mais vez no mundo da pós-modernidade… Chegara, portanto o tempo de surgir uma Igreja nova e pluralista, aberta a todas as culturas e religiões que deveria suceder a esta antiga Igreja e se impor em todos os ambientes eclesiásticos.

O famoso teólogo jesuíta Karl Rahner, que foi um dos pais desta hermenêutica da “descontinuidade” em uma conferência na cidade de Bruxelas, afirmava que “a partir do Concílio, a Igreja se tornava mundial”. Assim, continua dizendo que “neste Concílio ainda que de maneira germinal e obscura se proclama uma passagem da Igreja Ocidental para a nova Igreja Mundial.” “O Concílio é naturalmente uma indicação muito abstrata e formal daquilo que vai se formando até que se configure totalmente esta Igreja Mundial.” E no decorrer de suas afirmações podemos identificar as marcas dessa nova Igreja preconizada por esse ideal liberalista: Continuar lendo

A ASCENSÃO DOS NEO-CASUÍSTAS

Por Christopher A. Ferrara

Entre os Bispos só se ouve o cantar dos grilos, enquanto Francisco alegremente vai seguindo em frente. “Sou por natureza inconsciente e por isso sigo em frente”, foi o que Francisco disse despreocupadamente a um grupo de estudantes no Vaticano, em Maio passado.

No entanto, os leigos e alguns sacerdotes corajosos estão a crescer em número para fazerem soar o alarme sobre o curso temerário deste Pontificado. Uma nova voz importante a este respeito é nada mais nada menos que a de Monsenhor Michel Schooyans, que foi conselheiro próximo do Papa João Paulo II e confidente do Papa Bento XVI, e que, como relata o LifeSiteNews, “emitiu uma advertência grave sobre a atual trajetória da Igreja Católica.”

O Life Site News publicou um relatório feito por Schooyans cujas conclusões não poderiam ser mais arrasadoras para o mito do Pontificado Bergogliano de “misericórdia” e “simplicidade” que deixa para trás o “rigorismo” farisaico do passado. Pelo contrário, Schooyans adverte que o Sínodo sobre a Família “revelou… um profundo mal-estar na Igreja” cujos sintomas incluem “debates recorrentes sobre a questão das pessoas divorciadas e re-casadas, modelos de famílias, o papel das mulheres, o controle da natalidade, as ‘barrigas de aluguer’, a homossexualidade, a eutanásia”. Pura e simplesmentediz Schooyans —“A Igreja é desafiada até aos seus fundamentos.” Continuar lendo

O CONCEITO DE LIBERDADE RELIGIOSA NA “DIGNITATIS HUMANAE” DO CONCÍLIO VATICANO II

Dom Antônio de Castro Mayer

Em matéria de liberdade religiosa na ordem civil, três pontos capitais, entre outros, são absolutamente claros na tradição católica:

1. Ninguém pode ser obrigado pela força a abraçar a fé;

2. O erro não tem direitos;

3. O culto público das religiões falsas pode, eventualmente, ser tolerado pelos poderes civis, em vista de um maior bem a obter, ou de um maior mal a evitar, mas de si deve ser reprimido, mesmo pela força, se necessário.

É o que se depreende, por exemplo, dos seguintes documentos:

PIO IX, Encíclica “Quanta Cura”:

“E contra a doutrina da Sagrada Escritura e dos Santos Padres, (os seguidores do naturalismo) não temem afirmar que “o melhor governo é aquele no qual não se reconhece ao poder político a obrigação de reprimir com sanções penais os violadores da religião católica, a não ser quando a tranqüilidade pública o exija”. Desta idéia absolutamente falsa do regime social não receiam passar a fomentar aquela opinião errônea e mortal para a Igreja Católica e a salvação das almas, chamada por nosso predecessor de feliz memória, Gregório XVI, loucura, a saber que “a liberdade de consciência e de cultos é um direito próprio de cada homem, que deve ser proclamado e garantido em toda sociedade retamente constituída (BAC, Doutrina Pontifícia, II documentos políticos, 1958, p. 8)”.

“Syllabus” de PIO IX:

“77. Na nossa época não é mais necessário que a religião católica seja considerada como a única religião do Estado, excluídos os outros cultos.

“78. Por isso é de louvar que em regiões católicas, se tenha providenciado por lei, que aos imigrantes naquelas regiões se permita o culto público próprio deles.” (BAC, ib. p. 37). Continuar lendo

CARACTERÍSTICA DA NOVA IGREJA: A RELIGIÃO DO HOMEM

Ou pela dificuldade do empreendimento, ou por uma concessão ao espírito do tempo, o fato é que, na execução do plano traçado pelo Concílio, em largos meios eclesiásticos, o esforço na adaptação foi além da simples expressão mais ajustada à mentalidade contemporânea. Atingiu a própria substância da Revelação. Não se cuida de uma exposição da verdade revelada, em termos em que os homens facilmente a entendam; procura-se, por meio de uma linguagem ambígua e rebuscada, mais propriamente, propor uma nova Igreja, ao sabor do homem formado segundo as máximas do mundo de hoje. Com isso, difunde-se, mais ou menos por toda parte, a idéia de que a Igreja deve passar por uma mudança radical, na sua Moral, na sua Liturgia, e mesmo na sua Doutrina. Nos escritos, como no procedimento, aparecidos em meios católicos após o Concílio, inculca-se a tese de que a Igreja tradicional, como existira até o Vaticano II, já não está à altura dos tempos modernos. De maneira que Ela deve transformar-Se totalmente.

E uma observação rápida, sobre o que se passa em meios católicos, leva à persuasão de que, realmente, após o Concílio, existe uma nova Igreja, essencialmente distinta daquela conhecida, antes do grande Sínodo, como única Igreja de Cristo. Com efeito, exalta-se, como princípio absoluto, intangível, a dignidade humana, a cujos direitos submetem-se a Verdade e o Bem. Semelhante concepção inaugura a religião do homem. Continuar lendo

MEU DEUS, MEU DEUS! ATÉ QUANDO?

Papa: “A Igreja deve pedir perdão aos gays”. E sobre Lutero: “Ele foi um reformador, tinha boas intenções”.

Francisco a todo vapor no vôo da Armênia: “Bento XVI  é Emérito, mas o Papa é um só”. “Depois do Brexit, é necessário uma União Europeia menos maciça”. E responde ainda aos ataques de Ancara: “Os armênios? Eles não conheciam outra palavra senão genocídio.”

Por La Repubblica | Tradução: FratresInUnum.com: “Pedimos perdão por termos marginalizado os gays. Martinho Lutero foi um reformador. Bento é Emérito, mas o Pontífice é um só”. É um Papa a todo vapor aquele que se entretém com os jornalistas no vôo da Armênia. Francisco encontra tempo para falar até da União Europeia após o referendo sobre Brexit e para voltar ao tema do genocídio armênio, que causou a forte reação da Turquia. E são todas as palavras destinadas a causar controvérsia.

224526713-ef385206-b78f-4edd-82f6-bc3fa6b6a879“A Igreja pede perdão aos gays e não apenas a eles”.”Eu acredito que a Igreja não só deve pedir perdão aos gays, mas deve pedir perdão também aos pobres, às mulheres estupradas, as crianças exploradas no trabalho, deve pedir perdão por ter abençoado tantas armas. Os cristãos devem pedir perdão por terem acompanhado tantas escolhas erradas”. Assim Papa Francisco, no vôo de regresso de Yerevan, respondeu quando perguntado se ele concorda com o cardeal Reinhard Marx, que em uma conferência internacional em Dublin disse que a Igreja deveria pedir perdão à comunidade gay. “Eu disse em minha primeira viagem e repito, aliás repito o Catecismo da Igreja Católica – disse o Papa -: os homossexuais não devem ser discriminados, devem ser respeitados, acompanhados pastoralmente.  Se pode condenar qualquer manifestação ofensiva aos outros, mas o problema é que, com uma pessoa com aquela condição, que tem boa vontade e que busca a Deus, quem somos nós para julgar? Devemos fazer um bom acompanhamento – acrescentou – é o que diz o Catecismo. Então, em alguns países e tradições, existe outra mentalidade, alguns que tem uma visão diferente sobre este problema “.

“As intenções de Lutero não eram erradas”. “Eu creio que as intenções de Martinho Lutero não eram erradas. Ele foi um reformador”. Estas são as palavras do Papa Francisco no vôo de regresso da capital armênia, Yerevan, e responde também a uma pergunta sobre a viagem que o Papa fará a Lund, Suécia, para o 500º aniversário da Reforma Protestante. “Talvez – continuou o Papa – os métodos foram errados. Mas a Igreja não era nenhum modelo a ser imitado: havia corrupção, mundanismo, lutas de poder”. Respondeu ele dando um passo adiante para criticá-la.  “Em seguida, verificou-se que ele não estava sozinho  pois Calvino e os príncipes alemães queriam o cisma.  Devemos colocar-nos na história desse tempo, não é fácil de compreender hoje – continua o Papa – buscamos retomar a estrada para nos encontrarmos novamente depois de 500 anos.  Rezar juntos e trabalharmos em conjunto para os pobres. Mas isso não é suficiente. O dia da plena unidade, dizem alguns, é o dia depois da vinda do Filho do Homem. No entanto, nós temos que orar, dialogar e trabalhar em conjunto por tantas coisas, como na luta contra a exploração das pessoas.No plano teológico, finalmente, estamos de acordo com os luteranos sobre o tema da Justificação. O documento conjunto sobre esta questão é um dos mais claros. Os irmãos -assim, concluiu o Papa- se respeitam, se amam”.

“Há apenas um Papa, Bento é Emérito”. “Há apenas um Papa. O outro, Bento XVI é um papa emérito, uma figura que antes não existia e que ele, com coragem, oração, ciência, e até mesmo teologia, abriu o caminho. Eu nunca esqueci o discurso que ele fez aos cardeais em 28 de fevereiro, há três anos atrás: “entre vocês com certeza está o meu sucessor, a ele eu prometo obediência”. E assim o fez.”. Assim Papa Francisco respondeu aos repórteres sobre as declarações de Mons. Georg Gaenswein sobre o ministério petrino, que agora seria compartilhado entre dois papas, um ativo e outro contemplativo. “Eu não li as declarações, eu não tive tempo para ver essas coisas”, assim disse Francisco. “Bento é o Papa emérito – disse ele. – Ele disse claramente naquele 11 de fevereiro, que sua demissão seria efetiva em 28 de fevereiro, que se retirava para ajudar a Igreja com a oração. E Bento XVI está no seu mosteiro, rezando. Eu fui vê-lo, eu de vez enquanto falo com ele ao telefone. Outro dia mesmo ele me escreveu uma cartinha, com aquela assinatura sua, desejando-me boa viagem à Armênia.  Mais de uma vez- recordou o Pontífice- eu disse que é um graça ter em casa um sábio. Até disse isso pra ele e ele riu. Ele pra mim é o Papa emérito e o avô sábio, é o homem que sustenta as costas e a coluna com a sua oração. Depois eu ouvi falar,  pois me contaram, mas eu não sei se é verdade, porém se encaixa bem com seu caráter, que alguns foram lá para se queixar de mim com ele: “… mas este Papa … ‘, e ele os expulsou de lá…no melhor estilo bávaro, educado, mas os expulsou. Este homem é assim, um homem de palavra, é um homem reto, reto. É o Papa Emérito “.

“A Europa após Brexit precisa de uma união menos maciça.” “Há um ar de divisão, não só na Europa.  Dentro dos próprios países:.. a Catalunha e a Escócia no ano passado. Há algo errado nesta União ‘enorme’: talvez seja necessário pensar em uma nova forma de união, mais livre. Mas não se deve jogar fora o bebê com a água suja do banho “. Assim o Papa, no vôo de Yerevan respondeu sobre Brexit e os perigos de desintegração da Europa. “Essas divisões – disse o Papa – não digo que são perigosas, mas precisamos estudá-las bem e antes de tomar um passo adiante conversarmos bem entre nós, e buscar soluções viáveis”.  Francisco disse que ele não havia estudado o “porque o Reino Unido quis tomar essa decisão. Mas há divisões por independência, que são feitas para a emancipação, como os dos Estados que eram colônias, e há secessões. Um passo que, no caso da União Europeia, deve ser dado para recuperar a força de suas raízes, um passo de criatividade, e até mesmo de saudável “desunião”, dar mais liberdade aos países da UE pensar uma outra forma de União”.  “Seja criativo – afirmou ele- em postos de trabalho, na economia, é impensável que em países como a Itália, há tantos jovens fora do mercado de trabalho.  Há algo errado nesta União ‘maciça’.  Mas não vamos deitar fora o bebê com a água do banho.Precisamos recriar – concluiu – Recriar é algo que sempre precisa ser feito. E isso dá vida e vontade de viver. Dá fecundidade. Para a União Europeia, na minha opinião há duas palavras-chave: criatividade e fecundidade…”

“Os armênios? Não conhecem outra palavra senão genocídio”. “Na Argentina, sempre que se fala sobre o extermínio dos Armênios se usava a palavra genocídio. Não conheci outra. Só que quando eu vim para Roma ouvi outra palavra, o” grande mal “, a terrível tragédia … E me disseram que a outra era ofensiva “. Assim disse o Papa respondendo sobre a reação turca às suas declarações sobre a perseguição do povo armênio. “Por causa do meu passado com esta palavra, por já tê-la usado publicamente, seria muito estranho se eu não a tivesse usado na Armênia.  Mas eu nunca falei com espírito de ofensa. Eu sempre falei de três genocídio no século passado..: o primeiro Armênio, o segunda o de Hitler e o último, o de Stalin. Houveram outros, como na África, mas estes foram os que aconteceram no âmbito de duas grandes guerras “, disse o pontífice. “Eu me perguntava porque há alguns que acham que este não foi um verdadeiro genocídio. Um advogado me disse algo que me impressionou muito, que” genocídio “é um termo técnico, tem sua tecnalidade, não é sinônimo de extermínio. Pode-se dizer extermínio, mas o genocídio implica que são necessárias ações de reparação”.

O DEVER DA DESOBEDIÊNCIA

lefTendo o Reitor do Seminário de Ecône, Padre Lorans, pedido que eu colaborasse na redação deste número da “Lettre aux Anciens”, pareceu-me útil relembrar o que escrevi em 20 de janeiro de 1978 sobre algumas objeções que nos fizeram, relativas à nossa atitude face aos problemas que a atual situação da Igreja levanta.

Uma das perguntas era: Como o senhor concebe a obediência ao Papa? Eis a resposta dada há dez anos:

Os princípios que determinam a obediência são conhecidos e são tão conformes com a razão e com o senso comum, que podemos perguntar como é que pessoas inteligentes podem afirmar que “preferem enganar-se com o Papa do que estar na Verdade contra ele“.

Não é isso que nos ensinam a lei natural e o Magistério da Igreja.

A obediência supõe uma autoridade que dá uma ordem ou decreta uma lei. As autoridades humanas, mesmo sendo instituídas por Deus, apenas têm autoridade para atingir o fim determinado por Deus, e não para dele se desviarem. Quando uma autoridade usa o seu poder em oposição à lei pela qual esse poder lhe foi dado, não tem direito à obediência, e devemos desobedecer-lhe.

Essa necessidade de desobediência é aceita em relação ao pai de família que encoraja a filha a prostituir-se, ou em relação à autoridade civil que obriga os médicos a provocarem abortos e a matarem inocentes. Porém, a autoridade do Papa é aceita a qualquer preço, como se o Papa fosse infalível no seu governo e em todas as suas palavras. É desconhecer a história e ignorar o que é, na realidade, a infalibilidade.

Já São Paulo teve que dizer a São Pedro que ele “não andava direito segundo a verdade do Evangelho” (Gal. II,14). E o mesmo São Paulo encorajou os fiéis a não lhe obedecerem se lhe acontecesse pregar um Evangelho diferente daquele que lhes tinha ensinado anteriormente (Gal. I,8).

São Tomás, quando fala da correção fraterna, alude à resistência de São Paulo face a São Pedro, e comenta-a assim: “Resistir na cara e em público ultrapassa a medida da correção fraterna. São Paulo não o teria feito em relação a São Pedro se não fosse de algum modo o seu igual (…). No entanto, é preciso saber que, caso se tratasse de um perigo para a Fé, os superiores deveriam ser repreendidos pelos inferiores, mesmo publicamente. Isso ressalta da maneira e da razão de agir de São Paulo em relação a São Pedro, de quem era súdito, de tal forma, diz a glosa de Santo Agostinho, que ‘o próprio Chefe da Igreja mostrou aos superiores que, se por acaso lhes acontecesse abandonarem o reto caminho, aceitassem ser corrigidos pelos seus inferiores’” (S. Tomás., Sum. Theol. IIa-IIae, q. 33, art. 4, ad 2m). Continuar lendo

AMORIS LAETITIA NA VIDA REAL

Fonte: DICI/FSSPX – Tradução: Dominus Est

Em um boletim da paróquia Sainte-Anne de Chicoutimi, no Canadá, pudemos ver, abril passado, os reais efeitos da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia. A Festa da Fidelidade, que até agora comemorava as bodas de  prata e ouro de casais nesta paróquia, a princípio Católica, em Quebec, foi substituída por uma “Celebração do Amor”, anunciada da seguinte forma:

“Queremos agora saudar todos os casais que desejam celebrar seu amor e renovar seu compromisso a dois, independentemente do tipo do seu compromisso (casamento católico, casamento civil, cônjuges de direito ou parceiros do mesmo sexo) e qualquer que seja o número de anos (1 ano, 8 anos, 25 anos, 57 anos, 62 anos). Consideramos o compromisso de todos os casais são importantes. “

Sejamos claros: isso não é uma celebração do amor, mas ao invés disso uma celebração igualitária do matrimônio sacramental, do concubinato legal, da união livre e das coabitações homossexuais. Todos os casais são colocados no mesmo nível, todos presumivelmente tendo o mesmo valor exemplar.

Esta não é uma celebração do amor, é o amor da festa própria e para o próprio bem, desprovido de qualquer conteúdo objetivo. Tudo o que importa é o compromisso pessoal, sentimento subjetivo, e uma franca liberdade da verdade Evangélica sobre o matrimônio.

Dessa forma é vivida concretamente, na vida real, a Exortação Pós-Sinodal Amoris. Já não sendo  “A Alegria do Amor”, mas o amor da alegria, emancipado da verdade do Evangelho do matrimônio. Uma triste alegria.

Abbé Alain Lorans

A “BRINCADEIRA COMEÇOU SÉRIA”: CORO DA CAPELA SISTINA NA IGREJA DE LUTERO

Fonte: SSPX USA – Tradução: Dominus Est

No dia 18 de Maio de 2016, o coro da Capela Sistina, fundada há 1600 anos pelo Papa São Gregório, o Grande, apresentou um concerto em Wittenberg, norte da Alemanha, na igreja de Martinho Lutero (1483-1546). No contexto dos 500 anos da Reforma, em 2017, a presença do coro da Basílica de São Pedro em Roma, na Igreja de St. Mary onde Lutero pregou, assume um aspecto musical “ecumênico”.

A Reforma data do dia em que Martinho Lutero apresentou as 95 teses ao arcebispo de Mainz, em protesto contra a Igreja Católica, colocando-as na porta da igreja de Wittenberg, em 31 de Outubro de 1517. Ao fim da Semana de Oração pela Unidade dos cristãos, em 25 de Janeiro de 2016, a Sala de Imprensa da Santa Sé anunciou que o Papa Francisco viajaria para a Suécia em outubro de 2016, a fim de participar de uma celebração ecumênica pelo aniversário da reforma protestante. Em 31 de outubro, na cidade de Lund, na Suécia, onde a Federação Mundial Luterana foi fundada em 1947, o Papa participará de uma celebração conjunta organizada pela Igreja Luterana da Suécia e da Diocese Católica de Estocolmo, um ano antes do dia do aniversário do início da Reforma lançada por Martinho Lutero.

No entanto, “nós católicos não temos motivo para comemorar o dia 31 de outubro de 1517, a data considerada como de início da Reforma, que resultou na ruptura do cristianismo ocidental“, segundo o cardeal Gerhard Ludwig Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em uma entrevista em formato de livro chamada Entrevista sobre a esperança. Diálogo com o Cardeal Gerhard Ludwig Müller, publicado em março de 2016 pela Biblioteca de Autores Cristianos (BAC), da Espanha. O cardeal alemão recorda que:

“…Se estamos convencidos de que a revelação divina está preservada inteira e inalterada na Escritura e na Tradição, na doutrina da Fé, nos sacramentos, na constituição hierárquica da Igreja por direito divino, fundada no sacramento da Santa Ordem, então não podemos aceitar que há razões suficientes existentes para separar-se da Igreja “.

O LINGUAJAR REVOLUCIONÁRIO DO PAPA FRANCISCO

francisco3

Fonte: Corrispondenza Romana – Tradução: Dominus Est

Na história da Igreja houveram numerosos Papas “reformadores”, mas ao que parece Bergoglio pertence a outra categoria, inédito até agora entre os pontífices romanos: aquela dos revolucionários.

Os Reformadores se propunham a restituir na doutrina e na moral a pureza e integridade original e neste ponto de vista, podem ser chamados também de tradicionalistas.

Tais foram, por exemplo, Pio IX e Pio X. Os revolucionários, ao contrário, são aqueles que querem fazer uma cisão entre o passado e o presente, colocando em um futuro utópico o ideal que aspiram. A ruptura do Papa Francisco com o passado é mais de ordem linguística do que doutrinal, mas em uma época em que imperam os meios de comunicação, a linguagem possui uma capacidade transformadora superior a todas as ideias que necessariamente veicula. Não é por acaso que, na conferência do anuncio da exortação pontifícia Amoris laetitia, o cardeal Schönborn mesmo a definiu como “um evento linguístico“.

A escolha de um determinado estilo de linguagem, expresso através de palavras, gestos e também omissões, implica um modo de pensar e transmite implicitamente uma nova doutrina. Agora, a pretensão de operar uma revolução linguística negando que seja também uma revolução doutrinária leva necessariamente à confusão. E a confusão, a desorientação e certa esquizofrenia, parecem ser a marca do atual pontificado. Continuar lendo

A TROCA DE CARTAS ENTRE FRANCISCO E O HERESIARCA HANS KUNG

O teólogo Küng havia escrito a Bergoglio pedindo-lhe uma reflexão: “Ele respondeu-me com uma carta fraterna, apreciando as minhas considerações. Ele não colocou limites à discussão sobre o dogma  sancionado pelo Primeiro Concílio do Vaticano e pelo Papa Pio IX em 18 de julho de 1870”.

Hans Kung

Hans Kung

Por Gian Guido Vecchi, Corriere della Sera | Tradução:FratresInUnum.com –  Hans Küng diz que a carta de Francisco, datada de 20 de Março, foi entregue através da nunciatura em Berlim.  Uma carta “que responde ao meu pedido para uma discussão livre sobre o dogma da infalibilidade” do Papa. “Ele respondeu de um modo muito fraterno, em espanhol, dirigindo-se a mim como Lieber Mitbruder, ou seja, querido irmão, e estas palavras pessoais estão em manuscrito”, disse Küng. O grande teólogo suíço, “pela consideração que tenho ao Papa” não cita frases do pontífice. Mas ele diz que “Francisco não estabelece quaisquer limites para a discussão“, ele “apreciou” suas observações. E com espanto indisfarçável ele aponta como é “importante para mim“, o fato de que ele respondeu pessoalmente, e acima de tudo, “não deixou, por assim dizer, cair no vazio o meu texto.”

Na verdade, o texto, dirigido a um papa, foi imperativo: “Imploro Papa Francisco, que sempre me respondeu de uma forma fraternal: receba essa extensa documentação e consinta em nossa Igreja uma discussão livre, aberta e sem preconceitos sobre todas as questões pendentes e removidas relacionadas com o dogma. Não se trata de um relativismo banal que mina os fundamentos éticos da Igreja e da sociedade. E nem mesmo de um dogmatismo rígido e tolo amarrado a uma interpretação literal. Está em jogo o bem da Igreja e do ecumenismo”.  Küng já tinha tornado esse texto público e traduzido em várias línguas, no dia 9 de Março.  Ao aproximar-se de seus 80 anos de aniversário, “como teólogo e até o final dos meus diasnutro uma profunda simpatia pelo papa e por sua ação pastoral”. O  pensador suíço levantou novamente “um apelo que muitas outras vezes levantei durante um década de longa discussão”. Continuar lendo

A INFILTRAÇÃO DO MODERNISMO NA IGREJA – PARTE 5

5A influência dos comunistas em Roma

É preciso ler o livro Moscou e o Vaticano, do padre jesuíta Lepidi. É extraordinário. Ele mostra a influência que têm os comunistas em Roma e como eles chegam a fazer nomear bispos e até dois cardeais: o Cardeal Lekaï e o Cardeal Tomaseck. O primeiro, sucessor do Cardeal Mindszenty. O segundo, sucessor do Cardeal Beran, que foram heróis e mártires da Fé. Em seus lugares puseram os padres da Pax, ou seja, pessoas decididas, antes de mais nada, a se entenderem com os governos comunistas e que perseguem os padres tradicionais. Os padres que vão secretamente batizar alguém no interior ou fazer o catecismo escondido para continuar sua obra de pastores da Igreja Católica, são perseguidos por estes bispos que lhes diz: vocês não têm o direito de não respeitar as ordens dos governos comunistas. Vocês nos atrapalham agindo assim.

Esses padres estão prontos a dar suas vidas para preservar a fé de seus filhos, para preservar a fé das famílias, para dar os sacramentos aos que têm necessidade. É claro que nestes países é preciso sempre pedir autorizações, quando vão levar o Santíssimo Sacramento nos hospitais ou para qualquer outra coisa. Se eles saem de suas sacristias têm de perguntar ao P.C. se lhes autoriza. É impossível. As pessoas morrem sem sacramentos; as crianças não são mais educadas de modo cristão. Por isso eles fazem escondido. E quando eles são presos, são os próprios bispos que os perseguem. É assustador.

Não seriam o Cardeal Wyszynski, nem o Cardeal Slipyi, nem o Cardeal Mindszenty, nem o Cardeal Béran que fariam algo parecido. Eles, ao contrário, empurravam seus bons padres dizendo: vamos, partam. Se forem para a prisão terão feito seu dever de padre. Se for para serem mártires, sejam mártires.

Isso mostra a influência exercida sobre Roma e que temos dificuldade de imaginar. É difícil de acreditar. Continuar lendo

A INFILTRAÇÃO DO MODERNISMO NA IGREJA – PARTE 4

4Infiltrados na Igreja para destruí-la

Sim, eu sou um rebelde. Sim, eu sou um dissidente. Sim, eu sou um desobediente dessa gente, dos Bugnini. Porque são eles que se infiltraram na Igreja para destruí-la. Não é possível fazer de outro modo.

Então, vamos contribuir para a destruição da Igreja? Vamos dizer: sim, sim, amém, mesmo se é o inimigo que penetrou até junto do Santo Padre e que pode fazê-lo assinar o que ele quer? Sob quais pressões? Não sabemos. Existem coisas escondidas que nos escapam, evidentemente. Alguns dizem que é a maçonaria. É possível, eu não sei. Em todo caso, há um mistério. Como um padre que não é cardeal nem mesmo bispo, um padre ainda jovem naquela época, que subiu contra a vontade do Papa João XXIII, que o tinha expulsado da Universidade do Latrão, que subiu, subiu e que chegou ao topo que se ri do Cardeal Secretário de Estado, que se ri do Cardeal Prefeito da Congregação do Culto, que vai diretamente ao Santo Padre e lhe faz assinar o que ele quer. Nunca se viu nada de parecido na Santa Igreja. Tudo passa sempre pelas autoridades. Faz-se Comissões. Estuda-se os documentos. Mas esse rapaz era todo poderoso!

Foi ele que trouxe esses pastores protestantes para mudar nossa Missa. Não foi o Cardeal Guth. Não foi o Cardeal Secretário de Estado, talvez nem mesmo o Papa. Foi ele. Que tipo de homem era esse Bugnini?

Um dia o Abade de São Paulo fora dos Muros, beneditino que precedeu Bugnini na Comissão de Liturgia, me disse: «Monsenhor, não me fale do Pe. Bugnini; eu sei muito sobre ele. Não me pergunte quem ele é». Eu retomei: «Mas diga-me, porque é necessário que as pessoas saibam, é necessário que as coisas apareçam» «Eu não posso lhe falar do Pe. Bugnini». Logo, ele o conhecia bem. É provável que tenha sido ele que tenha pedido a João XXIII de sair da Universidade do Latrão.

Este conjunto de coisas nos mostra que o inimigo penetrou no interior da Igreja, como já dizia São Pio X; ele está no mais alto cume, como anunciou Nossa Senhora de La Salette, e como está, sem dúvida, no terceiro segredo de Fátima. Continuar lendo

A INFILTRAÇÃO DO MODERNISMO NA IGREJA – PARTE 3

3A Revolução na Igreja

Assim se passou o Concílio. É evidente que todos as teses, todos os textos do Concílio foram influenciados pelos cardeais liberais e as comissões liberais. Não devemos nos espantar que tenhamos tido textos ambíguos, favoráveis a mudanças, a uma verdadeira revolução na Igreja.

Será que nós poderíamos ter feito alguma coisa, nós que representávamos a facção tradicional dos bispos e cardeais? Pouca coisa, em definitivo. Éramos duzentos e cinqüenta favoráveis à permanência da Tradição e desfavoráveis a mudanças de vulto na Igreja: falsa renovação, falso ecumenismo, falsa colegialidade. Nós éramos opostos a essas coisas. Esses duzentos e cinqüenta bispos, evidentemente, tiveram algum peso e, em certas ocasiões, os textos foram modificados. O mal foi um pouco limitado. Mas nós não conseguimos impedir certas teses de passar, particularmente a da liberdade religiosa, cujo texto foi refeito cinco vezes. Cinco vezes a mesma tese voltava. Nós nos opusemos sempre. Havia sempre duzentos e cinqüenta vozes contra. Então o Papa Paulo VI fez adicionar duas pequenas frases no texto, dizendo: «não há nada nesse texto que seja contrário à doutrina tradicional da Igreja» e «a Igreja permanece sempre a verdadeira e única Igreja de Cristo».

Então, os bispos espanhóis, em particular, disseram: «bem, já que o Papa adicionou isso, agora não há mais problema, já que não há nada contra a tradição». Se as coisas são contraditórias, essa pequena frase contradiz tudo o que está no interior do texto. É um esquema contraditório. Não se pode aceitar isso. Então sobraram somente, se eu me lembro bem, setenta e quatro bispos que permaneceram contra. É o único esquema que encontrou uma tal oposição: 74 sobre 2.500, é pouca coisa !

Então terminou o Concílio, não podemos nos espantar com as reformas que foram feitas. Depois de toda a história do liberalismo, os liberais saindo vitoriosos no interior do Concílio, exigiram do Papa Paulo VI lugares nas Congregações romanas. E, de fato, os lugares importantes foram dados aos progressistas. Quando morria um Cardeal, ou numa ocasião qualquer que permitisse ao Papa Paulo VI afastar um cardeal tradicionalista, ele colocava imediatamente um cardeal liberal no seu lugar. Continuar lendo

A INFILTRAÇÃO DO MODERNISMO NA IGREJA – PARTE 2

2À deriva com o Concílio

A mesma coisa para o Concílio. «Tenho a intenção de fazer um Concílio». Já o Papa Pio XII tinha sido solicitado por certos cardeais para reunir um Concílio. Mas ele recusou, estimando que isso seria impossível. Não se pode, dizia ele, na nossa época, fazer um Concílio com 2.500 bispos. As pressões que se pode sofrer do fato dos meios de comunicação social são muito perigosas para que se possa reunir um Concílio. Corre-se o risco de perder o controle. E ele não fez o Concílio.

Mas o Papa João XXIII disse: não se pode ser pessimista; é preciso ver as coisas com confiança. Vamos nos reunir durante três meses, com todos os bispos do mundo inteiro. Começamos em 13 de outubro e entre 8 de dezembro e 25 de janeiro, tudo terminado, todo mundo vai embora e volta para suas casas e acaba-se o Concílio.

E o papa lançou o Concílio! Era preciso prepará-lo. Não se faz um Concílio como um sínodo. Foi preciso prepará-lo dois anos antes. Fui nomeado pessoalmente membro da Comissão Central Preparatória, sendo arcebispo de Dakar e presidente da Conferência Episcopal do Oeste Africano. Eu vim, então, a Roma, durante dois anos, ao menos umas dez vezes, para participar das reuniões dessa Comissão Central Preparatória que era, de fato, muito importante porque para ela todos os documentos das comissões secundárias eram enviados, para serem estudados e submetidos ao Concílio. Havia nessa comissão setenta cardeais e uns vinte arcebispos e bispos, além dos peritos. Mas estes não eram membros da comissão. Estavam lá somente para serem eventualmente consultados pelos membros. Continuar lendo

A INFILTRAÇÃO DO MODERNISMO NA IGREJA – PARTE 1

1Breve História

Fico contente em constatar que no mundo inteiro, no mundo católico, em todo lugar, pessoas corajosas se reúnem em torno de padres fiéis à fé católica e à Igreja Católica, para manter a tradição que é a fortaleza de nossa fé.

Se existe um movimento tão geral é porque a situação da Igreja é verdadeiramente grave. Pois, para que padres, fiéis católicos, aceitem ser tratados de rebeldes, de dissidentes, de desobedientes, mesmo se tratando de bons padres, alguns dos quais já serviram em paróquias durante trinta anos com grande satisfação de seus paroquianos, é para manter a fé católica. Eles o fazem conscientemente no espírito dos mártires.

Ser perseguido por seus irmãos ou pelos inimigos da Igreja, qualquer que seja a mão que bata, por vista que seja contra a manutenção da fé, é sofrer um martírio. Esses padres, esses fiéis, são testemunhas da fé católica. Eles preferem ser considerados como rebeldes e dissidentes a perder a fé.

Nós assistimos, no mundo inteiro, a uma situação trágica, inacreditável, que parece não se ter jamais produzido na história da Igreja. É preciso então tentar explicar esse fenômeno extraordinário. Como podem bons fiéis, bons padres, se esforçarem por manter a fé católica num mundo católico que está em plena dissolução? Foi o Papa Paulo VI, ele mesmo, que falou de autodemolição da Igreja. O que significa esse termo de autodemolição senão que a Igreja se destrói, ela mesma, por ela mesma, por seus próprios membros? É isso o que já dizia o Papa São Pio X na sua primeira encíclica, quando escrevia: «Hoje, o inimigo da Igreja não está mais no exterior da Igreja, está no interior». E o Papa não hesitava em designar os lugares aonde ele se encontrava: «O inimigo se encontra nos seminários». Por conseqüência, já no início do século, o Santo Papa Pio X, na sua primeira encíclica, denunciava a presença de inimigos da Igreja nos seminários. Continuar lendo

PADRES CASADOS. O EIXO ALEMANHA-BRASIL

Publicamos a seguir nossa tradução de matéria de janeiro deste ano, do sempre bem informado vaticanista Andrea Tornielli, no momento em que o site  FratresInUnum.com recebe confirmação segura de que Francisco pretende mesmo tratar do tema do celibato sacerdotal no próximo Sínodo dos Bispos.

Estamos em condições de afirmar que o assunto foi pauta de reunião privativa dos bispos na Assembléia da CNBB de 2015, sendo capitaneado por Dom Cláudio Hummes. Então, o arcebispo emérito pediu que os bispos do Brasil fizessem uma “proposta concreta” a Francisco sobre o tema. A recém-eleita presidência da CNBB não demonstrou nenhum empenho especial pela causa, por conta divisão do episcopado brasileiro a respeito. 

* * *

Padres casados. O eixo Alemanha-Brasil.

Por Sandro Magister, 12 de janeiro de 2016 | Tradução: FratresInUnum.com: No relato de um teólogo alemão e de um bispo brasileiro, o projeto de Francisco visando permitir exceções locais para a norma do celibato clerical. A começar pela  Amazônia.

jpg_1351207Uma troca de cartas, uma entrevista e uma inovação que já se tornou lei vem confirmar a vontade do Papa Francisco de estender na Igreja Católica a presença de um clero casado, como já foi mencionado no seguinte artigo do sitehttp://www.chiesa:

> Il prossimo sinodo è già in cantiere. Sui preti sposati (9.12.2015)

A troca de cartas ocorreu por iniciativa de um teólogo alemão proeminente, Wunibald Müller, de 65 anos que, em dezembro de 2013, escreveu uma carta aberta ao papa, amplamente divulgada pelo site oficial da Conferência Episcopal da Alemanha sob o título “Papa Francisco, abra a porta”,  pedindo-lhe que elimine a obrigatoriedade do celibato para os padres.

Müller não é um qualquer. Ele é psicólogo e escritor prolífico. Fundou e dirige a “Recollectio-Haus” junto à abadia beneditina de Münsterschwarzach, na diocese de Würzburg, a qual se encarrega de cuidar de sacerdotes e religiosos em crise existencial,  e que é financiada por outras sete dioceses (Augsburg, Freiburg, Limburg, Mainz, Mónaco -Frisinga, Paderborn, Rottenburg-Stuttgart). Além disso, a  Recollectio-Haus conta com a consultoria do conselheiro espiritual beneditino, Anselm Grün, muito lido não só na Alemanha, mas no mundo inteiro. Continuar lendo

UMA BREVE CONTRIBUIÇÃO PARA COMPREENDER FRANCISCO I

O papa Francisco tem sido acusado de ser infiel à doutrina da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio e autorizar uma profanação do sacramento da Eucaristia em sua exortação pós-sinodal Amoris laetitia. Embora diga no referido documento manter íntegra a doutrina da Igreja sobre o vínculo matrimonial indissolúvel, o papa procura encontrar uma solução pastoral para os incontáveis filhos da Igreja que vivem a difícil situação de uma segunda união civil irregular à luz da doutrina tradicional. Tentaria, assim, superar uma dicotomia entre entre teoria e prática por meio de um discernimento sapiencial examinando caso a caso, com o fim de não privar do sacramento àqueles que já viveriam na graça de Deus não obstante a falta de um casamento na devida forma canônica.

Como se vê, aos olhos do papa, não há doutrina, não há ciência teológica ou canônica, capaz de explicar toda a realidade. Há casos particulares, há problemas concretos, que não se ajustariam perfeitamente a uma norma universal abstrata. Assim como há um direito natural, consubstanciado em princípios de valor permanente e universal, que se realiza historicamente adaptando-se à índole de cada povo e às suas circunstâncias especiais, originando instituições sociais e políticas peculiares às diversas culturas, assim também a lei moral interpreta-se e aplica-se conforme os dramas existenciais de tantas vidas e famílias despedaçadas, conquanto permaneça sempre válida e imutável como um ideal a ser alcançado, uma luz a guiar o comportamento do homem que jamais será compreendido se se pretender seja padronizado universalmente.

É claro que semelhante compreensão do bispo de Roma para com os filhos da Igreja que deram um passo em falso não guardando o sagrado vínculo do matrimônio e convolando segundas núpcias no âmbito civil soa injuriosa aos ouvidos de uma considerável parcela de católicos que tiveram a infelicidade de um casamento fracassado, que, entretanto, por coerência com a fé e por amor do Reino de Deus, não contraíram uma segunda união ilegítima. Esses católicos coerentes não se comportam como o irmão mais velho da parábola do Filho Pródigo; não são invejosos e mesquinhos recusando compartilhar da alegria do papa pela volta dos filhos à casa paterna. Afinal, os católicos que vivem em adultério não excomungados pela Igreja, são apenas privados da recepção de um sacramento que não só transmite a graça, mas encerra o Autor da Graça. Continuar lendo

AMORIS LAETITIA E A GRANDE FACHADA

A publicação de Amoris Laetitia tem provocado uma tempestade inteiramente previsível de opiniões em competição que oscilam desde “não se vê aqui nada de especial” até “não é magistral”, até “é uma catástrofe” e até “é revolucionária”.

Cada uma destas opiniões é correta. O que significa – e não deveria ser uma surpresa para qualquer erudito na época pós-conciliar – que o que aqui temos é um novo acrescento de grandes proporções à Grande Fachada de novidades eclesiais que não vinculam e de que nunca se viu na Igreja alguma delas antes daquela grande época de iluminação conhecida como ‘Anos 60’. O truque, como se verá, é promulgar a mais recente novidade e deixar as pessoas pensar que vincula a Igreja; e depois, embora realmente não vincule, passa a vincular. Não prestem atenção à verdade por detrás da fachada!

E agora isto: 256 páginas longas e confusas de meditações sobre “A Alegria do Amor”. Um verdadeiro livro cheio de pensamentos confusos dos quais uns poucos são bons pontos católicos, mais inúmeras trivialidades e citações positivamente erróneas de João Paulo II e de São Tomás de Aquino, usadas como pontos principais de um argumento sofista para o “discernimento pastoral” que permitiria dar a Sagrada Comunhão a “alguns” adúlteros públicos em “certos casos” – uma bomba detonada em rodapé, na nota 351, como o Cardeal Baldisseri teve o prazer de nos informar após a explosão. Falando daqueles que a Igreja vira sempre como adúlteros públicos conforme as palavras do próprio Cristo, Baldisseri anunciou na conferência de imprensa introdutória que “o Papa afirma, de um modo humilde e simples, numa nota [nota de rodapé 351], que a ajuda dos Sacramentos também poderia ser dada em ‘certos casos’”.

E o que poderia ser mais humilde do que derrubar a disciplina sacramental bimilenar da Igreja, enquanto se ignoram todos os Seus ensinamentos em contrário? Isto é a própria essência da humildade pontifícia! Do cimo de um Monte Olimpo de verborreia, Francisco atira raios revolucionários cuja própria justificação é aquilo que ele queria ver, mesmo se contradiz redondamente o ensinamento dos seus dois antecessores imediatos, o Catecismo da Igreja Católica, o Código de Direito Canónico, a declaração de 1994 da Congregação para a Doutrina da Fé e, além disso, toda a Tradição sobre a impossibilidade de admitir aos Sacramentos pessoas divorciadas e recasadas enquanto continuarem no seu adultério. Continuar lendo

MAGISTÉRIO CONTRA “MAGISTÉRIO”: PIO XII RESPONDE À “NOVA MORALIDADE” DA LAETITIA AMORIS DO PAPA FRANCISCO

pieXIIFonte: La Porte Latine

Discurso do Papa Pio XII ao Congresso Internacional da Federação Mundial da Juventude Feminina Católica 

O tema do Congresso

Sejam bem-vindas filhas amadas da Federação Mundial da Juventude Feminina Católica. Eu vos saúdo com o mesmo carinho que recebi, há cinco anos em Castel Gandolfo, por ocasião do grande encontro internacional das Mulheres Católicas.

Os estímulos e os sábios conselhos que foram proporcionados a vocês neste Congresso, assim como as palavras que então dirigimos não foram certamente infrutíferos. Sabemos os esforços que neste intervalo vocês têm desenvolvido para atingir os objetivos precisos dos quais vocês tinham uma visão clara. Isso também prova o relatório impresso durante a preparação deste Congresso que fizemos lá: “La Foi des Jeunes – Problème de notre temps”. Suas 32 páginas têm o peso de um grosso volume, e Nós temos analisado com muito cuidado, porque resume e sintetiza os ensinamentos de numerosas questões sobre a situação da fé na juventude católica da Europa, cujas conclusões são altamente instrutivas.

Em muitas das questões levantadas lá, Nós mesmos tratamos em nossa alocução de 11 de setembro de 1947 (1), que vocês assistiram, e em muitos outros discursos antes e depois. Hoje, Nós queremos aproveitar a oportunidade proporcionada por este encontro com vocês para dizer o que pensamos sobre um fenômeno que ocorre em todos os lugares, na vida de fé dos católicos e que afeta um pouco a todos, mas de uma forma particular afeta os jovens e seus educadores, como quando vocês dizem (p. 10): “Confundindo o cristianismo com um código de preceitos e proibições, os jovens têm a impressão de afogar-se nesse clima de “moral imperativa” e não é uma pequena minoria que deixa de lado esse “fardo constrangedor.”

Uma nova concepção da lei moral

Podemos chamar esse fenômeno de “uma nova concepção da vida moral”, uma vez que é uma tendência que se manifesta no campo da moralidade. No entanto os princípios da moralidade se baseiam nas verdades da fé e vocês sabem bem que é importância capital para a conservação e o crescimento da fé que a consciência da jovem se forme o mais cedo possível e se desenvolva segundo as normas morais justas e saudáveis. Assim, a concepção de “nova moralidade cristã” toca muito diretamente o problema da fé dos jovens. Continuar lendo