Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est
Pe. Patrick de la Rocque, FSSPX
A falsa concepção de universalidade da Redenção
Quanto às deformações que o modernismo traz ao dogma da Redenção, pensamos primeiro na falsa concepção que se tem da sua universalidade. Com efeito, para João Paulo II a Redenção realizada por Cristo é universal não somente no sentido de que ela é superabundante para todo o gênero humano e que ela é proposta a cada um de seus membros em particular, mas também porque ela é aplicada de fato a todos os homens tomados individualmente. Se, portanto, por um lado “em Cristo a religião deixa de ser um «procurar Deus como que às apalpadelas» (cf. Atos 17, 27), para se tornar resposta de fé a Deus que Se revela: […] resposta feita possível por aquele Homem único […] e cada homem se torna capaz de responder a Deus”, pelo outro o Papa acrescenta que “nesse Homem responde a Deus a criação inteira”[25]. Esta última expressão merece esclarecimentos. Ela poderia ser entendida de maneira católica se por criação se entendesse o ser humano, um resumo da criação, acrescentando que por criação inteira entendemos cada homem, não no sentido de cada homem em particular, mas de qualquer tipo de homem[26]. Ora, não é essa a interpretação de João Paulo II. Para ele, são todos os homens, ou seja, cada um em particular, que estão unidos a Cristo pelo mistério da Redenção. Ele afirmou isso claramente quando se dirigiu aos povos pagãos: “E no Espírito Santo, cada indivíduo, cada povo tornou-se – através da Cruz e da Ressurreição de Cristo – filho de Deus, participante da vida divina e herdeiro da vida eterna”[27].
Não insistirei aqui neste erro, que me pareceu mais sensato vincular à concepção que João Paulo II tinha da Encarnação. Conforme vimos, é nessa concepção que, segundo o Papa Wojtyla, todos os homens estão incluídos de maneira eficaz: “o homem – todos e cada um dos homens, sem exceção alguma – foi remido por Cristo; e porque com o homem – cada homem, sem exceção alguma – Cristo de algum modo se uniu, mesmo quando tal homem disso não se acha consciente”[28]. Desde esse ponto de vista, a Paixão e a Ressureição de Cristo não trouxeram nada de fundamentalmente novo. Eu destacaria apenas que essa concepção universalista de Redenção não decorre de um mal-entendido ou de uma interpretação injustificada do pensamento de João Paulo II. Ela é admitida por todos, a começar pelos seríssimos membros da Comissão Teológica Internacional, que declaravam em um de seus documentos escritos a pedido de João Paulo II: “Por causa das ações divinas da Encarnação redentora, todos os homens são dotados da dignidade de filhos adotivos de Deus; assim, tornam-se sujeitos e beneficiários da justiça e do supremo ágape”[29]. Continuar lendo