DA IMITAÇÃO DE CRISTO E DESPREZO DE TODAS AS VAIDADES DO MUNDO

Cirineu ajuda a Jesus a carregar a cruzQuem me segue não anda nas trevas, diz o Senhor (Jo 8,12). São estas as palavras de Cristo, pelas quais somos advertidos que imitemos sua vida e seus costumes, se verdadeiramente queremos ser iluminados e livres de toda cegueira de coração. Seja, pois, o nosso principal empenho meditar sobre a vida de Jesus Cristo.

A doutrina de Cristo é mais excelente que a de todos os santos, e quem tiver seu espírito encontrará nela um maná escondido. Sucede, porém, que muitos, embora ouçam frequentemente o Evangelho, sentem nele pouco enlevo: é que não possuem o espírito de Cristo. Quem quiser compreender e saborear plenamente as palavras de Cristo é-lhe preciso que procure conformar à dele toda a sua vida.

Que te aproveita discutires sabiamente sobre a SS. Trindade, se não és humilde, desagradando, assim, a essa mesma Trindade? Na verdade, não são palavras elevadas que fazem o homem justo; mas é a vida virtuosa que o torna agradável a Deus. Prefiro sentir a contrição dentro de minha alma, a saber defini-la. Se soubesses de cor toda a Bíblia e as sentenças de todos os filósofos, de que te serviria tudo isso sem a caridade e a graça de Deus? Vaidade das vaidades, e tudo é vaidade (Ecle 1,2), senão amar a Deus e só a ele servir. A suprema sabedoria é esta: pelo desprezo do mundo tender ao reino dos céus. Continuar lendo

A EDUCAÇÃO RELIGIOSA DOS FILHOS COMEÇA NOS JOELHOS DOBRADOS DA MÃE!

abcA educação não pode ser eficaz sem a instrução religiosa, a qual deve começar nos joelhos da mãe.

Ó mães cristãs, ensinai a vossos filhos a amar a Deus, o Pai nosso bondosíssimo que está no céu… que nos criou …, que nos conserva em vida, que incessantemente nos dá novos benefícios.

Infundi, em seus coraçõezinhos o santo temor de Deus, que sempre está presente, porque está em toda parte, que tudo vê, tudo ouve e a todos recompensa ou castiga.

Oh! inspirai-lhes um grande horror ao pecado, que ofende a Deus, atrai os castigos e merece o inferno. Continuar lendo

FINALIDADE DA CORREÇÃO DOS FILHOS

abcÉ triplice a finalidade da correção, cada uma marcada por valores, ligada à ordem social.

Restaurar a ordem moral

Essencial para qualquer pessoa, este aspecto é ainda mais importante para as crianças, cujo critério para distinguir o bem e o mal, é às vezes, exclusivamente, o modo de agir dos educadores. Se ela cometeu uma falta contra a moral – um pequeno furto, uma desobediência, uma mentira, etc. – , e não lhe exigimos a reparação, pode parecer-lhe não ser mal o que fez. Ou se lhe exigirmos umas vezes, e outras não, causamo-lhes confusão, pois não sabe se o seu ato foi bom ou mau.

Esse sentido de restauração da ordem moral, superior aos homens porque pertence à essencia das coisas, é indispensável à pedagogia da correção.

Emendar a criança

Do interesse pessoal do educando, aqui está o mais importante da correção. No que tange à ordem moral e à social, o trabalho seria mais fácil. A face pedagógica é mais delicada e complexa, porque lida diretamente com a criança. Em que consiste?
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CONÚBIO DA IGREJA COM A REVOLUÇÃO

lefebvre2Na origem da revolução, que é “o ódio de toda a ordem que o homem não estabeleceu e na qual ele não é rei e Deus ao mesmo tempo” encontra-se o orgulho que já tinha sido a causa do pecado de Adão. A revolução na Igreja se explica pelo orgulho de nossos tempos modernos que se crêem tempos novos, tempos em que o homem enfim “compreendeu por si mesmo a sua dignidade, em que tomou uma maior consciência de si mesmo” a tal ponto que se pode falar de metamorfose social e cultural cujos efeitos repercutem sobre a vida religiosa… O próprio movimento da história se torna tão rápido que cada um tem dificuldade em segui-lo… Em poucas palavras, o gênero humano passa duma noção antes estática da ordem das coisas a uma concepção mais dinâmica e evolutiva: daí nasce uma imensa problemática nova que provoca novas análises e novas sínteses”. Estas frases surpreendentes figurando, com muitas outras semelhantes, na exposição preliminar da constituição “A Igreja no mundo deste tempo” auguram mal o retorno ao espírito evangélico; vê-se que este dificilmente sobrevive a tanto movimento e a tantas transformações.

E como compreender o seguinte: ”Uma sociedade de tipo industrial se estende pouco a pouco, transformando radicalmente as concepções da vida em sociedade” senão que se dá como certo o que se deseja ver produzir-se: uma concepção da sociedade que nada terá a ver com a concepção cristã, segundo a doutrina social da Igreja? Tais premissas não poderão senão conduzir a um novo Evangelho, a uma nova religião. Ei-la: “Que eles vivam (os crentes) em união muito estreita com os outros homens de seu tempo e que se esforcem em compreender a fundo suas maneiras de pensar e de sentir, tais como se exprimem na cultura. Que eles unam o conhecimento das ciências e das novas teorias, como as descobertas mais recentes, com os costumes e o ensino da doutrina cristã, para que o senso religioso e a retidão moral caminhem a par, neles, do conhecimento científico e dos incessantes progressos técnicos; eles poderão assim apreciar e interpretar todas as coisas com uma sensibilidade autenticamente cristã” (Gaudium et Spes, 62-6). Singulares conselhos, enquanto que o Evangelho nos manda evitar as doutrinas perversas! E que não se diga que podem ser entendidas de duas maneiras: a catequese atual as entende como queria Schillebeeckx: ela aconselha às crianças freqüentar a escola dos ateus, porque estes têm muito a lhes ensinar e que de resto, para não crer em Deus, eles têm suas razões, que é proveitoso conhecer. Continuar lendo

SERÁ POSSÍVEL COMUNGAR MAL?

abcDiscípulo — Padre, uma vez que admiravelmente me explicou o modo para bem me confessar, e tão maravilhosamente me falou da excelência da confissão bem feita, explique-me também como devo comungar, a fim de evitar o perigo de comungar, mal.

Mestre — Com todo prazer o farei, pois que, se é importante bem confessar-se, mais importante ainda é comungar bem, por se tratar do mais augusto e nobre dos sacramentos.

D — Antes de tudo, Padre, diga-me; Será que existem cristãos que comungam mal?

M — Infelizmente sim… E é coisa tão certa e que nos faz derramar tantas lágrimas o fato de que alguns por falta de fé ou de amor e temor de Deus, ou até por indiferença e maldade, comungam mal, cometendo assim verdadeiros sacrilégios.

D — Será possível, Padre? Custa-me crê-lo.

M — Pode acreditar, porque se trata de uma triste realidade. Sim, há entre os cristãos quem se atreve a isso, levado pela indiferença e pela má fé.

Pobres almas, desgraçadas que assim espezinham Jesus Cristo, em seu Corpo, em sua Alma e em sua divindade. Continuar lendo

NECESSIDADE DA CORREÇÃO DOS FILHOS

Menina-Brava-400x300Pensem-no embora os naturalistas e os pais mais ingênuos ou cegos de mal entendido amor, não há crianças sem defeitos. Por bem dotadas que sejam, sempre o terão. Se muito fortes, as próprias qualidades os trazem consigo. Por isso é de necessidade a correção.

Deus a ordena – “Quem poupa a vara odeia o filho; mas quem o ama corrige-o na hora oportuna” (Pv 13,24). (Não tomemos a palavra ao pé da letra, como apologia do castigo físico… falando a linguagem dos homens do seu tempo, a Bíblia quer inculcar a necessidade da correção, que é o essencial no seu pensamento, sendo o meio a parte acessória. Aqui, como em muitos outros passos da Escritura, devemos lembrar a sua própria advertência: “A letra mata, mas o Espírito vivifica”).

Não poupes a correção à criança” (Pv 13,24). “Aquele que ama o seu filho corrije-o com freqüência, para que se alegre mais tarde” (Eclo 30,1). E São Paulo, escrevendo aos efésios: “E vós, pais, não provoqueis vosso filhos à ira, mas educai-os na disciplina e na correção, segundo o espírito do Senhor” (Ef. 6,4).

A razão a requer – A situação do homem em face da moral não é apenas um dado da fé. Faz parte da Revelação, é fundamental ao Cristianismo, porque o Senhor veio para restituir-nos a graça, perdida na queda do pai da humanidade. São Paulo diz que não faz o bem que quer, e sim o mal que não quer; e sente no corpo uma força que luta contra a força do espírito (Cf. Rm 7,19-23). São Pedro, na sua primeira Epístola, fala igualmente “dos desejos da carne que combatem contra a alma” (2,11).
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“VATICANO II, É O 1789 NA IGREJA”

revolucao-francesaA aproximação que eu faço da crise da Igreja com a Revolução Francesa não é uma simples metáfora. Nós estamos na continuidade dos filósofos do século XVIII e do transtorno que suas idéias provocaram no mundo. Os que transmitiram este veneno à Igreja são os mesmos a confessá-lo. É o cardeal Suenens exclamando: ”o Vaticano II, é o 1789 na Igreja”, e acrescentava, entre outras declarações desprovidas de precauções oratórias: ”Não se compreende nada da Revolução Francesa ou russa se se ignora o antigo regime ao qual elas puseram fim… Igualmente em matéria eclesiástica, uma reação não se julga senão em função do estado de coisas que a precedem.”

O que precedeu e que ele considerava como devendo ser abolido, é o maravilhoso edifício hierárquico que tinha no seu cimo o papa, vigário de Jesus Cristo sobre a terra: ”O concílio Vaticano II marcou o fim duma época, por menos que se recue, ele marcou mesmo o fim de uma série de épocas, o fim de uma era”. 

O padre Congar, um dos artífices das reformas não falava de outra maneira: “A Igreja fez, pacificamente, sua Revolução de outubro.” Plenamente consciente, ele notava: “A declaração sobre a liberdade religiosa diz materialmente o contrário do Syllabus”. Eu poderia citar um grande número de testemunhos deste gênero. Em 1976, o Pe. Gelineau, um dos chefes de fila do centro nacional de pastoral litúrgica, não deixava nenhuma ilusão àqueles que querem ver no novo ordo alguma coisa um pouco diferente do rito que era universalmente celebrado até então, mas nada de fundamentalmente chocante: ”A reforma decidida pelo segundo concílio do Vaticano deu o sinal do degelo… lanços inteiros de muralha desabam… Que não haja engano a respeito: traduzir não é dizer a mesma coisa com outras palavras. É mudar a forma… Se as formas mudam, o rito muda. Se se muda um elemento a totalidade significativa é modificada… É preciso dizer sem circunlóquios: o rito romano tal como nós o conhecemos, não existe mais. Foi destruído” 1 Continuar lendo

LIBERDADE RELIGIOSA, IGUALDADE COLEGIAL, FRATERNIDADE ECUMÊNICA

Liberdade-igualdade-e-fraternidade-imagem-destacadaMas donde provém então que as portas do inferno dirijam neste momento uma tal sarabanda? A história da Igreja foi sempre agitada por perseguições, heresias, conflitos com o poder temporal, pela conduta licenciosa em certas épocas, duma parte do clero, mesmo de alguns papas. Desta vez a crise parece mais profunda, uma vez que atinge a própria fé. O modernismo contra o qual nos chocamos não é uma heresia do mesmo tipo que qualquer outra, mas a cloaca coletora de todas as heresias; as perseguições não provêm somente do exterior, mas do interior do santuário; o escândalo de um clero demissionário ou dissoluto pretende institucionalizar-se, os mercenários que abandonam as ovelhas ao lobo são encorajados e cobertos de honras.

Reprovam-me por vezes o fato de eu denegrir a situação, de lançar um olhar reprovador, por não sei que complacência rabugenta, sobre uma evolução em resumo lógica e necessária. Mas o próprio papa, que foi a alma do Vaticano II, verificou muitas vezes seguidas a decomposição da qual falo com tristeza. A 7 de dezembro de 1969, Paulo VI dizia: “A Igreja se encontra numa hora de inquietude, de autocrítica, dir-se-ia mesmo, de autodestruição. É como uma reviravolta interior, aguda e complexa. Como se a Igreja se golpeasse a si própria.” 

No ano seguinte ele confessava: “Em numerosos domínios, o concílio não nos deu até o presente a tranqüilidade mas antes suscitou perturbações e problemas não úteis à consolidação do Reino de Deus na Igreja e nas almas.”  Continuar lendo

É DIFÍCIL EXCITAR A CONTRIÇÃO PERFEITA?

joelhosAntes de tudo, é verdade que, para a contrição perfeita, se requer mais do que para a imperfeita, que é a de que se necessita para a Confissão.

Contudo, porém, ajudado com a graça de Deus, pode qualquer um alcançar a contrição perfeita, bastando que deveras a deseje, porque a verdadeira contrição está na vontade e não no sentimento. Tudo se reduz a termos o devido motivo de arrependimento, quer dizer, que nos arrependamos porque amamos a Deus sobre todas as coisas e, por seu amor, detestamos os nossos pecados; nisto, e não na duração ou intensidade da dor, está a contrição perfeita.

Digo isto, porque muitas vezes se confunde a contrição perfeita com certa contrição que há, altíssima e sublime, não se advertindo que a contrição perfeita tem seus graus e degraus, e que, para que o seja, não é necessário que chegue à contrição altíssima e firmíssima de São Pedro, de Madalena, de São Luiz Gonzaga e de outros santos: muito bom seria isso, mas não é necessário; um grau mais baixo de contrição perfeita e verdadeira basta para perdoar os pecados.

Além disso, advertirás uma coisa, que me parece te animará e te dará confiança para poderes alcançar a contrição perfeita. Antes de Jesus Cristo, na Lei antiga, por espaço de 4.000 anos, foi a contrição perfeita o único meio que tiveram os homens para alcançarem o perdão dos pecados e entrarem no Céu. E hoje mesmo a milhões e milhões de pagãos e hereges que só e unicamente pela contrição perfeita, podem sair do pecado. Portanto, se é verdade, como é, que Deus não quer a morte do pecador, parece natural que não haja exigido para a contrição perfeita ato demasiadamente difícil, mas antes que esteja ao alcance de todos. Pois, se podem alcançar a perfeita contrição tantos e tantos que vivem e morrem afastados, é verdade que sem culpa sua, da corrente da graça e da Igreja Católica, ser-te-á isto a ti difícil, a ti, que tens a grande dita de ser cristão e católico, a ti, que tens muito mais graças e estás mais instruído do que eles?
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OS CAMARADAS E OS IRMÃOS

alcoResumamos. O bom senso cristão se choca a cada instante com a nova religião. O católico está exposto a uma dessacralização geral; tudo se lhe mudou, adaptou. Faz-se-lhe compreender que todas as religiões trazem a salvação, que a Igreja acolhe indistintamente os cristãos separados e mesmo o conjunto dos crentes, inclinem-se eles diante de Buda ou de Krishna. Explica-se que os clérigos e os leigos são membros iguais do “Povo de Deus” de modo que leigos designados para funções particulares assumem tarefas clericais (vêem-se celebrar sozinhos os enterros e encarregar-se do viático aos doentes, enquanto que os clérigos assumem as tarefas dos leigos, se vestem como eles, vão trabalhar nas usinas, se inscrevem nos sindicatos, fazem política. O novo direito canônico reforça esta concepção. Ele confere prerrogativas inéditas aos fiéis, reduzindo a diferença entre estes e os sacerdotes e instituindo o que chama de “direitos”: teólogos leigos podem ter acesso às cátedras de teologia nas universidades católicas, os fiéis participam do culto divino no que estava reservado a certas ordens menores e à administração de certos sacramentos: distribuição da comunhão, participação no testemunho ministerial, nas cerimônias do casamento.

Fórmula suspeita, pois a doutrina de sempre ensina que a Igreja de Deus é a Igreja Católica.             

De outra parte lê-se que a Igreja de Deus “subsiste” na Igreja Católica. Se se aceita esta formulação recente, pareceria que as comunidades protestantes e ortodoxas façam igualmente parte dela, o que é falso, uma vez que elas se separaram da única Igreja fundada por Jesus Cristo: Credo in unam sanctam Ecclesiam.

O novo direito canônico foi redigido às pressas e na confusão, e a prova disto é que, promulgado em janeiro de 1983, ele conhecia, em novembro do mesmo ano, 114 modificações. Também isto desconcerta o cristão, que tinha o hábito de se referir à legislação eclesiástica, como a qualquer coisa de fixo.
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SANTIFICAÇÃO DAS RELAÇÕES PROFISSIONAIS

profAs relações profissionais são meio de santificação ou obstáculo ao progresso, segundo a maneira como se encaram e desempenham os deveres do próprio estado. Os deveres, que nos impõe a nossa, profissão, são em si conformes a vontade de Deus; se os cumprimos como tais, com intenção de obedecer a Deus e de nos regular segundo as leis da prudência, da justiça e da caridade, contribuem para a nossa santificação. Se, pelo contrário, não temos outro fim em nossas relações profissionais, mais do que granjear honras e riquezas, com desprezo das leis da consciência, convertem-se essas relações numa fonte de pecado e escândalo.

O primeiro dever é, pois, aceitar a profissão a que a Providência nos conduziu como a expressão da vontade de Deus sobre nós e perseverar nela, enquanto não tivermos razões legítimas de mudar. Quis Deus, na verdade, que houvesse diferentes artes e ofícios, diversas profissões, e, se nos encontramos numa delas por uma série de acontecimentos providenciais, podemos crer que é essa, a nosso respeito, a vontade de Deus. Excetuamos o caso em que, por motivos acertados e legítimos, julgássemos dever mudar de situação; tudo o que é conforme a reta razão entra efetivamente no plano providencial.

Assim, pois, patrão ou operário, industrial ou comerciante, agricultor ou financeiro que um seja, o seu dever é exercer a própria profissão, para se submeter à vontade divina, desempenhando-se dela segundo as regras da justiça, da equidade e da caridade. Então nada impede que santifiquemos cada uma das ações, referindo-as ao último fim; o que de forma alguma exclui o fim secundário de ganhar o necessário à própria subsistência e à da família. De fato, houve santos em todas as condições. Continuar lendo

A LIBERDADE RELIGIOSA

assisi_oneb_thumbNo concílio, foi o esquema sobre a liberdade religiosa que suscitou as mais acirradas discussões. Isto se explica facilmente pela influência que exerciam os liberais e pelo interesse que tinham nesta questão os inimigos hereditários da Igreja. Passaram-se vinte anos e é possível ver agora que nossos receios não eram exagerados quando este texto foi promulgado, sob a forma duma declaração que reunia noções opostas à Tradição e ao ensinamento de todos os últimos papas. Tanto isto é verdadeiro que princípios falsos ou expressos dum modo ambíguo têm infalivelmente aplicações práticas reveladoras do erro cometido em adotá-los. Vou mostrar, por exemplo, como os ataques dirigidos contra o ensino católico na França pelo governo socialista são a conseqüência lógica da nova definição dada à liberdade religiosa pelo Vaticano II.

Façamos um pouco de teologia para compreender bem com que espírito esta declaração foi redigida. A argumentação inicial — e nova — fazia repousar a liberdade, para cada homem, de praticar interior e exteriormente a religião de sua escolha, sobre a “dignidade da pessoa humana”. Era, portanto, esta dignidade que fundamentava a liberdade, que lhe dava sua razão de ser. O homem podia aderir a qualquer erro em nome de sua dignidade.

Isto era pôr o carro à frente dos bois, apresentar as coisas pelo avesso. Pois aquele que adere ao erro decai de sua dignidade e, ademais, nada se pode estabelecer sobre o erro. De outra parte, o que fundamenta a liberdade não é a dignidade, mas a verdade: “A Verdade vos tornará livres”, disse Nosso Senhor.

Que se entende por dignidade? O homem a tira, segundo a doutrina católica, de sua perfeição, isto é do conhecimento da verdade e da aquisição do bem. O homem é digno de respeito segundo sua intenção de obedecer a Deus e não segundo seus erros. Estes geram indefectivelmente o pecado. Quando Eva, a primeira pecadora, sucumbiu, disse: ”A serpente me enganou.” O seu pecado e o de Adão acarretaram a degradação da dignidade humana da qual sofremos desde então.
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O GOLPE DE MESTRE DE SATANÁS

Livro onde S.E.R. Dom Marcel Lefebvre fala  sobre a obediência responsável e os frutos da obediência cega.

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GOLPENota: A publicação on-line deste livro tem como único objetivo a divulgação para uso doméstico. Fica proibido o uso para fins comerciais.

O ECUMENISMO

250px-portrait_msg_marcel_lefebvre_1960sExiste, nesta confusão de idéias em que os cristãos parecem comprazer-se, uma tendência particularmente prejudicial à fé e tanto mais perigosa quanto ela se apresenta sob as aparências de caridade. A palavra, que apareceu em 1927 por ocasião dum congresso realizado em Lausanne, deveria por si própria prevenir os católicos se eles se referiam à definição que lhe dão todos os dicionários: ”Ecumenismo: movimento favorável à reunião de todas as Igrejas cristãs numa só.” Não se podem misturar princípios contraditórios, é evidente, não se podem reunir de maneira a fazer deles uma só coisa, a verdade e o erro. A não ser que se adotem os erros e se rejeite toda ou parte da verdade. O ecumenismo se condena por si mesmo.
O termo conheceu uma tal voga desde o último concílio, que penetrou a linguagem profana. Fala-se de ecumenismo universitário, de ecumenismo informático, e lá sei mais ainda, para exprimir um gosto ou uma idéia preconcebida de diversidade, de ecletismo.
 
Na linguagem religiosa, o ecumenismo se estendeu ultimamente às religiões não cristãs, traduzindo-se bem depressa em atos. Um jornal do Oeste nos indica por um exemplo preciso a maneira pela qual se processa a evolução: numa pequena paróquia na região de Cherburgo, a população católica se preocupa com trabalhadores muçulmanos que acabam de chegar para uma construção. É uma atitude caridosa pela qual não se pode deixar de felicitá-los. Numa segunda fase, vemos os muçulmanos pedir um local para festejar o Ramadã e os cristãos oferecer-lhes o sub-solo de sua igreja. Depois começa a funcionar neste lugar uma escola corâmica. No fim de dois anos, os cristãos convidam os muçulmanos a festejar o Natal com eles, “em torno de uma prece comum preparada com extratos dos capítulos do Corão e com versículos do Evangelho. A caridade mal entendida levou estes cristãos a pactuarem com o erro.
 
Em Lille, os dominicanos ofereceram uma capela aos muçulmanos para ser transformada em mesquita. Em Versalhes, pediu-se auxílio financeiro nas igrejas para “a aquisição dum lugar de culto para os muçulmanos”. Duas outras capelas foram-lhes cedidas em Roubaix e em Marselha, assim como uma igreja em Argentenil. Os católicos se fazem os apóstolos do pior inimigo da Igreja de Cristo, que é o Islão e oferecem seus óbulos a Maomé! Há, parece, mais de 400 mesquitas na França e em muitos casos são os católicos que deram o dinheiro para sua construção.

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O SACRIFÍCIO DA SANTA MISSA É O MESMO QUE O SACRIFÍCIO DA CRUZ

missa_tridentina_523A Santa Missa é um sacrifício tão santo, o mais augusto e excelente de todos, e a fim de formardes uma ideia adequada de tão grande tesouro, eis algumas de suas excelências divinas; pois dize-las todas não é empreendimento a que baste a fraqueza da minha inteligência.

A principal excelência do santo Sacrifício da Missa consiste em que se deve considerá-lo como essencialmente o mesmo oferecido no Calvário sobre a Cruz, com esta única diferença: que o sacrifício da Cruz foi sangrento e só se realizou uma vez e que nessa única oblação JESUS CRISTO satisfez plenamente por todos os pecados do Mundo; enquanto que o sacrifício do altar é um sacrifício incruento, que se pode renovar uma infinidade de vezes, e que foi instituído para nos aplicar especialmente esta expiação universal que JESUS por nós cumpriu no Calvário. Assim, o SACRIFÍCIO CRUENTO foi o MEIO de nossa REDENÇÃO, e O SACRIFÍCIO INCRUENTO nos proporciona as GRAÇAS da nossa REDENÇÃO.

Um abre-nos os tesouros dos méritos de CRISTO Nosso Senhor, o outro no-los dá para os utilizarmos.

Notai, portanto, que na Missa não se faz apenas uma representação, uma simples memória da Paixão e Morte do nosso Salvador; mas num sentido realíssimo, o mesmo que se realizou outrora no Calvário aqui se realiza novamente: tanto que se pode dizer, a rigor, que em cada Santa Missa nosso Redentor morre por nós misticamente, sem morrer na realidade, estando ao mesmo tempo vivo e como imolado: Vidi agunum stantem tanquan accisum. (Apoc 5, 6)

No santo dia de Natal, a Igreja nos lembra o nascimento do Salvador, mas não é verdade que Ele nasça, ainda, nesse dia. Continuar lendo

A NOVA TEOLOGIA

lefebvre2As devastações da catequese são visíveis nas gerações que já tiveram que as sofrer. Eu tinha incluído na Ratio Studiorum de meus seminários, como a Sagrada Congregação dos seminários e universidades obrigou desde 1970, um ano de espiritualidade colocado no início dos estudos que duram seis anos. Espiritualidade, isto é, ascetismo, mística, formação na meditação e na oração, aprofundamento das noções de virtude, de graça sobrenatural, de presença do Espírito Santo…
Foi-nos preciso muito pouco tempo para desiludir-nos. Nós nos demos conta de que estes jovens, tendo vindo com um vivo desejo de se tornarem verdadeiros sacerdotes, possuindo uma vida interior mais profunda que muitos de seus contemporâneos e o hábito da oração, não conheciam mesmo as noções fundamentais de nossa fé. Não se lhes haviam ensinado. Durante o ano de espiritualidade, foi preciso ministrar-lhes o catecismo!
 
Eu contei muitas vezes o nascimento do seminário de Ecône. Nesta casa situada no Valais entre Sion e Martigny, estava previsto que os futuros sacerdotes não fariam ali senão este primeiro ano de espiritualidade: em seguida eles seguiriam os cursos da universidade de Friburgo. Se a criação dum seminário completo foi muito rapidamente visada é porque a universidade de Friburgo não assegurava mais um ensino verdadeiramente católico.
 
A Igreja sempre considerou as cátedras universitárias de teologia, de direito canônico, de liturgia e de direito eclesiástico como órgãos de seu magistério ou pelo menos de sua pregação. Ora é coisa certa que atualmente em todas ou quase todas as universidades católicas, não é mais a fé católica ortodoxa que se ensina. Não vejo uma só para fazê-lo nem na Europa livre, nem nos Estados Unidos, nem na América do Sul. Há nelas professores que sob o pretexto de pesquisas teológicas, se permitem emitir opiniões que vão contra nossa fé e não somente em aspectos secundários.

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O CEGO À BEIRA DA ESTRADA

Eustache_Le_Sueur_003Jesus, acompanhado de seus discípulos, após longa caminhada, estava para entrar na cidade de Jericó.

À beira da estrada, não muito longe das habilitações,estava um cego sentado, pedindo esmola. Aquela estrada, uma das mais frequentadas pelos peregrinos, era, certamente, um ponto bem escolhido pelo cego para estender a mão aos transeuntes.

Naquela hora, porém, a esmola que ia receber não era apenas grande, era maior que podia desejar em sua vida.

Ouvindo o tropel de gente que passava, perguntou:

– Que movimento é esse? Quem é que está passando?

– É Jesus de Nazaré, disseram-lhe.

Jesus. Aquele nome não lhe era desconhecido; pelo contrário. Já ouvira falar de muitos milagres operados por ele.
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A DIGNIDADE DO PADRE

abcIdeia da dignidade sacerdotal

Diz Santo Inácio mártir que a dignidade sacerdotal tem a supremacia entre todas as dignidades criadas. Santo Efrém exclama: “É um prodígio espantoso a dignidade do sacerdócio, é grande, imensa, infinita. Segundo São João Crisóstomo, o sacerdócio, embora se exerça na terra, deve contudo ser contado no número das coisas celestes. Citando Santo Agostinho, diz Bartolomeu Chassing que o sacerdote, alevantado acima de todos os poderes da terra e de todas as grandezas do Céu, só é inferior a Deus. E o Papa Inocêncio III assegura que o sacerdote está colocado entre Deus eo homem; é inferior a Deus, mas maior que o homem.

Segundo São Dionísio, o sacerdócio é uma dignidade angélica, ou antes divina; por isso chama ao padre “um homem divino”. Numa palavra, conclúi Santo Efrém, a dignidade sacerdotal sobreleva a tudo quanto se possa conceber. Basta saber-se que, no dizer do próprio Jesus Cristo, os padres devem ser tratados como a sua pessoa: “Quem vos escuta, a mim escuta; e quem voz despreza, a mim despreza” (Lc 10, 16). Foi o que fez dizer ao autor da Obra Imperfeita: “Honrar o sacerdote de Cristo, é honrar o Cristo; e fazer injúria ao sacerdote de Cristo, é fazê-la a Cristo”. Considerando a dignidade dos sacerdotes, Maria d’Oignies beijava a terra em que eles unham os pés.

Importância das Funções Sacerdotais

Mede-se a dignidade do padre pelas altas funções que ele exerce. São os padres escolhidos por Deus, para tratarem na terra de todos os seus negócios e interesses; é uma classe inteiramente consagrada ao serviço do divino Mestre, diz São Cirilo de Alexandria. Também Santo Ambrósio chama ao ministério sacerdotal uma “profissão divina”. Continuar lendo

DO CATECISMO HOLANDÊS A “PIERRES VIVANTES”

mons-marcel-lefebvreNas fileiras católicas eu ouvi freqüentemente e continuo a ouvir esta observação: “Querem impor-nos uma religião nova.” O termo é exagerado? Os modernistas que se infiltraram por todos os lados na Igreja e que comandam o jogo tentaram primeiramente tranqüilizar: “Mas não, vós tendes esta impressão porque formas caducas foram substituídas por outras, por razões que se impunham: não se pode mais rezar exatamente como se fazia antigamente, era preciso sacudir a poeira, adotar uma linguagem compreensível aos homens de nosso tempo, praticar a abertura em direção de nossos irmãos separados… Mas seguramente nada mudou.”
 
Depois eles tomaram menos precauções e os mais ousados passavam mesmo às declarações quer em grupos pequenos diante de pessoas já ganhas à sua causa, quer publicamente. Um padre Cardonell se ufanava bastante anunciando um novo cristianismo no qual seria contestada “a famosa transcendência que faz de Deus o monarca universal” e arrogando-se abertamente o modernismo de Loisy: “Se vós nascestes numa família cristã, os catecismos por vós aprendidos são esqueletos da fé.” “Nosso cristianismo, proclamava ele, aparece o melhor possível de forma neo-capitalista”. O cardeal Suenens, após ter reconstruído a Igreja a seu modo, convocava a “abrir-se ao mais largo pluralismo teológico” e reclamava o estabelecimento duma “hierarquia das verdades” com o que se deveria crer muito, com o que se deveria um pouco e com o que não tinha mais importância.
 
Em 1973, nos edifícios do arcebispado de Paris, o padre Bernardo Feillet ministrava um curso, da maneira mais oficial, dentro do quadro da “formação cristã dos adultos” onde afirmava várias vezes: “Cristo não venceu a morte. Ele foi levado à morte pela morte… No plano da vida, Cristo foi vencido e todos nós o seremos. É que a fé não foi justificada por nada, vai ser este grito de protesto contra este universo que acaba, como dizíamos há pouco, pela percepção do absurdo, pela consciência da condenação e pela realidade do nada.”

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COMO SE EXCITA A CONTRIÇÃO PERFEITA?

contriHás de pressupor que a contrição perfeita é graça e grande graça do amor e misericórdia de Deus; e, se assim é, hás, portanto, de pedi-la com instância. Porém, não te contentes com fazê-lo somente quanto trates de excitar a contrição, porque o desejo de alcançá-la deve ser um dos mais ardentes anseios de tua alma. Pede-a, pois, dizendo: Senhor, dai-me a graça do perfeito arrependimento, da perfeita contrição dos meus pecados. E Deus não te faltará com a sua graça, se tiveres boa vontade.

Posto isto, repara como poderás facilmente conseguir a contrição perfeita.
Põe-te diante de um crucifixo, na igreja ou na casa de tua habitação, ou senão imagina que o tens diante de ti, e, chorando de compaixão à vista das feridas do Senhor, pensa uns momentos com fervor: Quem é este que está pendente da Cruz e sofrendo nela? — É Jesus, meu Deus e Salvador. Que sofre? — As mais terríveis dores no corpo, tem-no ensangüentado e coberto de feridas; a alma, tem-na lacerada pelas dores e afrontas. Por que sofre tudo isso? — Pelos pecados dos homens e… também pelos meus pecados; em meio de suas amarguradas dores, também pensa em mim, também sofre por mim, também quer expiar os meus pecados. — Entretanto, deixa que o sangue redentor do Salvador, quente ainda, caia sobre ti, gota a gota, e pergunta a ti mesmo como tens correspondido ao teu Salvador, tão atormentado por ti.

Pensa um momento, recorda teus pecados, e esquece-te, se quiseres, do Céu, do inferno, e arrepende-te principalmente porque são eles que a tão miserando estado reduziram o teu Salvador; promete-lhe que não tornarás a crucificá-Lo com mais pecados e, por fim, reza, pausadamente e com fervor, acompanhando com sentimento interno, as palavras, a fórmula da contrição.
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CONSIDERAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO DO CORAÇÃO

123A educação do coração é necessária a fim de preparar os jovens para os deveres de família que os esperam. Avida familiar exigirá deles mais tarde a acaitação do sacrifício, recordações adequadas, delicadeza de sentimentos.

Mas o senso do sacrifício seria impossível para um homem cuja infância e juventude fossem entregues ao odioso egoísmo. Pretenderá ele que cabe sempre ao outro ceder. Daí todas as desordens familiares e sociais: desentendimentos, má educação dos filhos, divórcio, adultérios. Obedecendo aos próprios caprichos, torna-se exigente, tirânico, e não pode aceitar o sacrifício, inevitável um dia ou outro em toda vida em comum.

Por outro lado, se o jovem em quem se desenvolvem simultaneamente as paixões e a necessidade de amar, não receber uma educação dos sentidos e dos sentimentos, abandona-se-á às desordens sentimentais e sexuais. A educação sexual é um verdadeiro perigo se se limitar à simples higiene e não abranger a educação da consciência, da vontade e da sensibilidade. Frequentemente os jovens sabidos são os mais pervertidos.

Enfim, a união no matrimônio e a boa educação dos filhos exigem uma grande delicadeza de sentimentos. Mas para que o adolescente a descubra, aprecie e ame suficientemente para compelir seus sentidos, é necessário que suas faculdades sejam orientadas para um amor estável e fecundo, que se lhe ensine a dominar seus próprios sentidos e a pensar na alegria de criar uma família, a ponto de a garantir mediante séria preparação. Continuar lendo

DESEJANDO ASAS!

abcÉ este um desejo real do cantor de Deus nos salmos … Suspira pelas asas das pombinhas para voar até perto de Deus. Muita moça parece viver suspirando pelas asas para qualquer elevamento do nível em que paira. Mas nem todas sabem o que desejam.

Asas de mariposas – assim chamemos às desejadas por certos grupos de jovens. Nelas há fulgores de sol, matizes de flor; agradam, encantam. Em troca, são asas fragilíssimas, delicadíssimas e nada abrigam…

Asas de andorinhas – demos-lhe tal nome às desejadas por outro grupo de moças. São asas ligeiras, irrequietas, em contínuo movimento, eternas desenhistas de caprichosos arabescos. Bem representam a vida que se move, que vai a toda parte. Na atividade febril de seu vôos desconhecem a paz.

Asas de águia – cujo destino é buscar as nuvens, é pairar nas alturas, como se desprezassem o resto do mundo. Parecem agitá-las aquelas jovens desejosas de glórias, de honras, de aplausos. Mas também essas não servem para a felicidade.
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OS NOVOS PADRES

Monsenhor-Lefebvre-322x320Há cada vez menos sacerdotes, é um lugar comum, o homem da rua mais indiferente às questões religiosas é informado disto por seu jornal em intervalos regulares. Faz já mais de quinze anos que aparecia um livro intitulado Amanhã, uma igreja sem padres? Mas a situação é ainda mais grave que parece. Seria preciso acrescentar: Quantos sacerdotes ainda têm fé? E mesmo pôr uma terceira questão: Certos padres ordenados nestes últimos anos, o foram verdadeiramente? De outra maneira, as ordenações, ao menos em parte, são válidas? A dúvida é idêntica à que pesa sobre os outros sacramentos. Ela se estende a certas sagrações de bispos, por exemplo àquela que se realizou em Bruxelas durante o verão de 1982, na qual o bispo sagrante disse ao ordenando: “Sê apóstolo como Gandhi, Helder Câmara e Maomé!” Podem-se conciliar estas referências, ao menos no que concerne a Gandhi e a Maomé, com a intenção evidente de fazer o que quer a Igreja?
 
Eis o fascículo duma ordenação sacerdotal que se desenrolou em Toulouse há alguns anos. Um “animador” começa a celebração apresentando o ordenando, designado por seu nome próprio: C. e dizendo: “Ele decidiu viver (o dom total, que fez a Deus) mais em profundidade, consagrando-se totalmente ao serviço da Igreja na classe operária.” C. efetuou seu “encaminhamento”, ou seja, seu seminário, em equipe. É esta equipe que o apresenta ao bispo: “Nós vos pedimos reconhecer, autenticar o seu proceder e ordená-lo sacerdote. “O bispo lhe faz então várias perguntas consideradas como definição do sacerdócio: Queres ser ordenado sacerdote “para ser, com os crentes, Sinal e Testemunha do que buscam os homens, em seus esforços de Justiça, de Fraternidade e de Paz” “para servir ao Povo de Deus”, “para reconhecer na vida dos homens a ação de Deus em modos de vida, culturas e opções múltiplas”, “para celebrar a ação de Cristo e assegurar este serviço”, queres participar comigo e com o conjunto dos bispos da responsabilidade que nos foi confiada para o serviço do Evangelho”?
 
A matéria do sacramento foi preservada: é a imposição das mãos que se deu a seguir e a forma igualmente: são as palavras da ordenação. Mas se é obrigado a notar que a intenção não é clara. O Padre é ordenado para o uso exclusivo duma classe social e antes de tudo para estabelecer a justiça, a fraternidade e a paz num plano que parece ademais limitado à ordem natural? A celebração eucarística que segue, a “primeira missa”, em suma, do novel sacerdote se processa neste sentido. O ofertório foi composto para a circunstância do momento: “Nós te acolhemos, Senhor, recebendo de tua parte este pão e este vinho que nos ofereces, nós queremos representar com isso todo o nosso trabalho, nossos esforços por construir um mundo mais justo e mais humano, tudo o que tentamos instituir a fim de serem asseguradas melhores condições de vida…” A oração sobre as oferendas é ainda mais duvidosa: “Olha, Senhor, nós te oferecemos este pão e este vinho; que eles se tornem para nós uma das formas de tua presença.” Não, as pessoas que celebram desta maneira não têm a fé na Presença real!

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“AMOR AO OURO” – ESPOSA DO SANTO E PACIENTE JÓ

joQuem não conhece a célebre e bíblica mulher do santo e paciente Jô! Amava-o nos tempos de ventura e, ao vê-lo atirado aos horrores da doença, desprezou-o.

– Que ganhaste com tua vida de caridade e de serviço de Deus, marido? Vamos lá: bendize a Deus e morre!

Foi este o ato de amor da famosa esposa. Por isso, também, um comentador dos Livros Santos assegura que dos flagelos, enviados por Deus ao paciente Jô, foi o maior de todos o haver-lhe deixado … a mulher.

Não quadra na nobreza de uma esposa cristã amar o marido quando ele é feliz, tem saúde, tem fortuna, tem amigos, tem colocação e lhe pode dar vestidos, conforto, etc. Não; ela o amará na doença e nos reveses, seja lá qual for a sua posição social e econômica. Para São Paulo é natural que, ao sofrer a cabeça, compadeçam com ela todas as partes do corpo. Na família é o marido o chefe e cabeça, com direitos para chamar a si o amor compassivo de sua esposa. Quando te dói a cabeça, leitora, pensas em arrancá-la, em assentá-la na parede? E porque desejar mal ao marido quando se torna pesado à casa? Porque convidá-lo a … morrer, na amável linguagem da mulher de Jô? Continuar lendo

O NOVO BATISMO, O NOVO CASAMENTO, A NOVA PENITÊNCIA, A NOVA EXTREMA-UNÇÃO

Lefebvre-1989O católico, seja ele um praticante regular ou um que reencontra o caminho da igreja nos grandes momentos da vida, é levado a fazer-se perguntas no fundo tais como esta: o que é o batismo?
 
É um fenômeno novo: não há muito tempo, qualquer um sabia responder e ademais ninguém lhe perguntava. O primeiro efeito do batismo é a remissão do pecado original, isto se sabia, transmitido de pai para filho e de mãe para filha.
 
Mas eis que não se fala mais disto em parte alguma. A cerimônia simplificada que se realiza na igreja evoca o pecado num contexto tal que parece tratar-se daquele ou daqueles que cometerá o batizado na sua vida e não da falta original com a qual nós todos nascemos carregados.

O batismo aparece por conseqüência simplesmente como um sacramento que nos une a Deus, ou antes, nos faz aderir à comunidade. Assim se explica o rito de “recepção” que se impõe em certos lugares como uma primeira etapa, numa primeira cerimônia. Isto não é devido a iniciativas particulares, uma vez que nós encontramos amplos desenvolvimentos sobre o batismo por etapas nas fichas do Centro nacional de pastoral litúrgica. Chama-se também batismo diferido. Após a recepção, o “encaminhamento”, a “busca”, o sacramento será ou não administrado, quando a criança puder, segundo os termos utilizados determinar-se livremente, o que pode ocorrer numa idade bastante avançada, dezoito anos ou mais. Um professor de dogmática muito apreciado na nova Igreja estabeleceu uma distinção entre os cristãos cuja fé e cultura religiosa ele julga capaz de atestar, e os outros — mais de três quartos do total — aos quais não atribui senão uma fé suposta quando eles pedem o batismo para seus filhos. Estes cristãos “da religião popular” são descobertos no decorrer das reuniões de preparação e dissuadidos de ir além da cerimônia de acolhimento. Esta maneira de agir seria “mais adaptada à situação cultural de nossa civilização”. 

Recentemente, devendo um pároco do Somme inscrever duas crianças para a comunhão solene, exigiu as certidões de batismo, que lhe foram enviadas pela paróquia de origem da família. Ele verificou então que uma das crianças tinha sido batizada mas que a outra não, contrariamente ao que acreditavam os seus pais. Ela havia simplesmente sido inscrita no registro de recepção. É uma das situações que resultam destas práticas; o que se dá é efetivamente um simulacro de batismo, que os fiéis tomam de boa fé pelo verdadeiro sacramento.

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INFLUÊNCIA MASCULINA E FEMININA NA EDUCAÇÃO DA CRIANÇA

familia_catolicaPor serem de compleição diferente, o homem e a mulher não vêem o filho com os mesmos olhos: ele o vê através de sua masculinidade; ela, através de sua feminilidade. Entretanto, essa divergência não é um mal, pois traz como resultado não somente um conhecimento mais completo e aprofundado da criança, como também uma espécie de combinção de influências. Permite ao homem descobrir os métodos que tornarão o educando mais forte, mais corajoso e mais empreendedor; à mulher, os que nele despertarão as delicadezas do sentimento.

Tomemos um exemplo: o filho é obrigado a um esforço penoso. A mãe é inclinada a proporcionar-lhe o auxílio de sua sensibilidade feminina; o pai, o da força que comanda. Se a mãe fosse sozinha, correria o risco de enfraquecer a vontade; se fosse só o pai, talvez quebrasse os impulsos delicados da sensibilidade. Unidos, irão obter um esforço misturado de força e de ternura. Continuar lendo

NADA DE IMPROVISO!

improLendo as páginas de um romance, a sonhadora armou um palco na imaginação, e dentro dele pôs-se a realizar complicados heroísmos, como esposa dedicada. Nisso a mãezinha, lá de dentro de casa, chamou a filha para ajudá-la. E a “heróica” senhorita levantou-se resmungando, mal humorada, e foi fazer o serviço com rosto de parca.

Um quadrinho singelo, mas frequente na vida das jovens. Amanhã ou depois, a leitora terá de escolher um véu: da virgem, de noiva, de irmã. Cada véu traz uma lista de exigências morais, cita uma ladainha de prendas que o coração, que as mães devem apontar, que o caráter deve lembrar.

Erro seria supor a leitora que tudo isso virá dentro da corbeille de noiva, nos tecidos do hábito religioso, nos fios de véu de virgem… Nada de improviso, senhorita. É uma das piores ilusões da mocidade feminina, esse cálculo errado. Já vimos a primeira vocação da mulher: é o devotamento, mesmo a custo do seu sangue. Foi feita a mulher mais para tornar a outros felizes, do que para ser ela mesma feliz.

Não se preparar para isso é trair a própria missão dada pelo Criador, reclamada pelo coração e por todas as forças vivas do próprio ser.
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“VOCÊS SÃO RETRÓGRADOS!”

lefebvre-500Os católicos que na verdade sentem que se operam transformações radicais têm dificuldades em resistir à propaganda insistente, comum a todas as revoluções. Dizem-lhes: “Vós não aceitais a mudança, mas a vida consiste na mudança. Mantendes-vos no fixismo, mas o que era bom há cinqüenta anos não convém mais à mentalidade atual nem ao gênero de vida que temos. Vós vos apegais ao vosso passado, não sois capazes de mudar vossos hábitos.” Muitos se submeteram à reforma para não incorrer nesta censura, não encontrando os argumentos suscetíveis de preservá-los de acusações infamantes: “Vós sois retrógrados, passadistas, não viveis com o vosso tempo.”
 
O cardeal Ottaviani dizia já dos bispos: “Eles têm medo de parecer velhos.”
Mas nós jamais recusamos certas mudanças, certas adaptações que testemunham a vitalidade da Igreja. Em matéria litúrgica, não é a primeira reforma à qual assistem homens da minha idade: eu acabava justamente de nascer quando São Pio X se preocupava em introduzir melhoramentos, especialmente dando mais importância ao ciclo temporal, antecipando a idade da primeira comunhão para as crianças e restaurando o canto litúrgico que havia conhecido um obscurecimento. Pio XII, em seguida, reduziu a duração do jejum eucarístico em razão das dificuldades inerentes à vida moderna, autorizou pelo mesmo motivo a celebração da missa vespertina, recolocou o ofício da vigília pascal na noite do Sábado santo, remodelando ofícios da semana santa. João XXIII mesmo fez alguns retoques, antes do concílio, no rito chamado de S. Pio V.
 
Mas nada disto se aproximava de perto ou de longe daquilo que se realizou em 1969, a saber uma nova concepção da missa.

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O OTIMISMO

optimism-400x400O educador deve ter uma dose inesgotável de otimismo. Senão as decepções o desencorajarão e acabarão com seu entusiasmo, que é uma das condições mais necessárias para o bom êxito.

É cansativo ensinar a ortografia, o cálculo, o bom procedimento, a boa linguagem, a polidez. A criança é distraída, esquecida, despreocupada, ilógica. Ora se cansa por seu nervosismo, ora desanima por um torpor quase animal. Há ainda os ditos “inferninhos”. E há as desilusões causadas pelos melhores alunos! E há as incompreensões dos pais e talvez dos diretores! E as ironias dos colegas!

Então nos tornamos irascíveis, rabugentos, intratáveis! Enervamo-nos. Ficamos até com dor na laringe.

Repitamos que cada criança apresenta algum lado bom: é preciso tomá-lo como ponto de partida. Há um ângulo por onde se pode compreendê-la. Fazendo-a ver suas possibilidades, pode-se chegar a transformá-las. Até mesmo a mais ingrata natureza faz parte da obra de Deus. Parece que o próprio Cristo quis nos dar uma lição de confiante otimismo: entre os doze apóstolos, todos fracos e covardes, num momento grave, conta-se um medroso que o chegou a negar por três vezes, e esse é o chefe! E um outro, pérfido até ao beijo hipócrita e aos trinta dinheiros! Todavia o Cristo depoista neste grupo a confiança de lhes entregar o destino de Sua boa-nova. Para nos encorajar ao otimismo, ouçamos São Francisco de Sales extasiar-se diante das secretas possibilidades que até os homens maus oferecem; sua pena não hesita em escrever: “Ah, as belas almas dos pecadores!”. Continuar lendo

DICA DE LEITURA: A CONJURAÇÃO ANTI-CRISTÃ

capa_1A CONJURAÇÃO ANTI- CRISTÃ : O Templo maçônico que quer se erguer sobre as ruínas da Igreja Católica.

Neste clássico contra-revolucionário, Monsenhor Henri Delassus( 1836-1921 ) apresenta-nos uma análise histórica, filosófica e religiosa das tentativas de destruição da Igreja Católica durante a Renascença, a Reforma eas diversas revoluções dos séculos XVIII e XIX.

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