AS ORIGENS DO LIBERALISMO: O PROTESTANTISMO E O NATURALISMO

lef1Pode parecer estranho e paradoxal chamar o protestantismo de naturalista. Nada há em Lutero de exaltação à bondade intrínseca da natureza porque, segundo ele, a natureza está irremediavelmente decaída e a concupiscência é invencível. No entanto a opinião excessivamente niilista que o protestante tem sobre si mesmo, desemboca em um naturalismo prático: na intenção de menosprezar natureza e exaltar o poder “só da fé”, relegam a graça divina e a ordem sobrenatural ao domínio das abstrações. Para os protestantes a graça não opera uma verdadeira renovação interior; o batismo não é a restituição de um estado sobrenatural habitual, é somente um ato de fé em Jesus Cristo que justifica e salva.

A natureza não é restaurada pela graça, permanece intrinsecamente corrompida; e somente a ordem obtém de Deus que deite sobre nossos pecados o manto pudico de Nóe. Todo o organismo sobrenatural que o batismo agrega à natureza enraizando nela a graça, todas as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo são reduzidos a nada, reduzidos a um só ato forçado de fé, confiança em um redentor que gratifica somente para retirar-se para longe a criatura, deixando um abismo intransponível entre o homem definitivamente miserável e Deus transcendente três vezes santo. Esse pseudo supernaturalismo, como chama o Padre Garrigou Lagrange, deixa finalmente o homem, apesar de haver sido redimido, sujeito somente à força de suas aptidões naturais; fatalmente se afunda no naturalismo. Deste modo os extremos opostos se unem! Jacques Maritain exprime bem o desenlace naturalista do luteranismo:

“A natureza humana terá que rechaçar como um inútil acessório teológico o manto de uma graça que não é nada para ela e cobrir-se com sua fé confiança para converter-se em uma bela besta livre, cujo infalível e continuo progresso encanta hoje o universo inteiro”. (5) Continuar lendo

AS ORIGENS DO LIBERALISMO: O RENASCIMENTO E O NATURALISMO

lef2“Se vocês não lerem muito, cedo ou tarde serão traidores, porque não terão compreendido a raiz do mal”.

Com estas fortes palavras um de meus colaboradores (4) recomendava aos seminaristas de Ecône a leitura de boas obras que tratem do liberalismo.

Com efeito, não se pode compreender a crise atual da Igreja nem conhecer a verdadeira cara dos que ocupam a Roma atual, e em conseqüência ver que atitude tomar perante os fatos, se não se procura as causas desta crise, se não se estuda seu curso histórico, e não se descobre sua fonte primeira neste liberalismo condenado pelos papas dos últimos séculos.

Com efeito, não se pode compreender a crise atual da Igreja nem conhecer a verdadeira cara dos que ocupam a Roma atual, e em conseqüência ver que atitude tomar perante os fatos, se não se procura as causas desta crise, se não se estuda seu curso histórico, e não se descobre sua fonte primeira neste liberalismo condenado pelos papas dos últimos séculos.

NOSSA LUZ: A VOZ DOS PAPAS

Partiremos das origens, como faziam os Soberanos Pontífices, ao denunciarem as graves perturbações em curso. Além de acusarem o liberalismo, os papas vão mais longe no passado e todos, desde Pio VI até Bento XV, falavam da crise reduzindo a para a luta encetada contra a Igreja no século XVI pelo protestantismo e pelo naturalismo, do qual aquela heresia foi a causa e a primeira propagadora. Continuar lendo

DO LIBERALISMO À APOSTASIA (INTRODUÇÃO)

Há 61 anos, foi anunciado o Concílio Vaticano II por São João XXIII |  Pontifício Instituto Superior de Direito CanônicoPara onde vamos? Qual será o final de todas as mudanças atuais? Não se trata de guerras, de catástrofes atômicas ou ecológicas, mas sobretudo da revolução no exterior e interior da Igreja, da apostasia que por fim ganha povos inteiros, católicos em outros tempos, chegando inclusive a mais alta hierarquia da Igreja. Roma parece afogada em uma cegueira completa, a Roma de sempre está reduzia ao silêncio, abafada pela outra Roma, a Roma liberal que a ocupa. As fontes da Graça e da fé divina se esvaem e as veias da Igreja canalizam por todo seu corpo o veneno mortal do naturalismo.

É impossível compreender esta crise profunda sem levar em conta o fato central deste século: o segundo Concílio  Vaticano. Creio que minha opinião em relação a ele é bastante conhecida para me permitir dizer sem rodeios meu pensamento: sem rechaças em bloco este Concílio, penso que é o maior desastre deste e de todos os séculos passados desde a fundação da Igreja. Na verdade não faço mais do que julga-lo pelos frutos, usando o critério que nos foi dado por Nosso Senhor (Mt.VII,16). Quando se pede ao  Cardeal Ratzinger que mostre algum bom fruto do Concílio, não sabe o que responder1; e ao perguntar um dia ao Cardeal Garrone, como um “bom” concílio havia produzido tão mais frutos, me respondeu: “não é o Concílio, são os meios de comunicação social”2.

Agora um pouco de reflexão pode ajudar ao senso comum: se  a época pós-conciliar está dominada pela revolução na Igreja, não é porque o próprio Concílio a introduziu? “O Concílio é o 1789 na Igreja”, declarou o Cardeal Suenens. “O problema do Concílio, foi assimilar dois séculos de cultura liberal”, diz o Cardeal Ratzinger. E se explica: Pio IX pelo Syllabus, havia rechaçado sem possibilidade de réplica o novo mundo surgido da Revolução, ao condenar este proposição: “O Romano Pontífice pode e deve se reconciliar e se acomodar com o progresso, com o liberalismo e com a civilização moderna”(nº 80). O Concílio, diz abertamente Joseph Ratzinger, foi um “contra-Syllabus” ao efetuar este reconciliação da Igreja com o liberalismo, particularmente por intermédio de “Gaudium et Spes”, o maior documento conciliar. Com efeito os papas do século XIX não parecem ter sabido discernir o que havia de verdade cristã, e  portanto assimilável pela Igreja, na revolução de 1789.
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DA CARIDADE NAS CHAMADAS “FORMAS DE POLÊMICA”

Pe. Félix Sardá y Salvani

(…) Ele [o liberalismo] prefere acusar incessantemente os católicos de serem pouco caridosos em suas formas de propaganda. É neste ponto, como dissemos, que certos católicos, bons no fundo, mas contaminados da maldita peste liberal, costumam insistir contra nós.

Vejamos o que dizer sobre isso. Nós, católicos, temos razão neste ponto como nos demais, ao passo que os liberais não têm nem sombra dela. Para nos convencermos disso analisemos as seguintes considerações:

1°) O católico pode tratar abertamente o seu adversário de liberal, se ele o é de fato; ninguém porá em dúvida esta proposição. Se um autor, jornalista ou deputado começa a jactar-se de liberalismo e não trata de ocultar suas preferências liberais, que injúria se faz em chamá-lo de liberal? É um princípio do Direito: Si palam res est, repetitio injuriam non est: “Não é injúria repetir o que está à vista de todos”. Muito menos em dizer do próximo o que ele diz de si mesmo a toda hora. Entretanto, quantos liberais, particularmente os do grupo dos mansos ou temperados, consideram grande injúria que um adversário católico os chame de liberais ou de amigos do liberalismo?

2°) Dado que o liberalismo é coisa má, não é faltar com caridade chamar os defensores públicos e conscientes do liberalismo de maus.

Isto é, em substância, aplicar ao caso presente a lei de justiça que foi aplicada em todos os séculos. Nós, os católicos de hoje, não fazemos inovação neste ponto, e nisto nos atemos à prática constante da antiguidade. Os propagadores e fautores de heresias foram em todos os tempos chamados de hereges, tal como os autores delas. E como a heresia foi sempre considerada na Igreja mal gravíssimo, a Igreja sempre chamou de maus e malignos os seus fautores e propagadores. Lede a coleção dos autores eclesiásticos: vereis como os Apóstolos trataram os primeiros heresiarcas, e como os Santos Padres, os polemistas e a própria Igreja em sua linguagem oficial, os imitaram. Não há assim nenhuma falta contra a caridade em chamar o mau de mau; os autores, fautores e seguidores do mau de malvados; iniquidade, maldade, perversidade, o conjunto de seus atos, suas palavras e seus escritos. O lobo foi sempre chamado de lobo, e nunca se acreditou que, por interpelá-lo assim, se fizesse algo ruim ao rebanho e a seu dono.  Continuar lendo

QUATRO CARDEAIS PRIVADOS DE CHAPÉUS?

Resultado de imagem para quatro cardeais dubiaFonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Há na praça de Saint-Sulpice, em Paris, uma fonte onde estão representados quatro bispos: Bossuet, Fénelon, Fléchier e Massillon. Ela é chamada de cum grano salis “fonte dos quatro pontos cardinais”, pois os famosos pregadores que a ornam nunca foram cardeais. É o que faltou acontecer retroativamente – e hipoteticamente – a quatro prelados romanos…

No dia 28 de novembro de 2016, Dom Pio Vito Pinto, deão do Tribunal da Rota que julga recursos de nulidade de casamentos, reagiu violentamente à decisão dos cardeais Brandmüller, Burke, Caffarra e Meisner de tornar públicas as dúbias sobre a Amoris laetitia que eles tinham submetido ao papa Francisco há dois meses, sem receber resposta. Ele os acusou de ter causado um grave escândalo que poderia fazer-lhes perder o chapéu cardinalício. Depois ele retificou, dizendo que não tinha dito isso, repetindo: “É insensato. Não pode existir um conselho de cardeais que possa pedir contas ao papa”… Mas o essencial não está aí.

Dom Pinto evocou essa hipotética sanção: os quatro cardeais poderiam perder seu chapéu, enquanto eles não querem perder a cabeça! Uma cabeça realista que não pode pensar que o verdadeiro é falso, que o mal é bem, e que não pode afirmar sim e não ao mesmo tempo. Uma cabeça teológica que acredita que o que foi revelado pelo Filho de Deus não poderia se curvar às exigências de uma modernidade biodegradável, hoje bem degradada. Uma cabeça católica que se recusa a declarar que o que é verdadeiro e bom doutrinalmente poderia se tornar falso e mal pastoralmente, em nome de uma misericórdia particularmente elástica.

O que Dom Pinto não compreende é, portanto, bem simples: para que serve manter um chapéu, mesmo cardinalício, se a cabeça que o preenche está vazia?

Abbé Alain Lorans.

OS PAPAS CONCILIARES E A MODERNIDADE

Jornal Si Si No No, Ano XLII, nº10

1º) João XXIII, no discurso de abertura do Concílio, em 11/10/1962, disse: “ferem agora os ouvidos sugestões de pessoas (…) que, nos tempos modernos, só veem prevaricação e ruína; vão repetindo que nossa época, comparada com as passadas, foi piorando (…) A Nós parece ter que dissentir desses profetas de desgraças[1], que anunciam sempre eventos infaustos (…). Sempre a Igreja se opôs aos erros, várias vezes os condenou com máxima severidade. Agora, porém, a Esposa de Cristo prefere usar a medicina da misericórdia em vez da severidade. (…) Não que faltem doutrinas falazes (…), mas hoje em dia parece que os homens estão propensos a condená-las por si mesmos” (Enchiridion Vaticanum, Documenti. Concilio Vaticano II, EDB, Bologna, IX ed., 1971, p.39 e p.47).

Respondemos:

a) Os tempos modernos começam com Descartes para a filosofia, Lutero para a religião e Rousseau para a política, e os seus sistemas estão em ruptura com a Tradição Apostólica, a Patrística, a Escolástica e o dogma católico. De fato, a modernidade é caracterizada pelo subjetivismo. Seja na filosofia: “Penso, logo existo”, que é a via aberta por Descartes ao idealismo para o qual é o sujeito que cria a realidade. Seja em religião, com o livre exame da Bíblia sem a interpretação dos Padres e o Magistério e com a relação direta homem-Deus sem mediadores (Lutero: “sola Scriptura” “solus Christus”). Seja em política, pois o homem não é animal social por natureza, antes é solitário, portanto é ele quem cria a sociedade temporal mediante o “contrato social”.

O subjetivismo da modernidade, unindo-se à doutrina católica, transforma-a, esvazia desde dentro, torna-a um produto do intelecto humano ou do subconsciente e não mais uma Revelação divina real e objetiva a que se tem de assentir.

A afirmação de João XXIII coincide com a essência do modernismo, tal como a descreve São Pio X na Encíclica Pascendi (08/09/1907): o conúbio entre o idealismo filosófico da modernidade e a doutrina católica, que se tornaria, assim, um produto do pensamento ou do sentimento humano.

b) Se “Sempre a Igreja se opôs aos erros, várias vezes os condenou com máxima severidade. Agora, porém, a Esposa de Cristo prefere usar a medicina da misericórdia em vez da severidade”, isso significa que se prefere ir contra a doutrina e a prática constante da Igreja (ver Pio IX em Tuas libenter, 1863). Continuar lendo

COMUNICADO DO SUPERIOR DO DISTRITO DA FSSPX NA FRANÇA SOBRE A DECLARAÇÃO CONJUNTA ENTRE O PAPA E A IGREJA LUTERANA

bouchacourt_161024Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Ao ler a declaração conjunta que o Papa fez com os representantes da igreja luterana na Suécia, em 31 de outubro, por ocasião do quinto centenário da revolta de Lutero contra a Igreja Católica, nossa dor atinge seu ponto máximo.

Diante do verdadeiro escândalo que tal declaração representa, onde se sucedem os erros históricos, graves violações à pregação da fé católica e um falso humanismo, fonte de tantos males, não podemos permanecer calados.

Sob o falso pretexto do amor ao próximo e do desejo de uma unidade artificial e ilusória, a fé católica é sacrificada no altar do ecumenismo que põe em perigo a salvação das almas. Os erros mais gritantes e a verdade de nosso Senhor Jesus Cristo são colocadas em pé de igualdade.

Como “podemos ser gratos pelos dons espirituais e teológicos recebidos através da Reforma“, enquanto Lutero manifestou um ódio diabólico pelo Sumo Pontífice, um desprezo blasfemo pelo Santo Sacrifício da Missa, assim como uma recusa da graça salvífica de Nosso Senhor Jesus Cristo? Ele também destruiu a doutrina eucarística, negando a transubstanciação, desviou as almas da Santíssima Virgem Maria e negou a existência do Purgatório.

Não, o protestantismo não trouxe nada ao catolicismo! Ele arruinou a unidade da cristandade, separou nações inteiras da Igreja Católica, mergulhou as almas no erro colocando em perigo sua salvação eterna. Nós, católicos, queremos que os protestantes retornem para o único rebanho de Cristo, que é a Igreja Católica, e rezamos por esta intenção.

Nestes dias em que celebramos todos os santos, apelamos a São Pio V, São Carlos Borromeu, Santo Inácio e São Pedro Canísio, que combateram heroicamente a heresia protestante e salvaram a Igreja Católica.

Nós convidamos os fiéis do Distrito da França a rezarem e fazerem penitência pelo Papa, afim que Nosso Senhor, do qual ele é o Vigário, o preserve do erro e o mantenha na verdade, da qual ele é o guardião.

Convido os sacerdotes do distrito a celebrar uma missa de reparação e organizar uma Hora Santa diante do Santíssimo Sacramento para pedir perdão pelos escândalos e suplicar a Nosso Senhor que acalme a tempestade que sacode a Igreja por mais de meio século.

Nossa Senhora, Auxílio dos Cristãos, salve a Igreja Católica e rogue por nós!

Pe. Christian Bouchacourt, Superior do Distrito da França da Fraternidade Sacerdotal São Pio X

Suresnes, 02 de novembro de 2016, comemoração de todos os fiéis defuntos

 

A DESCOBERTA DA OUTRA

gcorcao_back_brancoUm leitor que se diz assíduo, numa longa conversa telefônica, estranhou o pós-conciliar. O leitor entende o termo como se significasse a mesma Igreja Católica, na era pós-conciliar. Bem sei que nesse período conturbado continua a existir, na terra, a Igreja Católica dita militante. Ora, minha sofrida e firme convicção, tantas vezes sustentada aqui, ali e acolá é que existe, entre a Religião Católica professada em todo o mundo católico até poucos anos atrás e a religião ostensivamente  apresentada como “nova”, “progressista”, “evoluída”, uma diferença de espécie ou diferença por alteridade. São portanto duas as Igrejas atualmente governadas e servidas pela mesma hierarquia: a Igreja Católica de sempre, e a Outra. E note bem, leitor: quando acaso der a essa outra o nome de Igreja pós-conciliar não quero de modo algum insinuar a infeliz idéia de que, após o Concílio, a Igreja de Cristo se teria transformado a ponto de tornar-se irreconhecível, devendo os fiéis de bem forma­da doutrina católica acreditar nessa nova forma visível da Igreja, por pura disciplina, ainda que a maioria das pregações e dos novos ensinamentos sejam ostensivamente diversos e as vezes opostos à doutrina católica. Não! A Igreja Católica e Apostólica continua a existir na era pós-conciliar, submetida a duras provações, mas sempre permanente e fiel guardiã do depósito sagrado.

Se o leitor me perguntasse agora quais são as essenciais diferenças que separam as duas religiões, eu responde­ria: diferença de espírito, diferença de doutrina, diferença de culto e diferença moral. Como terei chegado a tão assustadora convicção? Com muito sofrimento e muito trabalho, são milhares os católicos que chegaram à mesma convicção.

Começamos por confrontar os novos textos, as novas alocuções, as novas publicações pastorais com a doutrina ensinada até anteontem. A começar pelos textos emanados dos mais altos escalões, citemos alguns daqueles que mais dolorosamente e mais irresistivelmente nos levaram à conclusão de que se inspiram em outro espírito e se firmam em outra doutrina. Entre os textos conciliares, citamos os seguintes: Constituição Pastoral sobre a Igreja e o Mundo Atual (Gaudium et Spes); Decreto sobre o Ecumenismo (Unitatis Redintegratio); Declaração sobre a Liberdade Religiosa (Dignitatis Humanae); Discurso de Encerramento do Concílio, 7 de Dezembro de 1965; Institutio Generalis do Novus Ordo Missae: Ponto 7 (na primeira redação, de 1967, e principalmente a segunda redação de 1970). Além desses documentos dos mais altos escalões, poderíamos encher as páginas deste jornal com obras e pronunciamentos de cardeais, arcebispos, bispos e padres que eram bisonhos, retraídos e discretos quando tinham vaga consciência de suas deficiências filosóficas e teológicas e que subitamente descobrem que na “nova Igreja” podem dizer tudo o que lhes vem à boca que fala ou à mão que escreve. O que menos se conhece é a Teologia, mas o que mais abunda na Nova Igreja são os “teólogos da libertação”.  Continuar lendo

MAIS HORROR: HOMENAGEM PRESTADA À ESTÁTUA DE LUTERO NO VATICANO POR VONTADE DO PAPA FRANCISCO

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Quinta-feira, 13 de outubro de 2016, aniversário do Milagre do Sol em Fátima, a estátua de Lutero adentra ao Vaticano por vontade do Papa Francisco!

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

O que nos une é muito maior do que aquilo que nos separa”. Isto é o que o Sumo Pontífice repete à exaustão quando ele quer, a marcha forçada, promover um ecumenismo que vai contra os ensinamentos do Magistério anterior ao funesto Concílio Vaticano II.

É assim que ele será a testemunha voluntária e participativa dos 500 anos da Reforma de Martinho Lutero, ao lado dos protestantes suecos. 500º aniversário que será comemorado ao longo de todo o ano de 2017, e que se inscreverá amplamente no diálogo dito “Luterano-Católico”. Continuar lendo

A “BONDADE” DE JOÃO XXIII

Papa João XXIII – Wikipédia, a enciclopédia livre

Pe. Michel Simoulin, FSSPX

“João XXIII entrou para a história como o ‘Papa buono’ (Papa bom). A esse respeito, é licito se perguntar se ‘Papa buono’ equivale a bom papa” – cardeal Silvio Oddi[1].

A lista dos livros, estudos e artigos escritos que celebram a “bondade” desse papa é longa demais para ser relacionada aqui. O ponto culminante — e, parece, definitivo — dessa celebração é representado pela promulgação, em 20/12/1999, do decreto sobre as “virtudes” heroicas do servo de Deus, João XXIII. Isso pareceu colocar termo à discussão. Todavia, não podemos esquecer outros estudos e artigos publicados para destacar falhas e fraquezas desse mesmo papa[2]. Até o discurso dirigido ao papa atual[3] pelo prefeito da Congregação da Causa dos Santos, em 20/12/1999, suscita algum espanto. Com efeito, se as virtudes louvadas em Pio IX são belas virtudes cristãs (zelo pastoral infatigável, intensa vida de oração, profunda vida interior), as de João XXIII são estranhamente novas, até mesmo desconhecidas da Teologia Ascética e Mística:

“Esse pontífice promoveu o ecumenismo, preocupou-se em desenvolver relações de fraternidade com os ortodoxos do Oriente que conhecera na Bulgária e em Istambul, desenvolveu relações mais intensas com os anglicanos e com o mundo multicolorido das Igrejas protestantes. Agiu de modo a lançar as bases de uma nova atitude da Igreja Católica para com o mundo judaico, fazendo uma decisiva abertura ao diálogo e à colaboração. Em 4 de junho de 1960, criou o Secretariado para a Unidade dos Cristãos. Promulgou duas encíclicas relevantes, Mater et Magistra (20 de maio de 1961) sobre a evolução social à luz da doutrina cristã e Pacem in Terris (11 de abril de 1963) sobre a paz entre todas as nações. Visitou hospitais e prisões e mostrou-se sempre próximo, pela caridade, dos sofredores e dos pobres da Igreja e do mundo”[4].

Se excetuarmos o devotamento às obras de misericórdia corporal, todas as virtudes de João XXIII são virtudes… ECUMÊNICAS!

Por conseguinte, parece-nos lícito ainda hoje estudar e examinar a “bondade” que deveria ser a santidade de João XXIII. Não se trata de negar a possibilidade de que hoje esteja na glória de Deus, mas, uma vez que ser beatificado significa ser proposto à veneração e à imitação dos católicos, trata-se de saber se, verdadeiramente, é permitido imitar a “bondade” do Papa João. Continuar lendo

BERGOGLIO E LUTERO

Resultado de imagem para bergoglio e luteroDentro de poucos dias o papa Bergoglio irá à Suécia participar das comemorações do quinto centenário da revolução luterana.

O gesto do pontífice, embora não nos surpreenda, não deixa de desconcertar-nos. Não nos surpreende porque seu predecessor João Paulo II agia nessa direção, tendo mandado depositar flores na campa do heresiarca, e os teólogos da Nouvelle Theologie, condenados por Pio XII e reabilitados após o Vaticano II, não escondiam sua admiração pelo falso reformador, monge crapuloso, comilão e beberrão, inventor da máquina de genocídio do mundo moderno. Não nos surpreende porque na nova religião há quem chegue a manifestar, senão simpatia, ao menos compreensão por Judas Iscariotes, dizendo que ninguém pode julgá-lo, num esforço vão de inocentar o filho da perdição.

Entretanto, o gesto de Bergoglio nos desconcerta porque de um papa, principalmente em se tratando de um filho de Santo Inácio de Loyola, queríamos poder esperar que seguisse o exemplo de seus irmãos maiores São Roberto Belarmino, São Pedro Canísio e tantos outros gloriosos santos jesuítas.

Com efeito, no quinto centenário da falsa reforma luterana, os católicos tínhamos o direito de esperar que o papa renovasse as condenações de Leão X e do Concílio de Trento contra os erros dos pseudo-reformadores e exortasse os hereges de hoje, herdeiros dos erros do século XVI, a abjurar suas doutrinas heréticas e a voltar para o seio da única Igreja de Cristo. Continuar lendo

O CIRCO DA IGREJA CONCILIAR

Terceiro dia da Novena a Nossa Senhora Aparecida (5 de outubro de 2016) no Santuário Nacional de Aparecida.

Até quando Nosso Senhor permitirá essa profanação da Casa de Deus? Esse desprezo por tudo que é sagrado e a exaltação do profano e do sacrílego?

Veja também:

9 de outubro de 2013: Novena da Padroeira, o carnaval continua em Aparecida.

8 de outubro de 2012: No “Espírito de Aparecida”: discípulos-missionários ou ridículos-salafrários?

TEILHARD DE CHARDIN, O PROFETA DO CRISTO CÓSMICO

[Capítulo XV do livro Cent ans de modernisme. Généalogie du Concile Vatican II (Editions Clovis, 2003) do padre Dominique Bourmaud, FSSPX.]

Falando estritamente, uma síntese de Teilhard parece fora de propósito numa recensão genealógica dos princípios modernistas, porque nosso protagonista não é filósofo, nem exegeta, nem propriamente teólogo. Porém, fazer o álbum da família neomodernista sem incluir Teilhard de Chardin seria expor-se a subestimar a popularidade do movimento nos círculos profanos. Se, no período das primeiras publicações teilhardianas, em 1927, o modernismo não passava de uma sombra, trinta anos depois, quando da morte de Teilhard, o vírus conquistara todos os níveis hierárquicos e infectara aos pensadores mais sutis, antes de ganhar Roma. O fenômeno teilhardiano age como um termômetro. É o ponto de referência, o critério definitivo que permite distinguir entre modernistas e católicos fiéis. Depois de um esboço do profeta e da sua visão, será preciso abordar as razões profundas de sua celebridade, de ordem científica e mística, para concluir com sua influência póstuma.

1. O profeta e sua visão

Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955) nasceu em Auvérnia (França), e descende de Voltaire por parte de mãe. Seu professor de literatura e futuro amigo, Bremond, o descreve à idade de quatorze como muito inteligente, mas desesperadamente tranquilo. Não se podia encontrar a menor exaltação em seus olhos, de tão imerso que vivia em outro mundo, de tão absorto que estava por uma paixão todo-poderosa. Este é o primeiro testemunho da dupla personalidade de Teilhard: por um lado, o estudante modelo que se tornará sacerdote jesuíta; por outro lado, o visionário obcecado por uma idéia fixa, seu sonho da evolução criadora. Esta dualidade psíquica se revela em suas atitudes paradoxais. Teilhard exulta de uma alegria lírica e romântica perante as bombas atômicas, que evocam, para ele, nem tanto o dia do Juízo, mas as fecundas entranhas da evolução. Ele chora de emoção diante do ferro oxidado. Extasia-se na presença da matéria, na presença de toda matéria. Esse delírio pela evolução provavelmente explica seu interesse pelos audaciosos avanços da bioética e pela revolução chinesa de Mao Tse Tung.

A atração irresistível pela biologia e a paleontologia orienta seus estudos pessoais, e daí em diante tudo será compreendido sob o ponto de vista da evolução da matéria. Os anos 1916-1918 marcam a virada decisiva de seu pensamento, o que ele chama de seu segundo nascimento. Ora, nessa época, buscava-se um pioneiro, um herói dentro do clero, e se fosse jesuíta, tanto melhor. Um herói e um pioneiro entre os jesuítas deveria dar mostras de certas qualidades: um profundo intelectualismo, um contato fácil com os grande deste mundo, um toque de poesia e de misticismo, um espírito de independência frente a Roma e, enfim, relações mundiais que lhe dessem distinção, e mesmo um certo nível de celebridade, de internacionalismo[1]. Ora, Teilhard não só possui todas estas qualidades, mas também muitas outras. Ele tem uma imensa fé em suas crenças que, mesclada a uma pitada de auto-suficiência e de originalidade, lhe trará uma incrível popularidade. Sua linguagem esotérica e mistificadora apresenta a grande vantagem de permitir que cada um o entenda como melhor lhe pareça[2]. Se, além disso, com sangue frio e convicção, ele diviniza o progresso indefinido do mundo, o advento do Super Homem e a evolução inelutável, logo será consagrado como o profeta dos novos tempos. Este é o segredo deste homem fascinante. Teilhard nada tem de pensador profundo; é um visionário atormentado por um desejo messiânico que nele se torna uma idéia fixa. Não é um teórico, é um vulgarizador. Não é um sábio especulativo, é um profeta. Um profeta que, ao mesmo tempo, é consciente de sua missão:

“ele tem a sensação de possuir, por seus estudos, relações e mesmo dons, uma espécie de missão científico-religiosa in partibus infidelium”[3].

Se sua visão do mundo e da religião apresenta um atrativo irresistível para o pensamento moderno, é porque oferece uma explicação que não deixa de ter um toque de gênio. Propõe uma síntese notável por sua coerência, tão grandiosa quanto atrevida. Para Teilhard, tudo, tanto o mundo sobrenatural como o natural, emergiu da matéria em perpétua evolução, e tudo converge para um ponto comum. Este sistema está perfeitamente elaborado em suas duas obras, O fenômeno humano e O ambiente divino, que resumiremos rapidamente.

Na obra O fenômeno humano, que trata da gênese da espécie humana a partir do cosmos, Teilhard quer fazer uma obra de ciência pura, baseada apenas na aparência sensível, o fenômeno[4]. Como biólogo que é, seu ponto de partida é o evolucionismo biológico, uma hipótese científica que explica que tudo o que se move sobre a terra descende de um tronco comum. Em particular, o homem evoluiu a partir da ameba monocelular mais simples, que, por sua vez, saiu da matéria inerte. Deste ponto de partida, ele deduz, por generalização, a «lei de complexidade e de consciência». Esta lei estabelece que, na escala dos seres vivos, o grau de consciência vital corresponde ao grau de complexidade do organismo nervoso, nos vegetais, ou do cérebro, nos animais. O homem, único ser dotado de reflexão, apresenta o máximo de consciência. Mas, longe de ser exclusiva dos seres vivos, a lei de complexidade e de consciência se aplica também aos minerais, que acreditamos desprovidos de vida, e que têm, não obstante, uma parte de consciência que Teilhard chama de energia psíquica.

Com semelhantes princípios condutores, ele está em condições de descrever a formação do universo criado, a “cosmogênese”. O universo formou-se por uma progressão contínua de complexidade orgânica, que seguia lado a lado com a intensidade de energia. O mundo se fez em três etapas separadas por dois saltos, vale dizer, por transformações de energia mais profundas. O primeiro salto é a passagem dos seres inanimados para os seres vivos. O segundo salto designa a passagem dos seres vivos mais desenvolvidos aos homens. A evolução termina no homem? Os cérebros humanos acabarão por se reunir fisicamente para produzir um cérebro mais complexo? Teilhard não acredita nisso, porque o homem já tem em si mesmo toda a perfeição de reflexão e de pensamento. Porém, a evolução biológica continuará no sentido da convergência de todos os espíritos humanos para reunir a humanidade inteira. O pensamento deve tender biologicamente a se socializar, isto é, a se unir em uma comunidade perfeita de pensamento e de amor. Ela terminará em um ponto de união, um Superespírito, ser pessoal e preexistente a todos, sem, no entanto, absorvê-los. Este ponto final, que Teilhard chama de «Ponto Ômega», será dotado das propriedades do próprio Deus. E, finalmente, chegará o dia em que essa convergência exigirá uma evasão coletiva de toda a humanidade para fora da matéria, a fim de reunir-se no Ponto Ômega: este será o fim do mundo.

O fenômeno humano pretendia ser uma obra puramente natural e científica. Já O ambiente divino escreveu-o Teilhard como cristão e pressupõe as verdades de fé. Este segundo livro tem uma dinâmica paralela ao primeiro e visa principalmente a identificar o Ponto Ômega com a encarnação de Cristo. É a obra mística de Teilhard, e a ela não faltam atrativos. Posto que tudo, até mesmo o material, foi feito para nossa alma, e que nossa alma está consagrada a Deus, segue-se que todo o real é sagrado.

“Cristo é o término da evolução inclusive natural dos seres: a evolução é santa”[5].

Tudo está submetido à atração de Cristo por via de consumação. Teilhard afirma que a encarnação fez do mundo inteiro um sacramento. Ele compara o mundo com as espécies sacramentais:

“Deus meu …, para que eu não sucumba à tentação de maldizer o Universo, fazei que eu o adore, vendo-vos oculto nele. A grande palavra libertadora, Senhor, a palavra que revela e opera, ao mesmo tempo, repita-a para mim, Senhor: “Hoc est corpus meum.” De fato, o monstro, a sombra, o fantasma, a tempestade – se quisermos, sois Vós … No fundo, não são mais que as espécies ou as aparências de um mesmo Sacramento”[6].

É igualmente pela Encarnação que o Verbo se constituiu o centro físico e biológico da evolução natural do mundo. Reinterpretando a doutrina de São Paulo sobre a formação do Corpo místico de Cristo, Teilhard transpõe essa união mística dos eleitos com a Cabeça da Igreja em termos de evolução para um todo natural e físico. Assim como a «santa matéria» engendrou os homens por evolução vital, os homens engendrarão o Cristo por evolução progressiva: a cosmogênese se converte em cristogênese, a formação do Cristo total entendida, em Teilhard, como um todo biológico e físico. Claro está que ele não se refere à pessoa histórica de Jesus de Nazaré. Ele fala de uma

“terceira natureza de Cristo, em um sentido verdadeiro, que não seria humana nem divina, mas cósmica”[7]. “Para converter-se no Alfa e no Ômega, Cristo deve, sem perder sua dimensão humana, fazer-se coextensivo às dimensões físicas do tempo e do espaço”[8].

Inútil dizer que este Cristo está ainda em vias de formação e só existirá definitivamente quando se tornar o Ponto Ômega. O Cristo de quem Teilhard fala é

“o motor essencial de um humanização que conduz a uma ultra-humanização. O desvio cósmico move-se em direção a um incrível estado quase “monomolecular”… onde cada ego está destinado a alcançar seu paroxismo em algum misterioso superego … Somente esta integração poderá fazer que apareça a forma do homem futuro, em que o homem alcançará plenamente o fim e o ápice do seu ser”[9].

Teilhard explica que esta integração desemboca na religião sincretista, isto é, na convergência geral das religiões em direção a um Cristo universal que, no fundo, satisfaça a todas. Esta lhe parece ser a única conversão possível para o Mundo e a única forma imaginável para uma Religião do futuro[10].

Desde as primeiras publicações, essas teses audaciosas foram submetidas a duras críticas, e seus superiores romanos o proibiram de escrever. Mas Teilhard recebia a proteção dos superiores locais, e nos ambientes da vanguarda seus textos circulavam com ainda mais gosto pelo sabor que tinham de fruto proibido.Exilado em Pequim, ali ficou sob bloqueio durante toda a guerra, só regressando à Europa em 1945. Cinco anos depois, na encíclica Humani generis, Pio XII condenou seus erros teológicos. O superior de Teilhard, Janssens, cogitava expulsá-lo, mas temendo seriamente uma revolta na Companhia de Jesus, acabou por lhe dar total liberdade de movimento, exilando-o nos Estados Unidos, em 1951. Lá, graças ao fascínio por suas ideias e, ressalte-se, graças também a sua agilidade mental, Teilhard pode seguir com  suas investigações até à morte, em 1955.

Assim, por quinze anos, até o Concílio, se tornou possível o lançamento metódico de seus livros, que contradiziam quase sistematicamente todas as posturas ortodoxas. Na verdade, nem sua pessoa e nem mesmo suas ideias foram importunadas seriamente, uma vez que poderosos protetores o cobriram com um pudico véu[11]. Suas obras, imbuídas de modernismo, nunca foram condenadas durante sua vida, e, em 1962, um simples Monitum, que estava longe de ter a força de uma inclusão no Index, declarou suas obras póstumas como “cheias de ambiguidades, ou melhor, de graves erros, que ofendem a doutrina católica”. Esta ausência de condenação é um sinal da enfermidade que atravessava a Igreja, mas também da astúcia que os seus amigos utilizaram para proteger o novo precursor da Igreja do futuro.

 

2. A convergência da fé modernista e da ciência

Qual é a explicação para o fenômeno teilhardiano? Diga-se o que quiser, a razão primordial para a imprensa internacional colocá-lo nas nuvens, era ser um cientista, além de padre e jesuíta, que enfrentava o dogma da Criação e do pecado original, colocando a fé de joelhos diante da ciência. Eis o motivo da auréola de sábio atribuída ao jesuíta. Teilhard pretendia revisar o velho problema da relação entre a fé e a ciência. Desde Siger e Lutero, a partir de Descartes e da filosofia moderna, a fé e a ciência tinham sido consideradas autônomas, cada uma reinando em sua esfera. Mas como a ciência é rigorosa e seus progressos trazem imensos serviços à humanidade, o homem moderno, que deixou de lado a metafísica, já não tem o que fazer com um Deus inoportuno que pouco a pouco se tornou quimérico. O modernismo nasceu da briga mortal entre a fé católica e a «ciência» que pretende contradizer o dogma. O neomodernismo de Teilhard tropeça no mesmo escolho. Ora, naquela época, falava-se muito da teoria da evolução científica das espécies. Spencer, Lamarck, e por último Darwin, desenvolveram várias idéias para propagar essa hipótese científica.

É nesta conjuntura que Teilhard intervém. Vendo a antiga Igreja desafiada pela ciência moderna, procura oferecer uma solução. Pretende ser não tanto o apóstolo da Igreja antiga, mas o fundador de uma nova religião. Quer estabelecer essa religião que floresce no coração do homem moderno a partir da ideia de evolução. Na verdade, o verdadeiro fundador do novo culto não é Yahvé e nem Cristo, mas Charles Darwin. Para reabilitar seu leitmotiv da evolução divina, Teilhard vai cruzar os mares e realizar as descobertas do homem de Piltdown e do homem de Pequim[12]. Mas essas descobertas científicas, que o levaram à glória, provocaram também seu ocaso quando comprovado que se tratavam falsificações. Porém, o problema capital desta teoria não reside na adoção de uma hipótese científica, por mais discutível que seja. Deriva, principalmente, do fato de que Teilhard pretende implantar a evolução darwiniana em um campo que não era o seu: a teologia. É neste ponto que reside o pecado original do teilhardismo: querer passar do chinês ao árabe, de um registro a outro; querer traduzir os dados das ciências experimentais (biológicos, geológicos, etc.) para a linguagem filosófica e teológica. Como se o botão de rosa e a evolução do grão em espiga pudessem definir uma verdade atemporal ou um dogma de fé!

Santo Tomás tinha suas razões para dizer que uma falsa ideia sobre a natureza da criação implica sempre em uma falsa ideia de Deus: a criação é a única via racional que conduz a Deus. Ora, a “criação” teilhardiana está nas antípodas do Gênesis bíblico.

É a partir de um novo conceito da gênese do mundo, uma evolução extrema da matéria “espiritual”, que Teilhard constrói toda sua teologia. O cosmos se desenvolveu a partir da “santa matéria”, por graus sucessivos ordenados em milhares de anos. A matéria é o estofo do mundo,

“onde o mais pressupõe o menos, onde pela Evolução algo de substancial se depura e passa realmente do polo material ao polo espiritual do Mundo”[13].

Os dogmas da criação e da existência de um Deus criador, e, por tabela, o dogma do pecado original, são sacrificados no altar da Evolução, a única categoria do pensamento teilhardiano, segundo as palavras de seu amigo e admirador Urs Von Balthasar.

Se Teilhard acolhe a invenção darwiniana de evolução no que se refere ao início do mundo, o fim dessa evolução é fruto de seu próprio credo. Em um determinado momento, surgiram homens — homo sapiens — em diferentes pontos do globo[14]. Com o aparecimento dos homens, começa a História humana e a ascensão de todos os indivíduos à unidade perfeita, o Ponto Ômega da História. Nós nos encontramos agora no coração desse processo de gestação grandiosa da Humanidade. A evolução contínua acabará em apoteose quando a Humanidade inteira se transformar em um Super-homem tão certo quanto misterioso. É a mesma doutrina que encontramos exposta em Hegel e Strauss, repetida depois por Loisy e Tyrrell. Mas por que essa necessidade de pôr em maiúsculas o homem, abstraindo-o de sua condição individual, para não ver senão sua essência pura e ideal? Porque o indivíduo concreto, Pedro ou Paulo, tomado separadamente, é limitado, e não é necessário acreditar no pecado original para ver que é um ser caído. Por outro lado, o Super-homem, o Homem ideal, é isento do pecado original e se torna mais verossímil qualificá-lo de salvador e de todo-poderoso. Esta salvação pelo Super-homem, esta redenção com a qual sonha Teilhard, é a hominização, a reunião dos homens em uma fraternidade universal, a salvação futura e coletiva.

É evidente que semelhante enfoque exige o abandono completo da fé. Além da criação, todo o catecismo é desfigurado na sinfonia teilhardiana da evolução: o espírito, o mal, o pecado original, a parusia e o céu. As noções mais sagradas são conservadas, mas, ao mesmo tempo, são esvaziadas de seu sentido original e transformadas ao modo da “gênese. Se o sistema teilhardiano é notável por sua consistência, também é célebre pela série de erros graves. Em Teilhard, tudo flui por necessidade física. Toda a evolução biológica, histórica e crística é organicamente coerente. Há um fluxo evolutivo necessário entre a criação, o pecado, a Redenção e a Ressurreição. Entre a cosmogênese e o Ponto Ômega quase não sobra lugar para o sobrenatural, que, segundo Teilhard, teria sido inventado por Santo Agostinho:

“Não me falem desse homem nefasto: pôs tudo a perder ao inventar o sobrenatural!”[15].

Tampouco há lugar para Deus e sua liberdade:

“A fim de ser Deus, deveria criar o mundo”[16].

Mas essa é a essência mesma do panteísmo, pois afirma que o mundo procede por emanação necessária, e por conseguinte, que é tão necessário e divino como o próprio Deus.

 

3. A convergência do modernismo e do panteísmo

Sublinhamos, há pouco, os traços inequívocos de panteísmo nos escritos de Teilhard de Chardin. Se ele é discreto em seus primeiros textos, é certo que suas obras, senão seu pensamento, amadureceram com os anos, de maneira que seus últimos trabalhos são muito reveladores. Eis aqui alguns trechos:

“Não me dei conta que, inevitavelmente, à medida que, das profundezas da Matéria até os cumes do Espírito, Deus “metamorfoseava” o mundo – o mundo, por sua vez, devia ‘endomorfizar’ a Deus. Sob o efeito mesmo da operação unitiva que o revela a nós, Deus de algum modo ‘se transforma’ encorporando-nos a si.”[17]. “Não aceito a postura ‘antipanteísta’ que o senhor atribui a mim. Ao contrário, sou essencialmente panteísta de pensamento e de temperamento; e passei toda a minha vida declarando que existe um verdadeiro ‘panteísmo de união’, Deus omnia in omnibus (um pancristismo, diria Blondel) frente ao pseudopanteísmo de dissolução, Deus omnia. E por isto mesmo não sinto nenhuma simpatia pelo Criacionismo bíblico (salvo na medida em que funda a possibilidade de união). De outro modo, a idéia da criação bíblica me parece infantil e antropomórfica”[18]. “Se, em consequência de alguma perturbação interior, eu chegasse a perder sucessivamente minha fé em Cristo, minha fé em um Deus pessoal, minha fé no Espírito, parece-me que continuaria acreditando no mundo. O mundo (o valor, a infalibilidade e a bondade do mundo) é, em última instância, a primeira e a única coisa em que acredito… Abandono-me à fé confusa em um Mundo uno e infalível, onde quer que ela me conduza”[19].

Vejamos agora rapidamente as relações e implicações que existem entre o modernismo e o panteísmo, que decididamente parecem obcecar os pensadores cativados pelas ideias modernas. Trata-se de harmonias inexplicáveis sem vínculo necessário, ou há entre elas relação de causa e efeito? Esta é a questão que precisamos responder neste parágrafo.

Historicamente só houve duas formas de pensamento e de vida[20]: o “sobrenatural” carnal e o sobrenatural espiritual. O que a História revela dos sistemas religiosos, a razão prova com facilidade. A religião, vínculo entre o homem e Deus, tem duas expressões possíveis: ou o homem reconhece um Deus exterior que a ele se revela, ou o rejeita. Se o aceita, essa religião não é outra que a religião católica, a única que recebeu a Revelação do Deus feito homem. Ela tem uma visão otimista do mundo saído das mãos de Deus, “Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra”, e se há o mal, a culpa recai nas criaturas que pecaram e caíram. Posto que é um ser caído, o homem tem necessidade de um Salvador para elevar-se até Deus. Mas se o homem não reconhece seu Criador, tem de introduzir “Deus” em seu foro interior, fazendo, assim, “Deus” à sua imagem e semelhança. Neste caso, “Deus” é uma criação do homem, é o homem que toma consciência de si mesmo. Tudo está contido no homem que, mediante evolução progressiva, torna-se “Deus” por suas próprias forças. A religião em que o homem se autodiviniza e adora a si mesmo é a negação do pecado original e a rejeição do Salvador. Estamos no coração da heresia modernista.

Essa divisão das crenças e da cultura em duas posturas antagônicas constitui o enredo da História considerada em seu conjunto. O primeiro homem sucumbiu à mesma tentação de Lúcifer, a de querer ser como Deus. E, depois do pecado original, a história das religiões, quer dizer, a História simplesmente, é um perpétuo recomeço. Os persas seguem Zoroastro e a religião maniquéia dos dois deuses do bem e do mal; os budistas seguem os hinduístas com sua filosofia panteísta (o mundo é Deus), e rumam em direção à “perfeição” do nada, que chamam de nirvana — extinção — por meio da autoconsciência e do espírito[21]. No século III, a gnose maniquéia retoma as mesmas ideias panteístas ensinando precisamente o contrário da doutrina cristã. Três princípios conjugados lhes dão coesão: a desvalorização do cosmo; o vôo místico para o mais além; e o meio para realizar este voo místico, a gnose ou o conhecimento esotérico. Os gnósticos negam absolutamente o pecado original universal e a necessidade de um Redentor[22]. Longe de sermos seres caídos, somos seres divinos que, sem culpa da nossa parte, fomos atirados em um universo cruel, inexplicável e caótico. Da Criação maligna, os gnósticos deduzem que o homem tem de libertar-se deste mundo para se divinizar, mediante um “êxodo” ou viagem mística. Como o único caminho racional que conduz a Deus, a Criação boa, lhe está fechado, o homem tem de inventar um caminho gnóstico, a descoberta do “sagrado”, que o eleva por suas próprias forças até a divindade.

A crença panteísta tem sete vidas. Nesse ponto, a História corrobora o que já a teologia ensinava anteriormente sobre a origem única de todas as heresias. O panteísmo repete no homem o pecado de Lúcifer e dos anjos rebeldes, e não é nada surpreendente que todas as heresias deitem nele as suas raízes. A mesma tentação de um Deus imanente, do homem que faz Deus a sua imagem, existe há mais de vinte séculos. Passou sucessivamente por Confúcio e Buda, no século VI antes de Cristo, à cabala farisaica, ao maniqueísmo dos séculos II e III, e ao bramanismo. Voltamos a encontrá-la no milenarismo, depois no catarismo do século XIII, e finalmente em Jakob Böhme e Baruch Spinoza, no século XVII[23]. Curiosamente, observa-se um recrudescimento das mesmas tendências imanentistas e panteístas no século XVIII, o século da maçonaria, o século dos filósofos “deístas”, que seriam melhor chamados de ateus. Os novos magos são legião: Rousseau, Voltaire, os enciclopedistas, Kant e Hegel, Nietzsche e Marx. Sua linguagem é direta quando descrevem o “assassinato de Deus”, a “Sexta-feira Santa especulativa” de Hegel e o “Deus está morto” de Nietzsche. Vimos como os protestantes modernistas do século XIX estavam imbuídos das mesmas tendências, com Schleiermacher e Strauss. Os modernistas católicos do início do século XX foram contaminados por essas idéias deletérias. Bergson e Le Roy, Hébert e Loisy, Blondel e Tyrrell, professaram todos de maneira mais ou menos matizada sua fé num Deus que existe dentro da mente humana.

Assim, quando Teilhard chega ao campo das idéias depois do período modernista, só precisa consultar seus predecessores para continuar os seus temas habituais. Possivelmente foi buscar também em Madame Blavatsky e seu movimento teosófico, nascido pouco depois de Darwin[24]. Teilhard não esconde que suas idéias exalam o odor do maniqueísmo[25]. De fato, a síntese de Teilhard faz progredir a causa panteísta ao lhe dar coesão. Até então, os mestres haviam sentido dificuldade em unir as duas pontas da cadeia: a queda da criação material e a salvação terrestre. A Teilhard coube o mérito de tê-las unido. Ele é o arauto da Igreja sincretista, onde o homem salva-se por si mesmo ao alcançar o Ponto Ômega. Mas para que esta “Boa Nova da salvação por si” seja aceita, é preciso, que seja apresentada sob os auspícios da “criação por si” darwiniana. Melhor que os maniqueus e os alemães, Teilhard descreve perfeitamente a relação íntima entre a “criação por si” e a “salvação por si”, graças ao incessante processo da evolução. Se os átomos se uniram em moléculas, e as moléculas em seres vivos de todas as classes, por que a humanidade não poderia se unir por si mesma na Nova Jerusalém? A Jerusalém apocalíptica é o Corpo místico de Cristo, o “Super-homem” que começa a se formar diante de nossos próprios olhos, pelo esforço único do homem, através das façanhas da tecnologia e do aparecimento dos Superestados. E esta “superevolução” pretende continuar a evolução darwiniana das formas orgânicas.

Se a religião panteísta sempre existiu como fenômeno oculto transmitido pela maçonaria e pelas seitas, agora dispõe de uma generosa difusão no recente movimento, embora já muito poderoso, da New Age. É suficiente citar a profissão de fé feita por um jornalista partidário desta Nova Era de Aquário para compreender a influência panteísta, hegeliana, teilhardiana, e por que não confessá-lo, luciferiana, desse movimento:

“O universo em sua totalidade é um ser espiritual, vivo e consciente, do qual nós todos fazemos parte. Esta Consciência, chamem-na  de ‘Deus’ ou do nome que lhes convier, está habitada por aspectos de si mesma, quer dizer, por seres conscientes. O universo não é mais que uma única e mesma vibração, o Amor! A partir do Amor, as consciências desejam ser geradas, como aspectos vibratórios, como sombras, como fontes luminosas. Os seres humanos criaram-se a si mesmos para experimentar o amor, a inteligência, a matéria e a ação. Atravessamos uma série de vidas encarnadas e desencarnadas que nos conduzirá à fusão final com a Consciência Única, que é a identidade subjacente de tudo o que existe no universo, e é a origem e o destino de todos os seres separados. É preciso preparar o futuro da humanidade, o Homem Novo, um ser de quem nós ainda não podemos ter idéia de como será, como tampouco podemos suspeitar em que consistirá a originalidade da Consciência coletiva humana. A missão que cabe a nós, homens da Nova Era, é conduzir todos os seres humanos capazes de ser receptivos ao estado de consciência anterior à queda. Pouco a pouco, esta nova consciência se introduzirá nas atividades cotidianas dos homens e, cada vez mais, as células humanas individuais tomarão consciência do que acontece. A mudança acontecerá a uma velocidade exponencial”[26].

 

4. Discípulos e continuadores de Teilhard

Teilhard está morto e enterrado há algum tempo. Assim também a maior parte de suas obras. O teilhardismo, por outro lado, tem se portado bem. Com a revolução vaticana, Teilhard obteve não só o direito de cidadania, mas o trono de monarca absoluto nos meios eclesiásticos influentes. Se seus primeiros livros destilavam veneno em doses mais ou menos homeopáticas, nos últimos, o veneno corria aos borbotões. As primeiras publicações passavam de mão em mão entre bons amigos. Assim que foi atacado, seus amigos fizeram coro para defender aquele mártir da boa causa. Aproveitaram a ocasião para injuriar seus oponentes e injetar mais evolucionismo teilhardiano nas veias de leitores ingênuos. De Lubac, embora negasse ser teilhardiano, foi seu maior protetor e promotor antes e depois da censura romana. Já falamos também de Von Balthasar, que se inclinou seriamente às doutrinas do seu amigo. Mesmo se, em 1919, Blondel se escandalizava com as afirmações exageradas de uma ação demasiado naturalista e física de Cristo no mundo, manteve, ainda assim, uma grande admiração por este amigo de seus amigos.

“Compartilho também em tudo (como sempre o fiz) as idéias e sentimentos do padre Teilhard sobre o problema cristológico”[27].

Por fim, resta apenas acrescentar algumas palavras sobre a geração seguinte.

Ratzinger cita-o elogiosamente por ter repensado as relações do homem com Cristo a partir da imagem atual do mundo. Não hesita em mesclar o sonho de Teilhard com a cristologia de São Paulo.

“A partir daí, a fé verá em Cristo o começo de um movimento que introduz cada vez mais a humanidade dividida no ser de um único Adão, de um único ‘corpo’, no ser do homem futuro. Verá em Cristo o movimento para este porvir do homem, em que este se compreenderá totalmente ‘socializado’ e incorporado ao Único. Cristo, o último homem: mais que homem, o homem verdadeiro, o mais ilimitado, que não só entra em contato com o Infinito, mas que é um com ele: Jesus Cristo. Nele, o processo de hominização chega realmente a seu termo”[28].

O Papa Paulo VI manifesta também sua amizade por esse arauto dos novos tempos. Em uma entrevista com o padre Boyer, um dos adversários mais encarniçados de Teilhard, o Papa o exorta vivamente a reabilitar simultaneamente Teilhard e De Lubac. Boyer, sob o efeito da pressão pontifícia, é obrigado a escrever a De Lubac, assinalando

“a grande estima que [o Papa] sente por sua pessoa e seus escritos. Ao mesmo tempo, expressou, apesar de algumas reservas, uma apreciação sobre o padre Teilhard que não desagradaria ao senhor. Minhas reflexões me levaram a pensar, pois, que nesse congresso nós deveríamos ouvir uma exposição favorável ao pensamento do padre Teilhard de Chardin”[29].

O futuro João Paulo II estava familiarizado com Teilhard há muito tempo, pois, de acordo com os estudiosos, ele é o autor que cita mais frequentemente, junto com De Lubac. Imitando-o, pensa que a evolução serve de explicação em matéria religiosa, o que chama de historicismo do dogma. O Papa compartilha sua visão escatológica e a aplicou particularmente para o ano 2000. Acredita também na salvação coletiva da humanidade[30]. Sua admiração por Teilhard iguala-se a de Paulo VI. Em 1981, por razão do centenário do nascimento de Teilhard, João Paulo II enviou uma carta ao Instituto Católico de Paris que

“manifestava uma atitude da Santa Sé que lhe era [a Teilhard] bastante favorável, dissipando assim os temores difundidos por teólogos de rara falta de inteligência e grande agressividade; e exaltava a maravilhosa repercussão das suas investigações, ao mesmo tempo que o brilho da sua personalidade e a riqueza do seu pensamento”[31].

Teilhard foi definido ali como

“um homem cativado por Cristo no mais profundo do seu ser, solícito por honrar ao mesmo tempo a fé e a razão, respondendo deste modo, quase com antecipação, a invocação de João Paulo II”.

*

*    *

A teologia de Teilhard[32] situa-se na linha do modernismo panteísta dos Schleiermacher, dos Loisy e dos Tyrrell. Apresenta, inclusive, o mesmo desprezo pela razão[33]. Sacrifica os dogmas mais fundamentais da fé católica: o pecado original, Deus e o Salvador. Oferece incenso aos mitos da Evolução e do Homem, e à salvação universal pelo homem e para o homem. É evidente que Teilhard afirmou coisas contrárias à fé, para quem o compara aos inimigos da Igreja, que souberam usar as teses do paleontólogo jesuíta. Alguns dos seus amigos não duvidam em definir cruamente sua obra:

“Teilhard de Chardin cometeu o pecado de Lúcifer que Roma reprovara nos maçons: no fenômeno da ‘humanização’, o homem é que se encontra no primeiro plano. Quando a consciência alcança seu apogeu, o Ponto Ômega, como diz Teilhard, o homem será tal como nós o desejamos, livre em sua carne e em seu espírito. Assim, Teilhard pôs o homem no altar e, ao adorá-lo, não pôde adorar a Deus”[34].

Seria Teilhard um maçom que vendeu sua alma ao diabo, animado a destruir para construir o novo? Não. Carecia totalmente de espírito prático. Terá servido conscientemente à anti-Igreja para destruir o Reino de Cristo a partir do seu interior? Não se pode ter certeza. Mas fato é que, atuando sozinho no terreno minado da evolução, fez mais pela causa dos inimigos da Igreja do que se o ataque tivesse vindo de fora. Ninguém jamais injetara o veneno modernista da ciência “pura” e do revolucionismo religioso como Teilhard. É preciso reconhecer que seu sistema chega na hora certa para servir aos projetos tanto maçônicos quanto modernistas, pois a nova formulação teilhardiana dos dogmas cristãos é o meio para transformar a Igreja e integrá-la — ou melhor dizendo, desintegrá-la — em uma Superigreja universal. 

Tradução: Ricardo Bellei

 Fonte: Permanencia


[1] Malachi Martin, The Jesuits, p. 286.

[2] Harmorização, hominização, cristogênese, cristificação, plerominização, excentração, etc.; a cadeia de palavras híbridas e indefinidas é longa.

[3] Em De Lubac, La pensée religieuse, p. 328.

[4] Em dom Frénaud, Estudio crítico sobre Teilhard, pp. 6-9.

[5] Em Frénaud, p. 18.

[6] Em Frénaud, p. 11.

[7] Opúsculo Le Christique, em Frénaud, p. 19.

[8] Em Frénaud, Ibid.

[9] Em Courrier II, p. 101, texto de Teilhard explicado no mesmo sentido panteísta por Ratzinger, em La foi chrétienne, hier et aujourd’hui, p. 162.

[10] Citado por Garrigou-Lagrange, capítulo 19.

[11] Muito tempo depois o grande público soube que Teilhard, durante 25 anos, havia sido amante da escultora Lucile Swan, protestante divorciada, segundo relata Mantovani em Avvenire, 14 de fevereiro de 1995, p. 17.

[12] Sinanthropus (Pithecanthropus pekinensis). (Nota do Tradutor).

[13] Em Philippe de la Trinité, Rome et Teilhard de Chardin, pp. 72-74.

[14] Isto supõe afirmar o poligenismo, que despreza o dogma do pecado original universal, o qual exige, ao contrário, a existência de um só casal nas orígens da humanidade.

[15] Dietrich von Hildebrand, The Trojan Horse, apêndice, p. 227. Contra a vontade do autor, o apêndice foi suprimido na tradução francesa do livro (Savoir I, p. 74).

[16] Teilhard, Le Cœur de la matière, em Frénaud, pp. 14-15.

[17] Em Philippe de la Trinité, p. 163.

[18] Carta de 14 de janeiro de 1954, em Philippe de la Trinité, p. 168.

[19] Comment je crois, texto datado de 1934, citado pelo Osservatore Romano de 1 de julho de 1962, apresentando o Monitum do Santo Ofício, em Philippe de la Trinité, p. 190.

[20] Meinvielle, De la cábala al progresismo, conclusão.

[21] Esta é, ao menos, a visão da escola Mahayana, que será retomada substancialmente pelo budismo Zen. Pretende, como Heráclito, que o movimento existe, e que não coisas e nem mesmo pessoas, entendidas como substâncias. O mundo é essencialmente vazio (sunyata) e aquilo que consideramos como coisas depende tanto do Grande Todo monista como do pensamento humano. O homem compreende a harmonia de todas as coisas quando entende que o mundo vazio, o eu não-ser e o nirvana-extinção são iguais. Isto se consegue, em última instância, pelo Zen — meditação — religioso e filosófico que considera o «eu» como o que é na realidade, quer dizer, vazio, apagado e, definitivamente, um «não-eu» (em Cooper, World of Philosophies, pp. 40-44, 214-222).

[22] Na doutrina católica, tudo se sustenta reciprocamente ou tudo desmorona. A redenção é correlativa ao dogma do pecado original. Santo Agostinho, paradoxalmente, demostrou a existência do pecado original, entre outras razões, pela fé no Salvador do gênero humano.

[23] Meinvielle, De la Cábala al progresismo, passim; Molnar, Le Dieu inmanent. Todas as religiões orientais (budista, brahmanista, hinduista) são amplamente sincretistas e são enriquecidas com as recentes contribuições que têm modificado notavelmente seus credos.

[24] O teosofismo nega a existência de um Deus pessoal e criador de todas as coisas. Segundo esta teoria, Deus é idêntico e consubstancial ao mundo, a matéria com o espírito. Por outro lado, distingue o Cristo singular (o Deus antropomórfico que, de acordo com eles, é somente um sábio como Buda) do Cristo universal. Veja Hugon, Les 24 thèses thomistes, pp. 80-86; Action familiale et scolaire, «Connaissance élémentaire du Nouvel Âge», suplemento do número 94, pp. 52-53.

[25] Escreve em L’union créatrice: «[Minha concepção] sugere que a criação não foi absolutamente gratuita, mas que representa uma obra de interesse quase absoluto. Tudo isto redolet manicheismum… É verdade, mas, sinceramente, podem-se evitar estes obstáculos — ou melhor dizendo, estes paradoxos — sem cair em explicações puramente verbais?» (em Frénaud, p. 15).

[26] Eric Pigani, Channel, les médiums du Nouvel Âge. Os itálicos são nossos.

[27] Blondel, 5 de dezembro de 1919, em Courrier II, p. 175.

[28] Ratzinger, La foi chrétienne, hier et aujourd’hui, pp. 159-163, em Courrier II, pp. 100-101.

[29] Courrier II, p. 92.

[30] Ver capítulo 24.

[31] La sapienza della Croce, abril-junho de 1996, p. 137, em Courrier II, p. 120.

[32] A título de curiosidade, o escritor Morris West, em sua obra “As Sandálias do Pescador” (The shoes of the Fisherman – publicado em 1963) e, depois, no filme homônimo (1968), retratou Teilhard de Chardin como o controverso Padre Jean Tellemond (interpretado por Oscar Werner), amigo pessoal do “papa russo” Kiril Lakota (interpretado por Anthony Quinn) e inimigo confesso do então Santo Ofício. A semelhança com a realidade é realmente impressionante. (Nota do Tradutor)

[33] F. Brunelli, Principi e metodi di massoneria operativa, pp. 66-84: «A iniciação instrui e ensina: Morte à razão! Somente quando a razão morrer poderá nascer o homem novo da Era futura, o verdadeiro iniciado. Somente assim poderão cair as muralhas dos templos, porque a aurora de uma nova humanidade surgirá no Oriente… Todas as disputas (religiosas) desaparecerão com o rechaço da lógica e do princípio de contradição» (em Courrier I, p. 409).

[34] J. Mitterrand em René Valvève, Teilhard l’apostat, p. 52, em Courrier I, p. 417.

FÁTIMA VERSUS ASSIS

francois_assise_160920Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Aos 13 de maio de 1917, a Virgem apareceu em Fátima para pedir que rezássemos o terço todos os dias a fim de obtermos a paz no mundo e o fim da guerra. Dois meses depois, em 13 de julho , ela reitera seu pedido: “Eu quero que vocês continuem a rezar o terço todos os dias em honra de Nossa Senhora do Rosário, para obter o fim da guerra e a paz no mundo. “

Em 20 de setembro de 2016, no Dia Mundial de Oração pela Paz, não houve menção alguma a Nossa Senhora do RosárioSeu divino Filho, único mediador dado por Deus aos homens, teve na pessoa do seu Vigário na terra a permanência com infiéis e pagãos, com os inimigos jurados da Cruz, bem como com as seitas que estão dilacerando sua igreja.

O católico sabe bem onde encontrar a paz nesta terra, que é o fruto da caridade. Ubi Crux, pax ibi. Se queremos paz, devemos pregar Jesus Cristo integralmente, e trabalhar para expandir sobre a terra o reino de Deus, isto é, o reinado de Cristo sobre os indivíduos, as famílias e as sociedades. Só Ele é o Príncipe da Paz – Princeps Pacifer (liturgia da festa de Cristo Rei).

São Paulo proclama: “É Ele, Jesus Cristo, que é nossa paz …”Ef 2, 14 ).

O espírito da Cruz de Cristo e a honra a Nossa Senhora: isso é mais do que nunca, o objetivo da Cruzada de Rosários que a FSSPX lançou para comemorar o centenário de Fátima . E reparar o escândalo de Assis.

Pe. Christian Thouvenot , Secretário-Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X

ESTUDO SOBRE O NATURALISMO DOS “MISTÉRIOS LUMINOSOS” DO PAPA JOÃO PAULO II – PARTE 4/4

Fonte: SSPX Asia – Tradução: Dominus Est 

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Frutos do Rosário

Se for necessária uma última prova sobre todo esse espírito naturalista da carta apostólica, ele encontra-se na discussão sobre os frutos do Rosário. Há, antes de tudo, uma reinterpretação humanista das graças a serem recebidas pela meditação dos mistérios, especialmente nos mistérios dolorosos e gloriosos. Tradicionalmente, meditamos os mistérios dolorosos em reparação aos nossos pecados e aos pecados do mundo, para que assim cresçamos em contrição e, ao sermos purificados das desordens da nossa sensualidade e orgulho, possamos carregar nossa cruz. Todavia, de acordo com a Carta Apostólica de João Paulo II, os mistérios dolorosos são simplesmente “o ápice da revelação do amor e a fonte da nossa salvação” que revela “o mesmo sentido do homem” através da “força regeneradora” do “amor de Deus” (§22). Essa é uma consequência direta da nova teologia naturalista do Mistério Pascal, que diz que não há necessidade de penitência, sacrifício e satisfação dos pecados. O sofrimento humano de Cristo simplesmente nos dá um maior conhecimento da humanidade em comum (isto é, do próprio “sentido do homem”). Visto assim, esse humanismo é em si mesmo uma revelação do amor de Deus, pois Cristo é a melhor manifestação humana desse amor. Pode-se facilmente ver que nenhum fruto sobrenatural pode vir dessa nebulosa experiência, pois ela não nos atrai ao paraíso, nem nos inspira a desprezar as coisas da terra e abraçar nossa cruz.

A mesma coisa pode se dizer das graças que se obtêm dos mistérios gloriosos. Tradicionalmente, eles nos dão as virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade) e nos dão um fervente desejo pelo Paraíso, além da humilde devoção e confiança na Santíssima Virgem Maria. Já na Carta Apostólica é dito que nos mistérios gloriosos “o cristão descobre novamente as razões da própria fé” (§23) — algo que não faz sentido algum para aqueles que acreditam que a Fé é um dom gratuito de Deus aceito por causa da autoridade D’Ele e porque Ele não pode enganar nem ser enganado. Apenas uma fé [puramente] humana procuraria confirmações desse tipo. Ademais, o Papa João Paulo II resume os frutos dos mistérios gloriosos dizendo que eles “alimentam nos crentes a esperança da meta escatológica, para onde caminham como membros do Povo de Deus peregrino na história” (§23). Essa estranha expressão indica que o propósito desses mistérios é ajudar crentes de todos os tipos (pois a ambígua expressão “o povo de Deus” é deliberadamente estendida aos que não são católicos), e ajudá-los na “história” — ou seja, nesta terra — em que a própria Igreja é uma peregrina que não sabe para onde os tempos modernos e as mudanças a levam, embora Ela sempre tenha uma mente aberta. A escatologia é o estudo do destino final, mas aqui o termo “meta escatológica” é usado em sentido ambíguo, de modo que ele muito bem poderia se referir ao destino final do povo de Deus na busca da paz e justiça terrenas, assim como na busca de uma vida perene. Novamente a perspectiva naturalista torna a verdadeira graça ausente. Continuar lendo

ESTUDO SOBRE O NATURALISMO DOS “MISTÉRIOS LUMINOSOS” DO PAPA JOÃO PAULO II – PARTE 3/4

Fonte: SSPX Asia – Tradução: Dominus Est

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Os “melhoramentos” do Rosário

A mais óbvia das melhoras a ser feita no Rosário é a adição de uma nova série de cinco dezenas para ser recitada após os Mistérios Gozosos (§19 e §21). A escolha desses novos mistérios, que o Papa chama de “momentos luminosos”, não é de maneira alguma por acaso. Há um esforço deliberado para evitar os dois principais fatores que contribuíram para que São Domingos determinasse as 15 dezenas as quais estamos acostumados. Primeiro, os mistérios foram dados a ele pela Tradição, e em segundo esses mistérios são eventos objetivos da nossa Redenção. Os 15 mistérios do Rosário como o conhecemos são eventos que aconteceram e que constituíram etapas importantes no cumprimento da Redenção, seja pela Encarnação (no caso dos Mistérios Gozosos), seja pelo mérito e reparação (como nos Mistérios Dolorosos), seja pela causalidade exemplar (como nos Mistérios Gloriosos). Os três conjuntos de mistérios são necessários a nossa redenção, e não poderia ser de outra maneira. É verdadeiro que muitos dos mistérios estão na Sagrada Escritura, todavia, não é por essa razão que eles foram incluídos no Rosário. Eles foram incluídos porque a Tradição católica vivente transmitiu até São Domingos como os mistérios da nossa redenção precisam ser meditados através do Rosário. Por conseguinte, é completamente falso chamar o Rosário de “compêndio do Evangelho” (§19) como ele é chamado na Carta Apostólica. Da mesma maneira, não está de acordo com a Tradição católica — portanto não é católico — querer adicionar cinco mistérios “para que o Rosário possa considerar-se mais plenamente ‘compêndio do Evangelho’” (§19). Ademais, não é surpreendente notar que os mistérios de luz propostos não são eventos da nossa Redenção. São apenas belos episódios do Evangelho e palavras para nos encorajar. Consequentemente, a inserção desses trechos no Rosário obscurece a realidade e a importância da redenção objetiva que o Rosário tradicional representa. Além disso, os novos mistérios são histórias do Evangelho que a Tradição nunca ligou de qualquer maneira ao Rosário. Para acrescentar mais elementos antagônicos ao verdadeiro aspecto mariano da devoção ao Santo Rosário, apenas um desses mistérios menciona a presença e o papel de Nossa Senhora — e apenas de passagem — na ocasião da bodas de Caná. A Santíssima Mãe não está de maneira alguma presente nos demais mistérios. É o caso de se perguntar o que eles estão fazendo no Rosário além de levar sub-repticiamente a atenção para longe de Nossa Senhora.

Citemos esses cinco “momentos” “luminosos” e “significantes” (§21): O batismo de Cristo no Jordão, sua auto-revelação nas bodas de Caná, seu anúncio do Reino de Deus com o convite à conversão, sua Transfiguração e, enfim, a instituição da Eucaristia. Você pode legitimamente se perguntar por que esses episódios do Evangelho e o quê esses episódios têm em comum para merecer o título de “mistérios de luz”. Evidentemente não têm nada a ver com Nossa Senhora, ou mesmo com a redenção objetiva. Continuar lendo

O PRETENCIOSISMO TEILHARDIANO DO “PREGADOR DA CASA PONTIFÍCIA”

Resultado de imagem para Raniero Cantalamessa heresiapor Christopher A. Ferrara

Durante as Vésperas do “Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação”, o Padre Raniero Cantalamessa, o velho Modernista que tem sido o “Pregador da Casa Pontifícia” ao longo dos últimos 36 anos, pronunciou esta tolice durante a sua pseudo-homilia:

Quanto tempo teve o universo de esperar até chegar a este ponto?! Foram precisos biliões de anos, durante os quais a matéria opaca evoluiu rumo à luz da consciência, como a seiva que lentamente sobe desde debaixo da terra até ao cimo da árvore, para fluir nas suas folhas, flores e frutosAtingiu-se finalmente esta consciência quando “o fenómeno humano”, como Teilhard de Chardin lhe chama, apareceu no universoMas agora, tendo o universo atingido esse objetivo, detém-se na expectativa de que os seres humanos façam o seu dever tomando a seu cargo a tarefa, por assim dizer, de regerem o coro e entoarem, em nome de toda a Criação: “Glória a Deus nas alturas!”

Claro que tudo isto é panteísmo rançoso: O “universo” fez nascer a consciência humana — não foi Deus, Uno e Trino, pela criação especial de Adão e Eva, a quem deu uma alma racional. Outro tanto teremos de dizer quanto à narrativa da Criação no Génesis e quanto ao ensinamento infalível da Igreja sobre a descendência de toda a raça humana, proveniente dos nossos primeiros pais que, no Paraíso, pecaram contra Deus perdendo a Graça.  -Não! Segundo o que diz “o Pregador da Casa Pontifícia,” a consciência humana é uma coisa que parece que borbulhou da “matéria opaca” para fora — uma superstição rude e digna de idólatras pagãos da selva. Continuar lendo

ESTUDO SOBRE O NATURALISMO DOS “MISTÉRIOS LUMINOSOS” DO PAPA JOÃO PAULO II – PARTE 2/4

Fonte: SSPX Asia – Tradução: Dominus Est

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Naturalismo, o defeito primordial da carta

Há um espírito que não se menciona explicitamente na carta, mas toda ela é permeada por ele: é o naturalismo. Embora lá se diga que o Rosário é uma “contemplação salutar” (§13), não há qualquer menção sobre como ele ajuda na salvação, isto é, como ele pode dar a graça divina, inspirar mortificação e sacrifício, elevar as almas à verdade sobrenatural e eterna e ao amor sobrenatural a Deus. Eliminar essa clara distinção entre as ordens natural e sobrenatural — e eliminar a menção de qualquer coisa especificamente sobrenatural — é o erro modernista de Henri de Lubac que o Papa Pio XII condenou em sua encíclica Humani generis.

A evidência de que o erro naturalista permeia a carta Rosarium Virgnis Mariae reside no fato de que toda afirmação lá feita acerca de meditação e Rosário poderiam ser tanto interpretada facilmente em termos de meditação natural (isto é, de uma experiência psicológica) quanto em termos de meditação sobrenatural. Citemos alguns exemplos disso a seguir.

Afirma-se que “O contemplar de Maria é, antes de mais, um recordar” (§13); e que o “Rosário” de Maria consistia nas lembranças que tinha de seu Filho (§11); e que essa “oração marcadamente contemplativa” “por sua natureza (…) requer um ritmo tranquilo e uma certa demora a pensar” (§12).

A meditação sobrenatural vai muito além da pura lembrança, pois ela preenche a alma com a convicção e o desejo de amar e se sacrificar pelo amado. Ademais, meditação sobrenatural não é produto de um mantra ou produto da maneira em que alguma oração particular é dita — como são as meditações naturais da yoga e de religiões orientais. Continuar lendo

ESTUDO SOBRE O NATURALISMO DOS “MISTÉRIOS LUMINOSOS” DO PAPA JOÃO PAULO II – PARTE 1/4

Apresentamos um Comentário do Padre Peter R. Scott – FSSPX, que dividimos em 4 partes para publicação, sobre o Naturalismo da Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae de João Paulo II, publicada em 16 de outubro de 2002.

Fonte: SSPX Asia – Tradução: Dominus Est

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Naturalismo e o Rosário

Não deve existir nada que possa alegrar tanto o coração de um católico tradicional como uma carta apostólica de um papa sobre o Rosário. O que poderia ser mais propício para a renovação da devoção à Nossa Senhora? O que de mais poderoso poderia superar a impiedade dos nossos tempos? O que, em última análise, poderia estar mais de acordo com os pedidos de Nossa Senhora de Fátima sobre a consagração e o triunfo do Imaculado Coração? O que de fato poderia ser mais efetivo como resposta ao ecumenismo, à liberdade religiosa e aos outros erros do Concílio Vaticano II, incompatíveis como são com a verdadeira devoção à Nossa Senhora?

Entretanto, nosso entusiasmo inicial acerca de um pronunciamento papal sobre o Rosário se esvaece tão logo estudamos a carta e percebemos que ela é uma tentativa velada de promover o naturalismo da revolução pós-conciliar, e isso vem disfarçado no tratamento dado à mais tradicional devoção que os católicos conhecem. Como isso poderia ser possível? Como poderia um papa errar recomendando o Rosário? Como poderia Nossa Senhora abandonar aqueles que continuam a recitar suas Ave-Maria? Como poderia um católico criticar um papa que diz que o Rosário é “sua oração predileta”, “Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade” (§2)? Continuar lendo

OREMOS PELOS MÁRTIRES CRISTÃOS DE HOJE

assisi_0_0Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Um novo encontro inter-religioso acontecerá em Assis no dia 20 de setembro de 2016, presidido pelo Papa Francisco. Armado com os imutáveis ensinamentos dos Papas até o período anterior ao Concílio Vaticano II, a Fraternidade São Pio X não rezará junto com os 400 representantes de religiões do mundo que invocarão suas crenças em Maomé, Buda, Confúcio e Kali, juntamente com a profissão da fé católica: Creio em Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, e de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos.

A Fraternidade rezará com e por aqueles que atualmente são objetos de perseguição por sua fidelidade ao Credo Católico, pelos cristãos martirizados no Egito, Síria, Iraque, Nigéria, Paquistão, Tailândia, Indonésia, Filipinas …

O Capítulo Geral da Fraternidade São Pio X fez questão de recordar sua declaração final de 14 de Julho de 2012: “Nos unimos a todos os cristãos que sofrem perseguições em países espalhados pelo mundo e que sofrem pela fé católica, muitas vezes até a morte. Seu sangue, derramado em união com o da Vítima em nossos altares, é o símbolo da renovação da Igreja in capite et membris, de acordo com o velho proverbio que diz: ‘sanguis martyrum semen christianorum’.” (DICI no. 259, 10/08/12)

Para pedir a Deus pela paz, sem qualquer erro ecumênico ou ambiguidade inter-religiosa, a FSSPX faz suas as palavras a da Coleta da Festa de Cristo Rei, instituída por Pio XI: “Onipotente e sempiterno Deus, que quiseste restaurar todas as coisas em vosso amado Filho, Rei do universo: concedei propício que todas as nações da terra que estão divididas pela ferida do pecado, possam se submeter ao suavíssimo jugo de seu governo“.

Fr. Alain Lorans

MADRE TERESA DE CALCUTÁ: VERDADEIRA OU FALSA CARIDADE?

Irmão Marie-Dominique, O.P.

O testemunho dos santos tem o seu valor; a nossa época teve o testemunho de Madre Teresa de Calcutá, humilde filha da Albânia, que – pela graça de Deus – se transformou em um exemplo de exercício da caridade e de serviço à promoção do ser humano para o mundo inteiro.” (Bento XVI, em 8 de março de 2009)[1].

Reuníamo-nos todas as manhãs na casa geral e gozávamos da alegria de nos ajoelharmos ao pé do túmulo de Madre Teresa.

Era impressionante observar um budista em posição de lótus ao lado de um muçulmano de rosto em terra e, próximo a eles, um cristão de joelhos. Nisso há um mistério! Lá estavam os três, sem se defrontarem; melhor ainda, estavam trabalhando juntos, pois é a caridade que os reúne.(Pe. Benoît-Joseph, da comunidade das Beatitudes[2]).

I. Elementos Biográficos

1. Infância

Em 26 de agosto de 1910, nascia Gonxha (Inês) Bojaxhin, na cidade de Skopie – que então se chamava Üsküb – na Macedônia, ainda sob o domínio turco[3]. Os católicos eram ali minoritários, espremidos entre ortodoxos hostis e muçulmanos.

Os pais de Gonxha eram emigrantes da Albânia. Eles já haviam dado à luz Aga e Lázaro, quando Gonxha, a última de seus filhos, veio ao mundo.

Rapidamente a criança revelou saúde frágil, sempre acometida de gripes e problemas respiratórios. Quando atingiu a idade escolar, os pais decidiram matriculá-la, primeiro em uma escolinha administrada por religiosas, depois em uma escola laica sem Deus, no liceu estatal, a exemplo dos outros filhos. Eram pouquíssimos os católicos em Skopje, para que dispusessem de um estabelecimento confessional que assegurasse educação integral. Continuar lendo

PAULO VI, O SEPULTADOR DA TRADIÇÃO

Nota da Permanência: Apresentamos a seguir um capítulo do livro “Cem anos de modernismo” (Cent ans de modernsime. Généalogie du Concile Vatican II, Editions Clovis, 2003) do padre Dominique Bourmaud, FSSPX.

Capítulo XXII

Há mais de um século que os Carbonários, a maçonaria italiana, tinham planejado destruir o papado:

“O trabalho que empreenderemos não é obra de um dia, nem de um mês, nem de um ano: pode durar vários anos, talvez um século; mas em nossas fileiras morre o soldado e a luta continua… O que devemos buscar e esperar, como os judeus esperam o Messias, é um Papa de acordo com nossas necessidades… E este pontífice, como a maioria dos seus contemporâneos, estará mais ou menos imbuído dos princípios humanitários que começaremos a pôr em circulação… Quereis estabelecer o reino dos escolhidos sobre o trono da prostituta da Babilônia? Que o clero marche sob o vosso estandarte, crendo sempre marchar sob a bandeira das Chaves Apostólicas… Estendei vossas redes… no fundo das sacristias, dos seminários, dos conventos… Tereis pregado uma revolução de tiara e capa pluvial, marchando com a cruz e a bandeira, uma revolução que não necessitará senão ser ligeiramente estimulada para atear fogo em todos os extremos da terra”[1].  Leia mais

Na falta de um revolucionário de tiara e capa pluvial, comparou-se Paulo VI com Moisés guiando o povo escolhido para fora do Egito rumo à terra desconhecida da Promessa. Também é apresentado freqüentemente como um Hamlet que terminou no trono de Pedro. Seu temperamento indeciso resultava, talvez, da falta de uma formação intelectual sólida, uma vez que Giovanni Battista Montini (1897-1978) não havia seguido seminário algum… realidade ainda mais lamentável pelo fato de que seu pai, homem influente, publicava uma revista de tom liberal. Deste fato procediam suas utopias juvenis de que é possível colaborar com a esquerda mas não com a direita[2]. Essas deficiências intelectuais não faziam mais que aumentar, pelo predomínio que, nele, a imaginação tinha sobre a realidade: Continuar lendo

A PROTESTANTIZAÇÃO DO CONCÍLIO VATICANO II – PARTE 3

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  1. A constituição dogmática sobre a Revelação Divina “Dei Verbum”

Esta constituição abandona a doutrina católica das duas fontes da Revelação, para aproximar-se do sola scriptura dos protestantes. Apresentam-nos de imediato no capítulo 1 a Revelação não mais como comunicação das verdades sobre Deus e suas intenções salvíficas, mas como auto-comunicação de Deus; nisto põem em evidência a passagem da perspectiva objetiva à perspectiva subjetiva.

No artigo 5, descrevem a fé como encontro pessoal com Deus, e dom do homem para com Ele; não se deveria mais considerar a tradição como complemento quantitativo e material da Escritura. Ela teria apenas uma dupla função de reconhecimento do teor do cânon e certidão da revelação. De modo ambíguo, não apresentam o magistério abaixo da palavra de Deus, senão que a seu serviço.

Reconhece-se fortemente no artigo 12 a exegese moderna com sua “Formengeschichte”, embebida no espírito protestante de Bultmann. Não mais se atribui à Santa Escritura a inerrância, mas só dizem que ela ensina a verdade.

artigo 19 fala que os Evangelhos oferecem o veraz e o sincero – no texto originam, acrecentaram: “alimentados pela força criativa da comunidade primitiva”, suprimido após o protesto de muitos dos Padres do Concílio. Na 2ª frase deste artigo, assume o Concílio sem meias palavras a exegese moderna: os apóstolos pregavam uma compreensão mais plena do Cristo, os redatores dos Evangelhos “redigiram” o material desta prédica, i. é., material que eles selecionaram, resumiram e atualizaram. Continuar lendo

A PROTESTANTIZAÇÃO DO CONCÍLIO VATICANO II – PARTE 2

protIII. A INFLUÊNCIA DOS PROTESTANTES SOBRE O CONCÍLIO

Com tamanha presença de protestantes no Concílio – presenças direta e indireta – como espantar-se da influência sobre o Concílio e seus documentos? Citemos-lhe alguns para fundamentar a afirmação:

  1. O decreto “Sacrosanctum Concilium” sobre liturgia

Já no artigo 5, encontramos a noção de mistério pascal, que põe a tônica da Redenção na Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e arrefece a realidade do sacrifício expiatório da liturgia.

No artigo 6, mencionam o mistério pascal duas vezes.

No artigo 7, equiparam a presença do Cristo na Santa Missa e na substância transubstanciada com a presença no ministro da ação litúrgica, na virtude dos sacramentos, na palavra, ou com a presença que há onde duas ou três pessoas estiverem reunidas em seu nome. Uma tal ordem de coisas é um empréstimo manifesto dos protestantes.

No artigo 22, há clara descentralização da competência, em matéria litúrgica: a partir de agora é o bispo local, e sobretudo a conferência episcopal as estâncias decisórias.

Nos artigos 24 e 51, fala-se da grande importância da Santa Escritura na liturgia. Continuar lendo

A PROTESTANTIZAÇÃO DO CONCÍLIO VATICANO II – PARTE 1

cviiConferência do Sr. Padre Franz SCHMIDBERGER no Simpósio de Teologia em Paris, outubro de 2005.

RESUMO DA POSIÇÃO PROTESTANTE

1 – O ponto de partida do protestantismo, sua base filosófica e teológica, é sem dúvida a concepção de Lutero acerca do pecado e da justificação.

Para ele, corrompeu o pecado totalmente a natureza humana, não há sequer liberdade moral. Assim, nada encontra a graça de Deus que curar, transformar, divinizar, limitando-se tão-só a uma declaração exterior: Deus encobre o pecado com o manto dos méritos de seu Filho, não imputando-lhe de pecado, contudo o pecador conserva sua natureza corrompida.

2 – De tal parecer do estado da natureza decaída, decorrem os quatrosoli de Lutero:

a)Sola fide: salva-se o homem só pela fé; notem que, entre os reformadores, concebe-se a fé enquanto fé confiante nos méritos do Cristo Redentor, e não enquanto plena aceitação da Revelação de Deus sob impulso da graça. As boas obras – o jejum, a oração, a esmola, a penitência, a mortificação – não contribuem para a salvação, antes são sinais de fé. Exprime Lutero desta forma seu pensamento de modo categórico: “Peca fortemenTe e crê mais fortemente ainda, e tu serás salvo”. Continuar lendo

DE CAPITULAÇÃO EM CAPITULAÇÃO CHEGAMOS ÀS DIACONISAS

Na igreja conciliar é assim. Tudo começa com as “coroinhetes”. Após um período a candidata pode ser “elevada” à categoria de “Ministra” da Liturgia, depois da Comunhão, ser “gerente” da paróquia…. até chegar no que vemos hoje!!

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Foi anunciada pelo Vaticano há poucos dias a constituição de uma comissão de teólogos e teólogas encarregada de estudar o diaconato feminino na Igreja primitiva. A referida comissão é fruto de um pedido de  um grupo de religiosas ao papa Francisco I, que a instituiu após “muita oração e reflexão” – assim diz a nota da Santa Sé.

De acordo com os melhores estudiosos do assunto, não há nenhuma dúvida de que as diaconisas dos primeiros tempos da Igreja eram mulheres piedosas que se encarregavam de obras de caridade, recebiam uma bênção (com imposição das mãos do bispo) e tal bênção não era absolutamente um sacramento, mas apenas um sacramental.

À luz da tradição constante da Igreja e do magistério dos papas, não procede nenhuma discussão sobre a admissibilidade do sacerdócio feminino na Igreja Católica. Se por desgraça amanhã houver o abuso de uma ordenação de diaconisas, o sacramento da ordem a elas conferido, sobre ser um sacrilégio, será inválido, mas poderá originar uma enorme confusão na Igreja porque já não serão vistas essas reverendas diaconisas como leigas mas como membros do clero e pertencentes à hierarquia eclesiástica. E certamente não se contentarão em ser diaconisas permanentes mas vão pretender galgar os graus mais altos da hierarquia. Continuar lendo

MUITO CUIDADO COM OS NEO-MODERNISTAS!!!

INTRODUÇÃO
Em primeiro lugar, creio haver mister uma observação preliminar, não ignorando da possibilidade de existir consciências falseadas. Aliás, a observação não é minha mas de São Pio X na Encíclica “Pascendi”, com a qual condenou o Modernismo. Diz o imortal Pontífice: “Pasmem embora homens de tal casta (=os modernistas) que nós os ponhamos no número dos inimigos da Igreja; não poderá, porém, pasmar com razão quem quer que , postas de lado as intenções de que só Deus é juiz, (sublinhado meu) se aplique a examinar as doutrinas e o modo de falar e de agir de que lançam eles mão” (sublinhado meu). Ao falar dos neo-modernistas podemos e até devemos, aplicar o mesmo princípio acima enunciado. O próprio Divino Mestre declarou que pelos frutos se conhece a árvore. 
Outra observação: Entre nós tradicionalistas, ou melhor dizendo, entre aqueles que, pela graça de Deus, permanecem fiéis à Santa Madre Igreja, e, portanto, devem combater o Modernismo, é extremamente necessário que não aja divisão e sobretudo REBELIÃO contra a autoridade legítima;  pois isto, é fazer papel de sapa no próprio exército. Em uma palavra: é, mesmo pretendendo combater o modernismo,  fazer o papel  dos mesmos.  
Uma última observação que é de Santo Agostinho: “In principiis unitas, in dubiis libertas, in omnibus charitas” – Nos princípios unidade, nas coisas livres liberdade, em tudo a caridade. 
 
O modernismo, nos últimos tempos, recebeu o nome de “Progressismo”. É o modernismo colocado em prática através do fator “progresso”. Como vimos na postagem anterior, os modernistas ensinam que a Igreja mostra-se incapaz de defender eficazmente a moral evangélica, porque adere obstinadamente a doutrinas imutáveis, que não podem conciliar-se com o progresso moderno; e o progresso das ciências exige que se reformem os conceitos da doutrina cristã sobre Deus, a Criação, a Revelação, a Pessoa do Verbo Encarnado e a Redenção. Como eles sabem que esta mudança na doutrina, nos dogmas da Igreja, não é aceita pelos católicos, nem mesmo por aqueles que só conhecem o Primeiro Catecismo, usam, então, o disfarce, para assim conseguirem uma baldeação ideológica inadvertida. Em outras palavras, não atacam de frente, têm paciência diabólica para trabalhar as mentes aos poucos e de maneira disfarçada. Fazem uma lavagem cerebral mudando as idéias tradicionais, aos poucos, sem a pessoa perceber. Agem mais através dos ambientes que vão criando com imprecisões de linguagem e termos ambíguos. Há, no entanto, um critério para surpreendê-los, critério este que não falha. Qual é? É o seguinte: Todas as suas imprecisões , ambiguidades,  novos formulários, etc., obedecem à mesma direção. Operam no sentido de afastar os fiéis da Tradição, das fórmulas tradicionais, dos limites precisos entre a verdade e o erro, dos costumes elaborados lenta e seguramente pelos séculos de Cristianismo, de tudo enfim que indique, sem o menor perigo de engano, o Cristianismo ortodoxo, a fidelidade à Revelação e ao Espírito de Jesus Cristo.

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AS MARCAS DA “IGREJA MUNDIAL”

O famoso teólogo jesuíta Karl Rahner, que foi um dos pais da hermenêutica da “descontinuidade” em uma conferência na cidade de Bruxelas, afirmava que “a partir do Concílio, a Igreja se tornava mundial”
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Karl Rahner dá as pistas da verdadeira finalidade progressista revolucionária imanente no Concílio Vaticano II: “O Concílio é naturalmente uma indicação muito abstrata e formal daquilo que vai se formando até que se configure totalmente esta Igreja Mundial”

Carmelitas Eremitas — El Ermitaño / Sensus Fidei: O Concílio Vaticano II fez surgir, segundo alguns teólogos, uma nova Igreja. A partir deste tempo, já não se deveria chamar a Igreja de Católica, mas sim de Igreja Mundial (!) A antiga Una e santa Igreja Católica caracterizada pela cultura Greco-romana, não teria mais vez no mundo da pós-modernidade… Chegara, portanto o tempo de surgir uma Igreja nova e pluralista, aberta a todas as culturas e religiões que deveria suceder a esta antiga Igreja e se impor em todos os ambientes eclesiásticos.

O famoso teólogo jesuíta Karl Rahner, que foi um dos pais desta hermenêutica da “descontinuidade” em uma conferência na cidade de Bruxelas, afirmava que “a partir do Concílio, a Igreja se tornava mundial”. Assim, continua dizendo que “neste Concílio ainda que de maneira germinal e obscura se proclama uma passagem da Igreja Ocidental para a nova Igreja Mundial.” “O Concílio é naturalmente uma indicação muito abstrata e formal daquilo que vai se formando até que se configure totalmente esta Igreja Mundial.” E no decorrer de suas afirmações podemos identificar as marcas dessa nova Igreja preconizada por esse ideal liberalista: Continuar lendo

A ASCENSÃO DOS NEO-CASUÍSTAS

Por Christopher A. Ferrara

Entre os Bispos só se ouve o cantar dos grilos, enquanto Francisco alegremente vai seguindo em frente. “Sou por natureza inconsciente e por isso sigo em frente”, foi o que Francisco disse despreocupadamente a um grupo de estudantes no Vaticano, em Maio passado.

No entanto, os leigos e alguns sacerdotes corajosos estão a crescer em número para fazerem soar o alarme sobre o curso temerário deste Pontificado. Uma nova voz importante a este respeito é nada mais nada menos que a de Monsenhor Michel Schooyans, que foi conselheiro próximo do Papa João Paulo II e confidente do Papa Bento XVI, e que, como relata o LifeSiteNews, “emitiu uma advertência grave sobre a atual trajetória da Igreja Católica.”

O Life Site News publicou um relatório feito por Schooyans cujas conclusões não poderiam ser mais arrasadoras para o mito do Pontificado Bergogliano de “misericórdia” e “simplicidade” que deixa para trás o “rigorismo” farisaico do passado. Pelo contrário, Schooyans adverte que o Sínodo sobre a Família “revelou… um profundo mal-estar na Igreja” cujos sintomas incluem “debates recorrentes sobre a questão das pessoas divorciadas e re-casadas, modelos de famílias, o papel das mulheres, o controle da natalidade, as ‘barrigas de aluguer’, a homossexualidade, a eutanásia”. Pura e simplesmentediz Schooyans —“A Igreja é desafiada até aos seus fundamentos.” Continuar lendo

O CONCEITO DE LIBERDADE RELIGIOSA NA “DIGNITATIS HUMANAE” DO CONCÍLIO VATICANO II

Dom Antônio de Castro Mayer

Em matéria de liberdade religiosa na ordem civil, três pontos capitais, entre outros, são absolutamente claros na tradição católica:

1. Ninguém pode ser obrigado pela força a abraçar a fé;

2. O erro não tem direitos;

3. O culto público das religiões falsas pode, eventualmente, ser tolerado pelos poderes civis, em vista de um maior bem a obter, ou de um maior mal a evitar, mas de si deve ser reprimido, mesmo pela força, se necessário.

É o que se depreende, por exemplo, dos seguintes documentos:

PIO IX, Encíclica “Quanta Cura”:

“E contra a doutrina da Sagrada Escritura e dos Santos Padres, (os seguidores do naturalismo) não temem afirmar que “o melhor governo é aquele no qual não se reconhece ao poder político a obrigação de reprimir com sanções penais os violadores da religião católica, a não ser quando a tranqüilidade pública o exija”. Desta idéia absolutamente falsa do regime social não receiam passar a fomentar aquela opinião errônea e mortal para a Igreja Católica e a salvação das almas, chamada por nosso predecessor de feliz memória, Gregório XVI, loucura, a saber que “a liberdade de consciência e de cultos é um direito próprio de cada homem, que deve ser proclamado e garantido em toda sociedade retamente constituída (BAC, Doutrina Pontifícia, II documentos políticos, 1958, p. 8)”.

“Syllabus” de PIO IX:

“77. Na nossa época não é mais necessário que a religião católica seja considerada como a única religião do Estado, excluídos os outros cultos.

“78. Por isso é de louvar que em regiões católicas, se tenha providenciado por lei, que aos imigrantes naquelas regiões se permita o culto público próprio deles.” (BAC, ib. p. 37). Continuar lendo