A PROTESTANTIZAÇÃO DO CONCÍLIO VATICANO II – PARTE 1

cviiConferência do Sr. Padre Franz SCHMIDBERGER no Simpósio de Teologia em Paris, outubro de 2005.

RESUMO DA POSIÇÃO PROTESTANTE

1 – O ponto de partida do protestantismo, sua base filosófica e teológica, é sem dúvida a concepção de Lutero acerca do pecado e da justificação.

Para ele, corrompeu o pecado totalmente a natureza humana, não há sequer liberdade moral. Assim, nada encontra a graça de Deus que curar, transformar, divinizar, limitando-se tão-só a uma declaração exterior: Deus encobre o pecado com o manto dos méritos de seu Filho, não imputando-lhe de pecado, contudo o pecador conserva sua natureza corrompida.

2 – De tal parecer do estado da natureza decaída, decorrem os quatrosoli de Lutero:

a)Sola fide: salva-se o homem só pela fé; notem que, entre os reformadores, concebe-se a fé enquanto fé confiante nos méritos do Cristo Redentor, e não enquanto plena aceitação da Revelação de Deus sob impulso da graça. As boas obras – o jejum, a oração, a esmola, a penitência, a mortificação – não contribuem para a salvação, antes são sinais de fé. Exprime Lutero desta forma seu pensamento de modo categórico: “Peca fortemenTe e crê mais fortemente ainda, e tu serás salvo”. Continuar lendo

MUITO CUIDADO COM OS NEO-MODERNISTAS!!!

INTRODUÇÃO
Em primeiro lugar, creio haver mister uma observação preliminar, não ignorando da possibilidade de existir consciências falseadas. Aliás, a observação não é minha mas de São Pio X na Encíclica “Pascendi”, com a qual condenou o Modernismo. Diz o imortal Pontífice: “Pasmem embora homens de tal casta (=os modernistas) que nós os ponhamos no número dos inimigos da Igreja; não poderá, porém, pasmar com razão quem quer que , postas de lado as intenções de que só Deus é juiz, (sublinhado meu) se aplique a examinar as doutrinas e o modo de falar e de agir de que lançam eles mão” (sublinhado meu). Ao falar dos neo-modernistas podemos e até devemos, aplicar o mesmo princípio acima enunciado. O próprio Divino Mestre declarou que pelos frutos se conhece a árvore. 
Outra observação: Entre nós tradicionalistas, ou melhor dizendo, entre aqueles que, pela graça de Deus, permanecem fiéis à Santa Madre Igreja, e, portanto, devem combater o Modernismo, é extremamente necessário que não aja divisão e sobretudo REBELIÃO contra a autoridade legítima;  pois isto, é fazer papel de sapa no próprio exército. Em uma palavra: é, mesmo pretendendo combater o modernismo,  fazer o papel  dos mesmos.  
Uma última observação que é de Santo Agostinho: “In principiis unitas, in dubiis libertas, in omnibus charitas” – Nos princípios unidade, nas coisas livres liberdade, em tudo a caridade. 
 
O modernismo, nos últimos tempos, recebeu o nome de “Progressismo”. É o modernismo colocado em prática através do fator “progresso”. Como vimos na postagem anterior, os modernistas ensinam que a Igreja mostra-se incapaz de defender eficazmente a moral evangélica, porque adere obstinadamente a doutrinas imutáveis, que não podem conciliar-se com o progresso moderno; e o progresso das ciências exige que se reformem os conceitos da doutrina cristã sobre Deus, a Criação, a Revelação, a Pessoa do Verbo Encarnado e a Redenção. Como eles sabem que esta mudança na doutrina, nos dogmas da Igreja, não é aceita pelos católicos, nem mesmo por aqueles que só conhecem o Primeiro Catecismo, usam, então, o disfarce, para assim conseguirem uma baldeação ideológica inadvertida. Em outras palavras, não atacam de frente, têm paciência diabólica para trabalhar as mentes aos poucos e de maneira disfarçada. Fazem uma lavagem cerebral mudando as idéias tradicionais, aos poucos, sem a pessoa perceber. Agem mais através dos ambientes que vão criando com imprecisões de linguagem e termos ambíguos. Há, no entanto, um critério para surpreendê-los, critério este que não falha. Qual é? É o seguinte: Todas as suas imprecisões , ambiguidades,  novos formulários, etc., obedecem à mesma direção. Operam no sentido de afastar os fiéis da Tradição, das fórmulas tradicionais, dos limites precisos entre a verdade e o erro, dos costumes elaborados lenta e seguramente pelos séculos de Cristianismo, de tudo enfim que indique, sem o menor perigo de engano, o Cristianismo ortodoxo, a fidelidade à Revelação e ao Espírito de Jesus Cristo.

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AS MARCAS DA “IGREJA MUNDIAL”

O famoso teólogo jesuíta Karl Rahner, que foi um dos pais da hermenêutica da “descontinuidade” em uma conferência na cidade de Bruxelas, afirmava que “a partir do Concílio, a Igreja se tornava mundial”
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Karl Rahner dá as pistas da verdadeira finalidade progressista revolucionária imanente no Concílio Vaticano II: “O Concílio é naturalmente uma indicação muito abstrata e formal daquilo que vai se formando até que se configure totalmente esta Igreja Mundial”

Carmelitas Eremitas — El Ermitaño / Sensus Fidei: O Concílio Vaticano II fez surgir, segundo alguns teólogos, uma nova Igreja. A partir deste tempo, já não se deveria chamar a Igreja de Católica, mas sim de Igreja Mundial (!) A antiga Una e santa Igreja Católica caracterizada pela cultura Greco-romana, não teria mais vez no mundo da pós-modernidade… Chegara, portanto o tempo de surgir uma Igreja nova e pluralista, aberta a todas as culturas e religiões que deveria suceder a esta antiga Igreja e se impor em todos os ambientes eclesiásticos.

O famoso teólogo jesuíta Karl Rahner, que foi um dos pais desta hermenêutica da “descontinuidade” em uma conferência na cidade de Bruxelas, afirmava que “a partir do Concílio, a Igreja se tornava mundial”. Assim, continua dizendo que “neste Concílio ainda que de maneira germinal e obscura se proclama uma passagem da Igreja Ocidental para a nova Igreja Mundial.” “O Concílio é naturalmente uma indicação muito abstrata e formal daquilo que vai se formando até que se configure totalmente esta Igreja Mundial.” E no decorrer de suas afirmações podemos identificar as marcas dessa nova Igreja preconizada por esse ideal liberalista: Continuar lendo

O CONCEITO DE LIBERDADE RELIGIOSA NA “DIGNITATIS HUMANAE” DO CONCÍLIO VATICANO II

Dom Antônio de Castro Mayer

Em matéria de liberdade religiosa na ordem civil, três pontos capitais, entre outros, são absolutamente claros na tradição católica:

1. Ninguém pode ser obrigado pela força a abraçar a fé;

2. O erro não tem direitos;

3. O culto público das religiões falsas pode, eventualmente, ser tolerado pelos poderes civis, em vista de um maior bem a obter, ou de um maior mal a evitar, mas de si deve ser reprimido, mesmo pela força, se necessário.

É o que se depreende, por exemplo, dos seguintes documentos:

PIO IX, Encíclica “Quanta Cura”:

“E contra a doutrina da Sagrada Escritura e dos Santos Padres, (os seguidores do naturalismo) não temem afirmar que “o melhor governo é aquele no qual não se reconhece ao poder político a obrigação de reprimir com sanções penais os violadores da religião católica, a não ser quando a tranqüilidade pública o exija”. Desta idéia absolutamente falsa do regime social não receiam passar a fomentar aquela opinião errônea e mortal para a Igreja Católica e a salvação das almas, chamada por nosso predecessor de feliz memória, Gregório XVI, loucura, a saber que “a liberdade de consciência e de cultos é um direito próprio de cada homem, que deve ser proclamado e garantido em toda sociedade retamente constituída (BAC, Doutrina Pontifícia, II documentos políticos, 1958, p. 8)”.

“Syllabus” de PIO IX:

“77. Na nossa época não é mais necessário que a religião católica seja considerada como a única religião do Estado, excluídos os outros cultos.

“78. Por isso é de louvar que em regiões católicas, se tenha providenciado por lei, que aos imigrantes naquelas regiões se permita o culto público próprio deles.” (BAC, ib. p. 37). Continuar lendo

A MISSA DE LUTERO

Conferência de Dom Marcel Lefebvre.

Esta noite, falarei da Missa de Lutero e da Missa do novo rito. Por que essa comparação entre a Nova Missa e a Missa de Lutero? Porque a história o diz; a história objetiva não é criação minha. (Sua Excia. mostra então um livro sobre Lutero, publicado em 1911, “Do Luteranismo Ao Protestantismo” de Léon Cristiani). Ele fala sobre a reforma litúrgica de Lutero. Trata-se de um livro escrito em um tempo, em que o autor nem conhecia nossa crise, nem o novo rito; portanto não foi escrito com segundas intenções.

Síntese dos princípios fundamentais da Missa

Primeiramente desejo fazer uma síntese dos princípios fundamentais da Missa, para trazer à nossa memória a beleza, a profunda grandeza espiritual de nossa Missa, o lugar que nossa Missa ocupa na Santa Igreja. Que coisa mais bela Nosso Senhor legou à humanidade, que coisa mais preciosa, mais santa concedeu à Sua Santa Igreja, à Igreja sua Esposa, no Calvário, quando morria na Cruz? Foi o Sacrifício de si mesmo.

O Sacrifício de si mesmo. Sua própria Pessoa, que continua seu Sacrifício. Ele o deu à Igreja, quando morreu na Cruz. A partir desse momento, esse Sacrifício estava destinado a continuar, a perseverar através dos séculos, como Ele o havia instituído, juntamente com o Sacerdócio.

Quando na Santa Ceia, Jesus instituiu o Sacerdócio, Ele o instituiu para o Sacrifício, o Sacrifício da Cruz, porque esse Sacrifício é a fonte de todos os méritos, de todas as graças, de todos os Sacramentos; a fonte de toda a riqueza da Igreja. Isso devemos recordar, ter sempre presente essa realidade, divina realidade. Continuar lendo

“DESTRUIR A MISSA”

Qual é a crise que estamos atravessando atualmente? Manifesta-se, no meu entender, sob quatro aspectos fundamentais para a Santa Igreja.

Manifesta-se, à primeira vista, acredito eu, e me parece que é um dos aspectos mais graves, porque, para mim, se se estuda a história da Igreja, dá-se conta de que a grande crise que atravessou o século XVI, crise espantosa, que arrebatou à Santa Igreja, milhões e milhões de almas, regiões inteiras, Estados na sua totalidade, esta crise foi, antes de tudo, uma crise do culto litúrgico; e que, se atualmente existem divisões entre aqueles que se dizem cristãos, há que se atribuir mais que a outras causas à forma de celebrar o culto litúrgico; e se os protestantes se separaram da Igreja, a causa principal é que os instigadores do protestantismo, como Lutero, disseram, desde o primeiro momento: “Se queremos destruir a Igreja temos que destruir a Santa Missa”. Esta foi a chave de Lutero.

Tinha-se dado conta de que, se chegasse a por as mãos na Santa Missa, se conseguisse reduzir o Sacrifício da Missa a uma pura refeição, a uma comemoração ou recordação, a uma significação da comunidade cristã, a uma rememoração ou memorial da Paixão de Nosso Senhor e, como consequência, que ficasse mais débil o mais sagrado que há na Igreja, o mais santo que nos legou Nosso Senhor, o mais sacrossanto, ele conseguiria destruir a Igreja. E certamente, conseguiu, por desgraça, arrebatar à Igreja nações inteiras, obrando dessa forma. Continuar lendo

CARACTERÍSTICA DA NOVA IGREJA: A RELIGIÃO DO HOMEM

Ou pela dificuldade do empreendimento, ou por uma concessão ao espírito do tempo, o fato é que, na execução do plano traçado pelo Concílio, em largos meios eclesiásticos, o esforço na adaptação foi além da simples expressão mais ajustada à mentalidade contemporânea. Atingiu a própria substância da Revelação. Não se cuida de uma exposição da verdade revelada, em termos em que os homens facilmente a entendam; procura-se, por meio de uma linguagem ambígua e rebuscada, mais propriamente, propor uma nova Igreja, ao sabor do homem formado segundo as máximas do mundo de hoje. Com isso, difunde-se, mais ou menos por toda parte, a idéia de que a Igreja deve passar por uma mudança radical, na sua Moral, na sua Liturgia, e mesmo na sua Doutrina. Nos escritos, como no procedimento, aparecidos em meios católicos após o Concílio, inculca-se a tese de que a Igreja tradicional, como existira até o Vaticano II, já não está à altura dos tempos modernos. De maneira que Ela deve transformar-Se totalmente.

E uma observação rápida, sobre o que se passa em meios católicos, leva à persuasão de que, realmente, após o Concílio, existe uma nova Igreja, essencialmente distinta daquela conhecida, antes do grande Sínodo, como única Igreja de Cristo. Com efeito, exalta-se, como princípio absoluto, intangível, a dignidade humana, a cujos direitos submetem-se a Verdade e o Bem. Semelhante concepção inaugura a religião do homem. Continuar lendo

PARA CONTINUAR SENDO CATÓLICO TERIA QUE SE TORNAR PROTESTANTE?

 “Vae mihi si non evangelizavero” – 1 Cor IX, 16

Sem referir-nos às via inesperadas nas quais se viram os Padres do Concílio ao se tratar de certos esquemas desenraizados do Magistério da Igreja pretendemos nas páginas que se seguem fazermos eco daquela palavra que os Padres do Concílio não poderiam se esquecer: Caveamus! (cuidemo-nos).

Cuidemo-nos de que nos influencie um espírito absolutamente inconciliável com o que os Pontífices romanos e os precedentes Concílios se esforçaram incansavelmente por difundir entre os cristãos. Não se trata de um espírito de progresso, senão de ruptura e de suicídio.

As declarações de alguns Padres a esse respeito são orientadoras: uns afirmam que entre as declarações passadas e a dos autores de determinados esquemas não existe contradição, porque as circunstâncias foram modificadas. Até que ponto o que o Magistério da Igreja afirmou há cem anos servia para aqueles tempos mas não para os nossos.

Há outros que se refugiam no mistério da Igreja.

Outros consideram que um Concílio tem por objeto modificar a doutrina dos Concílios anteriores.

Por fim, outros mantém que todo o Concílio está acima do magistério ordinário, pelo qual pode prescindir deste e bastar-se por si só.

Se ouve além disso a voz da imprensa liberal afirmando que por fim a Igreja admite a evolução do dogma. Continuar lendo

A SACRÍLEGA COMUNHÃO NA MÃO

comunhaoEste trabalho do Sr. Lafayette é um dos capítulos de uma grande compilação sobre a  Santa Missa, onde o autor recolhe de vasta bibliografia e organiza com inteligência, muitas explicações sobre a Missa Nova, seus erros, a comparação com a Missa de São Pio V etc. Nesta obra inédita são dadas exaustivas referências a todas as obras citadas. Essas notas  foram aqui retiradas para não tornar a leitura desagradável. 

Antecedentes –  Sobre o Concílio Vaticano II e a Reforma Litúrgica 

O Papa Pio XII faleceu em 1958 e no início de 1959 foi dado o primeiro aviso oficial sobre o futuro Concílio; e a 25 de julho de 1960, João XXIII tornou pública a sua decisão de confiar aos Padres do Concílio a reforma litúrgica.

As comportas iam ser abertas; era preciso, então, acelerar as providências. O monge beneditino Dom Adrien Nocent, “neolitúrgico típico”, foi nomeado, em 1961, professor do Pontifício Instituto de Liturgia de Santo Anselmo em Roma, uma venerável universidade beneditina fundada por Leão XIII; e lá Dom Nocent preparava o Concílio. Naquele mesmo ano de 1961, em sua obra O Futuro da Liturgia, Dom Nocent definia os princípios e os fundamentos da nova missa que então preconizava. Seu propósito: influir direta e decisivamente na “revisão da liturgia” que poderia ser realizada durante o Concílio Vaticano II.

Veio o Concílio.

Pela vontade do Papa João XXIII, o Vaticano II quis ser um Concílio Ecumênico e, como disse um bispo não tradicionalista, aí esta palavra “ecumênico” deve ser entendida não no sentido tradicional de “universalidade” ou de “catolicidade”, mas “na acepção moderna (ou errônea?) de favorecer a unidade dos cristãos” 1.

Essa intenção de fazer do Concílio um instrumento de ecumenismo (aliás, falso) abriu as portas da Santa Sé e a cidadela foi ocupada pelos neolitúrgicos progressistas.
Deixemos de lado o que nos separa, guardemos o que nos une; este bem conhecido programa de João XXIII foi o principio inspirador da nova liturgia.
Ora, uma reforma litúrgica inspirada em “motivos ecumênicos” é inconcebível, porque contradiz o princípio imutável da liturgia católica: cabe à regra de fé regular a oração. Uma tal reforma é, ao contrário, pôr em prática a “caridade sem fé” que São Pio X condenou no modernismo. Não é de espantar que a “reforma” (que ia ser implantada) tenha sacrificado a claridade e a exatidão doutrinal em troca de ambigüidade e compromisso.
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PARA ONDE VAI A NOVA TEOLOGIA?

conciliovaticano2Em um livro recente do Pe. Henri Bouillard, lê-se:

Quando o espírito evolui, uma verdade imutável não se mantém senão graças a uma evolução simultânea e correlativa de todas as noções, mantendo entre elas uma mesma relação. Uma teologia que não fosse atual seria uma teologia falsa” 1.

Ora, nas páginas anteriores e nas seguintes, mostra-se que a teologia de Santo Tomás em muitas partes importantes já não é atual. Por exemplo, Santo Tomás concebeu a graça santificante como uma forma (princípio radical de operações sobrenaturais que têm por princípio próximo as virtudes infusas e os sete dons):

As noções utilizadas por Santo Tomás são simplesmente noções aristotélicas aplicadas à teologia” 2.

Que se segue daí? “Renunciando à Física aristotélica, o pensamento moderno abandonou as noções, os esquemas, as oposições dialéticas que só tinham sentido em função dela” 3.Ele abandonou, pois, a noção de forma.

Como evitará o leitor esta conclusão: a teologia de Santo Tomás, por já não ser atual, é uma teologia falsa?

Mas, então, como os Papas amiúde nos recomendaram seguir a doutrina de Santo Tomás? Como, então, diz a Igreja no Código de Direito Canônico, can. 1366, n. 2: “Philosophiæ rationalis ac thelogiæ studia et alumnorum in his disciplinis institutionem professores omnino pertractent ad Angelici Doctoris rationem, doctrinam, et principia, eaque sancte teneant”?

Ademais, como “uma verdade imutável” se pode manter, se as duas noções que ela reúne pelo verbo ser sãoessencialmente cambiantes? Continuar lendo

A FÉ CATÓLICA NÃO É OFENDIDA SÓ COM A HERESIA

Por Roberto de Mattei – Corrispondenza Romana, 13-01-2016 | Tradução: Hélio Dias Viana – FratresInUnum.com

Em uma longa entrevista aparecida em 30 de dezembro no semanário alemão Die Zeit, o cardeal Gerhard Ludwig Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, levanta uma questão de crucial atualidade. Quando perguntado pela entrevistadora sobre o que pensa daqueles católicos que atacam o Papa, definindo-o de “herege”, ele responde: “Não só pelo meu ofício, mas pela convicção pessoal, devo dissentir. Herege na definição teológica é um católico que nega obstinadamente uma verdade revelada e proposta como tal pela Igreja para ser crida. Outra coisa é quando aqueles que são oficialmente encarregados de ensinar a fé se exprimem de forma talvez infeliz, enganosa ou vaga. O magistério do Papa e dos bispos não é superior à Palavra de Deus, mas a serve. (…) Pronunciamentos papais têm ademais um caráter vinculante diverso – desde uma decisão definitiva pronunciada ex cathedra até uma homilia que serve bastante para o aprofundamento espiritual.”

indifferentism-468x256Tende-se hoje a cair em uma dicotomia simplista entre heresia e ortodoxia. As palavras do cardeal Müller nos lembram que entre o branco (a plena ortodoxia) e o preto (a heresia aberta) há uma zona cinzenta que os teólogos têm explorado com precisão. Existem proposições doutrinárias que embora não sendo explicitamente heréticas, são reprovadas pela Igreja com qualificações teológicas proporcionais à gravidade e ao contraste com a doutrina católica. A oposição à verdade apresenta de fato diferentes graus, conforme seja direta ou indireta, imediata ou remota, aberta ou dissimulada, e assim por diante. As “censuras teológicas” (não confundir com as censuras ou penas eclesiásticas) expressam, como explica em seu clássico estudo o padre Sisto Cartechini, o julgamento negativo da Igreja sobre uma expressão, uma opinião ou toda uma doutrina teológica (Dall’ opinione al domma. Valore delle note teologiche, Edizioni “La Civiltà Cattolica”, Roma, 1953). Este julgamento pode ser privado, se for dado por um ou mais teólogos por conta própria, ou público e oficial, se promulgado pela autoridade eclesiástica. Continuar lendo

HISTÓRIA E TEOLOGIA DE UMA TRADUÇÃO TRAIDORA

cvPor todos” ou “por muitos”?

Quando começaram a ser usadas as traduções da Missa de Paulo VI, muitos fiéis católicos não puderam ocultar sua surpresa ao ouvir as palavras da consagração do cálice: “Este é o cálice de meu Sangue, Sangue da aliança nova e eterna, que será derramada por vós e por todos os homens para o perdão dos pecados”. Em efeito, o texto latim da nova liturgia dizia em realidade: “pro vobis et pro multis – por vós e por muitos”. Atribuiu-se isto naqueles tempos à traição das traduções.

Ora, a encíclica do Papa João Paolo II ‘Eucaristia de Ecclesia’ parece assumir a tradução errada, desta vez inclusive no texto latino: “Accipite et bibite omnes: hic calix novum aeternumque testamentum est in sanguine meo, qui pro vobis funditur et pro omnibus in remissionem pecatorum. (Ver Marc. 14, 24; Luc. 22, 20; 1 Cor. 11, 25). (No 2).

Versões Latinas e Gregas da Bíblia

Se consultarmos as versões latinas e gregas do Evangelho, e as edições críticas que mencionam as variantes do texto que chegou até nós, não encontraremos nada parecido. Em todos os textos da Sagrada Escritura acerca da narração da instituição da Sagrada Eucaristia (Marc. 14, 24; Mat. 26, 28), lemos ‘pro multis’, por muitos, e não ‘pro omnibus’, por todos. Continuar lendo

HERESIA EM VÍDEO INTER-RELIGIOSO DO PAPA?

pope-francis-jan-2016-interfaith-video-460Fonte: SSPX USA – Tradução: Dominus Est

Escrito por John Vennari (Catholic Family News)

Católicos de todo o mundo estão escandalizados com a mais recente manifestação da aberração Conciliar. O vídeo (que publicamos aqui), lançado pelo Papa Francisco, por suas intenções de oração para janeiro — uma celebração pan-religiosa com todas as religiões do mundo onde Francisco pede mais diálogo e afirma que nós,membros de todas as religiões, somos todos “filhos de Deus. “[1] 

Naturalmente, não há no vídeo nenhum apelo à conversão dos acatólicos para a única e verdadeira Fé. 

O vídeo gerou muita discussão em diversas páginas de redes sociais ecatólicoso modernismo e a heresia da apresentação. No entanto, talvez alguns sacerdotes bem-intencionadospareciam confusos com todo o transtorno: “Desculpe”, disse um deles, “o que precisamente é herético na declaração? Não vejo qualquer declaração afirmando que todas as religiões são iguais. (pluralismo?)”

Aqui está a chave para entender o que é verdadeiramente acontece. 

O Modernismo raramente opera com “afirmações precisamente heréticas.” Seu método é uma práxis que aborda de maneira inédita o que está em conflito com o magistério perene.  Continuar lendo

A REITORA DO ANTONIANUM E O SACERDÓCIO

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Irmã Mary Melone considera o poder sacerdotal “discriminatório” para as mulheres.

 

Fonte: Distrito da FSSPX no México

 

Em 2014 o Papa Francisco nomeou a religiosa franciscana italiana Maria Domenica (Mary) Melone, de 51anos, reitora da Antonianum (1). Ela se tornou assim a primeira mulher a ocupar o mais alto cargo acadêmico em uma universidade pontifícia, onde já havia sido professora e decana da Faculdade de Teologia.

 

Em 22 de dezembro a agência Rome Reports lhe perguntou sobre a hipótese do sacerdócio feminino. Sua resposta foi apresentada assim: “. [Ela] acredita que [o debate] agora não está aberto, respeitando quem está lutando para que seja reconsiderado”. O “agora” sugere a possibilidade de que se abra no futuro. O “respeito” outorga uma aura de heroísmo àqueles que pretendem romper a doutrina católica.

 

Logo, entre aspas estão suas palavras exatas: “É importante repensar como o sacerdócio é vivido hoje em dia pelos homens no sentido de que – e uso as palavras do Papa Francisco – é uma forma de serviço. Quando interpretado como uma forma de poder, obviamente, cria discriminações e, geralmente, as mulheres são as primeiras a sofrer as conseqüências porque nunca chegarão ao sacerdócio”. Continuar lendo

CRÍTICA VELADA DO PAPA À IGREJA PRÉ-CONCILIAR

francisco_puerta_santaFonte: Distrito da FSSPX no Mexico

Nesta terça-feira, 08 de dezembro, o Papa abriu a Porta Santa da Basílica de São Pedro e inaugurou o Ano Jubilar Extraordinário da Misericórdia, que terminará em 20 de novembro de 2016. Antes e depois da breve cerimônia, Francisco saudou a Bento XVI, que foi o primeiro a cruzá-la depois do Sumoi Pontífice, apoiado sobre o braço de Dom Georg Gänswein, seu secretário pessoal e prefeito da Casa Pontifícia.

Minutos antes do evento, Francisco havia celebrado na Praça de São Pedro a Missa da festa da Imaculada Conceição, mistério que “expressa a grandeza do amor de Deus”, porque “Ele não só perdoa o pecado, mas em Maria evita o pecado original que todo homem carrega consigo quando vem a este mundo. “

Além disso, o Papa se referiu ao quinquagésimo aniversário da conclusão do Concílio Vaticano II, enviada em 08 de dezembro de 1965. Ele fez um paralelo entre a Porta Santa que abriria pouco depoís e “uma outra porta que os Padres do Concílio Vaticano II, há cinquenta anos, abriram ao mundo “. Segundo Francisco, “esta data não pode ser lembrada somente pela riqueza dos documentos produzidos, que até hoje permitem verificar o grande progresso realizado na fé.”Porque acima de tudo, o Concílio foi “um verdadeiro encontro entre a Igreja e os homens do nosso tempo”, que Francisco descreveu com uma crítica velada à Igreja pré-conciliar: “Um encontro marcado pelo poder do Espírito que empurrava a Igreja para sair das águas pouco profundas que durante muitos anos a haviam recluída em si mesma, para retornar com entusiasmo o caminho missionário “.
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PROFANAÇÃO NA CATEDRAL DE RIBEIRÃO

Com uma tal “Missa” no dia da Consciência Negra, chamada também de “Missa” Afro.

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Em contraste com a aberração acima mostrada, colocamos na sequencia algumas fotos da verdadeira Missa na África e o comportamento de seu povo, catequizado e profundamente católico, em uma das Missões da FSSPX no continente (Gabão).

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A COMBINAÇÃO PERFEITA: CVII – SÍNODO DA FAMÍLIA?

CARDEAL PHILIPPE BARBARIN E “PASTORA” PROMOVEM UMA “CONFIRMAÇÃO” EM TEMPLO PROTESTANTE

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Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Depois de ter pronunciado a profissão de fé do Islã em 4 de janeiro de 2011 em Versalhes, depois de ter visitado, em 21 de fevereiro de 2013, a Grande Mesquita de Lyon no momento de oração da tarde (ASR) para rezar com a comunidade muçulmana, eis que Sua Eminência o Cardeal Barbarin, Príncipe da Igreja e Primaz das Gálias (França), retoma os compromissos da doxa Nostra Aetate.

Acima as fotos dessa cerimônia em que todos, unidos em um mesmo ato de apostasia pública, realizaram uma “confirmação” conforme “sua” tradição, como relatado em artigo publicado no site da Diocese de Lyon: Continuar lendo

CONSTRUIR, NÃO DESTRUIR

lef3Vinte anos se passaram, podia-se crer que as reações suscitadas pelas reformas conciliares se apaziguariam, que os católicos perderiam a esperança na religião na qual haviam sido criados, que os mais jovens, não a tendo conhecido, entrariam nas fileiras da nova. Tal era ao menos a aposta feita pelos modernistas. Eles não se admiravam demasiadamente das contracorrentes, seguros de si mesmos nos primeiros tempos. Eles o ficaram menos em seguida: as múltiplas e essenciais concessões feitas ao espírito do mundo não davam os resultados antecipadamente gozados, ninguém queria mais ser sacerdote do novo culto, os fiéis se afastavam da prática religiosa, a Igreja que se queria a Igreja dos pobres tornava-se uma Igreja pobre, obrigada a recorrer à publicidade para fazer recolher o dinheiro do culto, e a vender seus imóveis.

Durante este tempo, a fidelidade à tradição se fortificava em todos os países cristãos e particularmente na França, na Suíça, nos Estados Unidos, na América Latina. O artífice da nova missa, Mons. Aníbal Bugnini, foi ele mesmo obrigado a verificar esta resistência mundial no seu livro póstumo1. Resistência que não cessa de se desenvolver, de se organizar, de atrair o mundo. Não, o movimento “tradicionalista” não está “em perda de velocidade”, como escrevem de tempos em tempos os jornalistas progressistas para se tranqüilizarem. Onde há tanta gente na missa como em São Nicolau de Chardonnet, e também tantas missas, tantas visitas ao Santíssimo Sacramento, tantos belos ofícios? A Fraternidade de São Pio X conta no mundo setenta casas com ao menos um sacerdote, igrejas como a de Bruxelas, a que compramos ultimamente em Londres, a que foi colocada à nossa disposição em Marselha, escolas, quatro seminários.   Continuar lendo

AS FAMÍLIAS DEVEM REAGIR

lef2É o tempo apropriado de reagir. Quando Gaudium et Spes fala do movimento da história que “se torna tão rápido que cada um tem dificuldade de o seguir”, pode-se entender este movimento como uma precipitação das sociedades liberais na desagregação e no caos. Acautelemo-nos de o seguir!

Como compreender que dirigentes apelem para a religião cristã ao passo que destroem toda a autoridade no Estado? Importa ao contrário restabelecê-la, que foi querida pela Providência nas sociedades naturais de direito divino cuja influência neste mundo é primordial: a família e a sociedade civil. É a família que recebeu nestes últimos tempos os mais rudes golpes; a passagem para o socialismo em países como a França e a Espanha não fez senão acelerar o processo. 

As leis e medidas que se sucederam mostram uma grande coesão na vontade de arruinar a instituição familiar: diminuição da autoridade paterna, divórcio facilitado, desaparecimento da responsabilidade no ato da procriação, reconhecimento administrativo dos casais irregulares e mesmo de duplas homossexuais, coabitação juvenil, casamento de experiência, diminuição das ajudas sociais e fiscais às famílias numerosas… O mesmo Estado, em seus interesses próprios, começa a perceber as conseqüências disto no que toca à diminuição da natalidade, ele se pergunta como, num tempo próximo, as jovens gerações poderão assegurar os regimes de retração daquelas que deixaram de ser economicamente ativas. Mas os efeitos são consideravelmente mais graves no domínio espiritual. 

Os católicos não devem seguir mas ponderar com todo o seu peso, uma vez que são também cidadãos, para endireitar tudo o que for preciso. É por isso que eles não poderiam ficar à margem da política. Portanto seu esforço será sobretudo sensível na educação que proporcionam a seus filhos.  Continuar lendo

NEM HEREGE NEM CISMÁTICO

lef1A declaração de 21 de novembro de 1974 que desencadeou o processo do qual eu acabo de falar, terminava por estas palavras: ”Agindo assim… nós estamos convencidos de permanecer fiéis à Igreja Católica e romana, a todos os sucessores de Pedro, e de ser os fiéis dispensadores dos mistérios de Nosso Senhor Jesus Cristo.” O “Osservatore Romano”, publicando o texto, omitiu este parágrafo. Há dez anos e mais, nossos adversários estão interessados em rejeitar-nos da comunhão da Igreja deixando entender que não aceitamos a autoridade do papa. Seria bem cômodo fazer de nós uma seita e declarar-nos cismáticos. Quantas vezes a palavra cisma foi pronunciada a nosso respeito!

Não cessei de repetir: se alguém se separa do papa, este alguém não serei eu. A questão se resume nisto: o poder do papa na Igreja é um poder supremo, mas não absoluto e ilimitado, pois está submetido ao poder divino, que se exprime na tradição, na Sagrada Escritura e nas definições já promulgadas pelo magistério eclesiástico. De fato este poder encontra seus limites no fim para o qual ele foi dado sobre a terra ao Vigário de Cristo, fim que Pio IX definiu claramente na Constituição Pastor aeternus do concílio Vaticano I. Não exprimo, pois, uma teoria pessoal ao dizê-lo.

A obediência cega não é católica; ninguém esta isento da responsabilidade por ter obedecido aos homens mais que a Deus, aceitando ordens duma autoridade superior, seja ela do papa, se se revelam contrárias à vontade de Deus tal como a tradição no-la faz conhecer com certeza. Não se poderia considerar uma tal eventualidade, certamente, quando o papa compromete sua infalibilidade, mas ele não o faz senão num número reduzido de casos. É um erro pensar que toda a palavra saída da boca do papa é infalível.
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A MISSA DITA “DE S. PIO V”, MISSA DE SEMPRE

Um fato sem dúvida não deixou de surpreender-vos: em nenhum momento desta questão se tratou da missa, a qual, não obstante, está no coração do conflito. Este silêncio forçado constitui a confissão de que o rito chamado de São Pio V continua bem autorizado.

Nesta matéria, os católicos podem estar perfeitamente tranqüilos: esta missa não foi interditada nem o pode ser. São Pio V que, repitamo-lo, não a inventou mas “restabeleceu o missal segundo a regra antiga e os ritos dos Santos Padres”, nos dá todas as garantias na bula Quo Primum, assinada por ele a 14 de julho de 1570. ”Decidimos e declaramos que os Superiores, Administradores, Cônegos, Capelães e outros padres de qualquer título por que sejam designados, ou os Religiosos de qualquer ordem, não podem ser obrigados a celebrar a missa de modo diferente do que fixamos, e que jamais, em tempo algum, quem quer que seja poderá constrangê-los e forçá-los a deixar este missal ou a ab-rogar a presente instrução ou modificá-la, mas que ela permanecerá sempre em vigor e válida, em toda a sua força… Se entretanto alguém se permitisse uma tal alteração, saiba que incorreria na indignação de Deus Todo Poderoso e de seus bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo.”

Supondo que o papa pudesse voltar atrás a respeito deste indulto perpétuo, seria preciso que o fizesse por um ato também solene. A constituição apostólica Missale Romanum de 3 de abril de 1969 autoriza a missa dita de Paulo VI, que não contém interdição alguma expressamente formulada da missa tridentina1. A tal ponto que o cardeal Ottaviani podia dizer em 1971: “O rito tridentino da missa, que eu saiba, não foi abolido”. Mons. Adam que pretendia, na assembléia plenária dos bispos suíços, que a constituição Missae Romanum tinha interditado celebrar, salvo indulto, segundo o rito de São Pio V, teve de retratar-se, depois de lhe pedirem que dissesse em que termos esta interdição teria sido pronunciada.  Continuar lendo

AS SANÇÕES ROMANAS CONTRA ECÔNE

lef3Vós sois talvez, leitores perplexos, daqueles que vêem com tristeza e angústia o rumo que tomam as coisas, mas não obstante receiam assistir a uma verdadeira missa, apesar do desejo que experimentam, porque lhes fizeram crer que esta missa estava interditada. Sois talvez daqueles que não mais se dirigem aos padres de blusão mas que consideram com uma certa desconfiança os padres de batina, como se eles estivessem sob o golpe de alguma censura; aquele que os ordenou não é um bispo suspenso a divinis? Tendes medo de colocar-vos fora da Igreja; em princípio este temor é louvável, mas é mal esclarecido. Quero dizer-vos em que consistem as sanções, as quais foram postas em evidência, e com que os franco-maçons e os marxistas se regozijaram ruidosamente. Um curto apanhado histórico se revela necessário para que se compreenda bem.

Quando fui enviado ao Gabão como missionário, meu bispo me nomeou logo professor no seminário de Libreville, onde formei durante seis anos seminaristas, dentre os quais alguns, em seguida, receberam a graça do episcopado. Feito bispo por meu turno, em Dakar, pareceu-me que minha preocupação principal devia ser procurar vocações, formar os jovens que correspondessem ao apelo de Deus e de conduzi-los ao sacerdócio. Tive a alegria de conferir o sacerdócio ao que devia ser meu sucessor em Dakar, Dom Thiandoum e a Dom Dionne, o atual bispo de Thiès, no Senegal.  Continuar lendo

A VERDADEIRA OBEDIÊNCIA

lef2A indisciplina está por toda a parte na Igreja, comissões de padres enviam intimações a seus bispos, os bispos desprezam exortações pontifícias, as próprias recomendações e decisões conciliares não são respeitadas e apesar disto não se ouve jamais pronunciar a palavra desobediência salvo para aplicá-la aos católicos que querem continuar fiéis à tradição e simplesmente conservar a fé.

A obediência constitui um assunto grave, ficar unido ao magistério da Igreja e particularmente ao Pontífice Supremo é uma das condições da salvação. Nós temos profunda consciência disto e também ninguém mais do que nós é apegado ao sucessor de Pedro atualmente reinante, como nós o fomos a seus predecessores, e eu falo aqui de mim e dos numerosos fiéis rejeitados das igrejas, dos sacerdotes obrigados a celebrar a missa em granjas como durante a Revolução Francesa, e a organizar catecismos paralelos nas cidades e nos campos. 

Somos apegados ao papa enquanto ele se faz o eco das tradições apostólicas e dos ensinamentos de todos os seus predecessores. É a definição mesma do sucessor de Pedro guardar este depósito! Pio IX nos ensina na Pastor aeternus: “O Espírito Santo com efeito não foi prometido aos sucessores de Pedro para permitir-lhe publicar, segundo suas revelações, uma nova doutrina mas para conservar estritamente e expor fielmente, com sua assistência, as revelações transmitidas pelos Apóstolos, isto é, o depósito da fé.” 

A autoridade delegada por Nosso Senhor ao papa, aos bispos e ao sacerdócio em geral está ao serviço da fé. Servir-se do direito, das instituições, da autoridade para aniquilar a fé católica e não mais comunicar a vida, é praticar o aborto ou a contraconcepção espirituais. É por isso que estamos submissos e prontos a aceitar tudo o que é conforme à nossa fé católica, tal como foi ensinada durante dois mil anos, mas recusamos tudo o que lhe é contrário.  Continuar lendo

QUE É A TRADIÇÃO?

lef1É bem o modernismo que mina a Igreja do interior, em nossos dias como ontem. Tomemos ainda na encíclica Pascendi alguns trechos correspondendo ao que estamos vivendo. “Desde o momento em que seu fim é inteiramente espiritual, a autoridade religiosa deve despojar-se de todo este aparato exterior, de todos estes ornamentos pomposos pelos quais ela se dá como um espetáculo. Nisto eles se esquecem que a religião, se ela pertence propriamente à alma, apesar disto não se confina a ela, e que a honra prestada à autoridade recai sobre Jesus Cristo que a instituiu.”

É sob a pressão destes “dizedores de novidades” que Paulo VI abandonou a tiara, que os bispos se despojaram da batina roxa e mesmo da batina negra, assim como de seu anel, que os sacerdotes se apresentam em traje civil e na maior parte do tempo numa postura voluntariamente negligenciada. Não são somente as reformas gerais já postas em obra ou reclamadas com insistência que são Pio X mencionou como sendo o desejo “maníaco” dos modernistas reformadores. Vós os reconheceis nesta passagem: “No que toca ao culto (eles querem) que se diminua o número de devoções exteriores ou ao menos que se lhes detenha o crescimento… Que o governo eclesiástico se transforme numa democracia, que se dê uma parte no governo ao clero inferior e mesmo aos leigos; que a autoridade seja descentralizada. Reforma das congregações romanas, sobretudo das do Santo Ofício e do Índice… Há enfim quem, fazendo eco a seus mestres protestantes, desejam a supressão do celibato eclesiástico.”

Vedes que as mesmas reclamações são formuladas hoje e aí não há nenhuma imaginação nova. Para o pensamento cristão e a formação dos futuros sacerdotes, a vontade dos reformistas do tempo de Pio X era o abandono da filosofia escolástica, que devia ser relegada “à história da filosofia entre os sistemas caducos” e eles preconizavam “que se ensine aos jovens a filosofia moderna, a única verdadeira, a única que convém a nossos tempos… que a teologia dita racional tenha por base a filosofia moderna, a teologia positiva, por fundamento a história dos dogmas”. Neste ponto, os modernistas obtiveram o que queriam, e mais ainda. No que se tem em lugar de seminário, ensina-se a antropologia e a psicanálise, Marx em substituição a Santo Tomás de Aquino. Continuar lendo

O NEO-MODERNISMO OU “PIERRE VIVANTES” EM RUÍNAS

LEFNo vocabulário inteiramente renovado dos homens da Igreja, algumas palavras sobreviveram. Fé é uma delas. Contudo é empregada nas mais diversas acepções. Ora, existe uma definição da fé, não se pode mudá-la. É a ela que se deve referir o católico quando não entende mais nada do palavreado confuso e pretensioso que se lhe apresenta.

A fé é a adesão da inteligência à verdade revelada pelo Verbo de Deus. Nós cremos numa verdade que vem de fora e que não é, de maneira alguma, segregada por nosso espírito. Nela acreditamos devido à autoridade de Deus que no-la revela, não é preciso buscar alhures. 

Esta fé ninguém possui o direito de no-la tomar para substituí-la por uma outra. Vemos ressurgir uma definição modernista da fé, já condenada por Pio X há oitenta anos, e segundo a qual ela seria um sentimento interior: não seria preciso procurar a explicação da religião fora do homem: ”É pois no próprio homem que ela se encontra e, como a religião é uma forma de vida, na vida mesma do homem.” Ela seria alguma coisa de puramente subjetivo, uma adesão da alma a Deus sendo Ele próprio inacessível à nossa inteligência, cada um por si, cada um na sua consciência. 

O modernismo não é uma invenção recente, ele já não o era em 1907, data da famosa encíclica; é o espírito perpétuo da Revolução, que nos quer fechar na nossa humanidade e colocar Deus fora da lei. Sua falsa definição não busca senão corromper a autoridade de Deus e a da Igreja.  Continuar lendo

CONÚBIO DA IGREJA COM A REVOLUÇÃO

lefebvre2Na origem da revolução, que é “o ódio de toda a ordem que o homem não estabeleceu e na qual ele não é rei e Deus ao mesmo tempo” encontra-se o orgulho que já tinha sido a causa do pecado de Adão. A revolução na Igreja se explica pelo orgulho de nossos tempos modernos que se crêem tempos novos, tempos em que o homem enfim “compreendeu por si mesmo a sua dignidade, em que tomou uma maior consciência de si mesmo” a tal ponto que se pode falar de metamorfose social e cultural cujos efeitos repercutem sobre a vida religiosa… O próprio movimento da história se torna tão rápido que cada um tem dificuldade em segui-lo… Em poucas palavras, o gênero humano passa duma noção antes estática da ordem das coisas a uma concepção mais dinâmica e evolutiva: daí nasce uma imensa problemática nova que provoca novas análises e novas sínteses”. Estas frases surpreendentes figurando, com muitas outras semelhantes, na exposição preliminar da constituição “A Igreja no mundo deste tempo” auguram mal o retorno ao espírito evangélico; vê-se que este dificilmente sobrevive a tanto movimento e a tantas transformações.

E como compreender o seguinte: ”Uma sociedade de tipo industrial se estende pouco a pouco, transformando radicalmente as concepções da vida em sociedade” senão que se dá como certo o que se deseja ver produzir-se: uma concepção da sociedade que nada terá a ver com a concepção cristã, segundo a doutrina social da Igreja? Tais premissas não poderão senão conduzir a um novo Evangelho, a uma nova religião. Ei-la: “Que eles vivam (os crentes) em união muito estreita com os outros homens de seu tempo e que se esforcem em compreender a fundo suas maneiras de pensar e de sentir, tais como se exprimem na cultura. Que eles unam o conhecimento das ciências e das novas teorias, como as descobertas mais recentes, com os costumes e o ensino da doutrina cristã, para que o senso religioso e a retidão moral caminhem a par, neles, do conhecimento científico e dos incessantes progressos técnicos; eles poderão assim apreciar e interpretar todas as coisas com uma sensibilidade autenticamente cristã” (Gaudium et Spes, 62-6). Singulares conselhos, enquanto que o Evangelho nos manda evitar as doutrinas perversas! E que não se diga que podem ser entendidas de duas maneiras: a catequese atual as entende como queria Schillebeeckx: ela aconselha às crianças freqüentar a escola dos ateus, porque estes têm muito a lhes ensinar e que de resto, para não crer em Deus, eles têm suas razões, que é proveitoso conhecer. Continuar lendo

“VATICANO II, É O 1789 NA IGREJA”

revolucao-francesaA aproximação que eu faço da crise da Igreja com a Revolução Francesa não é uma simples metáfora. Nós estamos na continuidade dos filósofos do século XVIII e do transtorno que suas idéias provocaram no mundo. Os que transmitiram este veneno à Igreja são os mesmos a confessá-lo. É o cardeal Suenens exclamando: ”o Vaticano II, é o 1789 na Igreja”, e acrescentava, entre outras declarações desprovidas de precauções oratórias: ”Não se compreende nada da Revolução Francesa ou russa se se ignora o antigo regime ao qual elas puseram fim… Igualmente em matéria eclesiástica, uma reação não se julga senão em função do estado de coisas que a precedem.”

O que precedeu e que ele considerava como devendo ser abolido, é o maravilhoso edifício hierárquico que tinha no seu cimo o papa, vigário de Jesus Cristo sobre a terra: ”O concílio Vaticano II marcou o fim duma época, por menos que se recue, ele marcou mesmo o fim de uma série de épocas, o fim de uma era”. 

O padre Congar, um dos artífices das reformas não falava de outra maneira: “A Igreja fez, pacificamente, sua Revolução de outubro.” Plenamente consciente, ele notava: “A declaração sobre a liberdade religiosa diz materialmente o contrário do Syllabus”. Eu poderia citar um grande número de testemunhos deste gênero. Em 1976, o Pe. Gelineau, um dos chefes de fila do centro nacional de pastoral litúrgica, não deixava nenhuma ilusão àqueles que querem ver no novo ordo alguma coisa um pouco diferente do rito que era universalmente celebrado até então, mas nada de fundamentalmente chocante: ”A reforma decidida pelo segundo concílio do Vaticano deu o sinal do degelo… lanços inteiros de muralha desabam… Que não haja engano a respeito: traduzir não é dizer a mesma coisa com outras palavras. É mudar a forma… Se as formas mudam, o rito muda. Se se muda um elemento a totalidade significativa é modificada… É preciso dizer sem circunlóquios: o rito romano tal como nós o conhecemos, não existe mais. Foi destruído” 1 Continuar lendo