A LIBERDADE RELIGIOSA CONDENADA PELOS PAPAS – PARTE 2

lef3MOTIVO DA CONDENAÇÃO

Como terão notado nos textos precedentes, os papas mostraram cuidadosamente as causas e denunciaram as origens liberais do direito à liberdade religiosa: trata-se de denunciar principalmente o liberalismo naturalista e racionalista, que pretende ser a razão humana o único árbitro do bem e do mal (racionalismo); que pertence a cada um de decidir se deve adorar ou não (indiferentismo); e finalmente que o Estado é a origem de todo o direito (monismoestatal).

Daí certos teólogos modernos acharam que se podiam tirar três teses:

1 – Os papas não condenaram a liberdade religiosa em si, mas somente porque ela aparecia “como conseqüência de uma concepção naturalista do homem”84ou que ela “procedia da primeira premissa do racionalismo naturalista”85, ou das duas outras: “mais do que as conseqüências, são os princípios    que

são aqui considerados: A Igreja condena o racionalismo, o indiferentismo e o monismo estatal”86, simplesmente.

– Ante as expressões concretas dos princípios modernos (luta com o poder temporal do papado, laicização das Constituições, espoliação da Igreja, etc.), faltou aos papas “a serenidade necessária para julgar com objetividade o sistema das liberdades modernas, e distinguir o verdadeiro do falso”; “era inevitável que o primeiro reflexo de defesa fosse uma atitude de condenação total”87, era difícil para estes papas “reconhecer um valor num conteúdo onde a motivação era hostil aos valores religiosos… assim se fez cara feia durante um longo tempo ao ideal representado pelos direitos do homem, porque não se lograva reconhecer neles a longínqua herança do Evangelho”88.

– Mas hoje é possível redescobrir a parte de verdade cristã contida nos princípios da Revolução de 1789 e reconciliar assim a Igreja com as liberdades modernas, com a liberdade religiosa em particular. O Padre Congar foi o primeiro a traçar o caminho que se deve seguir neste ponto: Continuar lendo

A LIBERDADE RELIGIOSA CONDENADA PELOS PAPAS – PARTE 1

lef2“A liberdade civil de todos os cultos propaga a peste do indiferentismo” S.S Papa Pio IX

Correndo o risco de me repetir, vou reunir neste capítulo os textos das principais condenações da liberdade religiosa durante o século XIX, para que os leitores entendam bem o que foi condenado e porque os papas condenaram.

A CONDENAÇÃO

Pio VI, carta “Quod Aliquantulum”, de 10 de março de 1791, aos bispos franceses da Assembléia Nacional:73

“A finalidade da Constituição decretada pela Assembléia é aniquilar a religião católica, e com ela a obediência devida aos reis. Como resultado se estabelece como direito do homem na sociedade esta liberdade absoluta que não só lhe assegura o direito de não ser perturbado quanto às suas opiniões religiosas, como também licença de pensar, de dizer, de escrever e inclusive imprimir impunemente tudo o que possa sugerir  a  imaginação  mais  desordenada;  direito  monstruoso que parece à Assembléia ser o resultado da igualdade e liberdade naturais a todos os homens. Mas o que poderia haver de mais insensato do que estabelecer entre os homens esta igualdade e esta liberdade desenfreada que parece afogar a razão, o dom mais precioso que a natureza fez ao homem e o único que o distingue dos animais.”

Pio VII, carta apostólica “Post tam Diuturnitas”, ao bispo de Troyes, na França, condenando a “liberdade de cultos e de consciência”, estabelecida pela constituição de 1814 (Luis XVIII):74

“Um novo motivo de tristeza pelo qual nosso coração ainda mais se aflige e que, confessamos, nos causa tormento, opressão e angústia, é o artigo 22 da Constituição. Nele não só se permite a liberdade de cultos e de consciência, como também promete-se apoio e proteção a esta liberdade e aos ministros dos seus chamados “cultos”. Certamente não são necessárias muitas explicações, ao nos dirigirmos a um Bispo como vós, para vos fazer conhecer claramente que ferida mortal este artigo atingiu à religião católica na França. Continuar lendo

A LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CULTOS

Resultado de imagem para marcel lefebvreSob o nome sedutor de liberdade de culto, proclama-se a apostasia legal da sociedade”. Leão XIII

Na encíclica “Libertas”, o Papa Leão XIII passa em revista as novas liberdades proclamadas pelo liberalismo. Seguirei sua exposição passo a passo66.

“Será bom considerar separadamente os diversos tipos de liberdade que são consideradas como conquistas da nossa época”.

A liberdade de cultos (ou liberdade de consciência e de cultos) é a primeira; ela é, como explica Leão XIII, reivindicada como uma liberdade moral da consciência individual e como uma liberdade social, um direito civil reconhecido pelo Estado.

“Consideremos a propósito dos indivíduos, esta liberdade tão contrária à virtude de religião, a liberdade de cultos, como chamam, liberdade que tem seu fundamento em considerar permitido a cada um professas a religião que mais lhe agrade, ou não professar nenhuma. Ao contrário, entre todas as obrigações do homem, a maior e a mais santa é sem dúvida a que nos manda oferecer a Deus um culto de piedade e de religião. E este dever vem do fato de que estamos sempre sob  o domínio de Deus, somos governados por sua vontade e providência, temos nEle nossa origem e havemos de retornar a Ele”.

Se realmente o indivíduo-rei é considerado a fonte de seus próprios direitos, é lógico que ele atribua à sua consciência uma completa independência em relação à Deus e à religião. Leão XIII considera então a liberdade religiosa enquanto direito civil67.

“Do ponto de vista social, esta mesma liberdade pede que o Estado não tribute nenhum culto público à Deus, ou não autorize nenhum culto público, que nenhuma religião seja preferida à outra, e que todas elas tenham os mesmos direitos, sem nenhuma consideração ao povo, mesmo que este professe o catolicismo”. Continuar lendo

O LIBERALISMO OU A SOCIEDADE SEM DEUS

Resultado de imagem para MARCEL LEFEBVRE“O indiferentismo é o ateísmo sem o nome” Leão XIII

Depois de haver analisado os princípios do liberalismo político, procurarei expor como o movimento generalizado de laicização que destruiu quase completamente a cristandade, tem sua fonte nos princípios liberais. É o que mostra o Papa Leão XIII em sua Encíclica “Immortale Dei”, em um texto já clássico que não se pode ignorar.

O “Direito Novo”

“A ânsia perniciosa e deplorável de novidades que surgiu no século XVI, tendo inicialmente perturbado as coisas da Religião, como natural conseqüência veio transformar a filosofia, e por seu intermédio toda a organização da sociedade civil. Daí, como de um manancial, derivaram os mais recentes postulados de uma liberdade sem freios, criados durante as grandes perturbações do século XVIII e lançadas depois como princípios e bases de um novo direito, que era até então desconhecido e discrepante não só do cristianismo, mas também, em mais de um ponto, do direito natural.

O principal entre estes princípios é que todos os homens,  sendo de uma mesma espécie e natureza, assim também são iguais em suas ações vitais, sendo cada um dono de si mesmo e de modo algum sujeito à autoridade de outro, que pode pensar em qualquer coisa que lhe ocorra e agir livremente no que lhe apetecer, e ninguém tem o direito de mandar em alguém.

Tendo sido a sociedade constituída sob estes princípios, a autoridade pública não passa da vontade do povo o qual, como depende de si mesmo, é o que se dá as ordens. Entretanto o povo elege pessoas a quem ele entrega não tanto o direito, mas apenas a função do poder para que ela a exerça em seu nome. Cobre-se assim com um manto de silêncio o poder soberano de Deus, como se Deus não existisse, ou não se preocupasse com a sociedade do gênero humano, ou como se os homens, individual ou coletivamente, nada devessem a Deus, ou como se fosse possível imaginar alguma forma de domínio que não tivesse em Deus sua razão de ser, sua força e toda sua autoridade. Continuar lendo

JESUS CRISTO É REI DAS REPÚBLICAS?

Resultado de imagem para marcel lefebvreNão é a maioria que faz a verdade, é a verdade que deve fazer a maioria.

Ainda tenho muito a dizer sobre o liberalismo. Mas gostaria que compreendessem bem que não são minhas opiniões pessoais que proponho. Por isso cito documentos dos papas e não sentimentos meus, que facilmente poderiam ser atribuídos a uma formação recebida no Seminário Francês de Roma. O Padre Le Floch, que era superior, teve com efeito uma reputação muito grande de tradicionalista. Dirão de mim: “foi influenciado pelo que lhe foi dito no seminário!”. Não nego esta influência, mas também agradeço todos os dias a Deus o fato de me haver sido dado como superior e mestre o Pe. Le Floch. Ele foi acusado na época de fazer política; Deus sabe que é o oposto a um crime, o fazer a política de Jesus Cristo e suscitar homens políticos que usem todos os meios legítimos, inclusive jurídicos, para expulsar da sociedade  os inimigos  de  Nosso  Senhor  Jesus  Cristo49.  Na  realidade  o  Pe. Le Floch nunca se meteu com a política, nem sequer no pior    momento do “complot” armado contra a “Action Française”50 e da crise que se seguiu, quando eu era seminarista.

Por outro lado, o Pe. Le Floch nos falava constantemente do perigo do modernismo, do “sillonismo”, do liberalismo. Baseando-se nas encíclicas dos papas, o Pe. Le Floch chegou a firmar em nós uma convicção segura e sólida, baseada na doutrina imutável da Igreja, sobre o perigo destes erros. Desejo transmitir-lhes esta mesma convicção, como uma chama que se transmite à posteridade, como uma luz que os preservará destes erros que reinam hoje mais do que nunca “in ipsis Ecclesiae venis et visceribus”, nas veias e mesmo nas entranhas da Igreja, como dizia São Pio X.

Vocês compreenderão assim que meu pensamento político pessoal sobre o regime que melhor convém, por exemplo para a França, não tem muita importância. Os fatos falam por si mesmos: a monarquia francesa nunca conseguiu realizar o que conseguiu a democracia: cinco revoluções sangrentas (1789, 1830, 1848, 1870 e 1945), quatro invasões estrangeiras (1815, 1870, 1914 e 1940), duas desapropriações dos bens da Igreja, expulsões de ordens religiosas, supressão de escolas católicas, laicizações de instituições (1789 e 1901), etc. No entanto, dirão alguns, o Papa Leão XIII pediu o “ralliement”51 dos católicos franceses ao regime republicano52 (que provocou uma catástrofe política e religiosa). Outros criticam esta atitude de Leão XIII, classificando-a e a seu autor, de liberal. Não creio que ele fosse um liberal e muito menos um democrata. Acreditou apenas suscitar uma boa combinação para o bem da religião na França; mas vê-se claramente que esquecia a origem da constituição irremediavelmente liberal, maçônica e anti-católica da democracia francesa. Continuar lendo

DESIGUALDADES NECESSÁRIAS

Resultado de imagem para marcel lefebvreUm Individualismo Antinatural

Continuaremos a análise do princípio do liberalismo: ele é antinatural, diz o Cardeal Billot, “ao pretender que tudo deve ceder ante o bem da liberdade individual, que as necessidades sociais multiplicaram os empecilhos a esta liberdade, e que o regime ideal para o homem é aquele em que reina a lei do puro e perfeito individualismo”. Ora, continua o autor, “este individualismo é absolutamente contrário à natureza humana”.

Vocês já viram que se trata do liberalismo individual de Jean Jacques Rousseau, que se encontra por toda parte no fundo de todo pensamento político atual. De acordo com Rousseau, os homens nascem livres de toda coação, “anti-sociais” por natureza, feitos para viver isolados na selva, onde são felizes. A origem de seus males e das desigualdades está na introdução da propriedade privada, que dá origem às rivalidades: um “estado de guerra de todos contra todos”. Se os homens se agrupam em sociedades, não é por uma necessidade de sua natureza, mas unicamente por decisão de sua livre e espontânea vontade, como uma escapatória a este estado no qual   “o homem é um lobo para o outro homem”. A sociedade nada tem de natural, é puramente convencional em sua origem histórica e em sua constituição: esta convenção é um “contrato social”.

Toda esta teoria, cuja análise nós tiramos do livro do padre Baltasar Argos S.J.41, havia sido refutada anteriormente, e especialmente por São Tomás de Aquino, que demonstra a natureza social do homem, pondo em evidência que o homem é o animal mais provido de meios naturais para subsistir de modo autônomo quando vem ao mundo e que os homens, mesmo na idade adulta são incapazes de satisfazerem sozinhos a todas as suas necessidades; devem portanto ajudar-se mutuamente42. Gostaria de lhes apresentar uma página admirável do pensador político contemporâneo Charles Maurras (1868-1952), que seguindo São Tomás refuta magistralmente a teoria individualista e igualitária de Rousseau43. Contudo, parece- nos bastante indicar o que ensina Leão XIII, em relação a este assunto em sua encíclica sobre a origem do poder político:

“O grande erro destes filósofos está em não ver algo, que entretanto é evidente: os homens não constituem uma raça selvagem e solitária; a condição natural de viver em sociedade é anterior a qualquer decisão de sua vontade”44.
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BENÉFICAS COAÇÕES

Resultado de imagem para marcel lefebvreNão considereis que estais obrigados, mas a que estais obrigados, se é ao bem ou ao mal”. Santo Agostinho

Como lhes disse, o liberalismo faz da liberdade de ação, definida no capítulo anterior, uma liberdade de toda coação, um absoluto, um fim em si. Deixarei ao Cardeal Billot a análise e contestação desta pretensão fundamental dos liberais:

“O princípio fundamental do liberalismo, escreve ele, é a liberdade de toda coação, qualquer que seja, não só daquela que se exerce pela violência e que somente atinge os atos externos, como também da coação que provém do temor das leis e penalidades, das dependências e necessidades sociais, ou resumindo, dos laços de qualquer natureza que impeçam o homem de agir segundo sua inclinação natural. Para os liberais, esta liberdade individual é o bem por excelência, o bem fundamental, inviolável, ao qual tudo deve ceder, excetuando talvez o que exige a ordem puramente material da cidade; a liberdade é o bem ao qual tudo mais está subordinado; ela é o fundamento necessário de toda construção social”36.

“Este princípio do liberalismo, continua o Cardeal Billot, é absurdo, antinatural e quimérico”. Eis a análise crítica que ele desenvolve; eu resumo e comento:

O Princípio Liberal é Absurdo

Este princípio é absurdo: “incipit ab absurdo”, começa com a insensatez de pretender que o principal bem do homem é a ausência de todo liame que atrapalhe ou restrinja a liberdade. Realmente o bem do homem deve ser considerado como um fim: aquilo que é desejado em si. Vejamos porém que a liberdade, a liberdade de ação, é somente um meio, é somente a faculdade que pode permitir ao homem adquirir um bem. É portanto relativa ao uso que se faz: boa se é para o bem, porém má se é para o mal. Não é portanto um fim em si mesma e certamente não é o fim principal do homem.
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LEI E LIBERDADE

Resultado de imagem para marcel lefebvreA liberdade consiste em poder viver mais facilmente conforme as prescrições da lei eterna, com o auxílio das leis civis”. Leão XIII

Não poderia resumir melhor os desastres produzidos pelo  liberalismo em toda parte, expostos no capítulo precedente, do que com uma passagem de uma carta pastoral de bispos, que data de cem anos atrás, mas continua atual.

“Atualmente, o liberalismo é o erro capital das inteligências e  a paixão dominante em nosso século. Forma uma atmosfera infecta que envolve por todos os lados o mundo político e religioso, e é um imenso perigo para o indivíduo e para a sociedade.

Inimigo tão gratuito e cruel da Igreja Católica, amontoa em desordem insensata todos os instrumentos de destruição e morte, com a finalidade de proscrevê-la da terra. Falsifica as idéias, corrompe os juízos, adultera as consciências, irrita os temperamentos, incendeia as paixões, submete os governantes, subleva  os  governados,  e  não  satisfeito  em  apagar  (se isto

fosse possível) a chama da revelação, lança-se inconsciente e audaz para apagar a luz da razão natural”29.

Enunciado do Princípio Liberal

Será possível descobrir no meio de tal caos, num erro  tão multiforme, o princípio fundamental que explica tudo? Repetimos com o padre Roussel: “o liberal é um fanático da independência”. É um fato e procuraremos explicá-lo.

O Cardeal Billot, cujos tratados teológicos foram meus livros de estudo na Universidade Gregoriana e no Seminário Francês de Roma, dedicou ao liberalismo algumas páginas brilhantes e enérgicas, em seu tratado sobre a Igreja30. Ele enuncia o princípio fundamental do liberalismo:
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NOSSO SENHOR JESUS CRISTO E O LIBERALISMO

Resultado de imagem para marcel lefebvreA verdade os fará livres!” (Jo 8, 32)

Depois de haver exposto que o liberalismo é uma rebelião do  homem contra a ordem natural concebida pelo Criador, que culmina em uma organização individualista, igualitária e centralizadora, me resta lhes mostrar como o liberalismo ataca também a ordem sobrenatural, o plano da Redenção, quer dizer, em definitivo, como o liberalismo tem por finalidade destruir o reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo, tanto sobre o indivíduo como sobre a sociedade.

Em relação à ordem sobrenatural, o liberalismo proclama duas novas independências:

– “A independência da razão e da ciência em relação à fé: é o racionalismo, para quem a razão, juiz soberana e medida da verdade, se basta a si mesma e rechaça toda dominação estranha”.

É o que se chama de racionalismo.

O liberalismo quer separar a razão da fé, que impõe dogmas formulados de modo definitivo, e aos quais a inteligência deve se submeter. A simples hipótese de que certas verdades podem superar as capacidades da razão é completamente inadmissível. Os dogmas devem então ser submetidos à peneira da razão e da ciência, sendo ela de um modo constante, a causa dos progressos científicos. Os

milagres de Jesus Cristo, a vida maravilhosa dos santos, devem ser reinterpretados e desmistificados. Será necessário distinguir cuidadosamente o “Cristo da Fé”, construtor da fé dos apóstolos e das comunidades primitivas, do “Cristo da história” que foi nada mais do que um simples homem. Vê-se quanto o racionalismo se opõe à divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e à Revelação  divina! Continuar lendo

A ORDEM NATURAL E O LIBERALISMO

Imagem relacionadaHá uma obra que recomendo especialmente àqueles que desejam ter uma noção concreta e completa do liberalismo  para poder preparar preleções, destinadas a pessoas que pouco conhecem este erro e suas ramificações e estão viciadas em pensar como um liberal, inclusive entre católicos ligados à tradição. Frequentemente encontramos pessoas que não percebem a profunda penetração do liberalismo em toda nossa sociedade e em nossas famílias.

Facilmente se reconhece que o “liberalismo de vanguarda” de um Giscard d’Estaing nos anos de 1975, conduziu a França ao socialismo; mas se pensa, com boa fé, que a “direita liberal” pode nos livrar da opressão totalitária. As almas que “pensam bem” ainda não descobriram se devem aprovar ou censurar a “libertação do aborto”, mas estão prontas para assinar uma petição para liberar a eutanásia. De fato qualquer coisa que leve a etiqueta de “liberdade”, tem há séculos a auréola do prestígio que acompanha esta palavra “sacrossanta”. No entanto estamos morrendo deste mal, é o liberalismo que envenena tanto a sociedade civil como a Igreja. Abramos o livro de que lhes falo, “Liberalismo e Catolicismo” do Padre Roussel, que foi lançado em 1926, e leiamos a página que descreve     com     muita     precisão     o     liberalismo     (pgs.14-16), acrescentando um pequeno comentário:

“O liberal é um fanático de independência, a proclama em tudo e para tudo, chegando às raias do absurdo”.

Trata-se de uma definição; veremos como se aplica e quais são as libertações que o liberalismo reivindica.

– “A independência da verdade e do bem em relação ao ser: é a filosofia relativista da mobilidade e do futuro. A independência da inteligência em relação a seu objeto: soberana, a razão não tem que se submeter a seu objeto, ela o cria na evolução radical da verdade; subjetivismo relativista”.
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AS ORIGENS DO LIBERALISMO: NATURALISMO, RACIONALISMO, LIBERALISMO

lef4Desde já, podemos ver como todos os erros estão entrelaçados uns com os outros: liberalismo, naturalismo, racionalismo, são somente aspectos complementares do que se deve chamar Revolução. Onde a reta razão, esclarecida pela fé, vê somente harmonia e subordinação, a razão deificada cava abismos e levanta muralhas: a natureza sem a graça, a prosperidade material sem a procura dos bens eternos, o poder civil separado do poder eclesiástico, a política sem Deus nem Jesus Cristo, os direitos do homem contra os direitos de Deus , finalmente a liberdade sem a verdade.

Com este espírito se fez a Revolução, que vinha se preparando a mais de dois séculos, como procurei mostrar, mas somente no fim do século XVIII culmina e dá seus frutos decisivos: os frutos políticos como resultado dos trabalhos dos filósofos, dos enciclopedistas e de uma extraordinária atividade da maçonaria (11), que em poucas décadas havia penetrado e estabelecido núcleos em toda classe dirigente.

A MAÇONARIA PROPAGADORA DESTES ERROS

O Papa Leão XIII nos mostra em “Quod Apostolici”, encíclica já citada, e também em “Humanum Genus” de 20 de agosto de 1884 sobre a ceita dos maçons, com que precisão, com que clarividência, os Soberanos Pontífices denunciaram esta empresa:

“Em nossos dias os malfeitores parecem conspirar em conjunto e lutar com maior força, guiados e auxiliados por uma Sociedade que chamam dos Maçons, firmemente constituída e muito difundida (…). os Romanos Pontífices, nossos predecessores, zelando cuidadosamente pela salvação do povo cristão, reconheceram logo quem era e o que queria este inimigo, assim que ele começou a sair das trevas de sua conjuração oculta, para se lançar ao ataque em plena luz do dia”. Continuar lendo

ASSIS, FRUTO DO IMPÉRIO MAÇOM

Conferências de Dom Lefebvre em Barcelona e Madri – Outubro de 1986 

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Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Ao longo de duas conferências, feitas em Barcelona e Madri na época em que ocorria a primeira reunião de Assis, Dom Lefebvre refez o caminho aberto e seguido pelo liberalismo até a subordinação da Igreja às exigências da Maçonaria.

O liberalismo é um pecado

Não somente o liberalismo é um pecado grave que atinge a honra de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas também uma religião. Morremos do liberalismo e de suas consequências. Já faz dois séculos que ele tem se difundido por toda parte, em nossas escolas, em nossas sociedades. É um veneno que destrói os mandamentos de Deus, tudo o que gera a beleza e a grandeza da civilização cristã.

É bom delimitá-lo, como o fez Leão XIII sobre a Maçonaria, em sua encíclica Humanum genus:

“É preciso arrancar-lhes sua máscara e mostrá-los tais como são, para que os evitemos e evitemos seus erros”.

Acredito que o liberalismo é um fruto da Maçonaria e que ele deve ser desmascarado de modo que compreendam todos os seus perigos.

O liberalismo tem sua deusa: é a liberdade. Na época da Revolução francesa, adorou-se a deusa Razão na catedral Notre-Dame de Paris, ou seja, a liberdade, a liberdade do Homem, esta liberdade que tem sua estátua na entrada de Nova Iorque, que se festejou de um modo inacreditável há pouco tempo. O Homem é livre, enfim ele está liberto de toda lei e, em particular, da lei de Deus. A liberdade é a deusa da religião do liberalismo. Continuar lendo

AS ORIGENS DO LIBERALISMO: NASCIMENTO DO NATURALISMO POLÍTICO

lef3O protestantismo constituiu um ataque muito duro contra a Igreja e ocasionou um desagregamento profundo na cristandade do século XVI, porém sem conseguir impregnar as nações católicas com o veneno de seu naturalismo político e social. Isso só aconteceu quando este espírito secularizante chegou às universidades e em seguida àqueles que chamamos “filósofos das luzes”.

Filosoficamente o protestantismo e o positivismo jurídico têm origem no nominalismo surgido com a decadência da Idade Média (séc. XIV) que conduz tanto à Lutero com sua concepção puramente extrínseca e nominal da Redenção, como a Descartes, com sua idéia de uma lei divina indecifrável submetida somente ao arbítrio da vontade de Deus. Com São Tomás de Aquino, toda a filosofia cristã afirmativa, ao contrário, a unidade da lei divina eterna e da lei humana natural: “A lei natural é tão somente uma participação da lei eterna nas criaturas racionais”. (Suma Teológica I II, 91, 2).

Mas com Descartes já se põe uma ruptura entre o direito divino e o direito humano natural. Seguindo a Descartes, os universitários e juristas não tardariam a tomar o mesmo caminho cismático.

Assim diz Hugo Grotius (1625), citado por Paul Hazard: “E o direito divino? Grotius procura salvaguardá-lo: o que acabamos de dizer, declara, valeria mesmo se concordássemos ( o que não pode ser concedido sem um crime ) que não há Deus e que os assuntos humanos não são objeto de seus cuidados. Não há duvida alguma que Deus e a Providência existem, sendo portanto uma fonte de direito além da que provém da natureza. ‘Mesmo este direito natural, pode ser atribuído a Deus, porque ele quis que estes princípios existissem em nós’. Continuar lendo

AS ORIGENS DO LIBERALISMO: O PROTESTANTISMO E O NATURALISMO

lef1Pode parecer estranho e paradoxal chamar o protestantismo de naturalista. Nada há em Lutero de exaltação à bondade intrínseca da natureza porque, segundo ele, a natureza está irremediavelmente decaída e a concupiscência é invencível. No entanto a opinião excessivamente niilista que o protestante tem sobre si mesmo, desemboca em um naturalismo prático: na intenção de menosprezar natureza e exaltar o poder “só da fé”, relegam a graça divina e a ordem sobrenatural ao domínio das abstrações. Para os protestantes a graça não opera uma verdadeira renovação interior; o batismo não é a restituição de um estado sobrenatural habitual, é somente um ato de fé em Jesus Cristo que justifica e salva.

A natureza não é restaurada pela graça, permanece intrinsecamente corrompida; e somente a ordem obtém de Deus que deite sobre nossos pecados o manto pudico de Nóe. Todo o organismo sobrenatural que o batismo agrega à natureza enraizando nela a graça, todas as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo são reduzidos a nada, reduzidos a um só ato forçado de fé, confiança em um redentor que gratifica somente para retirar-se para longe a criatura, deixando um abismo intransponível entre o homem definitivamente miserável e Deus transcendente três vezes santo. Esse pseudo supernaturalismo, como chama o Padre Garrigou Lagrange, deixa finalmente o homem, apesar de haver sido redimido, sujeito somente à força de suas aptidões naturais; fatalmente se afunda no naturalismo. Deste modo os extremos opostos se unem! Jacques Maritain exprime bem o desenlace naturalista do luteranismo:

“A natureza humana terá que rechaçar como um inútil acessório teológico o manto de uma graça que não é nada para ela e cobrir-se com sua fé confiança para converter-se em uma bela besta livre, cujo infalível e continuo progresso encanta hoje o universo inteiro”. (5) Continuar lendo

AS ORIGENS DO LIBERALISMO: O RENASCIMENTO E O NATURALISMO

lef2“Se vocês não lerem muito, cedo ou tarde serão traidores, porque não terão compreendido a raiz do mal”.

Com estas fortes palavras um de meus colaboradores (4) recomendava aos seminaristas de Ecône a leitura de boas obras que tratem do liberalismo.

Com efeito, não se pode compreender a crise atual da Igreja nem conhecer a verdadeira cara dos que ocupam a Roma atual, e em conseqüência ver que atitude tomar perante os fatos, se não se procura as causas desta crise, se não se estuda seu curso histórico, e não se descobre sua fonte primeira neste liberalismo condenado pelos papas dos últimos séculos.

Com efeito, não se pode compreender a crise atual da Igreja nem conhecer a verdadeira cara dos que ocupam a Roma atual, e em conseqüência ver que atitude tomar perante os fatos, se não se procura as causas desta crise, se não se estuda seu curso histórico, e não se descobre sua fonte primeira neste liberalismo condenado pelos papas dos últimos séculos.

NOSSA LUZ: A VOZ DOS PAPAS

Partiremos das origens, como faziam os Soberanos Pontífices, ao denunciarem as graves perturbações em curso. Além de acusarem o liberalismo, os papas vão mais longe no passado e todos, desde Pio VI até Bento XV, falavam da crise reduzindo a para a luta encetada contra a Igreja no século XVI pelo protestantismo e pelo naturalismo, do qual aquela heresia foi a causa e a primeira propagadora. Continuar lendo

DO LIBERALISMO À APOSTASIA (INTRODUÇÃO)

Há 61 anos, foi anunciado o Concílio Vaticano II por São João XXIII |  Pontifício Instituto Superior de Direito CanônicoPara onde vamos? Qual será o final de todas as mudanças atuais? Não se trata de guerras, de catástrofes atômicas ou ecológicas, mas sobretudo da revolução no exterior e interior da Igreja, da apostasia que por fim ganha povos inteiros, católicos em outros tempos, chegando inclusive a mais alta hierarquia da Igreja. Roma parece afogada em uma cegueira completa, a Roma de sempre está reduzia ao silêncio, abafada pela outra Roma, a Roma liberal que a ocupa. As fontes da Graça e da fé divina se esvaem e as veias da Igreja canalizam por todo seu corpo o veneno mortal do naturalismo.

É impossível compreender esta crise profunda sem levar em conta o fato central deste século: o segundo Concílio  Vaticano. Creio que minha opinião em relação a ele é bastante conhecida para me permitir dizer sem rodeios meu pensamento: sem rechaças em bloco este Concílio, penso que é o maior desastre deste e de todos os séculos passados desde a fundação da Igreja. Na verdade não faço mais do que julga-lo pelos frutos, usando o critério que nos foi dado por Nosso Senhor (Mt.VII,16). Quando se pede ao  Cardeal Ratzinger que mostre algum bom fruto do Concílio, não sabe o que responder1; e ao perguntar um dia ao Cardeal Garrone, como um “bom” concílio havia produzido tão mais frutos, me respondeu: “não é o Concílio, são os meios de comunicação social”2.

Agora um pouco de reflexão pode ajudar ao senso comum: se  a época pós-conciliar está dominada pela revolução na Igreja, não é porque o próprio Concílio a introduziu? “O Concílio é o 1789 na Igreja”, declarou o Cardeal Suenens. “O problema do Concílio, foi assimilar dois séculos de cultura liberal”, diz o Cardeal Ratzinger. E se explica: Pio IX pelo Syllabus, havia rechaçado sem possibilidade de réplica o novo mundo surgido da Revolução, ao condenar este proposição: “O Romano Pontífice pode e deve se reconciliar e se acomodar com o progresso, com o liberalismo e com a civilização moderna”(nº 80). O Concílio, diz abertamente Joseph Ratzinger, foi um “contra-Syllabus” ao efetuar este reconciliação da Igreja com o liberalismo, particularmente por intermédio de “Gaudium et Spes”, o maior documento conciliar. Com efeito os papas do século XIX não parecem ter sabido discernir o que havia de verdade cristã, e  portanto assimilável pela Igreja, na revolução de 1789.
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VERDADEIRO SACERDÓCIO – PALAVRAS DE D. LEFEBVRE

Resultado de imagem para marcel lefebvreFonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

Fomos escolhidos de um modo totalmente particular para sermos seu  discípulos e apóstolos. Por que admirar que nos peçam que levemos a cruz que Ele mesmo levou e bebamos o cálice que ele bebeu? É evidente que, aos olhos da fé, os sofrimentos que suportam e suportarão nossos sacerdotes, os coloquem em uma mesma linha reta de conformidade e semelhança com Nosso Senhor.

Acusam nossos colegas de levantar a população contra seus líderes ou governantes. Nosso Senhor também foi acusado do mesmo: “Encontramos este homem pervertendo o nosso povo” (Lc 23, 2). Acusam nossos sacerdotes de serem agentes estrangeiros. Nosso Senhor também foi acusado de pertencer a outro reino e ao serviço de uma causa estrangeira: “Encontramos este homem … dizendo que é o Cristo, o rei.” “Não temos mais nenhum rei senão César” (Jo 19, 15). Assim acontece com todo cristão: seu batismo o faz cidadão do reino de Deus e da Igreja Romana, e por causa dessa adesão milhões de cristãos foram martirizados. Muitos teriam salvado a vida se tivessem renunciado tal filiação e pertença, mas a preferiram mais do que a pertença à cidade terrena, ainda que estivessem entre os melhores filhos da terra. Podemos duvidar do amor de Nosso Senhor por Sua pátria terrena, personificada na Jerusalém que tanto amou? E, no entanto, foi condenado como revolucionário e estrangeiro.

Seriam tolerados os católicos e missionários se aceitassem não pertencer a outro reino. Se os católicos formaram igrejas cismáticas (isto é, sujeitas apenas aos governos locais, que seriam toleradas e até mesmo subsidiadas), estariam ajudando os Estados em seus fins políticos.

Nossa condição de sacerdotes e cristãos católicos e romanos é tal que, em todos os países não-católicos e às vezes mesmo em países com a maioria deles, nos colorariam em uma situação de estrangeiros; se é verdade que queremos parecer como Nosso Senhor, nosso reino não deve ser deste mundo.

Mons. Marcel Lefebvre – Cartas Pastorais e Escritos

CONSERVAR NOSSA FÉ

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est 

Não é possível deixar de fazer uma escolha, mas esta escolha não é entre obediência e desobediência, mas o que nos propõe, o que expressamente nos convidam, porque nos perseguem, é uma obediência aparente.

Eu diria que temos de escolher entre uma aparente obediência – pois o Santo Padre não pode, de forma alguma, pedir-nos que abandonemos nossa fé, que é algo absolutamente impossível – e a conservação da nossa fé. Pois bem, nós escolhemos não abandonar a nossa fé, porque nela não podemos errar. A Igreja não pode estar errada no que tem ensinado durante dois mil anos, e por esse motivo nos apegamos a essa Tradição que  tem se manifestado de forma admirável e definitiva.

São Paulo dizia a Timóteo: “Ó Timóteo, guarda o depósito.” Ora, este depósito acabava de se formar há algumas poucas décadas. E acrescentava: “Permaneça no que aprendeste com sua avó Loide na sua infância”. A infância de Timóteo se remontava quase à morte de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, São Paulo lhe dizia: guarda o que aprendeste com sua avó: seu catecismo e tudo o que a Igreja lhe ensinou; respeite e mantenha o que aprendeste com sua avó. Continuar lendo

A MISSA DE LUTERO

Conferência de Dom Marcel Lefebvre.

Esta noite, falarei da Missa de Lutero e da Missa do novo rito. Por que essa comparação entre a Nova Missa e a Missa de Lutero? Porque a história o diz; a história objetiva não é criação minha. (Sua Excia. mostra então um livro sobre Lutero, publicado em 1911, “Do Luteranismo Ao Protestantismo” de Léon Cristiani). Ele fala sobre a reforma litúrgica de Lutero. Trata-se de um livro escrito em um tempo, em que o autor nem conhecia nossa crise, nem o novo rito; portanto não foi escrito com segundas intenções.

Síntese dos princípios fundamentais da Missa

Primeiramente desejo fazer uma síntese dos princípios fundamentais da Missa, para trazer à nossa memória a beleza, a profunda grandeza espiritual de nossa Missa, o lugar que nossa Missa ocupa na Santa Igreja. Que coisa mais bela Nosso Senhor legou à humanidade, que coisa mais preciosa, mais santa concedeu à Sua Santa Igreja, à Igreja sua Esposa, no Calvário, quando morria na Cruz? Foi o Sacrifício de si mesmo.

O Sacrifício de si mesmo. Sua própria Pessoa, que continua seu Sacrifício. Ele o deu à Igreja, quando morreu na Cruz. A partir desse momento, esse Sacrifício estava destinado a continuar, a perseverar através dos séculos, como Ele o havia instituído, juntamente com o Sacerdócio.

Quando na Santa Ceia, Jesus instituiu o Sacerdócio, Ele o instituiu para o Sacrifício, o Sacrifício da Cruz, porque esse Sacrifício é a fonte de todos os méritos, de todas as graças, de todos os Sacramentos; a fonte de toda a riqueza da Igreja. Isso devemos recordar, ter sempre presente essa realidade, divina realidade. Continuar lendo

A PRUDENCIA NO JULGAMENTO

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

A dureza é má conselheira. Sempre tira conclusões exageradas de qualquer coisa que se diz. Sempre interpreta as palavras dos outros em seu sentido mais duro. Por exemplo, há pessoas que dizem: “O Papa disse tal coisa, portanto é um herege, e, portanto, não é mais Papa ...” Esse é um raciocínio simplista; basta tirar uma frase de seu contexto para concluir: “É um herege“.

Para ser um herege deve ser persistente no erro e não basta ter proferido uma frase herética. Por exemplo, sobre o tema da Santíssima Trindade – tema que é muito difícil – todos nós podemos nos equivocar, expressando de forma incorreta e dizer algo que não seja muito ortodoxo. Se alguém nos assinala, o corrigimos. Mas quão terrível seria se alguém nos acusasse em seguida de heresia e excomunhão

Alguns não hesitam em tirar conclusões incríveis: “Esse disse tal frase, por isso é um liberal, com certeza é um maçom; portanto é excomungado … “Com tais argumentos todo mundo seria maçom! Continuar lendo

“DESTRUIR A MISSA”

Qual é a crise que estamos atravessando atualmente? Manifesta-se, no meu entender, sob quatro aspectos fundamentais para a Santa Igreja.

Manifesta-se, à primeira vista, acredito eu, e me parece que é um dos aspectos mais graves, porque, para mim, se se estuda a história da Igreja, dá-se conta de que a grande crise que atravessou o século XVI, crise espantosa, que arrebatou à Santa Igreja, milhões e milhões de almas, regiões inteiras, Estados na sua totalidade, esta crise foi, antes de tudo, uma crise do culto litúrgico; e que, se atualmente existem divisões entre aqueles que se dizem cristãos, há que se atribuir mais que a outras causas à forma de celebrar o culto litúrgico; e se os protestantes se separaram da Igreja, a causa principal é que os instigadores do protestantismo, como Lutero, disseram, desde o primeiro momento: “Se queremos destruir a Igreja temos que destruir a Santa Missa”. Esta foi a chave de Lutero.

Tinha-se dado conta de que, se chegasse a por as mãos na Santa Missa, se conseguisse reduzir o Sacrifício da Missa a uma pura refeição, a uma comemoração ou recordação, a uma significação da comunidade cristã, a uma rememoração ou memorial da Paixão de Nosso Senhor e, como consequência, que ficasse mais débil o mais sagrado que há na Igreja, o mais santo que nos legou Nosso Senhor, o mais sacrossanto, ele conseguiria destruir a Igreja. E certamente, conseguiu, por desgraça, arrebatar à Igreja nações inteiras, obrando dessa forma. Continuar lendo

PARA CONTINUAR SENDO CATÓLICO TERIA QUE SE TORNAR PROTESTANTE?

 “Vae mihi si non evangelizavero” – 1 Cor IX, 16

Sem referir-nos às via inesperadas nas quais se viram os Padres do Concílio ao se tratar de certos esquemas desenraizados do Magistério da Igreja pretendemos nas páginas que se seguem fazermos eco daquela palavra que os Padres do Concílio não poderiam se esquecer: Caveamus! (cuidemo-nos).

Cuidemo-nos de que nos influencie um espírito absolutamente inconciliável com o que os Pontífices romanos e os precedentes Concílios se esforçaram incansavelmente por difundir entre os cristãos. Não se trata de um espírito de progresso, senão de ruptura e de suicídio.

As declarações de alguns Padres a esse respeito são orientadoras: uns afirmam que entre as declarações passadas e a dos autores de determinados esquemas não existe contradição, porque as circunstâncias foram modificadas. Até que ponto o que o Magistério da Igreja afirmou há cem anos servia para aqueles tempos mas não para os nossos.

Há outros que se refugiam no mistério da Igreja.

Outros consideram que um Concílio tem por objeto modificar a doutrina dos Concílios anteriores.

Por fim, outros mantém que todo o Concílio está acima do magistério ordinário, pelo qual pode prescindir deste e bastar-se por si só.

Se ouve além disso a voz da imprensa liberal afirmando que por fim a Igreja admite a evolução do dogma. Continuar lendo

“ENQUANTO ELES DESTROEM, TEMOS A FELICIDADE DE CONSTRUIR”

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

“O próprio Deus, diz São Paulo, lhes enviará um poder que os enganará e os induzirá a acreditar no erro” (2 Tes 2, 10-11) Que castigo mais terrível pode haver que uma hierarquia desorientada? Isso é precisamente o que nossa Senhora anunciou na terceira parte do Segredo de Fátima: a Igreja e sua hierarquia sofrerão uma desorientação diabólica e corresponde ao que Apocalipse nos fala sobre o combate da mulher contra o dragão. Mas, a Santíssima Virgem nos assegura que no final desta luta seu Imaculado Coração triunfará.

 

Ela vencerá a grande apostasia, fruto do liberalismo. Uma razão para não ficarmos de braços cruzados! Devemos lutar mais do que nunca pelo Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nesse combate, não estamos sós, temos conosco todos os papas, até Pio XII inclusive. 

 

Todos eles lutaram contra o liberalismo para proteger a Igreja. Deus não permitiu que conseguissem, mas isso não é motivo para render as armas! É necessário resistir. É necessário construir enquanto outros destroem. É necessário reconstruir as cidadelas em ruínas, reconstruir os bastiões da fé. Primeiro, o Santo Sacrifício da Missa de sempre, formador de santos. Depois, nossas capelas, que são verdadeiramente nossas paróquias, os mosteiros, as famílias numerosas, as escolas católicas, as empresas fiéis à doutrina social da Igreja, os políticos determinados a fazer política por Jesus Cristo. Devemos restaurar um conjunto de costumes, a vida social e os reflexos cristãos, com a amplitude de vida que Deus disponha. A única coisa que sei, a fé nos ensina, é que o Nosso Senhor deve reinar neste mundo, agora, e não apenas ao fim dele, tal como querem os liberais!

 

Enquanto eles destroem, temos a felicidade de construir. “

 

+ Dom Marcel Lefebvre

O DEVER DA DESOBEDIÊNCIA

lefTendo o Reitor do Seminário de Ecône, Padre Lorans, pedido que eu colaborasse na redação deste número da “Lettre aux Anciens”, pareceu-me útil relembrar o que escrevi em 20 de janeiro de 1978 sobre algumas objeções que nos fizeram, relativas à nossa atitude face aos problemas que a atual situação da Igreja levanta.

Uma das perguntas era: Como o senhor concebe a obediência ao Papa? Eis a resposta dada há dez anos:

Os princípios que determinam a obediência são conhecidos e são tão conformes com a razão e com o senso comum, que podemos perguntar como é que pessoas inteligentes podem afirmar que “preferem enganar-se com o Papa do que estar na Verdade contra ele“.

Não é isso que nos ensinam a lei natural e o Magistério da Igreja.

A obediência supõe uma autoridade que dá uma ordem ou decreta uma lei. As autoridades humanas, mesmo sendo instituídas por Deus, apenas têm autoridade para atingir o fim determinado por Deus, e não para dele se desviarem. Quando uma autoridade usa o seu poder em oposição à lei pela qual esse poder lhe foi dado, não tem direito à obediência, e devemos desobedecer-lhe.

Essa necessidade de desobediência é aceita em relação ao pai de família que encoraja a filha a prostituir-se, ou em relação à autoridade civil que obriga os médicos a provocarem abortos e a matarem inocentes. Porém, a autoridade do Papa é aceita a qualquer preço, como se o Papa fosse infalível no seu governo e em todas as suas palavras. É desconhecer a história e ignorar o que é, na realidade, a infalibilidade.

Já São Paulo teve que dizer a São Pedro que ele “não andava direito segundo a verdade do Evangelho” (Gal. II,14). E o mesmo São Paulo encorajou os fiéis a não lhe obedecerem se lhe acontecesse pregar um Evangelho diferente daquele que lhes tinha ensinado anteriormente (Gal. I,8).

São Tomás, quando fala da correção fraterna, alude à resistência de São Paulo face a São Pedro, e comenta-a assim: “Resistir na cara e em público ultrapassa a medida da correção fraterna. São Paulo não o teria feito em relação a São Pedro se não fosse de algum modo o seu igual (…). No entanto, é preciso saber que, caso se tratasse de um perigo para a Fé, os superiores deveriam ser repreendidos pelos inferiores, mesmo publicamente. Isso ressalta da maneira e da razão de agir de São Paulo em relação a São Pedro, de quem era súdito, de tal forma, diz a glosa de Santo Agostinho, que ‘o próprio Chefe da Igreja mostrou aos superiores que, se por acaso lhes acontecesse abandonarem o reto caminho, aceitassem ser corrigidos pelos seus inferiores’” (S. Tomás., Sum. Theol. IIa-IIae, q. 33, art. 4, ad 2m). Continuar lendo

A EUCARISTIA DIMINUI A CONCUPISCÊNCIA

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

A Eucaristia tem por efeito conservarmos livres e puros de todo pecado. É um antídoto celeste que nos impede de sermos contaminados e corrompidos pelo veneno mortal de más paixões e, em particular, da concupiscência. É o pão dos virgens.

Por esta razão, há de recomendar muito a comunhão às pessoas de hoje, bem como aos esposos que tem dificuldades para permanecerem fiéis à lei de Deus no âmbito conjugal. (…)

A Eucaristia é o remédio. Em outros tempos, as pessoas comungavam muito. Os cristãos se alimentavam da Eucaristia, pois é um remédio específico para diminuir nossa concupiscência. Na Eucaristia recebemos em nós o autor de toda a graça, aquele que precisamente é  contrário ao pecado e à concupiscência: Nosso Senhor Jesus Cristo.

Na medida em que nos alimentamos de Nosso Senhor Jesus Cristo com as disposições necessárias, o fogo da concupiscência diminui, e as almas permanecem em paz e não se sentem atormentados sempre por estes problemas. A Eucaristia reprime as más inclinações da carne; porque, incendiando cada vez as mais almas no fogo da caridade, forçosamente tem que apagar os ardores da concupiscência.

+ Dom Marcel Lefebvre

A INFILTRAÇÃO DO MODERNISMO NA IGREJA – PARTE 5

5A influência dos comunistas em Roma

É preciso ler o livro Moscou e o Vaticano, do padre jesuíta Lepidi. É extraordinário. Ele mostra a influência que têm os comunistas em Roma e como eles chegam a fazer nomear bispos e até dois cardeais: o Cardeal Lekaï e o Cardeal Tomaseck. O primeiro, sucessor do Cardeal Mindszenty. O segundo, sucessor do Cardeal Beran, que foram heróis e mártires da Fé. Em seus lugares puseram os padres da Pax, ou seja, pessoas decididas, antes de mais nada, a se entenderem com os governos comunistas e que perseguem os padres tradicionais. Os padres que vão secretamente batizar alguém no interior ou fazer o catecismo escondido para continuar sua obra de pastores da Igreja Católica, são perseguidos por estes bispos que lhes diz: vocês não têm o direito de não respeitar as ordens dos governos comunistas. Vocês nos atrapalham agindo assim.

Esses padres estão prontos a dar suas vidas para preservar a fé de seus filhos, para preservar a fé das famílias, para dar os sacramentos aos que têm necessidade. É claro que nestes países é preciso sempre pedir autorizações, quando vão levar o Santíssimo Sacramento nos hospitais ou para qualquer outra coisa. Se eles saem de suas sacristias têm de perguntar ao P.C. se lhes autoriza. É impossível. As pessoas morrem sem sacramentos; as crianças não são mais educadas de modo cristão. Por isso eles fazem escondido. E quando eles são presos, são os próprios bispos que os perseguem. É assustador.

Não seriam o Cardeal Wyszynski, nem o Cardeal Slipyi, nem o Cardeal Mindszenty, nem o Cardeal Béran que fariam algo parecido. Eles, ao contrário, empurravam seus bons padres dizendo: vamos, partam. Se forem para a prisão terão feito seu dever de padre. Se for para serem mártires, sejam mártires.

Isso mostra a influência exercida sobre Roma e que temos dificuldade de imaginar. É difícil de acreditar. Continuar lendo

A INFILTRAÇÃO DO MODERNISMO NA IGREJA – PARTE 4

4Infiltrados na Igreja para destruí-la

Sim, eu sou um rebelde. Sim, eu sou um dissidente. Sim, eu sou um desobediente dessa gente, dos Bugnini. Porque são eles que se infiltraram na Igreja para destruí-la. Não é possível fazer de outro modo.

Então, vamos contribuir para a destruição da Igreja? Vamos dizer: sim, sim, amém, mesmo se é o inimigo que penetrou até junto do Santo Padre e que pode fazê-lo assinar o que ele quer? Sob quais pressões? Não sabemos. Existem coisas escondidas que nos escapam, evidentemente. Alguns dizem que é a maçonaria. É possível, eu não sei. Em todo caso, há um mistério. Como um padre que não é cardeal nem mesmo bispo, um padre ainda jovem naquela época, que subiu contra a vontade do Papa João XXIII, que o tinha expulsado da Universidade do Latrão, que subiu, subiu e que chegou ao topo que se ri do Cardeal Secretário de Estado, que se ri do Cardeal Prefeito da Congregação do Culto, que vai diretamente ao Santo Padre e lhe faz assinar o que ele quer. Nunca se viu nada de parecido na Santa Igreja. Tudo passa sempre pelas autoridades. Faz-se Comissões. Estuda-se os documentos. Mas esse rapaz era todo poderoso!

Foi ele que trouxe esses pastores protestantes para mudar nossa Missa. Não foi o Cardeal Guth. Não foi o Cardeal Secretário de Estado, talvez nem mesmo o Papa. Foi ele. Que tipo de homem era esse Bugnini?

Um dia o Abade de São Paulo fora dos Muros, beneditino que precedeu Bugnini na Comissão de Liturgia, me disse: «Monsenhor, não me fale do Pe. Bugnini; eu sei muito sobre ele. Não me pergunte quem ele é». Eu retomei: «Mas diga-me, porque é necessário que as pessoas saibam, é necessário que as coisas apareçam» «Eu não posso lhe falar do Pe. Bugnini». Logo, ele o conhecia bem. É provável que tenha sido ele que tenha pedido a João XXIII de sair da Universidade do Latrão.

Este conjunto de coisas nos mostra que o inimigo penetrou no interior da Igreja, como já dizia São Pio X; ele está no mais alto cume, como anunciou Nossa Senhora de La Salette, e como está, sem dúvida, no terceiro segredo de Fátima. Continuar lendo

A INFILTRAÇÃO DO MODERNISMO NA IGREJA – PARTE 3

3A Revolução na Igreja

Assim se passou o Concílio. É evidente que todos as teses, todos os textos do Concílio foram influenciados pelos cardeais liberais e as comissões liberais. Não devemos nos espantar que tenhamos tido textos ambíguos, favoráveis a mudanças, a uma verdadeira revolução na Igreja.

Será que nós poderíamos ter feito alguma coisa, nós que representávamos a facção tradicional dos bispos e cardeais? Pouca coisa, em definitivo. Éramos duzentos e cinqüenta favoráveis à permanência da Tradição e desfavoráveis a mudanças de vulto na Igreja: falsa renovação, falso ecumenismo, falsa colegialidade. Nós éramos opostos a essas coisas. Esses duzentos e cinqüenta bispos, evidentemente, tiveram algum peso e, em certas ocasiões, os textos foram modificados. O mal foi um pouco limitado. Mas nós não conseguimos impedir certas teses de passar, particularmente a da liberdade religiosa, cujo texto foi refeito cinco vezes. Cinco vezes a mesma tese voltava. Nós nos opusemos sempre. Havia sempre duzentos e cinqüenta vozes contra. Então o Papa Paulo VI fez adicionar duas pequenas frases no texto, dizendo: «não há nada nesse texto que seja contrário à doutrina tradicional da Igreja» e «a Igreja permanece sempre a verdadeira e única Igreja de Cristo».

Então, os bispos espanhóis, em particular, disseram: «bem, já que o Papa adicionou isso, agora não há mais problema, já que não há nada contra a tradição». Se as coisas são contraditórias, essa pequena frase contradiz tudo o que está no interior do texto. É um esquema contraditório. Não se pode aceitar isso. Então sobraram somente, se eu me lembro bem, setenta e quatro bispos que permaneceram contra. É o único esquema que encontrou uma tal oposição: 74 sobre 2.500, é pouca coisa !

Então terminou o Concílio, não podemos nos espantar com as reformas que foram feitas. Depois de toda a história do liberalismo, os liberais saindo vitoriosos no interior do Concílio, exigiram do Papa Paulo VI lugares nas Congregações romanas. E, de fato, os lugares importantes foram dados aos progressistas. Quando morria um Cardeal, ou numa ocasião qualquer que permitisse ao Papa Paulo VI afastar um cardeal tradicionalista, ele colocava imediatamente um cardeal liberal no seu lugar. Continuar lendo

FIDELIDADE À IGREJA

mons.-lefebvre-disant-la-messe_0Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

 

Se temos de sofrer, pois bem, soframos por nossa fé! Não somos os primeiros: quantos mártires antes de nós sofreram por guardar a fé! Se temos que sofrer o martírio moral que supõe ser, de certa forma, desprezados e repreendidos por aqueles que deveriam ser nossos pais na fé, bem, enfrentemos o sofrimento e acima de tudo guardemos a fé. Deus o quer e também a Santíssima Virgem, que é nossa mãe. Como somos da família da Virgem, queremos guardar a fé que Ela sempre professou. Existe no coração da Virgem algo que não seja o nome de nosso Senhor Jesus Cristo? Pois bem, nós também queremos ter em nossos corações um só nome, o nome de Jesus, assim como a Santíssima Virgem.

 

Estamos confiantes de que um dia a verdade voltará. Não pode ser de outro modo, porque Deus não abandona a sua Igreja.

 

Portanto, sem nenhuma rebelião, nem amargura ou ressentimento, prosseguimos nosso trabalho de formação sacerdotal à luz do Magistério de sempre, convencidos de que não podemos prestar serviço maior à Santa Igreja Católica, ao Sumo Pontífice e às gerações futuras.

 

Trabalhando assim, com a graça de Deus, o socorro da Virgem Maria, de São José e de São Pio X, estamos convencidos de que seguimos sendo fiéis à Igreja Católica e Romana e a todos os sucessores de Pedro, e que somos os fiéis dispensadores dos mistérios de Nosso Senhor Jesus Cristo pelo Espírito Santo “.

 

+ Dom Marcel Lefebvre

A INFILTRAÇÃO DO MODERNISMO NA IGREJA – PARTE 2

2À deriva com o Concílio

A mesma coisa para o Concílio. «Tenho a intenção de fazer um Concílio». Já o Papa Pio XII tinha sido solicitado por certos cardeais para reunir um Concílio. Mas ele recusou, estimando que isso seria impossível. Não se pode, dizia ele, na nossa época, fazer um Concílio com 2.500 bispos. As pressões que se pode sofrer do fato dos meios de comunicação social são muito perigosas para que se possa reunir um Concílio. Corre-se o risco de perder o controle. E ele não fez o Concílio.

Mas o Papa João XXIII disse: não se pode ser pessimista; é preciso ver as coisas com confiança. Vamos nos reunir durante três meses, com todos os bispos do mundo inteiro. Começamos em 13 de outubro e entre 8 de dezembro e 25 de janeiro, tudo terminado, todo mundo vai embora e volta para suas casas e acaba-se o Concílio.

E o papa lançou o Concílio! Era preciso prepará-lo. Não se faz um Concílio como um sínodo. Foi preciso prepará-lo dois anos antes. Fui nomeado pessoalmente membro da Comissão Central Preparatória, sendo arcebispo de Dakar e presidente da Conferência Episcopal do Oeste Africano. Eu vim, então, a Roma, durante dois anos, ao menos umas dez vezes, para participar das reuniões dessa Comissão Central Preparatória que era, de fato, muito importante porque para ela todos os documentos das comissões secundárias eram enviados, para serem estudados e submetidos ao Concílio. Havia nessa comissão setenta cardeais e uns vinte arcebispos e bispos, além dos peritos. Mas estes não eram membros da comissão. Estavam lá somente para serem eventualmente consultados pelos membros. Continuar lendo