VAIDADE DO NOVUS ORDO

O NOVO RITO DA MISSA TEM DUAS FACES

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Conhecemos essa imagem do desenhista Charles Allan Gilbert, produzida em 1892. Ela representa duas coisas ao mesmo tempo: uma mulher perante seu espelho, com móveis e acessórios para o cuidado de sua beleza, mas também a figura de uma crãnio. Os mesmos elementos da imagem são utilizados para compor a cena dessa mulher ocupada em sua penteadeira e a representação macabra da morte.

A justaposição desses dois temas: da frivolidade e da morte inevitável é um tema clássico desde o século XVII, o do Memento Mori: lembre-te da morte! Daí o seu título: Tudo é vaidade, retirado do livro de Eclesiastes.

A genialidade do autor consistiu em utilizar os mesmos elementos gráficos para significar duas coisas muito distintas, de modo a que, ao juntá-las, se unissem numa única ideia moral. Interessa-nos aqui o primeiro aspecto: os mesmos elementos gráficos ilustram duas ideias diferentes, ou mesmo opostas.

A liturgia é a oração da Igreja dirigida a Deus. Sendo Deus invisível, assim como os bens sobrenaturais, a graça, o caráter sacramental e os mistérios passados da criação, da queda e da redenção, devem ser expressos em linguagem humana, por sinais. Para que a liturgia seja adequada, os sinais utilizados devem exprimir suficientemente os mistérios, evitando ambiguidades. Continuar lendo

PARAIGUALDADE

O ideal fraudulento da igualdade

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Os Jogos Paralímpicos tiveram o mesmo tratamento midiático que os Jogos Olímpicos. As pessoas se alegraram com a possibilidade oferecida a tantas pessoas deficientes de competir nas disciplinas atléticas.

Todavia, a separação destas competições em duas séries demonstra bem que não é possível comparar o desempenho de uns e outros, e fazê-los concorrer juntos. Há, efetivamente, uma desigualdade. Logo, a alegria dos competidores e dos vencedores demonstra bem que é a ausência desta igualdade  que os torna felizes.

Sem dúvida, é excelente organizar a sociedade de modo a aliviar tanto quanto possível a dificuldade dos deficientes. Todavia, a alegria não vêm de uma igualdade impossível de ser estabelecida. Ela advém, pelo contrário, de uma vitalidade que se manifesta de modo deslumbrante apesar de todos os obstáculos.

A igualdade, ao invés disso, é um slogan revolucionário. Sem dúvida, há igualdade de dignidade entre todos os seres humanos em virtude da natureza humana: essa igualdade justifica, por exemplo, a imparcialidade da justiça, mas, também, a rejeição absoluta do aborto como uma negação de dignidade e de igualdade entre a pessoa humana ainda não nascida e a pessoa que veio à luz. Continuar lendo

CARAPAÇA E COLUNA VERTEBRAL

primeiro

O globalismo está na pauta do dia, e entre as projeções publicadas aqui e ali por inquestionáveis especialistas[1], podemos antever um futuro sombrio. Como viver na cova do leão e ainda permanecer íntegro?

Fonte: Le Chardonnet n° 367 – Tradução: Dominus Est

Sua descrição costumava ser, em parte, ficção científica, e em parte testemunhos sobre países totalitários: uma sociedade coletivista monitorada nos mínimos detalhes por uma inteligência artificial implacável, uma pressão social perniciosa para estabelecer a imoralidade na sociedade, etc. O mais preocupante é que não se trata de nos deixar uma escolha. Alguns estão até mesmo considerando abolir as eleições, visto hoje temos os meios para saber mais rapidamente o que a população[2] “deseja”  as máquinas decidirão, sem nós, qual é a “nossa” vontade geral, e seremos fortemente convidados a obedecê-las para “obedecermos a nós mesmos” de uma forma mais espontânea e unânime… Um tanto abalados por estes projetos filantrópicos excessivamente invasivos, perguntamo-nos o que fazer. A sociedade reinicializada que querem nos impor apenas remotamente se assemelhará ao cristianismo, e poderíamos muito bem encontrar-nos como cristãos no ainda pagão Império Romano, forçados a viver à parte da imoralidade pública e dos falsos cultos. Mas em tal sociedade a jurisprudência acaba por se afirmar: christianum esse non licet. Então, como viver na cova do leão e ainda permanecer íntegro?

Onde está o limite?

Mais precisamente, até que ponto podemos ou devemos entrar no sistema, sob o risco de participar formalmente do pecado? A polêmica atual sobre a moralidade das vacinas é testemunha disso. Como saber em que momento permanecer no sistema é aceitar a Marca da Besta? E se permanecermos, quem nos garante que teremos força para parar no limite? A experiência das práticas revolucionárias já mostrou como é possível fazer com que almas zelosas abandonem sua fé, envolvendo-as cada vez mais em ações ambíguas. Se deixarmos nos levar por essa engrenagem, tudo se seguirá[3] .

Risco zero?

Uma primeira atitude para resistir consiste em recusar tudo. Não só o pecado, mas também tudo o que se assemelha à sua sombra, porque isso seria cooperar com o projeto globalista, e recusa-se “custe o que custar” [4]. Isso equivale a ver o pecado onde ele não existe. Ao não saber reconhecê-lo onde realmente está, determina-se um curso de ação que parece ainda mais seguro, visto ser mais difícil e exigente. E, no entanto, engana e dispensa a necessidade de formar um juízo para apreciar o bem e o mal (certo e errado). Supondo que um dia não possamos mais suportar tal disciplina, demasiadamente estrita e mal fundamentada, tudo sucumbirá. Há almas escrupulosas que acabam abandonando tudo por não poderem suportar as limitações que impuseram a sim mesmas. Continuar lendo

DEVEMOS TER MEDO DAS PAIXÕES?

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

A raiva cega, o medo paralisa, o afeto torna fraco e sentimental.  Parece que as emoções tendem a virar nossa cabeça, para nos impedir de agir e julgar de maneira sensata.

Os estóicos não pensavam diferentes, acreditavam que toda paixão era uma falha. Mas a santidade não é estóica, é cristã. A bem-aventurada Maria da Encarnação (Madame Acarie no mundo) não apreciava muito a virtude de uma alma cujas paixões não eram exaltadas (1). Como diz um pensador, “é fácil ser santo quando não se quer ser humano  “.

Como emoções ou paixões pertencem à nossa sensibilidade criada por Deus, elas são sua reação perante as solicitações diárias. O próprio Salvador, longe de ser um mármore, ficou alegre até a saciedade (Jo 4, 33), triste até as lágrimas (Lc 19,41), abalado pela desordem (Mt 26 , 38), irado ao ponto de agredir (Jo 2, 15). Embora ele tivesse pleno controle, ele queria testar as paixões para nos dar exemplo.

As paixões nos servem quando são bem reguladas: amplificam nossas boas ações (“nada de bom é feito sem paixão, disse um filósofo), e até ajudam a refinar nosso julgamento. De fato, somente com nossa inteligência é difícil conseguimos, pelo raciocínio, tomar uma decisão. ” Por mais que a razão grite, não pode valorizar as coisas.”  (2) Então ela deve se deixar guiar pelo coração, se estiver bem formado. 

Por qual fórmula ela objetivará melhor do que a inteligência? Nada diferente disso: gostamos de tudo o que, por hábito, fazemos. Isso vale tanto em música como em bricolagem ou jardinagem ou até mesmo nas matemáticas, mas também na virtude. Se costumamos fazer o bem, temos prazer nele e, ao fazer o que gostamos, fazemos o bem, com um instinto que engana cada vez menos.

Mas o pecado original desregulou as paixões, e é isso que explica os excessos. Portanto, é necessário não sufocá-los, mas formá-los, saber contê-los ou excitá-los, conforme o caso. As virtudes da força e da temperança nada mais são do que o domínio de nossas emoções. Sem dúvida, haverá erros nesses esforços, mas devemos preferir a apatia total? Não, de acordo com o padre Calmel:  

“No começo, infelizmente e provavelmente, haverá uma certa mistura. Isso não significa que não devemos começar! A situação considerada à luz de Deus exige que exista um sentimento de certa natureza. Não vamos torná-los inexistentes. Vamos tentar torná-los puros!”(3)

Pe. Nicolas Cadiet

Notas:

(1) Cf. Bruno de Jésus-Marie, La Belle Acarie, DDB 1942, p.29.

(2) Blaise Pascal, Pensées, in Œuvres complètes, éd. Chevallier, Gallimard, bibliothèque de la Pléiade, 1954, n°104, p.1116.

(3) Roger-Thomas Calmel, Si ton œil est simple, Toulouse, 1955, p.46