Devido ao grande número de questionamentos que recebemos – desde pessoas que querem, humildemente, entender a posição da FSSPX e crise de fé que abala a Igreja até alguns “grandes sábios de redes sociais” que nos acusam de coisas que, além de nos causar grandes risadas, mostram nitidamente que não entendem nada sobre a Tradição, relinchando jargões já refutados há décadas – republicamos um texto da década de 80, escrito pelos até então “Padres Tradicionalistas de Campos” (hoje acordistas) e que permanece atual, para que cada um, de uma maneira simples, analise sua posição de católicos nessa crise pós conciliar.
AS VÁRIAS POSIÇÕES TOMADAS NA CRISE ATUAL
1) PROGRESSISMO: se subdivide em diversas categorias:
a) Obediência cega: aqueles que não admitem resistência às autoridades. É a posição mais cômoda na crise atual. Tem vários graus. Há até aqueles que dizem: “Prefiro errar com o Papa a acertar sem ele”, “Se o Papa fosse para o inferno eu iria junto”. Peca por excesso: chama-se subserviência. Destes tais dizia São Bernardo: “Aquele que faz o mal, sob o pretexto de obediência, faz antes um ato de rebeldia do que de obediência”.
b) Ultra-progressismo: são aqueles que, seguindo os princípios do Concílio Vaticano II, são mais lógicos e vão até às últimas conseqüências, sendo mais avançados do que as próprias autoridades auto-demolidoras da Igreja, não respeitando os freios que estas, por receio de escândalo, tentam impor. São os que, por exemplo, promovem os cultos afros, na linha da inculturação preconizada por João Paulo II; são os que pregam o ecumenismo total, na linha do encontro ecumênico de Assis; são os que apóiam as invasões de terra e o socialismo, na linha da teologia da libertação, etc.
c) Oficialismo: é a posição daqueles que, talvez pelo receio de serem chamados cismáticos, procuram tranqüilizar a própria consciência dizendo que seguem as autoridades oficiais da Igreja, mesmo quando favorecem à autodemolição. É a tentação da oficialidade, que reconhecemos ser bastante forte e sedutora, como se viu na Paixão de Jesus, quando a grande maioria do povo preferiu ficar do lado das autoridades religiosas oficiais que condenavam injustamente a Jesus, que ficou com poucos amigos fiéis.
Os que defendem tal posição teriam ficado com Aarão, sumo sacerdote oficial escolhido por Deus, que levou o povo a adorar o bezerro de ouro; teriam ficado com Caifás, sumo sacerdote oficial, que condenou a Jesus, teriam ficado com o Papa Libério, que favoreceu ao semi-arianismo e excomungou Santo Atanásio; teriam ficado com o Papa Honório que foi anatematizado pela Igreja, após sua morte, por ter também favorecido à heresia.
d) Conservadorismo: são os tidos como “conservadores”, querem conservar os ritos antigos, sem resistir aos novos ritos e às novas doutrinas instaladas na Igreja. Subdividem-se em:
Bi-ritualismo, “ralliés”: São os que gostariam de conservar a Tradição (Liturgia tradicional) ao mesmo tempo que a obediência às autoridades atuais e aos seus princípios, sobretudo aos princípios inovadores do Concílio Vaticano II, aceitando a legitimidade e exatidão doutrinária do Novus Ordo. Calam-se sobre pontos da doutrina tradicional, como preço pago a serem reconhecidos na Igreja hoje. Neste grupo se incluem o Barroux, a Fraternidade São Pedro, o Instituto Cristo Rei. São os que pleiteiam a “missa do indulto” e o bi-ritualismo, isto é, a legitimidade dos dois ritos, o da Missa tradicional e o da Missa nova.
“Sirismo”: Posição do Cardeal Siri, e dos que se assemelham a ele: “Mesmo que Paulo VI seja um papa pouco ortodoxo, é preciso se submeter a ele. … A nova missa é um castigo de Deus para os padres que celebravam mal a missa antes do Concílio” (Card. Siri). Esta posição consiste em aceitar as novidades da autodemolição por espírito de submissão e sofrer com isso. Obedecer e sofrer. Posição muito espalhada também.
2) SEDEVACANTISMO (de várias gamas: desde os mais extremistas até aos mais moderados): baseia-se no mesmo princípio equivocado anterior de não admitir resistência às autoridades. Levados, talvez, até pelo zelo da ortodoxia na Igreja e não podendo conceber que as autoridades favoreçam à heresia, classificam esses desvios doutrinários como heresias formais e concluem que perderam os seus cargos. Os mais extremistas acham que se deva eleger outro Papa e organizar outra hierarquia. Outros acham que a Igreja visível acabou (=heresia!). Alguns acham que a Igreja está sem Papa desde Pio XII. Dividem-se, porém, sobre a causa exata e a data em que tal coisa aconteceu.
3) CISMÁTICOS (recentes): São aqueles que acham que a Igreja atual falhou, separaram-se dela e elegeram um outro Papa. Assim são, por exemplo, os seguidores da igreja de Palmar de Troya, na Espanha e do movimento de Santa Jovita, no Canadá.
4) NOSSA POSIÇÃO NESSA CRISE: Nós, padres de Campos que formamos a União Sacerdotal São João Batista Maria Vianney, (FSSPX) somos católicos apostólicos romanos. Não somos “lefebvristas”, porque não existe, nem nunca existiu “lefebvrismo”, porquanto Dom Marcel Lefebvre não tinha doutrina própria nem formou uma hierarquia própria. Não somos “tradicionalistas”, no sentido de que “tradicionalismo” identifica um partido na Igreja. Somos fiéis à Tradição da Igreja como todo católico sempre foi e sempre deverá ser. Nem cismáticos, nem excomungados como nos acusam, a fim de impressionar a imaginação coletiva e formar um vazio ao nosso redor.
Esta é a também a posição de Dom Marcel Lefebvre, Dom Antônio de Castro Mayer, Fraternidade São Pio X, e dos fiéis em geral ligados à Tradição.
Fonte: Católicos Apostólicos Romanos – Nossa posição, na atual crise da Igreja – Livreto editado pelos “Padres Tradicionalistas de Campos”, antes do acordo com Roma
Publicado originalmente em dez/2015
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