COMO EDUCAR A CRIANÇA QUE FALTA À VERDADE? – PARTE 2

ment2Vaidade

A)Há crianças (e adultos…) que gostam de chamar a atenção sobre si, pôr-se em evidência, fazer-se o centro de gravitação do mundo. Não o podendo pela força dos fatos, recorrem à inventiva. Não se contentam com a mediocridade da vida: enfeitam-na. Não ouvem uma vantagem alheia, que não tenham outra maior a apresentar. Não é o caso da mentira de compensação, porque aqui já agem de modo consciente.

São gabolas, mas só contam vantagens onde pensam não poderem ser desmascaradas.

– O pequeno que se gabava de saber falar inglês.

– Outro que atira muito bem e feriu o ladrão a tiros; mas o pai lhe tomou o revólver…

– Outra prometia chegar qualquer dia à escola, de helicóptero, que o pai ia comprar.

B)Além das chamadas à realidade, a esses vaiodosos devemos advertir do resultado contraproducente das suas invencionices, que mais os desacreditam que engrandecem. Podem cair no ridículo.

– Estimulá-los a procurar reais situações de prestígios, por meios lícitos: o estudo assegura notas altas, a bondade grangeia amigos, a destreza nos esportes desperta admirações, etc. Continuar lendo

COMO EDUCAR A CRIANÇA QUE FALTA À VERDADE? – PARTE 1

ment1Mentir é falar contra o que se pensa, com intenção de enganar. Quem falta à verdade por não conhecê-la, erra; mas não mente. Quem mistura os fatos com cenas da imaginação, por falta de idade (ou por excesso…), não mente: altera a verdade.

O teor prático do nosso estudo não discutirá se as crianças são naturalmente verdadeiras ou mentirosas. Se umas vezes elas nos vexam com suas fraquezas, outras são incapazes de repetir o que vêem e ouvem sem misturá-lo a seus desvaneios.

Ao educador o que mais importa é distinguir dos naturais enganos infantis as verdadeiras mentiras, conhecer-lhes as causas, saber como haver-se em face de uns e das outras.

Mentiras infantis

Ante a inverdade duma criança, nosso primeiro cuidado é indagar-lhe a causa, para nos inteirarmos da verdadeira situação da criança, avaliar a sua condição psíquica ou moral, e proporcionar-lhe os meios de cura…. Vejamos por que mentem as crianças e como acudi-las.

Medo

A)Eis a mais abundante fonte da mentira infantil. O Dr. Gilbert Robin (“L’enfant sans défauts“) cita o resultado de um inquérito entre escolares na França: o medo figura com 72,9%, enquanto o interesse apenas com 7,6%, a ficção com 3,5%, e a maldade (como o altruísmo) com 2,6%. Afora outras causas. Continuar lendo

RELIGIOSIDADE EXTERIOR E INTERIOR

Sou religioso, sinceramente religioso; todavia, o que se passa entre Deus e mim, não o revelo aos outros. Isso não é da conta de ninguém! A vida religiosa é manifestação tão delicada da alma humana, que não se deve pô-la à mostra; cada um resolva o assunto consigo mesmo, em segredo, no seu íntimo. O principal é ser interiormente religioso; tudo o mais, exterioridades, formas, cerimônias, é de somenos importância…”

Assim falam muitos jovens, mesmo aqueles cuja religiosidade sincera e firme está acima de qualquer dúvida, mas que, todavia, não compreendem quão errôneo seja esse modo de pensar. E sabes porque tão dificilmente percebem o engano? Porque há muitas coisas verdadeiras em suas palavras.

“A religião é manifestação em extremo delicada de nossa alma”, dizem eles, e nisso têm toda a razão. “O essencial é a religiosidade interior!” Também está certo. Eu mesmo teria dificuldade em achar uma reprovação assaz forte para um homem que, por qualquer motivo, finge piedade exterior, imita práticas piedosas, enquanto sua alma está cheia de impureza, sem um pensamento religioso sério.

Tudo isso é indiscutivelmente exato. Sim, a religiosidade pode tornar-se mera exterioridade, cerimônia inanimada, se lhe faltar a vitalidade interior sincera. Religioso não é quem exalta com os lábios as glórias de Deus enquanto sua alma está bem longe. Religioso outrossim não é quem reza muito, vai à igreja, mas vive em pecado e tem o coração indiferente, duro para com o próximo. Tal religiosidade exterior é apenas uma caricatura, um escárnio da verdadeira idéia de religião, coisa muito própria a propagar um conceito errado de religião. Continuar lendo

DAS OBRAS FEITAS COM CARIDADE

Por nenhuma coisa do mundo, nem por amor de pessoa alguma, se deve praticar qualquer mal; mas, em prol de algum necessitado, pode-se, às vezes, omitir uma boa obra, ou trocá-la por outra melhor. Desta sorte, a boa obra não se perde, mas se converte em outra melhor. Sem a caridade, nada vale a obra exterior; tudo, porém, que da caridade procede, por insignificante e desprezível que seja, produz abundantes frutos, porque Deus não atende tanto à obra, como à intenção com que a fazemos.

Muito faz aquele que muito ama. Muito faz quem bem faz o que faz. Bem faz quem serve mais ao bem comum que à sua própria vontade. Muitas vezes parece caridade o que é mero amor-próprio, porque raras vezes nos deixa a inclinação natural, a própria vontade, a esperança da recompensa, o nosso interesse.

Aquele que tem verdadeira e perfeita caridade em nada se busca a si mesmo, mas deseja que tudo se faça para a glória de Deus. De ninguém tem inveja, porque não deseja proveito algum pessoal, nem busca sua felicidade em si, mas procura sobre todas as coisas ter alegria e felicidade em Deus. Não atribui bem algum à criatura, mas refere tudo a Deus, como à fonte de que tudo procede, e em que, como em fim último, acham todos os santos o deleitoso repousar. Oh! Quem tivera só uma centelha de verdadeira caridade logo compreenderia a vaidade de todas as coisas terrenas!

Imitação de Cristo – Tomás de Kempis

A BELEZA DA VIRTUDE DA PUREZA

A)Bem-aventurados os corações puros!”

A gente se sente imediatamente empolgado por esta palavra. Só um Deus podia usar semelhante linguagem. Ouvindo estas palavras divinas, a alma delicada sente em si a necessidade de realizar essa bem-aventurança. Ver a Deus! sim, ver a Deus de algum modo, mesmo desde este mundo! e é essa a recompensa prometida aos que são puros!

“Bem-aventurados os corações puros, porque verão a Deus.” Como dizer a beleza dessa virtude celestial, semelhante ao lírio branco, embalsama os que a possuem e espalha em volta deles  um perfume indefinível.

Ela é bela! porque dá à fisionomia um não sei quê que cativa, que atrai, que subjuga, que faz nascer uma simpatia respeitosa.

É bela! O Próprio Deus sente-lhe o encanto. Ele chama a alma pura sua “Amiga“: “Sois toda bela, ó minha bem-amada, e em vós não há mancha!” Chama-a “sua esposa“: “Vem, minha Esposa, vem, serás coroada!” Continuar lendo

MUITOS FILHOS – CONFIANÇA EM DEUS

“Nunca vi o justo abandonado, nem a sua descendência a mendigar o pão” (Sl. 36,35).

Falta aos cônjuges modernos, mesmos católicos a confiança em Deus. Temos o direito de exprobrar-lhes a falta de generosidade e de esperança. O tremendo egoísmo burguês dessorou os corações.

… O filho é hoje economicamente encarado, “um herdeiro”. Vê-se no filho a nascer mais um leito, mais um prato, mais uma mensalidade de colégio. Pior ainda, talvez: “mais um trabalho”. A própria mãe é quem teme e se queixa.

As queixas mais lamentáveis para lábios maternos: está envelhecendo; não pode mais freqüentar a sociedade; não tem mais tempo para nada; as senhoras antigas podiam ter muitos filhos, mas hoje não! É a linguagem do egoísmo gélido e desalmado. E isto é tanto pior quanto são os aquinhoamentos da fortuna que mais se queixam.

Outros experimentam reais dificuldades. Cresce-lhes a família e não se lhes aumentam os meios. A continuar assim, temem chegar à penúria.

A uns e outros lembramos que a generosidade divina não se deixa vencer. Retrai-se diante dos que retraem. Mas não terá limites com os que põem no Pai toda a sua confiança. Continuar lendo

O ZELO DE UMA MÃE

A-leitura-mae-e-filhaOs deveres que expusemos até aqui para a mãe, embora graves e importantes, são bem me­nos graves e importantes do que os de que nos resta a tratar. Até qui efetivamente só nos ocupamos dos cuidados que têm por objeto o corpo e a vida natural da criança, e daqui por diante vamos ocu­par-nos da cultura da sua inteligência e da vida sobrenatural da sua alma.

Divino Salvador, Palavra eterna do Padre, Luz incriada, falai ao ouvido do coração de todas as mães, e iluminai o seu espírito, para que todas compreendam e sintam de que tesouros são depo­sitárias, e quais os cuidados que devem ter, para vo-los conservar. Concedei-lhes essa graça, para que elas, deixando este mundo, possam dizer, com verdade, o que Vós dizíeis a Vosso Pai, na véspera do dia em que derramastes o Vosso sangue pela salvação dos homens: Meu Pai, cumpri a missão que me confiastes: guardei os que me destes, e nem um só de entre eles se perdeu.

Não há nada, debaixo do Céu, que seja comparável à beleza da alma humana. — «O mundo in­teiro, e todos os milhares de tesouros que ele en­cerra, não podem sequer aproximar-se do seu preço» diz S. João Crisóstomo. Suponde uma balança imensa. Colocai num dos seus pratos todas as riquezas da terra, e todas as criaturas privadas de razão, embora fossem transformadas em ouro, e noutro prato colocai uma única alma. Esta alma pesará mais que todas as riquezas amontoadas. É que, segundo o pensa­mento de Santo Tomás, a alma humana é a mais excelente criatura que há na terra; é o ornamento, a beleza do mundo, a obra prima saída das mãos de Deus, e a sua imagem viva [1], a irmã dos anjos, destinada a partilhar da sua glória. Para resgatar as almas, foi necessário o sangue de Jesus Cristo, o sangue de um Deus! Qual não é pois o seu preço?

Eis a razão por que todos os santos têm dedi­cado um generoso amor para com as almas. —«Por elas, exclamava S. Paulo, de boa vontade me entre­garei, me dedicarei todo inteiro.» — «Ó meu Padre, dizia a um religioso, Santa Catarina de Sena, se soubesseis quanto uma alma é bela e qual é a per­feição dessa obra prima, não duvido que, para a ganhardes para Deus, desseis de boa vontade cem vidas, se as tivesseis.» —Santa Madalena de Pazzi, exclamava com todo o ardor do seu zelo: «Oh! se me fosse possível voar às Índias, ou por entre os Turcos, para converter as almas, como todos os tra­balhos e todos os sofrimentos me pareceriam doces!» Continuar lendo

QUANTO MAIS A ALMA SE ESQUECE DE SI, MAIS DEUS PENSA POR ELA

joelhosÀ medida que a alma avança na perfeição, a sua vida espiritual simplifica-se e acaba por resumir-se nestas palavras dirigidas a Santa Catarina de Sena: “Pensa em mim, que Eu pensarei em ti”. Isto quer dizer: Eu pensarei na tua honra, na tua saúde, nos teus bens temporais; pensarei na tua salvação e santidade. Jesus tudo sabe e nada esquece.

Quando Ele pede à alma um tão grande sacrifício como é o abandono total de si mesma, encarrega-se de por remédio aos inconvenientes que daí possam resultar humanamente.

A alma deve limitar-se a obedecer e abster-se de perscrutar o futuro.

A pobre viúva de Sarepta estava numa grande miséria quando um dia encontrou o profeta Elias. Ia consumir as suas últimas provisões, e depois só lhe restaria morrer à míngua junto com o seu filho. No entanto, a pedido daquele estranho, cedeu-lhe o último pão. Humanamente, era uma loucura, mas era também sabedoria diante de Deus, pois compelia-o a fazer um milagre.

A alma verdadeiramente simples procede assim com Deus. Só pensa nos seus deveres de estado, sempre cumpridos de olhos postos nEle. Ignora o cálculo, os rodeios, o fingimento, e, em troca, Deus tudo prevê por ela. Às vezes, sem dúvida, a astúcia julga tê-la feito cair nos seus laços. Puro engano. Um acontecimento imprevisto, uma simples palavra, um gesto, desmascaram a intriga. Continuar lendo

VONTADE DE DEUS

Numa palavra, que mais deseja Deus, que não seja o nosso bem? Quem acharemos nós, que nos ame mais do que Deus? A Sua von­tade é não só que ninguém se perca, mas que todos se façam Santos e sejam salvos: Não querendo que alguém pereça mas que todos se arrependam. (S. Pedro 2. .9.) A vontade de Deus é a vossa santificação. (1. Thess. IV, 3.). Deus tem colocado a Sua própria glória no nosso bem porque sendo em Sua essência infinita bondade, como diz S. Leão, e a bondade sendo por natureza desejosa de comunicar-se, Deus tem o so­berano desejo de nos fazer participantes de Seus bens e felicidade. E se nos manda as tribulações nesta vida, manda-as todas para o nosso bem: Tudo coopera para bem nosso. (Rom. VIII. 28.) Os mesmos castigos, dizia a Santa Judith, não vem para nossa ruína, mas para nossa emenda e salvação. Acreditemos pois, que estes flagelos do Senhor acontecem para nossa emenda, e não para nossa destruição. (Judith. VIII. 27.)

Nosso Senhor para nos salvar de eternas penas, cerca-nos com a Sua bondade: Ó Senhor, Vós nos tens coroado como com um escudo da Vossa vontade. (Ps. V. 13.) Ele não só deseja, mas solicita o nosso bem: O Senhor é zeloso em meu benefício. (Ps. XXXIX. 18.) E qual será a coisa, diz S. Paulo, que Deus nos negará, Ele que nos deu o Seu próprio Filho? Ele que não poupou o Seu Unigênito, mas que entregou por nós à morte, não nos deu com Ele todas as coisas? (Rom. VIII. 32.) Com confiança, portanto, devemos resignar-nos aos divinos decretos e determinações, como sendo tudo para nosso bem: Em paz, na mesma paz dormirei e descansarei porque tu, ó Senhor, me tens seguramente inspi­rado esperança. (Ps. IV, 9. 10. ) Entregue-mo-nos pois em Suas mãos, porque Ele sem dúvida terá cuidado de nós: ponde todo o vosso cuidado n’Ele, porque Ele tem cui­dado de vós. (I. S. Pedro V. 7.). Continuar lendo

DAI-ME JESUS ! E SEREI BOAZINHA…….

Santa GemmaEntre os meninos e meninas mais pequeninos, puros e bons, costuma Jesus Menino escolher seus pajens (cruzadinhas) para que o acompanhem aonde quer que vá.

Uma dessas crianças foi S. Gema Galgani, uma santa de nossos tempos, que durante toda a sua vida recordava com prazer as primeiras práticas que tivera com Jesus Sacramentado, sendo ainda muito pequena.

O rosto de minha mãe, depois de receber a comunhão, dizia, ficava radiante de alegria e meu coração batia mais depressa, quando ela me chegava a seu peito, dizendo:

– Gema, aproxima-te de meu peito para dar um beijo a Jesus. Desde aquela idade na cessava de pedir a suas professoras capelães que lhe dessem o seu Jesus.

Eles olhavam para ela e sorriam, pois, apesar de ter nove anos, era tão pequena que parecia ter apenas seis. Naquele tempo o Papa não havia dado ainda o decreto da comunhão dos pequeninos e exigiam-se para a mesma instruções e conhecimentos cabais.

– Tem paciência, diziam-lhe, até que tenhas a idade requerida.

Mas Gema pedia, sem se cansar:

“Dai-me Jesus, dai-me…….E vereis que serei boazinha, não pecarei mais e serei bem comportada. Dai-me Jesus, porque me parece que não poderei viver sem Ele”. Continuar lendo

O AUXÍLIO DE DEUS TODO PODEROSO, QUE UNIU OS ESPOSOS

familiacat“De fato, não é coisa fácil ser boa esposa. Acolher sempre amável e sorridente o esposo que entra em casa fatigado e aborrecido. Não se abandonar aos próprios caprichos e fantasia, mas fazer unicamente o que é razoável. Cuidar sempre dos filhos, com amor, mesmo se o menor é muito aborrecido, o segundo é turbulento e o terceiro é muito peralta. Sempre e com paciência praticar, entre eles, a justiça, ainda que o primogênito seja insuportável, questione dez vezes por dia com seus irmãos e irmãs. E ainda cuidar da cozinha, da casa, da limpeza, praticar a economia, e fazer a lavagem e os consertos, saber como se recebem e se fazem visitas…Sim, não é fácil ser uma boa esposa.

Mas não me queiram mal por isto, se constato o mesmo para a outra parte: “De fato, é difícil ser um bom esposo.” Ter sempre em primeiro plano as necessidades materiais da família apesar das dificuldades da vida atual. Novos vestidos que serão necessários, ou a pintura do quarto, ou ainda lições às crianças, ora isto, ora aquilo. Apesar das preocupações e dos cuidados do pão cotidiano, deve achar tempo para ser pai de família e não somente um empregado de escritório. Saber, ao mesmo tempo, fazer companhia à esposa e brincar com os filhos, sentindo o peso da vida, saber em casa pôr de lado todo o amargor e todo o nervosismo. Não se preocupar se o jantar estar um pouco atrasado, não discutir se o prato favorito não sai bom, suportar pacientemente os brinquedos barulhentos dos filhos…Sim, não é fácil ser um bom marido.

Se, contudo, isto não é fácil nem para o esposo e nem para a esposa, qual a conclusão? Garantir o auxílio de uma terceira pessoa – o auxílio de Deus todo Poderoso, que uniu os esposos. “

Casamento e Família – Mons. Tihamer Toth

NÃO SE DEVE FAZER CASO DO QUE DIZEM OS MUNDANOS

olhaAssim que a tua devoção se for tornando conhecida no mundo, maledicências e adulações te causarão sérias dificuldades de praticá-la. Os libertinos tomarão a tua mudança por um artifício de hipocrisia e dirão que alguma desilusão sofrida no mundo te levou por pirraça a recorrer a Deus. Os teus amigos, por sua vez, se apressarão a te dar avisos que supõem ser caridosos e prudentes sobre a melancolia da devoção, sobre a perda do teu bom nome no mundo, sobre o estado de tua saúde, sobre o incômodo que causas aos outros, sobre a necessidade de viver no mundo conformando-se aos outros e, sobretudo, sobre os meios que temos para salvar-nos sem tantos mistérios.

Filotéia, tudo isso são loucas e vãs palavras do mundo e, na verdade, essas pessoas não têm um cuidado verdadeiro de teus negócios e de tua saúde: Se vós fôsseis do mundo, diz Nosso Senhor, amaria o mundo o que era seu; mas, como não sois do mundo, por isso ele vos aborrece.

Vêem-se homens e mulheres passarem noites inteiras no jogo; e haverá uma ocupação mais triste e insípida do que esta? Entretanto, seus amigos se calam; mas, se destinamos uma hora à meditação ou se nos levantamos mais cedo, para nos prepararmos para a santa comunhão, mandam logo chamar o médico, para que nos cure desta melancolia e tristeza. Podem-se passar trinta noites a dançar, que ninguém se queixa; mas por levantar-se na noite de Natal para a Missa do Galo, começa-se logo a tossir e a queixar de dor de cabeça no dia seguinte.

Quem não vê que o mundo é um juiz iníquo, favorável aos seus filhos, mas intransigente e severo para os filhos de Deus? Continuar lendo

NOVENA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – NONO DIA

sag5Coração de Jesus desprezado.

Filios enutrivi et exaltavi; ipsi autem spreverunt me – “Criei uns filhos e engrandeci-os; eles, porém, me desprezaram” (Is. 1, 2).

Sumário. Para um coração amante não há pena mais pungente do que ver desprezado seu amor, mormente quando as provas de amor foram manifestas e a ingratidão é grande. Vejamos, pois, qual deva ter sido a pena do Coração sensibilíssimo de Jesus que em retorno dos muitos benefícios feitos aos homens, só recebe ofensas, injúrias e desprezos, como nem se praticariam para com o mais vil dos homens. Poderemos pensar nesses tratos indignos para com Deus sem sentirmos compaixão e sem nos esforçarmos para o desagravar com o nosso amor?

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Não há para um coração amante pena mais pungente do que ver seu amor desprezado; mormente quando as provas de amor foram manifestas é mais negra a ingratidão que se mostra. – Se alguém por amor de Jesus Cristo se privasse de todos os seus bens, fosse viver num deserto, se alimentasse só com ervas, dormisse no chão, se macerasse com penitências, se, afinal, se deixasse martirizar; que seria tudo isso em compensação do sangue e da vida que o grande Filho de Deus sacrifícios por nós? Se nós nos entregássemos cada instante à morte, de certo nada seria em compensação do amor que Jesus Cristo nos mostrou em se dando a nós no Santíssimo Sacramento. Um Deus esconder-se sob as espécies de um pouco de pão e fazer-se o sustento de suas criaturas! Continuar lendo

A ALMA SIMPLES AMA A CRUZ

cruzA alma que de todo se esqueceu age sempre com simplicidade, guiada unicamente pela boa intenção.

Está sempre satisfeita com Deus, seja o que for que Ele faça ou permita. A doença ou a saúde, a prosperidade ou a adversidade, o êxito ou o insucesso, a vida ou a morte, tudo recebe com um sorriso de agradecimento. Acolhe de bom grado o sofrimento, qualquer  que seja a forma com que se apresente. A dor, como a alegria, é sempre a embaixatriz de Cristo.

O homem a quem falta uma fé ardente nem sempre reconhece Jesus sob os diferentes véus em que Ele Se envolve. Em vida de Jesus, só um pequeno número de fiéis O reconheceu como o verdadeiro Messias. Após a Sua morte e Ressurreição, os próprios Apóstolos e mesmo a ardente Madalena tiveram dificuldade em reconhecê-lO pelas aparências com que Se revestia.

Agora que vive nos nossos Sacrários, escondido sob as humildes aparências do pão e do vinho, a Sua visita é ainda mais misteriosa. Só a alma exercitada no amor reconhece o Mestre quando Ele Se apresenta. Reconhece-O muitas vezes pela cruz que traz consigo. Quando a dor a atinge, exclama: “É Jesus que passa“, e corre ao Seu encontro. Não o deixa curvado sob esse fardo. Estende os braços, empresta-lhe os ombros e ajuda-O a carregá-lo. Foi para ser ajudado que Ele veio ter conosco. Continuar lendo

NOVENA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – OITAVO DIA

sag6Coração agradecido de Jesus.

Omnis qui reliquerit domum, vel fratres… propter nomen meum, centuplum accipiet, et vitam aerternam possidebit – “Todo aquele que deixar por amor de meu nome a casa ou os irmãos, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna” (Matth. 19, 29).

Sumário. É tão agradecido o Coração de Jesus, que não pode ver qualquer obra, por pequena que seja, mas feita por seu amor, sem a recompensar nesta vida ou na outra. Apesar disso, os homens, que se mostram gratos até aos animais, são tão ingratos para com Deus, depois de receberem dele tão grandes benefícios. Parece de certo modo que os benefícios de Deus mudam de natureza e se tornam vexames, porque em vez de gratidão e amor, lhe retribuem ofensas e injúrias. Como é que nós até ao presente havemos correspondido à divina beneficência?… Como lhe corresponderemos para o futuro?

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É tão agradecido o Coração de Jesus, que não pode ver uma obra qualquer nossa feita por seu amor, uma palavra qualquer dita para sua glória, um bom pensamento refletido para sua complacência, e não dar a cada qual a devida recompensa. Mais: Ele é tão agradecido, que dá sempre cento por um: Centuplum accipiet. – Os homens, sendo gratos e querendo recompensar um benefício recebido, recompensam-no uma vez; cumprem, como se diz, a sua obrigação e depois não pensam mais nisso. Não é assim que Jesus Cristo faz conosco; cada ação boa por nós praticada afim de Lhe dar o gosto, é por Ele não somente recompensada ao cêntuplo na vida presente, mas ainda lá na outra vida recompensa-a infinitas vezes em cada instante da eternidade: quem, pois, não se esmerará em contentar, quanto possa, a um Coração tão agradecido? Continuar lendo

NOVENA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – SÉTIMO DIA

sag2Liberalidade do Coração de Jesus.

Mecum sunt divitiae… ut ditem diligentes me, et thesauros eorum repleam – “Comigo estão as riquezas… para enriquecer os que me amam e encher os seus tesouros” (Prov. 8, 18 et 21).

Sumário. É próprio das pessoas de coração bem formado o querer fazer todos contentes. Mas onde acharemos quem tenha o coração mais bondoso que Jesus Cristo? Para nos comunicar as suas riquezas chegou a fazer-se homem e pobre como nós. Mais: Ele quis ficar conosco no Santíssimo Sacramento, no qual está sempre com as mãos cheias de graças e convida-nos continuamente, a que nos aproximemos para as receber. Se, pois, ficamos sempre pobres, a culpa é só nossa.

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É próprio das pessoas de coração bem formado querer fazer todos contentes, especialmente os mais necessitados e aflitos. Mas onde acharemos quem tenha o coração mais bondoso que Jesus Cristo? Por ser a bondade infinita, tem um desejo extremo de nos comunicar as suas riquezas: Mecum sunt divitiae, ut ditem diligentes me – “Comigo estão as riquezas, para enriquecer os que me amam”. Ele se fez pobre, diz o apóstolo, para nos fazer ricos: Propter vos egenus factus est, ut illius inopia vos divites essetis (1). Continuar lendo

NOVENA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – SEXTO DIA

sag4Coração misericordioso de Jesus.

Misericordia eius a progenie in progenies timentibus eum – “A sua misericórdia se estende de geração a geração, sobre os que o temem” (Luc. 1, 50).

Sumário. Onde poderemos encontrar um coração mais terno que o Coração de Jesus, um coração que se compadeça mais de nossas misérias? É movido por esta misericórdia que baixou do céu à terra para nos buscar, suas ovelhas desgarradas; agora ainda sempre nos convida a que voltemos a ele, e promete que se esquecerá de todas as injúrias recebidas. Não tardemos, pois, a nos lançar nos braços de tão amoroso Pai; peçamos-Lhe perdão das ingratidões passadas e façamos o protesto que nunca jamais d’Ele nos afastaremos.

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Onde poderíamos achar um coração mais terno e misericordioso do que o Coração de Jesus, um coração que se tenha compadecido mais das nossas misérias? A sua misericórdia fê-lo baixar do céu à terra; fê-lo dizer que era Ele o bom Pastor vindo a dar a vida pelas suas ovelhas. Para nos obter o perdão, a nós, pecadores, não perdoou a si mesmo e quis sacrificar-se sobre a cruz, afim de sofrer Ele mesmo o castigo que nós tínhamos merecido. Continuar lendo

COMO SE DEVE EVITAR O JUÍZO TEMERÁRIO

abcRelanceia sobre ti o olhar e guarda-te de julgar as ações alheias. Quem julga os demais perde o trabalho, quase sempre se engana e facilmente peca; mas, examinando-se e julgando-se a si mesmo, trabalha sempre com proveito. De ordinário, julgamos as coisas segundo a inclinação do nosso coração, pois o amor-próprio facilmente nos altera a retidão do juízo. Se Deus fora sempre o único objetivo dos nossos desejos, não nos perturbaria tão facilmente qualquer oposição ao nosso parecer.

Muitas vezes existe, dentro ou fora de nós, alguma coisa que nos atrai e em nós influi. Muitos buscam secretamente a si mesmos em suas ações, e não o percebem. Parecem até gozar de boa paz, enquanto as coisas correm à medida de seus desejos; mas, se de outra sorte sucede, logo se inquietam e entristecem. Da discrepância de pareceres e opiniões freqüentemente nascem discórdias entre amigos e vizinhos, entre religiosos e pessoas piedosas.

É custoso perder um costume inveterado, e ninguém renuncia, de boa mente, a seu modo de ver. Se mais confias em tua razão e talento que na graça de Jesus Cristo, só raras vezes e tarde serás iluminado; pois Deus quer que nos sujeitemos perfeitamente a ele e que nos elevemos acima de toda razão humana, inflamados do seu amor.

Imitação de Cristo – Tomás de Kempis

NOVENA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – QUINTO DIA

sagraCoração aflito de Jesus.

TristIs est anima mea usque ad mortem – “Minha alma está triste até a morte” (Marc. 14, 34).

Sumário. A dor mais cruciante que afligiu o Coração de Jesus no correr de toda a sua vida, não foi a previsão dos tormentos e ultrajes que o esperavam, mas sim a previsão da ingratidão dos homens e dos ultrajes que lhe haviam de fazer no Sacramento de seu amor, na Santíssima Eucaristia. Ó Deus! Se nós temos cometido pecados, temos igualmente cooperado para afligir o Coração amabilíssimo de Jesus. Peçamos-Lhe ao menos perdão e tomemos a resolução de O amarmos com tanto mais ardor para o futuro.

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I. É impossível considerar a grandeza da aflição do Coração de Jesus nesta terra pelo amor dos homens e não nos compadecermos dele. Jesus Cristo mesmo nos faz saber que seu Coração chegou a tal auge de tristeza, que esta só fora suficiente para lhe tirar a vida e fazê-Lo morrer de pura dor, se o poder divino não tivesse por um milagre impedido a morte. Tristis est anima mea usque ad mortem – “Minha alma está triste até a morte“.

A dor mais cruciante que tanto afligiu o Coração de Jesus, não foi a previsão dos tormentos e opróbrios que os homens Lhe preparavam, mas sim a previsão da ingratidão deles para com o seu amor imenso. Jesus previu distintamente todos os pecados que nós havíamos de cometer, depois de tantos sofrimentos seus e de uma morte tão amargosa e ignominiosa. Previu em particular as injúrias horrorosas que os homens haviam de infligir a seu adorável Coração, que lhes queria deixar no Santíssimo Sacramento, como penhor de afeto. Continuar lendo

CATARINA ROGA PELO MUNDO

cata2Então aumentou o conhecimento daquela serva. Imensamente alegre e confortada, colocou-se diante da majestade de Deus com muita esperança na misericórdia divina. Seu amor era inexprimível, pois via que o Senhor estava disposto a perdoar aos homens em sua bondade. Embora se comportasse eles como inimigos, Deus providenciara o instrumento e o modo pelo qual seus servidores iriam cativar sua benevolência e aplacar sua ira. Sentindo Deus a seu lado, aquela serva se alegrava, não temendo as perseguições do mundo. A chama do amor cresceu tanto , que ela se sentia não realizada; era com confiança, porém, que implorava pelo mundo.

Embora já estivesse contido na segunda petição o pedido da felicidade e bem-estar dos cristãos e não-cristãos, assim mesmo ela estendia sua prece em prol do mundo inteiro, conforme a inspiração do próprio Deus. Ela clamava:

– Deus eterno! misericórdia para com tuas criaturas. Tu és o bom Pastor. Não demores em ter piedade do mundo. Parece que os homens não estão mais unidos a ti, Verdade eterna. Nem mesmo entre si, pois não se amam com uma caridade baseada em ti.

O Diálogo – Santa Catarina de Sena  

NOVENA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – QUARTO DIA

sag3Coração de Jesus, suspirando por ser amado.

Ecce, sto ad ostium et pulso: si quis… aperuerit mihi ianuam, intrabo ad illum – “Eis que estou à porta e bato; se alguém… me abrir a porta, entrarei em sua casa” (Apoc. 3, 20).

Sumário. Jesus não precisa de nós; com ou sem o nosso amor é Ele igualmente feliz, rico e poderoso. Mas, porque nos ama, acha as suas delícias em conversar com os filhos dos homens e deseja tanto ser de nós amado, como se o homem lhe fosse Deus e a sua felicidade dependesse da do homem. Que monstruosa seria, pois, a nossa ingratidão, se não procurássemos satisfazer os desejos desse Coração amabilíssimo! Que contas teríamos de lhe dar um dia no tribunal divino!

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Jesus não precisa de nós; com ou sem o nosso amor é Ele igualmente feliz, rico e poderoso. Todavia, diz Santo Tomás, porque Jesus Cristo nos ama, Ele deseja tanto o nosso amor, como se o homem lhe fosse Deus e a sua felicidade dependesse da do homem. É o que pasmava ao santo Jó que dizia: Quid est homo, quia magnificas eum: aut quid apponis erga eum cor tuum? (1) – “Que é o homem para o engrandeceres? E porque pões sobre ele o teu coração?” Como? Um Deus desejar e pedir com tamanha instância o amor de um verme! Continuar lendo

O ESPÍRITO DEVE SER TODO TRANQUILIDADE E PAZ

confOs Santos, por sua uniformidade com a von­tade divina, gozavam de um Céu sobre a terra.

Os antigos padres, diz Santa Dorotéia, conservavam em si uma paz constante, porque recebiam tudo como vindo da mão de Deus. Santa Maria Madalena de Pazzi ao ouvir somente as palavras — vontade de Deus —, ficou tão consolada que se extasiou de amor. A diversidade, sem dúvida, causa pena e dor em nossos sentidos, mas isto só tem lugar na parte inferior, porque o espírito, que é a parte superior, deve ser todo tranquilidade e paz, estando a vontade unida à de Deus: «O vosso gozo, disse o Senhor aos Seus Apóstolos, ninguém vo-lo tirará, e será completo.» (João XIV. 22 24.)

Aquele que está sempre em uniformida­de com a divina vontade, goza de uma paz inteira e perpétua: inteira, porque ele tem tudo quanto deseja, como acima dissemos: perpétua, porque ninguém o pode privar de tanto prazer, assim como ninguém pode obs­tar ao que Deus quer.

O padre João Thaulero, segundo o padre Sangiore (Tirar. Tom. III. ), e o padre Nieremberg (Vita. Div.), conta de si mesmo, que tendo por muitas vezes pedido a Deus que lhe ensinasse o caminho da vida espiritual, ouviu um dia uma voz que lhe dizia, que fosse a certa igreja, e ali acharia a pessoa que procurava. Ele se dirigiu à dita igreja, e à porta da mesma encontrou um miserável mendigo, descalço e roto, a quem saudou, dizendo: «Bons dias, irmão.» O pobre lhe respondeu: «Não me lembro de ter passado um só dia mau, senhor.» O padre replicou «Deus vos dê uma vida fe­liz»; ao que ele lhe tornou: «Eu nunca fui infeliz, acrescentando: Padre, não foi o acaso que me fez responder-vos que nunca tive um dia mau: porque, se tenho fome, louvo a Deus; quando cai neve ou chove, eu O bendigo; se alguém me despreza, me despede ou me aflige, ou se encontro ou­tra qualquer tribulação, dou sempre graças a Deus. Disse-vos que nunca fui infeliz, falei a verdade, pois que me tenho acos­tumado a conformar-me com a vontade de Deus, sem reserva; assim, tudo quanto me acontece de bem ou de mal, eu o recebo de Suas mãos com alegria, como se fosse a minha melhor sorte, e isto me torna feliz. Continuar lendo

NOVENA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – TERCEIRO DIA

sag5Coração amante de Jesus.

In caritate perpetua dilexi te: ideo attraxi te miserans – “Com amor eterno te amei; por isso compadecido de ti, te atraí a mim” (Ier. 31, 3).

Sumário. Oh, se compreendêssemos o amor de que o Coração de Jesus está abrasado para conosco! Não contente de nos ter criado, de preferência a tantos outros, o Verbo divino chegou a se fazer homem por nosso amor, a escolher uma vida penosíssima e a morrer sobre uma cruz. Este amor levou-O ainda a se deixar ficar conosco no Santíssimo Sacramento, onde parece que não tem outro ofício senão o de amar os homens. Mais: o amor levou-o a fazer-se nosso sustento, afim de se unir a nós e fazer dos nossos corações e o seu próprio uma só coisa. Porque então correspondemos tão mal ao amor de Jesus?

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Oh! Se compreendêssemos o amor de que o Coração de Jesus está abrasado para conosco! Jesus nos ama tanto que, se todos os homens e todos os anjos se unissem para amar com todas as suas forças, não chegariam à milésima parte do amor que nos tem Jesus. Ele nos ama imensamente mais que nós mesmos nos amamos; Ele nos amou até ao excesso: Dicebant excessum eius, quem completurus erat in Ierusalem (1) – “Falavam do excesso que havia de cumprir em Jerusalém”. E que excesso maior do que um Deus morrer pelas suas criaturas?

Jesus nos amou até ao fim: Cum dilexisset suor, in finem dilexit eos (2). Sim, porque, depois de nos haver Deus amado desde a eternidade, de forma que em toda a eternidade não houve um instante em que não tenha pensado em nós e amado a cada um de nós; por nosso amor se fez homem e escolheu uma vida penosa e a morte de cruz. Amou-nos, portanto, mais que a sua honra, mais que seu repouso, mais que a vida, porquanto sacrificou tudo para nos provar o amor que nos tem. Não vai nisto um excesso de amor, que fará os anjos e o paraíso todo pasmarem por toda a eternidade? Continuar lendo

COMO EDUCAR OS FILHOS MEDROSOS

medoHá medos instintivos: como a galinha foge ao ver pela primeira vez a raposa, o homem recua diante do que lhe representa perigo. Quando o perigo é determinado e conhecido, o medo revigora o homem para a luta ou para a fuga. Quando, porém, a pessoa teme sem saber ao certo o que nem porque, não tendo para onde fugir, toma o tormentoso caminho da angústia.

É instintivamente que as crianças de dois meses estremecem com ruídos súbitos ou com uma luz mais viva que de repente se acende. E mais tarde choram em face de um desconhecido, correm de animais, recuam ante o fogo, gritam quando as suspendem bruscamente ou as giram, etc.

Medo ao desconhecido

Tudo o que é súbito, intenso ou desconhecido produz medo à criança. É por isso que seus terrores são tanto mais numerosos quanto maior é sua ignorância das coisas. Vejam como se apavora facilmente um pequenino de dois a quatro anos. À medida que ele for tomando conhecimento da vida, vai perdendo muitos medos, a menos que uma errada educação os agrave e multiplique.

Ensina-se o medo

A criança é extremamente sugestionável: aprende com facilidade o que vê e escuta.

Se vê a mãe subir à cadeira por causa de uma barata, o pai espavorido com o número 13, as irmãs apavoradas com o trovão, etc., é natural que tome as mesmas ridículas atitudes. Assim se explicam os idiotas pavores de escuro, máscaras, cor preta, soldado, velho mendigo, sangue, etc. Continuar lendo

NOVENA DO ESPÍRITO SANTO – NONO DIA

EspO amor é um tesouro que encerra todos os bens.

Infinitus thesaurus est hominibus; quo qui usi sunt, participes facti sunt amicitiae Dei – “Ela é um tesouro infinito para os homens; do qual os que usaram têm sido feitos participantes da amizade de Deus” (Sap. 7, 14).

Sumário. O coração humano está sempre procurando bens capazes de torná-lo feliz. Enquanto se dirige às criaturas para os obter, nunca se satisfaz, por mais que receba. Ao contrário, um coração que só quer a Deus, acha logo a felicidade, porque o Senhor lhe satisfará todos os desejos e o fará contente mesmo no meio das maiores tribulações. Felizes de nós, se conhecemos o grande tesouro do amor divino e procuramos obtê-lo a todo custo, desapegando-nos das coisas criadas!

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O amor é o tesouro de que fala o Evangelho, o qual nos cumpre adquirir a custo de tudo mais. A razão é porque ele é realmente aquele bem infinito que nos faz participante da amizade de Deus. Aquele que acha Deus, acha tudo que pode desejar: Delectare in Domino, et dabit tibi petitiones cordis tui (1) – “Deleita-te no Senhor, e Ele te concederá as petições do teu coração”. O coração humano está sempre procurando bens capazes de torná-lo feliz. Enquanto se dirige às criaturas para os obter, nunca se satisfaz, por mais que receba. Ao contrário, um coração que só quer a Deus, Deus lhe satisfará todos os desejos. Quais são com efeito os homens mais felizes da terra, senão os santos? E porque? Porque só querem e buscam a Deus.

Estando um príncipe a caçar, vi um solitário percorrendo a floresta, e perguntou-lhe o que fazia nesse deserto. Mas vós, Senhor, retorquiu logo o anacoreta, que vindes buscar aqui? – Eu, acudiu o príncipe, ando em busca de caças – E eu, tornou o solitário, busco a Deus. Continuar lendo

NOVENA DO ESPÍRITO SANTO – OITAVO DIA

EspO amor é um vínculo.

Super omnia autem caritatem habete, quod est vinculum perfectionis – “Acima de tudo, tende e caridade, que é o vínculo da perfeição” (Col. 3, 14).

Sumário. Antes da vinda de Jesus Cristo, os homens afastavam-se de Deus, e aferrados à terra, recusavam unir-se ao seu Criador. Mas nosso amável Senhor enviou-nos o Espírito Santo, afim de que, assim como Ele é o vínculo indissolúvel que une o Pai ao Verbo Eterno, assim una nossas almas a Deus pelo amor. Procuremos, pois, estar fortemente ligados por este vínculo de perfeição, e não correremos mais risco de nos afastar de Deus. Antes de tudo, porém, é necessário que livremos nosso coração de todos os laços que o prendem ao mundo.

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Assim como o Espírito Santo, amor incriado, é o laço indissolúvel que une o Pai e o Verbo Eterno, assim é este mesmo Espírito que une nossas almas a Deus. A caridade, diz Santo Agostinho, é uma virtude que nos une a Deus: Caritas est virtus coniungens nos Deo. Daí este grito de alegria de São Lourenço Justiniano: Ó Amor, tu és então um vínculo de tal maneira forte, que pudeste encadear um Deus e uni-Lo a nossas almas! O caritas, quam magnum est vinculum tuum, quo Deus ligari potuit! – Os laços do mundo são laços de morte, mas os de Deus são laços de vida e salvação: Vincula illius alligatura salutares (1). Porquanto são vínculos de amor, e o amor nos une a Deus, nossa única e verdadeira vida. Continuar lendo

SOIS CRISTÃ: TENDES, POIS, UMA FÉ QUE DEVE IRRADIAR

meninaveuEsplêndido é o vosso papel, com a condição, todavia, de não figurardes entre as “flores artificiais” , mas sim entre as verdadeiras florinhas de Deus. As flores artificiais apenas encantam os olhos, não têm nenhum perfume; não vivem, são inertes. Vós, sede flores bem vivas e espalhai em torno de vós o bom odor de Jesus Cristo.
Isso, aliás, é fácil para quem tem uma fé viva e compreende as obrigações que ela impõe. O título de cristã acrescenta à donzela o que a luz do dia acrescenta à flor: fá-la resplandecer. Tirai Deus do coração da donzela, e ela ainda será bela, mas de uma beleza toda profana; não terá essa candura, esse brilho particular, essa virtude que emana dela e que desarma o vício e a impiedade, clamando-lhe: Alto lá! Jesus está aqui! Em vez de levar ao bem, será ela singularmente pertubadora! Não tendo a Deus no coração, não pode comunicá-Lo! E no entanto, diz um grande orador, “a mulher deve dar a Deus a todos os que dela se aproximam“.

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… E vós, “Filha de Deus”, haveriéis de cer que nada podeis fazer, e que não tendes de defender essa Religião que tão bem vos defendeu? Se ainda hoje o catolicismo precisa de vós, vós precisais dele!

O vosso papel não é ensinar, não é elevar vossa voz no meio do século, não! mas é fazer passar a verdade ao coração convertendo-a em amor.
Como diz Mons. Gerbet: Continuar lendo

NOVENA DO ESPÍRITO SANTO – SÉTIMO DIA

EspPelo amor a alma torna-se morada de Deus.

Ego rogabo Patrem, et alium Paraclitum dabit vobis, ut maneat vobiscum in aeternum – “Rogarei a meu Pai, e ele vos enviará outro Consolador, afim de que more sempre convosco” (Io. 14, 16).

Sumário. É esta a magnífica promessa de Jesus Cristo em favor daquele que O ama: Se me amais, rogarei ao Pai, e ele vos enviará o Espírito Santo, afim de que more sempre convosco. Deus, portanto, habita na alma que O ama. Lembremo-nos, porém, de que Deus é cheio de zelos. Quer habitar só na alma, e não está contente, se não o amamos de todo o coração e queremos dividir o nosso amor entre ele e as criaturas.

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O Espírito Santo é chamado Hóspede das almas: “Dulcis hospes animae”. É o efeito da magnífica promessa de Jesus Cristo em favor daquele que O ama: “Se me amais, guardai os meus mandamentos; e rogarei ao Meu Pai, e Ele vos enviará outro consolador, o Espírito Santo, afim de que more sempre convosco: “Ut maneat vobiscum in aeternum”. Sim, sempre, porque o Espírito Santo não desampara nunca uma alma, a não ser que seja expulso por ela: “Non deserit, nisi deseratur”.

Deus portanto, habita em toda a alma de que é amado; mas declara não ficar satisfeito, se não o amamos de todo o nosso coração. Escreve Santo Agostinho, que o senado romano se recusou a admitir Jesus Cristo no número dos deuses, dizendo que Ele é um Deus soberbo que quer ser adorado com exclusividade. Isto é verdade: Nosso Senhor não aceita rival num coração que O ama; quer habitar nele só e ser amado mais que todos. Se Ele não se vê amado acima só, tem, por assim dizer, segundo a expressão de São Tiago, zelos das criaturas com que é dividido esse coração, que ele deseja só para si: “Ad invidiam concupiscit vos Spiritus qui habitat in vobis” (1). Numa palavra, como diz São Jerônimo: Jesus é um Deus cheio de zelos: Zelotypus est Iesus. Continuar lendo

NOVENA DO ESPÍRITO SANTO – SEXTO DIA

EspO amor é uma virtude que fortifica.

Fortis est ut mors dilectio – “O amor é forte como a morte” (Cant. 8, 6).

Sumário. Quanto se trata de agradar ao objeto amado, o amor vence tudo; não há dificuldade que resista ao amor; porque, aquele que ama, não sente o sofrimento, ou se o sente, o ama. O sinal, pois, mais certo para conhecer se uma pessoa ama deveras a Deus é a sua fidelidade na adversidade como na prosperidade. Dizemos que amamos a Deus, mas até agora que fizemos por ele? Como suportamos as cruzes que nos manda para nosso bem?

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Assim como não há força criada que resista à morte, assim não há dificuldades que não ceda ao ardor de uma alma amante. Quando se trata de agradar ao objeto amado, o amor vence tudo, perdas, desprezos, dores. Nada é bastante duro para resistir ao fogo do amor, diz Santo Agostinho: Nihil tam durum, quod non amoris igne vincatur. O sinal mais certo, pois, para conhecer se uma pessoa ama deveras a Deus, é sua fidelidade em amar na adversidade como na prosperidade.

Dizia São Francisco de Sales que Deus é tão amável quando nos aflige, como quando nos consola, porque faz tudo por amor e até quando mais nos aflige nesta vida é que nos testemunha mais o seu amor. São João Crisóstomo julgava São Paulo mais feliz nos ferros que arrebatado ao terceiro céu. Continuar lendo

NOVENA DO ESPÍRITO SANTO – QUINTO DIA

EspO amor é um repouso que restaura as forças.

In pace in idipsum dormiam et requiescam – “Em paz dormirei nele mesmo e repousarei” (Ps. 4, 9).

Sumário. O efeito principal do amor é unir a vontade da pessoa que ama, à do objeto amado, tanto na prosperidade como na adversidade. Para uma alma que ama a Deus, consolar-se nas humilhações, dores e perdas que sofre, basta saber que o Senhor quer vê-la suportar tal pena. Dizendo somente: Assim o quer meu Deus, acharemos a paz e o contentamento no meio das tribulações e sob o peso da cruz.

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O amor se chama: In labore requies, in fletu solatium – “Alívio nas penas, consolação nas lágrimas”. O amor é um repouso que recreia, porque o ofício principal do amor é unir a vontade da pessoa que ama, à do ser amado. Para consolar-se de todas as humilhações que recebe, dores que sofre, perdas que padece, uma alma que ama a Deus, só precisa conhecer a vontade de seu amado que deseja vê-la suportar tal pena.

Dizendo somente: Assim o quer meu Deus, ela acha paz e contentamento no meio de todas as tribulações. Esta é a paz divina que transcende todos os prazeres dos sentidos: Pax Dei, quae exsuperat omnem sensum (1). Santa Maria Magdalena de Pazzi sentia-se inundada de alegria só com o pronunciar das palavras: vontade de Deus Continuar lendo