DO SÍMBOLO DOS APÓSTOLOS, CHAMADO VULGARMENTE O CREDO – CAPÍTULO II

Do primeiro artigo do “Credo”

§ 1o – De Deus Pai e da Criação

22) Que nos ensina o primeiro artigo do Credo: creio em Deus Pai, todo-poderoso, Criador do céu e da terra?

O primeiro artigo do Credo ensina-nos que há um só Deus, o qual é todo-poderoso, e criou o céu e a terra e todas as coisas que no céu e na terra se contêm, isto é, todo o universo.

23) O Como sabemos nós que há Deus?

Sabemos que há Deus, porque a nossa razão no-lo demonstra, e a fé no-lo confirma.

24) Por que se dá a Deus o nome de Pai?

Dá-se a Deus o nome de Pai:

1)    porque é Pai, por natureza, da segunda Pessoa da Santíssima Trindade, isto é, do Filho por Ele gerado;

 2)    porque Deus é Pai de todos os homens, que Ele criou, conserva e governa;

 3)    porque, finalmente, é Pai, pela graça, de todos os cristãos, os quais por isso se chamam filhos adotivos de Deus. Continuar lendo

DO SÍMBOLO DOS APÓSTOLOS, CHAMADO VULGARMENTE O CREDO – CAPÍTULO I

pio x“A fé é o fundamento do que se espera e a convicção das realida­des que não se vêem. Foi a fé que fez a glória dos antigos. Pela fé sabemos que o universo foi criado pela palavra de Deus, de sorte que do invisível teve origem o visível. Pela fé Abel ofereceu a Deus sacrifício melhor do que Caim e por ela foi declarado justo, tendo Deus aprovado as suas ofe­rendas, e é pela fé que depois de morto Abel continua a falar.” (Heb 4,14)

Do Credo em geral

15) Qual é a primeira parte da Doutrina Cristã?

A primeira parte da Doutrina Cristã é o Símbolo dos Apóstolos, chamado vulgarmente Credo.

16) Por que chamamos ao Credo Símbolo dos Apóstolos?

O Credo chama-se Símbolo dos Apóstolos, porque é um compêndio das verdades da Fé, ensinadas pelos Apóstolos.

17) Quantos artigos tem o Credo?

O Credo tem doze artigos. Continuar lendo

DA DOUTRINA CRISTÃ E SUAS PARTES PRINCIPAIS

pio x“Em seguida Barnabé foi para Tarso, à procura de Saulo. Encon­trou-o e o levou para Antioquia. Durante um ano estiveram juntos na­quela igreja e instruíram muita gente. Foi em Antioquia que, pela pri­meira vez, os discípulos foram chamados cristãos.” (At 11, 25-26)

1)    Sois cristão?

Sim, sou cristão pela graça de Deus. 

2)    Por que dizeis pela graça de Deus?

Digo: pela graça de Deus, porque o ser cristão é um dom de Deus, inteiramente gratuito, que nós não podemos merecer. 

3)    E quem é verdadeiro cristão? 

Verdadeiro cristão é aquele que é batizado, crê e professa a doutrina cristã e obedece aos legítimos Pastores da Igreja. 

4)    Que é a Doutrina Cristã?

A Doutrina Cristã é a doutrina que Jesus Cristo Nosso Senhor nos ensinou, para nos mostrar o caminho da salvação. 

5)    É necessário aprender a doutrina ensinada por Jesus Cristo?

Certamente, é necessário aprender a doutrina ensinada por Jesus Cristo, e cometem falta grave aqueles que se descuidam de o fazer. 

 6) Os pais e patrões estão obrigados a mandar ao catecismo os seus filhos e dependentes?

Os pais e patrões são obrigados a procurar que seus filhos e dependentes aprendam a Doutrina Cristã; e são culpados diante de Deus, se desprezarem esta obrigação.

7)    De quem devemos nós receber e aprender a Dou trina Cristã?

Devemos receber e aprender a Doutrina Cristã da Santa Igreja Católica.

8)    Como é que temos a certeza de que a Doutrina Cristã, que recebemos da Santa Igreja Católica, é verdadeira? 

Temos a certeza de que a Doutrina Cristã, que recebemos da Igreja Católica, é verdadeira, porque Jesus Cristo, autor divino desta doutrina, a confiou por meio aos seus Apóstolos à Igreja Católica, por Ele fundada e constituída Mestra infalível de todos os homens, prometendo-Lhe a sua divina assistência até à consumação dos séculos. 

9)    Há mais provas da verdade da Doutrina Cristã?

A verdade da Doutrina Cristã é demonstrada ainda pela santidade eminente de tantos que a professaram e professam, pela heróica fortaleza dos mártires, pela sua rápida e admirável propagação no mundo, e pela sua plena conservação através de tantos séculos de muitas e contínuas lutas. 

10) Quantas e quais são as partes principais e mais necessárias da Doutrina Cristã?

As partes principais e mais necessárias da Doutrina Cristã são quatro: o Credo, o Pai Nosso, os Mandamentos e os Sacramentos. 

11) Que nos ensina o Credo?

O Credo ensina-nos os principais artigos da nossa santa Fé. 

12) Que nos ensina o Pai-Nosso? 

O Pai Nosso ensina-nos tudo o que devemos esperar de Deus, e tudo o que Lhe devemos pedir. 

13) Que nos ensinam os Mandamentos?

Os Mandamentos ensinam-nos tudo o que devemos fazer para agradar a Deus;  em resumo, amar a Deus sobre todas as coisas, e amar ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus. 

14) Que nos ensina a doutrina dos Sacramentos?

A doutrina dos Sacramentos faz-nos conhecer a natureza e o bom uso desses meios que Jesus Cristo instituiu Para nos perdoar os pecados, comunicar-nos a sua graça, e infundir e aumentar em nós as virtudes da fé, da esperança e da caridade.

CARTA ENCÍCLICA ACERBO NIMIS

Sobre o Ensino do Catecismo.

Aos Veneráveis Irmãos Patriarcas, Primazes, Arcebispos, Bispos  e Mais Ordinários em Paz e Comunhão com a Santa Sé Apostólica:  Sobre o Ensino do Catecismo.

Veneráveis Irmãos:

Saúde e Bênção Apostólica.

1 – Pelos inescrutáveis desígnios de Deus fomos elevados de nossa pequenez ao cargo de Supremo Pastor do Rebanho de Cristo, em dias bem críticos e amargos, pois o antigo inimigo anda em redor deste Rebanho e lhe arma laços em tão pérfida astúcia, que hoje, principalmente, parece haver-se cumprido aquela profecia do Apóstolo aos anciãos da Igreja de Éfeso: “Sei que… vos hão de assaltar lobos vorazes, que não pouparão o Rebanho” (At 20,29). Dos males que afligem a Religião não há quem, animado de zelo pela Glória divina, deixe de investigar as causas e razões, acontecendo que, como as encontra cada qual diversas, proponha diferentes meios, de acordo com a sua opinião pessoal, para defender e restaurar o Reino de Deus na Terra. Não proscrevemos, Veneráveis Irmãos, os pareceres alheios, mas estamos com os que pensam que esta depressão e debilidade das almas, de que derivam os maiores males, provêm, principalmente, da ignorância das Coisas Divinas. Esta opinião concorda inteiramente com o que o Deus mesmo declarou pelo Profeta Oséias: “Não há conhecimento de Deus na Terra. A maldição e a mentira, e o homicídio e o roubo e o adultério tudo inundaram; o sangue junta-se ao sangue e por causa disto a Terra se cobrirá de luto e todos os seus moradores desfalecerão” (Os 4,1-3).

Necessidade da Instrução

2 – Quão fundadas são, desgraçadamente, estas lamentações, hoje, que existe tão crescido número de pessoas, entre o Povo Cristão, que ignoram totalmente as coisas que é mister conhecer para conseguir a Salvação Eterna! Ao dizer – Povo Cristão – não nos referimos somente à plebe, ou às classes inferiores – às quais servem de escusa o acharem-se com freqüência submetidas a homens tão duros que lhes não deixam tempo nem para cuidar de si mesmas, nem das coisas que se referem à sua alma – mas e principalmente falamos daqueles aos quais não falta entendimento nem cultura e até se mostram dotados de profana erudição, apesar de que em coisas de Religião vivem da maneira mais temerária e imprudente que imaginar se possa. Continuar lendo

CATECISMO DE SÃO PIO X

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Prezados Amigos e leitores, a partir de amanhã, com a Carta Encíclica Acerbo Nimis, começaremos a publicação do Catecismo Maior de São Pio X.

O Catecismo de São Pio X é um excelente resumo do Catecismo Romano, muito adequado à formação dos jovens e adultos.  Tem uma linguagem clara e concisa em forma de perguntas e respostas que ajudam a reter a essência da doutrina católica de todos os tempos.

Esse catecismo ganhará uma página exclusiva aqui no blog (vejam no menu da parte superior – que pode variar de acordo com a configuração da tela) com os links das lições e atualização diária.

menu

Esperamos que seja de muito bom proveito…

MAGISTÉRIO CONTRA “MAGISTÉRIO”: PIO XII RESPONDE À “NOVA MORALIDADE” DA LAETITIA AMORIS DO PAPA FRANCISCO

pieXIIFonte: La Porte Latine

Discurso do Papa Pio XII ao Congresso Internacional da Federação Mundial da Juventude Feminina Católica 

O tema do Congresso

Sejam bem-vindas filhas amadas da Federação Mundial da Juventude Feminina Católica. Eu vos saúdo com o mesmo carinho que recebi, há cinco anos em Castel Gandolfo, por ocasião do grande encontro internacional das Mulheres Católicas.

Os estímulos e os sábios conselhos que foram proporcionados a vocês neste Congresso, assim como as palavras que então dirigimos não foram certamente infrutíferos. Sabemos os esforços que neste intervalo vocês têm desenvolvido para atingir os objetivos precisos dos quais vocês tinham uma visão clara. Isso também prova o relatório impresso durante a preparação deste Congresso que fizemos lá: “La Foi des Jeunes – Problème de notre temps”. Suas 32 páginas têm o peso de um grosso volume, e Nós temos analisado com muito cuidado, porque resume e sintetiza os ensinamentos de numerosas questões sobre a situação da fé na juventude católica da Europa, cujas conclusões são altamente instrutivas.

Em muitas das questões levantadas lá, Nós mesmos tratamos em nossa alocução de 11 de setembro de 1947 (1), que vocês assistiram, e em muitos outros discursos antes e depois. Hoje, Nós queremos aproveitar a oportunidade proporcionada por este encontro com vocês para dizer o que pensamos sobre um fenômeno que ocorre em todos os lugares, na vida de fé dos católicos e que afeta um pouco a todos, mas de uma forma particular afeta os jovens e seus educadores, como quando vocês dizem (p. 10): “Confundindo o cristianismo com um código de preceitos e proibições, os jovens têm a impressão de afogar-se nesse clima de “moral imperativa” e não é uma pequena minoria que deixa de lado esse “fardo constrangedor.”

Uma nova concepção da lei moral

Podemos chamar esse fenômeno de “uma nova concepção da vida moral”, uma vez que é uma tendência que se manifesta no campo da moralidade. No entanto os princípios da moralidade se baseiam nas verdades da fé e vocês sabem bem que é importância capital para a conservação e o crescimento da fé que a consciência da jovem se forme o mais cedo possível e se desenvolva segundo as normas morais justas e saudáveis. Assim, a concepção de “nova moralidade cristã” toca muito diretamente o problema da fé dos jovens. Continuar lendo

OS LIMBOS, VÍTIMAS DA NOVA TEOLOGIA DA SALVAÇÃO UNIVERSAL

Rev. Pe. Patrick de La Rocque, FSSPX

Sumário

I – LEMBRANÇAS DA DOUTRINA CATÓLICA

– Ensinamento da Igreja sobre o pecado original

– O ensinamento da Igreja sobre a necessidade do Batismo

– Situação das crianças mortas sem Batismo

II – DOCUMENTO DA COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL

– Pressuposto fundamental: falsa concepção da Redenção universal.

– O pecado original esquecido

– O Magistério e a Tradição relativizados

– A Bíblia reinterpretada

– Hierarquia das verdades e mudança de perspectiva

– Um antigo “lugar-comum”: «perscrutar os sinais dos tempos»

– Proposições pelo menos inventivas

CONCLUSÃO

O Sr. Padre Patrick de La Rocque proferiu, recentemente, uma conferência sobre o documento da Comissão Teológica Internacional, «Esperança de Salvação para as Crianças Mortas sem Batismo». Eis a tradução e a transcrição.

Há uma dúzia de dias, os jornais traziam títulos: A Igreja Católica encerra os Limbos. Assim anunciavam um documento emanado da Comissão Teológica Internacional (CTI), precisamente sobre a questão dos limbos.

Comentando este documento em France Info, o Cardeal Poupard explicava: «O amor de misericórdia de Deus Salvador estende-se a todos, mesmo às crianças mortas sem batismo». Por seu lado, a agência romana de imprensaZenit, mantida pelos Legionários de Cristo, comentava: «Um documento de 41 páginas intitulado Esperança de Salvação para as Crianças Mortas sem Batismo, preparado pela Comissão Teológica Internacional e aprovado por Bento XVI, confirma que as crianças que morrem sem batismo estão destinadas ao Paraíso». Continuar lendo

LEMBRETE DE GREGÓRIO XVI A FRANCISCO

Em relação ao vídeo escandaloso promovido pelo Papa.

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“Outra causa que tem acarretado muitos dos males que afligem a Igreja é o indiferentismo, ou seja, aquela perversa teoria espalhada por toda parte, graças aos enganos dos ímpios, e que ensina poder-se conseguir a vida eterna em qualquer religião, contanto que se amolde à norma do reto e honesto. Podeis, com facilidade, patentear à vossa grei esse erro tão execrável, dizendo o Apóstolo que há um só Deus, uma só fé e um só batismo (Ef 4, 5): entendam, portanto, os que pensam poder-se ir de todas as partes ao porto da Salvação que, segundo a sentença do Salvador, eles estão contra Cristo, já que não estão com Cristo (Lc 11,23), e os que não colhem com Cristo dispersam miseramente, pelo que perecerão infalivelmente os que não tiverem a fé católica e não a guardarem íntegra e sem mancha (Simbol. Sancti Athanasii).”

Trecho da Encíclica Mirari Vos, n. 9,de Gregório XVI

CARTA ENCÍCLICA MORTALIUM ANIMOS (SOBRE A PROMOÇÃO DA VERDADEIRA UNIDADE DE RELIGIÃO)

DO SUMO PONTÍFICE
PAPA PIO XI
AOS REVMOS. SENHORES PADRES PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS, BISPOS
E OUTROS ORDINÁRIOS DOS LUGARES
EM PAZ E UNIÃO COM A SÉ APOSTÓLICA

Veneráveis irmãos
Saúde e Bênção Apostólica 

1. Ânsia Universal de Paz e Fraternidade

Talvez jamais em uma outra época os espíritos dos mortais foram tomados por um tão grande desejo daquela fraterna amizade, pela qual em razão da unidade e identidade de natureza – somos estreitados e unidos entre nós, amizade esta que deve ser robustecida e orientada para o bem comum da sociedade humana, quanto vemos ter acontecido nestes nossos tempos.

Pois, embora as nações ainda não usufruam plenamente dos benefícios da paz, antes, pelo contrário, em alguns lugares, antigas e novas discórdias vão explodindo em sedições e em conflitos civis; como não é possível, entretanto, que as muitas controvérsias sobre a tranquilidade e a prosperidade dos povos sejam resolvidas sem que exista a concórdia quanto à ação e às obras dos que governam as Cidades e administram os seus negócios; compreende-se facilmente (tanto mais que já ninguém discorda da unidade do gênero humano) porque, estimulados por esta irmandade universal, também muitos desejam que os vários povos cada dia se unam mais estreitamente.

2. A Fraternidade na Religião. Congressos Ecumênicos

Entretanto, alguns lutam por realizar coisa não dissemelhante quanto à ordenação da Lei Nova trazida por Cristo, Nosso Senhor.

Pois, tendo como certo que rarissimamente se encontram homens privados de todo sentimento religioso, por isto, parece, passaram a Ter a esperança de que, sem dificuldade, ocorrerá que os povos, embora cada um sustente sentença diferente sobre as coisas divinas, concordarão fraternalmente na profissão de algumas doutrinas como que em um fundamento comum da vida espiritual. Continuar lendo

OS NOVÍSSIMOS

novA Morte: o primeiro novíssimo

O Livro do Eclesiástico contém um conselho fundamental para nossa salvação: “Em todas as tuas obras, lembra-te dos teus novíssimos, e jamais pecarás (Ecl. 7, 40). Assim se recordamos sempre da morte, do juízo, do céu e do inferno jamais pecaremos. Se o mundo anda tão mal, é porque pouco se medita ou mesmo não se cogita seriamente sobre os Novíssimos. Os Santos, no entanto, não só os tinham sempre presentes, mas também pregavam sobre eles aos outros. Um deles foi o grande Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja e grande moralista.

Aos 22 anos, formado em Direito Civil e Canônico e um dos mais promissores advogados de Nápoles, tudo abandonou, após um lapso involuntário na defesa de uma causa judicial, para entregar-se às pregações populares.Fundou a Congregação do Santíssimo Redentor e escreveu inúmeras obras. É de sua famosa Preparação para a Morte que extraímos trechos que versam sobre os Novíssimos, começando hoje com a morte.

* * *

“Considerai que sois pó, e que em pó vos haveis de tornar. Virá um dia em que morrereis e sereis lançado à podridão num fosso, onde o vosso único vestido serão os vermes. Tal é a sorte reservada a todos os homens, aos nobres e aos plebeus, aos príncipes e aos vassalos. Logo que a alma saia do corpo com o último suspiro, dirigir-se-á à eternidade e o corpo deverá reduzir-se a pó.

“Imaginai que estais vendo uma pessoa que acaba de exalar o último suspiro; considerai esse cadáver deitado ainda no leito, com a cabeça pendida sobre o peito, os cabelos em desalinho banhados ainda nos suores da morte, os olhos encovados, as faces descarnadas, o rosto acizentado, a língua e os lábios cor de ferro… o corpo frio e pesado. Empalidece e treme quem quer que o vê. Quantas pessoas, à vista de um parente ou de um amigo morto, não mudaram de vida e não deixaram o mundo! Continuar lendo

BULA “INEFFABILIS DEUS” – DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO

Murillo_immaculate_conceptionPosição e privilégios de Maria nos desígnios de Deus

Deus inefável, “cuja conduta toda é bondade e fidelidade”, cuja vontade é onipotente, e cuja sabedoria “se estende com poder de um extremo ao outro (do mundo), e tudo governa com bondade”, tendo previsto desde toda a eternidade a triste ruína de todo o gênero humano que derivaria do pecado de Adão, com desígnio oculto aos séculos, decretou realizar a obra primitiva da sua bondade com um mistério ainda mais profundo, mediante a Encarnação do Verbo. Porque, induzido ao pecado — contra o propósito da divina misericórdia — pela astúcia e pela malícia do demônio, o homem não devia mais perecer; antes, a queda da natureza do primeiro Adão devia ser reparada com melhor fortuna no segundo.

Assim Deus, desde o princípio e antes dos séculos, escolheu e pré-ordenou para seu Filho uma Mãe, na qual Ele se encarnaria, e da qual, depois, na feliz plenitude dos tempos, nasceria; e, de preferência a qualquer outra criatura, fê-la alvo de tanto amor, a ponto de se comprazer nela com singularíssima benevolência. Por isto cumulou-a admiravelmente, mais do que todos os Anjos e a todos os Santos, da abundância de todos os dons celestes, tirados do tesouro da sua Divindade. Assim, sempre absolutamente livre de toda mancha de pecado, toda bela e perfeita, ela possui uma tal plenitude de inocência e de santidade, que, depois da de Deus, não se pode conceber outra maior, e cuja profundeza, afora de Deus, nenhuma mente pode chegar a compreender.

E, certamente, era de todo conveniente que esta Mãe tão venerável brilhasse sempre adornada dos fulgores da santidade mais perfeita, e, imune inteiramente da mancha do pecado original, alcançasse o mais belo triunfo sobre a antiga serpente; porquanto a ela Deus Pai dispusera dar seu Filho Unigênito — gerado do seu seio, igual a si mesmo e amado como a si mesmo — de modo tal que Ele fosse, por natureza, Filho único e comum de Deus Pai e da Virgem; porquanto o próprio Filho estabelecera torná-la sua Mãe de modo substancial; porquanto o Espírito Santo quisera e fizera de modo que dela fosse concebido e nascesse Aquele de quem Ele mesmo procede. Continuar lendo

RESTAURAÇÃO DO MATRIMÔNIO CRISTÃO – PARTE 3

mat3Salário Familiar

Em primeiro lugar deverá, com todo o esforço, realizar-se o que foi já sapientemente decretado pelo Nosso predecessor Leão XIII (Enc. Rerum Novarum, 15 de maio de 1891), isto é, que na sociedade civil as condições econômicas e sociais estejam ordenadas de tal forma, que qualquer pai de família possa merecer e ganhar o necessário ao sustento próprio, da mulher e dos filhos, e conforme às diversas condições sociais e locais, “pois que ao operário é devida a sua recompensa” (Lc 10, 7) e negar-lha ou não lha dar na justa medida é grave injustiça, que pela Sagrada Escritura se enumera entre os maiores pecados (cf. Deut 24, 14-15), assim como não é lícito ajustar salários a tal ponto diminutos que sejam insuficientes, segundo as circunstâncias, para alimentar a família.

Será bom, todavia, que os próprios cônjuges, muito antes de contraírem matrimônio, removam os obstáculos materiais, ou procurem, pelo menos, diminuí-los, deixando-se instruir por pessoas entendidas acerca do modo de o conseguir eficaz e honestamente. E, se por si o não puderem alcançar, proveja-se com a união dos esforços das pessoas de idênticas condições e mediante associações privadas e públicas às formas de ocorrer às necessidades da vida (Cf. Leão XIII, Enc. Rerum Novarum, 15 de maio de 1891).

O dever dos ricos

Quando, porém, os meios até aqui indicados não cheguem para fazer face às despesas, especialmente se a família é numerosa ou pobre, o amor cristão do próximo exige absolutamente que a caridade cristã supra aquilo que falta aos indigentes, que os ricos auxiliem os mais pobres, e que os que têm bens supérfluos, em vez de os empregarem em vãs despesas, ou, para melhor dizer, em vez de os dissiparem, os empreguem na sustentação da vida e da saúde daqueles a quem falta o necessário. Os que dos próprios bens derem a Cristo nos seus pobres receberão abundantíssima recompensa do Senhor quando vier a julgar o mundo. Os que assim não procederem serão castigados (Mt 24, 34, segs.), visto que não é em vão que o Apóstolo adverte: “Como poderá amar a Deus aquele que tendo bens deste mundo, e vendo o seu irmão em necessidade, ficar insensível perante ele?” (1 Jo 3, 17). Continuar lendo

RESTAURAÇÃO DO MATRIMÔNIO CRISTÃO – PARTE 2

mat1A exagerada educação fisiológica

Mas esta sã instrução e educação religiosa acerca do matrimônio cristão estará bem longe daquela exagerada educação fisiológica com que em nossos dias certos reformadores da vida conjugal dizem vir em auxílio dos esposos, gastando com essas coisas fisiológicas muitas palavras, com as quais, no entanto, se aprende mais a arte de pecar habilmente do que a virtude de viver castamente.

Pelo que, com todo o coração, tornamos Nossas, Veneráveis Irmãos, as palavras que o Nosso Predecessor, de feliz memória, Leão XIII dirigiu aos Bispos de todo o mundo na Encíclica acerca do matrimônio cristão: “Na medida em que possais fazer sentir os vossos esforços e a vossa autoridade, empenhai-vos por que nos povos entregues aos vossos cuidados se mantenha íntegra e incorrupta a doutrina que Cristo Senhor e os Apóstolos, intérpretes da vontade do Céu, ensinaram, e que a Igreja Católica conservou religiosamente e ordenou que fosse guardada pelos cristãos de todos os tempos” (Enc. Arcanum, 10 de fevereiro de 1880).

Vontade Decidida

Mas ainda a melhor educação ministrada por meio da Igreja não basta, por si só, para conseguir novamente a conformidade do matrimônio com a lei de Deus; é necessário que ao esclarecimento da inteligência nos esposos ande anexa a vontade firme de observar as santas leis de Deus e da natureza acerca do matrimônio. Por mais teorias que outros queiram defender e espalhar mediante discursos ou por escrito, devem os cônjuges propor-se com firmeza e constância de vontade e sem hesitação alguma a cumprir os mandamentos de Deus no que respeita ao matrimônio, isto é, prestar-se mutuamente o auxílio da caridade, mantendo a fidelidade da castidade, não tentando jamais contra a estabilidade do vínculo, usando sempre dos direitos matrimoniais de harmonia com o senso e a piedade cristã, particularmente no primeiro período da união, de forma que, se em seguida as circunstâncias devidas ao hábito impuserem a continência, a ambos se torne mais fácil observá-la. Continuar lendo

RESTAURAÇÃO DO MATRIMÔNIO CRISTÃO – PARTE 1

mat2Até agora, Veneráveis Irmãos, temos admirado com veneração as disposições estabelecidas pelo sapientíssimo Criador e Redentor do gênero humano acerca do matrimônio, magoados simultaneamente por ver os santos objetivos da divina Bondade tantas vezes tornados vãos e vilipendiados pelas paixões, erros e vícios dos homens. É, pois, natural, que empreguemos a solicitude paterna do Nosso espírito em buscar remediar oportunamente e extirpar completamente os perniciosos abusos já mencionados, e em restituir por toda a parte ao matrimônio a devido respeito.

Para isto servirá principalmente recordar aquela máxima certíssima, que é geralmente admitida pela sã filosofia e pela sagrada teologia: para reconduzir ao antigo estado, de harmonia com sua natureza, as coisas que se desviaram da reta ordem, não existe outro caminho senão conformá-las com a razão divina, que, como ensina o Doutor Angélico (Summ. Theolog. 1ae. 2ae. q. 91, a 1-2), é o exemplar da perfeita retidão. Foi por isto que o Nosso Predecessor, de feliz memória, Leão XIII com razão atacava os naturalistas com estas gravíssimas palavras: “É lei divinamente sancionada que as coisas instituídas pela natureza e por Deus se nos apresentem tanto mais úteis e salutares quanto mais inteira e imutavelmente permaneçam em seu estado natural, uma vez que o Deus Criador de todas elas bem soube o que é necessário à sua instituição e manutenção e a todos ordenou, por vontade e inteligência sua, de modo que cada uma possa convenientemente alcançar seu fim. Mas, se a temeridade e a maldade dos homens quiser mudar e transformar a ordem das coisas providentissimamente estabelecida, então as próprias coisas instituídas com suma sapiência e igual utilidade ou começam a prejudicar, ou deixam de beneficiar, quer porque, com a mudança, tenham perdido a virtude de fazer bem, quer porque o próprio Deus resolvesse assim castigar o orgulho e audácia dos mortais” (Enc. Arcanum, 10 fevereiro de 1880).

O desígnio divino

É pois necessário, para pôr em sua devida ordem a matéria matrimonial, que todos considerem o desígnio divino acerca do matrimônio e procurem conformar-se com ele. Continuar lendo

NOTIFICAÇÃO CONCERNENTE ÀS MULHERES QUE VESTEM ROUPAS DE HOMEM [1]

calca_saiaAo Reverendo Clero,

A todas as Religiosas professoras 

Aos queridos filhos da Ação Católica, 

Aos educadores que desejam seguir verdadeiramente a Doutrina Cristã [2]

O primeiro sinal da nossa primavera tardia indica certo aumento, este ano, do uso das vestes masculinas por mulheres, jovens e até mesmo por mães de família. Até 1959, em Genova, este tipo de veste significava que a pessoa era uma turista, mas agora parece que há um número significativo de garotas e mulheres da mesma Genova que escolhem, ao menos em viagens de lazer, vestir calças de homem.

A evolução deste comportamento nos obriga a refletir seriamente, e nós pedimos a quem esta notificação vai dirigida dar toda a atenção que este problema merece, como é próprio das pessoas que estão conscientes de ser responsáveis frente a Deus.

Nós pretendemos acima de tudo fazer um juízo moral equilibrado sobre o uso de roupas masculinas pelas mulheres. De fato nossa reflexão só pode estar fundamentada sobre a questão moral. [3]

Em primeiro lugar, quando a questão é cobrir o corpo feminino, não se pode dizer que o uso de roupas masculinas pelas mulheres seja uma grave ofensa contra a modéstia, pois as calças certamente cobrem mais do corpo da mulher que as saias das mulheres modernas.

No entanto, as vestes para serem modestas não necessitam apenas cobrir o corpo, e tampouco devem estar coladas ao corpo. [4] É verdade que muitas roupas femininas colam mais do que muitas calças, mas as calças podem ser feitas para apertarem mais, e de fato geralmente apertam. Por isso, este tipo de roupa, colada ao corpo, nos dão a mesma preocupação quanto às roupas que expõem o corpo. Então a imodéstia das calças masculinas no corpo feminino é um aspecto do problema que não pode ser deixado sem uma observação geral sobre elas, ainda que não deva ser superficialmente exagerado também. Continuar lendo

MATRIMÔNIO MISTO

mistoMuito faltam neste ponto, por vezes pondo em perigo a própria salvação eterna; os que temerariamente contraem matrimônio misto, de que a providência e o amor materno da Igreja afasta os fiéis por gravíssimas razões, conforme se deduz claramente dos muitos documentos compreendidos naquele cânon do Código onde se lê: “A Igreja proíbe em toda a parte, com grande severidade, que se realize o matrimônio entre duas pessoas batizadas, uma das quais seja católica e a outra pertencente a seita herética ou cismática, e, se houver perigo de perversão do cônjuge católico e da prole, é proibido também pela própria lei divina” (Cod. Jur. Can, c. 1060). E, se a Igreja, por vezes, devido a circunstâncias dos tempos, das coisas e das pessoas, é levada a conceder a dispensa destas severas disposições (salvo o direito divino e removido, quanto possível, com oportunas garantias, o perigo de perversão), só muito dificilmente o cônjuge católico não recebe nenhum dano de tal matrimônio.

De fato, dele deriva, não raro, uma triste defecção da religião nos descendentes, ou, pelo menos, a queda fácil naquela negligência religiosa que se chama indiferença, vizinha da incredulidade e da impiedade. Acresce ainda que, nos matrimônios mistos, se torna muito mais difícil aquela viva união dos espíritos, que deve imitar o mistério há pouco relembrado da inefável união da Igreja com Cristo.

Facilmente, em verdade, virá a faltar a estreita união dos espíritos que, assim como é sinal e característica da Igreja de Cristo, assim deve ser distintivo, decoro e ornamento do casamento cristão. Costuma efetivamente dissolver-se ou, pelo menos, afrouxar-se o vínculo dos corações onde haja diversidade de pensamento e de afeto acerca das coisas mais altas e supremas que o homem venera, isto é, acerca das verdades e dos sentimentos religiosos. Depois surge o perigo de se enfraquecer o amor entre os cônjuges e de se arruinar a paz e a felicidade da sociedade doméstica, que floresce principalmente na unidade dos corações. E por isso há já muitos séculos o antigo direito romano tinha definido: “O matrimônio é a união do homem e da mulher e consórcio de toda a vida, a comunicação do direito divino e humano (Modestinus, in Dig. livr. XXIII, II: De Ritu nuptiarum, livr. I Regularum). Continuar lendo

A GRAVE FALTA CONTRA A MODÉSTIA CRISTÃ

ap2Desde este ponto de vista não podemos deixar de condenar a cegueira de quantas mulheres de todas as idades e condições; feitas tontas pelo desejo de agradar, elas não veem a que nível a indecência de suas vestes chocam a todo homem honesto, e ofendem a Deus. A maioria delas teriam, em outras épocas, se envergonhado com esses estilos por grave falta contra a modéstia Cristã; e já não é suficiente que elas se exibam na via pública; elas não tem medo de cruzar as portas da Igreja, a assistir o Santo Sacrifício da Missa, e até de levar a comida sedutora das suas paixões vergonhosas até o Altar da Eucaristia onde recebemos o Autor celeste da pureza. E nós não estamos falando das exóticas e bárbaras danças recentemente importadas dos círculos fashion, cada uma mais chocante que a outra; não podemos imaginar nada mais apropriado para banir o que resta da modéstia”.

Trecho da Encíclica Sacra Propediem – Bento XV

CARTA ENCÍCLICA QUAS PRIMAS, SOBRE CRISTO REI

Cristo_ReiAos Veneráveis Irmãos Patriarcas, Primazes, Arcebispos, Bispos e outros Ordinários em paz e comunhão com a Sé Apostólica: sobre Cristo Rei,

PAPA PIO XI

Veneráveis Irmãos, saúde e bênção apostólica.

INTRODUÇÃO

Na primeira Encíclica dirigida, em princípios do nosso Pontificado, aos Bispos do mundo inteiro, indagamos a causa íntima das calamidades que, ante os nossos olhos, avassalam o gênero humano. Ora, lembra-nos haver abertamente declarado duas coisas: uma — que esta aluvião de males sobre o universo provém de terem a maior parte dos homens afastado, assim da vida particular como da vida pública, Jesus Cristo e sua lei sacrossanta; a outra — que inútil era esperar paz duradoura entre os povos, enquanto os indivíduos e as nações recusassem reconhecer e proclamar a Soberania de Nosso Salvador. E por isso, depois de afirmarmos que se deve procurar a paz de Cristo no Reino de Cristo, manifestamos que era intenção nossa trabalhar para este fim, na medida de nossas forças. No Reino de Cristo, dizíamos; porque, para restabelecer e confirmar a paz, outro meio mais eficiente não encontrávamos do que reconhecer a Soberania de Nosso Senhor. Com o correr do tempo, claramente pressentimos o raiar de dias melhores, quando vimos o zelo dos povos em acudir — uns pela primeira vez, outros com renovado ardor — a Cristo e à sua Igreja, única dispensadora da salvação; sinal manifesto de que muitos homens, até o presente, como que desterrados do Reino do Redentor, por desprezarem sua autoridade, preparam, ainda bem, e levam a efeito sua volta à obediência.

Preparação providencial da nova festa. O Ano Santo

Quanto ao que depois sobreveio, quanto aconteceu no decorrer do Ano Santo — digno, na verdade, de eterna memória — porventura não concorreu eficazmente para a honra e glória do Fundador da Igreja, de sua soberania, de sua suprema realeza?pio Continuar lendo

SOBRE A AREIA…

areiaMas vão ainda mais além os modernos destruidores do matrimônio, ao substituir o sincero e sólido amor, fundamento do íntimo prazer e da fidelidade conjugal, por uma cega conveniência de caracteres e harmonia de gestos, a que chamam simpatia, cessada a qual sustentam que se afrouxa o vínculo único por que se unem as almas e que se dissolve plenamente. Que será isto senão edificar uma casa sobre a areia? Diz Cristo Nosso Senhor que, apenas ela seja assaltada pelas vagas da adversidade, logo vacilará e ruirá: “E sopraram os ventos, e investiram contra essa casa, e ela caiu, e foi grande a sua ruína” (Mt 7, 27). Ao contrário, uma casa que tenha sido construída sobre a rocha, isto é, sobre o mútuo amor entre os cônjuges e firmada numa consciente e constante união das almas, jamais será sacudida ou abatida por nenhuma adversidade.

Contra o Sacramento

Até aqui temos reivindicado, Veneráveis Irmãos, os dois primeiros e excelentes benefícios do matrimônio cristão, que têm sido atacados pelos subversores da sociedade moderna. Mas, assim como este terceiro benefício que é o Sacramento está muito acima dos outros, assim também não é de admirar que principalmente esta excelência seja por esses mesmos adversários muito mais vigorosamente atacada. Ensinam em primeiro lugar que o matrimônio é coisa exclusivamente profana e meramente civil, que de forma alguma deve confiar-se à sociedade religiosa, isto é, à Igreja de Cristo, mas unicamente à sociedade civil; e acrescentam, ademais, que o laço nupcial deve ser liberto de qualquer vínculo de indissolubilidade, não só tolerando-se mas sancionando-se legalmente as separações ou divórcios dos cônjuges, donde se seguirá finalmente que o matrimônio, despojado de toda a santidade, fique no número das coisas profanas e civis. Continuar lendo

PIO XII E OS PROBLEMAS MODERNOS: A MULHER MODERNA

mulher-mod2O caráter da vida da mulher e a iniciação da cultura feminina eram inspirados, conforme a mais antiga tradição, pelo seu instinto natural que lhe atribuía como reino próprio de atividade a família, a não ser no caso de, por amor de Cristo, preferir a virgindade. Retirada da vida pública e à margem das profissões públicas, a jovem, como flor que cresce guardada e reservada, estava destinada por sua vocação a ser esposa e mãe. Junto da mãe aprendia os labores femininos, os cuidados e negócios da casa e tomava parte na vigilância dos irmãos e irmãs menores, desenvolvendo assim as forças, o engenho, e instruindo-se na arte e no governo do lar. […] Hoje, pelo contrário, a antiga figura feminina está em rápida transformação. Podeis ver que a mulher, e, sobretudo a jovem, sai de seu retiro e entra em quase todas as profissões, até aqui exclusivo campo de ação e vida do homem. [1]

Digamos imediatamente que para Nós o problema feminino, tanto em seu complexo, como em cada um de seus múltiplos aspectos particulares, consiste todo na conservação e no incremento da dignidade que a mulher recebeu de Deus. […] Em que consiste, portanto esta dignidade que a mulher tem de Deus?

Em sua dignidade de filhos de Deus, o homem e a mulher são absolutamente iguais, como também a respeito do fim último da vida humana, que é a eterna união com Deus na felicidade do céu. É glória imortal da Igreja ter colocado em luz e em honra esta verdade e haver livrado a mulher de uma degradante servidão contrária à natureza. Mas o homem e a mulher não podem manter e aperfeiçoar esta sua igual dignidade, senão respeitando e colocando em ato as qualidades particulares, que a natureza lhes concedeu a um e a outra, qualidades físicas e espirituais indestrutíveis, das quais não é possível mudar a ordem sem que a própria natureza sempre novamente a restabeleça. […] Ainda mais. Os dois sexos, por sua própria qualidade particular, são ordenados um para o outro de tal modo que esta mútua coordenação exercita seu influxo em todas as múltiplas manifestações da vida humana social. Continuar lendo

ALOCUÇÃO DE PIO XII SOBRE A MODA

mulher-catolicaDe todo o coração vos damos as boas-vindas paternais, caros filhos e filhas, promotores e associados de “União Latina de Alta Moda”, que desejastes vir à Nossa presença para Nos testemunhar a vossa filial devoção, e ao mesmo tempo, implorar os favores celestiais sobre a vossa União, colocando-a, desde o seu nascimento, sob a proteção d’Aquele para cuja glória deve encaminhar-se toda a atividade humana, mesmo as profanas em aparência, segundo o preceito do Apóstolo dos Gentios:“Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus”(I Cor 10, 31). Proponde-vos enfrentar com vistas a desígnios cristãos um problema tão delicado quanto complexo, cujos imprescindíveis reflexos morais foram, em todo tempo, objeto de atenção e de ansiedade para aqueles que, por ofício, na família, na sociedade e na Igreja, esforçam-se para preservar as almas das insídias da corrupção e a comunidade inteira da decadência dos costumes, isto é, o problema da moda, especialmente feminina.

É justo que, aos vossos generosos propósitos, correspondam a gratidão Nossa e da Igreja e os ardentes votos de que a vossa União, nascida e inspirada por uma são consciência religiosa e civil, atinja, mediante a esclarecida autodisciplina dos próprios artífices da moda, o duplo escopo declarado nos vossos estatutos: moralizar este importante setor da vida pública e contribuir para elevar a moda a instrumento e expressão de uma bem entendida civilização.

Ansiosos por encorajar tão louvável empreendimento, consentimos de bom gosto no pedido a Nós feito de vos expor algumas das ideias, especialmente sobre a reta formulação do problema e sobre os seus aspectos morais, fazendo-vos, outrossim, algumas sugestões práticas, aptas a assegurar à União uma bem aceita autoridade num campo frequentemente tão discutido. Continuar lendo

CONTRA A FIDELIDADE DOS CÔNJUGES

casam

E agora, para tratarmos de outra fonte de erros que dizem respeito à fé conjugal, qualquer pecado que se comete em prejuízo da prole é conseqüentemente também, de alguma forma, pecado contra a fé conjugal, visto que os benefícios do matrimônio são conexos entre si. Mas, além disso, devem enumerar-se separadamente tantas fontes de erro e corrupção contra a fé conjugal quantas são as virtudes domésticas que esta fé compreende: a casta fidelidade de um e de outro cônjuge, a honesta sujeição da mulher ao marido, e finalmente o firme a sincero amor entre os dois.

Liberdades perversas

Primeiro que tudo, corrompem a fidelidade os que entendem dever-se ter indulgência com as idéias e os costumes do nosso tempo acerca da falsa e prejudicial amizade com terceiras pessoas e sustentam dever-se consentir aos cônjuges maior liberdade de pensar ou de atuar no que respeita a essas relações, tanto mais que (como dizem) não poucos têm uma constituição sexual congênita tal, que a não podem satisfazer dentro dos estreitos limites do matrimônio monogâmico. Donde entendem que aquela rígida disposição de espírito por que os cônjuges honestos condenam e recusam qualquer afeto e ato impuro com terceira pessoa é uma antiga mesquinhez da inteligência e do coração ou um abjeto e vil ciúme, e por isso têm na conta de nulas ou, pelo menos, acham que devem ser anuladas as leis penais do Estado acerca da obrigação da fidelidade conjugal. Continuar lendo

PRÉ LANÇAMENTO: ENCÍCLICA PASCENDI DOMINI GREGIS

Encíclica Pascendi Dominici Gregis - Sobre as Doutrinas ModernistasUm dos mais importantes documentos do Papa São Pio X, a célebre Encíclica Pascendi Dominici Gregis foi promulgada em 8 de setembro de 1907.

São Pio X, nesta Encíclica, condena o movimento modernista, denominando-o como a “síntese de todas as heresias”, numa época em que esse movimento começava a se infiltrar nos meios católicos, com o objetivo de relativizar, e até mesmo deturpar o ensinamento do magistério tradicional e infalível da Igreja, procurando levar os católicos incautos a aceitarem os erros do mundo moderno.

Para facilitar o estudo da Pascendi, e consequentemente para um melhor entendimento sobre o modernismo, apresentamos, como introdução, um artigo do ilustre Padre Leonel Franca, publicado em 1926, com comentários e explicações importantes sobre a Encíclica.

Embora tenha se passado mais de um século da condenação do modernismo por São Pio X, consideramos de extrema importância a atualidade deste assunto, tendo em vista que a heresia modernista renasceu e se multiplicou nos meios católicos nas últimas décadas, configurando-se como um dos fundamentos da atual crise na Igreja.

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JURAMENTO ANTI-MODERNISTA

PIOA ser proferido por todos os membros do clero, pastores, confessores, pregadores, superiores religiosos e professores em seminários de filosofia e teologia.

Eu, N.N., abraço e aceito firmemente todas e cada uma das coisas que foram definidas, afirmadas e declaradas pelo magistério inerrante da Igreja:

Principalmente aqueles pontos de doutrina que diretamente se opõem aos erros do tempo presente.

1 – E em primeiro lugar: professo que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser certamente conhecido e, portanto, demonstrado, como a causa por seus efeitos, pela luz natural da razão, mediante as coisas que foram feitas (Rom 1,20), isto é, pelas obras visíveis da criação;

2 – Em segundo lugar: admito e reconheço como sinais certíssimos da origem divina da religião cristã os argumentos externos à Revelação, isto é, os feitos divinos, e em primeiro lugar os milagres e profecias, e sustento que são sobremaneira acomodados à inteligência de todas as idades e dos homens, mesmo os deste tempo;

3 – Em terceiros lugar: creio igualmente com fé firme que a Igreja, guardiã e mestra da palavra revelada, foi próxima e diretamente instituída pelo próprio Cristo, verdadeiro e histórico, enquanto vivia entre nós, e que foi edificada sobre Pedro, príncipe da hierarquia apostólica, e sobre seus sucessores para sempre;

4 – Em quarto lugar: aceito sinceramente a doutrina da fé transmitida até nós desde os Apóstolos por meio dos Padres ortodoxos, sempre no mesmo sentido e na mesma sentença; e, portanto, rechaço de ponta a ponta a invenção herética da evolução dos dogmas, que passariam de um sentido a outro diverso do qual primeiramente a Igreja sustentou. Igualmente condeno todo erro, pelo qual, ao depósito divino entregue à Esposa de Cristo para que por ela seja fielmente guardado, substitui-se uma invenção filosófica ou uma criação da consciência humana, lentamente formada pelo esforço dos homens e que, posteriormente, deve se aperfeiçoar por um progresso indefinido. Continuar lendo

INVESTIDAS CONTRA A UNIÃO CONJUGAL – PARTE 2

VictorianPostcardInsídias contra a fecundidade

Mas, para tratarmos agora, Veneráveis Irmãos, de cada um dos pontos que se opõem aos diversos bens do matrimônio, falemos primeiro da prole, que muitos ousam chamar molesto encargo do casamento e afirmam dever ser evitada cuidadosamente pelos cônjuges, não pela honesta continência (permitida até no matrimônio, pelo consentimento de ambos os cônjuges), mas viciando o ato natural. Alguns reclamam para si esta liberdade criminosa, porque, aborrecendo os cuidados da prole, desejam somente satisfazer a sua voluptuosidade, sem nenhum encargo; outros porque, dizem, não podem observar a continência nem permitir a prole, por causa das dificuldades quer pessoais, quer da mãe, quer da economia doméstica.

Mas nenhuma razão, sem dúvida, embora gravíssima, pode tornar conforme com à natureza e honesto aquilo que intrinsecamente é contra a natureza. Sendo o ato conjugal, por sua própria natureza, destinado à geração da prole, aqueles que, exercendo-a, deliberadamente o destituem da sua força e da sua eficácia natural procedem contra a natureza e praticam um ato torpe e intrinsecamente desonesto.

Não admira pois que, segundo atesta a Sagrada Escritura, a Majestade divina odeie sumamente este nefando crime e algumas vezes o tenha castigado com a morte, como recorda Santo Agostinho: “Ainda com a mulher legítima, o ato matrimonial é ilícito e desonesto quando se evita a concepção da prole. Assim fazia Onã, filho de Judá, e por isso Deus o matou” (Sto. Agost., De conjug., livro, II n. 12; cf. Gn 38, 8-10.). Continuar lendo

INVESTIDAS CONTRA A UNIÃO CONJUGAL – PARTE 1

MATRConsiderando, Veneráveis Irmãos, tamanha excelência das castas núpcias, mais doloroso Nos parece ver como esta divina instituição, especialmente nos nossos tempos, é tantas vezes e com tanta facilidade desprezada e vilipendiada.

É um fato, em verdade, que não já em segredo, nas trevas, mas abertamente, posto de parte todo o sentido do pudor, quer oralmente, quer por escrito, pelas representações teatrais de todos os gêneros, pelos romances, pelas novelas e leituras amenas, pelas projeções cinematográficas, pelos discursos radiofônicos, enfim, por todas as descobertas mais recentes da ciência, se calca aos pés e se ridiculariza a santidade do matrimônio; ao passo que ou se louvam os divórcios, os adultérios e os vícios mais ignominiosos, ou pelo menos se pintam com tais cores, que parecem querer mostrá-los como isentos de qualquer mácula e infâmia. E não faltam livros que para tal se apresentam como científicos, mas que na realidade o mais das vezes não têm de ciências senão umas tinturas, com o fim de se poderem mais facilmente insinuar nos espíritos. E as doutrinas neles defendidas preconizam-se como maravilhas do espírito moderno, isto é, daquele espírito que se vangloria de amar só a verdade, de se ter emancipado de todos os velhos preconceitos, no número dos quais inclui e relega a tradicional doutrina cristã do matrimônio.

E até se fazem penetrar tais máximas entre todas as condições de pessoas, ricos e pobres, operários e patrões, letrados e ignorantes, solteiros e casados, crentes e descrentes, adultos e jovens; e particularmente a estes últimos, como à presa mais fácil, se lançam os laços mais perigosos. Continuar lendo

O TERCEIRO BEM DO MATRIMÔNIO CRISTÃO: O SACRAMENTO

matriEsse post é continuação do: SEGUNDO BEM DO MATRIMÔNIO CRISTÃO: A FIDELIDADE CONJUGAL

Entretanto, o conjunto de tantos benefícios completa-se e coroa-se por este bem do matrimônio cristão a que chamamos, com a palavra de Santo Agostinho, “sacramento”, o qual significa a indissolubilidade do vínculo e também a elevação e consagração que Jesus Cristo fez do contrato como sinal eficaz da graça.

A Indissolubilidade

E, antes de mais nada, no que respeita à indissolubilidade do contrato nupcial, o próprio Cristo nele insiste, dizendo: “Não separe o homem aquilo que Deus uniu” (Mt 19, 6); e: “Todo aquele que abandona a sua mulher e toma outra comete adultério; e todo aquele que toma a mulher abandonada pelo marido comete adultério” (Lc 16, 18).

Nesta indissolubilidade coloca Santo Agostinho, em termos claros, aquilo a que ele chama o bem do sacramento, com estas claras palavras: “Por sacramento, pois, se entende que o matrimônio seja indissolúvel e que o repudiado ou a repudiada não se una a outrem, nem sequer por causa dos filhos”. (S. Agost., De Gen. ad litt., liv. IX, c. 7, n. 12). Continuar lendo

SEGUNDO BEM DO MATRIMÔNIO CRISTÃO: A FIDELIDADE CONJUGAL

fidelidade-conjugalEsse post é continuação do: O PRIMEIRO BEM DO MATRIMÔNIO CRISTÃO: OS FILHOS

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O segundo bem do matrimônio, mencionado por Santo Agostinho, como dissemos, é o bem da Fé, que é a mútua fidelidade dos cônjuges no cumprimento do contrato matrimonial, de sorte que tudo o que compete, por este contrato, sancionado pela lei divina, só ao cônjuge, não lhe seja negado nem permitido a terceira pessoa; e que nem ao próprio cônjuge seja concedido aquilo que não se pode conceder, por contrário às leis e direitos divinos e inconciliável com a fidelidade conjugal.

Unidade absoluta

Esta fidelidade, portanto, exige em primeiro lugar a unidade absoluta do casamento que o próprio Criador esboçou no matrimônio dos nossos primeiros pais, não querendo que ele fosse senão entre um só homem e uma só mulher. E, embora depois Deus, supremo Legislador, alargasse por algum tempo esta primeira lei, é indubitável que a Lei Evangélica restabeleceu plenamente a antiga e perfeita unidade, ab-rogando qualquer dispensa, o que claramente mostram as palavras de Jesus Cristo e a doutrina e a prática constante da Igreja. Com bom direito declarou, pois, solenemente o Sagrado Concílio de Trento: “Cristo Nosso Senhor ensinou mais claramente que por este vínculo se unem só duas pessoas, quando disse: Não são, pois, já duas, mas uma só carne” (Conc. Trident., sess. XXIV). Continuar lendo

O PRIMEIRO BEM DO MATRIMÔNIO CRISTÃO: OS FILHOS

familia-oleo-sobre-telaNo momento em que nos preparamos para expor quais e quão grandes sejam estes bens divinamente concedidos ao verdadeiro matrimônio, acodem-Nos à mente, Veneráveis Irmãos, as palavras daquele preclaríssimo doutor da Igreja, que recentemente comemoramos com a Encíclica Ad salutem, no XV centenário de sua morte [Enc. Ad salutem, 20 de abril de 1930]: “São todos estes os bens”, diz Santo Agostinho, “por causa dos quais as núpcias são boas: a prole, a fidelidade, o sacramento” (Santo Agost. De bono conj. c. XXIV, n. 32).

Que com bom direito se pode afirmar conterem estes três pontos um esplêndido compêndio de toda a doutrina acerca do matrimônio cristão, declara-o eloqüentemente o mesmo santo, ao dizer: “Na fidelidade, tem-se em vista que, fora do vínculo conjugal, não haja união com outro ou com outra: na prole, que esta se acolha amorosamente, se sustente com solicitude, se eduque religiosamente; com o sacramento, enfim, que não se rompa a vida comum, e que aquele ou aquela que se separa não se junte a outrem nem mesmo por causa dos filhos. É esta como que a regra das núpcias, na qual se enobrece a fecundidade da incontinência”. (S. Agost. De Gen. ad lit., livro IX., cap. VII; n. 12).

Entre os benefícios do matrimônio ocupa, portanto, o primeiro lugar a prole. Em verdade, o próprio Criador do gênero humano, o qual, em sua bondade, quis servir-se do ministério dos homens para a propagação da vida, nos deu este ensino quando, no paraíso terrestre, instituindo o matrimônio, disse aos nossos primeiros pais e, neles, a todos os futuros esposos: “crescei a multiplicai-vos e enchei a terra”. (Gen 1, 28). Esta mesma verdade a deduz brilhantemente Santo Agostinho das palavras do Apóstolo S. Paulo a Timóteo (1 Tim 5, 14), dizendo: “que a procriação dos filhos seja a razão do matrimônio o Apóstolo o testemunha nestes termos: eu quero que as jovens se casem. E, como se lhe dissessem: mas por quê?, logo acrescenta: para procriarem filhos, para serem mães de família”. (S. Agost. De bono conj. cap. XXIV, n. 32). Continuar lendo

OS SUPREMOS PRINCÍPIOS DO MATRIMÔNIO CATÓLICO

matriQuão grande seja a dignidade da casta união conjugal, podemos principalmente reconhecê-lo, Veneráveis Irmãos, pelo fato de Cristo, Nosso Senhor, Filho do Pai Eterno, tendo tornado a carne do homem decaído, não só ter incluído, de forma particular, o matrimônio — princípio e fundamento da sociedade doméstica e até de toda a sociedade humana — naquele desígnio de amor por que realizou a universal restauração do gênero humano; mas, depois de o ter reintegrado na pureza primitiva de sua divina instituição, tê-lo elevado à dignidade de verdadeiro e “grande” (Ef 5, 32) sacramento da Nova Lei, confiando, por isso, toda a sua disciplina e cuidado à Igreja, Sua Esposa.

Para que, todavia, esta renovação do matrimônio produza, em todos os povos do mundo inteiro e de todos os tempos, os seus desejados frutos, é preciso, primeiro, que as inteligências humanas se esclareçam acerca da verdadeira doutrina de Cristo a respeito do matrimônio; e convém ainda que os esposos cristãos, fortificada a fraqueza da sua vontade pela graça interior de Deus, façam concordar todo o seu modo de pensar e de proceder com essa puríssima lei de Cristo, pela qual assegurarão a si próprios e à sua família a verdadeira felicidade a paz.

Mas, ao contrário, quando desta Sé Apostólica, como de um observatório, olhamos à nossa volta, verificamos na maior parte dos homens, com o esquecimento desta obra divina de restauração, a ignorância total da altíssima santidade do matrimônio cristão. Vós o verificais, tão bem como Nós, Veneráveis Irmãos, e o deplorais conosco. Desconhecem essa santidade, ou a negam impudentemente ou, ainda, apoiando-se nos princípios falsos de uma moralidade nova e absolutamente perversa, a calcam aos pés. Esses erros perniciosíssimos e esses costumes depravados começaram a espalhar-se até entre os fiéis e pouco a pouco, de dia para dia, tendem a insinuar-se no meio deles; por isso, em razão da Nossa missão de Vigário de Cristo na terra, de Supremo Pastor e Mestre, julgamos que Nos compete levantar a Nossa voz Apostólica para afastarmos dos pascigos envenenados as ovelhas que Nos foram confiadas, e, tanto quanto em Nós caiba, conservá-las imunes.

Divisão da Encíclica

Resolvemos, pois, falar-vos, Veneráveis Irmãos, e, por meio de vós, a toda a Igreja de Cristo e até a todo o gênero humano, a respeito da natureza do matrimônio cristão, da sua dignidade, das vantagens a benefícios que dele dimanam para a família e para a própria sociedade humana; dos gravíssimos erros contrários a esta parte da doutrina evangélica, dos vícios contrários à vida conjugal, e, enfim, dos principais remédios que é mister empregar, seguindo os passos do Nosso predecessor de feliz memória, Leão XIII, cuja Carta EncíclicaArcanum(Enc. Arcanum divinae sapientiae), acerca do matrimônio cristão, publicada há 50 anos, fazemos Nossa e confirmamos pela presente Encíclica; e declaramos que, se expomos mais largamente alguns pontos de acordo com as condições e necessidades da nossa época, aquela Encíclica não só não se tornou obsoleta mas conserva seu pleno vigor.

E, para tomarmos como ponto de partida aquela mesma Encíclica, que é quase toda consagrada a provar a divina instituição do matrimônio, a sua dignidade de sacramento e a sua inquebrantável perpetuidade, lembremos em primeiro lugar o fundamento que permanece intacto e inviolável: o matrimônio não foi instituído nem restaurado pelos homens, mas por Deus; não foi pelos homens, mas pelo restaurador da própria natureza, Cristo Nosso Senhor, que o matrimônio foi resguardado por lei, confirmado e elevado; por isso essas leis não podem depender em nada das vontades humanas nem sujeitar-se a nenhuma convenção contrária dos próprios esposos. É esta a doutrina da Sagrada Escritura (Gn 1, 27-28; 2, 22-23; Mt 19, 3 e seg.; Ef 5, 23 e seg.); é esta a constante e universal tradição da Igreja, esta a definição solene do Sagrado Concílio de Trento, que, tomando as próprias palavras da Sagrada Escritura, proclama e confirma que a perpetuidade e a indissolubilidade do matrimônio, bem como a sua unidade e imutabilidade, provêm de Deus, seu autor (Conc. Trid. sess. 24).

Mas, embora o matrimônio por sua própria natureza seja de instituição divina, também a vontade humana tem nele a sua parte, e parte notabilíssima; pois que, enquanto é a união conjugal de determinado homem e de determinada mulher, não nasce senão do livre consentimento de cada um dos esposos: este ato livre da vontade por que cada uma das partes entrega e recebe o direito próprio do matrimônio (Cf. Cod. Iur. Can. c. 1081, § 2) é tão necessário para constituir um verdadeiro matrimônio, que nenhum poder humano o pode suprir (Cf. Cod. Iur. Can. c. 1081, § 1). Esta liberdade, todavia, diz respeito a um ponto somente, que é o de saber se os contraentes efetivamente querem ou não contrair matrimônio e se o querem com tal pessoa; mas a natureza do matrimônio está absolutamente subtraída à liberdade do homem, de modo que, desde que alguém o tenha contraído, se encontra sujeito às suas leis divinas e às suas propriedades essenciais. O Doutor Angélico, dissertando acerca da fidelidade conjugal e da prole, diz: “No matrimônio estas coisas derivam do próprio contrato conjugal, de tal modo que, se no consentimento que produz o matrimônio se formulasse uma condição que lhe fosse contrária, não haveria verdadeiro matrimônio” (Sum. Theol. part. III, Suplem., q. XLIX, art. 3.º). Continuar lendo