COMETO O PECADO DE FOFOCA SE FALO À MINHA ESPOSA DE PESSOAS QUE FIZERAM ALGO ERRADO A MIM?

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Pe. Juan Carlos Iscara, FSSPX

A doutrina moral católica nos ensina que uma das coisas mais importantes que uma pessoa tem é sua reputação, pois ela é a base a partir da qual nós nos relacionamos entre nós em nossas interações sociais.

Santo Tomás enumera (IIa-IIae, qq. 72-76) todas as maneiras pelas quais podemos danificar o próximo com nossas palavras, ou seja, como nós podemos, injustamente, macular a reputação ou a honra de uma pessoa, que não está presente normalmente, seja contando mentiras sobre ela ou compartilhando verdades sobre ela de forma inapropriada. O murmúrio consiste em falar pelas costas de uma pessoa, danificando sua imagem. A calúnia consiste em contar mentiras que atingem a reputação de uma pessoa. Detração refere-se a revelar certas verdades sobre alguém que, apesar de verdadeiras, não devem ser compartilhadas e que, na verdade, diminuem ou atingem a imagem daquela pessoa ante os outros. Derrisão refere-se a fazer graça de uma pessoa de tal maneira que diminua sua honra e compostura aos olhos dos outros. Maldição é o desejo falado de que uma pessoa sofra um mal.

Todos esses pecados da fala são reunidos, na nossa linguagem comum, sob o nome de “fofoca”.

A gravidade desses pecados é variável, de acordo com o grau de dano causado pelas nossas palavras, com as circunstâncias em que essas palavras são ditas (onde, quando, na presença de quem, que tipo de linguagem etc) e, mais importante, de acordo com a intenção da pessoa que fala.

Certamente, sempre é proibido contar mentiras, e muito mais se essas mentiras causam dano à reputação de uma pessoa. Também é proibido revelar verdades desnecessariamente sobre alguém, verdades que essa pessoa preferiria que não soubessem. Obviamente, pode haver ocasiões quando é necessário compartilhar certas verdades sobre os outros, como para evitar um dano a um terceiro – mas essa revelação deve ser feita com discrição, ou seja, apenas para aqueles que precisam saber, e deve-se contar apenas o que é certamente verdadeiro e, apenas, a verdade que precisa ser revelada, não tudo o mais sobre aquela pessoa.

Não obstante, há momentos em que precisamos falar sobre defeitos ou idiossincrasias de pessoas que não estão presente – por exemplo, quando buscamos conselhos para lidar com alguma pessoa ou com as consequências do que algo que essa pessoa fez conosco, ou quando precisamos de encorajamento em uma situação difícil na qual alguém nos colocou, ou quando nós simplesmente precisamos colocar algo “para fora do nosso peito” antes que esse sentimento nos leve a ressentimentos ou outros atos não caridosos.

Nesses casos, e mantendo o máximo de discrição possível, nós podemos falar a alguém que julgamos confiável e capaz de fornecer ajuda através de um conselho razoável ou apoio solidário.

Se sou casado, não deveria haver ninguém mais próximo de mim que minha esposa, ninguém mais confiável e solidário em meus momentos de necessidade.

Nessas circunstâncias, minhas palavras sobre alguém – mesmo que sejam danosas à sua reputação – não são fofocas, desde que eu transmita o que é certamente verdade, que não busque atingir a reputação do outro, que não encontre nenhuma alegria em expor suas faltas e não tenha nenhuma intenção de que o que contei se espalhe para mais alguém. Mas, ainda assim, devemos ter muito cuidado com esse tipo de conversa, pois podemos cair em pecado muito facilmente.

HISTÓRIA DA POLIFONIA SACRA

Pe. Gustavo Camargo, FSSPX

Introdução

As seguintes anotações são, em sua maioria, resumos de diferentes livros de música que, por interesse pessoal, fui fazendo ao longo dos anos. Têm valor de resumo somente. São poucas as apreciações pessoais. É que me parece interessante primeiro conhecer o aspecto histórico do desenvolvimento da música, especialmente da música sacra, através dos séculos, para só depois estudar mais a fundo a sua essência mesma, a sua linguagem. 

Para a parte histórica, os resumos foram feitos sobretudo com base em História da Música, de Franco Abbiati (Edições Uteha, em cinco tomos). São poucas as citações entre aspas desta obra. Em geral, resumi a ideia com minhas próprias palavras. Mas a substância vem toda dela [N. do T.: da obra].

São Pio X, em seu Motu Proprio Codex musicae sacrae juridicus, diz que: “(…) o canto gregoriano considera-se, de certo modo, como o mais elevado ideal da música sacra, de maneira que, com razão, se pode assentar como geralmente válida a seguinte regra: uma obra musical que seja apropriada para o uso religioso será tanto mais sagrada e litúrgica, quanto mais, por sua posição, espírito e irradiação, aproximar-se do ‘melos’ gregoriano. Pelo contrário, será menos adequada ao serviço divino quanto mais afastar-se desse modelo”. 

Segundo São João da Cruz, a realização artística deve ser simples, pura, evocadora e despojada – para ser pura e simples – para conduzir a alma a Deus sem retê-la no gozo estético1. A arte na liturgia, como acessório que é do culto, deve subordinar-se estritamente a seu fim, a sua função. Será, pois, mais própria para a liturgia, a música que, ao ser escutada nas funções religiosas, não inclinar o ouvinte a deter-se nela, a estancar-se no gozo estético que produz; senão a levar sua alma, através desse gozo, ao recolhimento, à oração e a dispor-se para melhor receber as graças de Deus.

Tendo isso em conta, vejamos agora, pois, essa música que nasceu junto do templo sagrado, para dar mais esplendor e beleza às suas cerimônias, ajudando a piedade e a elevação das almas. Neste aspecto, a “economia de meios” é muitas vezes bastante útil para transmitir a “mensagem” inerente a toda arte. Ela faz com que a parte material, não sendo tão grande, permita expressão mais pura do elemento formal, cuja natureza é intelectual. Em outras palavras: os aspectos materiais da música são a melodia, a harmonia e o ritmo; estes elementos, se demasiado abundantes, sufocam a mensagem da música litúrgica – inspirar piedade. Portanto, a economia de meios, i. e., a sobriedade, muitas vezes permite à arte transmitir a sua mensagem mais puramente2. A moderação caracteriza toda a polifonia sagrada, e, mais especialmente, segundo São Pio X, a Palestrina, considerado o principal compositor da idade de ouro da polifonia clássica, como veremos adiante. Continuar lendo

O PATRIOTISMO É UMA VIRTUDE CRISTÃ?

O valor dos patriotas e do patriotismo – Instituto Liberal

Pe. François-Marie Chautard, FSSPX

“Se o catolicismo fosse inimigo da pátria, 

não seria uma religião divina”.

São Pio X (1)

Desagrade ou não a Jean-Jacques Rousseau, o homem é um animal social.

Portanto, não seria coerente tratar da perfeição moral sem examinar as relações que o homem estabelece com Deus e seus semelhantes.

Essas relações envolvem vínculos, trocas, deveres e direitos; daí existir no homem uma virtude que lhe permite cumprir retamente seus distintos deveres para com Deus, a sociedade e o próximo: a virtude da justiça.

É incontestável que os deveres variam em função das diferentes formas de relações: o dever para com o bem comum da sociedade não é o mesmo que o dever para com um simples bem particular. Igualmente, os deveres variam segundo as pessoas: Deus, os pais, ou desconhecidos. Eis por que a justiça ramifica-se em várias espécies e partes.

Ora, uma virtude que se tornou desconhecida a muitos, por causa da ingratidão cristalizada do espírito moderno, é a virtude da piedade para com a nação, a pátria.

Ao examinar a virtude da justiça, pela qual “a vontade se dispõe a dar a cada um o que lhe é de direito”, Santo Tomás examina seus beneficiários, que são variados e de diversas ordens. Por exemplo, o comerciante a quem se deve pagar uma quantia exata cobrada por um objeto comprado. É um caso bastante simples, pois o que é devido – o valor – é algo preciso, exato. Uma vez que o comprador pagou a fatura, quitou seu dever em toda a justiça.

Neste caso, a dívida repara estritamente a justiça, pois quita uma dívida precisa (pagar uma quantia exata). Mas quando se trata de Deus, dos pais ou da nação, poderíamos   alguma vez nos julgarmos quites? Poderíamos aplicar essa justiça? Poderíamos, por exemplo, em toda a justiça prestar o culto devido a Deus? Ou recompensar aos pais um bem equivalente ao da vida que nos deram, sem falar na educação? Continuar lendo

PANDEMIA, IGREJA E ESTADO – A HIERARQUIA DOS BENS

Breve considerações para os tempos de epidemia

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

“É por isso que, do mesmo modo que a ninguém é lícito descurar seus deveres para com Deus, e que o maior de todos os deveres é abraçar de espírito e de coração a religião, não aquela que cada um prefere, mas aquela que Deus prescreveu e que provas certas e indubitáveis estabelecem como a única verdadeira entre todas, assim também as sociedades não podem sem crime comportar-se como se Deus absolutamente não existisse, ou prescindir da religião como estranha e inútil, ou admitir uma indiferentemente, segundo seu beneplácito.” (1) .

1 – Essas fortes palavras do Papa Leão XIII não são a expressão de uma visão retrógrada, pois o Vigário de Cristo designa o próprio princípio da ordem social cristã, ordem necessária para uma expressão da sabedoria divina. O Cardeal Billot deu a justificação teológica para isso na segunda parte de seu Tratado sobre a Igreja (2).

2 – Essa ordem encontra sua profunda raiz na própria natureza do homem e em sua elevação gratuita a uma ordem sobrenatural. Os bens exteriores ao homem (as riquezas) são ordenados ao seu bem-estar corporal e o bem-estar corporal do homem é ordenado ao seu bem-estar espiritual natural, ou seja, ao bem natural de sua alma, e este bem natural da alma está, de alguma forma, ordenado ao fim último sobrenatural, à união sobrenatural do homem com Deus, pela qual a Igreja é responsável. É nessa medida exata em que o bem natural da alma é a condição necessária, embora não suficiente, do bem sobrenatural, uma vez que a graça pressupõe a natureza. Essa hierarquia de bens resulta na hierarquia dos poderes que cabe a eles adquirir (3).

3 – O poder do Estado tem (entre outros) em sua ordem própria, preservar a saúde pública (que é o bem do corpo) e de neutralizar para isso os efeitos nocivos de uma doença contagiosa. O poder da Igreja tem por fim, em sua ordem própria, assegurar o exercício do culto devido a Deus e determinar para isso, por meio de preceito, as condições concretas da santificação do domingo. Por serem distintas, cada um em sua própria ordem, o poder do Estado e o poder da Igreja não devem estar separados (4), porque o bem que cabe ao Estado não é, de fato, um fim último; ele mesmo é ordenado ao fim de ordem sobrenatural. Santo Tomás explica isso muito claramente no De Regimine, livro I, capítulo XV: “É o Papa quem cuida do fim último, a quem deve estar sujeito aqueles que cuidam dos fins intermediários, e é por suas ordens que eles devem ser direcionados”. (N ° 819). O Papa, portanto, exerce um poder “arquitetônico” em relação aos chefes de Estado e essa expressão significa que o Papa é responsável pelo fim último, segundo o qual os chefes de Estado são obrigados a organizar todo o governo da sociedade.

4 – A saúde, que é um dos principais aspectos do bem-estar corporal do homem, nada tem a ver com a santidade, pois é ordenada de alguma maneira ao exercício do culto e à santificação do domingo. Com efeito, mesmo que não seja necessário ter uma boa saúde para ser um santo e mesmo que alguém possa ser um santo sem ter uma boa saúde, normalmente, para poder ir à missa no domingo, um dos pré-requisitos é ter uma boa saúde. O papel do Estado é, portanto, preservar a saúde pública (e neutralizar uma epidemia) para assim oferecer a melhor condição para o exercício do culto, pelo qual a Igreja é responsável, e tornar ordinariamente possível a santidade. O Papa Leão XIII diz, com efeito, que “em uma sociedade de homens, a liberdade digna do nome consiste em que, com o auxilio das leis civis, possamos viver mais facilmente segundo as prescrições da lei eterna” (5). O Estado está, portanto, nessa questão, como em qualquer outra, na dependência da Igreja e subordinado a ela na medida exata em que seu papel é colocar o bem temporal, pelo qual é responsável, a serviço do bem eterno, cujo o Igreja é responsável. “O temporal“, diz Billot, “deve garantir que não haja impedimento à realização do espiritual e deve estabelecer indultos sob as quais pode ser obtido em completa liberdade“. E ele acrescenta que o fim temporal “não deve colocar nenhum obstáculo ao fim espiritual, e, se ele vir a se opor, deve favorecer o espiritual, mesmo à custa de seu próprio detrimento”(6). Palavras surpreendentes aos olhos da razão, mas palavras verdadeiras aos olhos da razão iluminada pela fé. Porque “é melhor entrar com um olho na vida eterna do que ser lançado com dois olhos no fogo do inferno”(7) . Continuar lendo

FORA DA REALIDADE

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Gustavo Corção

— Mamãe, você está fora da realidade!… exclamou com admiração e carinho a boa filha que ainda entretém sentimentos afetuosos por sua mãe, mas não esconde o pasmo que lhe causa seu espantoso alheamento às “realidades”.

Este grito de toda uma geração contra tudo o que encontrou já feito, já preparado e já servido nas mamadeiras é essencialmente um grito de ingratidão organizada, a serviço da onda de desordens que se avolumam contra o IV mandamento e, portanto, contra seu Autor. Mas antes, tal gravidade é uma proclamação universal da tolice, da bobice que dá o nome de “realidade” às coisas, aos fatos, aos acontecimentos, aos procedimentos que querem se impor por suas “existências” ao mesmo tempo que se furtam a qualquer juízo de valor em termos de bem e de verdade. Diante desse ídolo — “o que todos fazem” — a quase totalidade dos moços de nosso tempo ficam possuídos de um critério infalível que lhes dá uma coisa de um brutal determinismo físico que eles confundem com liberdade, por lhes parecer que estão sempre fazendo o que querem, quando, na verdade, nunca estão propriamente fazendo nada, mas fazendo o que todos fazem. Pobres vitimas de uma perversa tradição, julgam-se herdeiros opulentos, quando não passam de portadores de taras acumuladas por uma corrente histórica que, em nome de uma categoria denominada “liberdade” e desde a denominação ambígua, passa a relativar e a contestar a verdade e o bem.

O liberalismo produziu este fruto que passa de verde a podre, sem amadurecer. O melhor exemplo deste século está no amontoado de assombros disparates produzidos principalmente pelos povos de língua inglesa que, sempre em nome dos mais filantrópicos princípios, e dos mais desumanos erros, fizeram de nosso triste século este estuário de desordens de incalculáveis conseqüências. Vimos em poucos anos desmoronar-se o maior império de nossa historia. E por quê? Que fizeram os ingleses para em tão pouco tempo perderem o Império? Combateram heroicamente, quando uma conjuração de traições alheias e próprias os deixaram isolados diante da máquina de guerra alemã que se tornara superpoderosa, não apenas pelo enérgico trabalho dos alemães, mas pela enérgica obstinação do mundo liberal no consentimento e na promoção da anarquia. Depois desse combate heróico, venceram os alemães e russos, mas nessa hora de vencer, ingleses e norte-americanos fizeram prevalecer a obstinação da desordem, da anarquia liberal sobre as virtudes patrióticas e militares. Como resultado dessa atitude, viu-se este assombro: o inimigo, já vencido, é admitido como vencedor. E a Rússia constrói o seu imenso império ainda mais depressa do que a Inglaterra perdeu o seu. E hoje vemos o desmoronamento dos Estados Unidos acelerar o processo de desmoronamento universal da civilização. Continuar lendo

PODEMOS REZAR PARA QUE A DOENÇA DOLOROSA DE OUTRA PESSOA SEJA TRANSFERIDA PARA NÓS?

O sofrimento dos inocentes é um eterno problema para a filosofia e ...Pe. Juan Carlos Iscara, FSSPX

O amor da Cruz é uma parte integral e essencial da nossa vida Católica, como nosso Divino Salvador mesmo disse, “Se alguém quiser vir após de mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-me” (Lc 9, 23); e, como São Paulo também ensina: “Mas longe de mim o gloriar-me senão da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim, e eu crucificado para o mundo“ (Gl 6, 14). Também é verdade que o sofrimento físico é uma das cruzes mais difíceis de se suportar sem ressentimento e com amor. Teoricamente, também seria um grande ato de caridade pedir que o sofrimento de outra pessoa seja transferido para si mesmo, visando aliviar a outra pessoa.

Porém, há uma diferença enorme entre aceitar os sofrimentos que Deus, em Sua bondade, digna-se enviar-nos, e realmente e positivamente querer que esses sofrimentos venham sobre nós. É a diferença entre o segundo e o terceiro graus de humildade descritos por Santo Inácio nos seus Exercícios Espirituais. O segundo grau de humildade é o da indiferença, isto é, a aceitação do que Deus quiser enviar-nos, seja doença ou saúde, pobreza ou riquezas, etc. “Eu nem desejo, nem estou inclinado a…” O terceiro grau é inteiramente heroico e consiste em efetivamente escolher ou desejar pobreza, sofrimento ou insultos ao invés do contrário “quando o louvor e a glória da Divina Majestade seriam igualmente servidos, para imitar e estar em realidade mais próximo de Cristo, Nosso Senhor…” (ibid.).

Porém, deve-se tomar nota de que esse desejo e essa oração são a vontade de Deus apenas quando são frutos de uma alma que atingiu a perfeição. Isso é o que o Pe. A. Tanquerey tem a dizer em seu tratado intitulado A Vida Espiritual: “O desejo e o amor do sofrimento… são o grau próprio das almas perfeitas e especialmente das almas apostólicas, dos religiosos, Padres e homens e mulheres devotos. Tal é a disposição que animava Nosso Senhor quando ele ofereceu a Si mesmo como vítima na Sua entrada neste mundo… Por amor a Ele e para se tornarem mais como Ele, as almas perfeitas adentram os mesmos sentimentos” (§1091)

Em qualquer outra alma, porém, essa oração ou desejo poderia ser uma forma de autoengano e mesmo uma tentação do demônio para causar desânimo. O Padre Tanquerey prossegue indagando-se se é apropriado a uma alma pedir, formalmente, sofrimentos extraordinários a Deus, como os Santos têm feito e como, em nossos dias, algumas almas generosas ainda fazem. Porém, geralmente falando, esses pedidos não podem ser prudentemente recomendados. Eles podem, facilmente, levar a ilusões e, normalmente, são resultado de algum impulso de generosidade irrefletido que se originou da presunção… Daí advêm violentas tentações de desânimo e mesmo de reclamar da Divina Providência… Consequentemente, não devemos pedir sofrimentos ou provas extraordinários… Se alguém se sentir inclinado a tal, deve buscar conselho com um criterioso diretor de almas e não fazer nada sem sua aprovação” (ibid., §1092).

Aí está a resposta da pergunta: só se deve fazer esse pedido após ter discernido que tal é a vontade de Deus porque se está sendo chamado à perfeição, e se o diretor espiritual estiver de total acordo.

A CONFISSÃO POR TELEFONE OU VÍDEO-CHAMADA É VÁLIDA?

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

Devido às atuais dificuldades causadas pelo coronavírus, muitos de vocês precisam ficar em casa e se encontram impossibilitados de acessar o sacramento da penitência nas igrejas. Portanto, muitos se perguntam se é possível confessar-se em casa usando o telefone ou os diferentes aplicativos que temos à nossa disposição, como WhatsApp, Skype, FaceTime etc., fazendo uma vídeo-chamada com o sacerdote e confessando-nos on-line.

Então, surge a pergunta: posso ou não confessar-me por telefone ou através dos diferentes aplicativos que o mundo moderno me disponibiliza? Esta não é uma pergunta nova, porque o telefone existe há muito tempo e a teologia moral já respondeu a essa pergunta.

A resposta é “Não”. Não posso usar o telefone nem os aplicativos de celular ou computador para confessar-me. Por que razão? O problema é que a confissão por telefone ou através dos diferentes aplicativos que estão ao nosso alcance é, muito provavelmente, inválida. É muito duvidosa, porque não cumpre os requisitos que Nosso Senhor colocou no sacramento da penitência ao instituí-lo. Vamos desenvolver o tema aproveitando o que diz o Padre Royo Marín em sua “Teologia Moral para Leigos”, na qual ele indica os diferentes pontos que tornam a confissão por telefone, muito provavelmente, inválida e, portanto, ilícita. E isso se aplica, é claro, a aplicativos modernos e chamadas de vídeo.

Podemos dizer que são três as principais razões que tornam a confissão por telefone muito duvidosa:

Em primeiro lugar, diz Pe. Royo Marín, falta a presença real do penitente. Na confissão deve haver um contato pessoal imediato entre o sacerdote e o penitente. Entre o sacerdote, que é o juiz na penitência. Vocês devem se lembrar que a confissão é um sacramento instituído como um juízo: o padre é um juiz que julga os pecados em nome de Deus, em nome de Jesus, e o penitente é o acusado que se auto-acusa. Deve haver uma relação cara a cara entre o juiz e o penitente, ou seja, o acusado. É evidente, diz o Pe. Royo Marín, que o telefone, por sua própria natureza, é usado para falar com uma pessoa ausente, não com uma pessoa presente. O mesmo deve ser dito, e com maior razão, do rádio e da televisão. Não importa que se possa falar com o penitente e até vê-lo na televisão porque, como diremos em breve, a palavra humana não é realmente transmitida pelo telefone ou rádio, e pela televisão não se vê o mesmo penitente, mas apenas sua imagem ou fotografia refletida na tela, exatamente como em um espelho. Falta, absolutamente, a presença real, mesmo moral, do penitente. Não há presença real, podemos dizer, entre o penitente e o confessor. É uma presença artificial.  Continuar lendo

CORONAVIRUS: ENTRE O MEDO E A AUDÁCIA

Dom Lourenço Fleichman OSB

Mais uma vez me vejo na obrigação de esclarecer nossa posição católica, diante de crises que se abatem sobre a nossa sociedade. Nosso mundo anda mergulhado no que lhe parece ser um grande sol a iluminá-lo, quando na verdade é apenas uma escravidão consentida e desejada. Sim, os tecnológicos homens desse mundo pós-moderno sabem, percebem sua incapacidade de fugir da compulsão das redes sociais, das massificantes notícias e informações, e sobretudo da sensação que tomou conta de todos, de serem livres como um passarinho a voejar entre galhos de árvores e fios elétricos. 

Poderíamos perguntar a nós mesmos o porquê dessa doença; creio que responderia que o homem busca companhia. Até certo ponto, convenhamos, essa busca é natural, visto a definição mais do que antiga feita pelo Filósofo, segundo a qual o homem é um animal político: vive na companhia dos seus semelhantes. Ora, como o mundo moderno desenhou no pé da mesa do computador (eu sei, eu sei, já não é mais no computador, é deitado na cama ou no sofá com o celular nos dedos, mas não atrapalhem, por favor, a minha história!)… então, retomemos: como o mundo moderno desenhou no pé da cama, ou da mesa, uma bola de ferro virtual, e disse ao ser debruçado na máquina: – veja, caro amigo, esta é uma bola de ferro virtual, nada mais “real” do que o virtual. Portanto, você está preso, velho escravo. Não se mexa, não saia daí.

Como sói acontecer, o homem moderno nem escutou o que o mundo lhe disse, do mesmo modo que não escuta o pai, ou a esposa, a lhe dizer que o jantar está na mesa, ou que o filho caiu do telhado e quebrou a perna. Embasbacado estava diante do altar da nova religião… embasbacado continuou. Essa falta de reação é a prova da aceitação tácita da escravidão. 

Foi ele assim pilhado, surpreendido, acuado pelas alarmantes notícias que chegavam do outro lado do mundo, da China cheia de histórias, de civilizações pagãs, de comunismos modernos. A China do mercado, do chinguilingue, dos automóveis incrivelmente mal fabricados. Diriam as más línguas que o escravo das redes sociais chegou a experimentar certa dose de satisfação por ter sido o primeiro a ler a notícia sobre um estranho vírus coroado que teria ultrapassado as milenares muralhas. Enquanto as notícias, procuradas agora com ânsia em todos os sites, comentadas alegremente com seus parceiros de escravidão, falavam da China ou da Itália, continuava o alegre escravo a comer sua pizza de entrega super rápida, por esses mágicos aplicativos que trazem a gordura do queijo aos beiços famintos do escravo, o qual insiste em se achar a mais livre das criaturas. Nunca o mundo conheceu mais perfeita escravidão. Pobre gente. 

Eis que o improvável aconteceu: o vírus virtual chegou ao Brasil, e o escravo teve medo de ser ele real. Grudado que estava nas ondas virtuais, colou-se ainda mais forte ao que lhe parecia ser a vida. Abraçou seu celular, beijou-o com carinho: “meu Salvador, só vós podeis, nessa hora de angústias, me fazer companhia, me livrar desse bicho mau”!

A desordem instalou-se por toda parte, leis contraditórias, especialistas a explicar o grau de letalidade do vírus coroado, e outros especialistas a explicar que o importante é o mercado não parar. Médicos a pedir que todos fiquem reclusos em suas casas, e médicos a dizer que podem passear, trabalhar, só tendo cuidado com os velhinhos e meia dúzia de outras castas de doentes no grupo de risco. Políticos impondo regras rígidas de controle, e outros políticos querendo que a economia não pare, pois seria ainda pior a situação, se os médicos não tiverem com o que trabalhar, e o trabalhador não tiver com o que comer.

Valha-me Deus, que os homens escravos já eram doentes sem o pânico, agora já não se tolera mais ouvi-los, tamanha a balbúrdia que provocam, a agitação que causam nas almas, o medo que se instala no coração de todos. Continuar lendo

“AVE, Ó CRUZ, NOSSA ÚNICA ESPERANÇA”

Ave Crux Spes Unica ! | Penso, logo escrevo!“[…] Queridos fiéis confinados, que hoje não podem ter a graça de estar aqui para assistir o Santo Sacrifício da Missa e comungar, eu gostaria de lhes dizer umas palavras: primeiro, que há algo mais contagioso e letal que o coronavírus, que já se disseminou por toda a Igreja, desde o Concílio Vaticano II, e a ameaça perigosamente: o modernismo e suas terríveis sequelas: o indiferentismo religioso, o naturalismo, o desânimo, a falta de fé, etc; segundo, que não ponham as suas esperanças nesta ou naquela autoridade liberal, neste ou naquele cientista, neste ou naquele homem: lembrem-se do que dizia o profeta Jeremias: “Maldito o homem que confia no homem”. Devemos por toda a nossa esperança na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo! Donde virá a solução para esta crise e a cura desta pandemia? Somente das causas segundas, somente da habilidade dos homens? Não, não, queridos fiéis, o remédio para tudo isto está, primeiramente, em fazermos uma verdadeira penitência por nossos pecados, unindo os nossos sofrimentos, as mortificações que nos envia a Providência (como esta epidemia e o confinamento) à Cruz de Nosso Senhor, quem transformará tudo isto no antídoto ideal e eficaz para ambas crises.

Em terceiro lugar, a Paixão de Nosso Senhor foi o meio mais conveniente para a nossa redenção, porque Cristo, com a sua Paixão, não só libertou o homem do pecado, senão que ainda lhe mereceu a graça santificante e a vida eterna. Graça esta que nos faz filhos adotivos de Deus e herdeiros do Paraíso.

Em quarto lugar, porque obriga o homem a conservar-se em graça, segundo São Paulo: “Vós fostes comprados por um grande preço [isto é, pelo Sangue de Cristo]; glorificai, pois, e trazei a Deus no vosso corpo”16. Isto nos deve fazer refletir quão pouco damos valor à graça. Quantas vezes, contritos devemos admitir, trocamos este tesouro preciosíssimo pelo que há de mais vil na face da terra! Não meditamos um só instante no preço que ela custou a Nosso Senhor: a morte e morte de cruz. Que temos feito com a graça de Deus, que temos feito com a nossa vocação, que temos feito com os dons que Deus nos deu? Esta é a pergunta que nos devemos fazer cada dia, e sobretudo nesta Quaresma.

Por fim, em quinto lugar, para maior dignidade do homem, de modo que assim como fora vencido e enganado pelo diabo, assim também fosse ele quem vencesse o diabo; e assim como o homem mereceu a morte, assim também, morrendo, vencesse-a, como canta o Prefacio: “É verdadeiramente digno e justo, necessário e salutar que sempre e em toda parte Vos demos graças, Senhor, Pai Santo, Deus Onipotente e eterno, que no madeiro da cruz pusestes a salvação do gênero humano, a fim de que, donde nascera a morte, daí ressurgira a vida, e aquele que no madeiro vencera[isto é, satanás], no madeiro fosse vencido, por Jesus Cristo Nosso Senhor”.

Ave, ó Cruz, nossa única esperança

Trecho do sermão do Pe. Olivieri Toti proferido na Missa do Domingo da Paixão.

Para ler o sermão completo clique aqui ou para ouvi-lo durante a Missa clique aqui.

O DESAFIO DO CONFINAMENTO – PELO PADRE JEAN-FRANÇOIS MOUROUX,FSSPX

http://www.catolicosribeiraopreto.com/wp-content/uploads/2019/11/jean.pngSão Paulo, 24 de março de 2020

Estimados fiéis,

Hoje começamos o confinamento, que se estenderá pelo menos até o dia 7 de abril. Este confinamento é um desafio. Faz lembrar algumas das histórias dos marinheiros. Quando o mar está tranquilo, o navio fica imóvel, sem vento, sem ondas. A falta de ação e de perspectiva irritam toda a tripulação. Só há uma maneira de evitar o caos: a disciplina. Este confinamento é um desafio. Sem vida interior, sem o hábito do estudo e do silêncio, pode ser difícil para muitos.

A primeira coisa que temos de fazer é estabelecer um horário. “O dia começa com a hora de dormir”, diz-nos São Francisco de Sales. Ir tarde para a cama significa se levantar tarde, por isso não podemos cumprir bem o nosso dever de estado. E se nos levantarmos cedo, o resultado pode ser o mesmo por causa da fadiga. É, portanto, fundamental definir os horários para levantar e ir para a cama.

A segunda coisa a prever: tempos de oração. A oração da manhã, da noite e o Terço são os momentos indispensáveis, que dão ritmo ao dia de um cristão. Aproveitemos o fato de estarmos juntos debaixo do mesmo teto para rezar em família.

Uma terceira coisa não deve ser deixada de lado: os horários das refeições. Ninguém deve vir e se servir na geladeira à hora que bem entender. A refeição, precedida e seguida da oração, deve ser tomada em comum. A refeição é um momento de convívio que permite intercâmbios essenciais. É a ocasião de detectar certas tristezas ou preocupações. É uma oportunidade para compartilhar informações e mesmo algo engraçado para relaxar o ambiente. Também continua a ser o momento privilegiado para definir um programa.

Uma quarta coisa a que devemos estar atentos: às nossas atividades. E aqui devemos apontar um grande perigo: a Internet. Claro, há muitas coisas boas na Internet. Podemos assistir à Missa lá todos os dias. Podemos encontrar palestras interessantes, artigos relevantes e até mesmo livros que não se encontram nas livrarias. E um bom filme de vez em quando será um passatempo fácil, especialmente para as crianças… Sim, mas devemos ter cuidado. É preciso lembrar que o uso prolongado de telas cansa e irrita, sem falar da imoralidade e da violência presentes em todas as partes. E, além disso, usada menos de uma hora antes de ir para a cama, impede o sono. Em um ambiente confinado isto pode rapidamente levar a um comportamento problemático.

Uma quinta recomendação se segue naturalmente: ser fisicamente ativo. “Uma mente saudável num corpo saudável”. Para a maioria das pessoas é impossível passear lá fora. Deve-se planejar um tempo de exercícios diário.

Aqui está o programa de vida dos sacerdotes na maioria dos priorados da Fraternidade: 

6h: levantar; 

6h30 min: Ofício de Prima, meditação e Santa Missa.

8h: café da manhã e depois pessoalmente: leitura da Sagrada Escritura, leitura espiritual, estudo.

12h15 min: Ofício de Sexta seguido do almoço.

18h30 min: Terço. Em nosso Priorado de São Paulo, aproveitamos o confinamento para fazer a adoração ao Santíssimo Sacramento. Depois vem o jantar.

21h (em São Paulo): Ofício de Completas.

22h: grande silêncio

Espero que estes poucos conselhos os ajudem. Amanhã celebraremos a Festa da Anunciação. Feliz festa a todos! Peçamos a Nossa Senhora que aceitemos humildemente a vontade de Deus, manifestada através destes acontecimentos.

Que Nossa Senhora Aparecida vos proteja.

Padre Jean-François Mouroux, FSSPX

Prior do Priorado de São Paulo/SP

O DISCERNIMENTO

Resultado de imagem para rezando joelhosAs almas que desejam santificar-se têm às vezes dificuldades para discernir a vontade de Deus. Sabem que Ele a manifesta em primeiro lugar por seus mandamentos e que, nesse aspecto, basta cumprir o que está prescrito. Mas, em várias decisões que devem ser tomadas ao longo da vida, o campo livre é tão vasto que nem sempre é fácil ver claramente o que Deus espera de nós.

Essa dificuldade não é nova. Todas as almas piedosas que quiseram agradar a Deus enfrentaram a mesma situação. Para resolvê-la, vejamos a solução proposta por São Francisco de Sales, que teve a prudência, a sabedoria e o equilíbrio de um guia seguro, além da santidade e de uma longa experiência com as almas que dão às suas respostas um peso considerável.

TRÊS ATOS DA VIRTUDE DA PRUDÊNCIA

Para ver esse assunto mais claramente, convém distinguir nossas decisões entre aquelas que comprometem todo nosso futuro e aquelas que têm menor importância.

Pedir a luz do Espírito Santo

As grandes decisões, como escolher uma profissão, mudar-se de cidade, escolher uma vocação ou fazer um gasto importante, merecem muita atenção. Um erro de apreciação pode ter consequências desastrosas e, infelizmente, todos nós temos tristes exemplos disso ao nosso redor. Talvez nós mesmos já tivemos que pagar o preço, mais cedo ou mais tarde, por haver tomado uma má decisão. Por isso, para evitar novas decepções, escutemos com atenção os conselhos de São Francisco de Sales, que descreveu em poucas palavras no “Tratado do amor de Deus” o processo que devemos seguir: É necessário ser muito humildes, diz, e não pensar em encontrar a vontade de Deus a força de investigações e de sutilezas de discurso.

Mas, depois de pedir a luz do Espírito Santo, de propor-nos agradá-lo, de pedir o conselho de nosso confessor e, em determinado caso, de outras duas ou três pessoas piedosas, devemos com a graça de Deus decidir.

Portanto, devemos em primeiro lugar rezar, para que Deus esteja no centro de nossas deliberações. Depois, devemos reflexionar, para analisar as vantagens e os inconvenientes das diferentes soluções consideradas, lembrando-nos de que Deus nos deu uma inteligência para que a usemos. Por isso, a oração não dispensa a reflexão. Continuar lendo

A ESPADA DE DOR NAS MÃOS DE SÃO JOSÉ

A Fuga para o Egito. Virtudes de São José - Instituto Hesed

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

“Levante-se, pegue o Menino e sua mãe, fuja para o Egito e fique lá até que Eu avise;  porque Herodes vai procurar o menino para o matar ”(Mt 2, 13). Esta mensagem do anjo, no meio da noite, muitos meses após o nascimento do Menino Jesus, foi um grande tormento para São José.

Essa notícia acabou com as alegrias do Natal e tornou-se o começo do cumprimento da profecia de Simeão: “E Simeão os abençoou, e disse a Maria, sua mãe: Eis que este (Menino) está posto para ruína e para ressurreição de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição. E uma espada trespassará a tua alma, a fim de se descobrirem os pensamentos escondidos nos corações de muitos.” (Lc 2, 34-35).

Maria, vítima toda pura, não podia se sacrificar, se imolar sozinha mais do que o próprio Cristo. Era-lhe necessário um sacrificador, alguém que os enviasse, por assim dizer, à morte. O Pai que enviou seu Filho único para ser sacrificado, enviou José para transpassar o Coração de Maria com esta dura notícia. É assim que começa uma longa série de sofrimentos. São José sabia o que estava fazendo quando acordou Maria e seu filho. Ele já podia imaginar a dor agonizante da espada que ele teria que penetrar em seu Coração Imaculado. São José não poderia fazer o contrário, porque Deus o havia ordenado dessa forma, pela voz do anjo. O tempo também estava acabando pois os homens de Herodes iam partir ao amanhecer. Continuar lendo

CARTA DO SUPERIOR GERAL AOS FIÉIS EM TEMPOS DE EPIDEMIA

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Carta do Pe. Davide Pagliarani, Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, dirigida a todos os fiéis confinados em seus lares e que não têm mais acesso à Santa Eucaristia, devido à epidemia do coronavírus.

Caríssimos fiéis,

Neste momento de provação, certamente difícil para todos vós, gostaria de vos dirigir algumas reflexões.

Não sabemos quanto tempo durará a situação atual, nem, sobretudo, como as coisas evoluirão nas próximas semanas. Diante dessa incerteza, a tentação mais natural é buscar desesperadamente garantias e explicações nos comentários e hipóteses dos mais instruídos “especialistas”. Muitas vezes, no entanto, essas hipóteses – atualmente abundante por todos os lados – se contradizem e aumentam a confusão, em vez de trazer um pouco de serenidade. Sem dúvida, a incerteza é parte integrante desta prova. Cabe a nós saber como tirar proveito disso.

Se a Providência permite uma calamidade ou um mal, sempre o faz para obter um bem maior que, direta ou indiretamente, incide sempre  em nossas almas. Sem essa premissa essencial, corremos o risco de nos desesperar, porque uma epidemia, uma outra calamidade ou qualquer provação sempre nos acharão insuficientemente preparados.

Neste ponto, o que Deus quer que entendamos? O que Ele espera de nós nesta Quaresma em particular, quando Ele parece ter decidido quais sacrifícios devemos fazer?

Um simples micróbio é capaz de colocar a humanidade de joelhos. Na era das grandes conquistas tecnológicas e científicas, é, sobretudo, o orgulho humano que ele coloca de joelhos. O homem moderno, tão orgulhoso de suas realizações, que instala cabos de fibra ótica no fundo dos oceanos, constrói porta-aviões, usinas nucleares, arranha-céus e computadores, que depois de pisar a lua continua sua conquista até Marte, este homem é impotente diante de um micróbio invisível. O alvoroço midiático nos últimos dias e o medo que podemos ter disso não devem nos fazer perder esta lição profunda e fácil de entender, para os corações simples e puros que examinam com fé os dias atuais. A Providência ainda hoje ensina por meio de eventos. A humanidade – e cada um de nós – tem a oportunidade histórica de retornar à realidade, à realidade e não ao virtual, composto de sonhos, mitos e ilusões.

Traduzida em termos evangélicos, esta mensagem corresponde às palavras de Jesus que nos pede para permanecermos unidos, o mais próximo possível, a Ele, porque sem Ele nada podemos fazer ou resolver, qualquer problema que seja (cf. Jo 15, 5). Nossos tempos incertos, a expectativa de uma solução, o sentimento de nosso desamparo e de nossa fragilidade devem nos encorajar a buscar Nosso Senhor, implorar-Lhe, pedir Seu perdão, rezar a Ele com mais fervor e, acima de tudo, abandonar-nos a Sua Providência.

A isto se acrescenta a dificuldade, ou mesmo, a impossibilidade de participar livremente da Santa Missa, o que aumenta a dureza dessa provação. Mas resta, em nossas mãos, um meio privilegiado e uma arma mais poderosa que a ansiedade, a incerteza ou o pânico que podem causar a crise do coronavírus: trata-se do Santo Rosário, que nos liga à Santíssima Virgem e ao céu.

Chegou a hora de rezar o rosário em nossas casas de forma mais sistemática e com mais fervor do que o habitual. Não percamos nosso tempo diante das telas e não se deixemos dominar pela febre midiática. Se tivermos que observar o confinamento, aproveitemos a oportunidade para transformar nossa “prisão domiciliar” em uma espécie de feliz retiro familiar, durante o qual a oração encontre seu lugar, seu tempo e a importância que merece. Leiamos os Evangelhos por completo, meditemo-los calmamente, escutemo-los em paz: as palavras do Mestre são as mais eficazes, porque alcançam facilmente a inteligência e o coração.

Agora não é o momento de deixar o mundo adentrar nossos lares, agora que as circunstâncias e as ações das autoridades nos separam do mundo! Tiremos proveito dessa situação. Demos prioridade aos bens espirituais que nenhum germe pode atacar: acumulemos tesouros no céu, onde nem os vermes nem a ferrugem nos destroem. Pois onde está nosso tesouro, alí está também nosso coração (cf. Mt 6, 20-21).

Aproveitemos a oportunidade de mudar nossas vidas, conscientes de como nos abandonar à Providência divina. E não nos esqueçamos de rezar por aqueles que estão sofrendo nesse momento. Devemos recomendar ao Senhor todos aqueles a quem o dia do julgamento se aproxima, e pedir-Lhe que tenha misericórdia de tantos contemporâneos nossos que permanecem incapazes de tirar boas lições dos acontecimentos atuais para suas almas. Rezemos para que, uma vez superada as provações, eles não voltem à sua vida anterior, sem mudar nada. As epidemias sempre serviram para trazer os tíbios à prática religiosa, ao pensamento de Deus, à detestação do pecado. Temos o dever de pedir essa graça a cada um de nossos conterrâneos, sem exceção, incluindo – e acima de tudo – aos pastores que não têm espírito de fé e que não sabem mais discernir a vontade de Deus.

Não desanimemos: Deus nunca nos abandona. Saibamos meditar nas palavras cheias de confiança que nossa Santa Madre Igreja coloca nos lábios do sacerdote em tempos de epidemia: “Ó Deus que não quereis a morte, mas a conversão dos pecadores, volvei com bondade ao vosso povo que se volta para Vós e, enquanto fiel a Vós, livrai-o com misericórdia do flagelo de Vossa cólera ”.

Recomendo a todos ante o Altar e à paternal proteção de São José. Que Deus vos abençoe!

Pe. Davide Pagliarani +

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Leiam também o post do Sermão do Pe. Puga: CORONAVÍRUS: UMA VISÃO SOBRENATURAL

 

NOSSA SENHORA, TESOURO DE SÃO JOSÉ

São José, o maior devoto da Virgem Santíssima

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Quando o rei Salomão subiu ao trono, Deus lhe prometeu, em sonho, que lhe daria o que quisesse. Salomão pediu “um coração dócil, para poder julgar seu povo e discernir entre o bem e o mal; pois quem pode fazer justiça ao seu povo, a esse povo tão numeroso? ”(3 Reis 3, 9).

Diante da humildade dessa resposta, Deus concedeu ao rei riqueza, longevidade e vitória sobre seus inimigos, além da sabedoria que ele desejava. Precisamente porque ele havia mostrado que preferia ser justo do que gozar dos bens que não eram necessários à sua salvação, Deus lhe cobriu de todos os bens.

De fato, certos dons de Deus não são essenciais e Ele, às vezes, não os concede a nós, a menos que estejamos desapegados deles. O patriarca Abraão teve uma dolorosa experiência no momento do sacrifício de “seu filho, seu único filho, o objeto de sua afeição” por ordem de Deus, antes que o anjo o impedisse, pois seu temor a Deus havia sido suficientemente comprovado.

Ser casado com Nossa Senhora não era necessário à salvação de José. E, no entanto, ele certamente não deixou de saber, em sua alma já tão profunda, que o tesouro que havia lhe sido confiado não tinha preço. Esse tesouro, a Providência exigiu primeiramente que o abandonasse. Vendo que Maria esperava um filho e que ele não participaria desse mistério, para observar a lei sem prejudicar sua noiva que ele sabia ser pura, resolveu deixá-la secretamente (Mt 1,19), e foi somente depois de tomar essa decisão que Deus lhe confiara expressamente Maria e o filho. Sua afeição já tão profunda foi assim purificada por um corajoso sacrifício.

Da mesma forma, Nossa Senhora renunciou à alegria e ao orgulho da maternidade dedicando sua virgindade a Deus. E Deus, que não se deixa vencer em generosidade, honrou esse propósito, concedendo milagrosamente que ele fosse mãe, e mãe de Seu Filho!

Maria era o tesouro de José, Jesus o de Maria. Mas tanto Maria como José buscaram primeiro o reino de Deus e sua justiça, e a plenitude deles era superabundante. Que eles se dignem a transformar nossos corações em bens verdadeiros!

SÃO JOSÉ, SEGUNDO SANTA TERESA DE JESUS

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

Santa Teresa de Jesus sempre se encomendou a São José, e por isso falou muito do Santo Padroeiro da Igreja Universal, e foi grande devota dele.

1 – E tomei por advogado e senhor ao glorioso São José e me encomendei muito a ele. Vi com clareza que, tanto desta necessidade como de outras maiores, de perder a fama e a alma, esse pai e senhor meu me livrou melhor do que aquilo que eu sabia pedir. Não me lembro até hoje de haver-lhe suplicado nada que não me tenha concedido (V 6, 6).

É coisa que espanta as grandes mercês que me fez Deus por meio deste bem-aventurado santo, e dos perigos de que me livrou, tanto de corpo como de alma; que a outros santos parece que lhes deu o Senhor graça para socorrer em uma necessidade; mas a este glorioso santo tenho experiência de que socorre em todas, e quer o Senhor nos dar a entender, que assim como a ele esteve submetido na terra, pois como tinha nome de pai, sendo guardião, nele podia mandar, assim no céu faz o quanto lhe pede.

2.- E isso comprovaram algumas pessoas, às quais eu dizia que se encomendassem a ele, também por experiência; e ainda há muitas que começaram a ter-lhe devoção, havendo experimentado esta verdade (V 6, 6).

3.- Procurava eu celebrar a sua festa com toda a solenidade que podia, mais cheia de vaidade que de espírito, querendo que se o fizesse bem e com muitos detalhes, ainda que com boa intenção (V 6, 7).

4.- Queria eu persuadir a todos que fossem devotos desse glorioso santo, pela grande experiência que tenho dos bens que alcança de Deus. Não conheci ninguém que lhe tenha verdadeira devoção e lhe faça serviços especiais, que não se veja mais beneficiado na virtude; pois ajuda muito às almas que a ele se encomendam (V 6, 7). Continuar lendo

A MISSA NOVA LEVA AO PECADO CONTRA A FÉ – PALAVRAS DE D. LEFEBVRE

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

A missa nova é escandalosa, não no sentido do escândalo que causa estranheza. Não se trata disso. O escândalo é que conduz ao pecado. Pois bem, a nova missa leva ao pecado contra a fé, que é um dos pecados mais graves e perigosos, porque a perda da fé é, verdadeiramente, afastar-se da Revelação, de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Igreja.

Isso equivale a concluir que uma pessoa que estava ciente e está a par do perigo dessa missa e que foi a ela, cometeria, é claro, pelo menos um pecado venial. Por que, me direis, por que não nos diz ser um pecado mortal? Porque acredito que assistir uma só vez essa missa não constitui um perigo próximo. Acredito que o perigo se torna grave e, portanto, se torna motivo de um pecado grave, pela repetição. (…) O pecado torna-se grave se uma pessoa consciente e está a par do assunto frequenta regularmente e diz: “Ah, pra mim é a mesma coisa, não tenho medo quanto a minha fé”!, sendo que sabe perfeitamente que é algo perigoso. Ele sabe: é testemunha que as crianças perderam a fé porque assistiam regularmente a missa nova, é testemunha de que os pais deixaram a Igreja … mas, enfim, vai a ela de qualquer jeito. Nesse caso, é evidente que ele está realmente colocando em risco sua fé.

Para julgar a falta subjetiva dos que celebram a missa nova ou dos que a assistem, devemos aplicar as regras do discernimento de espíritos, segundo as diretrizes da teologia moral e pastoral. Devemos agir sempre como médicos de almas e não como justiceiros ou carrascos, como são tentados a fazer aqueles que são animados por um zelo amargo e não por um zelo verdadeiro(1) . Os jovens sacerdotes devem inspirar-se nas palavras de São Pio X em sua primeira encíclica e em muitos textos de autores espirituais conhecidos, como os de D. Chautard em A alma de todo apostolado, de Garrigou-Lagrange no segundo volume de  Perfeição cristã e Contemplação e D. Marmion em Cristo Ideal do Monge . 

Diretrizes práticas 

Os fiéis católicos devem fazer todo o possível para manter a fé católica intacta e íntegra: assistir à Missa de sempre quando puderem, ainda que seja uma vez por mês e colaborar ativamente para ajudar os sacerdotes fiéis na celebração da Missa da sempre e na distribuição dos sacramentos segundo os ritos antigos e o catecismo antigo.

Quando não podem ir a essas missas, podem lê-la aos domingos no missal, em família se possível, como os cristãos dos países missionários, que só recebem a visita do padre duas ou três vezes por ano e, às vezes, apenas uma!

Damos essas diretrizes para que cada uma possa seguir a linha de conduta mais favorável para a preservação da fé. É evidente que o preceito de domingo é obrigatório apenas quando há uma Missa de sempre acessível. É a época do heroísmo. Acaso não é uma graça de Deus viver nestes tempos turbulentos, para poder encontrar a Cruz de Jesus, seu sacrifício redentor, e estimar em seu justo valor essa fonte de santidade da Igreja, colocá-la novamente em  honra e apreciar melhor a grandeza do sacerdócio?

Entender melhor a Cruz de Jesus é elevar-se ao céu e aprofundar na verdadeira espiritualidade católica do sacrifício, e o sentimento de sofrimento, da penitência, da humildade e da morte.

A Missa de Sempre – Mons. Marcel Lefebvre +

50 ANOS DA NOVA MISSA (PARTE 5): DOM GUÉRANGER E O MOVIMENTO LITÚRGICO (CONTINUAÇÃO)

Abadia de Solesmes, restaurada e ilustrada por Dom Guéranger

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Os primeiros quatro artigos nos trouxeram ao século XIX, para Dom Guéranger e para seu magnífico trabalho de restauração da liturgia Romana, prelúdio e começo do movimento litúrgico. Há, entretanto, no trabalho do fundador de Solesmes, uma passagem notável que se amolda alegremente ao estudo da nova missa.

Heresia Anti-Litúrgica

No XIVº Capítulo do primeiro livro das ‘Instituições Litúrgicas’, Dom Guéranger caracteriza o espírito anti-litúrgico em suas várias manifestações falando de heresia. Por esse termo, que repeliu o Padre Lacordaire que entendeu isso em sentido estrito, ele [Dom Guéranger] não quis significar a negação ou recusa de verdades reveladas pela fé.

Sob o nome de heresia anti-litúrgica, Dom Guéranger descreve um espírito, uma atitude na qual “vai contra as formas de adoração”. Ele procede essencialmente pelo modo de negação ou destruição, que inclui qualquer transformação que perturba ao pont de desfigurar. Ele sempre procede de uma razão profunda, que tem como alvo as crenças em si, em razão do elo íntimo entre liturgia e credo.

Dom Guéranger não hesita em qualificar como sectários aqueles que trabalham para destruir a liturgia em quaisquer tempo que seja. Admitidamente, na maioria dos casos, eles não são organizados entre si. Mas suas ações procedem do mesmo motivo. Dom Guéranger não hesita em agrupá-los sobre o nome geral de seita.

O autor de ‘Instituições Litúrgicas’ descobriu a primeira manifestação disso [heresia anti-liturgica em Vigilance, um padre da Gália [Nome da atual região da França nos tempos do Império Romano] nascido por volta do ano 370. Ele criticava a veneração das relíquias dos santos, bem como o simbolismo das cerimônias, atacou o celibato de ministros sacros e vida religiosa, “tudo para manter a pureza da Cristianismo”.
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50 ANOS DA NOVA MISSA (PARTE 4): DOM GUÉRANGER E O MOVIMENTO LITÚRGICO

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Os primeiros três artigos desta série nos levaram ao século XIX. Naquele tempo, o Missal Tridentino, que havia sido estabelecido em quase todo lugar, estava sendo desafiado em particular pelo Galicanismo e Jansenismo. Essa dificuldade foi encontrada especialmente na França, mas também na Itália com o famoso sínodo de Pistóia, realizado pelos Jansenistas em 1786.

O estado das coisas no começo do Século XIX

Na França, a diversidade de missais havia se tornado preocupante: quase todas as dioceses tinham uma liturgia particular, em seu próprio modo. Além disso, as fronteiras das novas dioceses  criadas seguindo a concordata de 1801 não coincidiam com aquelas das velhas dioceses. Como resultado, um bispo poderia se encontrar confrontado com várias liturgias diferentes.

Aqui está um exemplo. Após se tornar Bispo de Langre em 1836m Monsenhor Parisis falou de sua perplexidade: “Criado por veneráveis padres, todos confessores da fé, no uso exclusivo das modernas liturgias, eu dificilmente suspeitei que poderia haver dúvidas sobre sua legitimidade tanto mais quanto sua ortodoxia. Aqui está o que eu encontrei na diocese de Langres: Primeiramente, cinco liturgias diferentes respectivamente seguidas por fragmentos de cinco dioceses que agora formam a nova diocese de Langres [Langres, toul, Chalons, troyes e Besançon]; então, vários usos não mais reconhecidos, estabelecidos por todos os párocos que se sucederam ali durante quarenta anos, ou simplesmente [estabelecidos]pelos professores das escolas.Finalmente, na catedral, a missa é rezada e o ofício cantado de acordo com o Rito Romano, mas o breviário recitado de acordo com a edição semi Parisiense que não possui mais do que dez anos de existência.”

Dom Guéranger: O Homem Providencial

Prosper Louis Pascal Guéranger  nasceu em 04 de abril de 1805 em Sablé, nas várzeas do [rio] Sarthe, e foi batizado no mesmo dia. Aos 17 anos de idade ele entrou no seminário de Le Mans, no ano de filosofia, e entrou no seminário maior no ano seguinte. Ele foi ordenado padre em 07 de outubro de 1827. Sua ordenação foi marcada por um incidente profético: o bispo omitiu uma importante imposição de mãos durante a cerimonia; o Padre Guéranger reclamou sobre isso, até que, tendo reparado seu erro, o bispo seguiu as prescrições pontificais.
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VINTE-VINTE: MAIS DO MESMO

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Fonte: Boletim Permanencia

Confesso aos leitores que quando publico esses textos que parecem levar a sério o que é mera especulação, recebo mensagens e acenos para revelar tudo que imaginam que sei a respeito, compilar em alguns parágrafos todas as conjecturas e decifrar os enigmas arcanos por trás dos textos, como se o futuro do mundo já estivesse escrito e pertencesse a essa elite do Mal, que caçoa das pessoas comuns criptografando mensagens nas capas de suas publicações.

De fato a brincadeira soa verdadeira quando certas coincidências se manifestam com aquela “sincronicidade suspeita” que faz a festa dos conspiracionistas. Por outro lado, como veremos a seguir, boa parte dos textos aludem a fatos conhecidos, pessoas importantes, aniversários famosos, agendas políticas e modismos.

A capa deste ano segue um padrão de fácil assimilação, pois não parece esconder nenhum nome ou sigla, desde que o leiamos em seqüência. Vejamos:

The world in 2020 (O mundo em 2020), Trump, Brexit, AI (Inteligência Artificial), Tokyo, Mars (Marte), Climate (Clima), Xi [Jiping], Recession (Recessão), [Narendra] Modi, Expo, SDGs (Metas para desenvolvimento sustentável), [James] Bond, Beethoven, Visions (Visões), Biodiversity (Biodiversidade), Rat (Rato), NPT (Tratado de Não Proliferação), [Elizabeth] Warren, Raphael [Sanzio], [Florence] Nightingale, Russia.

Os sobrenomes da vez são de Donald Trump, Xi Jiping, Narendra Modi e Elizabeth Warren, que respectivamente são os líderes dos EUA, China e Índia, acrescidos da pré-candidata ao pleito americano pelo partido Democrata. Seria isso uma previsão da sua indicação como candidata à presidência pelo seu partido? Se Warren for um nome, pode apontar para o mega investidor W. Buffet, que completará 90 anos em agosto, notório financiador dos democratas. Continuar lendo

CARTA DO SUPERIOR GERAL AOS AMIGOS E BENFEITORES – N° 89

ab-pagliarani_fsspx_menzingen_2018_2Fonte: FSSPX

Caros fiéis, amigos e benfeitores,

Há muito tempo eu queria vos dirigir algumas palavras. Com efeito, nós nos encontramos atualmente entre dois aniversários importantes: por um lado, há cinquenta anos, a nova missa era promulgada e, com ela, os fiéis viram ser imposto sobre eles uma nova concepção de vida cristã, adaptada às ditas exigências modernas. Pelo outro, festejamos neste ano o 50º aniversário de fundação da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Não é preciso dizer o quanto esses dois aniversários possuem uma estreita relação, porquanto o primeiro acontecimento demandava uma reação proporcional. É sobre isso que eu gostaria de falar para então poder extrair algumas conclusões válidas para o presente, mas fazendo primeiro um retorno ao passado, pois esse conflito, que se manifestou há cinquenta anos, começou na verdade já durante a vida pública de Nosso Senhor Jesus Cristo.

De fato, quando Nosso Senhor anunciou pela primeira vez aos Apóstolos e à turba que o ouvia em Cafarnaum o grande dom da Missa e da Eucaristia, um ano antes de sua Paixão, alguns se separaram dele, enquanto que outros se juntaram de maneira mais radical. Isso é paradoxal, mas é a própria ideia da Eucaristia que provocou o primeiro “cisma” e, ao mesmo tempo, levou os Apóstolos a aderirem definitivamente à pessoa de Nosso Senhor.

Eis como São João relata as palavras de Nosso Senhor e a reação de seus ouvintes: «Assim como me enviou o Pai que vive, e euvivo pelo Pai, assim o que me comer a mim, essemesmo também viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu. Não é como o pão que comeram osvossos pais, que morreram. O que come deste pãoviverá eternamente. Jesus disse estas coisas, ensinandoem Cafarnaum, na Sinagoga.Muitos de seus discípulos, ouvindo isto, disseram:“Dura é esta linguagem; quem a pode ouvir?” (…) Desde então muitos deseus discípulos tornaram atrás, e já não andavamcom ele» (Jo 6, 57-60, 66). Continuar lendo

UTILIDADE DAS TENTAÇÕES

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

Excelente artigo escrito pelo Revmo. Pe. José María Mestre, da FSSPX, onde ele nos explica o que são as tentações, por onde elas chegam até nós e como vencê-las.

O tempo sagrado da Quaresma representa a vida do cristão sobre a terra, vida que assume o papel de uma guerra constante contra inimigos tenazes que buscam nossa perdição eterna. É verdade que, assim como a Quaresma nos leva à glória da luminosa manhã de Páscoa, da mesma maneira os sofrimentos e lutas desta vida, cristianamente aceitos, nos levam à possessão eterna da bem-aventurança. Mas, enquanto isso, devemos lutar, sofrer. A Quaresma é, então, um tempo de renúncia e dor. É um tempo de tentações por parte de Satanás, do mundo e da carne. A tentação, a prova, é a condição constante do homem que quer ganhar o céu. O próprio Cristo, nossa Cabeça, nosso Modelo, quis ser tentado, para nos ensinar:

  1. Que seremos tentados.
  2. Por onde seremos tentados.
  3. Que armas devemos usar para vencer a tentação.

1º Ao longo de nossas vidas, seremos tentados

A partir do exemplo de Nosso Senhor, que, sendo nossa Cabeça, desejou suportar a tentação do demônio, deduzimos, antes de tudo, que também seremos continuamente tentados. E então podemos nos perguntar: Por que Deus permite que o demônio nos tente? Em outras palavras, que vantagens obtemos da tentação?

Na vida de Santa Catarina de Siena, lê-se que uma vez ela se viu envolvida em um combate espiritual muito prolongado e horrível. Representações torpes, provocadas pelo demônio, desfilavam uma após a outra por sua imaginação. E quanto mais ela as descartava, mais fortemente atacavam. Parecia-lhe que uma água suja a envolvia e que ela estava totalmente submersa nela; apenas sua vontade, que não consentia, permanecia à tona. A prova durou vários dias, no final dos quais o Senhor lhe apareceu:
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50 ANOS DA NOVA MISSA (PARTE 3): O MISSAL TRIDENTINO POSTO À PROVA PELO GALICANISMO

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Meio século atrás, o Papa Paulo IV impôs uma reforma litúrgica para toda a Igreja  em nome do Concílio que acabara de terminar. Assim nasceu a missa do Vaticano II. Ela foi imediatamente rejeitada por dois cardeais e desde então a oposição contra ela não enfraqueceu. Esse triste aniversário é uma oportunidade para traçar sua história.

Antes de considerar-se a reforma litúrgica de Paulo VI e a nova missa, vale a pena recontar a história do Missal Romano, porque sua reforma alega ser o desenvolvimento homogêneo do passado. O que é absolutamente questionável. Uma revisão histórica facilita a pesrpectiva geral.

A primeira e segunda parte dessa visão geral histórica recontou o desevolvimento do Missal Romano, o ora trabalho do Concílio de Trento  do Papa São Pio V, até  o século dezesseis. Vamos considerar agora a evolução da liturgia no período que se seguiu. 

O Século XVII

A difusão da liturgia Tridentina fora geral em um primeiro momento. Entretanto, na segunda fase, o despertar de particularidade provocou um certo retorno à divisão que reinava anteriormente ao Concílio de Trento, especialmente na França.

Esse país alegremente aceito os livros Romanos publicados pelo Concílio de Trento e mesmo contribuiu para o início dos estudos litúrgicos.

Entretanto no último terço do século XVII, um movimento neo-galicano começo a emergir, o qual Dom Guéranger corretamente descreveu como sendo de “um desvirtuamento litúrgico”. Foi, ademais, quase exclusivamente na França que esse ataque à unidade litúrgica, promovido pelo Concílio de Trento, se desenvolveu.
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É MAIS FÁCIL FAZER PENITÊNCIA COM A VIRGEM

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

A verdade é que, à primeira vista, a penitência nos assusta. Talvez nós simplesmente não queiramos fazê-la, ou talvez pensemos que não podemos? Mas esse modo de pensar produz maus frutos e leva à destruição da vida da graça, porque é o oposto da vida de Cristo.

A penitência, embora amarga, é tão necessária à nós quanto a comida e a bebida são para o corpo. Mas esse alimento amargo no início, carrega uma doçura espiritual muito especial, acima de tudo o que a terra pode oferecer.

Se isso não é suficiente para nos encorajar no caminho da penitência, nosso bom Pai, que está no céu, nos deu uma terna Mãe para nos moldar em sua prática. Como uma criança toma seu remédio amargo? Ele toma o que não gosta graças aos afagos de sua mãe.

É o mesmo na vida espiritual. E Maria nos ensina dessa forma em Lourdes e Fátima: “Penitência, penitência!

A vida de Nossa Senhora era, de fato, uma vida de dor sem comparação. Ora, a penitência é essencialmente a dor pelo pecado, com a firme resolução de repará-lo e não fazê-lo novamente. Pela pena de seus pecados, o homem reconhece seus delitos contra Deus, que é a fonte de toda bondade e amante das almas.

O segundo pensamento, que pode nos ajudar a perseverar na prática da penitência, é o pensamento em Jesus e Maria.

No meio da alegria do Natal, enquanto Maria segurava Jesus nos braços, Simeão profetizou: “Eis que este menino está posto para a ruína e para ressurreição de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição, e uma espada trespas­sa­rá a tua alma a fim de se descobrirem os pensamentos escondidos nos corações de muitos.” (Lc 2, 34). O Pe. Faber diz que essas palavras encheram a alma de Maria de uma dor indescritível e que lhe foi dada conhecer todos os detalhes da futura paixão de Cristo. Em outras palavras, como Jesus desejou sua paixão desde a concepção, Maria obteve essa graça 40 dias após o nascimento de seu Filho. Assim, a partir do dia da Apresentação, Jesus e Maria se uniram em uma sinfonia de dores, em uma vida de penitência.

Essa verdade profunda nos ensina exatamente como praticar a penitência. Não necessariamente de flagelações diárias ou jejuns freqüentes de pão e água. A forma mais profunda de penitência, a mais acessível e mais necessária a todos, é manter presente essa dor contínua do pecado, enquanto olha as severas penas de Cristo em nossos corações.

Você está sentado em seu escritório? Em união com Maria, deixe que as tristezas de Cristo ocupem uma parte importante de seu espírito, mesmo que você faça tarefas mais humildes em seu computador. Suas mãos que digitam e seus olhos cansados ​​são como aquelas mãos pregadas e dos olhos que buscam os corações que O buscam. É assim que Marie viveu. Ela viu as mãozinhas de Jesus bebê e sabia que um dia elas seriam pregadas em uma cruz. Ela olhou nos olhos de Jesus e viu as almas que Ele estava procurando. Cada movimento na vida de Cristo foi acompanhado por dor interior, por um verdadeiro sofrimento no Coração de Maria.

Em cada tarefa de nossa vida cotidiana, neste período da Quaresma, possamos nós reviver a vida de Maria. Que, com Maria, vejamos em cada árvore uma cruz, em cada mão um prego, em cada trabalho, cada obra, um fardo divino. Façamos todos nossos trabalhos diários neste espírito de união com o homem de dores. É assim que nossa conversão será concluída.