CARTA ENCÍCLICA DE SUA SANTIDADE PAPA PIO X
Tradução: Dominus Est
Aos Veneráveis Irmãos Patriarcas, Primazes, Arcebispos, e todos os Bispos do Orbe Católico em comunhão com a Sé Apostólica:
Dirigida aos Bispos da Itália para o estabelecimento e desenvolvimento da Ação Católica, associação leiga para a propagação católica religiosa no mundo secular
Veneráveis Irmãos: Saudação e Bênção Apostólica,
O firme propósito, que havíamos concebido desde o primórdio do Nosso Pontificado, de querer consagrar todas as forças que a benignidade do Senhor se digne a nos conceder para a restauração de todas as coisas em Cristo, desperta em nosso coração uma grande confiança na poderosa graça de Deus, sem a qual não podemos pensar ou empreender aqui na terra nada de grande ou fecundo para a salvação das almas. Ao mesmo tempo, no entanto, sentimos viva mais do que nunca a necessidade de sermos secundados unanimemente e constantemente nessa nobre empresa de vós, Veneráveis Irmãos, chamados a participar do Nosso ofício pastoral; por todos os membros do clero e por cada um dos fiéis confiados a vossos cuidados. Com efeito, todos nós da Igreja de Deus somos chamados a formar um único corpo cuja cabeça é Cristo; corpo que, conforme ensina o Apóstolo Paulo, é“coordenado e unido por meio de todos os ligamentos que o servem, segundo uma operação proporcionada a cada membro, [e] opera o próprio crescimento, em ordem à sua edificação na caridade”(Ef 4, 16).E se, nessa obra de “edificação do Corpo de Cristo”,nosso primeiro dever é o de ensinar; de indicar o reto caminho a seguir e os meios para consegui-lo; de admoestar e de exortar paternalmente; é também dever de todos Nossos caríssimos filhos ao redor do mundo ouvir Nossos conselhos e de aplicá-los antes em si mesmos e cooperar eficazmente para que esses conselhos também sejam comunicados aos demais, cada um conforme a graça que recebeu de Deus, conforme seu estado e suas funções e conforme o zelo que inflamar em seu coração.
Aqui Nós queremos somente relembrar essas múltiplas obras de zelo para o bem da Igreja, da sociedade e dos indivíduos particulares — comumente designadas pelo nome de Ação Católica — que, pela graça de Deus, florescem em todos os lugares e que abundam também na nossa Itália. Bem compreendeis, Veneráveis Irmãos, quão queridas devem ser para Nós e o quanto desejamos intimamente vê-las consolidadas e favorecidas. Não somente em várias ocasiões tratamos em conversas acerca delas, ao menos com alguns de vós e com seus principais representantes na Itália, quando nos ofereciam pessoalmente a homenagem da sua devoção e de seu afeto filial, como também publicamos Nós mesmos sobre esse assunto, ou fizemos publicar com Nossa autoridade, vários documentos que todos já conheceis. É verdade que algumas dessas publicações, conforme pediam as circunstâncias, para Nós dolorosas, eram sobretudo dirigidas à remoção de obstáculos ao diligente desenvolvimento da ação católica e para condenar certas tendências indisciplinadas, que, com grave dano à causa comum, iam se insinuando. Mas Nosso coração esperava pela hora de dirigir-vos também uma palavra de paterno conforto e de exortação, com o fim de que neste terreno, pelo que Nos toca, já livre de impedimentos, continue-se na edificação e no crescimento mais amplo possível do bem. Portanto, é para Nós muito gratificante fazê-lo agora por meio desta Nossa carta para a comum consolação, na certeza de que Nossas palavras serão por todos docilmente ouvidas e obedecidas.
A AÇÃO DOS CATÓLICOS
a) Na ordem sobrenatural
Vastíssimo é o campo da ação católica, que por si mesma não exclui nada de quanto, de algum modo, direto ou indireto, pertença à divina missão da Igreja. Facilmente se reconhece a necessidade da participação individual à tão importante obra, não somente para a santificação de nossas almas, mas também para difundir e dilatar cada vez mais o Reino de Deus nos indivíduos, nas famílias e na sociedade, procurando cada um, na medida de suas forças, o bem do próximo por meio da difusão da verdade revelada, com o exercício das virtudes cristãs e com as obras de caridade ou de misericórdia espiritual ou corporal. Este é aquele caminhar digno de Deus ao qual nos exorta São Paulo, de forma que a Ele agrademos em tudo, frutificando em toda a boa obra e crescendo na ciência de Deus: “a fim de que andeis de um modo digno do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra e crescendo na ciência de Deus”(Col 1, 10).
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