A LIBERDADE RELIGIOSA DO VATICANO II – PARTE 2

Resultado de imagem para marcel lefebvreLiberdade Religiosa, Direito Natural à Imunidade? 

Sem invocar a tolerância, o Concílio definiu um simples direito natural à imunidade: o direito de não ser perturbado no exercício do próprio culto, qualquer que seja.

A astúcia ou pelo menos o procedimento astuto, era evidente: por não poder definir um direito ao exercício de todo culto, pois este direito não existe para os falsos cultos, empenharam-se em formular um direito natural somente para a imunidade, que sirva aos adeptos de todos os cultos.

Assim todos os “grupos religiosos” (inocente qualificativo para esconder a Babel das religiões) gozariam naturalmente da imunidade a toda coação em seu “culto público à divindade suprema” (por Deus!, de que divindade se trata?) e também se beneficiariam do “direito de não ser impedidos de ensinar e manifestar sua fé (que  fé?) publicamente, oralmente ou por escrito” (DH. 4).

É imaginável maior confusão? Todos os adeptos de todas as religiões, tanto da verdadeira como das falsas, absolutamente reduzidos ao mesmo pé de igualdade, gozariam de um mesmo  direito natural, sob o pretexto de que se trata somente de um “direito à imunidade”. É por acaso concebível? É mais do que evidente que os adeptos das falsas religiões, somente por este título, não gozam de nenhum direito natural à imunidade. Permitam-me ilustrar esta verdade com um exemplo concreto: se vocês quisessem impedir a oração pública de um grupo muçulmano na rua, ou perturbar seu culto em uma mesquita, pecariam talvez contra a caridade e seguramente contra a prudência, mas não fariam  a estes crentes nenhuma injustiça. Não se sentiriam feridos em nenhum dos bens a que têm direito, nem em nenhum de seus direitos a estes bens211; em nenhum de seus bens, porque seu verdadeiro bem não é exercer sem coação seu culto falso, mas poder exercer um dia  o verdadeiro; em nenhum de seus direitos, pois eles têm  precisamente o direito de exercer o “culto de Deus em particular e em público”212 e a não ser nisso impedidos, mas o culto de Alá não é o culto de Deus! Realmente Deus revelou, Ele mesmo, o culto com que quer ser honrado exclusivamente, que é o da  Religião católica213.

Por conseguinte, se na justiça natural não se prejudica de nenhum modo a estes crentes ao impedir ou perturbar seu culto, é porque não têm nenhum direito natural de não serem perturbados em seu exercício. Continuar lendo

BREVE CRÔNICA DA OCUPAÇÃO NEO-MODERNISTA NA IGREJA CATÓLICA – PARTE 5

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VATICANO II, PRIMEIRA SESSÃO:
O INÍCIO DA REVOLUÇÃO 

A primeira sessão do Concílio Vaticano II se abriu na manhã de 13 de outubro de 1962[1], mas os neo­modernistas tiveram todo o tempo necessário para se organizar e aproveitar a ocasião propícia.

O grupo principal da ala modernista e liberal dos Padres conciliares era constituído por bispos alemães e ingleses — evidentemente discípulos entusiastas de seus novos teólogos que os manobravam a seu gosto — com os quais logo fizeram bloco outros episcopados da Europa, e que formaram o “grupo do Reno” ou a “Aliança Europeia”, como os denominou um cronista conciliar, o Pe. Ralph Wiltgen.

O golpe de Estado dos “bispos do Reno” se fez sentir desde o início da sessão, quando foi tratada a questão preliminar da eleição dos membros das dez comissões conciliares que deviam trabalhar sobre os textos doutrinais já redigidos pela comissão central preparatória.

O episcopado “do Reno” tenta a introduzir ali o maior número possível dos seus “peritos”, no intuito de orientar os trabalhos do Concílio segundo seus próprios planos: mas para isso, era necessário fazer rejeitar pelos Padres conciliares a lista de “peritos” já preparada pelo Santo Ofício, composta de teólogos que já tinham desempenhado algum papel na redação das primeiras provas dos textos, comissão preparatória. Peritos julgados “tradicionais demais” pelos inovadores deviam ser afastados; caso fossem eleitos, o que parecia mais do que provável, a margem de manobra dos “novos teólogos” seria drasticamente reduzida, até mesmo anulada.

Um segundo problema era constituído pelos próprios textos, redigidos pela comissão preparatória, fiéis à doutrina católica da tradição, usando uma linguagem teológica escolástica e, portanto, dificilmente susceptíveis de serem manipulado pelos neo-modernistas. Continuar lendo

A LIBERDADE RELIGIOSA DO VATICANO II – PARTE 1

Resultado de imagem para marcel lefebvreDe acordo com o Vaticano II a pessoa humana teria direito em nome de sua dignidade, a não ser impedida no culto religioso, qualquer   que ele fosse, em particular ou em público, salvo se prejudicasse a tranqüilidade ou a moralidade pública193. Reconheçam que a moralidade pública do Estado “pluralista” promovida pelo Concílio não é do tipo a causar dano a esta liberdade, como também a corrupção avançada da sociedade liberal não limitaria o direito à liberdade do “concubinato” se fosse proclamado indistintamente, em nome da dignidade humana, para casais em união livre ou casados.

Assim pois, muçulmanos, rezai tranqüilamente no meio de nossas ruas cristãs, construí vossas mesquitas e minaretes junto aos campanários de nossas igrejas, a Igreja do Vaticano II vos assegura que não o podemos impedir194; o mesmo para vocês budistas e hindus…!

Em troca, nós católicos pediremos a liberdade religiosa em vossos países, em nome da liberdade que damos nos nossos… Poderemos assim defender nossos direitos religiosos ante os regimes  comunistas, em nome de um princípio declarado por uma assembléia religiosa tão solene e já reconhecida pela O.N.U. e pela maçonaria… É a declaração que me fez o Papa João Paulo II, na audiência que concedeu em 18 de novembro de 1978: “O senhor sabe, me disse, a liberdade religiosa nos foi muito útil contra o comunismo na Polônia”. Eu tinha vontade de contestar: “Muito útil pode ser como argumento  “ad  hominem”,  já  que  os  regimes  comunistas  têm   a liberdade de culto inscrita em suas constituições195, mas não como princípio doutrinal da Igreja Católica”.

I 

Liberdade Religiosa e Verdade 

Era isto ao menos, o que dizia o P. Garrigou-Lagrange:

“Nós podemos (…) fazer da liberdade de culto um argumento ‘ad hominem’ contra aqueles que, enquanto proclamam a liberdade de culto, perseguem a Igreja (Estados laicos e socializantes), ou impedem o culto direta e indiretamente (Estados comunistas, islâmicos, etc.). Este argumento ‘ad hominem’ é justo e a Igreja não o despreza, usando-o para defender eficazmente o direito de sua liberdade. Mas não se segue que a liberdade de culto, considerada em si mesma, seja sustentada pelos católicos como um princípio, porque ela é em si absurda e ímpia; com efeito, a verdade e o erro não podem ter os mesmos direitos”196. Continuar lendo

VATICANO II À LUZ DA TRADIÇÃO

Resultado de imagem para marcel lefebvre“A liberdade religiosa (…) não causa nenhum prejuízo à doutrina católica…”

“Por outro lado, ao falar desta liberdade religiosa, o Santo Concílio entende por ela, o desenvolvimento da doutrina dos últimos Soberanos Pontífices sobre os direitos invioláveis da pessoa humana…”180.

Este preâmbulo que quer parecer tranqüilizador, precede a Declaração conciliar sobre a liberdade religiosa. Ela é apresentada como uma continuação da linha da Tradição. O que há de certo nisto? A questão se apresenta, como vimos, a partir do fato de que os Papas do século XIX condenaram, sob o nome de liberdade de consciência e de cultos, uma liberdade religiosa que parece irmã daquela do Vaticano II.

I 

Vaticano II e Quanta Cura 

Proposições condenadas por Pio XI em Quanta Cura

A – “A melhor condição da sociedade é aquela na qual não se reconhece o direito de reprimir com penas legais aos que violam a religião católica, salvo quando a paz pública o exige”.

B – “A liberdade de consciência e de culto é um direito próprio de todo indivíduo”.

C – “Tal direito deve ser proclamado e estar garantido em toda sociedade corretamente organizada”181.

Proposições afirmadas em Vaticano II, Dignitatis H. 

A’ – “Em matéria religiosa que ninguém seja impedido de agir segundo sua consciência, em privado ou em público, só ou associado, nos justos limites”.

B’ – “A pessoa tem o direito à liberdade religiosa. Ela consiste…” (segue em A’).

C’ – “Este direito da pessoa humana à liberdade religiosa deve ser reconhecido na ordem jurídica da sociedade como um direito civil”182. Paralelo assombroso! Sua análise183 nos leva a concluir numa contradição em suas doutrinas. O próprio Pe. Congar confessa que “Dignitatis Humanae” é contrário ao Syllabys de Pio IX: Continuar lendo

QUESTIONAMENTO E DIÁLOGO – MORTE DO ESPÍRITO MISSIONÁRIO

Resultado de imagem para marcel lefebvreO Questionamento 

Temos visto que o espírito católico-liberal não tem suficiente confiança na verdade. O espírito conciliar, por sua vez, perde a esperança de conseguir chegar à verdade; sem dúvida a verdade existe, mas ela passa a ser objeto de uma procura sem fim.

Veremos que isto significa que a sociedade não se pode organizar sobre a verdade, verdade que é Jesus Cristo. Em tudo isto, a palavra chave é “questionamento”, ou orientação, tendência para a verdade, procura da verdade, caminho para a verdade. Na linguagem conciliar e pós-conciliar encontra-se com abundância os termos “movimento” e “dinâmica”.

Com efeito, o Concílio Vaticano II canonizou a procura em sua Declaração sobre a liberdade religiosa: “A verdade deve ser procurada conforme o modelo próprio da pessoa humana e de sua natureza social, ou seja, por meio da livre procura…”. O Concílio  põe a procura em primeiro lugar, antes do ensino e da educação. Entretanto a realidade é outra: as convicções religiosas são impostas pela educação das crianças, e uma vez que estão fixadas nos  espíritos e manifestadas nos cultos religiosos, para que procurá-las?

Por outro lado, muito raramente a “livre procura” conseguiu alcançar a verdade religiosa e filosófica. O grande Aristóteles não está isento de erros. A filosofia do livre exame acaba em Hegel… E também, que dizer das verdades sobrenaturais? Eis o que diz São Paulo falando aos pagãos: “Como poderão crer, se não lhes fazem  prédicas? Como se poderá pregar, se não lhes enviam missões?”  (Rm 10, 15). Não é o questionamento que a Igreja deve pregar, mas  a necessidade das missões: “Ide e ensinai todas as nações” (Mt 28, 19), tal é a ordem dada por Nosso Senhor. Sem a ajuda do Magistério da Igreja, quantas almas poderão encontrar a verdade, permanecer na verdade? A livre procura é um irrealismo total, no fundo um naturalismo radical. Na prática, qual a diferença entre quem se questiona e um livre pensador?

Os Valores das outras Religiões 

O Concílio se ocupou em exaltar os valores salvíficos ou simplesmente os valores das outras religiões. Falando das religiões cristãs não católicas, o Vaticano II ensina que “mesmo que as consideremos vítimas de deficiências, elas não estão de modo algum desprovidas de significação e de valor no mistério da salvação”173. Isto é uma heresia! O único meio de salvação é a Igreja Católica. As comunidades protestantes, enquanto estão separadas da unidade da verdadeira Fé, não podem ser utilizadas pelo Espírito Santo. Ele só pode agir diretamente sobre as almas, ou usar meios (por exemplo o batismo), que em si não leva nenhum sinal de separação. Continuar lendo

O ESPÍRITO DO CONCÍLIO

Resultado de imagem para marcel lefebvreQuantos enganos e orientações heterodoxas poderiam ter sido evitados, se o Vaticano II tivesse sido um concílio dogmático e não um concílio que se chamou pastoral!

Quando se examina as sucessivas redações de documentos conciliares, vê-se as orientações que eles deram. Permitam-se indicar algumas:

O Sacerdócio dos Fiéis 

“Lúmen Gentium” faz distinção entre o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial dos padres (nº 10). Mas em continuação, apresenta as páginas que falam do sacerdócio em geral, confundindo os dois e fazendo do sacerdócio ministerial uma função mais ligada ao sacerdócio comum (nº 11).

Exaltação da Consciência acima da Lei 

Igualmente se diz que o homem deve se submeter à lei de Deus (Dignitatis Humanae, nº 2). Mas logo a seguir exalta-se a liberdade do homem, a consciência pessoal (nº 3), chega-se a sustentar a “objeção de consciência” (ib. nº 3) de maneira tão geral que chega a ser falsa: “o homem não deve ser constrangido a agir contra sua consciência”.

Isto está certo somente para uma consciência verdadeira  ou  para  uma  consciência  invencivelmente  errônea.  A tendência é colocar a consciência acima da lei e a subjetividade acima da ordem objetiva das coisas, quando na verdade, é evidente,  a consciência existe para conformar-se com a lei.

Definição Liberal da Verdade 

Da mesma maneira, continuamente e de um modo especial na Declaração sobre a liberdade religiosa, repete-se que não se deve forçar, que não deve haver coação (Gaudium et Spes, nº 47, Dignitatis Humanae, nº 1, 2, 3, 10). A liberdade é definida como a ausência de coação. É evidente que não há sociedade sem a coação física das penas, sem a coação moral do temor das penas que estão nas leis; em caso contrário surge a anarquia. Nosso Senhor ele mesmo não deixou de usar a coação; que coação mais forte do que a frase: “Quem não crer será condenado” (Mc 16, 16)? O inferno pesa sobre as consciências, isto é bem uma coação. Há portanto boas e saudáveis coações. Continuar lendo

A MISTIFICAÇÃO DO VATICANO II

Resultado de imagem para marcel lefebvreÉ interessante encontrar um precedente ao Concílio Vaticano II, pelo menos quanto aos métodos usados por uma ativa minoria liberal, que rapidamente se transformou em maioria. A este respeito deve-se observar o Concílio Geral de Éfeso, a que o Papa São Leão I deu o nome de “A Mistificação de Éfeso”. Este concílio foi presidido por um bispo ambicioso e sem escrúpulos, Dióscoro, que com a ajuda de seus monges e dos seus soldados imperiais, exerceu uma pressão extraordinária sobre os Padres do Concílio. Foi negada a presidência aos legados do Papa, presidência que eles reclamavam; as cartas pontificais não foram lidas. Este Concílio, que não foi ecumênico, chegou a declarar ortodoxo o herege Eutiques, que sustentava o erro do monofisismo (uma única natureza em Cristo).

O Vaticano II foi igualmente uma mistificação, com a diferença de que os Papas (João XXIII e Paulo VI) apesar de estar presentes, não opuseram resistência nem ao menos à manipulação dos liberais, mas até a favoreceram. Como foi possível isto? Declarando este Concílio pastoral e não dogmático, insistindo no “aggionarmento” e no ecumenismo, estes Papas privaram a si mesmos e ao próprio Concílio da intervenção do carisma da infalibilidade, que o haveria preservado de qualquer erro.

Neste  capítulo  mostrarei  três  manobras  do  clã  liberal  durante o Concílio Vaticano II. 

Manipulação nas Comissões Conciliares 

O Pélerin Magazine de 22 de novembro de 1985 citava declarações muito esclarecedoras do Cardeal Liénart ao repórter Claude  Beaufort, em 1972, sobre a primeira congregação Geral do Concílio. Cito “in extenso” este artigo intitulado “O Cardeal Liénart: O Concílio, a Apoteose de Minha Vida”. Apenas acrescentarei minhas observações167.

“Dia 13 de outubro de 1962: o Concílio Vaticano II tem sua primeira sessão de trabalho. A ordem do dia prevê que a Assembléia designe os membros das Comissões  especializadas, chamadas para ajudá-la em sua tarefa. Mas os 2300 padres reunidos na imensa nave de São Pedro mal se conheciam. Podem eleger assim equipes competentes? A Cúria resolve a dificuldade: distribui juntamente com as cédulas de votação as listas das comissões preparatórias, que haviam sido constituídas por ela. É evidente o convite para manter as mesmas equipes…”. Continuar lendo

OS PAPAS DENUNCIAM A CONSPIRAÇÃO DA SEITA

Resultado de imagem para marcel lefebvreA trama da seita liberal contra a Igreja consistia em atacá-la utilizando sua própria hierarquia, pervertendo-a até ao seu mais alto posto, como lhes mostrei no capítulo precedente.

Mas os Papas, com a clarividência de seu cargo e as luzes que Deus lhes deu, viram e denunciaram claramente este programa.

Leão XIII (1878-1903) pressentiu este “subversio capitis”, esta subversão do chefe e a descreveu com todos os detalhes, em toda a sua crueza, escrevendo o pequeno exorcismo contra Satanás e os espíritos malignos. Eis o techo em questão, que figura na versão original mas foi suprimido nas versões posteriores por não sei qual sucessor de Leão XIII, provavelmente por considerá-lo impossível, impensável, impronunciável… Pelo contrário, após cem anos de sua composição, este trecho nos parece cheio de uma verdade candente:

“Eis que astutos inimigos encheram de amargura a Igreja, Esposa do Cordeiro Imaculado, deram-lhe absinto para beber e puseram suas mãos ímpias sobre tudo o que há nEla de mais precioso. Onde a Sede do bem-aventurado Pedro e a Cátedra da Verdade haviam sido estabelecidas como luz para as  nações, eles erigiram o trono da abominação da sua impiedade, para que uma vez golpeado o pastor possam dispersar o rebanho”.

Como isto é possível? me perguntarão. Asseguro-lhes que não sei, mas isto ocorre cada vez mais, dia após dia. Isto nos causa uma grande angústia, nos sugere uma pergunta dolorosa: quais são então estes Papas que toleram a autodemolição que contribuem para ela? Em seu tempo, São Paulo já dizia: “já se está realizando o mistério da iniqüidade” (2 Ts 2, 7). O que diria ele hoje?

Por sua parte São Pio X (1903-1914) confessará a angústia de que era possuído ante os progressos alcançados pela seita no interior mesmo da Igreja. Em sua primeira Encíclica “E Supremi Apostolatus” de 4 de outubro de 1903, expressa seu temor de que o tempo da apostasia que entrava na Igreja, fosse o tempo do Anti- Cristo, falsificação de Cristo, usurpador de Cristo. Eis abaixo  o texto:
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A CONSPIRAÇÃO DA ALTA VENDA DOS CARBONÁRIOS

Resultado de imagem para marcel lefebvreEm nosso breve estudo histórico do liberalismo católico, eis-nos chegados às vésperas do Concílio Vaticano II. Mas antes de analisar a vitória obtida pelo liberalismo no Concílio, gostaria de retroceder para lhes mostrar a penetração do liberalismo em toda a hierarquia e até mesmo no papado, o que seria impensável há dois séculos; entretanto foi pensada, predita e organizada pela maçonaria, desde o princípio do século passado. Bastará reproduzir os documentos que provam a existência desta intriga contra a Igreja, deste “último assalto” contra o papado.

Os papéis secretos da Alta Venda dos Carbonários que caíram nas mãos do Papa Gregório XVI, cobrem o período de 1820 a 1846. Foram publicados a pedido do Papa Pio IX, por Crétineau-Joly em sua obra “l’Eglise Romaine et la Révolution”156. Pelo Breve de aprovação dirigido ao autor em 25 de fevereiro de 1861, Pio IX confirma a autenticidade dos documentos, mas não permitiu que fossem divulgados os verdadeiros nomes dos membros da Alta Venda implicados com esta correspondência. Estas cartas são pavorosas, e se os Papas pediram sua publicação foi para que os fiéis saibam da conspiração contra a Igreja tramada pelas sociedades secretas, conheçam seus planos e estejam preparados para o caso de uma eventual realização. Nada acrescento por ora, apenas que é com temor que se lêem estas linhas. Não invento nada, só faço ler, mas não é nenhum mistério que hoje em dia elas se realizam. Não deixo de chamar a atenção para o fato de que mesmo seus projetos mais audazes estejam ultrapassados pela realidade atual! Passemos à leitura, somente sublinharei o que mais nos deve impressionar.

*

“O Papa, qualquer que ele seja, jamais virá às sociedades secretas: a elas cabe dar o primeiro passo em direção à Igreja, para vencer ambos.

O trabalho que vamos empreender não é obra de um dia, nem de um mês, mas de um ano; pode durar vários anos, talvez um século; mas em nossas fileiras o soldado morre, mas a luta continua.

Não queremos conquistar os Papas para nossa causa, fazê-los neófitos de nossos princípios, propagadores de nossas idéias. Seria um sonho ridículo, e qualquer que seja o desenrolar dos acontecimentos, o fato de cardeais e prelados, por exemplo, terem entrado com satisfação ou com surpresa, em uma parte de nossos segredos, em absoluto não é motivo para desejar sua eleição par a cátedra de Pedro, pois esta eleição seria nossa perda. Somente a ambição os haveria conduzido à apostasia, mas a necessidade do poder os forçaria a nos imolar. O que devemos pedir, e o que devemos procurar e esperar, como os judeus esperam o Messias, é um papa de acordo com nossas necessidades (…). Continuar lendo

MISSA NOVA: UM CASO DE CONSCIÊNCIA

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No dia 10 de abril de 1970, Paulo VI recebeu a comissão que elaborava o novo “Ordo Missae”. Nesta audiência, o Pontífice deixou-se fotografar ao lado dos observadores das “Comunidades eclesiais não católicas” que participaram da referida Comissão (os pastores protestantes: Dr Georges, Côn. Jasper, Dr. Sephard, Dr. Konneth, Dr. Smith, Fr. Max Thurian). A fotografia foi publicada na Revista “Notitiae”, da Sagrada Congregação para o Culto Divino, nº 54, maio de 1970. Na oportunidade, o Papa dirigiu aos presentes uma Alocução em que agradece sua colaboração: “Nós temos de agradecer-vos muito vivamente (…). O que vos era pedido, não era fácil com efeito (…): redigir de uma maneira nova textos litúrgicos provados por um longo uso, ou estabelecer fórmulas inteiramente novas” (cfr.“ La Documentation Catholique, 3-5-70. nº 1562, 52º ano, T. LXVII).

Sobre a intervenção ativa destes ‘observadores’ eis o testemunho de Mons. W.W.Baum, “diretor executivo” dos assuntos ecumênicos da Conferência Episcopal Americana: “Eles não lá estiveram como simples observadores, mas também como consultores, e participaram plenamente das discussões sobre a renovação litúrgica católica. Não faria muito sentido caso se contentassem em ouvir, mas contribuem de fato” (Detroit News, 27 de junho de 1967).”

O SENTIDO DA HISTÓRIA

Resultado de imagem para marcel lefebvreNos capítulos anteriores procurei mostrar que os católicos liberais como Lamennais, Maritain e Yves Congar, têm uma visão pouco católica do sentido da história. Trataremos de aprofundar sua concepção e julgá-la à luz da Fé.

Senso ou Contra-senso

Para os católicos chamados liberais, a história tem um sentido, ou seja, uma direção. Na terra, esta direção é imanente: a liberdade. A humanidade é empurrada por um sopro imanente, para uma consciência crescente da dignidade da pessoa humana, para uma liberdade cada vez maior de livre de toda coação. O Vaticano II se fará eco desta teoria dizendo, a exemplo de Maritain:

“Em nosso tempo, a dignidade da pessoa humana é objeto de consciência cada vez mais viva; são cada vez mais numerosos os que reivindicam para os homens a possibilidade de agir de acordo com suas próprias opiniões e segundo sua livre responsabilidade”150.

Ninguém discute que seja desejável que o homem se encaminhe livremente para o bem; mas é muito discutível que nossa época ou mesmo o sentido da história em geral, estejam marcados por uma consciência crescente da dignidade e liberdade humanas. Somente Jesus Cristo ao conferir aos batizados a dignidade de filhos de Deus, mostra aos homens em que consiste sua verdadeira dignidade: a liberdade de filhos de Deus de que fala São Paulo (Rm 8, 2). Na medida em que as nações se submeteram a Nosso Senhor Jesus Cristo, viu-se com efeito o desenvolvimento da dignidade humana e uma sã liberdade; mas desde a apostasia das nações com a instauração do liberalismo, é forçoso verificar que, pelo contrário, se não reina Jesus Cristo “as verdades diminuem entre os filhos dos homens” (Sl 11, 2), a dignidade humana é cada vez mais desprestigiada e achatada, e a liberdade fica reduzida a um tema vazio sem qualquer conteúdo.

Em alguma época da história já se viu um empreendimento tão radical e colossal de escravidão, como a técnica comunista de escravizar as massas?151Se Nosso Senhor nos convida a “ver os sinais dos tempos” (Mt. XVI, 4), então foi necessária uma cegueira voluntária dos liberais e um conluio absoluto de silêncio, para que um concílio ecumênico reunido precisamente para ver os sinais de nosso tempo152, se calasse acerca do sinal dos tempos mais evidente, que é o comunismo. Este silêncio basta por si só para cobrir de vergonha e reprovação este Concílio, diante da História, e para mostrar o ridículo do que alega o preâmbulo de “Dignitatis Humanae”, que lhes citei. Continuar lendo

A ILUSÃO DO PLURALISMO

Imagem relacionadaDe Jacques Maritain a Yves Congar

O liberalismo que se diz católico, lançou-se ao ataque da Igreja sob  o estandarte do progresso, como lhes mostrei no capítulo precedente. Somente lhe faltava revestir-se com o manto da filosofia para penetrar com toda segurança na Igreja, que até então o anatematizava. Alguns nomes conhecidos ilustram esta penetração liberal na Igreja até as vésperas do VaticanoII.

Jacques Maritain (1882-1973)

Não é um erro chamar Jacques Maritain o pai da liberdade religiosa do Vaticano II. Paulo VI, por sua vez, se havia alimentado com as teses políticas e sociais do Maritain liberal posterior a 1926, e o reconhecia como mestre… São Pio X havia sido por certo mais bem inspirado ao eleger como mestre o Cardeal Pio136do qual foi tirada a passagem central de sua primeira encíclica “E Supremi Apostolatus” e sua divisa, “Restaurar tudo em Cristo”.

Mas a divisa de Maritain, que será também a de Paulo VI, foi “instaurar tudo no homem”. Em reconhecimento ao velho mestre, Paulo VI lhe remeteu no dia 8 de dezembro de 1965, dia do encerramento do Concílio, o texto de uma das mensagens finais do Concílio ao mundo. Ora, eis o que declarava um desses textos, a “mensagem aos governantes”, lido pelo Cardeal Lienart:

“Em vossa cidade terrena e temporal, Ele constrói misteriosamente sua cidade espiritual e eterna: sua Igreja. E o que vos pede esta Igreja, depois de quase dois mil anos de toda espécie de vicissitudes em suas relações convosco, poderosos da terra? O que vos pede hoje? Ela vos disse em um dos principais textos do Concílio: só vos pede a liberdade. A liberdade de crer e pregar sua fé, a liberdade de amar e servir a Deus, a liberdade de viver e levar aos homens sua mensagem de vida. Não temais, Ela é semelhante a seu Mestre, cuja ação misteriosa não usurpa vossas prerrogativas, mas cura o homem de sua fatal velhice, o transforma dando-lhe esperança,  verdade e beleza”137. Continuar lendo

O MITO DE “SÓ A LIBERDADE” DE LAMENNAIS A SANGNIER

Resultado de imagem para marcel lefebvreEles não temem traçar paralelos blasfemos entre o Evangelho e a Revolução”. São Pio X.

Apenas constituído, o liberalismo católico lança-se ao assalto da Igreja com a bandeira do progresso. Lembremos alguns nomes deste liberalismo progressista:

I

LAMENNAIS (1782-1854)

Felicite de Lamennais, sacerdote que se rebelará contra a Igreja e será infiel a seu sacerdócio, funda seu liberalismo sob o mito do progresso da humanidade que se manifesta pela aspiração crescente dos povos pela liberdade. Ele diz: este movimento “tem seu princípio indestrutível na lei primeira e fundamental pela qual a humanidade tem que se despojar progressivamente dos laços da infância, à medida que o cristianismo em desenvolvimento vá emancipando a inteligência e os povos alcancem a idade madura”127. Na Idade Média a humanidade está na sua infância e necessita da tutela da Igreja: hoje os povos já adultos, devem se emancipar desta tutela separando a Igreja do Estado. Quanto à Igreja, ela deve se adaptar a  esta  nova  ordem de  coisas que  Ela  mesma  criou: “uma nova ordem social, fundada no grande desenvolvimento da  liberdade, que o catolicismo fez necessário, aumentando em nossas almas a verdadeira noção e o sentimento do direito”. Na apresentação do programa do jornal “l’Avenir” vemos o arremate perfeitamente liberal da teoria de Lamennais:

“Todos os amigos da Religião precisam compreender que ela necessita somente de uma coisa: da liberdade”.

Era querer submeter a Igreja ao direito comum a todas as  associações e confissões religiosas diante da lei. Gregório XVI não podia deixar de condenar tal erro e o fez na Encíclica “Mirari Vos” de 15 de agosto de 1832,condenando…

“Aqueles que querem separar a Igreja do Estado e romper a mútua concórdia entre o Império e o Sacerdócio: pois o que é certo é que esta concórdia que sempre foi tão saudável e favorável aos interesses da Religião e da autoridade civil, é temida pelos partidários de uma liberdade desenfreada”128.

E igualmente:

“Este princípio absurdo, ou melhor dito, este delírio, que defende a necessidade de assegurar e garantir a qualquer um a liberdade de consciência”129.

Certamente a Igreja não podia se acomodar ao princípio revolucionário  liberal  de  liberdade  para  todos,  que  a  todas as opiniões religiosas se reconheça a mesma liberdade sem discriminação. Quanto à emancipação progressiva da humanidade, a Fé Católica lhe dá seu verdadeiro nome: a apostasia das nações.

II

MARC SANGNIER E “LE SILLON”

Apesar das condenações dos Papas, o liberalismo progressista continua sua penetração na Igreja. O Padre Emmanuel Barbier escreveu um pequeno livro chamado “Le Progrés du Libéralisme Catholique em France sous le Pontificat du Pape Leon XIII”130. Nele há um capítulo que trata do “catolicismo progressista”, em que o autor diz: “A expressão catolicismo progressista é a que M. Fogazzaro apresenta em seu romance “Il Santo” para designar o conjunto de reformas que ele pede à Igreja em sua doutrina, sua vida interior e sua disciplina. Existe uma quase identidade de tendências entre os movimentos que estudamos na França, e aquele cujo porta- voz mais ouvido na Itália é, atualmente, Fogazzaro”.

Se Fogazzaro expôs sem constrangimento algum o plano de penetração do modernismo na Igreja, quer dizer que o modernismo e o catolicismo liberal são compartimentos vizinhos e têm táticas semelhantes131.

Em 1894 Marc Sangnier funda sua revista “Le Sillon” que se converte em um movimento da juventude que sonha em reconciliar a Igreja com os princípios da Revolução de 1789, o socialismo e a democracia universal, baseando-se no progresso da consciência humana. A penetração de suas idéias nos seminários e a evolução cada dia mais indiferentista do movimento, levaram São Pio X a escrever a carta “Notre Charge Apostolique” de 25 de agosto de 1910, que condena a utopia da reforma da sociedade, reforma esta acariciada pelos chefes do Sillon:

“Seu sonho é trocar os fundamentos naturais e tradicionais e prometer uma cidade futura edificada sobre outros princípios que ousam declarar mais fecundos, mais benéficos do que aqueles sobre os quais se apóia a cidade católica atual (…).

O Sillon tem a nobre preocupação da dignidade humana. Mas entende esta dignidade ao modo de certos filósofos que  a Igreja está longe de elogiar. O primeiro elemento desta dignidade é a liberdade, entendida no sentido em que, salvo  em matéria religiosa, cada homem é autônomo. Deste  princípio fundamental, tira as seguintes conclusões: Hoje o povo está sob a tutela de uma autoridade diferente dele, da  qual deve-se livrar: emancipação política (…). Uma organização política e social fundada sobre este duplo fundamento: a liberdade e a igualdade aos quais logo logo se juntará a fraternidade, isto é o que chamam Democracia”.

A exemplo de Leão XIII, após haver denunciado o falso slogan de liberdade-igualdade, São Pio X deixa patente as falsas fontes do liberalismo progressista do Sillon:

“Por último, com base em todas as falsificações das noções sociais fundamentais, o Sillon dá uma falsa idéia da dignidade humana. Segundo ele, o homem não será verdadeiramente homem, digno deste nome, senão no dia em que tenha adquirido uma consciência esclarecida, forte, independente, autônoma, sem necessidade de mestres, que obedeça somente  a si, capaz de assumir e levar avante as maiores responsabilidades. Estas são as palavras com que se exalta o sentimento do orgulho humano(…).

Mas como! Inspiram em vossa juventude católica a desconfiança de sua Mãe, a Igreja; ensinam que em dezenove séculos ela não conseguiu constituir no mundo a sociedade sobre suas bases verdadeiras; que Ela não compreendeu as noções sociais da autoridade e da liberdade, da igualdade, da fraternidade e da dignidade humana.

O sopro da Revolução passou por lá (…). Nós não temos que demonstrar que o advento da democracia universal não afasta a ação da Igreja no mundo (…).

São Pio X denuncia então o indiferentismo do Sillon, irmão daquele de Vaticano II132:

“Que devemos pensar de todos estes erros e do estranho convite feito a todos os dissidentes católicos para fortalecer suas convicções pelo estudo, e tirar delas fontes sempre mais

abundantes e novas forças? Que devemos pensar de uma associação de todas as religiões em que até o livre- pensamento133pode se manifestar em alta voz e a seu gosto?”.

E o Santo Padre vai ao fundo da questão:

“De agora em diante, o Sillon não passa de um miserável afluente do grande movimento de apostasia organizado em todos os países, para estabelecimento de uma Igreja universal que não terá dogmas, nem hierarquia, nem regra para o  espírito, nem freio para as paixões (…). Conhecemos bem as escuras oficinas em que são elaboradas estas doutrinas deletérias (…). Os chefes do Sillon não conseguiram se defender delas; a exaltação de seus sentimentos (…) os levou para um novo evangelho (…) sendo seu ideal semelhante ao da Revolução, não temem proferir blasfemas aproximações entre o Evangelho e a Revolução(…).

Finalmente o Santo Pontífice conclui, restabelecendo a verdade  sobre a verdadeira ordem social:

“(…)A Igreja, que jamais traiu o bem dos povos com elogios comprometedores, não deve esquecer o passado (…) basta retomar com o concurso dos verdadeiros trabalhadores a restauração social dos organismos atingidos pela Revolução134 e adaptá-los, com o mesmo espírito cristão que os inspirou, ao novo   cenário  criado  pela   evolução  material da sociedadecontemporânea135, pois os verdadeiros amigos do povo não são os revolucionários nem os inovadores, mas os  tradicionalistas”.

Eis os termos enérgicos e precisos com que o Papa São Pio X condena o liberalismo progressista e define a atitude realmente católica. Meu maior consolo é poder dizer que sou fiel à doutrina deste Papa canonizado. Os trechos que lhes citei esclarecem notavelmente as doutrinas conciliares sobre este assunto, nas quais me deterei na continuação deste trabalho.

Do Liberalismo à Apostasia – Mons. Marcel Lefebvre

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127ObrasCompletasT.X,págs.317-318,citadopeloDTC,T-VIII,col.2489

128 Cf. dez. nº 1615.

129 PIN. 24, cf. dez. nº 1613

130 Esta obra conserva todo seu valor, apesar da condenação prudencial que  recebeu naépoca.

131 Ploncard d’Assac, “L’Eglise Occupée”, cap. XV: Une Société Secréte dans L’Eglise?

132 Cf. “Dignitatis Humanae”, nº4.

133 O livre-pensamento é uma ramificação da maçonaria.

134 São Pio X designa aqui as corporações profissionais, agentes da concórdia social, totalmente opostos ao sindicalismo, que é o agente da luta de classes.

135 A evolução compreende um progresso material e técnico, mas o homem e a sociedade permanecem submetidos às mesmas leis. Vaticano II, em “Gaudium et Spes” desprezará esta diferença, inclinando-se novamente para o programa do “Sillon”.

OS PAPAS E O CATOLICISMO LIBERAL

Resultado de imagem para marcel lefebvreO liberalismo católico é um verdadeiro flagelo”. Pio IX

O padre Roussel reuniu em seu livro121toda uma  série  de declarações do Papa Pio IX que condenam a tentativa católico- liberal de aliar a Igreja com a Revolução. Eis algumas delas, em que seria bom meditar:

“O que aflige nosso país e o impede de receber as bênçãos de Deus, é esta mistura de princípios. Direi e não me calarei; o que temo não são estes miseráveis da Comuna de Paris… O  que temo é esta desastrada política, este liberalismo católico que é o verdadeiro flagelo… este jogo de pêndulo que  destruiria a Religião. Sem dúvida, deve-se praticar a caridade, fazer o possível para atrair os extraviados; entretanto não é necessário por causa disto compartilhar com suas opiniões…”122.

*

“Adverti pois venerável Irmão (o bispo de Quimper) aos membros da Associação Católica que em muitas ocasiões    emque temos repreendido os partidários das opiniões liberais, não tínhamos em vista aqueles que odeiam a Igreja e aos quais  teria sido inútil falar; mas nos referimos aos que conservando e mantendo escondido o vírus dos princípios liberais com que se alimentaram desde o berço, sob o pretexto de não estar infectado com uma malícia clara e que, segundo eles, não é prejudicial à Religião, o transmitem facilmente às almas e propagam assim as sementes dessas revoluções que sacodem já há bastante tempo o mundo”123.
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BREVE CRÔNICA DA OCUPAÇÃO NEO-MODERNISTA NA IGREJA CATÓLICA – PARTE 4

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QUARTA PARTE: O CONCÍLIO DO PAPA JOÃO

Ângelo Giuseppe Roncalli: o futuro João XXIII

No conclave após a morte de Pio XII, o cardeal Ângelo Giuseppe Roncalli, patriarca de Veneza, foi eleito Soberano Pontífice e tomou o nome de João XXIII. O novo Papa tinha antecedentes bastante inquietantes.

Na época de seus estudos eclesiásticos, o jovem Ângelo Giuseppe Roncalli tinha se tornado amigo de certos condiscípulos já ligados ao modernismo e que deviam depois se tornar seus célebres representantes: Dom Ernesto Buonaiuti, Dom Alfonso Manaresi e Dom Giulio Belvederi, que ele encontrava todas as noites na igreja do Gesú em Roma para a visita ao Santíssimo Sacramento, mas também para inflamadas discussões “progressistas”.

Isso, evidentemente, não permite deduzir automaticamente uma adesão de Ângelo Giuseppe Roncalli ao movimento modernista, até porque naquela época ele era jovem e inexperiente. Mas pode-se legitimamente pensar que as ideias debatidas naquela época tiveram uma influência, nem que fosse indireta, sobre certos comportamentos desconcertantes que ele adotará mais tarde e também depois da sua eleição como Papa.

Em contrapartida, Roncalli foi incontestavelmente influenciado por seu amigo Lambert Beauduin, monge beneditino e famoso liturgista, censurado mais tarde devido a seu desenfreado ecumenismo irenista que dissolvia o dogma católico, e cujas ideias falsas em matéria de ecumenismo e de eclesiologia foram claramente adotadas pelo futuro João XXIII, condicionando fortemente as orientações e decisões do seu pontificado.

Dessa influência, nós já encontramos vários traços nos escritos e sermões de Roncalli da época em que era delegado apostólico na Bulgária, na Grécia e na Turquia. Em 1926, por exemplo, a um jovem seminarista búlgaro, da igreja cismática dita “ortodoxa”, que lhe perguntava se poderia seguir seus estudos na Igreja Católica, o delegado apostólico respondeu negativamente e o exortou, ao contrário, “como eu sempre fiz com todos os jovens ortodoxos, a aproveitar os estudos e a educação que recebem no seminário de Sofia [cismático evidentemente – n.d.r.], porque segundo Rocalli, “os católicos e os ortodoxos não são inimigos, mas sim irmãos. Eles têm a mesma fé, participam dos mesmos sacramentos, sobretudo da mesma eucaristia. Alguns mal-entendidos sobre a constituição divina da Igreja de Jesus Cristo nos separaram […]. Deixemos de lado as velhas controvérsias […]. Mais tarde, apesar de passar por caminhos diferentes, nos encontraremos na união das igrejas para formar todos juntos a verdadeira e única Igreja de Nossa Senhor Jesus Cristo”[1]. Continuar lendo

A MENTALIDADE CATÓLICO-LIBERAL

Resultado de imagem para marcel lefebvreUma doença do Espírito

Mais do que urna confusão, o catolicismo liberal é uma doença do espírito[112]. Simplesmente o espírito não consegue descansar senão na verdade. Basta que ele se atreva a afirmar algo para que se apresente a ele o contrário, que ele se sente obrigado a considerar também. O Papa Paulo VI é o protótipo deste espírito dividido, de um ser de dupla personalidade. Inclusive podia-se fisicamente ler isto em sua face, em constante vai e vem entre as contradições, e animado de um movimento pendular que oscilava regularmente entre a novidade e a tradição. Dirão alguns: Esquizofrenia intelectual?

Creio que o P. Clérissac viu a natureza desta doença em maior profundidade. É uma “falta de integridade de espírito”, de um espírito que não tem “suficiente confiança na verdade”[113]:

“Esta falta de integridade de espírito nas épocas de liberalismo, se explica no lado psicológico por dois aspectos: os liberais são receptivos e receosos. Receptivos porque assumem com muita facilidade os estados de espírito de seus contemporâneos; receosos porque, por medo de contrariar estes diversos estados de espírito, se encontram em constante inquietude apologética; parecem sofrer eles mesmos as dúvidas que combatem, não têm suficiente confiança na verdade, querem justificar em demasia, demonstrar em demasia, adaptar demais ou mesmo desculpar em demasia.”

Colocar-se em harmonia com o mundo

Desculpar em demasia, que expressão oportuna! Querem desculpar todo o passado da Igreja: as cruzadas, a inquisição, etc.; porém quanto a justificar e demonstrar, eles só o fazem timidamente, principalmente quando se trata dos direitos de Jesus Cristo; mas adaptar, a isso certamente eles se entregam: eis seu princípio:  

“Partem de um princípio prático que consideram inegável: que a Igreja não seria ouvida no ambiente concreto onde Ela deve cumprir sua missão divina, se Ela não se harmonizar com ele.”[114] Continuar lendo

A GRANDE TRAIÇÃO

Reconciliar a Igreja com a Revolução: tal é a empresa dos liberais que se dizem católicos.

Os liberais que se dizem católicos sustentam que a doutrina católica do Reino Social de Nosso Senhor Jesus Cristo e da união da Igreja com o Estado é sem dúvida verdadeira, mas inaplicável mesmo nos países católicos:

– Na teoria, pode-se aceitar a tese proposta pelos Papas e teólogos.

– Na prática, deve-se ceder ante as circunstâncias e resolutamente aderir à hipótese: promover o pluralismo religioso e a liberdade de cultos:

Os liberais católicos não têm deixado de sustentar que desejam a ortodoxia tanto quanto os mais intransigentes, e que sua única preocupação são os interesses da Igreja: “a reconciliação que procuram não é teórica nem abstrata, mas somente prática”[109]

É a famosa diferença entre a tese (a doutrina) e a hipótese (prática) conforme as circunstâncias. Notemos que se pode dar uma interpretação correta a esta diferenciação: a aplicação dos princípios deve levar em conta as circunstâncias; isto se faz com ponderação, que é parte da prudência. Daí vem que a presença dentro de uma nação católica de fortes minorias muçulmanas, judias e protestantes, poderá sugerir tolerância desses cultos em uma cidade basicamente católica, por um Estado que continua reconhecendo a verdadeira religião, porque acredita no Reino Social de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Mas cuidado! para os católicos liberais não se trata disso! Segundo eles, os princípios, que são por definição regras de ação, não devem ser aplicados nem propostos porque são inaplicáveis, dizem. Isto é evidentemente falso. Continuar lendo

BREVE CRÔNICA DA OCUPAÇÃO NEO-MODERNISTA NA IGREJA CATÓLICA – PARTE 3

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TERCEIRA PARTE

A CONDENAÇÃO OFICIAL DA NOVA TEOLOGlA  

O Papa Pio XII condena a nova teologia 

O cardeal Eugenio Pacelli, eleito Soberano Pontífice em 1939 com o nome de Pio XII, perfeitamente consciente das consequências letais de uma tomada de poder na Igreja pelos novos teólogos, interveio resolutamente para condenar em nome da Igreja a nova teologia e seus propagadores.

Num discurso pronunciado em 17 de setembro de 1946 no Capítulo Geral dos Jesuítas, o Papa já tinha alertado os Padres capitulares contra uma “nova teologia que evolui juntamente com a evolução de todas as coisas, semper itura, numquam perventura, “sempre a caminho (para a verdade) sem nunca atingi-la”, acrescentando estas palavras proféticas: “Se tal opinião for abraçada, o que será da imutabilidade dos dogmas, o que seria da unidade e da estabilidade da fé?[1]”.

É quase o mesmo discurso que Pio XII dirigirá depois aos padres dominicanos, reunidos também em Capítulo Geral, confirmando como antídoto contra o novo modernismo a obrigação de não se afastar da doutrina de Santo Tomás de Aquino, assim como foi prescrito pelo Canon 1366, parágrafo 2, do Código de Direito Canônico[2].

Mas os efeitos desta denúncia foram praticamente nulos por causa da profundidade da infecção neo-modernista no mundo da intelligentsia católica, a ponto de o Papa decidir intervir de modo oficial e definitivo pela publicação da encíclica Humani generis[3].

Nesta grande encíclica, que pode ser considerada como o terceiro Syllabus contra os erros da época moderna (depois do Syllabus, com a encíclica Quanta cura, do bem aventurado Pio IX, e depois do decreto Lamentabillii com a encíclica Pascendi de São Pio X). O Papa condenava severamente “certas opiniões falsas que ameaçavam arruinar os fundamentos da doutrina católica”, sem nomear explícita e individualmente seus partidários. Continuar lendo

COMO DESTRONARAM JESUS CRISTO

Resultado de imagem para marcel lefebvreNo juízo final, Jesus Cristo acusará aos que o expulsaram da vida pública, e por este grande ultraje aplicará a mais terrível vingança”. Pio XI

Apesar do risco de repetir o que foi dito, volto ao tema da Realeza Social de Nosso Senhor Jesus Cristo, este dogma de fé católica, que ninguém pode por em dúvida sem ser um herege: sim, é isso: um herético!

Ainda têm eles a Fé?

O leitor pode julgar a fé agonizante do Núncio Apostólico de Berna, Mons. Marchioni, com quem tive a seguinte conversa em 31 de março de 1976 em Berna:

– Lefebvre: “Pode-se ver claramente coisas perigosas no Concílio (…). Na Declaração sobre a liberdade religiosa há coisas contrárias aos ensinamentos dos papas: decide-se que já não pode haver Estados católicos!”.

– Núncio: “Mas é evidente!”.

– Lefebvre: “Acredita o senhor que a supressão dos Estados católicos vá ser um bem para a Igreja?”.

– Núncio: “O senhor compreende, se se faz isto se obterá uma maior liberdade religiosa entre os soviéticos!”.

– Lefebvre: “Mas o que fazem os senhores do Reino Social de Nosso Senhor Jesus Cristo?”.

– Núncio: “O senhor sabe, atualmente é impossível; talvez em futuro afastado?… Atualmente este reino está nos indivíduos; deve ser aberto às massas”.

– Lefebvre: “E o que fazem da Encíclica ‘Quas Primas’?”.

– Núncio: “Ah, hoje em dia o Papa não a escreveria”.

– Lefebvre: “Sabe que na Colômbia foi a Santa Sé que pediu a supressão da constituição do Estado?”.

– Núncio: “Sim, e aqui também”.

– Lefebvre: “No Valais?” (província suíça).

– Núncio: “Sim, no Valais. E veja, agora me convidam para todas as reuniões”.

– Lefebvre: “Então o senhor aprova a carta que Mons. Adam (bispo de Sion, no Valais) escreveu a seus diocesanos para explicar porque deviam votar a favor da lei de separação da Igreja e do Estado?”

– Núncio: “Veja o senhor, o Reino Social de Nosso Senhor Jesus Cristo, é atualmente algo difícil…”.

Vocês vêem, ele não acredita mais! É um dogma “impossível” ou “muito difícil”, que não seria mais escrito hoje”. E quantos pensam assim atualmente! Quantos são incapazes de entender que a Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo deve se realizar com a ajuda da sociedade civil, e que o Estado deve assim, nos limites da ordem temporal, ser o instrumento de aplicação da obra da Redenção. E  eles lhes responderão: Continuar lendo

TEM A IGREJA UM DIREITO PÚBLICO?

Resultado de imagem para marcel lefebvreA Igreja sem o Estado é uma alma sem o corpo. O Estado sem a Igreja é um corpo sem alma”. Leão XIII – “Libertas”

Qual é a situação da Igreja em relação à sociedade civil? A resposta é objeto de uma ciência eclesiástica especial: O Direito Público da Igreja. Pode-se consultar os excelentes tratados a este respeito, do Cardeal Ottaviani e de Sílvio Romani, como também as fontes apresentadas por Lo Grasso (ver bibliografia).

Quero mostrar-lhes quanto o liberalismo se opõe ao direito público da Igreja, como o aniquila, e por conseguinte como é contrário à fé, sobre a qual se apóia integralmente o direito público da Igreja.

Os Princípios do Direito Público da Igreja

Os princípios do direito público da Igreja são na realidade verdades de fé ou que se deduzem da fé. São os seguintes:

– Independência da Igreja: A Igreja que tem por finalidade a salvação sobrenatural das almas, é uma sociedade perfeita, dotada por seu divino fundador de todos os meios para subsistir por si mesma de maneira estável e independente. O “Syllabus” condena a proposição contráriaseguinte:

“A Igreja não é uma sociedade verdadeira e perfeita, completamente livre, nem goza de seus direitos próprios e constantes a ela conferidos por seu divino fundador, mas cabe  à autoridade civil determinar quais são os direitos da Igreja e o limite dentro dos quais pode exercer estes direitos” (prop. 19, Dz nº1719).

Esta é a escravidão à qual os liberais querem reduzir a Igreja em relação ao Estado! O “Syllabus” também condena radicalmente as espoliações às quais a Igreja é submetida em seus bens e em seus direitos, periodicamente, pelo poder civil. A Igreja nunca aceitará o “princípio de direito comum”, nunca admitirá ser reduzida ao  simples direito comum de todas as associações legais na sociedade civil, que devem receber do Estado sua aprovação e seus limites. Como conseqüência a Igreja tem o direito de adquirir, possuir e administrar livre e independentemente do poder civil os bens temporais necessários à sua missão. (código de direito canônico de 1917, cânon 1495): igrejas, seminários, bispados, mosteiros, benefícios (can. 1409-1410), e ser isenta de todos os impostos civis. Tem direito de possuir suas escolas e hospitais independentemente de qualquer intromissão do Estado. A Igreja tem seus próprios tribunais eclesiásticos para julgar os assuntos concernentes às pessoas dos clérigos e aos bens da Igreja (can. 1552), independentemente, em si, dos tribunais civis (privilégio do foro). Os clérigos também são isentos do serviço militar (privilégio da isenção-can.121).
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A LIBERDADE DE ENSINO

Resultado de imagem para marcel lefebvreO ensino deve ter por objeto unicamente coisas verdadeiras”. Leão XIII

Entre as novas liberdades, a terceira condenada pelos papas foi a liberdade de ensino.

Escandalizai-vos almas ingênuas, que não reconheceis vosso espírito liberal! Confessai que não saís de vosso assombro, que já não se compreende nada: os papas condenam a liberdade de ensino! Oh surpresa, oh escândalo! O Papa – e que papa! Leão XIII, que alguns chamam de liberal – condena a sacrossanta liberdade de ensino! Mas como defenderemos nossas escolas católicas… quer dizer, nossas escolas livres? Pois o nome de escola católica tem um ressabio de sectarismo, um sabor de guerra religiosa, um colorido muito confessional, que não convém manifestar nos tempos em cada um guarda a sua bandeira no bolso.

Farei-lhes admirar as moles e açucaradas virtudes liberais, superando-se uma à outra em hipocrisia: falta de senso, covardia e traição dão-se as mãos para cantar em coro, como nas ruas de Paris em junho de 1984, o “Cântico da Escola Livre”:

“Liberdade, liberdade, tu és a única verdade”.

O que falando claramente, significa: “não vos pedimos mais que a liberdade, um pouquinho de liberdade para nossas escolas; assim nada teremos a censurar à liberdade de ensino laica e obrigatória, à liberdade do quase monopólio da escola marxista e freudiana. Continuai tranqüilamente a arrancar Jesus Cristo das almas, denegrindo a pátria, manchando nosso passado no espírito e no coração de 80% das crianças; por nossa parte cantaremos glórias aos méritos da tolerância e do pluralismo, denunciaremos os erros do fanatismo e a superstição; em resumo, faremos apreciadores dos encantos da liberdade, aos 20% que nos restam”.
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A LIBERDADE DE IMPRENSA

Resultado de imagem para marcel lefebvre“Liberdade funesta e execrável, verdadeira opressão das massas”. Leão XIII

Se o leitor continuar a ler os documentos papais, um após outro, verá que todos disseram o mesmo sobre as novas liberdades nascidas do liberalismo: a liberdade de consciência e de cultos, a liberdade de imprensa, a liberdade de ensino, são liberdades envenenadas, falsas liberdades: porque o erro é sempre mais fácil de difundir do que a verdade, o mal é mais fácil de ser propagado do que o bem. É mais fácil dizer as pessoas: “podem ter várias mulheres” do que dizer: “só podem ter uma durante toda suas vidas”; logo é mais fácil estabelecer o divórcio como um “contrapeso” ao casamento! Assim também, deixem indiferentemente se propagar na imprensa o certo e o errado e verão com certeza o errado ser favorecido às custas da verdade.

Atualmente gostam de dizer que a verdade faz seu caminho somente com sua força intrínseca, e que para ela triunfar não necessita da proteção intempestiva e molesta do Estado e de suas leis. Se o Estado favorece a verdade, grita-se logo a injustiça, como se a justiça consistisse em manter equilibrada a balança entre o verdadeiro e o falso, entre a virtude e o vicio…Está errado! A primeira justiça é oferecer o acesso das inteligências à verdade e preservá-las do erro. É também a primeira caridade: “veritatem facientes in caritate”. Na caridade, façamos a verdade. O equilíbrio entre todas as opiniões, a tolerância de todos os comportamentos, o pluralismo moral ou religioso, são as características de uma sociedade em decomposição, que é a sociedade liberal procurada pela monarquia. Ora, foi contra o estabelecimento de uma tal sociedade que os Papas que citamos, reagiram sem cessar, afirmando o contrário, que o Estado, o Estado católico em primeiro lugar, não tem o direito de dar tais liberdades, como a liberdade religiosa, a liberdade de imprensa ou a liberdade de ensino.

A Liberdade de Imprensa

Leão XIII lembra ao estado seu dever de temperar com justiça, ou seja, de acordo com suas exigências da verdade, a liberdade de imprensa: Continuar lendo

A LIBERDADE RELIGIOSA CONDENADA PELOS PAPAS – PARTE 2

lef3MOTIVO DA CONDENAÇÃO

Como terão notado nos textos precedentes, os papas mostraram cuidadosamente as causas e denunciaram as origens liberais do direito à liberdade religiosa: trata-se de denunciar principalmente o liberalismo naturalista e racionalista, que pretende ser a razão humana o único árbitro do bem e do mal (racionalismo); que pertence a cada um de decidir se deve adorar ou não (indiferentismo); e finalmente que o Estado é a origem de todo o direito (monismoestatal).

Daí certos teólogos modernos acharam que se podiam tirar três teses:

1 – Os papas não condenaram a liberdade religiosa em si, mas somente porque ela aparecia “como conseqüência de uma concepção naturalista do homem”84ou que ela “procedia da primeira premissa do racionalismo naturalista”85, ou das duas outras: “mais do que as conseqüências, são os princípios    que

são aqui considerados: A Igreja condena o racionalismo, o indiferentismo e o monismo estatal”86, simplesmente.

– Ante as expressões concretas dos princípios modernos (luta com o poder temporal do papado, laicização das Constituições, espoliação da Igreja, etc.), faltou aos papas “a serenidade necessária para julgar com objetividade o sistema das liberdades modernas, e distinguir o verdadeiro do falso”; “era inevitável que o primeiro reflexo de defesa fosse uma atitude de condenação total”87, era difícil para estes papas “reconhecer um valor num conteúdo onde a motivação era hostil aos valores religiosos… assim se fez cara feia durante um longo tempo ao ideal representado pelos direitos do homem, porque não se lograva reconhecer neles a longínqua herança do Evangelho”88.

– Mas hoje é possível redescobrir a parte de verdade cristã contida nos princípios da Revolução de 1789 e reconciliar assim a Igreja com as liberdades modernas, com a liberdade religiosa em particular. O Padre Congar foi o primeiro a traçar o caminho que se deve seguir neste ponto: Continuar lendo

A LIBERDADE RELIGIOSA CONDENADA PELOS PAPAS – PARTE 1

lef2“A liberdade civil de todos os cultos propaga a peste do indiferentismo” S.S Papa Pio IX

Correndo o risco de me repetir, vou reunir neste capítulo os textos das principais condenações da liberdade religiosa durante o século XIX, para que os leitores entendam bem o que foi condenado e porque os papas condenaram.

A CONDENAÇÃO

Pio VI, carta “Quod Aliquantulum”, de 10 de março de 1791, aos bispos franceses da Assembléia Nacional:73

“A finalidade da Constituição decretada pela Assembléia é aniquilar a religião católica, e com ela a obediência devida aos reis. Como resultado se estabelece como direito do homem na sociedade esta liberdade absoluta que não só lhe assegura o direito de não ser perturbado quanto às suas opiniões religiosas, como também licença de pensar, de dizer, de escrever e inclusive imprimir impunemente tudo o que possa sugerir  a  imaginação  mais  desordenada;  direito  monstruoso que parece à Assembléia ser o resultado da igualdade e liberdade naturais a todos os homens. Mas o que poderia haver de mais insensato do que estabelecer entre os homens esta igualdade e esta liberdade desenfreada que parece afogar a razão, o dom mais precioso que a natureza fez ao homem e o único que o distingue dos animais.”

Pio VII, carta apostólica “Post tam Diuturnitas”, ao bispo de Troyes, na França, condenando a “liberdade de cultos e de consciência”, estabelecida pela constituição de 1814 (Luis XVIII):74

“Um novo motivo de tristeza pelo qual nosso coração ainda mais se aflige e que, confessamos, nos causa tormento, opressão e angústia, é o artigo 22 da Constituição. Nele não só se permite a liberdade de cultos e de consciência, como também promete-se apoio e proteção a esta liberdade e aos ministros dos seus chamados “cultos”. Certamente não são necessárias muitas explicações, ao nos dirigirmos a um Bispo como vós, para vos fazer conhecer claramente que ferida mortal este artigo atingiu à religião católica na França. Continuar lendo

A LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CULTOS

Resultado de imagem para marcel lefebvreSob o nome sedutor de liberdade de culto, proclama-se a apostasia legal da sociedade”. Leão XIII

Na encíclica “Libertas”, o Papa Leão XIII passa em revista as novas liberdades proclamadas pelo liberalismo. Seguirei sua exposição passo a passo66.

“Será bom considerar separadamente os diversos tipos de liberdade que são consideradas como conquistas da nossa época”.

A liberdade de cultos (ou liberdade de consciência e de cultos) é a primeira; ela é, como explica Leão XIII, reivindicada como uma liberdade moral da consciência individual e como uma liberdade social, um direito civil reconhecido pelo Estado.

“Consideremos a propósito dos indivíduos, esta liberdade tão contrária à virtude de religião, a liberdade de cultos, como chamam, liberdade que tem seu fundamento em considerar permitido a cada um professas a religião que mais lhe agrade, ou não professar nenhuma. Ao contrário, entre todas as obrigações do homem, a maior e a mais santa é sem dúvida a que nos manda oferecer a Deus um culto de piedade e de religião. E este dever vem do fato de que estamos sempre sob  o domínio de Deus, somos governados por sua vontade e providência, temos nEle nossa origem e havemos de retornar a Ele”.

Se realmente o indivíduo-rei é considerado a fonte de seus próprios direitos, é lógico que ele atribua à sua consciência uma completa independência em relação à Deus e à religião. Leão XIII considera então a liberdade religiosa enquanto direito civil67.

“Do ponto de vista social, esta mesma liberdade pede que o Estado não tribute nenhum culto público à Deus, ou não autorize nenhum culto público, que nenhuma religião seja preferida à outra, e que todas elas tenham os mesmos direitos, sem nenhuma consideração ao povo, mesmo que este professe o catolicismo”. Continuar lendo

O LIBERALISMO OU A SOCIEDADE SEM DEUS

Resultado de imagem para MARCEL LEFEBVRE“O indiferentismo é o ateísmo sem o nome” Leão XIII

Depois de haver analisado os princípios do liberalismo político, procurarei expor como o movimento generalizado de laicização que destruiu quase completamente a cristandade, tem sua fonte nos princípios liberais. É o que mostra o Papa Leão XIII em sua Encíclica “Immortale Dei”, em um texto já clássico que não se pode ignorar.

O “Direito Novo”

“A ânsia perniciosa e deplorável de novidades que surgiu no século XVI, tendo inicialmente perturbado as coisas da Religião, como natural conseqüência veio transformar a filosofia, e por seu intermédio toda a organização da sociedade civil. Daí, como de um manancial, derivaram os mais recentes postulados de uma liberdade sem freios, criados durante as grandes perturbações do século XVIII e lançadas depois como princípios e bases de um novo direito, que era até então desconhecido e discrepante não só do cristianismo, mas também, em mais de um ponto, do direito natural.

O principal entre estes princípios é que todos os homens,  sendo de uma mesma espécie e natureza, assim também são iguais em suas ações vitais, sendo cada um dono de si mesmo e de modo algum sujeito à autoridade de outro, que pode pensar em qualquer coisa que lhe ocorra e agir livremente no que lhe apetecer, e ninguém tem o direito de mandar em alguém.

Tendo sido a sociedade constituída sob estes princípios, a autoridade pública não passa da vontade do povo o qual, como depende de si mesmo, é o que se dá as ordens. Entretanto o povo elege pessoas a quem ele entrega não tanto o direito, mas apenas a função do poder para que ela a exerça em seu nome. Cobre-se assim com um manto de silêncio o poder soberano de Deus, como se Deus não existisse, ou não se preocupasse com a sociedade do gênero humano, ou como se os homens, individual ou coletivamente, nada devessem a Deus, ou como se fosse possível imaginar alguma forma de domínio que não tivesse em Deus sua razão de ser, sua força e toda sua autoridade. Continuar lendo

JESUS CRISTO É REI DAS REPÚBLICAS?

Resultado de imagem para marcel lefebvreNão é a maioria que faz a verdade, é a verdade que deve fazer a maioria.

Ainda tenho muito a dizer sobre o liberalismo. Mas gostaria que compreendessem bem que não são minhas opiniões pessoais que proponho. Por isso cito documentos dos papas e não sentimentos meus, que facilmente poderiam ser atribuídos a uma formação recebida no Seminário Francês de Roma. O Padre Le Floch, que era superior, teve com efeito uma reputação muito grande de tradicionalista. Dirão de mim: “foi influenciado pelo que lhe foi dito no seminário!”. Não nego esta influência, mas também agradeço todos os dias a Deus o fato de me haver sido dado como superior e mestre o Pe. Le Floch. Ele foi acusado na época de fazer política; Deus sabe que é o oposto a um crime, o fazer a política de Jesus Cristo e suscitar homens políticos que usem todos os meios legítimos, inclusive jurídicos, para expulsar da sociedade  os inimigos  de  Nosso  Senhor  Jesus  Cristo49.  Na  realidade  o  Pe. Le Floch nunca se meteu com a política, nem sequer no pior    momento do “complot” armado contra a “Action Française”50 e da crise que se seguiu, quando eu era seminarista.

Por outro lado, o Pe. Le Floch nos falava constantemente do perigo do modernismo, do “sillonismo”, do liberalismo. Baseando-se nas encíclicas dos papas, o Pe. Le Floch chegou a firmar em nós uma convicção segura e sólida, baseada na doutrina imutável da Igreja, sobre o perigo destes erros. Desejo transmitir-lhes esta mesma convicção, como uma chama que se transmite à posteridade, como uma luz que os preservará destes erros que reinam hoje mais do que nunca “in ipsis Ecclesiae venis et visceribus”, nas veias e mesmo nas entranhas da Igreja, como dizia São Pio X.

Vocês compreenderão assim que meu pensamento político pessoal sobre o regime que melhor convém, por exemplo para a França, não tem muita importância. Os fatos falam por si mesmos: a monarquia francesa nunca conseguiu realizar o que conseguiu a democracia: cinco revoluções sangrentas (1789, 1830, 1848, 1870 e 1945), quatro invasões estrangeiras (1815, 1870, 1914 e 1940), duas desapropriações dos bens da Igreja, expulsões de ordens religiosas, supressão de escolas católicas, laicizações de instituições (1789 e 1901), etc. No entanto, dirão alguns, o Papa Leão XIII pediu o “ralliement”51 dos católicos franceses ao regime republicano52 (que provocou uma catástrofe política e religiosa). Outros criticam esta atitude de Leão XIII, classificando-a e a seu autor, de liberal. Não creio que ele fosse um liberal e muito menos um democrata. Acreditou apenas suscitar uma boa combinação para o bem da religião na França; mas vê-se claramente que esquecia a origem da constituição irremediavelmente liberal, maçônica e anti-católica da democracia francesa. Continuar lendo

DESIGUALDADES NECESSÁRIAS

Resultado de imagem para marcel lefebvreUm Individualismo Antinatural

Continuaremos a análise do princípio do liberalismo: ele é antinatural, diz o Cardeal Billot, “ao pretender que tudo deve ceder ante o bem da liberdade individual, que as necessidades sociais multiplicaram os empecilhos a esta liberdade, e que o regime ideal para o homem é aquele em que reina a lei do puro e perfeito individualismo”. Ora, continua o autor, “este individualismo é absolutamente contrário à natureza humana”.

Vocês já viram que se trata do liberalismo individual de Jean Jacques Rousseau, que se encontra por toda parte no fundo de todo pensamento político atual. De acordo com Rousseau, os homens nascem livres de toda coação, “anti-sociais” por natureza, feitos para viver isolados na selva, onde são felizes. A origem de seus males e das desigualdades está na introdução da propriedade privada, que dá origem às rivalidades: um “estado de guerra de todos contra todos”. Se os homens se agrupam em sociedades, não é por uma necessidade de sua natureza, mas unicamente por decisão de sua livre e espontânea vontade, como uma escapatória a este estado no qual   “o homem é um lobo para o outro homem”. A sociedade nada tem de natural, é puramente convencional em sua origem histórica e em sua constituição: esta convenção é um “contrato social”.

Toda esta teoria, cuja análise nós tiramos do livro do padre Baltasar Argos S.J.41, havia sido refutada anteriormente, e especialmente por São Tomás de Aquino, que demonstra a natureza social do homem, pondo em evidência que o homem é o animal mais provido de meios naturais para subsistir de modo autônomo quando vem ao mundo e que os homens, mesmo na idade adulta são incapazes de satisfazerem sozinhos a todas as suas necessidades; devem portanto ajudar-se mutuamente42. Gostaria de lhes apresentar uma página admirável do pensador político contemporâneo Charles Maurras (1868-1952), que seguindo São Tomás refuta magistralmente a teoria individualista e igualitária de Rousseau43. Contudo, parece- nos bastante indicar o que ensina Leão XIII, em relação a este assunto em sua encíclica sobre a origem do poder político:

“O grande erro destes filósofos está em não ver algo, que entretanto é evidente: os homens não constituem uma raça selvagem e solitária; a condição natural de viver em sociedade é anterior a qualquer decisão de sua vontade”44.
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BENÉFICAS COAÇÕES

Resultado de imagem para marcel lefebvreNão considereis que estais obrigados, mas a que estais obrigados, se é ao bem ou ao mal”. Santo Agostinho

Como lhes disse, o liberalismo faz da liberdade de ação, definida no capítulo anterior, uma liberdade de toda coação, um absoluto, um fim em si. Deixarei ao Cardeal Billot a análise e contestação desta pretensão fundamental dos liberais:

“O princípio fundamental do liberalismo, escreve ele, é a liberdade de toda coação, qualquer que seja, não só daquela que se exerce pela violência e que somente atinge os atos externos, como também da coação que provém do temor das leis e penalidades, das dependências e necessidades sociais, ou resumindo, dos laços de qualquer natureza que impeçam o homem de agir segundo sua inclinação natural. Para os liberais, esta liberdade individual é o bem por excelência, o bem fundamental, inviolável, ao qual tudo deve ceder, excetuando talvez o que exige a ordem puramente material da cidade; a liberdade é o bem ao qual tudo mais está subordinado; ela é o fundamento necessário de toda construção social”36.

“Este princípio do liberalismo, continua o Cardeal Billot, é absurdo, antinatural e quimérico”. Eis a análise crítica que ele desenvolve; eu resumo e comento:

O Princípio Liberal é Absurdo

Este princípio é absurdo: “incipit ab absurdo”, começa com a insensatez de pretender que o principal bem do homem é a ausência de todo liame que atrapalhe ou restrinja a liberdade. Realmente o bem do homem deve ser considerado como um fim: aquilo que é desejado em si. Vejamos porém que a liberdade, a liberdade de ação, é somente um meio, é somente a faculdade que pode permitir ao homem adquirir um bem. É portanto relativa ao uso que se faz: boa se é para o bem, porém má se é para o mal. Não é portanto um fim em si mesma e certamente não é o fim principal do homem.
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LEI E LIBERDADE

Resultado de imagem para marcel lefebvreA liberdade consiste em poder viver mais facilmente conforme as prescrições da lei eterna, com o auxílio das leis civis”. Leão XIII

Não poderia resumir melhor os desastres produzidos pelo  liberalismo em toda parte, expostos no capítulo precedente, do que com uma passagem de uma carta pastoral de bispos, que data de cem anos atrás, mas continua atual.

“Atualmente, o liberalismo é o erro capital das inteligências e  a paixão dominante em nosso século. Forma uma atmosfera infecta que envolve por todos os lados o mundo político e religioso, e é um imenso perigo para o indivíduo e para a sociedade.

Inimigo tão gratuito e cruel da Igreja Católica, amontoa em desordem insensata todos os instrumentos de destruição e morte, com a finalidade de proscrevê-la da terra. Falsifica as idéias, corrompe os juízos, adultera as consciências, irrita os temperamentos, incendeia as paixões, submete os governantes, subleva  os  governados,  e  não  satisfeito  em  apagar  (se isto

fosse possível) a chama da revelação, lança-se inconsciente e audaz para apagar a luz da razão natural”29.

Enunciado do Princípio Liberal

Será possível descobrir no meio de tal caos, num erro  tão multiforme, o princípio fundamental que explica tudo? Repetimos com o padre Roussel: “o liberal é um fanático da independência”. É um fato e procuraremos explicá-lo.

O Cardeal Billot, cujos tratados teológicos foram meus livros de estudo na Universidade Gregoriana e no Seminário Francês de Roma, dedicou ao liberalismo algumas páginas brilhantes e enérgicas, em seu tratado sobre a Igreja30. Ele enuncia o princípio fundamental do liberalismo:
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