Por Dardo Juán Calderón
Fonte: In Exspectatione – Tradução: Dominus Est
Parece ser Gabriel Tarde quem descobriu este assunto da Micropolítica, que trata de que, pelo fato de vivermos em sociedade, nós, os homens comuns – que não participamos da Alta Política ou Macropolítica – mesmo assim “fazemos política” desde as estruturas básicas da sociedade; e que essa atividade é muito mais influente na macropolítica do que se pensa levianamente.
Essa influência faz com que os manipuladores modernos da política, depois de seguir os sábios conselhos de Maquiavel, tenham dado grande importância à manipulação da “micropolítica”. Tarde discutiu com os outros gênios da sociologia que diziam que esses fenômenos básicos não são políticos, mas psicológicos, mas o fato é que ganhou Tarde; que mais vale tarde do que nunca, porque isso havia sido dito por Aristóteles, e foi a principal atividade política da Igreja católica – fazer famílias cristãs – por séculos. Mas a questão é que os sociólogos descobriram esse campo de estudo e escreveram enormes monsergas sobre o assunto, sendo um dos mais destacados e usados na atualidade a obra de Gilles Deleuze, bibliografia obrigatória há muitos anos na formação dos licenciados em Ciências Políticas.
O assunto da lei do aborto em nosso país torna atual uma reflexão sobre o tema; as estruturas básicas de uma sociedade parecem, em tais circunstâncias, influenciar os caminhos da Macropolítica, mas cabe discerni-lo à luz dessas considerações se influenciaram para cima ou se foram manipuladas por cima. Reflexão também necessária pelo fato de que as famílias católicas – e se ainda há algumas estruturas um pouco mais complexas que podem ser chamadas católicas – têm como única possibilidade de influenciar na alta política a ação, através de estruturas e condutas de base, já que o Estado laico não permite chegar a seus mais altos escalões professando uma religião. Pode chegar um católico em seu foro íntimo, mas não se pode exercer a função enquanto tal, pois deve reconhecer o caráter estritamente laico de sua função, a liberdade de cultos e outras lindezas que são incompatíveis com a condição de católico íntegro – mas compatíveis com a de católico modernista. E o pior é que a “função” se exerce desligada de toda representação real de interesses; como membro de uma burocracia cujo objetivo final se desconhece – se é que existe um (como veremos). Continuar lendo