UMA LEITURA CUIDADOSA? SOBRE AS FUTURAS SAGRAÇÕES NA FSSPX

As sagrações episcopais de 1988 por Lefebvre não criaram um cisma?

Pe. Jean-Michel Gleize, FSSPX

Fonte: Courrier de Rome n° 687 – Tradução: Dominus Est

DA ENDOXA À CIÊNCIA.

1. A endoxa(1) equivale somente a uma probabilidade, que normalmente fornece a presunção necessária em favor da verdade declarada. O fato é que ela não passa, nem mais nem menos, de uma opinião seriamente fundamentada. Ela difere, como tal, da ciência, que sozinha pode fornecer uma verdadeira certeza. Essa certeza da ciência se baseia na evidência fornecida por argumentos verdadeiramente demonstrativos, que diferem, como tal, do simples sinal que advém da adesão quase unânime da grande maioria das pessoas à verdade em questão. Para ir além da endoxa, é necessário, portanto, recorrer a uma demonstração científica e, neste caso, em matéria teológica, esta nasce no argumento de autoridade que representa o ensinamento do Magistério.

2. A compreensão adequada disso requer certo domínio. E isso deve ser alcançado particularmente em uma matéria como a eclesiologia, cujos dados essenciais estão diretamente envolvidos na solução das graves dificuldades da atualidade. O autor do panfleto publicado na edição de 27 de março de 2025 do site da revista La Nef reconhece isso, afinal: “Alguns defensores da FSSPX sustentam que D. Lefebvre não cometeu um ato cismático, pois, de acordo com eles, a prerrogativa de escolher os bispos não seria uma prerrogativa que pertence ao Papa por direito divino, mas apenas por direito eclesiástico. No entanto, o direito eclesiástico pode reconhecer exceções em casos de estado de necessidade, o que permite a justificação das sagrações. O Pe. Gleize, teólogo oficial da FSSPX, resume bem essa posição em seus escritos. No entanto, ele reconhece que, se sagrar um bispo contra a vontade do Papa for proibido por direito divino, logo, as sagrações de 1988 seriam cismáticas. Portanto, essa é única premissa que deve ser examinada. E isso se dá por meio de uma leitura diligente do Magistério”. Continuar lendo

OPUS DEI: UM ESTRANHO FENÔMENO PASTORAL

Opus Dei – Wikipédia, a enciclopédia livre

Fonte: SSPX USA Tradução anônima

por Nicolas Dehan

LEIA TAMBÉM: A OPUS DEI, VISTA POR RUBÉN CALDERÓN BOUCHET

Em 17 de maio de 1992, uma cerimônia grandiosa na Praça de São Pedro, em Roma, revelou ao mundo o nome de um homem e de sua obra que até então eram praticamente desconhecidos do público em geral.

Diante de 46 cardeais, 300 bispos e 300.000 peregrinos, João Paulo II celebrou a missa de beatificação de Josemaria Escrivá de Balaguer, o fundador do Opus Dei.

Essa “obra de Deus” tem trabalhado discretamente por mais de sessenta anos, tão discretamente que alguns de seus oponentes a descreveram como maçonaria clerical.

Josemaria Escrivá, que morreu em 1975, subiu do altar com uma velocidade surpreendente: 17 anos. A mídia, é claro, aproveitou o sensacionalismo do evento, pois trata-se de algo raramente visto na história da Igreja, quando se considera o tempo que levou — 170 anos — para definir as virtudes heroicas de um apóstolo genuíno para as massas como Louis-Marie Grignion de Montfort.

A lógica nos leva a crer que uma necessidade justificou a introdução urgente da causa e a aceleração do processo de beatificação, que foi aberto em 1981, seis anos após sua morte. Continuar lendo

ESPECIAIS DO BLOG: A MISSA NOVA

La nouvelle messe • LPL

Em mais uma “Operação Memória” de nosso blog, colocamos abaixo alguns textos/vídeos/estudos que publicamos sobre a missa nova:

OBEDIÊNCIA E FIDELIDADE

Pelo Padre Giuseppe Pace

Fonte: Salve Regina – Tradução: Gederson Falcometa

Este artigo foi escrito pelo já falecido Padre Giuseppe Pace em 1978, que depois foi publicado no volume Zibaldone (de Frei Galdino da Pescarenico, Editiones Sancti Michaelis, pg. 42-45).

Apesar de o artigo ressentir de elementos ligados ao tempo em que foi escrito, o tempo das reformas “ad experimentum”, por exemplo, esse mantém toda a sua atualidade em repetir o verdadeiro sentido da obediência intimamente ligada a fidelidade … a fidelidade a Deus mais que aos homens.

Os negritos são da Unavox

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Muitos ingleses obedeceram aos seus bispos, e tornaram-se Anglicanos, primeiro cismáticos e então, heréticos. Do mesmo modo no tempo de Ário, muitos fiéis, obedeceram aos seus bispos e se tornaram Arianos.

Eis porque não é possível meditar sobre a obediência sem ter também presente a fidelidade.

Os Apóstolos se recusaram obedecer ao Sinédrio, embora sendo o Sinédrio a suprema autoridade de todos os Judeus, e então também dos Apóstolos: ”É preciso obedecer antes a Deus que aos homens” (Atos V, 29).

Quando São Paulo, não apenas não se conformou a conduta de São Pedro, apesar da mesma estar se tornando norma de conduta universal, acolhida por personagens de primaria importância como São Barnabé: mas precisamente porque estava para se tornar norma de conduta universal, com inelutáveis consequências doutrinais, São Paulo resistiu em face a São Pedro “In faciem ei restiti, quia reprehensibilis erat” (Gal. II, 12). Continuar lendo

BOLETIM DO PRIORADO PADRE ANCHIETA (SÃO PAULO/SP) E MENSAGEM DO PRIOR – AGOSTO/25

Imagens de Jesus sacred heart sem royalties | Depositphotos

Caros fiéis,

Segundo a expressão de Santo Agostinho, o mundo após o pecado original era “uma massa condenada” sob o domínio do demônio. Esse império das trevas recebeu o golpe fatal com o triunfo de Nosso Senhor na Cruz. No entanto, a guerra não havia terminado. O triunfo final da Igreja é certo, assim como a derrota de Satanás no fim do mundo. Enquanto isso, a batalha continua. O Batismo arranca almas do demônio, que tenta reconquistá-las. E, como soldados no campo de batalha, os padres que dão a absolvição recuperam para Deus o terreno das almas cedidas, por um tempo, ao demônio por nossa covardia. Consequentemente, o inimigo da humanidade dedica um ódio particular ao padre e ao sacramento da Confissão. Nos Estados Unidos, na Austrália, na França e em outros países, o sacramento da Penitência é atacado. Isso não deve nos surpreender. O ângulo de ataque é o segredo da Confissão. O argumento é simples: o segredo da confissão protege os criminosos.

Tudo isso não passa de um pretexto. Compreende-se bem que ninguém se confessaria, especialmente os criminosos, se o padre não fosse obrigado a guardar segredo. Muitas vezes, o confessionário é o único lugar onde podemos nos aliviar de segredos pesados e receber conselhos e encorajamentos adequados às situações pessoais. O culpado encontra a oportunidade de tomar consciência e corrigir-se. A vítima encontra apoio e força para falar . A salvação das almas continua a ser a prioridade da Igreja, que, logicamente, obriga o padre ao sigilo sob pena de excomunhão. Isso não agrada ao demônio, que gostaria de ver os pecadores afastados da absolvição. Santo Cura d’Ars foi o pesadelo do demônio. Deus lhe deu o dom de conduzir as almas; ele inspirava o gosto, quase a fome da confissão: lia nas consciências, dizendo a cada uma a verdade, e aconselhava com algumas palavras luminosas e sábias. Levantava-se à meia-noite e ia para a igreja uma hora depois; confessava aqueles que o esperavam; depois da missa, recomeçava até a hora do catecismo, que acontecia antes do meio-dia. Por volta da uma da tarde, ele estava novamente na igreja para confessar até a hora da oração da tarde. Passou de dezesseis a vinte horas por dia no confessionário durante mais de trinta anos. Este santo bem conhecido nos permite apresentar outro que foi canonizado no mesmo dia pelo Papa Pio XI, há um século, em 31 de maio de 1925. Continuar lendo

O “SUBSISTIT IN” E A NOVA CONCEPÇÃO DE IGREJA

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

“A questão da Igreja e de sua constituição, as novas abordagens e perspectivas que o Concílio Vaticano II traz sobre a Igreja estão no centro de um debate teológico que nos leva a questionar a ortodoxia de vários de seus textos. Não se pode deixar de estudá-los se se quer compreender as questões de um debate cinquentenário, que não deve se perder nas falsas pistas de uma correta ou má recepção dos textos, que, na verdade, estariam em conformidade com a doutrina da Igreja Católica, de uma correta ou má interpretação ou hermenêutica desses mesmos textos, moldadas conforme as intenções de ruptura, que iriam além daquelas do magistério conciliar. O pressuposto de que os textos são necessariamente isentos de erros esterilizaria qualquer exame teológico sério.”

Assim, a novidade que a expressão “subsistit in” – que associa a Igreja de Cristo subsistindo na Igreja Católica – constitui para todos pode ser qualificada como estratégica. Ela é estratégica do ponto de vista do novo ecumenismo implementado e propagado pelos Papas conciliares e pós-conciliares.

Recordemos que o ecumenismo moderno busca em todas as religiões cristãs o menor denominador comum, a fim de recuperar a unidade perdida. Isso sempre foi condenado, até 1949, por Pio XII [1]. O ecumenismo, no sentido católico, busca renegar as comunidades cristãs dissidentes para integrar a única Igreja de Cristo, que é a Igreja Católica, única arca e fonte de salvação. Quanto ao diálogo inter-religioso, nascido do movimento e extensão do ecumenismo moderno, busca, por meio do debate aberto entre representantes de religiões não cristãs, promover a paz e o intercâmbio sobre os valores éticos, excluindo qualquer proselitismo [2]. Continuar lendo

15 DE AGOSTO: RECORDAÇÃO DO MILAGRE DO PAPA PIO VII

É pouco conhecido mas, em 15 de agosto também se recorda o chamado “milagre do Papa Pio VII Chiaramonti”.

Fonte: Scuola Ecclesia Mater – Tradução: Dominus Est

Milagre de Pio VII, Museu Britânico, Londres

De fato, neste dia, em 1811, enquanto era celebrada a Santa Missa, o Papa, então prisioneiro de Napoleão, foi sequestrado em êxtase e começou a levitar, de uma forma não muito diferente do que aconteceu com São José de Copertino. Isso demonstrava o profundo espírito de oração e contemplação daquele santo pontífice, que se formou no mais genuíno espírito beneditino. Não por acaso ele tinha sido abade da Abadia romana de São Paulo Fora dos Muros: uma posição que, em um passado distante, havia sido ocupada por São Gregório VII.

Jacques-Louis David, Pio VII e o cardeal Giovanni Battista Caprara Montecuccoli. Estudo para a Coroação de Napoleão, 1811 – Pio VII defendeu os Estados Papais contra os ataques de Napoleão

O episódio da levitação do Papa Chiaramonti suscitou grande admiração e espanto mesmo entre os vários soldados franceses que o vigiavam e que se viram testemunhas involuntárias do acontecimento.

UMA TRIPLA E ESPANTOSA CONFUSÃO

Obediência

Fonte: Courrier de Rome nº 679 – Tradução: Dominus Est

Pelo Pe. Jean-Michel -Gleize, FSSPX

Esse texto é continuação do: A FRATERNIDADE SÃO PIO X: SOB ARTILHARIA DE SEIS OBJEÇÕES

1. Observemos também, como que para concluir, que a leitura que o Padre Vernier faz de nossa tese é surpreendente. Pois em pelo menos três pontos a avaliação que ele faz é, se não uma extrapolação, pelo menos um mal-entendido difícil de entender.

Negar a indefectibilidade da Igreja?

2. O mais importante e o mais grave desses mal-entendidos consiste em nos imputar a negação prática da indefectibilidade da Igreja. Ao descrever qual seria a posição da FSSPX como a apresentaríamos, o Padre Vernier escreve: “Se o dogma da indefectibilidade da Igreja e suas implicações necessárias permanecem sempre teoricamente válidos, mesmo em tempos de crise provocada pela hierarquia, algumas de suas implicações práticas podem deixar de ser aplicadas em virtude da prudência. De fato, para o nosso autor, como essas implicações não parecem absolutamente necessárias, ele admite que a posição da FSSPX difere apenas prudencialmente do alegado sedevacantismo oculto”.

3. No entanto, essa citação é dada na nota 5 de nosso artigo na edição de abril de 2024 do Courrier de Rome, onde escrevemos exatamente o seguinte: “O zelo do Padre Vernier, sem dúvida, tem algo de cavalheiresco, e o ardor com que ele se propõe a destruir qualquer coisa que possa parecer lançar dúvidas e pôr em perigo o dogma da indefectibilidade da Igreja, bem como sua visibilidade, teria, em outras circunstâncias, merecido aprovação irrestrita. Infelizmente, esse zelo e esse ardor são claramente desproporcionais às circunstâncias da crise que ainda assola, e se agrava cada vez mais, dentro da santa Igreja”. Continuar lendo

MUNDO, MUNDO…

Gustavo Corção – Conservador ardente | Pro Roma Mariana

Gustavo Corção

Entre os belos Cantos Eucarísticos do grande poeta místico que foi Santo Tomás de Aquino, vêm-nos à memória estes versos.

Solum expertus potest scire

quid sit Jesum diligere

Traduzimos, sem sabermos traduzir o sabor original: “Somente aqueles que o experimentaram podem saber o que seja o amor de Jesus”. Ou, “somente os que por experiência sabem…”.

Todos os mestres místicos ensinaram que a contemplação infusa é uma “quase experiência de Deus”. Por que “quase”? Este termo parece restritivo, e portanto impróprio para definir a mais alta de todas as aventuras da alma humana, a subida do Carmelo ou do Calvário, nas pegadas de um Deus que por nós se deixou crucificar. É por isso mesmo, aliás, que nunca poderemos encontrar termos próprios para exprimir a sobrenatural aventura. A linguagem dos místicos é inevitavelmente hiperbólica, antitética e metafórica; e é aqui, mais do que na poesia, que se aplica o que disse Rimbaud: que tentava dizer o indizível.

No caso em questão, Santo Tomás ousa empregar o termo “experimentar” quando canta, mas seus discípulos, quando tentam explicar o canto de maior linguagem especulativa, recuam diante do termo que traz sobre si uma pesada carga de conotações empíricas e carnais. E até ensinam que na subida do Caminho da perfeição o desejo de experiências sensíveis, sejam elas embora feitas do mais piedoso afeto, constituem pedras de tropeço, e até às vezes atrasos e retrocessos, porque nelas a alma se demora e se compraz no sabor e nas consolações de tal afeto. Ora, não foi este o exemplo que Jesus nos deixou na subida do Calvário. A subida mística só se fará se deixarmos para trás o lastro de terra e de carne, e se, corajosamente, aceitarmos a purificação da noite dos sentidos. Daí se explica a reserva dos mestres quando falam mais na pauta especulativa do que naquela da “experiência” ou “superexperiência” vivida na união com Deus.

* * *

Mas agora, caído em mim de tais alturas que tanto desejara ter alcançado, e das quais só ouso falar com ciência de empréstimo e de desejo, imagino o leitor a interpelar-me: — A que vêm todas essas considerações em torno da experiência mística, e dos cantos eucarísticos de Santo Tomás, quando falávamos da agonia da Espanha, e esperávamos comentários das efervescências nacionais em torno da denúncia em boa hora levantada por Dom Sigaud sobre a infiltração comunista na CNBB? Continuar lendo

CARDEAL JOHN NEWMAN, DOUTOR DA IGREJA?

Fonte: La Porte Latine – Tradução : Dominus Est

Pelo Padre Jean-Michel Gleize, FSSPX

1. “É necessário guardar não somente o que nos foi transmitido nas Sagradas Escrituras, mas também as explicações dos santos doutores que as conservaram intactas para nós” Assim fala Santo Tomás de Aquino, ele mesmo qualificado, posteriormente, como “Doutor Comum da Igreja”[1]. Tal reflexão não é letra morta, se considerarmos que as obras do doutor angélico comportam cerca de 8000 citações dos “santos doutores”.

2. O termo “doutor” pode ser compreendido em sentido lato e impróprio, designando o teólogo tomado enquanto tal. O mesmo termo também pode ser entendido em sentido estrito e próprio e é um título dado “oficialmente pela hierarquia da Igreja[2] aos escritores eclesiásticos notáveis pela santidade de vida, pela pureza da ortodoxia e pela qualidade da ciência”[3]. Melchior Cano[4] mostra no que os doutores se distinguem dos Padres da Igreja, título este que é reservado a pessoas que viveram nos primeiros séculos[5]: os Padres dos primeiros séculos não são todos doutores, e nem os doutores são todos Padres do primeiro século. De fato, os doutores constituem, junto com os Padres, duas espécies diferentes de testemunho sobre os quais o Magistério da Igreja tem a possibilidade de se apoiar para indicar o sentido autêntico da doutrina divinamente relevada nas Escrituras. Tanto entre os Padres como entre os doutores (é o ponto comum que faz de ambos testemunhas autorizadas) é necessária a ortodoxia, ou seja, a conformidade perfeita de seus ensinamentos com o depósito revelado. A diferença é que nos Padres é necessária a antiguidade, enquanto nos doutores é necessária a erudição; ou seja, uma ciência eminente a qual pode ser apontada extensamente em razão da extensão de seus escritos, ou em razão da sua intensidade, ou em razão da profundidade de seu gênio. A auréola dos Doutores, diz Santo Tomás, é a recompensa de sua ciência, ou seja, o fruto da vitória que eles recebem ao expulsar o diabo das inteligências[6]. Outra diferença: o título de Doutor é objeto de uma atribuição oficial que se realiza por decreto solene do Soberano Pontífice e pelo preceito que lhe é dado de celebrar a missa e de recitar o ofício litúrgico correspondente; o título de Padre, ao contrário, é objeto de atribuição imemorial, baseado no costume. Continuar lendo

SOBRE A CANONIZAÇÃO DO CARDEAL JOHN HENRY NEWMAN

Cardeal John Henry Newman "une" católicos e anglicanos, afirma especialista

Fonte: Courrier de Rome nº 627 | Tradução: Dominus Est

Pelo Pe. Jean-Michel Gleize, FSSPX

* texto de 2019, na ocasião da canonização do Cardeal John Henry Newman pelo Papa Francisco

1. Beatificado por Bento XVI em 2010, o cardeal John Henry Newman (1801-1890) foi canonizado por Francisco em 13 de outubro de 2019. É claro que usamos aqui as palavras “beatificado” e “canonizado” com todas as restrições impostas pela situação atual, em que, desde o Concílio Vaticano II, as novas beatificações e canonizações realizadas pelos papas são claramente questionáveis[1]. A questão aqui colocada é precisamente saber o que pensar da última dessas supostas canonizações, aquela pela qual Francisco quis levar a termo o ato iniciado por seu predecessor, propondo a toda a Igreja John Henry Newman (1801-1890) como um modelo de virtudes heroicas. Para ser justo, convém salientar que a causa da sua beatificação foi introduzida em 17 de junho de 1958, sob o Papa Pio XII.

2. Recordemos brevemente – para delimitar melhor a nossa questão – que as novas canonizações são duvidosas por dois motivos bem diferentes. O primeiro motivo é comum a estas novas canonizações e torna-as, portanto, todas duvidosas: é a reforma do procedimento, que deve preceder o ato da canonização[2]. As novas normas, promulgadas por Paulo VI em 1967 e 1969, e depois por João Paulo II em 1983, semeiam dúvidas, na medida em que não oferecem mais as garantias exigidas pelos homens da Igreja para que a assistência divina assegure a infalibilidade da canonização e, a fortiori, a ausência de erro de fato na beatificação. O segundo motivo é próprio de algumas canonizações, como, por exemplo, as de João Paulo II ou Paulo VI. A canonização define-se, com efeito, como o ato pelo qual o Sumo Pontífice declara não só que o canonizado goza da glória do céu, mas também e sobretudo que mereceu essa glória ao exercer durante a sua vida as virtudes heroicas – o que equivale precisamente à santidade – e as dá como exemplo a toda a Igreja. De fato, desde o Concílio Vaticano II, os homens da Igreja não têm mais ideias claras sobre o que deve representar a santidade, e é por isso que puderam dar como exemplo fiéis falecidos cuja vida parece incompatível com uma verdadeira heroicidade das virtudes, especialmente no que diz respeito ao exercício das virtudes teologais. A canonização de Newman já é duvidosa, como todas as outras, devido ao novo procedimento. Gostaríamos aqui de verificar o que se passa, do ponto de vista do exemplo a dar a toda a Igreja, devido à virtude heroica. Continuar lendo

A “DUALIDADE” DE NEWMAN, OU OS COMEÇOS DO “REINO DIVIDIDO” – PARTE 2

Fé e razão: Cardeal Newman será proclamado Doutor da Igreja

por Dardo Juan Calderón

O argumento de justificação

Em Newman, a consciência não é como um triste contador de culpas. Ele a situa na criação: quando Deus se fez criador, colocou a Lei do seu Ser – que é Ele mesmo – em suas criaturas. A consciência nos apresenta a verdade e é liberadora, é a mensageira de Deus. “Os católicos não somos escravos, nem sequer do Papa”, afirma Newman. Mas para Newman, este caráter tão positivo não implica que devamos desprezar a voz do Papa, embora destaque “a obediência devida à voz divina que fala em nós” em primeiro lugar.

“Seria um traidor um católico inglês no caso do dilema entre seguir o Papa e a sua consciência?” pergunta equiparando consciência a país; e, se olhamos bem, essa equivalência é bem de gosto liberal e supõe um país que é uma somatória de consciências individuais. E toma como exemplo os deputados católicos ingleses que se conjuraram para não admitir um rei de dinastia católica de outro pais (aos quais o Papa Pio IX obrigou a romper o juramento).

Aquela grande confiança na bondade de Deus levou à surpreendente conclusão, que tanto chamou a atenção da opinião pública inglesa, de que o católico deve seguir a consciência antes do Papa, e com isso evitou a intenção maçom de apagá-los do mapa. Um herói em toda linha, um herói de uma guerra real com consequências concretas e valoráveis, um herói cuja arma tinha sido a literatura e ali poderia ter permanecido. Continuar lendo

A “DUALIDADE” DE NEWMAN, OU OS COMEÇOS DO “REINO DIVIDIDO” – PARTE 1

John Henry Newman – Wikipédia, a enciclopédia livre

por Dardo Juan Calderón

A anedota desencadeadora

A figura de Newman coloca um urgente enigma: quem foi ele? desde o ponto de vista doutrinal e mesmo do pessoal. Defendido e atacado à esquerda e à direita, desde o modernismo que o tem por Pai do Concílio Vaticano II, e desde o tradicionalismo que, mesmo sem chegar à devoção, em sua maioria o considera “um deles”. E até mesmo desde (e perdoem-me se são suscetíveis) as organizações homossexuais que o consideram o santo patrono do clericato homossexual.

Sua obra e personalidade foram fonte das mais variadas e contraditórias interpretações, e todos pedem sua bênção sem que existam vozes críticas. Tudo em um século feroz, de combates armados, de perseguições e de muito mais combates intelectuais, de contrastes enormes, no qual esse homem havia declarado sua motivação por um encontro do religioso com o moderno e sem negar o Syllabus. Por acaso o conseguiu? Terá dado ele a chave da síntese? Era essa chave a Pessoa e sua Consciência?

Uma primeira observação pode ser feita ao perguntarmos: por que todos o querem em seu bando? Por que é uma “figura”?; e uma segunda é se um desses bandos o falsifica para puxar a brasa para sua sardinha, para ter essa “figura” estelar e mundial em seu lado. Quem, afinal, não lhe foi fiel? Continuar lendo

06 DE AGOSTO: TRANSFIGURAÇÃO DE NOSSO SENHOR

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Hoje comemoramos a Transfiguração de Nosso Senhor.

Tratando desse assunto, Santo Tomás discorre 4 artigos:

Uma Meditação de Santo Afonso de Ligório em relação ao tema pode ser lida clicando aqui.

NADA É MAIS INSPIRADOR DO QUE ESSE PERÍODO CONTURBADO

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Essas desordens nos conectam, de alguma forma, aos católicos de antigamente, dos tempos de outras crises que abalaram a Igreja.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Na vigília de Pentecostes, no início da Peregrinação de Chartres a Paris, a Missa foi celebrada pelo Pe. Gabriele D’Avino, Superior do Distrito da Itália. Reproduzimos aqui a última parte do seu sermão proferido no sábado, 7 de junho de 2025, em frente à Catedral de Notre-Dame de Chartres.

A luta pela tradição não deve ser uma luta desordenada, dispersa, puramente individual. É por isso que D. Lefebvre não se contentou em nos transmitir um ensinamento, em proferir belos sermões, ou mesmo em ordenar padres, bispos, sem um objetivo, sem uma ordem. Ele queria fundar — essa é a sua principal ação, a mais importante que realizou — queria fundar uma fraternidade sacerdotal que reproduzisse, tanto quanto possível, o espírito da Igreja. Foi assim que nos deu uma estrutura jurídica, com autoridade, com superiores.

A crise que assola a Igreja hoje certamente não acabou, muito pelo contrário. Ela já dura muito tempo, e há um risco muito concreto de desânimo, de cansaço, de querer depor as armas, descansar, de nos rendermos a uma pretensa evidência que consistiria em dizer que os homens da Igreja, as autoridades atuais, têm a maioria, que a Igreja mudou hoje e que agora precisamos nos adaptar. Continuar lendo

O PODER DA GRATIDÃO

Língua Portuguesa: a origem da palavra «Obrigado»

Uma virtude para restaurar nossa alma.

Fonte: Apostol n°198 – Tradução: Dominus Est

À medida que um ano letivo chega ao fim — e antes que o próximo surja no horizonte — as férias oferecem um momento de pausa e relaxamento, um momento para rever o ano que passou, um momento para despertar a gratidão em almas que muitas vezes estão cansadas e fatigadas.

A gratidão é o movimento que nos leva em direção àqueles que nos fizeram bem, demonstrando-lhes estima, atenção, consideração e honra. Temos o dever de agradecer a nossos pais ou benfeitores, sejam eles quem forem: é justiça para com eles. Mas, como toda boa atitude que é cultivada, a gratidão também tem o poder de colocar nosso coração em ordem e remediar muitos de nossos infortúnios; tem o poder de restaurar o equilíbrio e a simplicidade de almas perdidas e complicadas; também pode restaurar a alegria e o ímpeto do desejo e da esperança de corações deprimidos que estão afundando em uma espiral negativa. Continuar lendo

A FRATERNIDADE SÃO PIO X: SOB ARTILHARIA DE SEIS OBJEÇÕES

Obediência

Fonte: Courrier de Rome nº 679 – Tradução: Dominus Est

Pelo Pe. Jean-Michel -Gleize, FSSPX

Esse texto é continuação do: O TRADICIONALISMO “RECONHECIDO”: O FALSO DILEMA DA OBEDIÊNCIA

Não obstante a preocupação em justificar seu teorema, o Pe. Vernier pretende se apoiar em seis exemplos, seis fatos, que seriam, aos seus olhos, “por si só mais convincentes que qualquer argumento”.

A obediência ao Papa

2. Em primeiro lugar, “de modo habituala FSSPX não se submete em nada à autoridade do Papa e dos bispos unidos a ele”. As distinções que fizemos entre a autoridade e seu exercício, entre o poder e seu ato, deveriam ser suficientes para privar este primeiro exemplo de seu valor demonstrativo. A FSSPX não se submete em nada aos atos da autoridade que se mostram contrários ao bem comum da Igreja, visto que contradizem os atos anteriormente realizados pela autoridade antes do Concílio.

Agir sem jurisdição?

3. Em segundo lugar, a “FSSPX invoca um estado de necessidade generalizado na Igreja para abrir seus apostolados e ministrar os sacramentos sem nenhuma solicitação prévia aos bispos dos lugares envolvidos, arguindo uma jurisdição de suplência, quase universal, sem precedentes, nem fundamento eclesiológico e canônico sérios”. Este fato, supostamente único, correlaciona, na verdade, dois fatos: primeiro fato, a FSSPX invoca o estado de necessidade; segundo fato, a FSSPX se apoia neste estado de necessidade para utilizar a jurisdição de suplência que, tal como emprega a FSSPX, seria desprovida de todo fundamento eclesiológico e canônico sérios. O primeiro fato é evidente. O segundo é contrário à evidência. Com efeito, para provar que a jurisdição de suplência, tal como a concebe a FSSPX, seria desprovida de qualquer fundamento, o Pe. Vernier pretende se apoiar sobre um estudo publicado pelo Pe. Hervé Mercury(1): este se limita a se servir dos dados teológicos e canônicos que fundamentam a definição da jurisdição de suplência, e que a justificam; dados aos quais D. Lefebvre sempre se referiu, e que são retomados no livro oficial das Ordenanças da Fraternidade São Pio X, já citado. Em outras palavras, o argumento destinado a provar que a FSSPX se apoia sobre uma jurisdição de suplência “sem fundamento eclesiológico e canônico sérios” prova, na realidade, o contrário, ou seja, que a jurisdição de suplência, tal como a entende a FSSPX, se baseia nos mais sérios fundamentos eclesiológicos e canônicos(2) Continuar lendo

DESCONTINUIDADE: A DESVIRILIZAÇÃO DA LITURGIA E DO SACERDÓCIO NO NOVUS ORDO MISSAE

Resumo de um excelente artigo do Padre Richard G. Cipolla sobre a “desvirilização” da liturgia do Novus Ordo.

Fonte: Chiesa e Post Concilio – Tradução: Dominus Est

Aquilo a que o cardeal estava se referindo está no cerne da forma Novus Ordo da Missa Romana e nos profundos e inerente problemas que afligem a Igreja desde a imposição do Novus Ordo Missae em 1970. Pode-se ser tentado a cristalizar o que o Cardeal Heenan vivenciou como a feminização da liturgia. Mas esse termo seria inadequado e, em última análise, enganoso, visto que há um aspecto mariano autêntico na liturgia que é, indubitavelmente, feminino. A liturgia carrega a Palavra de Deus; oferece o Corpo da Palavra à Adoração e o dá como Alimento. Uma terminologia melhor poderia ser que, no rito da Missa Novus Ordo, a Liturgia foi efeminizada

[…] Quando se fala da feminização da liturgia, corre-se o risco de ser mal interpretado, como se se estivesse desvalorizando o significado de ser mulher e da própria feminilidade. Sem adotar a perspectiva um tanto machista de César sobre os efeitos da cultura sobre os soldados, pode-se certamente falar de uma desvirilização do soldado que absorve sua força e sua determinação para fazer o que deve. Isso não é uma rejeição do feminino: em vez disso, descreve o enfraquecimento do que significa ser um homem.

Este termo desvirilização é o que quero usar para descrever o que o Cardeal Heenan testemunhou naquele dia de 1967, durante a celebração da primeira Missa experimental. Continuar lendo

A BATALHA DO TRADICIONALISMO

Por Dardo Juan Calderón

Fonte: Adelante la Fe – Tradução: Dominus Est

Um mito moderno é o da autoestima e do voluntarismo: é o dizer que, por “ter fé” e por me convencer de que “eu mereço”, o que busco se tornará realidade. “Busca teus sonhos”, “faz sua vocação”, “escuta teu coração”, e toda essa série de frases feitas que levaram muitos jovens a se arrebentar na parede com a convicção de que poderiam atravessá-la. O cristianismo, desde Santo Agostinho, ensinou o desprezo a si mesmo, e se há uma entranha suspeita em nós, é nosso coração. Mas sabemos que algo de verdade esconde a farsa da autoajuda, pois o menosprezo de si mesmo e a falta de confiança nos tornam pusilânimes.

Jean-Paul Sartre tratou de salvar a aporia mediante um “menosprezo extraordinário”; ensinou a toda uma geração a comprazer-se em ser uma mérde, uma traidora e uma perversa; de antologia, muito à francesa. Com um resquício de senso católico, entendeu que não poderíamos ser bons porque seria a aceitação de uma subordinação à ideia de uma natureza; e, portanto, uma afirmação sobre a existência de Deus; que só poderíamos ser nós mesmos no mal, mal este em que deveríamos nos afundar conscientemente e com estilo. Digamos que se inverteu o paradoxo franciscano de uma humildade grandiosa por uma soberba indignante.

O assunto é que uma disposição, um anelo de grandeza é componente imprescindível para a salvação (ao rezar pedimos “o desejo do céu”), mas também requer um destino terreno decente. Destino este que não costuma ser como nós queremos em nossa ambição um tanto pueril, mas que costuma ser premiado por um resultado mais duro e tardio do que queríamos, mas maior e mais profundo do que esperávamos ou imaginávamos. Continuar lendo

O TRADICIONALISMO “RECONHECIDO”: O FALSO DILEMA DA OBEDIÊNCIA

Obediência

Fonte: Courrier de Rome nº 679 – Tradução: Dominus Est

Pelo Pe. Jean-Michel -Gleize, FSSPX

Nota do Blog: O Pe. Gleize, um dos principais teólogos da FSSPX, está há mais de um ano em franco debate na França com os Institutos Ecclesia Dei, e os textos desse debate têm sido publicados no jornal Courrier de Rome. A série de três textos que publicaremos a partir de hoje é uma dessas intervenções. Embora praticamente inexista a Fraternidade São Pedro aqui no Brasil, os argumentos lá usados contra a FSSPX são bem parecidos com os que conservadores/continuistas usam por aqui, por isso reaproveitamo-nos. 

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1. “É possível ser sedevacantista sem declarar?” Esse é o título do artigo publicado pelo Pe. Hilaire Vernier, na página de 5 de maio do site “Claves” da Fraternidade São Pedro (1). O autor desta prosa indica sua intenção nestes termos: “O artigo a seguir pretende ser uma resposta aos artigos “Cismáticos e heréticos?” e “Tradivacantistas?“, publicados pelo padre Jean-Michel Gleize (Courrier de Rome n° 674 de abril de 2024, republicado em laportelatine.org), teólogo da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), em resposta aos nossos dois artigos publicados no Claves.org em julho de 2023, intitulados “Uma Igreja sem papa?””.

2. Eis, portanto, a nossa “resposta à resposta“. A presente edição do Courrier de Rome pretende responder ao artigo supracitado. Reservamos às próximas edições a oportunidade de responder aos outros dois artigos: “É possível ser prudentemente ecclesiovacantista“, (1/2) (2) e (2/2) (3)”, nos quais o Pe. Vernier pretende desenvolver ao extremo sua resposta.

Um Falso Dilema

3. De acordo com ele, o ponto central do debate estaria na seguinte questão: “É possível apropriar-se habitualmente do poder jurisdicional da Igreja (detido pelo Papa e principalmente pelos bispos diocesanos unidos a ele) e concedê-lo a si mesmo com base em uma crise provocada pela hierarquia eclesiástica?”. Daí adviria o dilema. Se a resposta for sim, a Fraternidade São Pio X (FSSPX) entra em contradição, do ponto de vista dos princípios dogmáticos que supostamente ditam sua prudência, com os dados revelados da eclesiologia católica. Se a resposta for não, as decisões de sua prudência estão em contradição com seus próprios princípios dogmáticos. Tal dilema só pode surgir de uma questão mal formulada, e é por isso que as orientações seguidas pela prudência da FSSPX, se as examinarmos pelo que realmente são, e estabelecendo a questão como convém, escapam dela sem dificuldade. É possível verificá-lo através dos quatro pontos a seguir. Continuar lendo

OBEDEÇAM!!! – A OBEDIÊNCIA DO CATÓLICO

O Cura d'Ars e a Misericórdia - Portal Divina Misericórdia

Pelo Pe. Juan María de Montagut Puertollano, Superior da FSSPX no Brasil

Diante da aproximação de novos fiéis e do aumento das polêmicas nas redes sociais, surge o momento adequado para recordar as distinções fundamentais sobre as quais se baseia a postura da Fraternidade diante da crise na Igreja. Sempre foi nosso desejo guardar grande cautela no uso das mídias digitais, em razão do risco de deformação do conteúdo provocado pelo caráter artificial do meio, o qual põe àquele que ensina diante de um público incerto, anônimo, e potencialmente muito heterogêneo. No entanto, tendo em vista o bem dos nossos fiéis e a perplexidade das almas de boa vontade, será útil ressaltar certos princípios que fundamentam nosso apostolado.

“Uma Congregação de Padres Independentes”

Nossos detratores mais benignos nos acusam de rebeldia, dizendo que somos uma congregação de Padres independentes, exercendo um apostolado determinado pelas ideias próprias. Vale a pena recordar que a Fraternidade tem a graça de ter sido fundada por um Arcebispo cujo grande tesouro de vida sacerdotal consistia no espírito romano que adquiriu durante o seminário, realizado em Roma. Nossos Estatutos foram escritos para produzir esse mesmo espírito nos Padres e fiéis, sendo aprovados pelas autoridades competentes no seu momento. Nossos Padres vivem uma estrita vida em comunidade, o que não costuma acontecer nos ambientes modernos ou mesmo conservadores. Nosso apostolado e disciplina são determinados por uma hierarquia de superiores, o que confere à congregação grande unidade, estabilidade e solidez, por não estar fundado precisamente em apreciações individuais. Continuar lendo

APARELHOS DIGITAIS, TELAS E REDES SOCIAIS: UMA INTERPRETAÇÃO CIENTÍFICA E CATÓLICA

Fonte: FSSPX Portugal

Introdução

Os ecrãs (telas), parte integral do nosso diaadia no século XXI, remontam ao final do século XIX, com a invenção dos ecrãs de raios catódicos. Contudo, foi apenas a partir dos anos 50 do século XX, com a introdução maciça da televisão no mercado americano e europeu, que começaram a ganhar um lugar central na vida quotidiana.

Pouco tempo depois, surgem os computadores de uso comercial, nos anos 80, seguidos, por fim, pelo telemóvel digital, nos anos 2000. Assim, no espaço de pouco mais de uma geração, operou-se uma mudança gradual, mas substancial, no nosso modo de vida.

Onde antes imperavam o silêncio, o recolhimento, a socialização genuína e as amizades reais, hoje reina o ruído, a dispersão, a comunicação incessante e as amizades superficiais. O mundo moderno curvou-se perante estas tecnologias e, cedo, encontrou-se escravizado por elas.

É comum ouvir alguém de outra geração comentar que, enquanto na sua juventude os adolescentes se reuniam num campo para jogar após a escola, hoje hibernam em casa a jogar videojogos estranhos com completos desconhecidos através da internet. Embora esta queixa costume partir de pessoas simples, a observação é mais sagaz do que parece à primeira vista. Continuar lendo

SEJAM RACIONAIS: TORNEM-SE PROTESTANTES!

Observadores protestantes que participaram da reunião do “Consilium” de liturgia para o desenvolvimento da nova Missa.

O que dizer a todos aqueles que querem permanecer firmemente ligados ao Motu Proprio que fundou o movimento Ecclesia Dei, mas que consideram os fiéis da Fraternidade São Pio X como cismáticos?

Fonte: Courrier de Rome nº 681 – Tradução: Dominus Est

Pelo Pe. Jean-Michel Gleize, FSSPX

1. A celebração da Missa no âmbito da peregrinação a Chartres poderia tornar-se problemática, como já escrevemos(1). Com efeito, mesmo na melhor das hipóteses, onde as autoridades eclesiásticas não recusariam aos padres que participam dessa peregrinação celebrar de acordo com o Missal de São Pio V, ainda assim os organizadores da Peregrinação não pretendiam permitir que a missa fosse celebrada de acordo com o Missal de Paulo VI. Essa recusa coloca os católicos do movimento Ecclesia Dei em um dilema. Porque, das duas, uma: ou as razões dessa recusa coincidem com aquelas pelas quais a Fraternidade São Pio X também não aceita a celebração do Novus Ordo, razões essas que fazem dessa recusa uma atitude de princípio, e então o movimento Ecclesia Dei encorre no suposto cisma que inicialmente quis evitar ao recusar seguir D. Lefebvre; ou a dita corrente pretende manter-se fiel às suas origens, distinguindo-se por princípio da atitude adotada pela Fraternidade São Pio X, e então ela não pode tornar suas as razões pelas quais a referida Fraternidade recusa por princípio o novo Missal de Paulo VI, o que a leva, para recusar esse novo Missal, a descobrir outras razões impossíveis que, por ora, se dão ao álibi de um improvável “DNA”…

2. A mesma lógica de evitar o suposto cisma deveria levar a desconsiderar a recusa da mesma missa de Paulo VI, tal como justificada pela Fraternidade São Pio X. O meio utilizado é idêntico entre todos os detratores do combate conduzido por D. Lefebvre: é o recurso ao único argumento extrínseco da autoridade, tanto mais que a crítica interna do novo rito da Missa, do qual o Breve Exame Crítico dos Cardeais Ottaviani e Bacci representa a realização mais perfeita, deixa pouca esperança aos possíveis apologistas do Missal de Paulo VI. Continuar lendo

ESPECIAIS DO BLOG: OBEDIÊNCIA E DESOBEDIÊNCIA

Nessa coletânea, Mons. Lefebvre e padres da FSSPX desmascaram o golpe de mestre que a inteligência perversa do demônio inventou para prejudicar a Igreja pós-Vaticano II: levar à desobediência por meio da obediência.

Por outro lado, repetimos com São Pedro: “Devemos obedecer a Deus e não aos homens” (Atos dos Apóstolos), ou com São Bernardo: “Aquele que pela obediência se submete ao mal está aderido à rebelião contra Deus e não à submissão devida a Ele“.

OLAVO DE CARVALHO E O CATOLICISMO

Fonte: Editorial Revista Permanência 305

Quando Olavo de Carvalho faleceu certas pessoas manifestaram de modo enfático seus sentimentos em relação ao falecido. Seus inimigos não esconderam sua maldosa felicidade, enquanto seus discípulos extrapolaram todos os limites da sensatez, clamando por “canonização”.

Uma vez baixada a poeira e acalmados os ânimos de uns e de outros, me parece necessário esclarecer alguns pontos do que se tem falado sobre o falecido, em especial sobre sua relação com o catolicismo, de modo que as orações pela salvação de sua alma, não incline a um sentimentalismo cego e equivocado os católicos que lhe tributam algum tipo de agradecimento. Não é a primeira vez na história que antigos discípulos se veem obrigados a se afastarem de um mestre por causa da verdadeira conversão, apesar de guardarem o reconhecimento de ter sido ele um instrumento provisório e natural da conversão à fé.

Um exemplo muito parecido com o de Olavo de Carvalho é o de Henri Bergson. No fim do século XIX e início do século XX, Bergson rompeu com o materialismo cientificista da época, ensinando uma filosofia espiritualista, não católica. Sua sala de aula no Collège de France, em Paris, ficava lotada de entusiastas seguidores. Muitos se converteram ao catolicismo, e não são nomes quaisquer: Charles Peguy, Ernest Psichari, Henri Massis ou Jacques Maritain, entre outros, se converteram e se afastaram do antigo professor. Como hoje, alguns deles procuraram manter relações com o antigo mestre, por motivos sentimentais, e foram criticados pelos colegas que perceberam que continuar a frequentá-lo os levariam a diminuir o brilho de sua fé católica. Continuar lendo

16 DE JULHO – NOSSA SENHORA DO CARMO

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COMO A IGREJA DEVE RESGATAR A SACRA MASCULINIDADE ABANDONADA

Batina | Bureau '94

Fonte: Chiesa e Post Concílio – Tradução: Dominus Est

Evitando um futuro sem padres

A Igreja Católica tem um problema com padres. Um problema grave. Não do tipo que se lê nas manchetes dos jornais, mas que se vê nos seminários vazios. Do tipo que emerge das estatísticas e faz as autoridades do Vaticano suarem sob suas vestes.

Nos últimos 50 anos, os Estados Unidos perderam 40% de seus padres. A França ordena menos homens a cada ano do que a maioria das periferias produz formandos. Os seminários alemães permanecem praticamente vazios. A Irlanda luta para preencher uma única turma de seminário. A mesma instituição que sobreviveu à perseguição romana, às invasões bárbaras e a duas guerras mundiais é incapaz de convencer jovens a se tornarem padres. Algo fundamental foi rompido

A entropia espiritual não está apenas fora da Igreja, mas também dentro do presbitério. Os padres modernos passam mais tempo em reuniões de comitês do que em oração. Passam mais tempo se preocupando com os orçamentos da paroquia do que com as almas. Eles trocam a linguagem do pecado e da salvação por uma linguagem insípida de “jornadas” e “experiências vividas”. O sacerdócio foi despojado de tudo o que o tornava atraente para homens corajosos. Os primeiros sacerdotes da Igreja enfrentaram os leões, literalmente. Eles foram apedrejados, decapitados e queimados vivos. Eles sabiam que seu compromisso poderia matá-los. Mesmo assim, eles o aceitavam. Os padres de hoje enfrentam reuniões de conselhos paroquiais e comissões de planejamento litúrgico. Longe de serem guerreiros, eles são gerentes de nível intermediário. Administradores, não heróis. Continuar lendo

SALVAR O PLANETA OU SALVAR AS ALMAS

A liturgia tradicional das ordenações expressa categoricamente o significado do sacerdócio.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

O final de junho trouxe a alegria das ordenações de novos padres (veja aqui, aqui e aqui). No Rito Romano, o cerimonial prevê que a Missa iniciada pelo Bispo seja interrompida para prosseguir com os ritos de ordenação, após os quais os novos padres concelebram com o Bispo que acaba de lhes conferir a Ordem. Então, rezam juntos o que é, de fato, a verdadeira primeira Missa deles.

É notável que a primeira oração que os novos sacerdotes recitam com o Bispo, a primeira oração que eles recitam em virtude de seu ofício como sacerdotes, é a do ofertório:

Recebei, ó Pai Santo, Deus Onipotente e Eterno, esta Hóstia imaculada que eu, vosso indigno servo, vos ofereço, meu Deus vivo e verdadeiro, em reparação aos meus inúmeros pecados, ofensas e negligências, e em favor de todos os aqui presentes e por todos os fiéis cristões, vivos e defuntos, a fim de que seja útil para a salvação minha e deles na vida eterna(1).

Desde o início de sua vida sacerdotal, o novo sacerdote inicia seu ministério com seu ato principal: oferecer um sacrifício propiciatório, ou seja, um sacrifício que satisfaça ou compense os pecados que ofendem a majestade divina. Ao nos privarmos de algo legítimo em honra a Deus, compensamos de alguma forma o que arrogamos indevidamente a nós mesmos por meio do pecado. Continuar lendo