INAPTIDÃO SACRAMENTAL

PREPARAÇÃO PARA O CASAMENTO | DOMINUS EST

Que a Igreja possui poder sobre os sacramentos, isso é certo. Mas determinar a extensão exata desse poder pode revelar-se um tanto complexo.

Fonte: Courrier de Rome n° 662 – Tradução: Dominus Est

Uma situação complexa

Se um homem casado recebe o sacramento da Ordem, ele desobedece gravemente a lei da Igreja latina, mas o sacramento da Ordem é validamente recebido, desde que a matéria, a forma, o ministro e a intenção estejam presentes. Este homem casado é verdadeiramente um padre. É certo que ele está proibido de exercer seu ministério, mas se desobedecer e rezar uma Missa, esta Missa será válida. Por outro lado, se um padre tenta se casar, o seu matrimônio é inválido, em virtude de uma decisão da Igreja. Não há, portanto, paridade entre as duas situações, o que pode parecer estranho. Pode-se pensar que o matrimônio se opõe à recepção da Ordem da mesma forma e com as mesmas consequências que a Ordem se opõe à recepção do matrimônio. No entanto, no caso, a desobediência à lei da Igreja torna o sacramento apenas ilícito, enquanto no outro o sacramento é inválido, ou seja, nulo.

A Igreja não errou ao arrogar-se o poder de estabelecer impedimentos matrimoniais dirimentes, isto é, invalidantes?

Daí segue uma objeção: Continuar lendo

PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA – PARTE 5 – A IMPACIÊNCIA NAS EXPRESSÕES FÍSICAS

Why Impatience May Hurt Your Heart | Live Science

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

A impaciência nas expressões físicas (corporais) é aquela sensação involuntária de irritação que é despertada em nós por alguma causa externa e física. Estamos procurando por algo e não conseguimos encontrá-lo, estamos tentando fixar nossos pensamentos e alguns ruídos perturbadores tornam isso impossível, estamos tentando nos recompor para dormir e algum vizinho problemático nos acorda no exato momento em que o sono se aproximava.

Devido a toda essa impaciência devemos nos humilhar, como sendo um sinal de falhas cometidas no passado e não de pecado atual.

Esse tipo de impaciência física que, se antecipando a nossa razão, é, por vezes, o resultado de impaciência, orgulho e obstinação por muito tempo tolerados. O fantasma dos pecados passados reaparece para nos lembrar do que esquecemos e nos manter humildes. Continuar lendo

BOLETIM DO PRIORADO PADRE ANCHIETA (SÃO PAULO/SP) E MENSAGEM DO PRIOR – JULHO/23

Caríssimos fiéis,

Dillon Reeves poderia ter permanecido um ilustre desconhecido durante toda a sua vida. Mas desde 27 de abril deste ano, seu nome se tornou famoso. Esse jovem americano, de Michigan, percebeu que seu ônibus escolar estava andando em ziguezague. O motorista havia desmaiado e Dillon fez o veículo retomar a sua trajetória e depois o parou completamente. Tudo isso apesar de ter apenas 13 anos de idade. Por que ele foi o único a perceber a anomalia na direção? Ao contrário de seus amigos, ele não estava absorto em seu celular. Como ele soube manobrar o ônibus? Dillon não tem celular! Isso permitiu que ele observasse o motorista todos os dias. Pais, os Senhores dão um celular aos seus filhos, para que eles não fiquem isolados do mundo. Claro, eles estão em contato com o mundo, mas desconectados da realidade.

O aspecto mais surpreendente desse caso provavelmente não é o ato heroico do menino, mas a reação das outras crianças, cujas vidas talvez ele tenha salvado: depois que o veículo parou, Dillon lhes disse que pedissem ajuda. Nenhuma delas quis fazê-lo, pois estavam muito ocupadas filmando a cena. Pais, os Senhores dão um telefone celular aos seus filhos para a segurança deles. Os Senhores não estão apenas colocando em risco seus corpos e almas, mas também destruindo o altruísmo deles. A postagem supera a caridade!

Tudo isso também se aplica, é claro, aos adultos. Continuar lendo

MÊS DE JULHO, DEDICADO AO PRECIOSÍSSIMO SANGUE DE JESUS CRISTO

sangueFoste imolado e resgataste para Deus, ao preço de teu sangue, homens de toda tribo, língua, povo e raça” (Ap 5,9).

Fonte: Hojitas de Fe, 203, Seminário Nossa Senhora Corredentora
Tradução: 
Dominus Est

A Igreja dedica todo o mês de julho ao amor e adoração do Preciosíssimo Sangue de nosso Salvador Jesus. É justo que nós adoremos na santa humanidade de Cristo, com um culto especial, aquelas partes que são mais significativas de algum mistério ou perfeição divina; e assim honramos:

• SEU CORAÇÃO: para prestar culto ao seu amor infinito;

• SUAS CHAGAS: para prestar culto a suas dores e sua paixão;

• SEU SANGUE: para prestar culto ao preço de nossa Redenção.

No entanto, esse culto do Sangue do Salvador assume um caráter festivo no mês de julho e na festa com a qual este mês inicia. Já na Quinta-feira Santa celebramos a instituição da Eucaristia e na Sexta-feira Santa o Sangue de Cristo derramado por nós; mas o acento da celebração centrava-se em sentimentos de dor, de compunção, de contrição. A Igreja volta depois a dar culto à Sagrada Eucaristia na festa de Corpus Christi, e também à Paixão e Sangue do Salvador, mas com maior ênfase nos sentimentos de alegria e triunfo.

Por este culto nós agradecemos a Nosso Senhor a Redenção como uma vitória já obtida, e nos exultamos em tomar parte entre o número dos redimidos, daqueles que foram lavados no Sangue do Cordeiro. E prestamos culto de latria ao Sangue do Redentor, reconhecendo especialmente uma virtude salvadora, como se vê: Continuar lendo

30/06/23 – 35 ANOS DAS SAGRAÇÕES EPISCOPAIS EM ÉCÔNE

Imagem relacionada

Preferimos continuar na Tradição, esperando que essa Tradição reencontre seu lugar em Roma, esperando que ela reassuma seu lugar entre as autoridades romanas, em suas mentes” — Mons. Marcel Lefebvre

Introdução de Michael J. Matt (editor de Remnant) – Tradução Dominus Est

Em 1976, quando eu tinha dez anos, fui crismado pelo Arcebispo Marcel Lefebvre. Lembro-me de um homem bondoso e santo, de fala suave e verdadeiramente humilde. Mesmo ainda sendo crianças, meus irmãos e eu entendemos que ali estava um verdadeiro soldado de Cristo, que assumira uma posição corajosa e solitária em defesa da sagrada Tradição, em um momento em que não havia nada mais “hip” do que novidade e inovação. Nosso pai estava junto a ele, e esses homens eram “traddies” muito bem antes de “traddy” ser algo legal.

Lembrem-se que o mundo inteiro estava passando por um revolução na época — sexual, política, litúrgica, cultural — e “não havia nada mais antiquado do que o passado“. A resistência solitária dos primeiros tradicionalistas pôde, então, ser comparada a algo tão absurdo (aos olhos do mundo na época) como um homem na lama em Woodstock que insistisse para que os hippies colocassem suas roupas de volta e parassem de tomar ácido e fumar maconha. Ninguém se importava. Eram zombados, riam deles e, por fim, mandados que saíssem da Igreja.

Os tempos estavam realmente ‘mudando’, e com poucas exceções, o elemento humano da Igreja de Cristo acompanhou a loucura — com efeito, poder-se-ia dizer, liderando o caminho.

Quando nos lembramos do motivo desses homens terem resistido à loucura dos anos 60, lembremo-nos de que eles não foram motivados principalmente pela ideia de salvaguardar suas próprias circunstâncias. O Arcebispo Lefebvre, por exemplo, estava aposentado antes que o mundo descobrisse quem ele era. Ele foi persuadido a sair de sua aposentadoria por seminaristas que, de repente, viram-se cercados por lobos em pele de cordeito, nos próprios seminários. Os modernistas estavam, literalmente, em toda parte. Continuar lendo

É LÍCITO MENTIR EM ALGUMA CIRCUNSTÂNCIA?

Pe. Juan Carlos Iscara, FSSPX

Não há dúvida de que mentir é proibido pela Lei de Deus (8º Mandamento) e, sendo este um mandamento negativo (“Não mentir”), obriga sempre e em todo caso, diferentemente de um mandamento positivo (“Honrar pai a mãe”), que obriga apenas quando necessário.

Essa necessidade absoluta foi exposta dramaticamente por Nosso Senhor perante Caifás e o Sinédrio inteiro quando Ele respondeu claramente “Sim, tu o dizes”, o que significa: “Eu sou Cristo e o Filho de Deus”. Nosso Senhor sabia perfeitamente que essa confissão iria levá-Lo à crucifixão. Então, permanece de pé o princípio de que “não havemos de fazer o mal para que venham bens [deste mal]” (Rom 3,8)

Dito isso, não se tem a obrigação de dizer a verdade quando desnecessário fazê-lo. Além disso, tem-se o direito de distrair o interlocutor para algum outro assunto. Os moralistas permitem o uso de anfibologia (afirmação ambígua, com duplo sentido, como: “Pedro não está em casa”, significando: “Para vê-lo”) se uma pessoa prudente a entenderia dadas as circunstâncias. Semelhantemente, os moralistas explicam que não se pode simular uma ação (um ministro ardilosamente retém a intenção de dar absolvição, p. ex.), mas pode-se dissimular uma ação para fazer terceiros pensarem que se está fazendo algo quando, na verdade, não se está. Portanto, é lícito a um Padre admoestar severamente seu penitente, para dar a impressão aos outros de que está dando-lhe absolvição [quando, na verdade, não está].

Em alguns casos recentes notórios, há controvérsia e debate sobre se alguns investigadores mentiram ou simplesmente usaram anfibologia e restrições mentais amplas, ou seja, dissimulação ao invés de simulação. Não podemos, porém, permitir que o sucesso aparente de alguns vídeos enganem nosso julgamento. Se eles foram obtidos através de mentiras, seria um caso do fim justificando os meios. Os filhos da luz não podem usar os meios e armas dos filhos das trevas. A revolução deve ser combatida com a contrarrevolução e não com os princípios da própria revolução.

PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA – PARTE 4 – NA IMPACIÊNCIA

Como controlar a impaciência? Veja 6 Estratégias que podem ajudar! -  Instituto Humanizar

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

A impaciência é uma das mais insensatas de todas as falhas. Não nos beneficia em nada e não alivia nossos sofrimentos, pelo contrário, os agrava.

Ninguém goza de qualquer paz enquanto estiver cedendo a sentimentos de impaciência. A pessoa fica descontente, infeliz, inquieta… Acha intolerável o que poderia suportar muito bem se fizesse o esforço necessário e engolisse a irritação crescente ou reprimisse palavras de raiva. Ela está sempre agitada e é um incômodo para si mesmo e para todos ao seu redor. Não sei disso por experiência própria? Se não, devo agradecer a Deus por me dar uma disposição tão feliz. Continuar lendo

FESTA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

sagr

Festa do Sagrado Coração de Jesus

O Sagrado Coração de Jesus

O Sagrado Coração de Jesus – pelo Pe. Pe. Patrick de La Rocque, FSSPX

As promessas do Sagrado Coração De Jesus

Ladainha do Sagrado Coração de Jesus

Exortação à prática mais pura e mais extensa do culto ao Sagrado Coração de Jesus

Nascimento e desenvolvimento progressivo do culto ao Sagrado Coração de Jesus

Participação ativa e profunda que teve o Sagrado Coração de Jesus na missão salvadora do Redentor

Legitimidade do Culto ao Santíssimo Coração de Jesus segundo a doutrina do Novo Testamento e da Tradição

Fundamentos e prefigurações do culto ao Sagrado Coração de Jesus no Antigo Testamento

Encíclica Miserentissimus Redemptor

O BÁCULO OU O ESTETOSCÓPIO?

Durante a consagração de uma igreja, o Bispo dirige-se à intersecção do transepto onde as cinzas foram espalhadas no chão, em duas faixas que se cruzam. Com a ponta do báculo, ele traça o alfabeto grego em uma faixa e o alfabeto latino na outra (*). É o que mostra a fotografia na capa desta edição do Nouvelles de Chrétienté, tirada em 3 de maio, durante a consagração e dedicação da Igreja da Imaculada em St. Marys, Kansas, por D. Bernard Fellay.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Esta cerimônia significa que o templo consagrado pertence à Igreja Católica, cuja liturgia é celebrada principalmente em latim e grego, no Ocidente e no Oriente. Essas faixas transversais formam a letra grega Χ (khi), a primeira letra do nome de Cristo, Χριστός.

Do alfabeto grego une-se a primeira e a última letras, Α e Ω, alfa e ômega, indicando que Cristo é o princípio e o fim de todas as coisas. Trata-se de um sinal de propriedade: Cristo é, de fato, o rei de toda a terra, mas, como cabeça do Corpo Místico, Ele toma posse deste território particular que, de agora em diante, Lhe é exclusivamente consagrado.

No plano espiritual, o fato das letras serem traçadas com o báculo episcopal, em uma cruz de cinzas, mostra que a doutrina nos vem daqueles que quem tem autoridade eclesiástica, e que só é compreendida por almas humildes, e que tudo se resume em Jesus Cristo crucificado. Continuar lendo

JUNHO, MÊS PARA HONRAR O SAGRADO CORAÇÃO E FAZER REPARAÇÕES

Ora, se também por causa também dos nossos pecados futuros, por Ele previstos, a alma de Cristo esteve triste até a morte, sem dúvida, algum consolo Cristo receberia também de nossa reparação futura, que foi prevista quando o anjo do céu Lhe apareceu (Lc 22, 43) para consolar seu Coração oprimido de tristeza e angústias. 

Fonte: SSPX USA – Tradução: Dominus Est

Estas palavras, extraídas da Encíclica Miserentissimus Redemptor, escrita em 1928 pelo Papa Pio XI, convidam os fiéis a cultivar um espírito de reparação ao Sagrado Coração de Nosso Senhor. O mês de junho, que a Santa Madre Igreja designou como o mês em que se celebra a Festa do Sagrado Coração, é um tempo para os católicos fazerem visitas regulares ao Santíssimo Sacramento, oferecendo orações e sacrifícios pelos seus pecados e os de toda a humanidade.

Embora honrar o Sagrado Coração tenha raízes que remontam à Igreja primitiva, esta devoção especial ao amor ardente de Cristo pela humanidade está intimamente associada a Santa Margarida Maria Alacoque, uma freira Visitandina do século XVII no convento de Paray-le-Monial. Foi a esta humilde freira que Cristo revelou Seu desejo de que uma festa especial de reparação ao Seu Sagrado Coração fosse estabelecida na sexta-feira após a oitava de Corpus Christi (ou terceira sexta-feira depois de Pentecostes). É a partir das aparições de Nosso Senhor a Santa Margarida que surgiu a Devoção das Primeiras Sextas-feiras, prática que garante que as reparações ao Sagrado Coração sejam feitas ao longo de todos ano litúrgico.

A festa e mês do Sagrado Coração não são apenas um tempo de oração “simples” ou passageira. Pelo contrário, está ligada aos sacrifícios, com a reparação feita pelas ofensas contra Nosso Senhor. Os fiéis católicos devem se preparar para participar plenamente esse mês, com suas ações externas, penitências e horas santas desempenhando um papel vital, conforme desejado por Pio XI. Continuar lendo

O VALOR DA VIDA

Resultado de imagem para gustavo corçãoO jornal de anteontem anunciava aos berros: ABOLIDA A PENA DE MORTE NOS ESTADOS UNIDOS, e logo após enumerava os grandes criminosos beneficiados pelo penúltimo espasmo de permissiveness da grande nação agonizante. Lá estava o assassino do Senador Robert Kennedy. E demais homicidas. Quinhentos.

É fácil imaginar o dilúvio de pronunciamentos filantrópicos e humanitários que produzirão no mundo inteiro os amolecedores das consciências; como também é fácil imaginar o sagrado horror com que um deles leria, se as lesse, nossas mal traçadas linhas.

Na verdade não me parece muito difícil provar que os verdadeiros defensores do transcendental valor da vida humana são mais aqueles que reconhecem o direito que têm as sociedades de rejeitar com a máxima energia os homicidas de superlativa e intolerável crueldade do que esses outros que, em nome de uma gelatinosa complacência com os perversos, desarma e desprotege os inocentes.

Além disso cumpre notar as dimensões maiores do problema, tornadas hoje imperceptíveis por causa da universal depressão. A consciência católica, dirigida pelo Magistério, sempre aceitou a idéia de pena capital, e até sempre viu nela um recurso extremo graças ao qual os homens mais perversos recuperaram a dignidade perdida e o direito ao respeito de todos. Mais extremada ainda, dirá eu até mais provocante, parecerá aos amolecedores do mundo a idéia de que graças à pena de morte muitas almas perdidas se salvaram. E ainda mais extraordinária, para os humanitários de nosso tempo, é a coragem simples com que os santos vêem na pena de morte algo que misteriosamente os aproxima dos pobres monstros humanos que, por essa via extraordinária, ganharam infinitamente mais do que lhes oferece a filantropia. Continuar lendo

PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA – PARTE 3 – O TERCEIRO DEGRAU DA PACIÊNCIA

Fé, amor e oração

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

Quando conseguirmos suprimir toda impaciência exterior e o ressentimento interior, na medida que sejam voluntários e deliberados, começaremos a colher a recompensa de nossos esforços. Descobriremos que o tratamento que outrora consideramos intolerável tem certas vantagens daí decorrentes.

Podemos esperar, finalmente, encontrar um prazer positivo em sermos negligenciados ou tratados injustamente, em sermos humilhados aos olhos dos homens ou culpados pelo que fizemos com toda boa intenção.

Devo tentar mirar nisso. Não está fora do meu alcance.

Como posso obter essa disposição de ser mal compreendido e severamente julgado, esse desejo de rejeições e decepções? Continuar lendo

A PUREZA DOS ESPOSOS, NAS PALAVRAS DE PIO XII

La purezza degli sposi, nelle parole di Pio XII

Extrato do discurso de Pio XII aos esposos, em 6 de dezembro de 1939.

Fonte: Radio Spada – Tradução: Dominus Est

Uma alma imaculada! Quem entre vós, pelo menos em seus melhores momentos, não desejou tê-la? Quem não ama o que é puro e imaculado? Quem não admira a brancura dos lírios refletida em um lago cristalino, ou os picos nevados que refletem o azul do firmamento? Quem não inveja a alma cândida de uma Inês, de um Luiz Gonzaga, de uma Teresa do Menino Jesus?

Homem e a mulher eram imaculados quando saíram das mãos criadoras de Deus. Então, manchados pelo pecado, tiveram que iniciar, com o sacrifício expiatório de vítimas imaculadas, o trabalho de purificação que somente o “sangue precioso de Cristo, como de um cordeiro imaculado e puro” tornou efetivamente redentor.” (1 Pd, 1, 10). E Jesus Cristo, para continuar a sua obra, quis que a Igreja, sua noiva mística, fosse “sem mácula ou ruga…, mas santa e imaculada” (Ef 5, 27). Ora, é precisamente este, jovens casais, o modelo que o grande Apóstolo São Paulo vos propõe: “Homens, admoesta ele, amai vossas mulheres como também Cristo amou a Igreja” (Ef 6, 25), porque o que torna grande o sacramento do matrimônio é a sua relação com a união de Cristo e da Igreja (Ef 5, 32).

Talvez penseis que a ideia de uma pureza, imaculada se aplica exclusivamente à virgindade, um ideal sublime para o qual Deus não chama todos os cristãos, mas apenas as almas escolhidas.
Continuar lendo

SAGRAÇÕES EM 30 DE JUNHO DE 2023?

Análise moral de um boato.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

1. Talvez tenham lido isso nas redes sociais: “No próximo dia 30 de junho, em Ecône, D. Vitus Huonder, auxiliado por D. de Galarreta e por D. Fellay, conferirá a sagração episcopal a três sacerdotes membros da Fraternidade São Pio X, entre os quais D. Davide Pagliarani, Superior Geral da dita Fraternidade. Para realizar esta sagração, D. Huonder teria recebido o mandato apostólico do Papa Francisco”.

Boato

2. Isso é um boato. Ou, se preferirem, uma “fake news”, embora a palavra “fake”, que conota sobretudo a ideia de falsidade, não traduza com exatidão toda a significativa gravidade de “boato”, que conota sobretudo a ideia de rapidez, de velocidade, como um tiro

3. Não sabemos de onde os boatos partem, mas inevitavelmente circulam – principalmente na web. E a partir daí espalham-se em uma velocidade tão vertiginosa que, em pouco tempo, invadem uma cidade, uma província ou um cantão, um país inteiro. A Tradição não é exceção. Às vezes, tem-se até a impressão de que os boatos circulam mais rápido e melhor por aqui do que em quaisquer outros lugares.

4. Quem os lançou? Como eles percorrem distâncias enormes em velocidade recorde? Não se sabe. Uma coisa é certa: uma vez lançados, eles atingem multidões como se fossem transmitidos por um rádio misterioso.

5. Os boatos sempre existiram. Sempre houve e sempre haverá, até o fim do mundo, em cada indivíduo, homem ou mulher, um espectador crédulo para acolhê-los e deixar-se impressionar por eles. Mas em tempos conturbados eles encontram um clima mais favorável à sua profusão. Continuar lendo

PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA – PARTE 2 – O SEGUNDO DEGRAU DA PACIÊNCIA

Oração de joelhos

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

A repressão dos sinais externos de impaciência não tem valor aos olhos de Deus, exceto na medida em que é um passo para a virtude interior. 

O soldado, o cortesão, o servo, reprime as marcas exteriores de impaciência por medo do castigo e esperança de recompensa. O cristão deve fazer mais do que isso. Ele deve ter dentro de si o motivo de imitar a paciência de Jesus Cristo.

A fumaça é sinal de fogo no interior, mas a fumaça não aquecerá a casa se não houver fogo na lareira. Assim, a paciência exterior não agradará a Deus se não houver também o motivo da paciência dentro da alma.

Estou me esforçando para obter a virtude interior? Consegui alguma vez reprimir a impaciência exterior por amor a Cristo? Continuar lendo

BOLETIM DO PRIORADO PADRE ANCHIETA (SÃO PAULO/SP) E MENSAGEM DO PRIOR – JUNHO/23

Momento da Prece: Atos de Fé, Esperança, Caridade e Contrição

Caríssimos fiéis,

Não faltam obras de caridade na Igreja. Especialmente no Brasil, as paróquias estão cheias de generosidade. Então, por que o catolicismo está em declínio? A Igreja parece um jardim em tempo de seca, apesar de todos os esforços feitos para irrigá-la. O problema não é tanto a intensidade do esforço, mas o espírito que  o impulsiona. Podemos regar o jardim com grande entusiasmo, mas se a mangueira se soltar de sua fonte, nada adianta.

Em sua entrevista de 5 de maio de 2023, o Padre Davide Pagliarani, Superior Geral da Fraternidade São Pio X, comenta sobre o estado da Igreja sob o pontificado do Papa Francisco: “Eles defendem uma Igreja sem doutrina, sem dogma, sem fé, na qual não há mais necessidade de uma autoridade para ensinar qualquer coisa. Tudo se dissolve em um espírito de amor e serviço, sem saber bem o que significa – se é que significa alguma coisa – e para onde deve levar.

Esse é o problema. A caridade desvinculada da fé nunca será mais do que o vinho comprado pelos noivos nas bodas de Caná. Essa bebida pode dar origem a uma certa alegria na vida, mas somente o vinho milagroso de Nosso Senhor pode fortalecer e fecundar a alma que permanece unida a Ele. Continuar lendo

O MAGISTÉRIO CONTRA A TRADIÇÃO?

Pe. Pierpaolo Maria Petrucci, FSSPX

Alguns afirmam que o ensinamento atual, que chamam de magistério vivo, temo poder de interpretar de modo a modificar a Tradição. Mas o que a Igreja já ensinou de maneira infalível é imutável.

O motivo de embate entre a Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) e as autoridades romanas é a oposição daquela ao ensinamento atual na Igreja, que funda raízes no último concílio. Essa oposição é motivada pelo fato de que são agora ensinadas novas doutrinas contrárias ao ensinamento do passado.

O Vaticano nos acusa por isso de ter uma concepção errônea da Tradição e do Magistério da Igreja.

Segundo João Paulo II, a posição da FSSPX tem origem no fato de não considerar a Tradição como algo vivo, permanecendo fixados no passado. Assim se exprimiu em 1988, por ocasião da consagração de nossos quatro bispos: “A raiz deste ato cismático pode localizar-se numa incompleta e contraditória noção de Tradição. Incompleta, porque não leva em suficiente consideração o caráter vivo da Tradição(…)” 1.

Por sua vez, Bento XVI acusa a FSSPX de se ter fixado no Magistério pré-conciliar e não reconhecer, na verdade, o magistério do concílio e do pós-concílio: “Não se pode congelar a autoridade magisterial da Igreja no ano de 1962 – isso deve estar bem claro para a Fraternidade”. 2

A Tradição deveria ser viva, isto é, interpretada pelo magistério atual que nos diria hoje aquilo que é conforme ou menos conforme à Fé. Quem quisesse opor a Tradição de ontem ao magistério de hoje se arvoraria de juiz da Igreja e de seu ensinamento, substituindo-o, de fato, por seu juízo pessoal. Continuar lendo

PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA – PARTE 1 – O PRIMEIRO DEGRAU DA PACIÊNCIA

Oração não é fórmula mágica

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

Quando estamos estudando para adquirir uma virtude, geralmente, é melhor planejar começar pelas ações exteriores e, daí, seguir para as disposições interiores de onde procedem essas ações.

De acordo com esta regra, devemos começar por reprimir todos os sinais de ressentimento e raiva quando formos ofendidos, quando alguém nos contrariar ou dificultar algum trabalho em que estivermos envolvidos.

Se, apesar de tudo isso, pudermos manter um semblante impassível e tranquilo, e evitar qualquer expressão de sentimento pessoal e aborrecimento, este já é um grande ponto ganho.

Sou capaz de fazer isso? Por que é importante começar com a paciência exterior? Continuar lendo

QUANDO D. LEFEBVRE “DISCERNIU A ESSÊNCIA DO DISCURSO” E ESCREVEU A JOÃO PAULO II

Dom Marcel Lefebvre | Permanência

É com prazer que apresentamos aos nossos leitores esta carta tão atual, escrita em 1988.

Fonte: Radio Spada – Tradução: Dominus Est

Carta de D. Marcel Lefebvre a João Paulo II – 2 de junho de 1988

Santíssimo Padre,

As conversações e encontros com o Cardeal Ratzinger e seus colaboradores, embora tenham ocorrido em clima de cortesia e caridade, convenceram-nos de que ainda não chegou o momento de uma colaboração franca e efetiva.

Com efeito, se todo cristão está autorizado a pedir às autoridades competentes da Igreja que guarde a fé do seu batismo, o que dizer dos sacerdotes, religiosos e religiosas?

É para manter intacta a fé do nosso batismo que tivemos de nos opor ao espírito do Vaticano II e às reformas que ele inspirou.

O falso ecumenismo, que está na origem de todas as inovações do Concílio, na liturgia, nas novas relações entre a Igreja e o mundo, na própria concepção da Igreja, conduz a Igreja à ruína e os católicos à apostasia. Continuar lendo

(PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA) SOBRE A PACIÊNCIA – INTRODUÇÃO

10 conselhos para rezar o rosário e chegar a Cristo pelas mãos de Maria

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

A Paciência é uma virtude pela qual suportamos, com coragem e constância, uma variedade de males aos quais estamos continuamente expostos nesta vida mortal, tais como aflições (exteriores ou interiores), doenças, dores do corpo ou do espírito, perdas, decepções, carências, afrontas, injúrias e outras cruzes de diversos tipos que, mais ou menos, atingem os homens em todas as condições da vida e em todas as fases da vida, desde o rei até o mendigo, da nossa infância até nossa decrépita velhice.

Ora, sob todos esses males, o bom cristão é sustentado pela virtude da paciência, de tal forma que não se abate, nem se deixa abater, por nenhuma cruz, acidente ou sofrimento: nem mesmo, nessas ocasiões, é afastado do caminho da virtude ou impedido do amor e do serviço de Deus, mas continua, com coragem, em seu caminho para o céu carregando sua cruz após seu Redentor, sem murmurar ou reclamar. Quão amável é esta paciência cristã! Continuar lendo

AS ÚLTIMAS ORIENTAÇÕES DO PONTIFICADO DE FRANCISCO – ENTREVISTA COM O SUPERIOR GERAL DA FSSPX

Entrevista em Menzingen para FSSPX.Actualités 5 de maio de 2023, Festa de São Pio V

Fonte: FSSPX

“Enaltece-se uma Igreja sem doutrina, sem dogma, sem fé, na qual, portanto, não se precisa mais de uma autoridade que ensine nada. Tudo se dissolve em um espírito de amor e serviço, sem saber bem o que significa e para onde deve levar.”

FSSPX.Actualités: Reverendo Padre Superior Geral, o Papa Francisco celebrou recentemente o décimo aniversário de seu pontificado. Qual é, na sua opinião, o ponto que mais se destaca nos últimos anos?

Padre Davide Pagliarani: Depois das duas ideias centrais e inspiradoras que eram a misericórdia, entendida como “anistia universal”, e a nova moral baseada no respeito pela Terra considerada como “casa comum da raça humana”, é inegável que estes últimos anos foram caracterizados pela ideia de sinodalidade. Esta não é uma ideia absolutamente nova1, mas o Papa Francisco fez da sinodalidade o eixo prioritário de seu pontificado.

É uma ideia tão onipresente que por vezes acabamos perdendo o interesse por ela, ainda que represente a quintessência de um modernismo maduro e consumado. Do ponto de vista eclesiológico, a revolução sinodal deve marcar e transformar profundamente a Igreja na sua estrutura hierárquica, no seu funcionamento e, sobretudo, no ensinamento da fé.

Quais são as razões pelas quais acabamos nos cansando da sinodalidade?

Talvez tenhamos particularmente percebido esta questão como um problema alemão ou, em última análise, um problema belga, e perdemos de vista a sua dimensão mais universal. Certamente, os alemães desempenham um papel particular no processo sinodal, mas o problema colocado é um problema romano e, então, universal. Em outras palavras, diz respeito a toda a Igreja. Continuar lendo

A PAZ NA FAMÍLIA – NAS PALAVRAS DE PIO XII

La pace in famiglia (nelle parole di Pio XII)

Extrato do discurso de Pio XII aos esposos, de 19 de julho de 1939.

Fonte: Radio Spada – Tradução: Dominus Est

A paz, fonte da verdadeira felicidade, não pode vir senão de Deus, não pode ser encontrada senão em Deus: “Ó Senhor, Vós nos fizestes para Vós e nosso coração está inquieto até que repouse em Vós“. Por isso a quietude absoluta, a felicidade completa e perfeita só será encontrada no Céu, na visão da essência divina. Mas mesmo durante a vida terrena, a condição fundamental da verdadeira paz e da sã alegria é a dependência amorosa e filial da vontade de Deus: tudo o que enfraquece, que rompe, que quebra esta conformidade e esta união de vontades está em oposição à paz: antes de tudo e sobretudo, o pecado.

O pecado é ruptura e desunião, desordem e perturbação, remorso e medo, e aqueles que resitem à vontade de Deus não tem, não podem ter paz: “Quis resistit Ei et pacem habuit?” (Jó 9, 4), enquanto a paz é a feliz herança daqueles que observam a lei de Deus: “Pax multa diligentibus legem Tuam” (Sl 118, 165). Sobre esta base solidamente estabelecida, os esposos e pais cristãos encontram, na família, o princípio gerador da felicidade e o sustento da paz.

Com efeito, a família cristã, afastando-se do egoísmo e da busca da satisfação própria, está completamente imbuída de amor e de caridade; e assim, deixa que desapareçam as fugazes atrações dos sentidos, deixa que as flores da beleza juvenil caiam uma após a outra, deixa que os fantasmas falaciosos da imaginação desapareçam: permanecerá sempre nos esposos, entre si, nos filhos em relação aos pais, um forte vínculo de corações, o amor permanecerá inalterado, o grande animador de toda a vida doméstica e, com ele, a felicidade e a paz. Continuar lendo

ELOGIO DA DOR

“Em verdade, em verdade vos digo que, se o grão de trigo que cai na terra não morrer, fica infecundo; mas, se morrer, produz muito fruto. O que ama a sua vida perdê-la-á; e quem aborrece a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna.” (Jo 12, 24-25)

Artigo publicado no Boletim Domqueur, em outubro de 1992.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

O grande humanista renascentista Erasmo escreveu um Elogio da loucura, que ficou imediatamente conhecido e continua a fazer parte da literatura clássica.  Uma vez que, ao lidar com o paradoxo, um autor consegue fazer as pessoas lerem princípios de sabedoria austera, algum outro deveria escrever um Elogio da dor .

Não conseguimos medir o quanto custaria a um homem não sentir dor alguma. A mão que se aproximasse do fogo sem sentir o menor dano arrastaria o corpo inteiro para as chamas. A experiência, aqui, é necessária, e não apenas uma advertência gratuita. Com efeito, vemos pecadores realmente temerem o inferno antes de terem experimentado sua ferida na forma de remorso e as consequências dolorosas e até trágicas da má conduta?

Se o doloroso aguilhão das abelhas não existisse, ninguém poderia provar a doçura do mel pois as colmeias indefesas logo seriam saqueadas, abandonadas e vazias. Sem os sofrimentos de homens e mulheres, desapareceria toda a poesia lírica, todos os dramas, tragédias, toda a literatura (clássica, romântica, francesa ou estrangeira).

A dor é útil para localizar o mal. Vejam este homem na mesa de cirurgia – em Lugdunum. Ele estava completamente anestesiado. Assim, ele não pôde reportar que, por engano, sua perna direita foi cortada ao invés da esquerda.

Sim, as dores são úteis e isso não é de hoje: Hipócrates, quatro séculos antes de Jesus Cristo, observou que uma grande dor permitia esquecer as menores.

Mas há algo ainda mais útil: a dor oferecida a Deus para o alívio de outros sofredores. Essa dor poderá, muito bem, aliviar outras maiores.

Pe. Philippe Sulmont

A TRAGÉDIA DA AUTORIDADE

Uma dupla homenagem: Corção e Santa Maria das Vitórias | Fratres in Unum.com

Gustavo Corção

Todos nós sabemos que o mundo moderno está envolvido numa guerra mais mundial, porque mais geral e mais penetrante, do que as duas anteriores. Uma torrente histórica vem de longe, recebendo afluentes, engrossando, para desaguar num estuário de anarquia e desordens com que os visionários pretendem contestar a obra de Deus e dos homens, pretende repelir a ideia de continuação e tradição, e até ousa pretender uma revolução mundial a fim de voltar à estaca zero para a recriação do mundo do homem a partir desse zero, ex nihilo.

Uma das peças essenciais do jogo é o princípio da autoridade que nunca esteve tão molestado e nunca foi tão contestado. E uma das consequências desse estado de coisas é o mau exercício da dita autoridade por todos que dela se acham investidos. Há uma razão profunda na raiz de tamanho mal: a autoridade, em seus variados níveis, é uma exigência da lei natural. Sem essa ideia é impossível a família, é impraticável a Cidade, é impensável uma Civilização.

Por outro lado, há na ideia de autoridade algo que parece soar falso, ou que parece antinatural: como poderemos admitir que um homem se torne rei ou chefe da multidão de homens feito do mesmo barro? A ideia de autoridade aparece logo como antagônica do ideal de igualdade que parece ser uma das metas do dinamismo da história: os séculos trabalham para produzir um nivelamento humano, dizem os vários seguidores do anarquismo revolucionário. A autoridade será então, no dizer deles, uma categoria anti-histórica. O senso comum, ao contrário, nos diz que o sucesso de qualquer obra humana exige unidade de ação, e essa unidade exige que uns mandem e outros obedeçam. Mas o senso comum é a primeira vítima das correntes revolucionárias. E o mundo moderno, desaguador de uma civilização que durante quatro séculos apostou tudo nas revoluções, está aí para nos oferecer uma amostra do que será o próximo mundo cada vez mais moderno, condenado a ser continuamente moderno. Continuar lendo

QUANDO A VIRGEM FALA

Ao iniciarmos o mês de maio, tradicionalmente consagrado à devoção à Santíssima Virgem Maria, convém meditar um pouco nos exemplos que nossa Mãe Celestial nos dá. Contentemo-nos, hoje, em analisar suas palavras.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Poucas palavras

Raras são as palavras que a Sagrada Escritura nos apresenta em relação à Santíssima Virgem Maria. Já encontramos aqui uma lição para nós que, frequentemente, abusamos da língua para falar a torto e a direito. Ninguém fala muito sem acabar falando mal.

As circunstâncias da Anunciação e da Visitação são, particularmente, eloquentes a este respeito. Enquanto a Santíssima Virgem acabava de receber do anjo Gabriel a notícia mais extraordinária que uma criatura poderia ouvir, ou seja, que ela seria a Mãe do Salvador, o que a Virgem fez? O que teríamos feito em seu lugar?

Sem dúvida teríamos ido de casa em casa, de família em família, às comadres e compadres para dar a notícia. Notícia ainda mais importante porque teríamos sido favorecidos com uma graça maior. Continuar lendo

BOLETIM DO PRIORADO PADRE ANCHIETA (SÃO PAULO/SP) E MENSAGEM DO PRIOR – MAIO/23

Dia de Nossa Senhora Aparecida: conheça a história da Padroeira do Brasil

Caríssimos fiéis,

Neste mês, iremos em peregrinação a Aparecida.

Uma peregrinação é uma espécie de resumo de nossa vida. Há um começo e um fim. No meio, há alegrias e penas que oferecemos por nossa santificação.

O famoso Beneditino, Dom Columba Marmion, expressou esta realidade da seguinte forma: “Quanto mais passa a vida, mais vejo que esta vida é apenas uma breve aparição enquadrada por duas eternidades, uma que precede e a outra que se segue. Esta vida é uma prova que precede a eternidade, uma expiação, uma participação na paixão de Jesus Cristo. Deus é tão bom que derrama neste copo algumas gotas de prazer (bastante efêmeras) para tornar a vida suportável, mas não é de forma alguma sua intenção que devemos nos fixar nestes prazeres. São Bento tem uma expressão que nos mostra a verdadeira atitude em relação ao gozo que Deus nos dá: Delicias non amplecti: Não o abrace, não se deixe levar por ele. Ele não diz para não desfrutar. O próprio Deus nos envia prazeres e Ele permite, Ele até mesmo quer que nós os aceitemos às vezes, mas Ele não quer que nos afundemos no prazer, porque então corremos o risco de deixar a Deus e nos entregarmos à criatura. As várias provas, tão duras, pelas quais passamos são lições de nosso Pai celestial para nos afastar das criaturas” (Vinde a Cristo todos vós que trabalhais; Maredsous, 1946, p.241).

Ao participar desta peregrinação, iremos para afastarnos da terra e aproximarmo-nos do céu. Desejamos compreender melhor o significado de nossas provas e receber o consolo espiritual. Quem melhor que a Santíssima Virgem Maria para nos ajudar? Tendo se tornado nossa mãe aos pés da cruz, ela compreende todos os nossos sofrimentos e assume todas as nossas dores.

Como uma boa mãe faz com seus filhos, ela leva-nos pela mão para ensinar-nos como caminhar para o céu sem ser desencorajados por quedas e dificuldades. Esta peregrinação contém um caráter especial daquele consolo que todos os povos católicos da terra vêm buscar nos santuários que levantaram para a glória de sua mãe celestial. Este consolo é especialmente perceptível em Aparecida. Continuar lendo

É NECESSÁRIO RECEBER O SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO SOB CONDIÇÃO?

Crismas 2019 – Galeria fotográfica | Fraternidade Sacerdotal São Pio X no  Brasil

Fonte: Courrier de Rome  n° 662 – Tradução: Dominus Est

– 1 –

Da etimologia à teologia

Todos conhecem Gaffiot. Félix Gaffiot (1870-1937), decano da Faculdade de Letras de Besançon, que não é conhecido apenas pela sua famosa adega (1), leiloada no domingo, 8 de maio de 1938. Ele é, sobretudo, autor do prestigiado Dicionário ilustrado Francês-Latim, publicado pela Editions Hachette, em 1934, e constantemente reeditado desde então. Aprendemos lá que o substantivo feminino “oliva”, que designa simultaneamente a oliveira e o seu fruto natural, a oliva (azeitona), deu origem ao outro substantivo neutro “oleum”, que significa o óleo. A relação etimológica aqui apoia essa ligação: aos olhos dos antigos, o óleo era, como tal, obtido do fruto da oliveira e, portanto, o óleo era essencialmente um azeite de oliva. Todos os demais “óleos” só foram nomeados como tais por analogia, ou seja, à custa de uma ampliação de sentido que vem acompanhada de uma certa perda do conceito. Além do azeite de oliva, existem também (para nos atermos aos óleos vegetais) óleo de amendoim, óleo de noz, óleo de colza, óleo de milho, óleo de linhaça, óleo de palma, óleo de rícino, óleo de soja e óleo de girassol. Existem ainda óleos animais (óleo de fígado de bacalhau, óleo de foca e, sobretudo, óleo de baleia, utilizados até ao século XIX, antes do advento do gás, como combustível para lâmpadas de iluminação) e óleos minerais, alguns dos quais podem ser obtidos por destilação do petróleo. Sem falar nos óleos essenciais. Mas esses “óleos” são apenas substitutos e, além das semelhanças externas, a verdadeira substância que corresponde adequadamente a esse nome só pode ser o oleum, o líquido proveniente da oliva, fruto natural da oliveira.

2. De acordo com essa abordagem dos antigos, a Igreja sempre reconheceu apenas o azeite de oliva como matéria válida para os sacramentos da Confirmação e da Extrema Unção, excluindo qualquer outro tipo de óleo. Definitivamente, o mesmo se aplica ao pão. O pão é a matéria válida do sacramento da Eucaristia, mas – nosso Gaffiot ainda está aí para atestar isso – trata-se aqui unicamente do pão feito de farinha de trigo, pois, como o óleo em sentido próprio é o azeite, também o pão no sentido próprio é o pão feito com as espécies mais nobres (o “triticum”) do gênero do trigo (o “frumentum”). Os outros “pães” são assim chamados em virtude de uma analogia que tanto diminui como amplia a noção e é por isso que eles não são chamados de “pão” em seu sentido próprio. Aos olhos da Igreja, o pão feito com cevada (“hordeum”), aveia (“avena”), arroz (“oryza”), milho, castanhas, batatas ou outros vegetais não é matéria válida para a Eucaristia, pois esses ingredientes não pertencem ao gênero do trigo; a espelta (“spelta, ae, f“) e o centeio são, certamente, espécies do género do trigo, mas distintas da sua espécie mais nobre, o “triticum“, razão pela qual não é matéria adequada para fazer pão em sentido próprio, ou seja, não é matéria válida para o sacramento da Eucaristia. Continuar lendo

CARTA DO SUPERIOR GERAL DA FSSPX AOS AMIGOS E BENFEITORES – N° 92 – A PUREZA DO CORAÇÃO

Fonte: FSSPX

SOMENTE A PUREZA DE CORAÇÃO MANTERÁ EM NÓS A PUREZA DA FÉ.

Caros fiéis, amigos e benfeitores,

Em nossas circunstâncias históricas, Deus chamou a Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) a um combate muito especial pela fé. Trata-se de guardá-la, professá-la, amá-la e transmiti-la. É preciso compreender bem as razões profundas deste combate, suas exigências e a que deve nos conduzir a fim de podermos tirar todas as consequências para as nossas almas.

A Fé, pedra angular intocável

A fé é, aqui na terra, a antecipação da visão de Deus que teremos na eternidade, e à qual cederá o lugar. É o conhecimento sobrenatural de Deus e de tudo que Lhe diz respeito, sem possibilidade de erro. Por essa razão, é um todo integral que recebemos da bondade de Deus, que nos comunica o conhecimento que tem de Si mesmo. Nesta perspectiva, compreende-se que a fé é, por excelência, a expressão da verdade: a verdade sobrenatural concedida às almas sem a menor possibilidade de erro.

É muito diferente da opinião ou apreciação pessoal de alguém que escolhe a sua “verdade” em detrimento de outra, segundo o seu próprio juízo ou experiência. Tal verdade corresponde antes à “fé” de um espírito liberal, desprovido de qualquer elemento sobrenatural e reduzido ao nível de uma opção política e fundamentalmente discutível. A fé é um conhecimento de outra ordem, essencialmente sobrenatural, no qual temos a garantia absoluta de não errar, pois o menor erro seria incompatível com a verdade divina. Com efeito, uma verdade que contivesse uma única sombra de erro simplesmente deixaria de ser divina e de ser verdade. Por exemplo, um Cristo que fosse, ao mesmo tempo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, Rei e Profeta, não sendo Redentor, não seria o verdadeiro Cristo de nossa fé. Muito menos seria um “Cristo diminuído” – o que não pode existir – mas simplesmente outra coisa. Um único erro corrompe, irremediavelmente, todo o edifício da fé e do dogma, assim como algumas gotas de veneno são suficientes para tornar uma grande quantidade de água imprópria para consumo. Continuar lendo