ENTREVISTA COM O SUPERIOR GERAL DA FRATERNIDADE SACERDOTAL SÃO PIO X SOBRE O PONTIFICADO DO PAPA FRANCISCO.

NÃO CAPITULAR PERANTE O MUNDO, MAS RECAPITULAR TODAS AS COISAS EM CRISTO

DICI : Reverendo Superior Geral, hoje faz oito anos que o Papa Francisco subiu ao trono de São Pedro e, em ocasião desse aniversário, o Sr. quis nos dar essa entrevista: muito obrigado!

Para alguns observadores do pontificado de Francisco, em particular àqueles que estão ligados à Tradição, parece que não há mais combate entre ideias: para eles, hoje é a práxis que domina – ou seja, a ação concreta, inspirada por um pragmatismo em larga escala. Que pensa o senhor?

Padre Pagliarani : Não creio que ele cometa, desse modo, o erro de opor ação e ideias. O Papa Francisco é, certamente, pragmático; mas sendo um homem de governo, sabe perfeitamente aonde vai. Uma ação de grande amplitude sempre é inspirada por princípios teóricos, por um conjunto de ideias que, muitas vezes, é dominado por uma ideia central a qual toda práxis pode e deve estar relacionada.

É necessário reconhecer: os esforços para compreender os princípios do pragmatismo de Francisco não se fazem sem tentativa e erro. Por exemplo, alguns acreditaram encontrar seus princípios de ação na teología del pueblo, variante argentina – e muito mais moderna – da teologia da libertação… Parece-me, na verdade, que Francisco se situa além desse sistema, e mesmo de qualquer sistema conhecido. Creio que o pensamento que o anima não pode ser analisado e interpretado de modo satisfatório se nos limitamos aos critérios teológicos tradicionais. Francisco não somente está além de todo sistema conhecido: está acima.

O que quer dizer com isso?

Com João Paulo II, por exemplo, apesar de tudo o que se possa deplorar, certos pontos da doutrina católica ficaram intocados. Com Bento XVI, ainda estávamos lidando com um espírito ligado às raízes da Igreja. Seu considerável esforço para conseguir a quadratura do círculo, conciliando a Tradição com o ensinamento conciliar e pós-conciliar, embora fadado ao fracasso, contudo revelava uma preocupação de fidelidade à Tradição. Com Francisco, tal preocupação não existe mais. O pontificado em que vivemos é um ponto de inflexão histórico para a Igreja: humanamente falando, as fortalezas que ainda subsistiam foram destruídas; e, paralelamente, revolucionando-se, a Igreja redefiniu sua missão perante as almas e o mundo. Continuar lendo

A MISSA É UM FREIO AO GLOBALISMO

Espanha e Portugal

Pe. Xavier Beauvais, FSSPX

Durante este encarceramento a que estamos em vias de nos submeter, vimos surgir um grande furor contra a Missa nas nossas capelas e igrejas.

É certo que, golpeando-se a Missa, a Igreja é enfraquecida. Nós já o vimos em 1969, com o novo rito de Paulo VI. Para que a Igreja vacile no tocante ao dogma e à disciplina, é preciso combater a Missa. Esse era (e ainda é) um dos melhores meios de evacuar e substituir, pouco a pouco, a moral católica, os usos e costumes da catolicidade.

O governo francês atual sabe muito bem disso quando nos impede de celebrar a Missa.

Sabemos que o alinhamento dos costumes de todo o mundo à ética maçônica está o coração do globalismo em marcha. Todo freio – e a Missa é um freio – todo obstáculo a esse projeto deve ser tiranicamente suprimido. O principal adversário do globalismo é a renovação do Sacrifício da Cruz, pois sabemos que a Missa é o remédio individual, social e político ao vírus e aos males dos tempos modernos.

Em face da liberdade desenfreada, ela clama ao dom de si.

Em face da igualdade absoluta, apela ao senso de hierarquia.

Em face da fraternidade fundada sobre o homem, lembra da caridade, ou seja, do amor na verdade que os homens devem uns aos outros, em nome de Deus.

Toda a ordem da civilização repousa sobre o altar, eis o porquê de ser preciso lutar sem cessar pelo tesouro oferecido por Nosso Senhor e gritar: “Devolvam-nos a Missa”.

É justamente nesse espírito que o Pe. Davide Pagliarani, Superior Geral da Fraternidade São Pio X, lançou no dia 21 de novembro um apelo enérgico a uma Cruzada de Orações até a Quinta-Feira Santa, 1º. de abril de 2021. Continuar lendo

DUAS ENCÍCLICAS SOB O PATROCÍNIO DE ASSIS

pape

Fonte : La Porte Latine – Tradução : Dominus Est

Pe. Jean-Michel Gleize, FSSPX

Com cinco anos de intervalo, o Papa Francisco publicou duas Encíclicas, das quais pode-se dizer que tem a intenção de ser decisivas na orientação da doutrina oficial da Igreja pós-Vaticano II. E tal orientação é sempre colocada pelo próprio Papa sob o patrocínio de São Francisco de Assis. Em 24 de maio de 2015,naLaudato Si, o Papa já se referia explicitamente ao Cântico das criaturas: «Neste gracioso cântico», escrevia ele, «recordava-nos [o santo de Assis] que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços»[1]. Em 3 de outubro de 2020, com a Fratelli Tutti, o Papa referiu-se ao texto da Regra dos frades menores: «Fratelli Tutti foi escrita por São Francisco de Assis dirigindo-se a seus irmãos e irmãs, para lhes propor uma forma de vida com o sabor do Evangelho. Destes conselhos, quero destacar o convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço»[2].

Essa referência a São Francisco de Assis não é vã, porque pretende iluminar a ligação profunda que une as duas Encíclicas no pensamento do Papa. «Este Santo do amor fraterno», disse logo no começo da recente Encíclica, «da simplicidade e da alegria, que me inspirou a escrever a encíclica Laudato si’, volta a inspirar-me para dedicar esta nova encíclica à fraternidade e à amizade social»[3].A inspiração é, portanto, a mesma nos dois casos. E além de ser uma piedosa dedicatória, o assunto abordado pretende mostrar uma ligação orgânica que deve conservar toda sua importância. Essa ligação profunda aparece desde o começo de Fratelli Tutti, quando o Papa evoca o sentido de fraternidade no Poverello: «Com efeito, São Francisco, que se sentia irmão do sol, do mar e do vento, sentia-se ainda mais unido aos que eram da sua própria carne»[4]. Aqui, o sentido da fraternidade encontra o sentido da ecologia: ambos devem se situar no mesmo plano, e entre um e outro – pelo menos no pensamento do Papa – há apenas uma diferença de grau, sendo o sentido da fraternidade meramente mais intenso que o da ecologia.

Um outro indício mostra o parentesco profundo das duas Encíclicas. Com efeito, o Papa indica mais adiante quais foram suas «fontes de inspiração» para ambos os textos. «Se na redação da Laudato si’», escreve, «tive uma fonte de inspiração no meu irmão Bartolomeu, o Patriarca ortodoxo que propunha com grande vigor o cuidado da criação, agora senti-me especialmente estimulado pelo Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb, com quem me encontrei, em Abu Dhabi, para lembrar que Deus “criou todos os seres humanos iguais nos direitos, nos deveres e na dignidade, e os chamou a conviver entre si como irmãos”»[5]. Nas duas Encíclicas, o Papa obteve sua inspiração fora das fontes da Revelação divina, fora dos monumentos da Tradição católica. Ele encontrou sua inspiração junto a um cismático para a Laudato si’ e junto a um infiel para a Fratelli Tutti. Continuar lendo

A CRÍTICA DO VATICANO II

Concílio Vaticano II. Um Guia de Leitura | by IHU | Instituto Humanitas  Unisinos | Medium

Fonte: Courrier de Rome  n.º 335, julho-agosto de 2010 – Tradução: Dominus Est

Pe. Jean-Michel Gleize, FSSPX

«Por uma contradição boba, surgem discussões sobre o que deveria ser julgado com um rápido olhar e os debates começam entre os próprios críticos»[1]. Seria necessário ainda começar por entender o sentido da palavra «crítica»…

1 – Prólogo: a crítica

1.1 – Definição etimológica

A palavra «crítica» vem de um verbo grego que significa «julgar». Segundo essa definição nominal, a crítica é o ato do juízo. O ato do juízo é aquele em que o intelecto afirma ou nega atribuindo ou negando uma qualidade, boa ou má, a um sujeito.

1.2 – Os diferentes sentidos possíveis da palavra

Fala-se mais frequentemente de «crítica» quando o juízo tem por objeto atos do intelecto ou da vontade. Por exemplo, critica-se o comportamento de seus semelhantes porque se exerce um juízo sobre os atos de vontade do outro; ou ainda criticam-se opiniões porque se exerce um juízo sobre outros juízos. Fala-se também de «crítica», mas não a respeito das operações humanas, mas a respeito das obras artificiais que podem resultar delas: crítica das obras de arte mecânica (tal como pode ocorrer no âmbito de competições agrícolas) ou crítica das belas artes (como a crítica literária).

Em um sentido particular, o juízo que se exerce sobre o ato do intelecto enquanto tal (na medida em que ele é o ponto de partida válido de toda especulação) pertence propriamente à sabedoria metafísica. E o juízo que se exerce sobre o ato de fé teologal enquanto tal pertence propriamente à teologia, na sua parte apologética. Enfim, fala-se também de «crítica» num sentido pejorativo, para denominar o juízo injusto, que se produz de dois modos: no caso do juízo temerário[2], quando aquele que pretende julgar não tem o conhecimento requerido – necessário e suficiente – para poder fazê-lo; ou no caso do juízo usurpado[3], quando aquele que pretende julgar não possui a autoridade requerida para poder fazê-lo.

No primeiro caso[4], há, em primeiro lugar e antes de tudo, uma ignorância, que levará a um erro e depois a uma injustiça[5]; no segundo caso[6], há primeiro e antes de tudo uma injustiça[7] que levará à outra injustiça[8], mesmo se não houver nem e ignorância e nem erro. Mas nos dois casos, a injustiça do juízo não consiste em decidir mal ao invés de decidir bem: o juízo é injusto na precisa medida em que aquele que julga (favoravelmente ou não, pouco importa) não pode reivindicar, valendo-se de seus dizeres, nem a ciência e nem a autoridade suficientes. Continuar lendo

EPIFANIA E CONTRA-EPIFANIA

SERMÃO INÉDITO DE MONS LEFEBVRE PROFERIDO NA SOLENIDADE DA EPIFANIA DE 1987, EM ECÔNE.

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Neste sermão, Mons. Lefebvre explica que a Epifania, ou Teofania, significa a “manifestação de Deus”.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

RESUMO

Pax romana contra Pax christiana

Mons. Lefebvre demonstra a diferença entre a Pax Romana, a paz romana de Augusto, a do mundo, e a Pax christiana, a paz cristã.

Os Magos e os Apóstolos acreditaram na manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo, único Salvador: eles tinham a fé. Através do batismo, de Seu sacrifício, de Sua eucaristia, Jesus divinizará as almas, lhes ensinará o que são: verdade, virtude e santidade. O mundo será completamente transformado sob a influência de Jesus Cristo e de Sua Santa Igreja, as almas abandonarão, na medida do possível, seus vícios, sua impiedade, seu apego ao erro, às coisas deste mundo.

A Pax christiana é a ordem de Nosso Senhor nas almas, nas famílias, nas vilas, na cidade. Durante séculos, Jesus Cristo foi verdadeiramente o Rei, o Rei reverenciado deste mundo, e sua Igreja foi a Rainha, sua Esposa Mística. Ah, se os homens tivessem compreendido, se tivessem escutado… como o mundo seria feliz, como o mundo seria a sala de espera do céu, como viveria em paz.

Uma luta até a morte

Diante desse programa ergue-se a imagem de Satanás, aquele que reinou no mundo antes de Jesus vir para tirar seu império. É a luta até a morte, morte aos cristãos. Os reis magos manifestaram a sua fé: o sangue dos pequenos inocentes escorrerá, porque cremos em Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus chega à margem do Jordão, o Espírito Santo apareceu, o Pai O designou como Salvador do mundo: a cabeça de João Batista cairá. Satanás acredita triunfar, fez Jesus preso ao cadafalso da Cruz e eis que Nosso Senhor ressuscita. Esse combate continuará em todos os lugares. Durante os primeiros três séculos o sangue fluirá. As falsas religiões se levantarão violentamente. O triunfo não está garantido por Satanás, então ele atacará os espíritos, os afastará da fé, fará penetrar as heresias e os cismas, mas a Igreja permanece sempre forte, poderosa contra os erros, ela defende sua fé até a morte, se necessário.

Satanás inventou outra coisa agora, ele destruirá a própria cristandade em seus aspectos mais fundamental, na raiz de sua fé. A partir de agora espalhará na Igreja e através da Igreja que a salvação em Jesus Cristo não é essencial, que Jesus Cristo é uma opção. É a própria fé que está em questão. Pode-se escolher a religião que quiser para se salvar. A religião católica deve respeitar as outras, eis onde chegamos. É uma contra-epifania.

A epifania é um programa para nós, é a vida do cristão. A fé, o batismo, o sacrifício de Jesus Cristo são nossas estrelas nos dias de hoje. Manifestemos nossa fé, até mesmo com derramamento de nosso sangue se necessário, seguindo todos aqueles que foram testemunhas de Jesus Cristo.

O Sermão

O QUE IMPEDE A CONSAGRAÇÃO DA RÚSSIA AO IMACULADO CORAÇÃO? O VATICANO II

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

Nossa Senhora pediu que a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração fosse realizada pelo Papa e por todos os bispos do mundo. Esta consagração nunca foi realizada conforme o pedido da Santíssima Virgem. Mas, por que é tão difícil realizar esta consagração, tão simples em si mesma?

Primeira razão

A consagração ao Imaculado Coração de Maria é um ato religioso dirigido a uma nação, isto é, a uma realidade política. É, portanto, contrária ao liberalismo político dos Estados preconizado pelo Concílio Vaticano II nos textos Dignitatis Humanae e Gaudium et Spes .

Segunda razão

Além disso, a consagração a Maria nada mais é do que uma “preparação para o reino de Jesus Cristo” [1]. Agora, desde o Concílio, a Roma modernista não parou de descoroar Jesus Cristo socialmente. Com efeito, foi ela quem sistematicamente organizou a apostasia das nações católicas em nome do Vaticano II [2].

Terceira razão

Essa consagração faria com que os cismáticos da Igreja Ortodoxa voltassem ao seio da Igreja Católica. É, portanto, contrário à teoria conciliar das “igrejas irmãs” (o famoso subsistit in da Lumen Gentium), segundo a qual as igrejas católica, ortodoxa e protestante são três partes da Igreja de Cristo. Continuar lendo

CONFERÊNCIA DO PE. PAGLIARANI, SUPERIOR GERAL DA FSSPX: “O PONTIFICADO DO PAPA FRANCISCO – CONTINUIDADE COM SEUS PREDECESSORES (PÓS-CONCILIARES) E NOVIDADES PRÓPRIAS”.

A resposta da Tradição ao naufrágio conciliar

No dia 18 de janeiro de 2020, aconteceu em Paris, França, o congresso do Courrier de Rome em colaboração com o DICI, o órgão de comunicação da Fraternidade São Pio X. No contexto do Sínodo da Amazônia, da colegialidade e do caminho sinodal alemão, os trabalhos se esforçaram para responder a essa grave questão: “Há hoje na Igreja o risco de cisma?”

Em conclusão, o Superior Geral da Fraternidade São Pio X expôs qual deveria ser a Resposta da Tradição à eclesiologia conciliar. Voltando ao ensino da encíclica do Papa Francisco, Laudato si’, o Padre Davide Pagliarani mostrou como o papa atual faz parte da continuidade do Concílio Vaticano II enquanto fazia seus próprios acréscimos, novidades que aceleram a autodestruição da Igreja tornando praticamente impossível a vida católica.

NÃO PERCAM – SÁBADO, 02/01 – CONFERÊNCIA DO PE. DAVIDE PAGLIARANI

Vejam o que publicaremos no próximo sábado, 02/01.

Conferência do Pe. Pagliarani, Superior Geral da FSSPX: “O pontificado do Papa Francisco: continuidade com seus predecessores (pós-conciliares) e novidades próprias“. A resposta da Tradição ao naufrágio conciliar.

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Não percam!!!

A GRANDE ILUSÃO DOS CLÉRIGOS NO CONCÍLIO VATICANO II

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Esta síntese de Mons. Lefebvre manifesta o viés psicológico que levou ao desastre conciliar.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

A preparação desta ilusão perante o Concílio

Seria necessário escrever longas páginas para detectar todas as causas que prepararam esta incrível ilusão dos clérigos, para não dizer dos Bispos do Concílio Vaticano II.

Sem repetir a história do liberalismo e do modernismo bem conhecido de nossos leitores, devemos afirmar que, apesar das solenes e repetidas advertências dos Papas do século XIX e da primeira parte do século XX, esses erros originários das lojas maçônicas, habilmente difundidos e disseminados por todos os meios modernos de difusão do pensamento, continuaram a crescer, a inspirar as sociedades civis e por meio delas a invadir todas as instituições públicas e privadas, todas as famílias e, da mesma forma, os Seminários e as Universidades Católicas.

Em breve, as próprias ordens religiosas e suas revistas espalharão esses erros que reduzem a fé a um sentimento natural de religião, atos de religião a simples manifestações desse sentimento. A partir de então, seriam os próprios clérigos que destruiriam sua fé, submetendo-a a razão e fazendo desaparecer a vida sobrenatural, a vida da graça.

As guerras também contribuíram para a desordem e, acima de tudo, para a desordem moral, em particular a última guerra. Após o conflito, a euforia da prosperidade material trouxe um desejo desenfreado de diversão. O naturalismo infiltrado na Igreja fez desaparecer a noção de pecado, exaltando a consciência individual, o orgulho da personalidade humana que se tornara adulta e responsável. Todos os abusos, todos os crimes tornaram-se legítimos e protegidos pela consciência! Continuar lendo

DO MAGISTÉRIO VIVO E DA TRADIÇÃO – PARA UMA “RECEPÇÃO TOMISTA” DO VATICANO II?

Concílio Vaticano II. Um Guia de Leitura | by IHU | Instituto Humanitas  Unisinos | Medium

Fonte: Courrier de Rome – Tradução: Dominus Est

Nos dias 15 e 16 de maio de 2009 ocorreu, nas instalações do Instituto católico de Toulouse, um colóquio organizado pela Revue thomiste e pelo Instituto Santo Tomás de Aquino, sob a direção do Padre Serge Thomas Bonino, O.P. O colóquio tinha como tema: «Vaticano II – Ruptura ou continuidade. Apresentação das hermenêuticas». Cerca de cem ouvintes, a maioria do clero, estavam presentes. A ausência da Fraternidade São Pio X parece ter sido notada com grande pesar pelos próprios organizadores. A publicação das Atas do colóquio foi anunciada para 2010. Mas os ditos do Padre Bonino em seu convite já explica suficientemente o sentido dessa iniciativa: «Nosso colóquio se propõe a refletir sobre a maneira pela qual a corrente teológica originada em Santo Tomás de Aquino pode colaborar para uma Recepção do Vaticano II que honre o Concílio como um ato da Tradição viva». Para atingir esse objetivo, o método é todo ele exposto: «Trata-se de destacar simultaneamente o aspecto “memória” e o aspecto “novidade” desse ensinamento magno do Magistério do século XX. É a exigência que o Papa Bento XVI indicava aos teólogos em seu discurso à Cúria romana em 22 de dezembro de 2005 quando ele propunha distinguir entre “hermenêutica da continuidade” e “hermenêutica da ruptura”».

Partindo desse fato que o Discurso de 22 de dezembro dirigido pelo papa Bento XVI à Cúria afirma a continuidade dos ensinamentos do Vaticano II em relação à Tradição viva da Igreja, os organizadores desse colóquio quiseram refletir sobre a maneira pela qual a teologia tomista poderia justificar essa continuidade, no âmbito da hermenêutica proposta por Bento XVI. Na intenção do papa, a hermenêutica da continuidade deveria triunfar sobre as extrapolações progressistas advindas da hermenêutica da ruptura a qual o Discurso à Cúria denuncia enquanto tal. É por isso que, retomando a proposta do Padre Bonino, a continuidade viva deve se definir como a síntese de dois aspectos: o aspecto memória e o aspecto novidade, ou, retomando as expressões de Bento XVI, longe de qualquer ruptura, ela deve corresponder a uma síntese de fidelidade e dinamismo. A partir de então, caberia à teologia elaborar os elementos especulativos dessa síntese, e o colóquio de Toulouse quis preparar o terreno para uma contribuição tomista à hermenêutica do Concílio.

É justificável tal proposta? Para responder a essa questão, examinaremos primeiro se o Vaticano II pode se apresentar como um «ensinamento magno do Magistério do século XX», e verificaremos por esse meio qual é o valor do magistério do Concílio (1ª parte). Em seguida, examinaremos o significado preciso do Discurso de 22 de dezembro de 2005 e determinaremos por meio desse exame em qual o sentido o Papa Bento XVI concebe a hermenêutica do Concílio (2ª parte). Isso nos proporcionará depois a ocasião para resgatar a definição de Tradição, que é o ponto fundamental do qual depende a solução das graves dificuldades suscitadas no último Concílio (3ª parte). Continuar lendo

NADA TÃO ATUAL: O GOLPE DE MESTRE DE SATANÁS

Neste pronunciamento, Mons. Lefebvre desmascara o golpe de mestre que a inteligência perversa do demônio inventou para prejudicar a Igreja pós-Vaticano II: levar à desobediência por meio da obediência.

Por outro lado, repetimos com São Pedro: “Devemos obedecer a Deus e não aos homens” (Atos dos Apóstolos), ou com São Bernardo: “Aquele que pela obediência se submete ao mal está aderido à rebelião contra Deus e não à submissão devida a Ele“.

Disponibilizamos abaixo o livro, em formato PDF. Clique na imagem para baixá-lo.

GOLPENota: A publicação on-line deste livro tem como único objetivo a divulgação para uso doméstico. Fica proibido o uso para fins comerciais.

PARA UMA JUSTA REAVALIAÇÃO DO VATICANO II: EPÍLOGO

As quatro janelas abertas do Concílio Vaticano II

Fonte: Courrier de Rome  n.º 322, maio de 2009 – Tradução: Dominus Est

Autor: Pe. Jean-Michel Gleize, FSSPX

4.1 – Um dilema inalterado

Reencontramos aqui o mesmo dilema, onde apesar de tudo estamos obrigados a escolher entre duas concepções diferentes de Tradição. Por um lado, uma Tradição concebida como a transmissão fiel de uma doutrina substancialmente imutável; pelo outro, uma Tradição viva concebida como um movimento histórico. Quando ainda teólogo, Joseph Ratzinger havia explicado claramente: «Não somente deve-se dizer que a história dos dogmas, no âmbito da teologia católica, é fundamentalmente possível, mas também que todo dogma que não se elabora como história dos dogmas é inconcebível»[50]; e é por isso que «a formação do conceito de Tradição no catolicismo pós-tridentino constitui o maior obstáculo a uma compreensão histórica da realidade cristã»[51].

Com efeito, o conceito pós-tridentino de Tradição supõe que a revelação foi encerrada na morte do último dos apóstolos e que desde então ela se mantém substancialmente imutável. Ora, «o axioma do fim da revelação com a morte do último apóstolo», explica Joseph Ratzinger, «era e é, no interior da teologia católica, um dos principais obstáculos à compreensão positiva e histórica do cristianismo: o axioma assim formulado não pertence aos primeiros dados da consciência cristã»[52]. «Ao afirmar que a revelação encerrou-se com a morte do último apóstolo, concebe-se objetivamente a revelação como um conjunto de doutrinas que Deus comunicou à humanidade. Essa comunicação terminou em uma determinado dia e os limites desse conjunto de doutrinas reveladas permaneceram assim estabelecidos ao mesmo tempo. Tudo o que vem após seria ou a consequência dessa doutrina ou a corrupção dela»[53]. Ora, «não somente essa concepção se opõe a uma plena compreensão do desenvolvimento histórico do cristianismo, mas está inclusive em contradição com os dados bíblicos»[54].

Não vemos como seria possível conciliar essa proposta com os ensinamentos do papa São Pio X. No Decreto Lamentabili, ele condena efetivamente as duas proposições seguintes: «A revelação, que é objeto da fé católica, não terminou com os apóstolos»[55] e «Os dogmas que a Igreja apresenta como revelados não são verdades caídas do céu, mas uma interpretação dos fatos religiosos que o espírito humano logrou alcançar à custa de laboriosos esforços»[56].

4.2 – Congelar o magistério?

Nessas condições, podemos dizer que não é preciso «congelar a autoridade do magistério da Igreja em 1962»? Se a autoridade do magistério está «congelada» no sentido em que ela não poderia mais sequer ser exercida após essa data, e que só valeria em si mesma a doutrina já proposta nos atos do magistério anterior, resulta que só se teria na Igreja um magistério póstumo, contrastando com um magistério vivo. Ora, nós sabemos bem que a instituição divina da Igreja faz com que seja necessária uma autoridade social que seja exercida em cada época da história, no ambiente de uma pregação viva porque atual, e que essa pregação do magistério tenha como tarefa propor com autoridade, explicar e esclarecer, sempre no mesmo sentido, o depósito da fé. Nesse sentido, está bem claro que a Igreja católica não poderia ser definida, por princípio, como «a Igreja dos sete ou dos vinte primeiros concílios ecumênicos».

Mas por outro lado, é indubitável que a autoridade desse magistério vivo deve ser exercida em cada época da história para transmitir sem alteração o depósito da fé definitivamente revelada, e nesse sentido, para retomar a expressão metafórica do papa Bento XVI, tudo está «congelado» desde a morte do apóstolo São João e a doutrina católica permanece substancialmente imutável: «As definições são estáticas, as definições são definitivas, o Credo é algo definitivo, não se pode mudar o Credo»[57]. Ora, nós somos obrigados a constatar: para Bento XVI, se «não se pode congelar a autoridade do magistério da Igreja em 1962», isso se explica porque o «Vaticano II contém em si a história doutrinal inteira da Igreja», ou seja, porque a Tradição é viva. Mas nós encontramos aí a noção já indicada por João Paulo II no Motu proprioEcclesia Dei afflicta, noção que constitui uma novidade inaudita em relação aos ensinamentos do magistério anterior ao Vaticano II.

4.3 – A solução verdadeira requer a questão verdadeira

O fato é que, acerca de uma questão, devemos reconhecer em Bento XVI o mérito da clareza. Exprimindo sua intenção de unir no futuro a comissão pontificial Ecclesia Dei à Congregação para a Doutrina da Fé, o papa explica nos seguintes termos o sentido desse desejo: «Deste modo torna-se claro que os problemas, que agora se devem tratar, são de natureza essencialmente doutrinal e dizem respeito sobretudo à aceitação do Concílio Vaticano II e do magistério pós-conciliar dos Papas»[58]. A remissão da excomunhão é um «provimento no âmbito da disciplina eclesiástica. […] É preciso distinguir este nível disciplinar do âmbito doutrinal»[59].

Embora existam ainda muitos pontos de vista possíveis, é difícil de seguir um e impossível seguir muitos simultaneamente. Não distinguir a natureza das verdades que estão em jogo, e que tornam necessárias as discussões entre a Fraternidade São Pio X e a Santa Sé, pode fazer com que todo o esforço para dissipar os mal-entendidos acabe tendo como efeito a multiplicação deles. Se nos limitarmos às declarações recentes que citamos e analisamos, podemos perceber que o papa delimita inequivocamente o ponto da disputa, cuja solução deverá estar no centro de uma eventual discussão doutrinal entre a Santa Sé e a Fraternidade São Pio X.

Seria necessário começar por entender acerca da própria natureza da Tradição e do magistério. É somente às custas desse primeiro esclarecimento que o Concílio Vaticano II poderia ser objeto de uma discussão séria, e que se poderia esperar resolver seriamente os graves problemas que apareceram até aqui.

Fim.

Notas

  1. Joseph Ratzinger, Théologie et histoire. Notes sur le dynamisme historique de la foi, 1972, p. 108, citadopor Joaquim E. M. Terra, Itinerarioteologico di Benedetto XVI, Roma, 2007, p. 66.
  2. Id., ibid., p. 65.
  3. Id., ibid., p. 64.
  4. Id. ibid.
  5. Id. ibid.
  6. Proposição condenada n.º 21 em DS 3421.
  7. Proposição condenada n.º 22 em DS 3422.
  8. Mons. Lefebvre, «Conferência em Écône, 18 de outubro de 1976» em Vu de haut n.º 13 (outono 206), p. 47.
  9. Beto XVI, «Carta de Sua Santidade Bento Xvi aos bispos da Igreja católica a propósito da remissão da excomunhão aos quatro bispo consagrados pelo Arcebispo Lefebvre» em DC n.º 2321, p. 319-320.
  10. Id., ibid., p. 319.

 

PARA UMA JUSTA REAVALIAÇÃO DO VATICANO II: O MAGISTÉRIO CONCILIAR SEGUNDO BENTO XVI

Concílio Vaticano II terminou há 50 anos: A Igreja é como uma árvore, dá  frutos a seu tempo | Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

Fonte: Courrier de Rome  n.º 322, maio de 2009 – Tradução: Dominus Est

Autor: Pe. Jean-Michel Gleize, FSSPX

3.1 – Uma nova perspectiva

O magistério ordinário universal é regulado em função do magistério solene, visto que o ecoa. Isso quer dizer que o magistério ordinário conciliar deve se definir enquanto tal como eco do Vaticano II. E nós podemos ver que de fato é o que acontece[38]. Ora, segundo João XXIII, a intenção do Vaticano II foi adotar as «formas de investigação e de formulação literária do pensamento moderno»[39].

E pouco antes de sua eleição ao soberano pontificado, o cardeal Joseph Ratzinger havia explicado claramente o que se deveria entender nessa passagem: o pensamento moderno se identifica com a cultura do Iluminismo, «definida substancialmente pelos direitos da liberdade» e que «ela parte da liberdade como valor fundamental e à luz da qual tudo é medido»[40]. Conforme essas duas interpretações autorizadas de João XXIII e do futuro Bento XVI, o concílio Vaticano II não quis mudar diretamente a verdade da doutrina, mas propô-la desde um ponto de vista novo: do ponto de vista da liberdade. Os dois pontos culminantes desse ensinamento são a declaração Dignitatis humanae sobre a liberdade religiosa e a constituição pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo atual.

Mas certamente podermos nos perguntar como seria possível conciliar esse novo ponto de vista com a Tradição da Igreja. Com efeito, a verdade revelada por Deus é exprimida em conceitos que correspondem a uma filosofia bem determinada. Está é a filosofia natural à inteligência humana e é a única possível: filosofia do ser, que dá o primado à inteligência sobre a vontade e, portanto, sobre a liberdade, e onde a verdade se define como a exata conformidade da faculdade intelectual com a realidade, «adaequatio rei et intellectus». Não se pode mudar essa filosofia natural, dando o primado à liberdade, sem alterar profundamente a revelação divina, sem modificar o sentido das expressões dogmáticas[41]. No Motu proprio Doctoris angelici de 29 de junho de 1914, o papa São Pio X recorda a ligação necessária que existe entre uma sã filosofia, a filosofia perene de Aristóteles e de Santo Tomás, e a inteligência autêntica dos dogmas revelados: «Os principais pontos da filosofia de Santo Tomás não devem ser colocados no gênero de assuntos que podem ser disputados em um ou outro sentido, senão que devem ser considerados como fundamentos sobre os quais toda a ciência das coisas naturais se encontram estabelecidas; e se forem retirados ou alterados de qualquer maneira esses fundamentos, acontecerá necessariamente como consequência que os estudantes das ciências sagradas não percebam mais sequer o significado das palavras pelas quais os dogmas que Deus revelou são propostos pelo magistério da Igreja. É por isso que Nós quisemos que todos aqueles que se dedicam a ensinar a filosofia e a teologia sagrada fossem advertidos que, caso se afastem, sobretudo nas coisas da metafísica de Santo Tomás, não será sem grande prejuízo».

É por isso que o concílio Vaticano II dificilmente poderia propor a doutrina revelada do ponto de vista novo «das formas de investigação e de formulação literária do pensamento moderno» sem correr o risco de alterar profundamente a inteligência e o sentido do depósito da fé. Continuar lendo

PARA UMA JUSTA REAVALIAÇÃO DO VATICANO II: O MAGISTÉRIO ORDINÁRIO UNIVERSAL É INFALÍVEL

Concílio Vaticano II precisa ser mais conhecido também pelos leigos -  Vatican News

Fonte: Courrier de Rome  n.º 322, maio de 2009 – Tradução: Dominus Est

Autor: Pe. Jean-Michel Gleize, FSSPX

Segunda parte

2.1 – Valor dessa infalibilidade

O Vaticano I não diz explicitamente que o magistério ordinário é infalível. Em DS 3011 é dito que o que é ensinado pelo magistério ordinário universal deve ser crido com fé divina. Visto que o que é ensinado como devendo ser crido com fé divina é ensinado infalivelmente, infere-se daí que o magistério ordinário universal ensina infalivelmente. A infalibilidade do magistério ordinário universal é conclusão teológica.

2.2 – Qual é o fundamento da infalibilidade do magistério ordinário universal?

Devemos distinguir duas questões: o que funda a infalibilidade do magistério ordinário universal em si; o que funda essa infalibilidade em relação a nós, ou seja, qual é o critério de visibilidade da infalibilidade do magistério ordinário universal?

2.2.1 – O que funda essa infalibilidade em si mesma?

A infalibilidade é resultado da assistência prometida por Cristo no Evangelho de São Mateus, capítulo 28, versículos 18 a 20, a todo o corpo episcopal docente. Com efeito, há nessa passagem a instituição do instrumento do magistério ordinário universal, dotado com o carisma da indefectibilidade. Cristo disse: «Eu estarei convosco todos os dias». Ora, o sentido dessa expressão, onde se diz que «Deus está com alguém», é bem claro. Essa expressão é utilizada constantemente na Escritura para designar a proteção divina naquilo que há de certo e invencível. Ela significa uma assistência que não padece de qualquer falibilidade no cumprimento do dever que prometeu cumprir e que a preserva antecipadamente de tudo aquilo que lhe poderia causar uma perda ou desvio do fim visado.

Ora, os apóstolos e todos aqueles que lhes sucederam receberam a promessa dessa assistência de Cristo para sempre, e ela visa um efeito muito particular. Nessa passagem Cristo diz: «Estou convosco quando fordes ensinar o que está contido na revelação do meu Evangelho». Eis porque devemos reconhecer sem a menor dúvida que a assistência prometida nessa passagem, assim como a indefectibilidade que lhe está associada, diz respeito precisamente à transmissão intacta da doutrina autêntica de Cristo.

Observemos ainda que há nessa passagem da instituição do magistério ordinário universal a maneira como Cristo dará sua assistência: de maneira contínua e não somente intermitente. Com efeito, Cristo afirma ainda que Ele assistirá seus apóstolos e seus sucessores não somente em alguns dias e nem em certas circunstâncias, como é o caso no Evangelho de São Lucas, capítulo 22, versículo 32, quando se fala da assistência prometida somente aos sucessores de São Pedro, no exercício de seu magistério solene (locutioex cathedra ou concílio ecumênico). Em se tratando do magistério ordinário universal, Cristo diz o contrário: «todos os dias», o que exclui absolutamente toda interrupção, seja o quão breve for, nem mesmo por um só dia, e isso não deixaria espaço para qualquer deturpação. O que se deve ainda entender por «todos os dias»? Que a cada século, a cada geração, se manterá sempre de pé a mesma hierarquia apostólica que é a coluna e fundamento da verdade[28], porque ela transmite indefectivelmente o Evangelho recebido de Cristo. Continuar lendo

PARA UMA JUSTA REAVALIAÇÃO DO VATICANO II: A TRADIÇÃO E O MAGISTÉRIO CLARAMENTE DEFINIDOS

Concílio trouxe maior participação dos leigos na missão de evangelizar -  Vatican NewsFonte: Courrier de Rome  n.º 322, maio de 2009 – Tradução: Dominus Est

Autor: Pe. Jean-Michel Gleize, FSSPX

Por meio de um decreto da Congregação para os Bispos do dia 21 de janeiro de 2009[1], Bento XVI “levantou a excomunhão”[2] sofrida em 1988 pelos quatro bispos da Fraternidade São Pio X. Apenas uma semana depois, durante a Audiência geral de quarta-feira, 28 de janeiro[3], o papa julgou que deveria explicar o sentido desse decreto, dizendo que quisera realizar «um ato de misericórdia paternal», acrescentando que ele esperava da parte dos bispos consagrados por Mons. Lefebvre «um verdadeiro reconhecimento do magistério e da autoridade do papa e do concílio Vaticano II».

Razões profundas de um antagonismo

As palavras de Bento XVI ecoam as de Paulo VI e de João Paulo II. Com efeito, duas frases se mantêm na memória de todos. «Como hoje alguém poderia se comparar a Santo Atanásio, ousando combater um concílio como o segundo concílio do Vaticano, que não possui menos autoridade, e que inclusive, sob certos aspectos, é mais importante ainda que aquele de Niceia?»[4]. Essa censura lançada pelo papa Paulo VI em 1975 é reiterada de maneira ainda mais precisa pelo papa João Paulo II, após Mons. Lefebvre ter evocado o estado de necessidade na Igreja para se dar o direito de consagrar os quatro bispos em 30 de junho de 1988. No motu proprio Ecclesia Dei afflicta, que excomunga Mons. Lefebvre, o papa João Paulo II declara: «A raiz deste ato cismático pode localizar-se numa incompleta e contraditória noção de Tradição. Incompleta, porque não tem em suficiente consideração o carácter vivo da Tradição»[5].

A recente declaração do Papa Bento XVI

Ao pedir à Fraternidade São Pio X que reconhecesse a autoridade do Concílio Vaticano II, Bento XVI confirma então a análise de seus dois predecessores e parece manter o postulado deles com essa nova noção de uma tradição viva. Na famosa carta de 10 de março de 2009 ele revisita o assunto: «Pretendo, no futuro, vincular a Comissão Pontificial “Ecclesia Dei” – que desde 1988 é responsável por essas comunidades de pessoas que, vindo da Fraternidade São Pio X ou de outros grupos similares, querem voltar à plena comunhão com o Papa – à Congregação para a Doutrina da Fé. Parece evidente que os problemas a serem tratados agora são de natureza essencialmente doutrinal, em particular aqueles concernentes à aceitação do concílio Vaticano II e o magistério pós-conciliar dos papas. […] Não podemos congelar a autoridade do magistério da Igreja em 1962: isso deve estar muito claro para a Fraternidade»[6]. Mas, desta vez, Bento XVI acrescenta uma reflexão que não deve deixar ninguém indiferente: «Não obstante, para alguns daqueles que se proclamam grandes defensores do Concílio, devemos lembrar que o Vaticano II contém em si a história doutrinal inteira da Igreja. Aquele que quer obedecer ao Concílio deve aceitar a fé professada ao longo dos séculos e não pode cortar as raízes que dão vida à árvore»[7]. Continuar lendo

PADRE JEAN-MICHEL GLEIZE, FSSPX, COMENTA A ATUAÇÃO DE MONS. VIGANÒ

Oremos para que as ações recentes do Arcebispo Viganò, que como dito no vídeo, teve uma tomada brutal de consciência, realmente convirjam em prol da Tradição católica bimilenar e deixem um legado digno do nome católico.

AS ORIGENS DO VATICANO II, PELO PE. HESSE

Título original: “The Mess Manifest”. Nesta conferência, o padre Gregory Hesse conta como os modernistas, amparados por mãos maçônicas, se infiltraram na alta cúpula da Igreja Católica, até instituir a “Igreja do Novo Advento” com o Concílio Vaticano II. Além disso, é esclarecido o papel da Opus Dei desde sua origem até os dias de hoje.