D. LEFEBVRE: A BENÉFICA INDEPENDÊNCIA DA FSSPX DAS DIOCESES

Mgr Lefebvre : l'indépendance bénéfique de la FSSPX de tout diocèse • La  Porte Latine

A Providência preparou esta situação única na Igreja que permite que a doutrina e a liturgia sejam protegidas das ameaças modernistas.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Excerto de uma conferência proferida em um retiro para os seminaristas de Ecône, em 10 de abril de 1990. D. Lefebvre agradece à Providência por ter proporcionado à Fraternidade São Pio X uma situação viável que lhe permite continuar a viver de acordo com a Tradição Católica.

Texto

O Bom Deus assim o quis, não o posso negar pois os fatos estão aí, eles existem. Penso que a Fraternidade teve essa graça particular de, praticamente, não depender de nenhum Bispo diocesano. Os senhores me dirão: “existem as congregações religiosas”, mas as congregações religiosas ainda dependem, em certa medida, dos Bispos diocesanos.

A ideia inicial: colaborar com as dioceses

E não é por culpa nossa porque minha primeira ideia era formar seminaristas como o Pe. Aulagnier: ele, simplesmente, havia sido incardinado na diocese de Clermont-Ferrant para retornar à sua diocese. 

Fui visitar D. de La Chanonie, que eu conhecia bem, ex-membro do Seminário Francês de Roma, e disse-lhe: “Tenho aqui um seminarista que veio me procurar, estuda na ‘Universidade de Friburgo, está aqui comigo, tenho vários como ele, mas uma vez que é de vossa diocese, peço a gentileza de incardiná-lo e, assim que terminar, espero que o aceitem de volta para lhe conferir uma função em vossa diocese.” Continuar lendo

MARIA MEDIANEIRA, CORREDENTORA E DISPENSADORA DE TODAS AS GRAÇAS – PARTE 2/2

Posuimus Te Custodem | Blessed mother, Blessed virgin mary, Mother mary

MARIA DISPENSADORA DE TODAS AS GRAÇAS

Fonte: SI SI NO NO – Tradução: Dominus Est

Prólogo

Maria, cooperando na distribuição e aplicação de todos os frutos da Redenção, é Dispensadora, ou seja, dispensa todas as graças, a todos os homens que as querem receber(1).

Podemos dividir a Redenção em dois atos:

1°) aquele pela qual foi operada;

2°) aquele pelo qual é continuamente aplicada aos homens “todos os dias até ao fim do mundo” (Mt. 28, 20).

A) A existência ou fato da Dispensação de toda graça

Explicação dos termos

Maria coopera na aplicação dos frutos da Redenção, ou seja, exerce uma certa causalidade (veremos mais adiante que tipo de causalidade é) na distribuição de todas e cada uma das graças divinas e a todos e cada um dos homens em particular.

Trata-se de uma cooperação ou causalidade universal, pois:

1°) estende-se a todas e cada uma das graças divinas (graça habitual/atual, virtudes infusas, dons do Espírito Santo, dons temporais ordenados ao bem espiritual de quem os recebe e também carismas ou “gratiae gratis datae”);

2°) estende-se a todos os homens de todos os tempos a modo de causa eficiente instrumental, na medida em que Deus lhes dá graça mediante a cooperação atual de Maria (mesmo àqueles que viveram antes de Maria e de Cristo e isto em virtude da fé no Messias vindouro e da fé na existência do Deus que recompensa os bons que observam a Lei natural e divina inscrita em suas almas, e pune os maus). Continuar lendo

MARIA MEDIANEIRA, CORREDENTORA E DISPENSADORA DE TODAS AS GRAÇAS – PARTE 1/2

O que significa dizer que Maria é “corredentora” e “medianeira de todas as  graças”?

MARIA MEDIANEIRA

Fonte: SI SI NO NO – Tradução: Dominus Est

A natureza da mediação

Mediador é aquele que está no meio, entre duas pessoas ou coisas para uni-las (se ainda não estiverem unidas) ou reuni-las (se estiverem separadas por discórdia).

Santo Tomás ensina (S. Th., III, q. 26, a. 1, corpus) que para ser um mediador são necessárias duas coisas:

1°) estar no meio entre os dois extremos: Ora, Maria está no meio entre Deus e os homens, sendo verdadeira Mãe do Homem-Deus e verdadeira criatura humana;

2°) juntar ou reunir duas entidades. Ora, Maria cumpriu o ofício de unir Deus e os Anjos (que não estavam unidos) e Deus e os homens, que estavam separados por causa do pecado original. Por conseguinte, Maria devolveu Deus ao homem e o homem a Deus, mediante a graça santificante devolvida ao homem.

Maria é Medianeira entre o homem e Deus:

1°) na medida em que coopera, de forma subordinada e secundária, com Cristo na reconquista da graça perdida pelo pecado original (Maria Corredentrix);

2°) na medida em que distribui e aplica, subordinadamente a Cristo, a graça reconquistada a todos os homens que não colocam obstáculos em seu caminho (Maria dispensatrix omnium gratiarum). Continuar lendo

LEI DA ORAÇÃO OU LEI DA FÉ/CRENÇA? O MOVIMENTO ECCLESIA DEI

Loi de la prière ou loi de la croyance ? • La Porte Latine

A ilusão do Movimento Ecclesia Dei foi pretender separar os dois em nome da causa tradicional.

Fonte: Courrier de Rome n°649 – Tradução: Dominus Est

A Missa em Lille, celebrada há quase 50 anos por D. Lefebvre em 29 de agosto de 1976(1), ficou marcada, sem dúvidas, aos olhos do grande público e da mídia, como o ponto culminante da reação dos fiéis católicos à reforma litúrgica inaugurada pelo Papa Paulo VI sete anos antes, em 3 de abril de 1969, com a promulgação do Novus Ordo Missae. Durante esses anos, vozes foram ouvidas e as colunas do Courrier de Rome foram amplamente abertas a todos os experientes teólogos e canonistas da época, que se tornaram os intrépidos defensores do Missal dito “de São Pio V”. Isso foi particularmente evidenciado nas edições de 1973-1974, onde o Pe. Raymond Dulac (1903-1987)(2), Pe. Jacques-Emmanuel des Graviers(3), o professor Louis Salleron (1905-1992)(4) e seu filho Pe. Joseph de Sainte-Marie (1932-1984)(5) tentaram justificar o vínculo dos católicos ao seu rito, ao rito católico e romano da Missa, até agora expresso no Missal dito “de São Pio V”, na versão dada pouco antes do Concílio Vaticano II pelo Papa João XXIII. Todos aqueles que contribuíram para o Courrier de Rome naqueles anos fizeram-no, em grande parte, para defender o direito, o bom direito dos católicos de receber da Igreja a Missa de sempre, a Missa celebrada segundo o Missal dito “de São Pio V”.

2. Essas reflexões chamaram a atenção de D. Aimé-Georges Martimort (1911-2000), co-fundador do Centro Nacional de Pastoral Litúrgica (1943), perito no Concílio Vaticano II (1962-1965), professor do Instituto Católico de Toulouse e consultor da Congregação para o Culto Divino. Em um estudo intitulado “Mas o que é a Missa de São Pio V?” publicado no jornal La Croix de 26 de agosto de 1976(6), ele procurou identificar mais de perto “as razões de uma oposição”. Pois é disso que se trata: o vínculo ao Missal conhecido dito “de São Pio V” é apenas a consequência de uma recusa: a recusa do novo Missal de Paulo VI. Por que essa recusa?

3. É necessário reconhecer em D. Martimort o mérito de ter rejeitado as explicações insuficientes ou incompletas, recordadas demasiadamente pelos meios de comunicação. A recusa do Novus Ordo Missae de Paulo VI não se justifica fundamentalmente apenas em razão dos abusos que se pode ocasionar durante esta ou aquela celebração, tampouco pela introdução de certas práticas, como o fato de celebrar de frente do povo, ou pelo uso da língua vernácula, ou ainda pelo abandono de algumas outras práticas, como o uso do latim e do canto gregoriano. Também não seria, ainda fundamentalmente, a notável modificação das orações do ofertório, das palavras da consagração, nem a introdução de novas orações eucarísticas. Continuar lendo

ESPECIAIS DO BLOG: CRISTO JUIZ: UMA VERDADE DE FÉ CAÍDA NO ESQUECIMENTO

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Parte 1: Uma verdade de fé caída no esquecimento

Parte 2: O Juízo Universal nos espera no fim dos tempos

Parte 3: O juízo de Nosso Senhor é o Juízo de Deus

Parte 4: O poder de julgar vem do Pai e foi transmitido a São Pedro, aos Apóstolos e aos seus sucessores

Parte 5: Justiça do juízo

Parte 6 – Final: Não há nenhuma contradição entre Cristo juiz e Cristo misericordioso

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Sobre o Prof. Paolo Pasqualucci:

Conhecido no Brasil por seus magníficos artigos publicados na Revista Permanência, o italiano Paolo Pasqualucci é ex-professor de Filosofia do Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Perugia, além de também ter lecionado nas Universidades de Roma, Nápoles e Teramo (História das Doutrinas Políticas).

Sua produção inicialmente se concentrou em temas de filosofia jurídica e política com artigos, ensaios e monografias dedicados a clássicos modernos como Locke, Hobbes, Rousseau e Kant. Ele reelaborou progressivamente seus cursos universitários em uma Introduzione alla filosofia del diritto (Margiacchi-Galeno, Perugia, última edição em 1994, pp. 228).

Desenvolveu uma crítica radical do pensamento revolucionário em dois artigos dedicados a Walter Benjamin (La Rivoluzione come Messia. Considerazioni sulla filosofia politica di Benjamin, “Trimestre”, X, 1977, 1-2, pp. 67-112; Felicità Messianica. Interpretazione del frammento teologico-politico di Benjamin, “Rivista Internazionale di Filosofia del Diritto”, LV, 1978, 3, pp. 583-629) e em um ensaio dedicado ao messianismo laico contemporâneo intitulado Politica e Religione. Saggio di teologia della storia (Antonio Pellicani, Roma 2001, pp. 94) com tradução também em francês (Politique et religion. Essai de Théologie de l’historie. Publications Courrier de Rome, Versailles Cedex 2003, pp. 108).

Desde o início dos anos noventa do século passado dedicou-se principalmente à pesquisa metafísica e teológica. No âmbito da metafísica, publicou um ensaio sobre o conceito do Uno como conceito filosófico de Deus, no qual acredita ter demonstrado que esse conceito é perfeitamente compatível com o do Deus verdadeiro, revelado na Santíssima Monotríade: Introduzione alla Metafisica dell’Uno, com Prefácio de Antimo Negri (Antonio Pellicani, Roma 1996, pp. 151).

Ele também trabalha há anos em uma obra de três volumes intitulada Metafisica del Soggetto, destinada a restabelecer uma teoria realista do conhecimento, na tradição da metafísica clássica ou aristotélico-tomista. Deste estudo saíram o primeiro volume: Metafisica del Soggetto. Cinque tesi preliminari (vol. I, Spes – Fondazione G. Capograssi, Roma 2010, pp. 188); e o segundo: Metafisica del soggetto. Il concetto dello spazio (vol. II, Giuffrè, Roma 2015, pp. 648).

Os seus estudos teológicos e de filosofia da religião concentraram-se na análise crítica do Concílio Vaticano II, conduzida desde o ponto de vista da Tradição da Igreja, resultando até agora em artigos, discursos em conferências e dois livros: Giovanni XXIII e il Concilio Ecumenico Vaticano II (Editrice Ichthys, Albano Laziale 2008, pp. 415); L’ambigua cristologia della redenzione universale. Analisi di “Gaudium et Spes 22” (Editrice Ichthys, Albano Laziale 2009, pp. 144). Deste último foi publicada uma versão reduzida com o título La Cristologia antropocentrica del Concilio Ecumenico Vaticano II. Em 2014 publicou pela Fede e Cultura o livro Il Concilio parallelo. L’inizio anomalo del Vaticano II (128 pp.) em que restaura verdades esquecidas no tumultuado início do Concílio Vaticano II.

Publicou também a obra Unam Sanctam (2014), onde estuda os desvios doutrinais da Igreja católica no século XXI; ademais, um livro sobre a questão de um partido católico nacional, Per una carta del partito cattolico (2014); dois livros sobre a perseguição a Dom Lefebvre e à FSSPX e sua injusta condenação: La persecuzione dei “Lefebvriani” ovvero l’illegale soppressione della Fraternità Sacerdotale san Pio X (2014) e Una scomunica invalida: Uno scisma inexistente. Due studi sulle consacrazioni lefebvriane di Écône del 1988 (2017); também publicou um livro sobre a hipertrofia do papel da mulher na sociedade, ou “ginecocracia”, como chamou: Il «regno della donna» ha distrutto i valori tradizionali (2020); por fim, em 2021, publicou Instrumentum diaboli. Le eresie della «teologia india» nello «Instrumentum laboris» per l’Amazzonia, gradito da Papa Francesco onde tece crítica elaborada ao Sínodo da Amazônia e seus escândalos subsequentes. Todos estes pela Editora Solfanelli.

Neste ano de 2022, publicou pela editora Fede e Cultura uma obra sobre a dignidade do homem intitulada La falsa dignità. Una visione dell’uomo spesso fraintesa. Nela faz um percurso histórico sobre a noção de dignidade do homem até o seu uso nos dias de hoje como pilar do “politicamente correto”.

GUARDAR E TRANSMITIR A TRADIÇÃO – CONFERÊNCIA DO PADRE DAVIDE PAGLIARANI, SUPERIOR DA FSSPX

Transcrição integral da conferência dada pelo padre Davide Pagliarani, superior-geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, no final do XVIº Congresso de Teologia do Courrier de Rome, em parceria com o DICI, no dia 15 de janeiro de 2022, em Paris. 

Fonte: FSSPX

Não podemos desejar, ao mesmo tempo, o bem das almas pela Tradição e uma nova Igreja sem a Tradição.

É certo que estamos num momento crucial, num momento ao mesmo tempo triste, mas também numa situação lógica. Chegamos a um ponto que era previsível. É verdade que a Fraternidade São Pio X não foi diretamente atingida pelo motu proprio Traditionis Custodes, pelas razões que os senhores já conhecem. Mas, de fato, por causa da nova situação que se criou, hoje mais do que nunca, a posição da Fraternidade São Pio X se mostrou como a única viável, a única que mostra o caminho.

Não sou a pessoa mais indicada para afirmar isso, mas há fatos que são objetivos, e mesmo evidentes.

Por que isso? Porque os institutos Ecclesia Dei, que foram tocados diretamente por esse motu proprio, não são a Fraternidade São Pio X, é verdade; mas eles existem porque a Fraternidade São Pio X existe. Sua origem, de um ponto de vista geral, está ligada de algum modo à história da Fraternidade; dela dependem, ao menos indiretamente. E, hoje em dia, essa nova situação enfatiza grandemente o alcance do papel da Fraternidade, e de sua missão. E também, inevitavelmente, a necessidade da tradição integral.

A tradição é um todo, porque a fé é um todo. Hoje é preciso, mais do que nunca, a profissão livre dessa fé. A verdadeira liberdade dos filhos de Deus é a liberdade, em primeiro lugar, de professar a fé.

A oposição do Papa Francisco

Aqui abro um parênteses. Falaremos, inevitavelmente, dos institutos Ecclesia Dei, e quero esclarecer que no âmbito pessoal, não tenho nada contra aqueles que pertencem a tais institutos: nem contra os fiéis, nem contra os membros. Estamos completamente fora dessa perspectiva de oposição pessoal. Nas coisas humanas, em todo lugar há pessoas simpáticas e pessoas antipáticas. Isso vale para a humanidade inteira, isso vale também para nós de algum modo. Preciso colocar essa nota porque ela permitirá falar mais livremente durante minha exposição.

O problema não é que a Fraternidade São Pio X possa “criticar os institutos Ecclesia Dei”. No momento atual, é o próprio Papa Francisco quem parece estar cansado dos institutos Ecclesia Dei e, em geral, de todos os padres ligados à missa tridentina. Isto nos brinda a oportunidade de retornarmos aos começos da Ecclesia Dei: O texto de 2 de julho de 1988 contém a condenação da Fraternidade São Pio X, a condenação de Dom Lefebvre – e estende a mão aos institutos Ecclesia Dei. Continuar lendo

CRISTO JUIZ (PARTE 6/FINAL): NÃO HÁ NENHUMA CONTRADIÇÃO ENTRE CRISTO JUIZ E CRISTO MISERICORDIOSO

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Prof. Paolo Pasqualucci (Courrier de Rome nº 387) – Tradução: Dominus Est

6. Não há nenhuma contradição entre Cristo juiz e Cristo misericordioso

Mas pode o Cristo juiz ser o mesmo que nos atrai com sua bondade e doçura, que não replica às ofensas, que está pronto para perdoar, que nos incita a também amar a nossos inimigos e a rezar pelos nossos perseguidores, que nos conta a parábola do filho pródigo, que derrama um bálsamo sobrenatural sobre as feridas do nosso coração ao nos chamar para Ele dizendo: «Vinde a mim todos os que estais fatigados e carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu peso leve» (Mt. 11, 28-30)?

Os filhos do século amam contrapor um Cristo ao outro, querendo assim apontar de modo completamente arbitrário uma contradição insanável. Os semeadores da discórdia presentes entre nós, conforme se disse, esqueceram e colocaram de lado o Cristo juiz para fabricar um que seja agradável ao paladar dos mundanos: bom e misericordioso porque Ele participaria dos assuntos humanos com um ânimo comovido e solidário, tolerando e perdoando tudo, inclusive o pecado; um Cristo postiço, de tal modo «bom» e «misericordioso» que Ele já teria salvo todos os homens por sua Encarnação, segundo o ensinamento perverso da heresia difundida entre cristãos inconscientes e anônimos! Um Cristo, portanto, que não julga ninguém, mas num sentido bem diferente daquele explicado por Nosso Senhor em pessoa e que acabamos de lembrar.

Dado que o Cristo juiz e o Cristo misericordioso são o mesmo indivíduo humano-divino, que historicamente existiu neste mundo no israelita Jesus de Nazaré, a justiça e a bondade misericordiosas que Ele prega e mostra em seus atos não se contradizem de maneira alguma. Elas são pregadas por Ele e realizadas por Ele tal como se encontram no Pai, do qual constituem seus atributos. A vontade de Deus, além de ser santa, é intrinsecamente justa, e ela é boa e misericordiosa. Tudo o que Nosso Senhor disse e fez, Ele ouviu e viu no Pai. Ele faz as obras do Pai, que não cessa jamais de agir, ab aeterno (Jo. 5, 17). Continuar lendo

CRISTO JUIZ (PARTE 5): JUSTIÇA DO JUÍZO

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Prof. Paolo Pasqualucci (Courrier de Rome nº 387) – Tradução: Dominus Est

5. Justiça do juízo

Após ter explicado a origem de seu poder de julgar, Nosso Senhor esclarece seu vínculo com a justiça. Por que seu juízo é justo por definição; por que é, podemos dizer, a justiça em si mesma que se realiza? Ainda em seu primeiro ensinamento aos fariseus, Ele nos explica de maneira mais detalhada porquê o Pai Lhe dá o poder de julgar.

«Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem, viverão. Com efeito assim como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu ao Filho ter vida em si mesmo; e deu-lhe o poder de julgar, porque é Filho do homem. Não vos admireis disso, porque virá tempo em que todos os que se encontram nos sepulcros ouvirão a sua voz, e os que tiverem feito obras boas sairão para a ressurreição da vida, mas os que tiverem feito obras más, sairão ressuscitados para a condenação. Não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Julgo segundo o que ouço [akoúo, audio] (de meu Pai), e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou» (Jo. 5, 25-30).

O Senhor repete o conceito de renascimento espiritual concedido àqueles que escutam sua palavra e que se tornam seus discípulos, colocando-as em prática. Todos aqueles que estão espiritualmente «mortos» por causa de seus pecados «ouvirão» a partir de então («vem a hora, e já chegou») a Palavra de Cristo. E aqueles que a tiverem ouvido, no sentido de tê-la compreendido e seguido, terão a vida eterna. E eles a terão, porque o Pai concedeu ao Filho ter «em si mesmo» a vida (eterna) que Ele mesmo (o Pai) possui: e essa vida eterna é dada pelo Filho pelo exercício do poder de julgar. Com efeito, Ele «deu-lhe o poder de julgar, porque é Filho do homem», ou seja, o Messias esperado que se revelou no Verbo Encarnado (Dn. 7, 13; Ez. 2, 1). Um poder de julgar que, coincidindo perfeitamente com o do Pai, estende sua competência até o dia do Juízo. Nesse dia, todos aqueles que estão «nos sepulcros» ouvirão a voz do Senhor e ressuscitarão para ir ao Juízo: os justos para a «vida» eterna, os maus para o «juízo», ou seja, para a condenação. No segundo ensinamento dado aos fariseus, Jesus repete esses conceitos: «Ora a vontade daquele que me enviou, é que eu não perca nada do que me deu, mas que o ressuscite no último dia. A vontade de meu Pai, que me enviou, é que todo o que vê o Filho e crê nele tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia» (Jo. 6, 39-40). Continuar lendo

A NOVA MISSA E A FÉ CATÓLICA, PELO CÔNEGO RENÉ MARIE BERTHOD

Esta análise da Missa nova pelo Cônego Berthod vai diretamente ao ponto.

O cônego René Berthod (+ 26/06/1996), sacerdote da Congregação dos Cônegos do Grande São Bernardo, após  uma longa e brilhante carreira como professor, foi diretor do seminário de Econe por muitos anos. Eminente e profundo teólogo, grande conhecedor de Santo Tomás, aceitou, em 1981, escrever uma breve crítica à nova Missa para a revisão do Mouvement de la Jeunesse Catholique de France, Savoir et Servir (n° 9).

La Porte Latine

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A Igreja de Cristo foi instituída para uma dupla missão: uma missão de fé e uma missão de evangelização dos homens redimidos pelo sangue do Salvador. A Igreja deve entregar aos homens a fé e a graça: a fé através de seu ensinamento, a graça através dos sacramentos que lhe confiou Nosso Senhor Jesus Cristo.

Sua missão de fé consiste em transmitir aos homens a Revelação, feita ao mundo por Deus, das realidades espirituais e sobrenaturais, assim como sua conservação, através do tempo e dos séculos, sem alterações. A Igreja Católica é, antes de tudo, a fé que não muda; é como – disse São Paulo – “A coluna de verdade”, a qual é sempre fiel a si mesma e inflexível testemunha de Deus – atravessa o tempo dentro de um mundo em perpétuas mudanças e contradições.

Através dos séculos, a Igreja Católica ensina e defende sua fé em nome de um só critério: “O que sempre acreditou e ensinou”. Todas as heresias, contra as quais a Igreja constantemente enfrentou, foram sempre julgadas e reprovadas em nome da não conformidade com este princípio. O primeiro princípio reflexo da hierarquia na Igreja, e especialmente da romana, foi manter sem mudanças a verdade recebida dos Apóstolos e do Senhor. A doutrina do Santo Sacrifício da Missa pertence a este tesouro de verdade da Igreja. E, se hoje em dia, nesta matéria em particular, aparece uma espécie de ruptura com o passado da Igreja, tal novidade deveria alertar qualquer consciência católica, como nos tempos de grandes heresias nos séculos passados, e provocar universalmente uma confrontação com a fé da Igreja que não muda. Continuar lendo

CRISTO JUIZ (PARTE 4): O PODER DE JULGAR VEM DO PAI E FOI TRANSMITIDO A SÃO PEDRO, AOS APÓSTOLOS E AOS SEUS SUCESSORES

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Prof. Paolo Pasqualucci (Courrier de Rome nº 387) – Tradução: Dominus Est

4. O poder de julgar vem do Pai e foi transmitido a São Pedro, aos Apóstolos e aos seus sucessores

O poder de julgar do Filho vem do Pai. Com efeito, assim como o Pai ressuscita os mortos e dá a vida, da mesma maneira o Filho dará a vida a quem Ele quer. O Pai não julga ninguém, tendo deixado todo juízo nas mãos do Filho, a fim de que todos honrem o Filho como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho não honra o Pai. É o que explica Nosso Senhor em seu primeiro ensinamento aos fariseus.

«Em verdade, em verdade vos digo: O Filho não pode de si mesmo fazer coisa alguma, mas somente o que vir fazer ao Pai; porque tudo o que fizer o Pai, o faz igualmente o Filho. Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que faz; e lhe mostrará maiores obras do que estas, até ao ponto de vós ficardes admirados. Porque assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida àqueles que quer. O Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o poder de julgar, a fim de que todos honrem o Filho como honram o Pai. O que não honra o Filho, não honra o Pai, que o enviou. Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não incorre na sentença da condenação, mas passou da morte para vida» (Jo. 5, 19-24).

O Filho não é autônomo em relação ao Pai. Ele não pode nada fazer «de si mesmo». O Filho pode fazer «somente o que vir fazer ao Pai»; o que o Pai, em seu amor pelo Filho, «mostra» (deíknumi em grego, demonstro, monstro em latim) ao Filho. Esse conhecimento pelo Filho é o fruto do amor do Pai pelo Filho e pertence à natureza intrínseca de seu vínculo, à coabitação (pericòresis ou circuminsessio) e à compenetração recíproca das Pessoas da Santíssima Trindade por sua processão imanente. Continuar lendo

CRISTO JUIZ (PARTE 3): O JUÍZO DE NOSSO SENHOR É O JUÍZO DE DEUS

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Prof. Paolo Pasqualucci (Courrier de Rome nº 387) – Tradução: Dominus Est

3. O juízo de Nosso Senhor é o Juízo de Deus

O juízo anunciado por Nosso Senhor é uma sentença inapelável. A sentença em si é um comando que aplica a justiça. Com efeito, dizemos que a sentença ou o julgamento, para serem verdadeiramente tais, devem ser justos. A justiça que se realiza no juízo de Nosso Senhor não é humana, mas divina. É o juízo de Deus, que conhece os corações, que tudo vê, que tudo sabe, que tudo perscruta; juízo infalível cuja sentença dura por toda a eternidade. Quem pode pensar em atacá-lo? «Todas as coisas estão a nu e a descoberto, aos olhos Daquele de quem falamos» (Heb. 4, 13).

Portanto, o juízo de Nosso Senhor é justo porque é o juízo de Deus. Por meio dele, Nosso Senhor aplica sobre nós a vontade de Deus. Fazer a vontade de Deus, servare mandata: essa atitude e esse comportamento já resumem para nós homens, durante nossa vida terrestre, todo o significado da justiça, tomado em seu fundamento sobrenatural. E essa vontade nos é conhecida. É ela que está contida na lei natural e divina, inata em nós (Rom. 2, 14-16), gravada no Decálogo, realizada pela pregação do Verbo encarnado (Mt. 5, 17).

E Aquele que julga depois da morte e que virá a julgar no final dos tempos, na Ressureição dos corpos, durante o tempo da Sua vida mortal aplicou a si mesmo, durante sua vida mortal, o princípio que Ele nos aplica para nos julgar. Com efeito, durante toda sua vida terrestre Ele sempre fez a vontade do Pai e jamais a sua; e Ele a fez com obediência perfeita, até ao «testemunho de sangue», até a morte na Cruz (Heb. 5, 7-10; 12, 4), sofrendo até o fim toda a atrocidade de um juízo injusto. Continuar lendo

MAMÃE, CONTA UMA HISTORINHA?

Irmãs da Fraternidade Sacerdotal São Pio X

“Era uma vez um anjo muito bonito que se chamava Rafael…” Pedro está sentado no chão, aos pés da sua mãe. Domitila se espreme no sofá enquanto Ágata, ajoelhada, chupa o polegar. Os três prestam atenção na sua “alegria da noite”: mamãe contando uma história…

Desde o Gilgamesh, a mais antiga epopeia da humanidade, escrita 1.800 anos antes de Cristo, passando pela Ilíada e a Odisseia, que Homero recitava de casa em casa, e pelas Canções de Gesta, que os trovadores narravam a nossos antepassados, até os contos que nossas vovós contavam perto do fogo, os homens de todas as idades e de todos os tempos sempre gostaram de ouvir histórias.

É muito natural. Por meio de nobres epopeias ou de simples contos, as histórias, sejam ingênuas, fantasiosas, engraçadas ou trágicas, transmitem, num clima de poesia, uma cultura, uma civilização, uma concepção do homem e do mundo. Ao tocar os sentidos e a imaginação, elas nos fazem refletir sobre o bem e o mal, a vida e a morte, os trabalhos e as conquistas, nossa condição humana e o sentido do nosso destino.

Aí está a importância das histórias para a formação de nossos filhos. Mas, não se contentem, queridos pais, em deixar os seus filhos lerem sozinhos. Contatas por vocês, as histórias adquirem uma força de persuasão e uma autoridade muito maior; elas se revestem da sua própria experiência de vida, ao passo que o tom da sua voz, seus gestos e mímicas capturam a atenção e dão vida às histórias. Continuar lendo

CRISTO JUIZ (PARTE 2): O JUÍZO UNIVERSAL NOS ESPERA NO FIM DOS TEMPOS

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Prof. Paolo Pasqualucci (Courrier de Rome nº 387) – Tradução: Dominus Est

2. O Juízo Universal nos espera no fim dos tempos

Nosso Senhor anunciou claramente que Ele será nosso juiz no fim dos tempos, quando voltará sobre a terra e acontecerá o Juízo Universal.

«Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas só o Pai. Assim como foi nos dias de Noé, assim será também a (segunda) vinda do Filho do homem. Nos dias que precederam o dilúvio (os homens) estavam comendo e bebendo, casando-se e casando seus filhos, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não souberam nada até que veio o dilúvio, e os levou a todos. Assim será também na vinda do Filho do homem. Então, de dois que estiverem num campo, um será tomado e o outro será deixado. De duas mulheres que estiverem moendo com a mó, uma será tomada e a outra será deixada. Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora virá o vosso Senhor. Sabei que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, sem dúvida, e não deixaria minar a sua casa. Por isso estai vós também preparados, porque o Filho do homem virá na hora em que menos o pensardes» (Mt. 24, 36-44).

O Senhor que nos virá julgar é «o Filho do homem», portanto é Jesus Cristo que ressuscitou e subiu ao céu em pessoa. O «Filho do homem» é «vosso», ou seja, nosso «Senhor». Mas contra o que e como devemos «vigiar»? Certamente não para prevenir nossa morte natural imprevista ou um acontecimento sobrenatural, que também será imprevisto, como a parusia de Nosso Senhor (ou seja, sua Presença no sentido de Advento, Retorno final de Cristo como Rei do universo e Juiz do gênero humano). Nós devemos «velar» e «vigiar» contra nós mesmos para não cair em tentação pela obra do demônio e nos encontrarmos em pecado mortal no dia do Juízo (e no dia da nossa morte, que é para nós como o dia do Juízo). Porque quem for encontrado em estado de pecado mortal nesse dia será condenado eternamente.

2.1. O Justo Juiz separará eternamente os eleitos dos réprobos

Esta verdade resulta inequivocamente também do ensinamento por meio das parábolas. O que acontecerá com o servo infiel que, porque o senhor tardava, começou a maltratar os subordinados e a levar uma vida boa com os bens do próprio senhor? «Virá o senhor daquele servo no dia em que o não espera, na hora que não sabe, e o cortará em dois e porá a sua parte entre os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes» (Mt. 24, 45-51). O senhor virá e condenará à morte o servo hipócrita, infiel e traidor, infligindo sobre ele a pena prescrita na época aos traidores: o esquartejamento. E esse servidor irá lá para onde «haverá pranto e ranger de dentes», ou seja, o inferno. A chegada imprevista do senhor impedirá o infame servo de se arrepender: só haverá tempo de pronunciar a sentença, imediatamente executável. A chegada imprevista do senhor simboliza nossa morte, após a qual não poderemos mais reparar nossos pecados; a terrível punição que Ele inflige, a condenação eterna nos tormentos. Continuar lendo

UMA ESPIRITUALIDADE SALESIANA?

Une spiritualité salésienne ? • La Porte Latine

Na escola de São Francisco de Sales, a alma cristã possui um guia seguro, cheio de equilíbrio e bondade.

Fonte: Apostolo nº 159 – Tradução: Dominus Est

Muito acima de um simples humanismo, a espiritualidade salesiana é inteiramente católica, baseada na caridade e equilíbrio. Devemos reconhecer em São Francisco de Sales essa característica de temperar as exigências da ascese com uma nota de doçura e amor que torna sua espiritualidade especialmente atraente. Ele sempre retrata Deus na forma de um Pai que nos quer bem, ao contrário dos jansenistas e calvinistas que gostavam de apresentá-Lo como um juiz distante e implacável. Assim, São Francisco de Sales coloca o amor de Deus no centro da espiritualidade que ensina às almas: “Para o amor, no amor e do amor na Santa Igreja.”

E ele desenvolve esse pensamento no Tratado do Amor de Deus (compre aqui), sua obra-prima, na qual trabalhou durante 9 anos. Ele ensina, por exemplo, que, segundo sua atração, os santos deram mais importância a esta ou aquela virtude, como por exemplo São Francisco de Assis à pobreza ou São Bento à piedade litúrgica, mas que, no fundo, é o amor que anima tudo, que é o fim a qual devemos chegar e o meio para alcançar Deus. “Não é pela grandeza de nossas ações que agradamos a Deus, mas pelo amor com que as fazemos. Continuar lendo

CRISTO JUIZ (PARTE 1): UMA VERDADE DE FÉ CAÍDA NO ESQUECIMENTO

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Prof. Paolo Pasqualucci (Courrier de Rome nº 387) – Tradução: Dominus Est

«É coisa horrenda cair nas mãos do Deus vivo» (Heb. 10, 31)

1. Uma verdade de fé caída no esquecimento

A pastoral hodierna da Igreja Católica nunca lembra aos fiéis que Nosso Senhor Jesus Cristo – segunda pessoa da Santíssima Trindade, consubstancial ao Pai, a Ele a honra e a glória pelos séculos dos séculos – é o justo juiz que decidirá infalivelmente o destino eterno da alma de cada um, imediatamente após sua morte, enviando-o para sempre para o paraíso ou para o inferno.

Esta verdade fundamental da nossa fé parece completamente esquecida, assim como o princípio segundo o qual devemos todos os dias realizar em tudo a vontade de Deus para Lhe dar glória e porque seu juízo, ao qual nós deveremos «prestar contas», examina incansavelmente nossas intenções e ações (Heb. 4, 13).

A partir do roncalliano Discurso de abertura do Concílio Vaticano II em 11 de outubro de 1962, a pastoral da Igreja foi poluída por uma nova tendência, implicando um afastamento entre «misericórdia» e «doutrina». Com efeito, é João XXIII que defende a ideia extraordinária segundo a qual a Igreja não deveria mais condenar os erros, dado que os homens contemporâneos, segundo ele, mostravam-se já «inclinados a condená-los». É por isso que a Igreja preferiu «usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade. [E] Julga satisfazer melhor às necessidades de hoje mostrando a validez da sua doutrina do que renovando condenações» (AAS 54, 1962, p. 792). Porventura a Igreja jamais buscou no passado demonstrar a «validez da sua doutrina» independente das condenações? Basta ler qualquer Epístola dos Apóstolos… A afirmação de Roncalli é contraditória. A condenação oficial do erro é intrinsecamente obra de misericórdia porque ela adverte o homem de seu erro e, contextualmente, os fiéis, dando-lhes os instrumentos necessários para se defender (R. Amerio). Deixando de condenar os erros que atentavam contra a salvação das almas, no interior e no exterior da Igreja, a Hierarquia faltou com seu dever e abriu de fato as portas do redil aos lobos. Os quais, como podemos bem ver cinquenta anos depois, devastaram-no completamente. Continuar lendo

A FRATERNIDADE SÃO PIO X ESTÁ FORA DA IGREJA?

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Não temamos essa pergunta direta, não nos esquivemos da resposta. Tentemos, sem arrogância ou qualquer espírito rebelde, sermos justos.

Fonte: Le Carillon nº 182 – Fonte: Dominus Est

O fundamento da existência da Fraternidade São Pio X (FSSPX) é o testemunho de toda a fé católica tradicional e não apenas uma parte dela. Este testemunho não é um capricho pessoal da FSSPX, não provém de um carisma particular ou extraordinário, mas é uma necessidade de salvação para cada cristão. Infelizmente, ele [o testemunho] nos coloca “em oposição formal, profunda e radical à Igreja do Vaticano II infestada de ideias modernistas” (Coletiva de imprensa de D. Lefebvre – 15 de junho de 1988). 

O que fazer?

A posição de D. Lefebvre permaneceu sempre inalterada: “A característica própria de um católico é amar Roma. Uma vez somos dolorosamente atingidos e martirizados pelo obscurecimento da doutrina da Igreja Romana, devemos nos separar da Igreja de Roma? E ligamo-nos diretamente a Nosso Senhor Jesus Cristo? Esse é um erro perigoso! É nosso dever pensar bem sobre a questão, a fim de não nos desviarmos e desejarmos, em nossos corações, sentimentos e orientações que nos conduziriam então, de fato, para fora da Igreja” (7 de setembro de 1981).

Concretamente, quando a FSSPX recebeu a aprovação da Igreja por meio de D. Charrière em 1º de novembro de 1970, D. Lefebvre escreveu: “Não foi providencial? Esta data de 1º de novembro de 1970 é, aos meus olhos, um acontecimento capital em nossa história: é a certidão de nascimento oficial da Fraternidade: é a Igreja que, naquele dia, a fez nascer. A Fraternidade é uma obra da Igreja. Particularmente, eu detestaria fundar qualquer coisa sem a aprovação de um Bispo” (Revista Fideliter, n° 59, pág. 66). Continuar lendo

APRENDENDO A DIZER OBRIGADO

Irmãs da Fraternidade Sacerdotal São Pio X

Jeremias desembrulha o presente de aniversário, olha para a história em quadrinhos que ganhou: “Ah! Essa já tenho…” Larga o pacote ao lado, enquanto seus pais, levemente ofendidos, não ousam dizer nada: “Ele ao menos poderia ter dito obrigado…”

É Natal, mas o Sr.e a Sra. Durand estão sozinhos: as crianças cresceram, foram embora. O dia passa sem que nenhuma delas pense em ligar, ainda que para desejar um rápido feliz Natal. “Pelo menos poderiam ter pensado na sua mãe”, resmunga o Sr. Durand.

Esses dois exemplos (imaginários?) mostram que a gratidão mais elementar não é mais natural para nós desde o pecado original. Três obstáculos se juntam para isso.

O primeiro é o orgulho. Se devemos ser gratos, é por um serviço recebido, e recebido muitas vezes porque não conseguimos prestá-lo a nós mesmos: há uma inferioridade que estamos relutantes em reconhecer. Aqui somos constituídos devedores, dependentes dos outros, e nossa autoestima dá um passo atrás. Essa é a razão pela qual algumas crianças sentem embaraço e teimosamente se recusam a pronunciar educadamente o ‘muito obrigado’ que a mãe pede. O que fazer? Armar-se de paciência e coragem para não ceder: mamãe não vai soltar o prato da Paulinha que acabou de servir até ouvir o devido agradecimento. Continuar lendo

ESTO VIR!

Salão dos Heróis: Classe de RPG 1.2 - Cruzado ou CavaleiroTemplário

D. Tissier de Mallerais

Após definir a fortaleza e mostrar em que consiste a disciplina, tratarei do papel da educação na aquisição dessas virtudes segundo Dom Lefebvre. Irei também considerar os defeitos e as virtudes ligadas à fortaleza e à disciplina. Isso nos fornecerá diretivas práticas segundo o modelo de um homem exemplar.

Definições de fortaleza

Disciplina é o controle de si, a ordem interior da alma e do corpo, que é a fonte da ordem exterior das coisas e dos homens. É fruto do dom de sabedoria (ordenar é próprio do sábio) e do dom de fortaleza (“sou mestre de mim mesmo e do universo”, são as palavras que o dramaturgo Corneille põe na boca do Imperador Augusto).

Fortaleza, ou coragem, é uma das virtudes cardeais; é assistida pelo dom de fortaleza, um dos sete dons do Espírito Santo. O seu objeto é dominar o temor a fim de obter o bem difícil, seja na ordem temporal, como uma grande obra, uma vitória militar, ou na ordem espiritual, como a santidade e a salvação eterna.

O papel da educação e da escola na aquisição dessas virtudes

Essas virtudes e esses dons do Espírito Santo devem ser postos em prática desde a primeira infância, em casa ou na escola, para que sejam adquiridos de maneira estável.

O Marechal Foch, comandante supremo das forças aliadas na Primeira Guerra Mundial, via no infatigável trabalho do jovem a fonte do controle de si e da confiança, sobretudo na arte militar, que ele mesmo aprendeu na escola em Metz. Continuar lendo

KEEP CALM AND CARRY ON

Uma das coisas que prejudica nossa força espiritual hoje em dia: o excesso de informação. Frequentemente perdemos nosso discernimento, bem como o bom senso.

Fonte: Le Saint-Anne n°339 – Tradução: Dominus Est

Caros fiéis,

Vamos falar um pouco de inglês e fazer um pequeno comentário sobre um cartaz que se tornou um ícone global usado em muitos produtos ou atividades.

Desenhado em 1939 pelo governo britânico, um cartaz com a recomendação que poderia ser traduzido como “Mantenha a calma e prossiga (siga em frente)” seria afixado nas paredes de Londres no caso de uma invasão da Grã-Bretanha por tropas alemãs durante a Segunda Guerra Mundial. Como a invasão não aconteceu, o cartaz nunca se tornou público e ficou esquecido até ser descoberto em uma caixa de livros que seria leiloada em Londres em 2001.

O cartaz e o seu lema depressa se tornaram um sucesso mundial. Por quê?

Parece que o caráter sedutor do tema reside no fato de que as duas virtudes às quais ele apela, serenidade e perseverança, são muito necessárias hoje e são, muitas vezes, a chave para resolver muitos problemas pessoais. A coragem, que é a expressão dessas duas virtudes, está muito ausente hoje em dia porque o mundo não nos exorta verdadeiramente a tê-la, mas sabemos que precisamos dela. Continuar lendo

O SEGREDO DA CONFISSÃO: LEI DIVINA OU LEI HUMANA?

Le secret de confession, loi divine ou loi humaine ? • La Porte Latine

No site do jornal  La Croix, Jean-Eudes Fresneau, sacerdote da diocese de Vannes(França), contesta a afirmação da Santa Sé segundo a qual “o segredo inviolável da Confissão provém diretamente do direito divino revelado”(1).

Fonte: Courrier de Rome n° 648 – Tradução: Dominus Est

Ele afirma, ao contrário, que a Igreja tem o direito de modificar sua disciplina sobre o assunto. Que, com efeito, este segredo não é declarado pela Igreja como parte dos quatro elementos necessários, indispensáveis ​​e estruturantes do sacramento (contrição, confissão, satisfação e absolvição).

E o autor do artigo conclui: “Já não é absolutamente possível que a Igreja seja objetivamente cúmplice de crimes escondendo-os sob uma falsa misericórdia. “

Devemos, portanto, nos perguntar: a obrigação do confessor de guardar o mais estrito segredo sobre os pecados ouvidos na confissão provém apenas de uma lei eclesiástica, ou tem Deus como seu autor? No primeiro caso, o Papa poderia modificá-lo. No segundo, o Papa não teria poder sobre ela porque, como diz Santo Tomás: “O Papa não tem o poder de dispensar da lei divina“(2).

Recordemos de que o direito divino tem duas vertentes. A primeira é a lei natural, que se funda na natureza das coisas. A segunda é positiva, ou revelada, e baseia-se na Revelação, seja no Antigo ou no Novo Testame Continuar lendo

PRIMEIRAMENTE, SERVOS DE DEUS

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Fonte: SSPX Great Britain and Scandinavia – Tradução: Dominus Est

Caros fiéis,

O mundo

O novo ano inicia com uma sensação de “mau presságio”, como se estivéssemos às vésperas de uma guerra. A sociedade ocidental está se desintegrando porque não há mais nenhuma cultura para unir e direcionar as almas a um bem comum. O racionalismo, o materialismo e o capitalismo seguiram seu curso e foram considerados insuficientes; as elites globais visam agora a tecnologia e a coerção para sustentar as estruturas existentes, enquanto preparam uma nova ordem de coisas para manter sua hegemonia. Essa nova ordem mundial será uma tirania ateia, muito provavelmente como a da China, mas com vícios ainda mais antinaturais; e então, por sua vez, entrará em colapso, mas não antes de muito sofrimento e a perda eterna de muitas almas. Eis o presságio.

A Igreja

A única coisa que pode salvar o mundo é a Igreja, instituição essa fundada e dirigida por Deus Encarnado, Jesus Cristo, com uma hierarquia visível de ministros cujo dever é continuar a missão de Jesus Cristo na terra: ensinar, governar e santificar almas. A Igreja é Cristo no mundo: um sinal de contradição, uma cidade assentada no monte, mestra da verdade, defensora da lei natural e divina, uma criadora de santos.

Infelizmente, a Igreja também está em crise. Embora ela seja espiritualmente perfeita como o Corpo Místico de Cristo, ela está fisicamente doente porque muitos de seus ministros parecem ter perdido a fé. Coletivamente, comeram do fruto chamado Modernismo no Concílio Vaticano II, que apregoou uma nova compreensão da fé, uma nova consciência e um novo Pentecostes, mas que então causou um colapso espetacular da fé, da moral e dos membros. Continuar lendo

MANUAL DA VERDADEIRA RESISTÊNCIA TRADICIONAL ÀS ORDENS MODERNISTAS: O MILAGRE DE SAINT NICOLAS DU CHARDONNET

AS MAIS BELAS IGREJAS DA FSSPX – PARTE 7 – SAINT NICOLAS DU CHARDONNET  (FRANÇA) | DOMINUS EST

“Se forem expulsos, simplesmente ocuparão outra igreja, e o processo legal terá que começar novamente – a Catedral de Notre Dame havia sido mencionada.”

Faça um tour virtual na Saint Nicolas du Chardonnet clicando aqui

Conheça mais sobre Mons. Ducaud-Bourget clicando aqui.

Fonte: FSSPX Ásia – Tradução: Dominus Est

No domingo, 27 de fevereiro de 1977, a igreja de Saint Nicolas du Chardonnet, em Paris, foi “ocupada” por Católicos tradicionalistas, ou melhor, “libertada” como eles preferem expressar. A igreja estava ainda firmemente sob o controle deles em 1983, e é, certamente, a mais popular e próspera paróquia de Paris. Histórias melodramáticas do evento foram divulgadas por progressistas. Houve até relatos que deram a impressão de que ela havia caído nas mãos de um esquadrão de uma milícia fascista que usava rosários como socos-ingleses! Quando o Papa visitou a França em 1981, um apelo lhe foi feito para celebrar a Missa com os paroquianos depostos no Salão (Salle Wagram­), que eles tiveram que usar desde que ficaram sem igreja. O Papa recusou o convite. Como o artigo a seguir deixa claro, Saint Nicolas funcionava como paróquia-conjunta com a paróquia de Saint Sérvrin, literalmente a poucos passos de distância. Nesta enorme igreja há uma ampla sala que comporta 100 vezes o número dos paroquianos de Saint Nicolas, ou supostos paroquianos dessa igreja, que não querem mais rezar lá, agora que a Missa Tridentina é oferecida mais uma vez. Embora, estritamente falando, a ocupação de Saint Nicolas não faça parte da história da ruptura entre D. Lefebvre e o Vaticano, que é o assunto deste livro, ela deve ser inserida dentro deste contexto histórico– particularmente no que diz respeito à situação da França. Foi certamente o acontecimento mais dramático do conflito secular entre Tradição e Liberalismo que ocorreu na França desde a triunfante Missa em Lille, pouco mais de seis meses antes (cfr. Vol. I, pp. 253-271)

Tive a grande sorte de visitar Saint Nicolas em 12 de abril de 1977. O relato que se segue é o que escrevi para o The Remmant de 30 de abril de 1977.

Data: terça-feira, 12 de abril de 1977.

Local: Paris – mais precisamente a estação de metrô Maubert-Mutualité. 

Horário: cerca de 18:15h. 

Saio da estação de metrô, e a primeira coisa que observo é o som do sino da igreja soando triunfante, imperiosamente sobre o barulho do tráfego da hora do rush e as multidões apressadas para voltarem pra casa. Em poucos instantes, vejo a igreja onde o sino está tocando – é a Igreja de St. Nicolas du Chardonnet, a igreja onde ocorreu um milagre. Um milagre? Il ne faut pas exagérer, dizem os franceses: “Não se deve exagerar”. Mas isso não é exagero. Até o primeiro domingo da Quaresma, isso era típico da maioria das igrejas paroquiais de Paris. Menos de 100 fiéis compareciam a todas as Missas celebradas no domingo. A outrora bela igreja tinha uma aparência suja e dilapidada. As assembleias dominicais, como a Missa agora é chamada na França, eram celebradas sobre uma mesa colocada sobre um pódio coberto com um material roxo extremamente esfarrapado. O altar havia sido abandonado – aparentemente para sempre.

Durante a Missa, no final da manhã do primeiro domingo da Quaresma, começou o milagre. O punhado de devotos começou a crescer. Lenta, mas seguramente, a igreja começou a encher. Em pouco tempo, ela estava cheia. Os fiéis estavam em pé nos corredores. Um dos clérigos da paróquia não conseguiu conter seu espanto. Continuar lendo

A REVOLUÇÃO REALIZADA PELA DECLARAÇÃO “NOSTRA AETATE”: “A ANTIGA ALIANÇA NUNCA FOI REVOGADA”

A história dos Papas que visitaram a grande Sinagoga de Roma

Fonte: Sì Sì No No | Tradução: Dominus Est

Desde seu primeiro encontro com uma delegação de judeus, em 12 de março de 1979, o Papa João Paulo II cita a declaração conciliar Nostra Aetate, “cujo ensinamento exprime a fé da Igreja” (conforme esclarecerá mais tarde em Caracas, Venezuela, em 27 de janeiro de 1985).

Segundo Nostra Aetate [daqui em diante abreviada por “N.A.”], um vínculo uniria espiritualmente o povo do Novo Testamento com a progenitura de Abraão, que são não só os judeus da Antiga Aliança, mas também aqueles dos dias de hoje.

Com efeito, citando Rom. XI, 28-29, escreve o Padre Jean Stern:  «o Concílio declara a propósito dos judeus [pós-bíblicos] que eles fazem parte de um “povo muito amado de Deus do ponto de vista de eleição, por causa de seu pai, visto que os dons de Deus são irrevogáveis”. Por conseguinte, se a comunidade religiosa hebraica, formada pelo ensinamento rabínico, pertence à descendência [espiritual] de Abraão… o judaísmo [pós-bíblico] constitui uma religião»[1].

“N.A” não exprime a fé da Igreja

A declaração “N.A.”, de 28 de outubro de 1965, sobre “as relações da Igreja com as religiões não-cristãs”, fala em seu n.º 2 do budismo e do hinduísmo, no n.º 3 dos muçulmanos e no 4 fala do “vínculo com que o povo do Novo Testamento está espiritualmente ligado à descendência de Abraão”. Ora, descendência equivale à raça ou estirpe carnal de Abraão. A Igreja, ao contrário, é universal, católica, e protege a fé e a alma de todos os homens de todas as eras e do mundo todo, e por isso não há vínculo com nenhuma descendência ou raça em particular. Com efeito, não se pode relacionar espiritualmente a descendência carnal ou sanguínea com a fé, a alma ou o espírito. Esta é a primeira grande anomalia ou contradição de termos em “N.A.”. Continuar lendo

ENTREVISTA DE MONS. ROCHE: AS “RESPONSA AD DUBIA” SE APLICAM AOS INSTITUTOS ECCLESIA DEI?

Mgr Roche sur Traditionis custodes : "maintenant les possibilités  liturgiques sont en place" • La Porte Latine

Em uma entrevista, o prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos respondeu, de modo particular, à questão sobre se as “Responsa ad dubia” se aplicam aos institutos Ecclesia Dei.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Mons. Arthur Roche, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos respondeu a Edward Pentin, para o National Catholic Register, em 22 de dezembro de 2021, a perguntas relativas a Responsa ad dubia, ou seja, as diretrizes relativas à implementação do motu proprio Traditionis custodes. Em particular, ele respondeu à questão de saber se essas Responsa se aplicam aos institutos tradicionais conhecidos como Ecclesia Dei.

Entrevista de Mons. Roche

Excelência, as Responsa aplicam-se aos antigos Institutos Ecclesia Dei, em particular no que diz respeito às ordenações na forma tradicional do rito romano, ou podem tais ordenações continuar nestes institutos, visto que não são especificamente mencionadas na Responsa?

Em primeiro lugar, permitam-me, como introdução a algumas dessas questões, enunciar um ponto importante. A lei universal relativa à liturgia anterior às reformas do Concílio Vaticano II é agora estabelecida pelo Motu Proprio Traditionis Custodis de 16 de julho de 2021, que substitui toda a legislação anterior.

As Responsa ad dubia de 4 de dezembro de 2021, publicadas pela Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, constitui uma interpretação autorizada de como esta lei deve ser aplicada. É à Congregação para a Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica que tem competência sobre os Institutos particulares que menciona. Esta Congregação não fez uma declaração sobre esses Institutos. No entanto, foi estabelecido o princípio de que as ordenações na Igreja latina são conferidas de acordo com o rito aprovado pela Constituição Apostólica de 1968 [Novos Ritos de Ordenação publicados pelo Papa Paulo VI]. Continuar lendo

TEMPO, UM PRESENTE DE DEUS

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Enquanto Deus parece nos conceder mais tempo, peçamos ao Espírito Santo que nos ajude a usar sabiamente os dias desse novo ano, segundo o conselho de São Paulo: “Façamos o bem enquanto temos tempo” (Gal 6, 10). A vida na terra prepara para a eternidade. Longe de desperdiçar nosso tempo, é importante que façamos bom uso dele para crescer em Cristo.

Dois olhares no tempo

As Sagradas Escrituras dissertam com lucidez sobre a brevidade da vida. O homem apenas passa pela terra, onde as provas o aguardam. “O homem nascido de mulher vive pouco tempo e está cheio de misérias. Como uma flor nasce e é logo cortada e foge como uma sombra e jamais permanece num mesmo estado” (Jó 14, 1-2).

Na realidade, como explica Bossuet, o tempo pode ser considerado de duas maneiras [1] . Em si mesmo, o tempo “não é nada, porque não tem forma nem substância “. Ele “desvanece em um movimento sempre progressivo, que nunca regride“. Ele não faz nada além de “passar” e ” perecer “. Mas se o homem prende ao tempo “algo mais imutável do que ele mesmo “, então esse tempo se torna “uma passagem para a eternidade que permanece “.

Além disso, continua o Bispo de Meaux, um “homem que teria envelhecido nas vaidades da terra ” não viveu realmente, porque “todos os seus anos foram perdidos“. Mas uma vida cheia de boas obras, por mais curta que seja, é eternamente benéfica. A riqueza de uma vida é medida não por sua longevidade, mas pelo valor de suas ações. A Igreja que honra a virtude do velho Simeão celebra também o martírio dos santos inocentes.

O tempo é precioso, conclui Bourdaloue, porque “é o preço da eternidade”. A salvação depende do tempo. Além disso, “não é somente para nós, mas ainda mais para Ele mesmo e para Sua glória, que Deus nos deu o tempo. Ele quer que o usemos para servi-lo e glorificá-lo” [2] . Continuar lendo

FINALIZANDO O MÊS, UMA SELETA DE NOSSOS POSTS DE DEZEMBRO

A MISSA QUE ENTERRA O VATICANO II

O PRECIOSO E RIDÍCULO RECUO DA UNIÃO EUROPEIA NA COMUNICAÇÃO INCLUSIVA: NATAL E NOMES CRISTÃOS SALVOS

NAS PRÓXIMAS DÉCADAS, “OS PRIORADOS SERÃO VOSSAS PARÓQUIAS”

SOBRE A CADEIRA DE MOISÉS SENTARAM-SE OS ESCRIBAS E OS FARISEUS – PARTE 1/3

SOBRE A CADEIRA DE MOISÉS SENTARAM-SE OS ESCRIBAS E OS FARISEUS – PARTE 2/3

SOBRE A CADEIRA DE MOISÉS SENTARAM-SE OS ESCRIBAS E OS FARISEUS – PARTE 3/3

COMPROMISSOS NO SEMINÁRIO DA FSSPX EM ÉCÔNE – 2021

O DESEJO: NECESSIDADE INSTINTIVA, ASPIRAÇÃO RAZOÁVEL, IMPULSO SOBRENATURAL

ESPECIAIS DO BLOG: SOBRE A CADEIRA DE MOISÉS SENTARAM-SE OS ESCRIBAS E OS FARISEUS

VIDEO DA PROCISSÃO DA IMACULADA CONCEIÇÃO EM PARIS

LES PETITS CHANTEURS DE SAINT-JOSEPH LANÇAM SEU NOVO CD “PIE JESU”

ORDENAÇÕES AO DIACONATO E SACERDÓCIO EM LA REJA – 2021

OUÇAMOS NOVAMENTE O QUE ALGUNS RECUSARAM…

O MODERNISMO: UMA NOVA VISÃO DO MUNDO

FILIPINAS: MISSÕES DA FSSPX DEVASTADAS APÓS A PASSAGEM DE UM “SUPERTUFÃO”

AS PIRUETAS DAS COMUNIDADES ECCLESIA DEI

RECANTO DOS PASTORES: GAUDENS GAUDEBO

O QUE FIZERAM COM O NATAL?

ARQUIDIOCESE DE CHICAGO: ESCALADA NA PROIBIÇÃO DO RITO TRIDENTINO

O QUE FIZERAM COM O NATAL?

Qu'ont-ils fait de Noël ? • La Porte Latine

Nenhuma celebração manifesta tão claramente a imensa lacuna que separa os promotores da religião conciliar – pois trata-se de uma religião – da autêntica mensagem católica.

Fonte: Lou Pescadou n ° 217 – Tradução: Dominus Est

Estamos todos demasiado familiarizados com o Papai Noel e as festas reduzidas a banquetes. Com razão, o Natal dos pagãos não traz nada mais do que sofrimento ao coração cristão. Mas não tenho certeza se isso é o mais doloroso. Nenhuma celebração, ao que parece, manifesta tão claramente a imensa lacuna que separa os promotores da religião conciliar – pois trata-se de uma religião – da autêntica mensagem católica. Para compreender isso, basta reler a mensagem que João Paulo II dirigiu ao mundo em seu primeiro Natal como Papa, em 25 de dezembro de 1979.

“O  Natal é a festa do homem. É o nascimento do homem […] Esta mensagem é dirigida a cada homem, precisamente enquanto homem, à sua humanidade. É, de fato, a humanidade que se encontra elevada no nascimento terreno de Deus.” Com estas palavras, João Paulo II realiza uma verdadeira reviravolta, assim resumida: “Se hoje celebramos o nascimento de Jesus de forma tão solene, fazemo-lo para dar testemunho do fato de que cada homem é único, absolutamente único.” 

A dinâmica da Encarnação já não está mais voltada à Pátria celeste que o Verbo Encarnado torna novamente acessível, mas para a plena realização da humanidade aqui na Terra. A salvação já não está em Jesus, mas no respeito universal pela dignidade transcendente atribuída à pessoa humana. Neste Natal, não celebramos mais um Deus que se fez homem, mas um homem que se ergue como deus. Continuar lendo

RECANTO DOS PASTORES: GAUDENS GAUDEBO

A esperança do Redentor vir a esta manjedoura vazia se transforma em alegria após o Seu nascimento

O Salvador do mundo chega e traz vida, salvação e verdadeira alegria aos “homens de boa vontade”. Palavras ditas sob medida nessa época de Natal.

Fonte: SSPX USA – Tradução: Dominus Est

Regozijo, regozijar-me-ei.” Estas palavras são frequentemente repetidas no contexto messiânico. Nos altos e baixos da vida, flutuamos entre o desespero e a esperança. As más notícias familiares, os cofres vazios, o inverno frio com as doenças que o acompanha – tudo isto tem um impacto diário, se não de hora em hora, no nosso humor. Estamos sujeitos aos sentimentos e paixões do momento.

Mas isso tem pouco a ver com a virtude da Esperança.

A esperança como virtude nada tem a ver com o clima de hoje ou com o bom humor de alguém. Baseia-se em Deus, e o demônio que sabe disso faz o máximo para nos lançar ao desânimo, na tristeza e no desespero.

A alegria é o fruto natural da esperança. Consiste no descanso e no deleite que experimentamos na posse real daquilo que esperávamos obter. Mas há uma toda variedade de alegrias que podemos sentir. A verdadeira alegria desce do alto para a alma e dela para o corpo, enquanto a alegria do mundo segue o contrário. Essa verdadeira alegria é um dos frutos do Espírito Santo (Gal 3). Ela cresce naturalmente a partir da caridade perfeita, que trabalha sempre para amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos. Aqui reside a verdadeira virtude, a verdadeira santidade e a verdadeira alegria. Continuar lendo

AS PIRUETAS DAS COMUNIDADES ECCLESIA DEI

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Como as comunidades Ecclesia Dei deverão reagir nos próximos meses? Deveriam recusar-se a obedecer ao Motu proprio de Francisco? Mas em nome de quê?

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

1. A implementação do Motu Proprio Traditionis custodes segue de forma inexorável. No dia 18 de dezembro, a Sagrada Congregação para o Culto Divino emitiu uma série de esclarecimentos, sob a clássica forma de “Responsa ad dubia”. Onze respostas esclarecem as dúvidas. As coisas estão ainda mais claras: a Missa tradicional de São Pio V não é a norma de culto na Igreja Católica. A Missa, entendida no sentido de rito universal e obrigatório para toda a Igreja, é a Missa de Paulo VI.

2. E a resposta das diversas comunidades do movimento Ecclesia Dei torna-se também cada vez mais clara. Com efeito, qual é a resposta dos principais líderes destas comunidades? A resposta da Fraternidade de São Pedro (Comunicado de 19 de dezembro de 2021) é que o Motu proprio de François “não se dirige diretamente” a essas comunidades. A resposta da Fraternidade de São Vicente Ferrer (Mensagem de Natal de 23 de dezembro de 2021) é que este Motu proprio não pode dirigir-se a estas comunidades, cujo ato fundador reserva a celebração da liturgia tradicional. Basicamente é isso. E é lamentável. Diante de tais piruetas, o mal-estar só aumenta. 

3. Em suma: as comunidades Ecclesia Dei defendem a celebração da Missa tradicional, reivindicando-a como seu privilégio e fazendo referência ao Motu proprio de João Paulo II, porque haveria, aos olhos dessas comunidades, a expressão jurídica de sua razão de ser. Continuar lendo