OS HOMENS FOGEM DA MORTE, CRISTO ALIVIA A DOR

Doravante, o sofrimento e a morte não são mais um castigo divino, mas a melhor forma de nos conformarmos com Cristo.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Banalizamos os carros funerários e transformamos os cemitérios em jardins paisagísticos, mas expomos a violência e exibimos as mortes por epidemias ou massacres selvagens. O mundo se esforça para fazer com que Deus desapareça, e assim vagueia sem fé ou razão. E a morte ronda por toda parte à procura de quem devorar, sem que ninguém a consiga evitar. No entanto, não é por falta de tentativas. Todos tentaram em vão, tanto os filósofos como os poetas, um dos quais disse tão bem: 

Ó Morte, velho capitão, é tempo! Levantemos a âncora. Esse país nos entedia, ô Morte! Partamos!

Se o céu e o mar são negros como tinta,

Nossos corações que conheces estão repletos de raios!

Verta-nos teu veneno para que ele nos reconforte!

Queremos, tal é o fogo que queima nosso cérebro,

Mergulhar ao fundo do abismo, Inferno ou Céu, que importa?

Ao fundo do Desconhecido para encontrar o novo!”

A morte é assustadora. São Paulo, assim como nós, não escapou desse medo. Mas ele revela, melhor do que ninguém, este mistério da morte: “Infeliz de mim! Quem me livrará deste corpo (em que habita o pecado, que é causa de morte espiritual)? (Somente) a graça de Deus por Jesus Cristo Nosso Senhor. Assim, pois, eu mesmo sirvo à lei de Deus com o espírito; e sirvo à lei do pecado com a carne.” (Rm 7, 24-25). Continuar lendo

PECADOS DA IGNORÂNCIA, FRAQUEZA E MALÍCIA

Garrigou Lagrange, O.P.

Espalha-se, em alguns lugares, a opinião de que apenas o pecado de malícia é mortal, e que os pecados de ignorância e fraqueza jamais o são. É importante recordar, acerca deste ponto, o ensinamento da teologia, tal como se encontra formulado por Santo Tomás de Aquino na sua Suma Teológica (Ia-IIae, q. 76, 77, 78).

O pecado de ignorância é o que provém de ignorância voluntária e culpável, chamada ignorância vencível. O pecado de fraqueza é o que provém de forte paixão, que diminui a liberdade e obriga a vontade a dar seu consentimento. Quanto ao pecado de malícia, é o que se comete com plena liberdade “quasi de industria”, com aplicação e frequentemente com premeditação, sem paixão, nem ignorância. Recordemos o que Santo Tomás nos ensina sobre cada um deles.

Os pecados de ignorância

No que diz respeito à vontade, a ignorância pode ser antecedente, consequente ou concomitante.

A ignorância antecedente é a que não é absolutamente voluntária, ela é dita “moralmente invencível”. Por exemplo, acreditando atirar em um animal numa floresta, um caçador mata um homem que não havia dado sinal algum de sua presença e que de modo algum se poderia supor estar onde estava. Neste caso, não há falta voluntária, mas somente pecado material.

A ignorância consequente é a que é voluntária, ao menos indiretamente, por efeito da negligência em instruir-se acerca daquilo que se pode e deve saber; é chamada ignorância vencível, pois seria possível, com aplicação moralmente possível, libertar-se dela; ela dá causa a uma falta formal, desejada, ainda que indiretamente. Por exemplo, um preguiçoso estudante de medicina que não se aplica aos estudos e consegue, de algum modo, colar grau como doutor, apesar de ignorar as coisas mais elementares de sua arte. Se lhe ocorre de acelerar a morte de alguns de seus pacientes, ao invés de lhes curar, não há nisso pecado diretamente voluntário, mas há certamente uma falta indiretamente voluntária, que pode ser grave e pode ir até o homicídio por imprudência ou grave negligência.

A ignorância concomitante é a que não é voluntária, mas acompanha o pecado de tal modo que, independente de existir ou não, ainda haveria pecado. É o caso do homem mui vingativo que deseja matar seu inimigo, e, um dia, por ignorância, mata-o de fato, julgando atirar num animal na floresta; este caso é manifestamente diferente dos dois precedentes. Continuar lendo

PROFECIAS DE GUERRA

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Andrea Oddone, S.J., La Civiltà Cattolica

Tradução de Gederson Falcometa 

O homem é imperiosamente atraído pelo desejo de conhecer o futuro e de levantar algumas pontas do véu que lhe esconde o mistério. As artes mágicas, o estudo das ciências ocultas, as diversas formas de adivinhação nada mais são do que manifestações desse desejo e, ao mesmo tempo, tentativas de satisfazê-lo. Em todas as épocas da história humana surgem profetas e adivinhos, aos quais o povo se abandona com vivo ardor e muitas vezes com entusiasmo fanático; aparições, predições e revelações são fenômenos mais ou menos comuns a todas as civilizações. 

Mas em tempos de convulsão social e de calamidades públicas, a avidez pelo maravilhoso e a curiosidade de explorar o futuro tornam-se mais aguçadas, as predições multiplicam-se e encontram maior ressonância nas almas. Fertilíssimo nesta matéria é sobretudo o tempo de guerra. Em 1870, foram colocadas em circulação “profecias” de todos os tipos, tão numerosas que perfaziam dois volumes de mais de seiscentas(1). O mesmo fenômeno repetiu-se durante a guerra que eclodiu em 1914 (2). Ainda hoje, enquanto enfurece a presente tragédia bélica, se faz audível a voz dos profetas de ocasião, que, poder-se-ia dizer, competem em anunciar misteriosamente a sorte futura da humanidade e em predizer os vários acontecimentos, dos quais nós mesmos seremos espectadores. 

Do ponto de vista psicológico este florescimento extraordinário de predições é facilmente explicável. O tempo de guerra produz na alma o tormento e a angústia do que será o amanhã. Nos acontecimentos alternados das hostilidades, confrontados com a dura realidade do sofrimento e da privação, sentimos a necessidade de descansar nas perspectivas de um futuro mais favorável. Um tal estado de espírito é mais favorável do que nunca para acolher tudo o que possa alimentar a nossa curiosidade, incutir alguns raios de esperança e preencher de alguma forma as nossas inquietudes e angústias. Continuar lendo

PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA – PARTE 16 – EXEMPLOS DE PACIÊNCIA – A PACIÊNCIA DOS MÁRTIRES

A psicologia dos mártires ~ Criacionismo

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

Dar a vida por Cristo é uma das maiores honras que nos podem ser concedidas.

Ela garante uma entrada imediata no céu e nos dá uma parte, como nada mais pode dar, dos sofrimentos dAquele que deu Sua vida por nós.

É a marca suprema da misericórdia de Deus para com aqueles que são Seus amigos especiais. Não está ao alcance de todos que a desejam. É concedida àqueles a quem Deus a destinou e a mais ninguém.

Ela precisa ser adquirida por um longo curso de serviço e fidelidade a Deus. Se, ao menos, Deus me desse tal privilégio, quão feliz eu deveria ser. Se ao menos eu pudesse viver de modo a merecê-la! Continuar lendo

O QUE É A LEI NATURAL?

Olhando para o Céu | Em busca de Jesus - Devocionais

Quando discutimos questões de moralidade, normalmente fazemos referência à “Lei natural”. O que é a “Lei”?

Pe. Juan Carlos Iscara, FSSPX

A Lei natural é, de acordo com Santo Tomás, nada mais que a participação da criatura racional na Lei eterna. Portanto, devemos começar pela noção de Lei eterna. Santo Tomás explica que ela é o plano da sabedoria divina por meio do qual Deus direciona todas as ações e movimentos das criaturas visando o bem comum de todo o universo.

A Lei natural é a mesma Lei eterna conhecida pelo homem através da razão natural.

Deus conhece e ordena, desde a eternidade, o que é conveniente e proporcionado à razão natural; e essa ordenação existente na mente divina é chamada de ou constitui a Lei eterna. Ao criar o homem, Deus imprimiu essa ordenação em sua própria natureza; portanto, simplesmente por ter nascido, todo homem está sujeito a essa Lei. Essa participação na Lei eterna, ou a ordem moral constituída por Deus, é a Lei natural objetivamente considerada.

Quando o homem atinge a idade da razão, conhece ao menos os princípios básicos da Lei natural (p.ex., deve-se praticar o bem e evitar o mal) como algo que tem obrigação de cumprir, e essa participação na Lei eterna é a Lei natural subjetivamente considerada. Continuar lendo

SOBRE A EFICÁCIA DA SANTA MISSA PELOS VIVOS E PELOS MORTOS

Revestido do sacerdócio católico, o padre recebe o poder de oferecer o Santo Sacrifício da Missa pelos vivos e pelos mortos.

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

O divino sacrifício da Missa contém e imola o mesmo Jesus Cristo que se ofereceu na Cruz, porém, sem derramamento de sangue (incruento).

Por meio dele obtemos misericórdia e encontramos graça, socorro e bênção.

Aproximemo-nos de Deus com um coração contrito e penitente, com uma fé reta e em espírito de temor e reverência.

A Missa é oferecida pelos pecados, penas, satisfações e outras necessidades dos fiéis.

A Missa é oferecida pelos vivos e por aqueles que morreram em Jesus Cristo e que ainda não estão totalmente purificados.

Não há nada mais belo, maior e mais santo do que oferecer a Santa Missa pelos vivos e pelos mortos.

É o ato perfeito de adoração divina, o único capaz de reconciliar os homens com Deus.

O santo sacrifício da Missa traz alívio às almas do Purgatório.

A Santa Missa derrama os frutos da Paixão de Cristo e todos os benefícios do Céu sobre os pecadores.

DEFRAUDANDO AS SANTAS ALMAS DO PURGATÓRIO

A oração pelas almas do purgatório revelada a Santa Gertrudes por Jesus

Há um dever sagrado para os descendentes de cumprir suas obrigações para com a alma de um parente falecido.

Fonte: Hostia Bulletin / SSPX Great Britain & Ireland – Tradução: Dominus Est

O incidente a seguir provará claramente como Deus castiga os descendentes que defraudam os falecidos. Durante as guerras de Carlos Magno, um valente soldado serviu nas posições mais importantes e honrosas. Sua vida foi a de um verdadeiro cristão e soldado modelo. Contente com seu salário, absteve-se de qualquer ato de violência, e o tumulto dos campos nunca o impediu de cumprir seus deveres essenciais, embora em assuntos de menor importância ele tivesse sido culpado de muitas pequenas faltas comuns aos homens de sua profissão. Tendo atingido uma idade muito avançada, adoeceu; e vendo que seu fim último havia chegado, ele chamou para junto de si um sobrinho órfão, o qual havia sido como que um pai, e expressou-lhe seus últimos desejos. “Meu filho”, disse ele, “sabes que não tenho riquezas para te legar: Não tenho nada além de minhas armas e meu cavalo. Minhas armas são para ti. Quanto ao meu cavalo, venda-o quando eu tiver entregue minha alma a Deus, e distribua o dinheiro entre os sacerdotes e os pobres, para que os primeiros possam oferecer o Santo Sacrifício por mim, e os outros possam me ajudar com suas orações”.

O sobrinho chorou e prometeu executar sem demora os últimos desejos de seu tio moribundo e benfeitor. Com o velho morrendo logo depois, o sobrinho tomou posse das armas e levou o cavalo. Em vez de vendê-lo imediatamente, como havia prometido ao seu falecido tio, passou a usá-lo para viagens curtas e, como estava muito satisfeito com ele, não quis se desfazer do animal tão cedo. Ele adiou sob o duplo pretexto de que não havia nada que exigisse o pronto cumprimento de sua promessa e que esperaria uma oportunidade favorável para obter um alto preço por ele. Assim, adiando dia após dia, semana após semana e mês após mês, acabou por abafar a voz da consciência e esqueceu a sagrada obrigação que tinha para com a alma do seu benfeitor. Continuar lendo

BOLETIM DO PRIORADO PADRE ANCHIETA (SÃO PAULO/SP) E MENSAGEM DO PRIOR – NOVEMBRO/23

– Padre, no boletim de outubro, o seu artigo explicou por que os brinquedos infantis com imagens de santos não devem ser usados. Agora, há outra questão que me preocupa: meu filho mais velho, seus irmãos e irmãs brincam de Missa. Eles deveriam ser proibidos?

– Essa é uma boa pergunta! A Missa não é uma brincadeira e parece que não se deva permitir que as crianças a tratem como tal. Entretanto, a resposta não é tão simples. Ao longo dos séculos da história da Igreja, milhares de crianças, mesmo entre os santos, “brincaram de Missa”. Para as crianças, algumas brincadeiras são sérias e fazem parte do processo de aprendizado. Além disso, as crianças aprendem muito por imitação. Em vez de “brincar de Missa”, a expressão “reproduzir a Missa” seria mais precisa. Nesse contexto, não parece errado que as crianças reproduzam a Missa à sua própria maneira. O importante é que essa atividade seja respeitosa e diferente das outras brincadeiras. Se um menino joga futebol com sua casula ou chicoteia sua irmãzinha com o cíngulo, obviamente, isso é uma falta de respeito, que deve ser punida. Da mesma forma, a encenação da Missa não deve se transformar em uma brincadeira ou desordem geral: há uma diferença entre o desrespeito e a ingenuidade dos gestos e palavras das crianças. As crianças fazem o melhor que podem, de acordo com suas habilidades. O resultado geral deve ser o crescimento da piedade e da estima pela verdadeira Missa da qual participam todos os domingos. Somente dessa forma é permitido “brincar de Missa”.

Esse interesse pela Missa poderia ser um sinal de uma futura vocação. Os pais devem respeitar esses bons interesses em seus filhos, mas não exagerá-los! Continuar lendo

TERRA PLANA? OS BASTIDORES DE UMA FALSIFICAÇÃO PARTE 4/4

Eclipse Solar na Imago Mundi de Gossuin de Metz – 1246

Não, a falsificação de que falaremos não vem da NASA, mas diz respeito à ideia profundamente arraigada, mas falsa, de uma Idade Média “terraplanista” e aos fundamentos ideológicos deste mito. Depois de ter refutado o mito de uma Idade Média que pensava que a terra era plana, e de ter esclarecido como esta ideia se estabeleceu, é necessário considerar o nascimento do mito.

Fonte: FSSPX – News – Tradução: Gederson Falcometa

A inércia de uma falsificação

Todos esses elementos [cfr. artigo (3)] podem enganar os não iniciados, mas não conseguem impressionar nem mesmo um historiador sério. Os primeiros propagadores do mito foram os mais culpados. Mas passadas as primeiras falsificações, as subsequentes repetiram o catecismo voltariano, movidas por uma fé cega no progresso, sem olhar crítico, e com o tempo, a falsificação repetida milhares de vezes assumiu o valor de uma verdade histórica consolidada.

Michelet, que merece o título de romancista e não de historiador, obviamente retomou esta fábula, entre muitas outras. Foi ampliado também por Antoine-Jean Letronne, titular da cátedra de história do prestigiado Collège de France no século XIX [1]. O tempo fez errar um autor como Arthur Koestler, mesmo se estes tenham contribuído para desmistificar o caso Galileu [2].

Existe até um livro de 2015 que pretende “desmascarar os mitos” e lhe transmite uma versão ligeiramente atenuada [3]. Inicialmente, este mito foi difundido principalmente por círculos anticatólicos, mas com o tempo rapidamente passou a enganar os católicos. Continuar lendo

TERRA PLANA? OS BASTIDORES DE UMA FALSIFICAÇÃO PARTE 3/4

Cristo que rege o globo terrestre, Catedral de Reims, século XIII

Não, a falsificação de que falaremos não vem da NASA, mas diz respeito à ideia profundamente arraigada, mas falsa, de uma Idade Média “terraplanista” e aos fundamentos ideológicos deste mito. Depois de ter refutado o mito de uma Idade Média que pensava que a terra era plana, e de ter esclarecido a forma como esta ideia foi imposta, é necessário considerar o ensinamento da Sagrada Escritura e da Igreja.

Fonte: FSSPX – News – Tradução: Gederson Falcometa

A Bíblia é “terraplanista”?

No tribunal do “terraplanismo”, Voltaire obviamente chama as Sagradas Escrituras para o banco dos réus. Ele escreve com sua ironia cáustica característica: “O devido respeito pela Bíblia, que nos ensina muitas verdades mais necessárias e mais sublimes, tem sido a causa deste erro universal entre nós. Descobrimos no Salmo 103 que Deus espalhou o céu sobre a Terra como uma pele” [1].

Certamente, se quisermos extrair das Escrituras uma admissão de “terraplanismo”, podemos sempre enjaular esta ideia preconcebida num versículo que de alguma forma se encaixe nela [2]. O contrário também é possível, uma vez que a Vulgata designa regularmente a Terra com a palavra “orbis“, que facilmente traduziríamos como “globo” [3].

Mas em vez de conduzir estes debates estéreis, lembremo-nos deste conhecido princípio católico segundo o qual a Escritura deve ser lida à luz da interpretação dos Padres. Mas Voltaire não é um Pai da Igreja. Em vez disso, deixemos a palavra à extraordinária sabedoria de São Basílio de Cesaréia († 379):

“Os físicos que estudaram o mundo têm falado muito sobre a forma da Terra, se é uma esfera ou um cilindro, se se assemelha a um disco e é arredondada em todos os lados, ou se tem a forma de uma carruagem, e se é oca no centro; pois tais são as ideias que os filósofos tiveram e com as quais lutaram entre si.” Continuar lendo

TERRA PLANA? OS BASTIDORES DE UMA FALSIFICAÇÃO PARTE 2/4

Imago Mundi, de Gossuin de Metz

Não, a falsificação de que falaremos não vem da NASA, mas diz respeito à ideia profundamente arraigada, mas falsa, de uma Idade Média “terraplanista” e aos fundamentos ideológicos deste mito. Depois de ter refutado o mito de uma Idade Média que pensava que a terra era plana, agora é necessário esclarecer como esta ideia se estabeleceu.

Fonte: FSSPX – News – Tradução: Gederson Falcometa

Bastidores do mito

Poderíamos dar pouca importância a tudo isso. Afinal, o cristão pode salvar a sua alma independentemente da forma que dê à Terra. O essencial não será talvez esta redução assustadora da esperança de vida que hoje é de “apenas” 85 anos, enquanto na Idade Média era a esperança da vida eterna?

Certamente, mas o que nos interessa aqui não é a forma da Terra ou a ciência dos tempos antigos, mas a origem do mito contemporâneo e o que ele nos diz sobre o nosso tempo. Este mito serviu durante muito tempo como uma fórmula pronta para ridicularizar de uma só vez a suposta estupidez da era cristã condensada sob o termo redutor “Idade Média”.

Mas este alegado “obscurantismo” volta-se contra os propagadores do mito, tanto mais fortemente quanto o acesso ao conhecimento é hoje incomparavelmente melhor do que na época em que a imprensa ainda não existia. É fácil dissipar o mito do “terraplanismo” medieval, enquanto na Idade Média era necessária uma energia considerável para preservar o conhecimento dos antigos. Continuar lendo

TERRA PLANA? OS BASTIDORES DE UMA FALSIFICAÇÃO PARTE 1/4

A coroação de Otão III em 983.
O imperador tem na mão o globus crucifiger.

Fonte: FSSPX – News – Tradução: Gederson Falcometa

Não, a falsificação de que vamos falar não vem da NASA, mas diz respeito à ideia arraigada, mas falsa, de uma Idade Média de “terraplanista” e aos fundamentos ideológicos deste mito.

A recente coroação de Carlos III nos deu uma imagem que parece ter saído de um livro de história: o novo rei Carlos III tem nas mãos as insígnias do poder real, incluindo o globus cruciger, ou seja, a esfera encimada por uma cruz, que simboliza a Terra redimida pela Cruz de Jesus Cristo. Esta esfera tem um uso muito antigo.

É encontrada ao longo de toda a Idade Média, principalmente nas representações de Cristo, que segura o globo na mão ou o tem sob os pés. A esfera apresenta um hemisfério delineado em três partes devido aos três continentes conhecidos na época. Assim, um fato se destaca: a Terra é representada como uma esfera muito antes da descoberta da América.

Isto deverá levantar questões sobre um mito muito difundido, nomeadamente o de que “na Idade Média acreditava-se que a Terra era plana”. Ouvimo-lo da boca de jornalistas, intelectuais, antigos ministros como Marlène Schiappa ou Claude Allègre, e até em filmes históricos, livros de história e livros escolares, mesmo os mais recentes. Continuar lendo

OBSTÁCULO INCONVENIENTE

A MISSA É UM SACRIFÍCIO DE AGRADECIMENTO PROPORCIONADO À DIVINA  BENEFICÊNCIA | DOMINUS EST

Pe. Robert Brucciani, FSSPX

O Rito Tridentino da Missa é sinal de contradição e um obstáculo inconveniente para a revolução que tomou controle das instituições da Igreja no Concílio Vaticano II (1962-1965)

O Rito Tridentino da Missa

O Rito Tridentino da Missa é a oração suprema da Igreja, que expressa, perfeitamente, sua doutrina e santidade. Não é um sinal passivo da doutrina e da santidade, como um crucifixo ou uma imagem, mas um sinal eficaz, um sacramento, que produz o que representa, trata-se de um sacramento de fé e sacralidade, um estandarte vivo. É o momento da vitória sobre o pecado e a morte. É o meio pelo qual a vitória vem às almas através dos séculos.

Sim, ele permaneceu inalterado em sua essência ao longo dos séculos. É o mesmo sacrifício, com o mesmo Padre, com o mesmo propósito e com as mesmas palavras pronunciadas por Cristo. As orações que adornam a consagração (o Cânone da Missa) foram acrescentadas no curso dos primeiros seis séculos e estavam definidas ao tempo do Papa São Gregório Magno (590-604). O Papa São Pio V, seguindo um decreto do Concílio de Trento, promulgou a bula Quo primum tempore para definir o Rito da Missa da Igreja Latina para todos os tempos. Dali em diante, o Rito passou a ser conhecido como o Rito Tridentino da Missa.

Quando a Igreja e o Estado caminhavam de mãos dadas, a Cristandade era ordenada em direção à Missa. Hillaire Belloc, em seu Europe and the Faith, salientava que qualquer historiador medieval que não entendesse o que é o Santíssimo Sacramento (e, portanto, o que é o Santo Sacrifício da Missa) não conseguiria entender os motivos de seus ancestrais e, portanto, as grandes crises da história civil. Continuar lendo

17 DE OUTUBRO: DIA DE SANTA MARGARIDA MARIA ALACOQUE

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Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Nascida em 22 de julho de 1647 em Verosvres, na diocese de Autun (França), Marguerite-Marie Alacoque (Margarida Maria Alacoque) se dedicou a Cristo desde muito jovem. Na verdade, tinha apenas 5 anos quando, ao ouvir falar dos votos religiosos de sua madrinha, ofereceu-se pronunciando estas palavras que ficarão gravadas na sua memória e que ela repetirá posteriormente: “Ó meu Deus, eu Vos consagro a minha pureza e Vos faço voto de castidade perpétua ”.

Aos 13 anos, acamada por vários anos devido a uma paralisia, foi milagrosamente curada pela Virgem logo após a promessa de consagrar-se a Deus pela vida religiosa. Depois de muitas vicissitudes e assédios sofridos por parte de familiares, ela entrou em 25 de maio de 1671, aos 23 anos, na Ordem das Visitandinas de Paray-le-Monial, na Borgonha.
 
Escolhida por Nosso Senhor para ser a mensageira do Seu amor misericordioso, ela recebeu 3 grandes revelações que estão na origem da devoção ao Sagrado Coração.
 
A mais importante é o de junho de 1675, onde Cristo lhe mostrou o seu Coração, dizendo: “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia.”
 

Cristo pede o estabelecimento de uma festa particular para honrar o Seu Coração, comungando e fazendo reparações através de pedidos de perdão. Em troca, explica à sua confidente: “Prometo-te que o Meu Coração se dilatará para derramar com abundância as influências de Seu divino amor sobre os que tributem essa divina honra e que procurem que ela lhe seja prestada.”
 
Tornada mestra de noviças, Santa Margarida-Maria se esforça para difundir o amor do Sagrado Coração nas almas que lhe foram confiadas. Ela morreu piedosamente em 17 de outubro de 1690, aos 43 anos, pronunciando o nome de Jesus.
 
Levará mais de um século até que, em 1824, a Igreja a declare venerável, e mais quarenta anos até que seja beatificada pelo Papa Pio IX, em 1864, ano do Syllabus . Ela foi canonizada em 13 de maio de 1920 pelo Papa Bento XV.
 
Oração após a comunhão: “Tendo participado dos mistérios do vosso Corpo e do vosso Sangue, possamos nós, Senhor Jesus, pela intercessão da bem-aventurada virgem Margarida Maria, despojar-nos das soberbas vaidades do mundo e revestir-nos da mansidão e da humildade do vosso Coração.”

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O mês de junho é dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. CLIQUE AQUI e leia mais textos sobre essa devoção.

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UMA CURIOSIDADE

Na Igreja da FSSPX em Oensingen (Suiça) está o altar original de Paray-le-Monial, construído após a morte de Sta. Margarita Maria Alacoque, e sob o qual seu corpo foi mantido até que o altar fosse substituído pelo atual.

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CREMOS NA IGREJA

Editorial: apesar das alarmantes perspectivas do Sínodo, persistimos em crer na indefectibilidade das promessas de Cristo 

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Extraído da Carta aos nossos irmãos Sacerdotes n° 99

Dentro de alguns dias (e, sem dúvida, no momento em que lerem estas linhas), será realizada a primeira sessão do “sínodo sobre a sinodalidade”. É de temer, infelizmente, que essa assembleia, longe de trabalhar para restaurar sua vitalidade e seu esplendor espiritual da Igreja, acabe por aumentar ainda mais os desvios.

Do ponto de vista humano, não se pode deixar de temer pelas perspectivas cada vez mais alarmantes que pairam sobre a Igreja. A perda da fé, a cessação da prática, a queda das vocações, a apostasia assumida continuam a acelerar. Assim, começamos a compreender melhor a enigmática frase de Jesus: “Quando o Filho do Homem voltar, ainda encontrará fé na terra?” (Lc 18, 8).

Para superar esse inevitável pessimismo humano, devemos manter uma visão de fé sobre a Igreja. A Igreja é humana, profundamente humana e, portanto, experimenta todas as deficiências e todos os pecados que os homens podem cometer em si mesmos. Mas a Igreja também é, sobretudo, fundamentalmente divina. Santificada pelo Espírito, governada por Nosso Senhor Jesus Cristo, consagrada ao culto do Pai celestial, não pode ser abalada nos seus fundamentos, que são santos, que são divinos. Continuar lendo

03 DE OUTUBRO – DIA DE SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS

História da autobiografia de Santa Teresinha do Menino Jesus – Santuário  Santa Terezinha do Menino Jesus e da Sagrada Face

No dia dessa grandiosa Santa, disponibilizamos abaixo alguns links sobre ela:

COMO MANTER A PACIÊNCIA?

A VIA MARIANA DA “PEQUENA TERESA” NO FIM DE SUA VIDA

CURA A SANTA TERESINHA

EDITORIAL DA REVISTA PERMANENCIA NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE SANTA TERESINHA (1973)

A VIA DA INFÂNCIA ESPIRITUAL

TERESINHA, TEMPLO DE DEUS

SANTA TERESINHA, POR GUSTAVO CORÇÃO

NA IMITAÇÃO DE TERESINHA ESTÁ A SALVAÇÃO DA HUMANIDADE

A VIA MARIANA DA “PEQUENA TERESA” NO FIM DE SUA VIDA

Convosco sofri e desejo agora, cantar em vosso colo, Maria, porque vos amo, e repetir para sempre que sou vossa filha! “.

Santa Teresinha de Lisieux- Porque vos amo, ó Maria.

Fonte: Bulletin de la Confrérie Marie Reine des Cœurs n° 214 – Tradução: Dominus Est

Entre as amizades espirituais e sobrenaturais da “Pequena Teresa”, um ser “ocupa um lugar especial”. É “a Santa das Santas, a Virgem Maria” (1). O fim da sua vida foi inteiramente mariano: “contentemo-nos em ver a enferma viver com a sua Mãe”, nos últimos meses da sua vida.

Em maio de 1897, “ela escreveu tudo o que desejava dizer sobre Maria em seu importante poema Por que vos amo, ó Maria”. Foi o seu testamento mariano. Ela até mesmo esboçou “um plano de sermão que ela gostaria de ter proferido se tivesse sido padre”. Provavelmente, o conteúdo deste sermão se assemelharia à sua poesia mariana: “Enfim, disse em meu Cântico tudo o que gostaria de pregar sobre Ela” (2).

A Virgem ajuda Teresa a meditar: “Olhando para a Santíssima Virgem esta noite, compreendi (…) que Ela sofreu não apenas da alma, mas também do corpo. (…) Sim, Ela sabe o que é sofrer… Mas, seria talvez errado querer que a Santíssima Virgem tenha sofrido? Eu, que A amo tanto!”. Ela aproveitou, dessa forma, de seu sofrimento para se unir à sua Mãe. Ela explica isso em sua poesia: “Meditando vossa vida no santo Evangelho, atrevo-me a vos olhar e aproximar-me de vós, acreditando que sou vossa filha, o que não é difícil para mim, pois vos vejo mortal e sofredora como eu”. À Madre Agnès, que já lamentava vê-la morta, respondeu sem hesitar: “A Santíssima Virgem, de fato, segurou o seu Jesus morto em seu colo, desfigurado e ensanguentado! Foi algo diferente do que você verá! “. Que realismo! Continuar lendo

SOB A PROTEÇÃO DOS ANJOS DA GUARDA

Uma devida devoção ao nosso anjo da guarda não deve cair no exagero nem no esquecimento.

Fonte: Lou Pescadou nº 218 – Tradução: Dominus Est

O quarto livro de Reis relata que os sírios queriam prender o profeta Eliseu. Ao ver os soldados, o servo do profeta ficou com medo. Então Eliseu lhe disse: Não temas; muitos mais estão conosco do que com eles. E Eliseu, fazendo oração, disse: Senhor, abre os olhos deste, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do criado, e viu, e o monte apareceu cheio de cavalos e de carroças de fogo, ao redor de Eliseu. (4 Reis 6, 16-17). Fillion comenta: “Eliseu e seu servo contemplaram ao redor deles as tropas de anjos, enviados do alto para defendê-los.”

Esta passagem do Antigo Testamento nos revela a existência de anjos, que podem ser enviados por Deus para proteger os homens. De fato, é uma verdade de fé que Deus criou, do nada, no início dos tempos, seres espirituais, e que a tarefa secundária destes é a proteção dos homens e o cuidado com sua salvação. Quase todos os teólogos ainda acreditam – é, portanto, uma sentença comum – que todo homem, mesmo infiel, tenha um santo anjo particular desde seu nascimento. O Catecismo do Concílio de Trento fala disso na explicação do Pai Nosso: “Desde o nosso nascimento, Deus coloca os anjos para nossa guarda e os estabelece individualmente para velar pela salvação de cada um de nós.” Santo Tomás de Aquino ensina: “Assim como se dá um guarda aos homens que percorrem uma via insegura, assim todo o homem, que está aqui na terra como um peregrino, goza da guarda de um anjo.” Foi o Papa Clemente X, em 1670, que estabeleceu para a Igreja universal a Festa dos anjos da guarda em 2 de outubro.

Podemos nos perguntar quando “recebemos” este anjo: no nascimento ou no batismo? Santo Tomás de Aquino responde que é desde o nascimento (por isso todo homem tem um anjo), mas este anjo desempenha um novo papel a partir do batismo. E antes do nascimento? O mesmo teólogo afirma: “A criança, não estando separada de sua mãe, é confiada à guarda do anjo que vela por ela.

Teria, Nosso Senhor, um anjo da guarda? Eis a resposta de Santo Tomás de Aquino: “Cristo, enquanto homem, sendo regido imediatamente pelo verbo de Deus, não precisava da guarda dos anjos. E, demais, era, pela alma, compreensor; mas era, em razão da passibilidade do corpo, viandante. E por isso, não lhe era devido, nenhum anjo custódio como superior, mas antes um anjo ministrante, como inferior. É por isso que o Evangelho diz: “Os anjos se aproximaram e O serviram” (Mt 4,11). Acrescentemos que no Horto das Oliveiras, um anjo vem especialmente para consolá-lo (Lc 22,43). E no momento de sua prisão, disse a São Pedro: Julgas porventura que eu não posso rogar a meu Pai, e que ele me não porá aqui logo mais de doze legiões de anjos? (Mt 26, 53) Continuar lendo

BOLETIM DO PRIORADO PADRE ANCHIETA (SÃO PAULO/SP) E MENSAGEM DO PRIOR – OUTUBRO/23

Dia de Nossa Senhora Aparecida: conheça a história da Padroeira do Brasil

Caríssimos fiéis,

Uma criança mal-criada pode tomar água benta e jogá-la em sua irmãzinha. Uma mãe irritada pode usar seu livro de orações para bater em seu filho. Um homem orgulhoso pode dar esmolas para chamar a atenção. Esses exemplos nos mostram que não basta que uma realidade seja boa para que seu uso seja igualmente bom. É por isso, por exemplo, que nossa mãe, a santa Igreja, se esforça, por meio de seus ministros, para nos dar as disposições devidas para receber os sacramentos. Os sacramentos são bons em si mesmos, mas podem ser mal utilizados.

Se, por um lado, quanto se trata dos sacramentos, as disposições devidas são bem conhecidas; por outro lado, quando se trata dos sacramentais ou das várias devoções, elas são muito menos conhecidas.

Antes de mais nada, precisamos distinguir entre o essencial, que é obrigatório, e o acidental ou não essencial, que é opcional. Como sempre, uma comparação entre a vida natural e a vida sobrenatural nos ajudará a entender. Uma mãe alimenta seu bebê recém-nascido imediatamente. Ela não espera que ele expresse seus gostos pessoais. Ela lhe fornece o essencial. Mais tarde, quando a criança tiver adquirido a capacidade de escolher com prudência, ela poderá decidir entre várias boas opções para se alimentar, de acordo com seus gostos, mas também segundo suas necessidades, que podem variar segundo a idade ou o estado de saúde. Da mesma forma, os pais cristãos darão a seus filhos a vida sobrenatural por meio do batismo – o essencial – sem demora. Mais tarde, quando eles tiverem atingido a idade da razão, poderão optar por nutrir a vida da graça em suas almas por meio de devoções – o acidental – que correspondam a seus gostos e necessidades. Continuar lendo

OUTUBRO: MÊS DO ROSÁRIO

Nossa Senhora do Rosário – História Nossa Senhora

Prezados amigos, leitores e benfeitores, louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nesse mês do Rosário, disponibilizamos abaixo os links para as Encíclicas de Leão XIII sobre o Rosário e Nossa Senhora.

“Ora pro nobis, sancta Dei Genetrix, Ut digni efficiamur promissionibus Christi.”

Aproveitamos para disponibilizar alguns textos já publicados em nosso blog sobre o Rosário:

A IGREJA CONCILIAR E AS 4 NOTAS

Há 61 anos, foi anunciado o Concílio Vaticano II por São João XXIII -  Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico

Fonte: SSPX Great Britain – Tradução: Dominus Est

Meus queridos irmãos,

Última iniciativa da Igreja Conciliar

Em sua mais recente entrevista ao FSSPX.News, nosso Superior Geral explicou o processo sinodal, que é a mais recente iniciativa da Igreja Conciliar destinada a “renovar” a Igreja Católica, mas que, ao invés disso, a vira de cabeça para baixo (veja Ite Missa Est, março-abril 2019) e, efetivamente, a coloca a serviço de uma nova ordem mundial, inimiga de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Não se sabe se o Papa, os cardeais ou os outros reformadores realmente entendem que estão levando o Cordeiro ao matadouro uma segunda vez, mas uma coisa é clara: parece haver um senso de urgência – até mesmo desespero – em seus sucessivos projetos para mudar a Igreja Católica. Talvez haja uma mão invisível que os esteja forçando. Vemos isso na esfera da política nacional onde, em vez de estadistas, vemos fantoches egoístas dançando ao som de outra melodia para impor leis ideológicas malignas para as quais não há demanda pública real. Ou talvez os reformadores possam ver que seu tempo é limitado: os fiéis fugiram, as estruturas estão em colapso, a árvore não tem frutos e está murchando, e eles estão se tornando irrelevantes para o mundo pelo qual sacrificaram tudo para agradar.

As ruínas

As aflições da Igreja prontamente lembram as Lamentações de Jeremias: “Os caminhos de Sião choram, porque não há quem venha às solenidades ; todas as suas portas se acham destruídas ; os seus sacerdotes gemendo ; as suas virgens esquálidas, e ela oprimida de amargura. Os seus adversários assenhorearam-se dela, enriqueceram-se os seus inimigos, porque o Senhor falou contra ela, por causa da multidão das suas iniquidades ; os seus filhinhos foram levados para o cativeiro ante a face dos que os atribulavam.”(Lam 1, 4-5) Continuar lendo

A RELIGIÃO DOS MODERNISTAS PÓS-CONCILIARES – CARACTERÍSTICAS

Fonte: Corsia dei Servi – Tradução: Gederson Falcometa

Muitas declarações e ações da hierarquia católica que se sucedem a um ritmo cada vez maior são cada vez menos explicáveis como desvios marginais da reta doutrina.

Parece mais a emersão de uma versão humanitária da nossa Santa Religião, a qual gradualmente, com os aplausos dos teólogos e dos operadores da comunicação, conquistou o centro da cena, a ponto de ser pregada abertamente como a doutrina atual da Igreja.

As ideias vetoriais do modernismo inoculadas no catolicismo na sequência da revolução joanina atuaram nestes anos conciliares, provocando uma transmutação alquímica do catolicismo, de uma religião revelada tendo por finalidade a salvação das almas para um humanismo filantrópico que apoia o poder mundano.

Nesta versão diluída do cristianismo ad usum delphini dois aspectos se destacam principalmente, o historicismo e o naturalismo.

Historicismo

Com o historicismo se abandona as categorias verdadeiro-falso e bom-mau a favor de uma concepção evolucionista em que cada expressão e ação deve ser julgada de acordo com o momento histórico em que aconteceu: o verdadeiro e o bom são prisioneiros do tempo. Continuar lendo

PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA – PARTE 15 – EXEMPLOS DE PACIÊNCIA – A PACIÊNCIA DOS SANTOS

Discourses on the Sober Life (Discorsi della vita sobria) Being the Personal Narrative of Luigi Cornaro (1467-1566, A. D.) [Illustrated Edition] (English Edition) por [Luigi Cornaro]

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

Todos os santos devem sua recompensa eterna, em grande parte, à graça da paciência. Sua coroa no céu não será devida tanto ao que fizeram por Deus, mas ao que sofreram por Ele. Neles, a paciência tem sua obra perfeita (Tiago 1,4), e essa obra tem sido prepará-los para as alegrias eternas do Céu.

Oh, quão gratos eles serão a Deus pela paciência que Ele lhes deu para sofrer voluntariamente por Ele! Quão gratos serão pelos sofrimentos que lhes proporcionaram uma felicidade inexprimível e uma paz que não conhece fim.

Os santos, enquanto ainda estão na terra, têm uma visão mais verdadeira de todos os eventos da vida do que nós. Eles valorizam, acima de tudo, mesmo enquanto ainda estão sofrendo, as cruzes e aflições que Deus lhes envia. Os apóstolos consideraram uma alegria sofrer afrontas por causa de Cristo. “Nos gloriamos na tribulação”, diz São Paulo. Continuar lendo

SANTO TOMÁS PROPÕE A VINGANÇA COMO VIRTUDE. MAS, VINGANÇA NÃO É ALGO RUIM?

A criação, a cosmologia e o pensamento de São Tomás de Aquino

Pe. Juan Carlos Iscara, FSSPX

Entre as virtudes sociais, isto é, aquelas que facilitam a vida dos homens na sociedade, Santo Tomás enumera a vindicta – que deveria ser traduzida como “punição justa” para evitar o sentido pejorativo que a palavra “vingança” tem. É uma virtude ligada à virtude cardeal da justiça, que consiste em punir o malfeitor pelo crime cometido.

Infelizmente, quando se trata de punir criminosos, o mundo moderno parece oscilar entre dois extremos: rigor desproporcionado e leniência exagerada. Portanto, é necessário esclarecer o que entendemos como “vingança”, punição justa.

Não há duvida de que restaurar a ordem perturbada por uma ação má é uma obra boa e virtuosa, exigida pela justiça em si e pela necessidade de manter a ordem social. Porém, em razão de nossa natureza decaída, quando se aplica uma punição, é muito fácil se deixar levar por motivos pecaminosos (raiva desordenada, ódio do criminoso, etc), o que faria a punição perder sua justiça, seu caráter virtuoso, tornando-a um verdadeiro pecado.

Santo Tomás explica: Continuar lendo

FRANCISCO FALA DE SEU SUCESSOR: JOÃO XXIV. E TALVEZ POSSAMOS DIZER ALGO SOBRE

Bergoglio parla del suo successore: Giovanni XXIV. E forse possiamo dirvi qualcosa.

Em seu voo de retorno da Mongólia, o Papa Francisco deixou claro que, se não puder ir ao Vietnã durante a sua próxima viagem internacional, o seu sucessor, João XXIV, poderá ir em seu lugar (literalmente).

Fonte: Radio Spada – Tradução: Dominus Est

Talvez possamos contar mais sobre essa figura e a era que ele inaugurará.

João XXIV será italiano e de ideias controversas. Ele terá um pontificado curto. Estará aberto ao mundo moderno e pronto para liderar uma igreja de misericórdia . Ele convocará um novo Concílio que será concluído por seu sucessor. Nele e com ele triunfarão os erros condenados pela Igreja: ecumenismo indiferentista, colegialidade-sinodalismo, liberalismo religioso, liturgia protestantizada. 

Será impressionante porque estes miasmas anticatólicos serão aceitos por muitos fiéis, embora já tenham sido definitivamente condenados na: Auctorem Fidei, Mirari Vos, Qui Pluribus, Sillabo, Libertas, Pascendi, Notre Charge Apostolique, Quas Primas, Mortalium Animos, Humani Generis , e em muitos outros documentos papais. Continuar lendo

PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA – PARTE 14 – EXEMPLOS DE PACIÊNCIA – A PACIÊNCIA DE JESUS CRISTO

COMO FOI SUA SEMANA SANTA? – Vocação de Jesus

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

Assim como em todas as outras virtudes, também na paciência Jesus Cristo é nosso Mestre e Exemplo.

Ninguém jamais sofreu como Ele sofreu e, portanto, ninguém teve que exercer tanta paciência como Ele exerceu.

Quão paciente Ele foi com aqueles que O insultaram e abusaram! Jamais houve uma palavra de indignação, jamais um olhar raivoso, nada além de doçura e bondade. “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.

Oh, quando serei capaz de imitar a paciência de Jesus? Quando me aproximarei, mesmo à distância, do Modelo Divino que professo imitar? Quão paciente Ele foi com Seus Apóstolos! Como a aspereza, o egoísmo e a estupidez deles devem tê-lo desagradado! Continuar lendo

MARX SERIA CONSERVADOR HOJE?

Camiseta Tio Karl Marx | VandalFonte: Ricognizioni – Tradução: Gederson Falcometa

Um fantasma assombra o dourado mundo progressista: a suspeita de que Marx hoje não se daria bem com a atual esquerda político-cultural “fúcsia”, do Partido Democrata de marca Schlein ao espanhol Sànchez até mesmo as brigadas woke americanas e aos autodenominados Social justice Warriors da extrema-esquerda financiados por bilionários. Há anos a tese é tematizada na França, sobretudo por Jean Paul Michéa, que se define como socialista, mas não “de esquerda”. Agora a desconfiança ecoa nas considerações de uma pensadora suíça, Elena Louisa Lange. Um artigo no semanário alemão Die Weltwoche causou sensação. “Vale a pena perguntar o que Marx, um lutador contra a censura prussiana, pensaria da cultura do cancelamento da esquerda hoje, o que Marx pensaria dos Verdes alemães, cuja política é baseada em um novo coletivismo centrado no vírus ou na mudança climática.” E em um belicismo desatinado, representado pela ministra Annalena Baerbock, que contradiz décadas de pacifismo de arco-íris.

A Lange identifica o momento decisivo da esquerda ocidental na contracultura nascida na década de 1960 e na Escola de Frankfurt. Os frankfurtianos partiram do pensamento de Marx, mas para revira-lo como a uma meia, até perderem o interesse pelo elemento básico, a abolição da propriedade privada como elemento fundamental da libertação da humanidade. O próprio internacionalismo era íntimo deles: optaram por um cosmopolitismo abstrato, cuja saída paradoxal era o subjetivismo mais exaltado, ponto de encontro com o liberalismo. Herbert Marcuse, figura chave daqueles anos, Max Horkheimer e Theodor W. Adorno, embora fortemente marcados pelo marxismo clássico, nunca se interessaram “pela emancipação social das classes trabalhadoras. Adorno e companhia, influenciados pela experiência de Auschwitz, substituíram a luta de classes pela política de identidade judaica, Marcuse viu o sujeito revolucionário nos danados da Terra (Frantz Fanon), no Terceiro Mundo, nas mulheres, nos negros e nos homossexuais.”

Não concordamos com o julgamento relativo a Adorno e Horkheimer: os dois certamente foram influenciados pela raiz judaica – comum a todos os frankfurtianos – mas seu alvo polêmico era sobretudo a sociedade autoritária – símbolo de uma espécie de eterno fascismo (A personalidade autoritária ) e a cultura de massa (Dialética do Iluminismo), que detestavam em nome de um intelectualismo elitista. A falta de interesse pelo destino do proletariado e seus problemas concretos é evidente. Na verdade, eles acreditavam que a classe trabalhadora não era nada revolucionária, mas sim interessada em melhorar sua condição econômica e social, portanto conservadora. Continuar lendo

A COSMOVISÃO DA LAGARTIXA

Fonte: Permanência

Hoje, para variar e para descansar o leitor, vamos falar da lagartixa. Antes disso, devo dizer que, nas meias horas de descanso depois das refeições receitadas pelo Dr. Stans Murad, costumo esticar-me num sofá, perdão, num sofanete, para ser mais exato, e então, sem saber como e quando começou, costumo deixar correr a lembrança dos dias idos e vividos ou das pessoas idas e mortas. Entrego a memória a seus caprichos e ponho-me de camarote a assistir às avessas, e de surpresa, às cenas desse teatro de amadores mal ensaiados que se chama vida. É o meu luxo, é o último regalo que os ferozes deveres de estado me concedem. Desta maneira, misturando à água da memória o vinho da ficção, invento a vida que não tive, viajo, vejo terras e mares que não vi, revivo amores que não vivi

Many and many years ago,

In a kingdom by the sea…

Nem sempre é ameno este exercício. Às vezes, como cobra escondida na moita, salta-me diante dos olhos um quadro vivíssimo  que supunha morto ou dormido, ou vara-me o ouvido do coração uma palavra, um timbre, um grito, que me quebra o repouso com uma descarga elétrica de dor. Mas também muitas vezes logro repassar momentos de tão intensa doçura — ora no gosto fresco de um alvorecer, ora na suavidade silenciosa de um entardecer — que me dão esquecimento de todos os azedumes provados… Outras vezes, simplesmente cochilo até que toque um dos sete despertadores dos sete deveres de estado.

*

Ora, ontem, quando me punha no decúbito dorsal aconselhado pela sábia e amiga solicitude do Dr. Stans Murad, que é meu amigo pessoal, e declarado inimigo pessoal da morte, especialmente da morte súbita (A subitanea et improvisa morte libera nos, Domine), no momento em que me preparava para desatar as amarras da fantasia, vi no teto uma lagartixa a andar desembaraçadamente no seus afazeres de lagartixa, movendo-se ao arrepio das leis da gravitação, mas certamente ao saber de outras leis que desconheço, mas respeito.

Feliz animal! Lá no teto, com a maior naturalidade do mundo, a lagartixa vê tudo de pernas para o ar, vê pesados móveis grudados num teto sem nenhuma lei a favor de tal postura, e vê em decúbito dorsal uma grande pobre lagartixa humana, estendida no sofanete, imóvel, vivendo só pelo ardor dos olhos e pela angústia do semblante. Lacerta agilis, se tivesses nas tuas frias veias uma centelha daquilo que nos faz entender, e principalmente desentender, saberias lá no teu teto que o mundo cá embaixo anda ainda muito mais de pernas para o ar do que te parece. Tua tranqüilidade, ó Lacerta agilis, vem do fato de não seres absurda. És o que és, e moves-te em conformidade com o que és. Nós, não. Nós não sabemos exatamente o que somos, e quando o sabemos é para logo observarmos que certamente, certíssimamente, não vivemos segundo o que verdadeiramente somos. Continuar lendo

ÚLTIMAS NOTÍCIAS DO TRABALHO DA FSSPX NA ÁSIA

Medical Mission

Fonte: FSSPX Ásia – Tradução: Dominus Est

Queridos amigos e benfeitores,

Mais uma vez, escrevemos com notícias do Apostolado aqui no Extremo Oriente. Vocês poderão encontrar nesta revista APOSTLE (links no final do texto) os vários trabalhos que realizamos na vinha do Senhor, para a salvação das almas.

Uma das maiores tentações que os católicos podem encontrar nestes tempos estranhos é a do desespero. Um católico pode viajar para qualquer país do mundo e encontrar inúmeros casos de desânimo e dificuldade na prática da nossa santa fé. Repetidas vezes ouvimos os gritos dos fiéis pedindo por mais ajuda, mais tempo, mais respostas para os problemas que enfrentam em um mundo pagão. São gritos altos e desesperados que não podem ser ignorados!

É a virtude sobrenatural da esperança que fornece as respostas e os recursos para enfrentar as situações “impossíveis” que encontramos todos os dias. É, precisamente, a esperança e a confiança na Providência Divina que nos dão a força e a perseverança para superar as tentações do desespero e da tristeza durante estes tempos perigosos.

Entretanto, existem também outros “gritos” de almas que não podem ser ouvidos tão facilmente. Estes são os “gritos silenciosos” de tantos milhões, ou melhor, bilhões de almas que nascem nas trevas da idolatria e das falsas religiões. Elas passam a vida inteira buscando a felicidade e algumas outras respostas que fariam este mundo bizarro parecer mais sensato para elas. Infelizmente, para a maioria destas pobres almas, elas não conseguem encontrar as respostas e morrem na escuridão espiritual. Como escreve São Paulo aos Romanos: “Como invocarão, pois, aquele, em quem não creram (ainda)? Ou como crerão naquele, de quem não ouviram falar? E como ouvirão, sem haver quem lhes pregue? E, como pregarão eles, se não forem enviados? Como está escrito: Que formosos são os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam a felicidade!” (Rom 10, 14-15). Continuar lendo

PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA – PARTE 13 – EXEMPLOS DE PACIÊNCIA – A PACIÊNCIA DE MARIA

virgem-maria

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

Como Jesus veio para sofrer, era necessário que Maria sofresse com Ele. Este era seu maior privilégio, e ela sabia que seria assim. Ela sabia disso mesmo quando seu amor humano irrompeu em suas palavras suplicantes: “Filho, por que procedeste assim conosco?” Ela sabia disso quando ficou com o coração partido sob a cruz. Ela sabia quando recebeu, em seus braços, o Corpo do Filho, depois de ter sido descido da Cruz. Ela sabia, do princípio ao fim, que a melhor prova do amor de Nosso Senhor é dar-nos parte em Seus sofrimentos.

Esta era a consolação de Maria. Será a minha quando tenho que sofrer?

Não lemos muito nas Sagradas Escrituras a respeito da paciência de Maria, mas o suficiente para saber que Jesus, propositalmente, testou sua paciência. Por que Ele fez com que o santo Simeão penetrasse em seu coração com a previsão de seus sofrimentos futuros? Por que Ele a obrigou a começar, na noite escura, a viagem para o Egito, quando Ele poderia facilmente ter derrotado os projetos de Herodes? Por que Ele não a deixou saber onde estava quando permaneceu em Jerusalém? Por que Ele aparentemente a repreendeu nas bodas de Caná? Por que Ele permitiu que seu coração fosse dilacerado pela visão de Sua crucificação? Continuar lendo