LEI E LIBERDADE

Resultado de imagem para marcel lefebvreA liberdade consiste em poder viver mais facilmente conforme as prescrições da lei eterna, com o auxílio das leis civis”. Leão XIII

Não poderia resumir melhor os desastres produzidos pelo  liberalismo em toda parte, expostos no capítulo precedente, do que com uma passagem de uma carta pastoral de bispos, que data de cem anos atrás, mas continua atual.

“Atualmente, o liberalismo é o erro capital das inteligências e  a paixão dominante em nosso século. Forma uma atmosfera infecta que envolve por todos os lados o mundo político e religioso, e é um imenso perigo para o indivíduo e para a sociedade.

Inimigo tão gratuito e cruel da Igreja Católica, amontoa em desordem insensata todos os instrumentos de destruição e morte, com a finalidade de proscrevê-la da terra. Falsifica as idéias, corrompe os juízos, adultera as consciências, irrita os temperamentos, incendeia as paixões, submete os governantes, subleva  os  governados,  e  não  satisfeito  em  apagar  (se isto

fosse possível) a chama da revelação, lança-se inconsciente e audaz para apagar a luz da razão natural”29.

Enunciado do Princípio Liberal

Será possível descobrir no meio de tal caos, num erro  tão multiforme, o princípio fundamental que explica tudo? Repetimos com o padre Roussel: “o liberal é um fanático da independência”. É um fato e procuraremos explicá-lo.

O Cardeal Billot, cujos tratados teológicos foram meus livros de estudo na Universidade Gregoriana e no Seminário Francês de Roma, dedicou ao liberalismo algumas páginas brilhantes e enérgicas, em seu tratado sobre a Igreja30. Ele enuncia o princípio fundamental do liberalismo:
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NOSSO SENHOR JESUS CRISTO E O LIBERALISMO

Resultado de imagem para marcel lefebvreA verdade os fará livres!” (Jo 8, 32)

Depois de haver exposto que o liberalismo é uma rebelião do  homem contra a ordem natural concebida pelo Criador, que culmina em uma organização individualista, igualitária e centralizadora, me resta lhes mostrar como o liberalismo ataca também a ordem sobrenatural, o plano da Redenção, quer dizer, em definitivo, como o liberalismo tem por finalidade destruir o reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo, tanto sobre o indivíduo como sobre a sociedade.

Em relação à ordem sobrenatural, o liberalismo proclama duas novas independências:

– “A independência da razão e da ciência em relação à fé: é o racionalismo, para quem a razão, juiz soberana e medida da verdade, se basta a si mesma e rechaça toda dominação estranha”.

É o que se chama de racionalismo.

O liberalismo quer separar a razão da fé, que impõe dogmas formulados de modo definitivo, e aos quais a inteligência deve se submeter. A simples hipótese de que certas verdades podem superar as capacidades da razão é completamente inadmissível. Os dogmas devem então ser submetidos à peneira da razão e da ciência, sendo ela de um modo constante, a causa dos progressos científicos. Os

milagres de Jesus Cristo, a vida maravilhosa dos santos, devem ser reinterpretados e desmistificados. Será necessário distinguir cuidadosamente o “Cristo da Fé”, construtor da fé dos apóstolos e das comunidades primitivas, do “Cristo da história” que foi nada mais do que um simples homem. Vê-se quanto o racionalismo se opõe à divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e à Revelação  divina! Continuar lendo

A ORDEM NATURAL E O LIBERALISMO

Imagem relacionadaHá uma obra que recomendo especialmente àqueles que desejam ter uma noção concreta e completa do liberalismo  para poder preparar preleções, destinadas a pessoas que pouco conhecem este erro e suas ramificações e estão viciadas em pensar como um liberal, inclusive entre católicos ligados à tradição. Frequentemente encontramos pessoas que não percebem a profunda penetração do liberalismo em toda nossa sociedade e em nossas famílias.

Facilmente se reconhece que o “liberalismo de vanguarda” de um Giscard d’Estaing nos anos de 1975, conduziu a França ao socialismo; mas se pensa, com boa fé, que a “direita liberal” pode nos livrar da opressão totalitária. As almas que “pensam bem” ainda não descobriram se devem aprovar ou censurar a “libertação do aborto”, mas estão prontas para assinar uma petição para liberar a eutanásia. De fato qualquer coisa que leve a etiqueta de “liberdade”, tem há séculos a auréola do prestígio que acompanha esta palavra “sacrossanta”. No entanto estamos morrendo deste mal, é o liberalismo que envenena tanto a sociedade civil como a Igreja. Abramos o livro de que lhes falo, “Liberalismo e Catolicismo” do Padre Roussel, que foi lançado em 1926, e leiamos a página que descreve     com     muita     precisão     o     liberalismo     (pgs.14-16), acrescentando um pequeno comentário:

“O liberal é um fanático de independência, a proclama em tudo e para tudo, chegando às raias do absurdo”.

Trata-se de uma definição; veremos como se aplica e quais são as libertações que o liberalismo reivindica.

– “A independência da verdade e do bem em relação ao ser: é a filosofia relativista da mobilidade e do futuro. A independência da inteligência em relação a seu objeto: soberana, a razão não tem que se submeter a seu objeto, ela o cria na evolução radical da verdade; subjetivismo relativista”.
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AS ORIGENS DO LIBERALISMO: NATURALISMO, RACIONALISMO, LIBERALISMO

lef4Desde já, podemos ver como todos os erros estão entrelaçados uns com os outros: liberalismo, naturalismo, racionalismo, são somente aspectos complementares do que se deve chamar Revolução. Onde a reta razão, esclarecida pela fé, vê somente harmonia e subordinação, a razão deificada cava abismos e levanta muralhas: a natureza sem a graça, a prosperidade material sem a procura dos bens eternos, o poder civil separado do poder eclesiástico, a política sem Deus nem Jesus Cristo, os direitos do homem contra os direitos de Deus , finalmente a liberdade sem a verdade.

Com este espírito se fez a Revolução, que vinha se preparando a mais de dois séculos, como procurei mostrar, mas somente no fim do século XVIII culmina e dá seus frutos decisivos: os frutos políticos como resultado dos trabalhos dos filósofos, dos enciclopedistas e de uma extraordinária atividade da maçonaria (11), que em poucas décadas havia penetrado e estabelecido núcleos em toda classe dirigente.

A MAÇONARIA PROPAGADORA DESTES ERROS

O Papa Leão XIII nos mostra em “Quod Apostolici”, encíclica já citada, e também em “Humanum Genus” de 20 de agosto de 1884 sobre a ceita dos maçons, com que precisão, com que clarividência, os Soberanos Pontífices denunciaram esta empresa:

“Em nossos dias os malfeitores parecem conspirar em conjunto e lutar com maior força, guiados e auxiliados por uma Sociedade que chamam dos Maçons, firmemente constituída e muito difundida (…). os Romanos Pontífices, nossos predecessores, zelando cuidadosamente pela salvação do povo cristão, reconheceram logo quem era e o que queria este inimigo, assim que ele começou a sair das trevas de sua conjuração oculta, para se lançar ao ataque em plena luz do dia”. Continuar lendo

ASSIS, FRUTO DO IMPÉRIO MAÇOM

Conferências de Dom Lefebvre em Barcelona e Madri – Outubro de 1986 

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Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Ao longo de duas conferências, feitas em Barcelona e Madri na época em que ocorria a primeira reunião de Assis, Dom Lefebvre refez o caminho aberto e seguido pelo liberalismo até a subordinação da Igreja às exigências da Maçonaria.

O liberalismo é um pecado

Não somente o liberalismo é um pecado grave que atinge a honra de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas também uma religião. Morremos do liberalismo e de suas consequências. Já faz dois séculos que ele tem se difundido por toda parte, em nossas escolas, em nossas sociedades. É um veneno que destrói os mandamentos de Deus, tudo o que gera a beleza e a grandeza da civilização cristã.

É bom delimitá-lo, como o fez Leão XIII sobre a Maçonaria, em sua encíclica Humanum genus:

“É preciso arrancar-lhes sua máscara e mostrá-los tais como são, para que os evitemos e evitemos seus erros”.

Acredito que o liberalismo é um fruto da Maçonaria e que ele deve ser desmascarado de modo que compreendam todos os seus perigos.

O liberalismo tem sua deusa: é a liberdade. Na época da Revolução francesa, adorou-se a deusa Razão na catedral Notre-Dame de Paris, ou seja, a liberdade, a liberdade do Homem, esta liberdade que tem sua estátua na entrada de Nova Iorque, que se festejou de um modo inacreditável há pouco tempo. O Homem é livre, enfim ele está liberto de toda lei e, em particular, da lei de Deus. A liberdade é a deusa da religião do liberalismo. Continuar lendo

AS ORIGENS DO LIBERALISMO: NASCIMENTO DO NATURALISMO POLÍTICO

lef3O protestantismo constituiu um ataque muito duro contra a Igreja e ocasionou um desagregamento profundo na cristandade do século XVI, porém sem conseguir impregnar as nações católicas com o veneno de seu naturalismo político e social. Isso só aconteceu quando este espírito secularizante chegou às universidades e em seguida àqueles que chamamos “filósofos das luzes”.

Filosoficamente o protestantismo e o positivismo jurídico têm origem no nominalismo surgido com a decadência da Idade Média (séc. XIV) que conduz tanto à Lutero com sua concepção puramente extrínseca e nominal da Redenção, como a Descartes, com sua idéia de uma lei divina indecifrável submetida somente ao arbítrio da vontade de Deus. Com São Tomás de Aquino, toda a filosofia cristã afirmativa, ao contrário, a unidade da lei divina eterna e da lei humana natural: “A lei natural é tão somente uma participação da lei eterna nas criaturas racionais”. (Suma Teológica I II, 91, 2).

Mas com Descartes já se põe uma ruptura entre o direito divino e o direito humano natural. Seguindo a Descartes, os universitários e juristas não tardariam a tomar o mesmo caminho cismático.

Assim diz Hugo Grotius (1625), citado por Paul Hazard: “E o direito divino? Grotius procura salvaguardá-lo: o que acabamos de dizer, declara, valeria mesmo se concordássemos ( o que não pode ser concedido sem um crime ) que não há Deus e que os assuntos humanos não são objeto de seus cuidados. Não há duvida alguma que Deus e a Providência existem, sendo portanto uma fonte de direito além da que provém da natureza. ‘Mesmo este direito natural, pode ser atribuído a Deus, porque ele quis que estes princípios existissem em nós’. Continuar lendo

AS ORIGENS DO LIBERALISMO: O PROTESTANTISMO E O NATURALISMO

lef1Pode parecer estranho e paradoxal chamar o protestantismo de naturalista. Nada há em Lutero de exaltação à bondade intrínseca da natureza porque, segundo ele, a natureza está irremediavelmente decaída e a concupiscência é invencível. No entanto a opinião excessivamente niilista que o protestante tem sobre si mesmo, desemboca em um naturalismo prático: na intenção de menosprezar natureza e exaltar o poder “só da fé”, relegam a graça divina e a ordem sobrenatural ao domínio das abstrações. Para os protestantes a graça não opera uma verdadeira renovação interior; o batismo não é a restituição de um estado sobrenatural habitual, é somente um ato de fé em Jesus Cristo que justifica e salva.

A natureza não é restaurada pela graça, permanece intrinsecamente corrompida; e somente a ordem obtém de Deus que deite sobre nossos pecados o manto pudico de Nóe. Todo o organismo sobrenatural que o batismo agrega à natureza enraizando nela a graça, todas as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo são reduzidos a nada, reduzidos a um só ato forçado de fé, confiança em um redentor que gratifica somente para retirar-se para longe a criatura, deixando um abismo intransponível entre o homem definitivamente miserável e Deus transcendente três vezes santo. Esse pseudo supernaturalismo, como chama o Padre Garrigou Lagrange, deixa finalmente o homem, apesar de haver sido redimido, sujeito somente à força de suas aptidões naturais; fatalmente se afunda no naturalismo. Deste modo os extremos opostos se unem! Jacques Maritain exprime bem o desenlace naturalista do luteranismo:

“A natureza humana terá que rechaçar como um inútil acessório teológico o manto de uma graça que não é nada para ela e cobrir-se com sua fé confiança para converter-se em uma bela besta livre, cujo infalível e continuo progresso encanta hoje o universo inteiro”. (5) Continuar lendo

AS ORIGENS DO LIBERALISMO: O RENASCIMENTO E O NATURALISMO

lef2“Se vocês não lerem muito, cedo ou tarde serão traidores, porque não terão compreendido a raiz do mal”.

Com estas fortes palavras um de meus colaboradores (4) recomendava aos seminaristas de Ecône a leitura de boas obras que tratem do liberalismo.

Com efeito, não se pode compreender a crise atual da Igreja nem conhecer a verdadeira cara dos que ocupam a Roma atual, e em conseqüência ver que atitude tomar perante os fatos, se não se procura as causas desta crise, se não se estuda seu curso histórico, e não se descobre sua fonte primeira neste liberalismo condenado pelos papas dos últimos séculos.

Com efeito, não se pode compreender a crise atual da Igreja nem conhecer a verdadeira cara dos que ocupam a Roma atual, e em conseqüência ver que atitude tomar perante os fatos, se não se procura as causas desta crise, se não se estuda seu curso histórico, e não se descobre sua fonte primeira neste liberalismo condenado pelos papas dos últimos séculos.

NOSSA LUZ: A VOZ DOS PAPAS

Partiremos das origens, como faziam os Soberanos Pontífices, ao denunciarem as graves perturbações em curso. Além de acusarem o liberalismo, os papas vão mais longe no passado e todos, desde Pio VI até Bento XV, falavam da crise reduzindo a para a luta encetada contra a Igreja no século XVI pelo protestantismo e pelo naturalismo, do qual aquela heresia foi a causa e a primeira propagadora. Continuar lendo

DO LIBERALISMO À APOSTASIA (INTRODUÇÃO)

Há 61 anos, foi anunciado o Concílio Vaticano II por São João XXIII |  Pontifício Instituto Superior de Direito CanônicoPara onde vamos? Qual será o final de todas as mudanças atuais? Não se trata de guerras, de catástrofes atômicas ou ecológicas, mas sobretudo da revolução no exterior e interior da Igreja, da apostasia que por fim ganha povos inteiros, católicos em outros tempos, chegando inclusive a mais alta hierarquia da Igreja. Roma parece afogada em uma cegueira completa, a Roma de sempre está reduzia ao silêncio, abafada pela outra Roma, a Roma liberal que a ocupa. As fontes da Graça e da fé divina se esvaem e as veias da Igreja canalizam por todo seu corpo o veneno mortal do naturalismo.

É impossível compreender esta crise profunda sem levar em conta o fato central deste século: o segundo Concílio  Vaticano. Creio que minha opinião em relação a ele é bastante conhecida para me permitir dizer sem rodeios meu pensamento: sem rechaças em bloco este Concílio, penso que é o maior desastre deste e de todos os séculos passados desde a fundação da Igreja. Na verdade não faço mais do que julga-lo pelos frutos, usando o critério que nos foi dado por Nosso Senhor (Mt.VII,16). Quando se pede ao  Cardeal Ratzinger que mostre algum bom fruto do Concílio, não sabe o que responder1; e ao perguntar um dia ao Cardeal Garrone, como um “bom” concílio havia produzido tão mais frutos, me respondeu: “não é o Concílio, são os meios de comunicação social”2.

Agora um pouco de reflexão pode ajudar ao senso comum: se  a época pós-conciliar está dominada pela revolução na Igreja, não é porque o próprio Concílio a introduziu? “O Concílio é o 1789 na Igreja”, declarou o Cardeal Suenens. “O problema do Concílio, foi assimilar dois séculos de cultura liberal”, diz o Cardeal Ratzinger. E se explica: Pio IX pelo Syllabus, havia rechaçado sem possibilidade de réplica o novo mundo surgido da Revolução, ao condenar este proposição: “O Romano Pontífice pode e deve se reconciliar e se acomodar com o progresso, com o liberalismo e com a civilização moderna”(nº 80). O Concílio, diz abertamente Joseph Ratzinger, foi um “contra-Syllabus” ao efetuar este reconciliação da Igreja com o liberalismo, particularmente por intermédio de “Gaudium et Spes”, o maior documento conciliar. Com efeito os papas do século XIX não parecem ter sabido discernir o que havia de verdade cristã, e  portanto assimilável pela Igreja, na revolução de 1789.
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VERDADEIRO SACERDÓCIO – PALAVRAS DE D. LEFEBVRE

Resultado de imagem para marcel lefebvreFonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

Fomos escolhidos de um modo totalmente particular para sermos seu  discípulos e apóstolos. Por que admirar que nos peçam que levemos a cruz que Ele mesmo levou e bebamos o cálice que ele bebeu? É evidente que, aos olhos da fé, os sofrimentos que suportam e suportarão nossos sacerdotes, os coloquem em uma mesma linha reta de conformidade e semelhança com Nosso Senhor.

Acusam nossos colegas de levantar a população contra seus líderes ou governantes. Nosso Senhor também foi acusado do mesmo: “Encontramos este homem pervertendo o nosso povo” (Lc 23, 2). Acusam nossos sacerdotes de serem agentes estrangeiros. Nosso Senhor também foi acusado de pertencer a outro reino e ao serviço de uma causa estrangeira: “Encontramos este homem … dizendo que é o Cristo, o rei.” “Não temos mais nenhum rei senão César” (Jo 19, 15). Assim acontece com todo cristão: seu batismo o faz cidadão do reino de Deus e da Igreja Romana, e por causa dessa adesão milhões de cristãos foram martirizados. Muitos teriam salvado a vida se tivessem renunciado tal filiação e pertença, mas a preferiram mais do que a pertença à cidade terrena, ainda que estivessem entre os melhores filhos da terra. Podemos duvidar do amor de Nosso Senhor por Sua pátria terrena, personificada na Jerusalém que tanto amou? E, no entanto, foi condenado como revolucionário e estrangeiro.

Seriam tolerados os católicos e missionários se aceitassem não pertencer a outro reino. Se os católicos formaram igrejas cismáticas (isto é, sujeitas apenas aos governos locais, que seriam toleradas e até mesmo subsidiadas), estariam ajudando os Estados em seus fins políticos.

Nossa condição de sacerdotes e cristãos católicos e romanos é tal que, em todos os países não-católicos e às vezes mesmo em países com a maioria deles, nos colorariam em uma situação de estrangeiros; se é verdade que queremos parecer como Nosso Senhor, nosso reino não deve ser deste mundo.

Mons. Marcel Lefebvre – Cartas Pastorais e Escritos

CONSERVAR NOSSA FÉ

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est 

Não é possível deixar de fazer uma escolha, mas esta escolha não é entre obediência e desobediência, mas o que nos propõe, o que expressamente nos convidam, porque nos perseguem, é uma obediência aparente.

Eu diria que temos de escolher entre uma aparente obediência – pois o Santo Padre não pode, de forma alguma, pedir-nos que abandonemos nossa fé, que é algo absolutamente impossível – e a conservação da nossa fé. Pois bem, nós escolhemos não abandonar a nossa fé, porque nela não podemos errar. A Igreja não pode estar errada no que tem ensinado durante dois mil anos, e por esse motivo nos apegamos a essa Tradição que  tem se manifestado de forma admirável e definitiva.

São Paulo dizia a Timóteo: “Ó Timóteo, guarda o depósito.” Ora, este depósito acabava de se formar há algumas poucas décadas. E acrescentava: “Permaneça no que aprendeste com sua avó Loide na sua infância”. A infância de Timóteo se remontava quase à morte de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, São Paulo lhe dizia: guarda o que aprendeste com sua avó: seu catecismo e tudo o que a Igreja lhe ensinou; respeite e mantenha o que aprendeste com sua avó. Continuar lendo

A MISSA DE LUTERO

Conferência de Dom Marcel Lefebvre.

Esta noite, falarei da Missa de Lutero e da Missa do novo rito. Por que essa comparação entre a Nova Missa e a Missa de Lutero? Porque a história o diz; a história objetiva não é criação minha. (Sua Excia. mostra então um livro sobre Lutero, publicado em 1911, “Do Luteranismo Ao Protestantismo” de Léon Cristiani). Ele fala sobre a reforma litúrgica de Lutero. Trata-se de um livro escrito em um tempo, em que o autor nem conhecia nossa crise, nem o novo rito; portanto não foi escrito com segundas intenções.

Síntese dos princípios fundamentais da Missa

Primeiramente desejo fazer uma síntese dos princípios fundamentais da Missa, para trazer à nossa memória a beleza, a profunda grandeza espiritual de nossa Missa, o lugar que nossa Missa ocupa na Santa Igreja. Que coisa mais bela Nosso Senhor legou à humanidade, que coisa mais preciosa, mais santa concedeu à Sua Santa Igreja, à Igreja sua Esposa, no Calvário, quando morria na Cruz? Foi o Sacrifício de si mesmo.

O Sacrifício de si mesmo. Sua própria Pessoa, que continua seu Sacrifício. Ele o deu à Igreja, quando morreu na Cruz. A partir desse momento, esse Sacrifício estava destinado a continuar, a perseverar através dos séculos, como Ele o havia instituído, juntamente com o Sacerdócio.

Quando na Santa Ceia, Jesus instituiu o Sacerdócio, Ele o instituiu para o Sacrifício, o Sacrifício da Cruz, porque esse Sacrifício é a fonte de todos os méritos, de todas as graças, de todos os Sacramentos; a fonte de toda a riqueza da Igreja. Isso devemos recordar, ter sempre presente essa realidade, divina realidade. Continuar lendo

A PRUDENCIA NO JULGAMENTO

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

A dureza é má conselheira. Sempre tira conclusões exageradas de qualquer coisa que se diz. Sempre interpreta as palavras dos outros em seu sentido mais duro. Por exemplo, há pessoas que dizem: “O Papa disse tal coisa, portanto é um herege, e, portanto, não é mais Papa ...” Esse é um raciocínio simplista; basta tirar uma frase de seu contexto para concluir: “É um herege“.

Para ser um herege deve ser persistente no erro e não basta ter proferido uma frase herética. Por exemplo, sobre o tema da Santíssima Trindade – tema que é muito difícil – todos nós podemos nos equivocar, expressando de forma incorreta e dizer algo que não seja muito ortodoxo. Se alguém nos assinala, o corrigimos. Mas quão terrível seria se alguém nos acusasse em seguida de heresia e excomunhão

Alguns não hesitam em tirar conclusões incríveis: “Esse disse tal frase, por isso é um liberal, com certeza é um maçom; portanto é excomungado … “Com tais argumentos todo mundo seria maçom! Continuar lendo

“DESTRUIR A MISSA”

Qual é a crise que estamos atravessando atualmente? Manifesta-se, no meu entender, sob quatro aspectos fundamentais para a Santa Igreja.

Manifesta-se, à primeira vista, acredito eu, e me parece que é um dos aspectos mais graves, porque, para mim, se se estuda a história da Igreja, dá-se conta de que a grande crise que atravessou o século XVI, crise espantosa, que arrebatou à Santa Igreja, milhões e milhões de almas, regiões inteiras, Estados na sua totalidade, esta crise foi, antes de tudo, uma crise do culto litúrgico; e que, se atualmente existem divisões entre aqueles que se dizem cristãos, há que se atribuir mais que a outras causas à forma de celebrar o culto litúrgico; e se os protestantes se separaram da Igreja, a causa principal é que os instigadores do protestantismo, como Lutero, disseram, desde o primeiro momento: “Se queremos destruir a Igreja temos que destruir a Santa Missa”. Esta foi a chave de Lutero.

Tinha-se dado conta de que, se chegasse a por as mãos na Santa Missa, se conseguisse reduzir o Sacrifício da Missa a uma pura refeição, a uma comemoração ou recordação, a uma significação da comunidade cristã, a uma rememoração ou memorial da Paixão de Nosso Senhor e, como consequência, que ficasse mais débil o mais sagrado que há na Igreja, o mais santo que nos legou Nosso Senhor, o mais sacrossanto, ele conseguiria destruir a Igreja. E certamente, conseguiu, por desgraça, arrebatar à Igreja nações inteiras, obrando dessa forma. Continuar lendo

PARA CONTINUAR SENDO CATÓLICO TERIA QUE SE TORNAR PROTESTANTE?

 “Vae mihi si non evangelizavero” – 1 Cor IX, 16

Sem referir-nos às via inesperadas nas quais se viram os Padres do Concílio ao se tratar de certos esquemas desenraizados do Magistério da Igreja pretendemos nas páginas que se seguem fazermos eco daquela palavra que os Padres do Concílio não poderiam se esquecer: Caveamus! (cuidemo-nos).

Cuidemo-nos de que nos influencie um espírito absolutamente inconciliável com o que os Pontífices romanos e os precedentes Concílios se esforçaram incansavelmente por difundir entre os cristãos. Não se trata de um espírito de progresso, senão de ruptura e de suicídio.

As declarações de alguns Padres a esse respeito são orientadoras: uns afirmam que entre as declarações passadas e a dos autores de determinados esquemas não existe contradição, porque as circunstâncias foram modificadas. Até que ponto o que o Magistério da Igreja afirmou há cem anos servia para aqueles tempos mas não para os nossos.

Há outros que se refugiam no mistério da Igreja.

Outros consideram que um Concílio tem por objeto modificar a doutrina dos Concílios anteriores.

Por fim, outros mantém que todo o Concílio está acima do magistério ordinário, pelo qual pode prescindir deste e bastar-se por si só.

Se ouve além disso a voz da imprensa liberal afirmando que por fim a Igreja admite a evolução do dogma. Continuar lendo

“ENQUANTO ELES DESTROEM, TEMOS A FELICIDADE DE CONSTRUIR”

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

“O próprio Deus, diz São Paulo, lhes enviará um poder que os enganará e os induzirá a acreditar no erro” (2 Tes 2, 10-11) Que castigo mais terrível pode haver que uma hierarquia desorientada? Isso é precisamente o que nossa Senhora anunciou na terceira parte do Segredo de Fátima: a Igreja e sua hierarquia sofrerão uma desorientação diabólica e corresponde ao que Apocalipse nos fala sobre o combate da mulher contra o dragão. Mas, a Santíssima Virgem nos assegura que no final desta luta seu Imaculado Coração triunfará.

 

Ela vencerá a grande apostasia, fruto do liberalismo. Uma razão para não ficarmos de braços cruzados! Devemos lutar mais do que nunca pelo Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nesse combate, não estamos sós, temos conosco todos os papas, até Pio XII inclusive. 

 

Todos eles lutaram contra o liberalismo para proteger a Igreja. Deus não permitiu que conseguissem, mas isso não é motivo para render as armas! É necessário resistir. É necessário construir enquanto outros destroem. É necessário reconstruir as cidadelas em ruínas, reconstruir os bastiões da fé. Primeiro, o Santo Sacrifício da Missa de sempre, formador de santos. Depois, nossas capelas, que são verdadeiramente nossas paróquias, os mosteiros, as famílias numerosas, as escolas católicas, as empresas fiéis à doutrina social da Igreja, os políticos determinados a fazer política por Jesus Cristo. Devemos restaurar um conjunto de costumes, a vida social e os reflexos cristãos, com a amplitude de vida que Deus disponha. A única coisa que sei, a fé nos ensina, é que o Nosso Senhor deve reinar neste mundo, agora, e não apenas ao fim dele, tal como querem os liberais!

 

Enquanto eles destroem, temos a felicidade de construir. “

 

+ Dom Marcel Lefebvre

O DEVER DA DESOBEDIÊNCIA

lefTendo o Reitor do Seminário de Ecône, Padre Lorans, pedido que eu colaborasse na redação deste número da “Lettre aux Anciens”, pareceu-me útil relembrar o que escrevi em 20 de janeiro de 1978 sobre algumas objeções que nos fizeram, relativas à nossa atitude face aos problemas que a atual situação da Igreja levanta.

Uma das perguntas era: Como o senhor concebe a obediência ao Papa? Eis a resposta dada há dez anos:

Os princípios que determinam a obediência são conhecidos e são tão conformes com a razão e com o senso comum, que podemos perguntar como é que pessoas inteligentes podem afirmar que “preferem enganar-se com o Papa do que estar na Verdade contra ele“.

Não é isso que nos ensinam a lei natural e o Magistério da Igreja.

A obediência supõe uma autoridade que dá uma ordem ou decreta uma lei. As autoridades humanas, mesmo sendo instituídas por Deus, apenas têm autoridade para atingir o fim determinado por Deus, e não para dele se desviarem. Quando uma autoridade usa o seu poder em oposição à lei pela qual esse poder lhe foi dado, não tem direito à obediência, e devemos desobedecer-lhe.

Essa necessidade de desobediência é aceita em relação ao pai de família que encoraja a filha a prostituir-se, ou em relação à autoridade civil que obriga os médicos a provocarem abortos e a matarem inocentes. Porém, a autoridade do Papa é aceita a qualquer preço, como se o Papa fosse infalível no seu governo e em todas as suas palavras. É desconhecer a história e ignorar o que é, na realidade, a infalibilidade.

Já São Paulo teve que dizer a São Pedro que ele “não andava direito segundo a verdade do Evangelho” (Gal. II,14). E o mesmo São Paulo encorajou os fiéis a não lhe obedecerem se lhe acontecesse pregar um Evangelho diferente daquele que lhes tinha ensinado anteriormente (Gal. I,8).

São Tomás, quando fala da correção fraterna, alude à resistência de São Paulo face a São Pedro, e comenta-a assim: “Resistir na cara e em público ultrapassa a medida da correção fraterna. São Paulo não o teria feito em relação a São Pedro se não fosse de algum modo o seu igual (…). No entanto, é preciso saber que, caso se tratasse de um perigo para a Fé, os superiores deveriam ser repreendidos pelos inferiores, mesmo publicamente. Isso ressalta da maneira e da razão de agir de São Paulo em relação a São Pedro, de quem era súdito, de tal forma, diz a glosa de Santo Agostinho, que ‘o próprio Chefe da Igreja mostrou aos superiores que, se por acaso lhes acontecesse abandonarem o reto caminho, aceitassem ser corrigidos pelos seus inferiores’” (S. Tomás., Sum. Theol. IIa-IIae, q. 33, art. 4, ad 2m). Continuar lendo

A EUCARISTIA DIMINUI A CONCUPISCÊNCIA

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

A Eucaristia tem por efeito conservarmos livres e puros de todo pecado. É um antídoto celeste que nos impede de sermos contaminados e corrompidos pelo veneno mortal de más paixões e, em particular, da concupiscência. É o pão dos virgens.

Por esta razão, há de recomendar muito a comunhão às pessoas de hoje, bem como aos esposos que tem dificuldades para permanecerem fiéis à lei de Deus no âmbito conjugal. (…)

A Eucaristia é o remédio. Em outros tempos, as pessoas comungavam muito. Os cristãos se alimentavam da Eucaristia, pois é um remédio específico para diminuir nossa concupiscência. Na Eucaristia recebemos em nós o autor de toda a graça, aquele que precisamente é  contrário ao pecado e à concupiscência: Nosso Senhor Jesus Cristo.

Na medida em que nos alimentamos de Nosso Senhor Jesus Cristo com as disposições necessárias, o fogo da concupiscência diminui, e as almas permanecem em paz e não se sentem atormentados sempre por estes problemas. A Eucaristia reprime as más inclinações da carne; porque, incendiando cada vez as mais almas no fogo da caridade, forçosamente tem que apagar os ardores da concupiscência.

+ Dom Marcel Lefebvre

A INFILTRAÇÃO DO MODERNISMO NA IGREJA – PARTE 5

5A influência dos comunistas em Roma

É preciso ler o livro Moscou e o Vaticano, do padre jesuíta Lepidi. É extraordinário. Ele mostra a influência que têm os comunistas em Roma e como eles chegam a fazer nomear bispos e até dois cardeais: o Cardeal Lekaï e o Cardeal Tomaseck. O primeiro, sucessor do Cardeal Mindszenty. O segundo, sucessor do Cardeal Beran, que foram heróis e mártires da Fé. Em seus lugares puseram os padres da Pax, ou seja, pessoas decididas, antes de mais nada, a se entenderem com os governos comunistas e que perseguem os padres tradicionais. Os padres que vão secretamente batizar alguém no interior ou fazer o catecismo escondido para continuar sua obra de pastores da Igreja Católica, são perseguidos por estes bispos que lhes diz: vocês não têm o direito de não respeitar as ordens dos governos comunistas. Vocês nos atrapalham agindo assim.

Esses padres estão prontos a dar suas vidas para preservar a fé de seus filhos, para preservar a fé das famílias, para dar os sacramentos aos que têm necessidade. É claro que nestes países é preciso sempre pedir autorizações, quando vão levar o Santíssimo Sacramento nos hospitais ou para qualquer outra coisa. Se eles saem de suas sacristias têm de perguntar ao P.C. se lhes autoriza. É impossível. As pessoas morrem sem sacramentos; as crianças não são mais educadas de modo cristão. Por isso eles fazem escondido. E quando eles são presos, são os próprios bispos que os perseguem. É assustador.

Não seriam o Cardeal Wyszynski, nem o Cardeal Slipyi, nem o Cardeal Mindszenty, nem o Cardeal Béran que fariam algo parecido. Eles, ao contrário, empurravam seus bons padres dizendo: vamos, partam. Se forem para a prisão terão feito seu dever de padre. Se for para serem mártires, sejam mártires.

Isso mostra a influência exercida sobre Roma e que temos dificuldade de imaginar. É difícil de acreditar. Continuar lendo

A INFILTRAÇÃO DO MODERNISMO NA IGREJA – PARTE 4

4Infiltrados na Igreja para destruí-la

Sim, eu sou um rebelde. Sim, eu sou um dissidente. Sim, eu sou um desobediente dessa gente, dos Bugnini. Porque são eles que se infiltraram na Igreja para destruí-la. Não é possível fazer de outro modo.

Então, vamos contribuir para a destruição da Igreja? Vamos dizer: sim, sim, amém, mesmo se é o inimigo que penetrou até junto do Santo Padre e que pode fazê-lo assinar o que ele quer? Sob quais pressões? Não sabemos. Existem coisas escondidas que nos escapam, evidentemente. Alguns dizem que é a maçonaria. É possível, eu não sei. Em todo caso, há um mistério. Como um padre que não é cardeal nem mesmo bispo, um padre ainda jovem naquela época, que subiu contra a vontade do Papa João XXIII, que o tinha expulsado da Universidade do Latrão, que subiu, subiu e que chegou ao topo que se ri do Cardeal Secretário de Estado, que se ri do Cardeal Prefeito da Congregação do Culto, que vai diretamente ao Santo Padre e lhe faz assinar o que ele quer. Nunca se viu nada de parecido na Santa Igreja. Tudo passa sempre pelas autoridades. Faz-se Comissões. Estuda-se os documentos. Mas esse rapaz era todo poderoso!

Foi ele que trouxe esses pastores protestantes para mudar nossa Missa. Não foi o Cardeal Guth. Não foi o Cardeal Secretário de Estado, talvez nem mesmo o Papa. Foi ele. Que tipo de homem era esse Bugnini?

Um dia o Abade de São Paulo fora dos Muros, beneditino que precedeu Bugnini na Comissão de Liturgia, me disse: «Monsenhor, não me fale do Pe. Bugnini; eu sei muito sobre ele. Não me pergunte quem ele é». Eu retomei: «Mas diga-me, porque é necessário que as pessoas saibam, é necessário que as coisas apareçam» «Eu não posso lhe falar do Pe. Bugnini». Logo, ele o conhecia bem. É provável que tenha sido ele que tenha pedido a João XXIII de sair da Universidade do Latrão.

Este conjunto de coisas nos mostra que o inimigo penetrou no interior da Igreja, como já dizia São Pio X; ele está no mais alto cume, como anunciou Nossa Senhora de La Salette, e como está, sem dúvida, no terceiro segredo de Fátima. Continuar lendo

A INFILTRAÇÃO DO MODERNISMO NA IGREJA – PARTE 3

3A Revolução na Igreja

Assim se passou o Concílio. É evidente que todos as teses, todos os textos do Concílio foram influenciados pelos cardeais liberais e as comissões liberais. Não devemos nos espantar que tenhamos tido textos ambíguos, favoráveis a mudanças, a uma verdadeira revolução na Igreja.

Será que nós poderíamos ter feito alguma coisa, nós que representávamos a facção tradicional dos bispos e cardeais? Pouca coisa, em definitivo. Éramos duzentos e cinqüenta favoráveis à permanência da Tradição e desfavoráveis a mudanças de vulto na Igreja: falsa renovação, falso ecumenismo, falsa colegialidade. Nós éramos opostos a essas coisas. Esses duzentos e cinqüenta bispos, evidentemente, tiveram algum peso e, em certas ocasiões, os textos foram modificados. O mal foi um pouco limitado. Mas nós não conseguimos impedir certas teses de passar, particularmente a da liberdade religiosa, cujo texto foi refeito cinco vezes. Cinco vezes a mesma tese voltava. Nós nos opusemos sempre. Havia sempre duzentos e cinqüenta vozes contra. Então o Papa Paulo VI fez adicionar duas pequenas frases no texto, dizendo: «não há nada nesse texto que seja contrário à doutrina tradicional da Igreja» e «a Igreja permanece sempre a verdadeira e única Igreja de Cristo».

Então, os bispos espanhóis, em particular, disseram: «bem, já que o Papa adicionou isso, agora não há mais problema, já que não há nada contra a tradição». Se as coisas são contraditórias, essa pequena frase contradiz tudo o que está no interior do texto. É um esquema contraditório. Não se pode aceitar isso. Então sobraram somente, se eu me lembro bem, setenta e quatro bispos que permaneceram contra. É o único esquema que encontrou uma tal oposição: 74 sobre 2.500, é pouca coisa !

Então terminou o Concílio, não podemos nos espantar com as reformas que foram feitas. Depois de toda a história do liberalismo, os liberais saindo vitoriosos no interior do Concílio, exigiram do Papa Paulo VI lugares nas Congregações romanas. E, de fato, os lugares importantes foram dados aos progressistas. Quando morria um Cardeal, ou numa ocasião qualquer que permitisse ao Papa Paulo VI afastar um cardeal tradicionalista, ele colocava imediatamente um cardeal liberal no seu lugar. Continuar lendo

FIDELIDADE À IGREJA

mons.-lefebvre-disant-la-messe_0Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

 

Se temos de sofrer, pois bem, soframos por nossa fé! Não somos os primeiros: quantos mártires antes de nós sofreram por guardar a fé! Se temos que sofrer o martírio moral que supõe ser, de certa forma, desprezados e repreendidos por aqueles que deveriam ser nossos pais na fé, bem, enfrentemos o sofrimento e acima de tudo guardemos a fé. Deus o quer e também a Santíssima Virgem, que é nossa mãe. Como somos da família da Virgem, queremos guardar a fé que Ela sempre professou. Existe no coração da Virgem algo que não seja o nome de nosso Senhor Jesus Cristo? Pois bem, nós também queremos ter em nossos corações um só nome, o nome de Jesus, assim como a Santíssima Virgem.

 

Estamos confiantes de que um dia a verdade voltará. Não pode ser de outro modo, porque Deus não abandona a sua Igreja.

 

Portanto, sem nenhuma rebelião, nem amargura ou ressentimento, prosseguimos nosso trabalho de formação sacerdotal à luz do Magistério de sempre, convencidos de que não podemos prestar serviço maior à Santa Igreja Católica, ao Sumo Pontífice e às gerações futuras.

 

Trabalhando assim, com a graça de Deus, o socorro da Virgem Maria, de São José e de São Pio X, estamos convencidos de que seguimos sendo fiéis à Igreja Católica e Romana e a todos os sucessores de Pedro, e que somos os fiéis dispensadores dos mistérios de Nosso Senhor Jesus Cristo pelo Espírito Santo “.

 

+ Dom Marcel Lefebvre

A INFILTRAÇÃO DO MODERNISMO NA IGREJA – PARTE 2

2À deriva com o Concílio

A mesma coisa para o Concílio. «Tenho a intenção de fazer um Concílio». Já o Papa Pio XII tinha sido solicitado por certos cardeais para reunir um Concílio. Mas ele recusou, estimando que isso seria impossível. Não se pode, dizia ele, na nossa época, fazer um Concílio com 2.500 bispos. As pressões que se pode sofrer do fato dos meios de comunicação social são muito perigosas para que se possa reunir um Concílio. Corre-se o risco de perder o controle. E ele não fez o Concílio.

Mas o Papa João XXIII disse: não se pode ser pessimista; é preciso ver as coisas com confiança. Vamos nos reunir durante três meses, com todos os bispos do mundo inteiro. Começamos em 13 de outubro e entre 8 de dezembro e 25 de janeiro, tudo terminado, todo mundo vai embora e volta para suas casas e acaba-se o Concílio.

E o papa lançou o Concílio! Era preciso prepará-lo. Não se faz um Concílio como um sínodo. Foi preciso prepará-lo dois anos antes. Fui nomeado pessoalmente membro da Comissão Central Preparatória, sendo arcebispo de Dakar e presidente da Conferência Episcopal do Oeste Africano. Eu vim, então, a Roma, durante dois anos, ao menos umas dez vezes, para participar das reuniões dessa Comissão Central Preparatória que era, de fato, muito importante porque para ela todos os documentos das comissões secundárias eram enviados, para serem estudados e submetidos ao Concílio. Havia nessa comissão setenta cardeais e uns vinte arcebispos e bispos, além dos peritos. Mas estes não eram membros da comissão. Estavam lá somente para serem eventualmente consultados pelos membros. Continuar lendo

A INFILTRAÇÃO DO MODERNISMO NA IGREJA – PARTE 1

1Breve História

Fico contente em constatar que no mundo inteiro, no mundo católico, em todo lugar, pessoas corajosas se reúnem em torno de padres fiéis à fé católica e à Igreja Católica, para manter a tradição que é a fortaleza de nossa fé.

Se existe um movimento tão geral é porque a situação da Igreja é verdadeiramente grave. Pois, para que padres, fiéis católicos, aceitem ser tratados de rebeldes, de dissidentes, de desobedientes, mesmo se tratando de bons padres, alguns dos quais já serviram em paróquias durante trinta anos com grande satisfação de seus paroquianos, é para manter a fé católica. Eles o fazem conscientemente no espírito dos mártires.

Ser perseguido por seus irmãos ou pelos inimigos da Igreja, qualquer que seja a mão que bata, por vista que seja contra a manutenção da fé, é sofrer um martírio. Esses padres, esses fiéis, são testemunhas da fé católica. Eles preferem ser considerados como rebeldes e dissidentes a perder a fé.

Nós assistimos, no mundo inteiro, a uma situação trágica, inacreditável, que parece não se ter jamais produzido na história da Igreja. É preciso então tentar explicar esse fenômeno extraordinário. Como podem bons fiéis, bons padres, se esforçarem por manter a fé católica num mundo católico que está em plena dissolução? Foi o Papa Paulo VI, ele mesmo, que falou de autodemolição da Igreja. O que significa esse termo de autodemolição senão que a Igreja se destrói, ela mesma, por ela mesma, por seus próprios membros? É isso o que já dizia o Papa São Pio X na sua primeira encíclica, quando escrevia: «Hoje, o inimigo da Igreja não está mais no exterior da Igreja, está no interior». E o Papa não hesitava em designar os lugares aonde ele se encontrava: «O inimigo se encontra nos seminários». Por conseqüência, já no início do século, o Santo Papa Pio X, na sua primeira encíclica, denunciava a presença de inimigos da Igreja nos seminários. Continuar lendo

O BOM PASTOR – PALAVRAS DE D. LEFEBVRE

mgr-lefebvre-5Fonte: FSSPX – Distrito do México – Tradução: Dominus Est

 

Eis algumas palavras de Mons. Marcel Lefebvre, fundador da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, sobre o evangelho de domingo – Jesus, o Bom Pastor.

 

Nosso Senhor disse no Evangelho do Bom Pastor: “Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco e é preciso que Eu as traga, e elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor “(Jo. 10, 16).

 

Esta exortação é completamente contrária ao ecumenismo moderno. Nosso Senhor pede que tragamos as ovelhas. Ele não diz que devemos deixa-las no rebanho onde estão, mas que as conduzamos a Ele. É o que faz o bom padre. Vai buscar as ovelhas perdidas e desviadas no erro, pelo pecado, neste mundo de pecado e sob a influência do demônio; vai busca-las corajosa e zelosamente, imitando desta maneira, o Bom Pastor.

 

Há de ter um coração de pastor, que vai buscar suas ovelhas uma a uma.

 

Abrace os interesses de nosso Senhor Jesus Cristo. Durante toda nossa vida não fareis nada senão multiplicar os membros do Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo, para que os que neste mundo fazem parte da Igreja militante, – possam um dia tomar parte da Igreja triunfante, porque, definitivamente, Deus não nos criou senão para nos salvarmos.

 

Devemos desejar que haja muitas famílias cristãs que favoreçam o desenvolvimento de boas e santas vocações.

 

O jovem não pode ouvir o chamado de Deus, senão mediante uma graça sobrenatural. Por isso que o mundo não pode compreendê-lo. Os jovens do mundo dizem: Eu não entendo o que passa em sua cabeça para vestir uma batina, fechar-se em um seminário; rejeitar os prazeres dos sentidos e da riqueza, querer viver na pobreza e viver unicamente para os outros e não para si mesmo, parece incrível, incrível! Ele perdeu a cabeça! As pessoas que têm o espírito do mundo não podem entender sua vocação; acham um grande mistério.

 

No entanto, com este exemplo, talvez poderemos abrir os olhos daqueles que vivem de forma egoísta e levá-los a perguntar: Se há jovens sérios a tal ponto que abandonam tudo para se entregar à Nosso Senhor, devemos crer que Ele sim existe! “

 

+ Dom Marcel Lefebvre

LANÇAMENTO DE UM NOVO SITE: MARCEL LEFEBVRE

Fonte: FSSPX USA – Tradução: Dominus Est

Temos orgulho de anunciar que no dia 29 de novembro, aniversário do Arcebispo Marcel Lefebvre, a Fraternidade São Pio X lançará um novo site: Marcel Lefebvre (www.marcellefebvre.info).

O site é fruto de vários anos de trabalho e é um recurso excepcional para aprender sobre o Arcebispo Marcel Lefebvre. O novo site é completo: possui textos biográficos inspiradores, citações edificantes de seus contemporâneos, imagens históricas fascinantes, vídeos curtos, bem como sugestão de livros e mídia. Especialmente desenhado para tablets, o site está disponível em quatro idiomas: Francês, Inglês, Alemão e Espanhol.

Conheça o Arcebispo Lefebvre: o homem, o sacerdote missionário, o professor de seminário, o bispo, o delegado apostólico, o “Bispo de Ferro”, o fundador, e mais importante: o modelo para os sacerdotes.

41 ANOS DA DECLARAÇÃO DE D. LEFEBVRE

archbishop_marcel_lefebvre_declaration“Nós aderimos de todo o coração e com toda a nossa alma à Roma católica, guardiã da fé católica e das tradições necessárias para a manutenção dessa fé, à Roma eterna, mestra de sabedoria e de verdade.

Pelo contrário, negamo-nos e sempre nos temos negado a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II, e depois do Concílio em todas as reformas que dele surgiram.

Todas estas reformas, com efeito, contribuíram, e continuam contribuindo, para a demolição da Igreja, a ruína do sacerdócio, a destruição do Sacrifício e dos Sacramentos, a desaparição da vida religiosa, e a implantação de um ensino naturalista e teilhardiano nas universidades, nos seminários e na catequese, um ensino surgido do liberalismo e do protestantismo, condenados múltiplas vezes pelo magistério solene da Igreja.

Nenhuma autoridade, nem sequer a mais alta na hierarquia, pode obrigar-nos a abandonar ou a diminuir a nossa fé católica, claramente expressa e professada pelo magistério da Igreja há dezenove séculos. Continuar lendo

CONSTRUIR, NÃO DESTRUIR

lef3Vinte anos se passaram, podia-se crer que as reações suscitadas pelas reformas conciliares se apaziguariam, que os católicos perderiam a esperança na religião na qual haviam sido criados, que os mais jovens, não a tendo conhecido, entrariam nas fileiras da nova. Tal era ao menos a aposta feita pelos modernistas. Eles não se admiravam demasiadamente das contracorrentes, seguros de si mesmos nos primeiros tempos. Eles o ficaram menos em seguida: as múltiplas e essenciais concessões feitas ao espírito do mundo não davam os resultados antecipadamente gozados, ninguém queria mais ser sacerdote do novo culto, os fiéis se afastavam da prática religiosa, a Igreja que se queria a Igreja dos pobres tornava-se uma Igreja pobre, obrigada a recorrer à publicidade para fazer recolher o dinheiro do culto, e a vender seus imóveis.

Durante este tempo, a fidelidade à tradição se fortificava em todos os países cristãos e particularmente na França, na Suíça, nos Estados Unidos, na América Latina. O artífice da nova missa, Mons. Aníbal Bugnini, foi ele mesmo obrigado a verificar esta resistência mundial no seu livro póstumo1. Resistência que não cessa de se desenvolver, de se organizar, de atrair o mundo. Não, o movimento “tradicionalista” não está “em perda de velocidade”, como escrevem de tempos em tempos os jornalistas progressistas para se tranqüilizarem. Onde há tanta gente na missa como em São Nicolau de Chardonnet, e também tantas missas, tantas visitas ao Santíssimo Sacramento, tantos belos ofícios? A Fraternidade de São Pio X conta no mundo setenta casas com ao menos um sacerdote, igrejas como a de Bruxelas, a que compramos ultimamente em Londres, a que foi colocada à nossa disposição em Marselha, escolas, quatro seminários.   Continuar lendo

AS FAMÍLIAS DEVEM REAGIR

lef2É o tempo apropriado de reagir. Quando Gaudium et Spes fala do movimento da história que “se torna tão rápido que cada um tem dificuldade de o seguir”, pode-se entender este movimento como uma precipitação das sociedades liberais na desagregação e no caos. Acautelemo-nos de o seguir!

Como compreender que dirigentes apelem para a religião cristã ao passo que destroem toda a autoridade no Estado? Importa ao contrário restabelecê-la, que foi querida pela Providência nas sociedades naturais de direito divino cuja influência neste mundo é primordial: a família e a sociedade civil. É a família que recebeu nestes últimos tempos os mais rudes golpes; a passagem para o socialismo em países como a França e a Espanha não fez senão acelerar o processo. 

As leis e medidas que se sucederam mostram uma grande coesão na vontade de arruinar a instituição familiar: diminuição da autoridade paterna, divórcio facilitado, desaparecimento da responsabilidade no ato da procriação, reconhecimento administrativo dos casais irregulares e mesmo de duplas homossexuais, coabitação juvenil, casamento de experiência, diminuição das ajudas sociais e fiscais às famílias numerosas… O mesmo Estado, em seus interesses próprios, começa a perceber as conseqüências disto no que toca à diminuição da natalidade, ele se pergunta como, num tempo próximo, as jovens gerações poderão assegurar os regimes de retração daquelas que deixaram de ser economicamente ativas. Mas os efeitos são consideravelmente mais graves no domínio espiritual. 

Os católicos não devem seguir mas ponderar com todo o seu peso, uma vez que são também cidadãos, para endireitar tudo o que for preciso. É por isso que eles não poderiam ficar à margem da política. Portanto seu esforço será sobretudo sensível na educação que proporcionam a seus filhos.  Continuar lendo

NEM HEREGE NEM CISMÁTICO

lef1A declaração de 21 de novembro de 1974 que desencadeou o processo do qual eu acabo de falar, terminava por estas palavras: ”Agindo assim… nós estamos convencidos de permanecer fiéis à Igreja Católica e romana, a todos os sucessores de Pedro, e de ser os fiéis dispensadores dos mistérios de Nosso Senhor Jesus Cristo.” O “Osservatore Romano”, publicando o texto, omitiu este parágrafo. Há dez anos e mais, nossos adversários estão interessados em rejeitar-nos da comunhão da Igreja deixando entender que não aceitamos a autoridade do papa. Seria bem cômodo fazer de nós uma seita e declarar-nos cismáticos. Quantas vezes a palavra cisma foi pronunciada a nosso respeito!

Não cessei de repetir: se alguém se separa do papa, este alguém não serei eu. A questão se resume nisto: o poder do papa na Igreja é um poder supremo, mas não absoluto e ilimitado, pois está submetido ao poder divino, que se exprime na tradição, na Sagrada Escritura e nas definições já promulgadas pelo magistério eclesiástico. De fato este poder encontra seus limites no fim para o qual ele foi dado sobre a terra ao Vigário de Cristo, fim que Pio IX definiu claramente na Constituição Pastor aeternus do concílio Vaticano I. Não exprimo, pois, uma teoria pessoal ao dizê-lo.

A obediência cega não é católica; ninguém esta isento da responsabilidade por ter obedecido aos homens mais que a Deus, aceitando ordens duma autoridade superior, seja ela do papa, se se revelam contrárias à vontade de Deus tal como a tradição no-la faz conhecer com certeza. Não se poderia considerar uma tal eventualidade, certamente, quando o papa compromete sua infalibilidade, mas ele não o faz senão num número reduzido de casos. É um erro pensar que toda a palavra saída da boca do papa é infalível.
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