O MODERNISMO DO PAPA JOÃO PAULO II – PARTE 1/3 – A IMANÊNCIA VITAL EM JOÃO PAULO II

Papa João Paulo II – Wikipédia, a enciclopédia livre

Conferência dada pelo Pe. Patrick de la Rocque, FSSPX, em novembro de 2007, na ocasião de um simpósio sobre a encíclica Pascendi Dominici Gregis.

Pe. de La Rocque, FSSPX (Atualmente Prior de Nice,  participou de discussões teológicas com Roma entre 2009 e 2011).

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Dizer que o modernismo denunciado pela Encíclica Pascendi Dominici Gregis jamais esteve tão presente quanto esteve no Papa João Paulo II pode parecer severo. Essa afirmação, todavia, não passa de um eufemismo para qualquer pessoa familiarizada com o pensamento e os ensinamentos do falecido papa. Com efeito, se aceitarmos aquela definição fundamental do modernismo dada pelo Papa São Pio X, ou seja, da imanência vital que o caracteriza, devemos reconhecer em João Paulo II um papa profundamente modernista. Imanência vital: nenhum outro papa a ensinou mais do que ele. Parece-me possível até afirmar – sem a pretensão de demonstrar pormenorizadamente aqui – que essa imanência vital foi a fonte da qual se alimentou todo o pontificado de João Paulo II. Seja como for, sob a luz de tal critério os vinte e sete anos de seu soberano pontificado adquirem uma coerência notável.

Por enquanto, esta apresentação cuidará de discutir somente três pontos. Eu gostaria primeiramente de mostrar que João Paulo II se fez pregador explícito da imanência vital: alguns exemplos bastarão. Em seguida, decifraremos a leitura que ele fez, à luz da imanência vital, do dogma da Encarnação e depois por fim da Redenção. A conclusão então será imposta por si mesma: ao passar pelo humilhante itinerário da imanência, os dogmas católicos perdem sua própria substância. Nesse sentido, a evolução da teologia católica sob o pontificado de João Paulo II foi uma triste ilustração da constatação de São Pio X: o modernismo é o esgoto coletor de todas as heresias.

1) A imanência vital em João Paulo II

Deus misteriosamente presente no coração de cada ser humano

Que João Paulo II tenha ensinado o princípio de imanência vital é evidente. Tomemos por exemplo o discurso que proferiu junto aos cardeais da Cúria no dia seguinte a Assis, a fim de justificar seu gesto: “Toda oração autêntica é suscitada pelo Espírito Santo que está misteriosamente presente no coração de cada homem”[1]. Ele não diz mais que o Espírito Santo age pontualmente sobre o coração de cada homem por meio das graças atuais – o que a Igreja ensina –, mas sim que está misteriosamente presente no coração de todos os homens: isso é a afirmação do princípio de imanência vital. Continuar lendo

JOÃO PAULO II, O PAPA DO HOMEM

O Papa João Paulo II promoveu ações heréticas?

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

*Texto escrito antes de sua beatificação

Algumas pessoas, certamente, conservaram a extraordinária personalidade de João Paulo II como: o “desportista de Deus” que percorria o mundo para levar a sua mensagem, o idoso que, uma vez doente, soube permanecer íntegro e fiel à sua missão. Outras foram marcadas por seus apóstrofos apelando às grandes aspirações: “Duc in altum! “, “Não tenha medo!”, “França, o que fizeste do seu batismo? “. As últimas destacam os gestos espetaculares deste Papa, ainda que desde então tenham adquirido uma certa banalidade:

  • Vésperas na Catedral Anglicana em Canterbury em 1982,
  • a Sinagoga ou Assis em 1986,
  • o beijo do Alcorão em 1999,
  • ou ainda a movimentada festa do Jubileu do ano 2000: abertura da Porta Santa com líderes de comunidades não católicas,
  • o martirológio ecumênico ou a oração no Muro das Lamentações.

Gestos considerados proféticos, gestos que fizeram muitos sonharem com um mundo melhor sendo esse mais unido…

Quem é, então, João Paulo II? Podemos nos ater a esses acontecimentos factuais, seja para clamar com a multidão “santo súbito” ou para denunciar uma atitude considerada, no mínimo, desconcertante? Quem é, então, João Paulo II? Uma vez que a sua beatificação está na agenda, é importante desvendar a estrutura do seu pontificado, decifrar a sua mensagem fundamental.

Os discursos fundadores de um pontificado

Sem dúvida, João Paulo II foi, antes de tudo, o papa do homem. Se é necessário convencer-nos disso, basta voltarmos aos discursos fundadores do seu pontificado, como aquela primeira mensagem de Natal que, como jovem Papa, intitulou “Natal, a festa do homem” (mensagem de 25 / 12/78): Continuar lendo

CONFERÊNCIA: A MISSA NOVA E A TRÍPLICE RUPTURA: LITÚRGICA, TEOLÓGICA E MAGISTERIAL

Conferência proferida pelo Revmo. Pe. Ezequiel Rubio, FSSPXexplanando a oposição de ambos os ritos, de ambas as doutrinas e ensinamentos dos concílios, além de compreender a Estrutura do rito tradicional: sacrificial.

1- oblação da vítima (ofertório)

2- imolação da vítima (dupla consagração)

3- consumação (comunhão)

Isso contrasta com o que acontece no rito Novus Orde Missae: comida ritual judaica.

1- bênção dos alimentos (apresentação dos dons)

2- ação de graças comemorativa (oração eucarística)

3- Fração do pão (comunhão).

 

FINALIZANDO O MÊS, UMA SELETA DE NOSSOS POSTS DE AGOSTO/22

OMS ANUNCIA PLANO PARA PROMOVER IDEOLOGIA DE GÊNERO

A AJUDA DA FAMÍLIA NO DESPERTAR DAS VOCAÇÕES

ATENÇÃO – MAIS CURSOS DA FSSPX A DISPOSIÇÃO: OS SANTOS PADRES E J. R. R. TOLKIEN

O QUARTO

QUE VIDA CRISTÃ?

13 DE AGOSTO EM FÁTIMA: A APARIÇÃO QUE A MAÇONARIA QUERIA EVITAR

SERMÃO DE D. LEFEBVRE POR OCASIÃO DA FESTA DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

15 DE AGOSTO: RECORDAÇÃO DO MILAGRE DO PAPA PIO VII

TOMADA DE BATINA NO SEMINÁRIO NOSSA SENHORA CORREDENTORA – 2022

ARGENTINA: CATOLICISMO EM DECLÍNIO ACENTUADO

O RITUAL MAÇÔNICO INICIA-SE PELO ORGULHO

O RITO NÁUTICO

SANTO AGOSTINHO: OS GOVERNANTES DEVEM SERVIR A DEUS, DEFENDER A VERDADEIRA RELIGIÃO E PUNIR OS HEREGES

CONTINUÍSMO VS CONTINUÍSMO: A FALHA DA UTILIZAÇÃO DOS “JUSTOS LIMITES” DE DIGNITATIS HUMANAE COMO FORMA DE CONCILIAR A LIBERDADE RELIGIOSA COM A DOUTRINA TRADICIONAL DA IGREJA

EXCERTO DO ARTIGO DO DR THOMAS PINK “Dignitatis Humanae: continuity after Leo XIII”

Tradução: Witor B. L

CLIQUE AQUI PARA LER O TEXTO COMPLETO

Nota explicativa prévia do tradutor:

Neste pequeno excerto retirado do artigo do autor Dr. Thomas Pink vemos o autor criticar a tentativa de hermenêutica da continuidade de importantes autores como Pe Brian Harrison, Pe Basile Valuet OSB, Dr John R.T Lamont e Thomas Storck que apelam aos critérios da “justa ordem pública” de Dignitatis Humanae para tentar conciliar a doutrina da liberdade religiosa com o magistério tradicional. O autor procura mostrar como essa abordagem fracassa totalmente em seu propósito e carece de respaldo tanto da Tradição da Igreja quanto das próprias relatios oficiais propostas para que fossem votadas pelos padres conciliares, as quais se encontram nas atas do próprio concílio. Diga-se de passagem, para que se evite qualquer tipo de confusão, que o professor Thomas Pink não é um autor propriamente “tradicionalista” ligado a FSSPX- ainda que tenha certas posições idênticas as do movimento em certos pontos- e que possui uma hermenêutica continuísta supostamente “Suarezista” da liberdade religiosa do CVII. Sua visão integral a respeito do assunto pode ser encontrada em sua homepage na academia.edu em múltiplos artigos redigidos por ele, dos quais o artigo de onde retiramos este excerto é apenas um deles. Quanto a sua própria visão de Dignitatis Humanae, tal coisa será abordada de maneira crítica em outro documento.

Última observação: colocamos a nota de rodapé número 15 no corpo do texto, pois consideramos que, para este pequeno excerto, o conteúdo torna-se ainda mais didático. No entanto, mantivemos a nota número 15 também em seu local de rodapé.

O RITO NÁUTICO

Era um domingo muito quente de julho na Calábria, ao sul da Itália. Por isso, D. Mattia Bernasconi decidiu celebrar uma “Missa” dentro d’água, de frente para a praia. Ele disse sem rodeios: “Eram 10:30h e o sol estava escaldante, então decidimos ir para o único lugar confortável: a água.”

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

A Igreja admite que o Santo Sacrifício da Missa possa ser celebrado fora de um local de culto consagrado, por circunstâncias excepcionais, para o bem das almas. Pensa-se então naqueles heróicos capelães militares rezando a Missa sobre a base de um canhão para os Poilus que, logo após, entrariam em batalha, com o sacrifício de suas vidas.

Aqui, é por motivos de “conforto” que este padre de 36 anos decidiu celebrar a “missa” de sunga em um colchão inflável, um altar-boia. Essa evidente perda do sentido do sagrado manifesta, de forma resplandecente, o espírito de uma reforma litúrgica que, normalmente, é mais discreta, menos chocante.

No entanto, esta liturgia reformada é levada por si mesma a sacrificar o sentido do sagrado: em nome do conforto, ela se adapta ao clima meteorológico e ideológico. O altar-boia flutua, como doutrina e a moral, sobre as ondas que se sucedem, sem uma âncora firme na Tradição. E a nova liturgia é regulada pela temperatura ambiente. Continuar lendo

D. TISSIER DE MALLERAIS: CONTRA A HERMENÊUTICA DA CONTINUIDADE NA DIGNITATIS HUMANAE

Mons. Tissier de Mallerais | DOMINUS EST | Página 2

Título original: “Liberdade religiosa, direito natural à liberdade civil, limitado pelas exigências do bem comum em matéria religiosa . Estudo crítico desta tese por Vossa Excelência Reverendíssima, o Bispo Dom Bernard Tissier de Mallerais, FSSPX”. Publicado em: LE SEL DE LA TERRE Nº 84, PRINTEMPS 2013.

Clique aqui ou na imagem acima para acessar o texto

O PROBLEMA DAS DEFINIÇÕES DO VATICANO II – PALAVRAS DE D. LEFEBVRE

Eis algumas palavras de D. Marcel Lefebvre, fundador da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, sobre o fato de que o Concílio nunca quis dar definições exatas dos temas que foram discutidos, o que fez com que ao invés de defini-los, se limitasse unicamente a descrevê-los ou mesmo falsificar a definição tradicional.

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

Creio ser indispensável estudar bem os esquemas do Concílio, lê-los bem, a fim de revelar as portas que se abriram ao Modernismo, (…) e insistirei no fato de que o Concílio nunca quis dar definições exatas sobre os temas que se discutiam, e essa recusa das definições, essa negativa em examinar filosófica e teologicamente os temas que se tratavam, significou que não podíamos definir os temas, mas apenas descrevê-los. E não apenas não o definiam, mas frequentemente, nas discussões desses temas, a definição tradicional foi falsificada. É por isso que penso que hoje estamos diante de um sistema que não compreendemos completamente, algo difícil de contrapor, porque já não se aceitam as definições tradicionais, que são as verdadeiras definições.

Tomemos como exemplo o tema do matrimônio. A definição tradicional do matrimônio sempre se baseou em seu fim primário, que era a procriação, e no fim secundário, que era o amor conjugal. E bem: no Concílio eles queriam transformar essa definição e dizer que não há mais um fim primário, mas que os dois fins, da procriação e do amor conjugal, eram equivalentes. Foi o Cardeal Suenens quem liderou esse ataque a própria finalidade do matrimônio. Ainda me lembro que o Cardeal Browne, Mestre Geral dos Dominicanos, levantou-se para dizer: “Cuidado! Cuidado!” E declarou com veemência: “Se aceitarmos essa definição, estamos indo contra toda a tradição da Igreja e pervertemos o sentido do matrimônio. Não temos o direito de ir contra as ‘definições tradicionais da Igreja’”, e citou muitos textos. Tal foi a emoção produzida na assembléia que alguém pediu ao Cardeal Suenens – acho que foi o Santo Padre – para moderar um pouco os termos que ele havia usado, e até mesmo mudá-los. Continuar lendo

PELA HONRA DA IGREJA

Palestra pronunciada em Viena, 29 de Setembro de 1975. Apesar da data, traz muitas luzes sobre nossa atitude, hoje, diante da crise da Igreja e sobre suas causas que procedem do espírito liberal, condenado pela Igreja.

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É a primeira vez que estou na Áustria diante de um número tão grande de católicos. Estive antes em vosso país, mas só com poucas pessoas e com pequenos grupos. Desta vez encontro-me diante de uma assembléia numerosa e sinto-me muito feliz porque entendo, todos entendemos, que aqui viemos com o desejo de compreender melhor a crise da Igreja, de melhor avaliá-la, a fim de buscar-lhe os remédios e trabalharmos todos juntos para o bem da Igreja. 

A Crise da Igreja

Creio que não é por outro motivo que estais aqui, mas para medir de maneira mais exata a amplidão da crise que nos causa tanta dor e nos perturba interiormente. Desejaríamos muito que a Igreja estivesse florescente, que não houvesse divisões em seu seio e sim uma unidade perfeita como antes. Como seríamos felizes não tendo problemas e vendo a Igreja crescer cada vez mais. Pessoalmente, pude assistir ao crescimento da Igreja de uma maneira absolutamente admirável na África. Com efeito, quando fui Delegado Apostólico, entre 1948 e 1959, tive ocasião de visitar todos os países africanos. Durante esses onze anos, atravessei toda a África, visitando as dioceses em nome do Santo Padre a quem ia logo dar conta de minhas visitas. Era para mim maravilhoso ver o crescimento da Igreja. O que se terá passado em nossa Igreja para que, imediatamente depois de ter estado em plenas ascensão, em pleno crescimento, se encontre agora diante de uma tal crise? Atualmente, tenho tido ocasião de visitar todos os países da Europa e América do Sul, bem como os Estados Unidos e a Austrália. De todos os lados, em todos os contatos que tive, os ecos são os mesmos: a Igreja está dividida, os católicos estão inquietos, os sacerdotes já não sabem o que pensar da situação. Os próprios bispos comprovam essas dificuldades em suas dioceses: paróquias divididas, dioceses divididas, faltas de vocações, seminários vazios, congregações religiosas que não atraem mais os jovens. Tudo isso traz à Igreja uma angústia verdadeiramente profunda em todo o mundo, e até em Roma sentimos os mesmos ecos. Quando se tem ocasião de encontrar cardeais, personalidades, há sempre a mesma inquietação, cada um se pergunta quando, por fim, terminará essa crise e o que se pode fazer para dar-lhe fim. Há, pois, um problema que se apresenta — digamos francamente — depois do Concílio.

Sem dúvida, já havia antecedentes dessa crise desde muito tempo antes do Concílio. Antes de tudo, o pecado original seguido de todas as suas conseqüências. Mas, de qualquer maneira, ocorreu nesse momento um acontecimento que provocou na Igreja um impacto — uma crise verdadeiramente dolorosa. Continuar lendo

A CONDENAÇÃO DO MODERNISMO POR SÃO PIO X

Fonte: Permanencia

Apesar dos inevitáveis males que acompanham toda crise, o modernismo foi benéfico ao mostrar-nos um santo e um Papa em ação como nunca se tinha visto na história já maravilhosa da Igreja. São Pio X não só era um santo, mas um Papa santo, algo que o mundo não via há quatro séculos. Embora não ostentasse os títulos nobiliárquicos ou a consumada diplomacia de Leão XIII, São Pio X nada tinha de pequeno cura de aldeia obscurantista, como seus detratores tanto apreciavam descrevê-lo. Em um pontificado de pouco mais de dez anos, em meio às mais perigosas crises que a Igreja atravessava, esse veneziano conduzirá a barca de Pedro com mão de mestre. Será qualificado de retrógrado por ter feito ouvidos moucos às sereias modernistas que preconizavam o «Evangelho puro» e profetizavam que a Igreja deveria mudar ou morrer. E, não obstante, poucos pontífices terão merecido como ele o título de reformador, pelos enormes progressos que fez em campos tão diversos como os estudos eclesiásticos, o direito canônico, a Sagrada Bíblia e a liturgia. 

Não obstante, antes de ser um reformador sem par, foi, primeiramente, um conservador. Sua mais bela insígnia é a de ter prontamente obedecido às exortações imperativas do Apóstolo dos Gentios de guardar fielmente o depósito da Fé contra todas as dificuldades, contra os governos iníquos e contra os modernistas infiltrados dentro da Igreja. A clarividência do supremo médico das almas rivalizou com a segurança e firmeza de sua mão para aplicar o heróico tratamento que produziu a cura. O cardeal Mercier diz elogiosamente de seu Papa: 

«Se, no surgimento de Lutero e Calvino, a Igreja contasse com pontífices da têmpera de Pio X, a Reforma teria conseguido afastar de Roma um terço da Europa Cristã? Pio X salvou a Cristandade do perigo imenso do modernismo, ou seja, não de uma heresia, mas de todas as heresias ao mesmo tempo» 1. 

Essa têmpera, São Pio X a devia à sua fé, tão iluminada quanto a dos melhores teólogos, tão firme quanto a de uma camponesa bretã. Esse santo Papa acreditava que a razão humana é capaz de conhecer a verdade. Cria na historicidade dos Evangelhos. Cria em Jesus Cristo, único Salvador e verdadeiro Deus. Por isso não podia deixar que a lama modernista fizesse tábula rasa da razão e da religião em proveito de uma vaga teoria sem verdade, sem Deus e sem Cristo. 

Loisy é o mestre dessas teorias. Vimos como as autoridades locais, e depois as de Roma, haviam reagido desde os princípios de 1903. Entretanto, os espíritos estavam longe de se acalmar. Não é de estranhar que as autoridades supremas se vissem obrigadas a desferir um grande golpe e travar um duelo mortal contra a apostasia generalizada. Para vermos em profundidade a oposição romana ao movimento, primeiro devemos tentar medir a amplitude e extensão da crise, para depois estudar, com maior riqueza de detalhes, os três documentos pontifícios que se referem à crise, e ressaltar, por fim, a experiência que a Igreja tirou dela.  Continuar lendo

AS SAGRAÇÕES EPISCOPAIS DE 1988: O DILEMA ECCLESIA DEI

As sagrações de D. Lefebvre contra a vontade do Papa constituíram um ato cismático? Foram elas apenas uma desobediência a um preceito legítimo? Por falta das distinções necessárias, a argumentação Ecclesia Dei para afastar os fiéis da Fraternidade São Pio X conduz apenas a um dilema insustentável.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Essa é a continuação de duas partes anteriores:

PARTE 1: AS SAGRAÇÕES EPISCOPAIS DE 1988 PREJUDICARAM UM ELEMENTO ESSENCIAL DA FÉ CATÓLICA: A UNIDADE DA IGREJA?

PARTE 2: AS SAGRAÇÕES REALIZADAS POR D. LEFEBVRE EM 1988 REPRESENTAM UM ATO DE NATUREZA CISMÁTICA?

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1. Na segunda entrevista, na seção “teologia”, publicada na página de 27 de abril de 2022, do site “Claves.org”, o Pe. de Blignières menciona o estudo apresentado em 1983 a D. Lefebvre pelo Pe. Josef Bisig e retomado após as sagrações de 30 de junho de 1988, sob a forma de um folheto intitulado:  Da sagração episcopal contra a vontade do papa, Ensaio teológico coletivo dos membros da Fraternidade São Pedro(FSSP, Distrito da França, 5, Rue McDonald, 18000 Bourges). Este estudo tinha por finalidade, evidentemente, justificar a posição dos sacerdotes e dos fiéis que se recusaram a seguir D. Lefebvre em sua decisão de prosseguir com as sagrações episcopais contra a vontade do Papa.

2. O principal argumento apresentado por este estudo, e que aparece no parágrafo IV da primeira parte, é que as sagrações episcopais realizadas – não apenas sem a vontade do Papa, mas também e sobretudo contra a sua vontade expressa – são, em si mesmas ou intrinsecamente, um ato mau: “O problema das sagrações de 30 de junho é que elas são contra a vontade explícita daquele por quem toda a jurisdição é dada (principaliter) como a Cabeça visível da Igreja”(1). E este ato é mau, acrescenta o Pe. de Blignières, retomando a substância do estudo do Pe. Bisig, porque prejudica um elemento da fé católica, que é a necessária comunhão hierárquica com os outros bispos católicos, uma comunhão cujo garante é o Bispo de Roma. Mas esse atenta contra essa comunhão por si mesmo ou em seu efeito? É aqui que as inferências dos padres fundadores do movimento Ecclesia Dei podem parecer um pouco precipitadas. Continuar lendo

AS SAGRAÇÕES EPISCOPAIS DE 1988 PREJUDICARAM UM ELEMENTO ESSENCIAL DA FÉ CATÓLICA: A UNIDADE DA IGREJA?

Mgr Lefebvre lors du sermon des sacres du 30 juin 1988

Essa é a continuação da Parte 1: As sagrações realizadas por D. Lefebvre em 1988 representam um ato de natureza cismática?

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

1. Na segunda entrevista, da seção “teologia”, publicada na página de 27 de abril de 2022, do site “Claves.org”, o Pe. de Blignières indica qual é, segundo ele, “o critério para avaliar as sagrações de 1988”. Os sacerdotes e os fiéis que não quiseram seguir a D. Lefebvre não teriam agido em virtude de uma concepção errônea de obediência, tampouco de forma puramente tática ou com vistas a obter qualquer vantagem. O que teria acontecido e estaria em questão “é um juízo fundamental sobre a comunhão hierárquica como elemento essencial da fé e da estrutura da Igreja Católica”. Com efeito, a sagração episcopal realizada contra a vontade do Papa seria “um ato intrinsecamente mau porque atenta contra um elemento da fé católica”. Esse elemento é que, para ser não apenas válido, mas legitimamente sagrado, um Bispo deve receber a sagração episcopal “no seio da comunhão hierárquica entre todos os Bispos católicos”, cujo garante é o Bispo de Roma, sucessor de Pedro. Deste modo, a sagração episcopal, recebida sem a instituição pontifícia, constitui “um gravíssimo ataque à própria unidade da Igreja”.

2. O Pe. de Blignières refere-se aqui à Encíclica Ad apostolorum Principis de Pio XII, bem como ao número 4 do Motu proprio Ecclesia Dei adflicta. No entanto, nenhum desses dois textos citados são pertinentes para avaliar as sagrações de 30 de junho de 1988. Continuar lendo

DEVEMOS FAZER PROSELITISMO?

Entretien avec le directeur du Séminaire - Séminaire St-Pie X - CH

Pe. Bernard de Lacoste, FSSPX

O Papa Francisco frequentemente e com muita energia condena o proselitismo dos católicos. Esse tema volta e meia reaparece nos seus comunicados orais e escritos. Por que uma tal insistência? Qual é a doutrina católica nessa matéria?

  1. O sentido da palavra proselitismo

O termo deriva de “prosélito”, que etimologicamente significa “recém vindo a um país estrangeiro”. Essa palavra é usada na Bíblia para designar os gentios ou não-judeus que viviam de modo estável com o povo de Israel, e tinham o propósito de entrar na Aliança e observar a lei de Moisés. Daí, passou para a linguagem cristã. O proselitismo é a atitude daqueles que buscam converter os demais para a sua fé. Nos nossos dias, o termo adquiriu uma conotação negativa e designa um comportamento frequentemente agressivo, desprovido de respeito pelos outros. É assimilado a uma propaganda intempestiva e mesmo a uma certa violência destinada a fazer novos adeptos. O uso corrente da palavra nos leva a fazer as distinções seguintes:

Quanto ao modo, é preciso distinguir um bom proselitismo, que usa da mansidão e busca convencer respeitando a liberdade do interlocutor; e o mau proselitismo, agressivo, violento e ameaçador.

Quanto ao fim procurado, deve-se distinguir entre o proselitismo louvável, que visa o bem da pessoa; e o condenável, que procura explorar o próximo em proveito de uma seita.

É evidente que os dois significados negativos do termo (quanto ao modo e quanto ao fim) não correspondem ao espírito católico. Todo católico deve rejeitar esses proselitismos. O espírito missionário se inspira na caridade teologal e rejeita a agressividade sectária. Continuar lendo

AS SAGRAÇÕES REALIZADAS POR D. LEFEBVRE EM 1988 REPRESENTAM UM ATO DE NATUREZA CISMÁTICA?

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

1. O site “claves.org” é o órgão oficial da Fraternidade São Pedro, equivalente ao que é o “La Porte Latine” para o Distrito da Fraternidade São Pio X na França. Na seção “Teologia”, o Pe. Louis-Marie de Blignières, da Fraternidade São Vicente Ferrer, publicou recentemente uma série de “Debates abertos sobre o verão de 1988”. A terceira entrevista, publicada na página em 28 de abril de 2022, intitula-se “Por que não seguimos as sagrações”.

2. Toda a explicação do Padre dominicano baseia-se em um único pressuposto: seguir as sagrações, ou seja, aprovar o ato realizado por D. Lefebvre em 30 de junho de 1988, equivaleria a não manter a comunhão hierárquica com a Santa Sé de Roma. A partir disso, tudo começa a fazer sentido. Se as sagrações episcopais do verão de 1988 representam um ato de natureza cismática, é evidente que os sacerdotes e os fiéis do Movimento chamado “Ecclesia Dei” estão com a razão. Os outros aspectos da diligência que os levou a buscar obter da parte de Roma um regime favorável à Tradição, suas intenções pessoais, suas preocupações e suas dores, são obviamente secundários e acidentais em relação a esse pressuposto principal. E, evidentemente, também, não é de forma alguma sobre esses aspectos secundários, mas antes sobre esse pressuposto principal que incide a avaliação crítica da Fraternidade São Pio X e a razão exata de sua profunda divergência em relação ao referido movimento. Qualquer outra coisa seria apenas um mal-entendido.

3. O Pe. de Blignières não demora em demonstrar seu pressuposto. “O que queríamos”, escreve ele, “era claro e difícil: manter a Missa tradicional dentro do perímetro visível da Igreja, para usar uma expressão de Jean Madiran, ou seja, na comunhão hierárquica”. Tudo aconteceu então – pelo menos na mente do Padre – como se, por si só, as sagrações episcopais de 30 de junho de 1988 tivessem prejudicado essa comunhão e excluído D. Lefebvre e seus fiéis do perímetro visível da Igreja. No entanto, no número 1 do Motu proprio Ecclesia Dei afflicta, pelo qual o Papa João Paulo II avalia oficialmente o alcance dessas sagrações, estas são apresentados pela Santa Sé como causa de tristeza para a Igreja, pelo fato que consagram o fracasso de todos os esforços até agora desenvolvidos pelo Papa “para assegurar a plena comunhão da Fraternidade Sacerdotal São Pio X com a Igreja. Continuar lendo

D. GERALDO DE PROENÇA SIGAUD E OS FUNDAMENTOS DA LIBERDADE RELIGIOSA

“OBSERVAÇÕES ESCRITAS SOBRE O CAPÍTULO V DO Esquema SOBRE A LIBERDADE RELIGIOSA (DIGNITATIS HUMANAE)”

Estas observações escritas foram redigidas pelo Bispo de Proença Sigaud no final da nonagésima quinta assembleia geral do Concílio Vaticano II, entre dezembro de 1963 e maio de 1964. Elas constam nos Atos sinodais do Concílio Vaticano II (atos oficiais). [1]

Fonte: Courrier de Rome n°639 – Tradução: Witor Lira

I – ONDE TRATAR DESTA QUESTÃO?

  1. Parece que o lugar para tratar da doutrina da Igreja sobre a liberdade religiosa, ou melhor, a liberdade de consciência, não é mais precisamente o esquema do ecumenismo, mas  o da presença da Igreja no mundo. E aqui está a razão: o esquema sobre o ecumenismotenta estabelecer os princípios e normas capazes de facilitar o caminho para a unidade dos cristãos na verdadeira religião. No entanto, a questão da liberdade religiosa diz respeito muito mais à relação da Igreja com o mundo de hoje dividido em várias denominações religiosas.

II – A QUESTÃO DA LIBERDADE RELIGIOSA

      2. No que diz respeito à própria doutrina, o esquema manifestamente não está suficientemente atento aos princípios inabaláveis ​​e, quando utiliza certas noções, não considera as deformações que sofreram sob a influência do liberalismo. Como resultado, o esquema propõe afirmações que o concílio não pode fazer suas próprias. Continuar lendo

SERMÃO DE D. LEFEBVE EM POITIERS, FRANÇA, 1977 – “DESOBEDIÊNCIA APARENTE, MAS OBEDIÊNCIA REAL…”

VALIDADE NÃO É SUFICIENTE PARA FAZER QUE UMA MISSA SEJA BOA – PALAVRAS DE  D. LEFEBVRE | DOMINUS EST

Querido Padre, hoje tendes a alegria de celebrar a Santa Missa em meio aos vossos, rodeado de vossa família, de vossos amigos, e com grande satisfação nos encontramos hoje perto de vós para dizer-vos também toda nossa alegria e todos os nossos augúrios para vosso apostolado futuro, pelo bem que fareis às almas

Rezamos neste dia especialmente a São Pio X, nosso santo padroeiro, cuja festa celebramos hoje e que esteve presente em todos vossos estudos e em toda vossa formação. Pediremos-Lhe que vos dê um coração de apóstolo, um coração de santo sacerdote como o Seu. E já que estamos aqui, próximo da cidade de Santo Hilário e de Santa Radegunda e do grande Cardeal Pie, pois bem!, pediremos a todos estes protetores da cidade de Poitiers que venham em vosso auxílio para que sigais seu exemplo, e para que conserveis, como eles o fizeram em tempos difíceis, a Fé católica. Poderíeis ambicionar uma vida feliz, talvez fácil e cômoda no mundo, já que já preparastes estudos de medicina.

Poderíeis, por conseguinte, desejar outro caminho que o que escolhestes. Mas não, tivestes a valentia, inclusive em nossa época, de vir pedir a formação sacerdotal em Ecône. E, por que em Ecône? Porque aí encontrastes a Tradição, porque aí encontrastes o que correspondia a vossa Fé. Isto foi para você um ato de valentia que vos honra.

E é por isso que queria responder, com algumas palavras, às acusações que foram feitas nestes últimos dias nos jornais locais por causa da publicação da carta de Dom Rozier, Bispo de Poitiers. Oh!, não para polemizar. Tenho muito cuidado de evitá-lo, não tenho por costume responder a essas cartas e prefiro guardar silêncio. No entanto, parece-me que seja bom que vos justifique porque nesta carta estais implicado como eu. Por que isto ocorre? Não por causa de nossas pessoas, senão pela eleição que fizemos. Somos incriminados porque escolhemos a suposta via da desobediência. Mas trata-se de entender precisamente sobre o que é a via da desobediência. Penso que podemos em verdade dizer que se escolhemos a via da desobediência aparente, elegemos a via da obediência real. Continuar lendo

UMA CONTINUIDADE IMPOSSÍVEL – SOBRE A DIGNITATIS HUMANAE

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Witor Lira

Prólogo

1 – O Blog da revista La Nef publicou em sua página de 5 de julho de 2014 um estudo do Padre Basile Valuet, OSB, intitulado “Os mal-entendidos de Ecône sobre a liberdade religiosa” (abreviado aqui como BV2). Este estudo é uma resposta ao artigo publicado na edição de março de 2014 do Courrier de Rome, intitulado:Dignitatis humanae é contrário à Tradição” (abreviado aqui como CDR).

2 – Não desconhecíamos a personalidade do Padre Basile, nem o respeitável alcance de sua obra. Queríamos apenas dizer o que pensamos do estudo publicado em julho de 2013 no Bulletin de Littérature ecclésiastique (abreviado como BV1) onde o padre Basile tenta responder às “objeções dos lefebvristas” [1] bem como aos “três argumentos principais daqueles que negam a compatibilidade da Dignitatis humanae com a Tradição” [2]. Esta resposta se apresenta como suficiente por si mesma, e por isso a tomamos como tal [3]. Por outro lado, admitimos sem dificuldade (e já sabíamos) que o padre Basile teve a oportunidade de examinar em seu tempo as objeções apresentadas pela Fraternidade São Pio X contra a liberdade religiosa (a Dubia tornada pública em 1987, assim como a resposta à resposta do CDF a estas mesmas), que foram retomadas e esclarecidas durante as últimas discussões doutrinárias de 2009-2011. Mas com isso, permanece o fato de que as três objeções às quais o padre Basile tenta responder no estudo de julho de 2013 “não correspondem de forma alguma àquelas que a Fraternidade São Pio X apresentou até agora à Santa Sé” [4]. É sempre possível estar enganado, mesmo de muita boa fé, e mesmo com a melhor informação; para dissipar o mal-entendido e deixar a luz passar, é preciso começar limpando o vidro, e dos dois lados. É com este espírito que empreendemos aqui uma nova reflexão, para esclarecer o debate levantado pelo Padre Basile. Para isso, voltaremos aos principais pontos da análise publicada no Blog de La Nef. Mas, primeiro, gostaríamos de chamar a atenção do leitor para o ponto preciso que representa o verdadeiro cerne da dificuldade.

1 – A raiz do problema

3 – Devemos ler o Concílio à luz da Tradição ou a Tradição à luz do Concílio? Essa é a questão. Esta é uma questão fundamental, porque é a do método a ser seguido. E esta é a questão que ainda permanece pendente, entre a Santa Sé e a Fraternidade São Pio X, desde a famosa Declaração de 21 de novembro de 1974 Aparece regularmente na ordem do dia, e é por falta de resposta suficiente que o acordo, tão esperado de ambas as partes, se revela impossível. Sem falar que, recusar-se a fazer a pergunta é já tê-la respondido, porque é postular que a única leitura possível é aquela dada pelo magistério atual. Continuar lendo

6000 PADRES ESPANHÓIS RECUSAM A MISSA NOVA

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O artigo a seguir foi publicado no nº 140 da revista Itinéraires (1), em fevereiro de 1970, poucas semanas após a celebração da nova Missa ter se tornada obrigatória, em 1º de dezembro de 1969.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

O título do artigo, o prólogo e a conclusão são de autoria da Itinéraires.

As notas de rodapé são do La Porte Latine.

Prólogo

A Associação Sacerdotal Espanhola de Santo Antônio Maria Claret conta com 6.000 sacerdotes e religiosos.

Ela deu ao mundo católico um exemplo de fidelidade sacerdotal e intrepidez no dever, dando a conhecer à Santa Sé a impossibilidade moral, intelectual e espiritual de seus membros de celebrar o Santo Sacrifício segundo o novo Ordo Missae.

Temos a autorização de seu presidente, Pe. José Bachs, e de seu secretário, Pe. José Mariné, a reproduzir as duas cartas que enviaram, em 11 de dezembro, a Paulo VI e à Mons. Bugnini(2).

Carta a Paulo VI

Santíssimo Padre,

É com profundo pesar que anexamos uma fotocópia da carta que nossa Associação acaba de enviar ao Secretário da Sagrada Congregação para o Culto Divino, e que desejamos levar ao conhecimento de Vossa Santidade.

A questão do novo Ordo tornou-se uma questão de consciência da maior gravidade para milhões de católicos, padres e leigos. Não falaremos de razões doutrinais católicas, pois não poderíamos melhor explicá-las do que o documento “Breve Exame Crítico do Novo Ordo Missae(3)”, que Vossa Santidade recebeu recentemente acompanhado de uma carta assinada pelos Cardeais Ottaviani e Bacci, e que seria necessário refutar ponto por ponto de acordo com a Doutrina do Concílio de Trento, se quiséssemos provar a ortodoxia do Novus Ordo. Continuar lendo

ISTO É O MEU CORPO

O novo Missal de Paulo VI é imperfeito a ponto de tornar-se equívoco na expressão da Lei da fé e incorrer no risco de invalidade quanto à eficácia do sacramento.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

1. Em sua 22ª sessão, realizada em 17 de setembro de 1562, o Concílio de Trento afirmou que “neste sacrifício divino que se realiza na Missa, Cristo está contido e imolado de forma incruenta, Ele que se ofereceu de uma vez por todas de forma cruenta no altar da cruz (Hb 9, 14; 27)[1]. E para insistir no valor propiciatório deste sacrifício, o Concílio especifica ainda que “é, com efeito, uma única e a mesma vítima, a mesma que, oferecendo-se agora pelo ministério dos sacerdotes, ofereceu-se então na Cruz, sendo apenas diferente a forma de oferecer a si mesmo. Os frutos desta oblação – que é cruenta – são recebidos abundantemente através desta oblação incruenta; de tal modo que a última não diminui de modo algum a primeira”[2]. A Missa, portanto, não é outro sacrifício senão o sacrifício do Calvário. Ela é esse mesmo sacrifício, realizado de outra forma, já não mais físico, mas sacramental. Isso significa que ela é seu sinal eficaz: a Missa realmente realiza o próprio sacrifício do Calvário na exata medida em que o significa, através de um conjunto de palavras e gestos que constituem precisamente o rito. O missal é a expressão literal (ou a escrita) deste rito. O Missal tradicional dito “de São Pio V” é a expressão mais exata que a Igreja pôde dar aos seus fiéis até hoje, com todo o significado necessário para esta realização sacramental do sacrifício incruento.

2. O novo Missal de Paulo VI, por sua vez, “representa, tanto em seu todo como nos detalhes, um surpreendente afastamento da teologia católica da Missa tal qual formulada na sessão 22 do Concílio de Trento”. Tal é o veredicto do  Breve Exame Crítico, apresentado ao Papa Paulo VI pelos Cardeais Ottaviani e Bacci. Para ilustrar seu fundamento, demos como exemplo a impressionante redução dos sinais da cruz neste Novus Ordo Missaede Paulo VI. A Institutio Generalis, em sua última versão revisada de 2002, prevê apenas dois fora do Cânon: um primeiro no início da Missa (n.º 124) como rito de entrada quando o celebrante se assinala ao mesmo tempo que os fiéis, e um segundo no final (n.º 167) como rito de conclusão, quando o celebrante dá a bênção aos fiéis. No Cânon (isto é, naquilo que o Missal de Paulo VI doravante designa por “Oração Eucarística”) resta apenas um, logo no início, quando o sacerdote faz o sinal da cruz tanto no pão como no cálice (“Ut benedicas +  haec dona” na Oração Eucarística I; “ut nobis Corpus et  +  Sanguis fiant Domini nostri Jesu Christi” na Oração Eucarística II; “ut Corpus et  +  Sanguis fiant Filii tui Domini nostri Jesu Christi” na Oração Eucarística III; “ut Corpus et  +  Sanguis fiant Domini nostri Jesu Christi” na Oração Eucarística IV).

3. Só no Cânon do Missal dito “de São Pio V”, havia 26 sinais da cruz. A razão destes sinais da cruz é única e representativa: “O sacerdote”, explica São Tomás, “durante a celebração da Missa, faz os sinais da cruz para evocar a Paixão de Cristo, que o levou à Cruz”[3]. Segundo a explicação dada pelo Doutor Comum da Igreja, os vários sinais da cruz feitos pelo celebrante durante a Missa correspondem a uma progressão lógica de significado, para representar as nove etapas da Paixão, ou seja, deixando evidente que a Missa é idêntica ao sacrifício do Calvário. Continuar lendo

POR QUE A CONSAGRAÇÃO DA RUSSIA TORNA-SE CADA VEZ MAIS DIFÍCIL?

L'obstacle à la consécration de la Russie : Vatican II • La Porte Latine

Por que essa consagração, tão simples em si mesma, é tão difícil de se realizar na prática? Resposta: Vaticano II

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Nossa Senhora pediu que a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração fosse realizada pelo papa e pelos Bispos de todo o mundo(1). Ela explicou que, se isso fosse feito, haveria paz no mundo; caso contrário, a Rússia espalharia seus erros, ou seja, o comunismo, pelo mundo. Esta consagração não foi realizada como pedidda. É por isso que o comunismo se espalhou por toda a terra. Por que essa consagração, tão simples em si mesma, é tão difícil de ser realizada na prática?

Primeira razão. A consagração ao Imaculado Coração de Maria é um ato religioso que incide sobre toda a uma nação, isto é, sobre uma realidade política. É, portanto, contrário ao liberalismo político dos Estados, defendido pelo Vaticano II na Dignitatis humanae.

Segunda razão. Além disso, uma consagração a Maria nada mais é do que uma “preparação para o Reino de Jesus Cristo”(2). No entanto, desde o Concílio, a Roma modernista nunca deixou de desencorajar socialmente Jesus Cristo. De fato, foi ela mesma que sistematicamente organizou a apostasia das nações católicas em nome do Vaticano II(3).

Terceira razão. Esta consagração conduziria ao retorno dos cismáticos à Igreja Católica(4). É, portanto, contrário à teoria conciliar das “igrejas irmãs” (o subsistit in da Lumen gentium), segundo a qual as igrejas católica, ortodoxa e protestante são três partes da Igreja de Cristo. Continuar lendo

ARGENTINA: UM PARQUE INTER-RELIGIOSO RECEBE A BÊNÇÃO DE FRANCISCO

Em Santiago del Estero, na Argentina, um parque temático ecumênico e inter-religioso foi inaugurado em outubro de 2021.

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

O “Parque do Encontro” (Parque del Encuentro) inclui uma igreja católica, uma capela protestante, um templo budista, uma sinagoga e uma mesquita, todos construídos num simbólico abraço fraterno em torno de um “anfiteatro Pachamama“, e dominado por um “obelisco da fraternidade humana”.

O Parque del Encuentro, que se estende por 2,5 hectares e ocupa o local de um antigo jardim zoológico municipal, visa inculcar nas crianças e nos jovens as “virtudes” do diálogo inter-religioso, mas estará aberto a pessoas de todas as idades.

Na Igreja Católica, imagens de afrescos (de Michelangelo) da Capela Sistina serão projetadas no teto, mostrando os estreitos laços que unem esta iniciativa e o Vaticano do Papa Francisco.

Com efeito, segundo o jornalista argentino Lucas Schaerer, “Francisco uniu todas as religiões e é reconhecido entre os líderes religiosos como um irmão mais velho no diálogo inter-religioso que ele vem promovendo antes mesmo de sua eleição”. Este parque representa ainda, segundo este jornalista, “o culto sul-americano da Pachamama, uma expressão da fertilidade da Mãe Terra”. Continuar lendo

GUARDAR E TRANSMITIR A TRADIÇÃO – CONFERÊNCIA DO PADRE DAVIDE PAGLIARANI, SUPERIOR DA FSSPX

Transcrição integral da conferência dada pelo padre Davide Pagliarani, superior-geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, no final do XVIº Congresso de Teologia do Courrier de Rome, em parceria com o DICI, no dia 15 de janeiro de 2022, em Paris. 

Fonte: FSSPX

Não podemos desejar, ao mesmo tempo, o bem das almas pela Tradição e uma nova Igreja sem a Tradição.

É certo que estamos num momento crucial, num momento ao mesmo tempo triste, mas também numa situação lógica. Chegamos a um ponto que era previsível. É verdade que a Fraternidade São Pio X não foi diretamente atingida pelo motu proprio Traditionis Custodes, pelas razões que os senhores já conhecem. Mas, de fato, por causa da nova situação que se criou, hoje mais do que nunca, a posição da Fraternidade São Pio X se mostrou como a única viável, a única que mostra o caminho.

Não sou a pessoa mais indicada para afirmar isso, mas há fatos que são objetivos, e mesmo evidentes.

Por que isso? Porque os institutos Ecclesia Dei, que foram tocados diretamente por esse motu proprio, não são a Fraternidade São Pio X, é verdade; mas eles existem porque a Fraternidade São Pio X existe. Sua origem, de um ponto de vista geral, está ligada de algum modo à história da Fraternidade; dela dependem, ao menos indiretamente. E, hoje em dia, essa nova situação enfatiza grandemente o alcance do papel da Fraternidade, e de sua missão. E também, inevitavelmente, a necessidade da tradição integral.

A tradição é um todo, porque a fé é um todo. Hoje é preciso, mais do que nunca, a profissão livre dessa fé. A verdadeira liberdade dos filhos de Deus é a liberdade, em primeiro lugar, de professar a fé.

A oposição do Papa Francisco

Aqui abro um parênteses. Falaremos, inevitavelmente, dos institutos Ecclesia Dei, e quero esclarecer que no âmbito pessoal, não tenho nada contra aqueles que pertencem a tais institutos: nem contra os fiéis, nem contra os membros. Estamos completamente fora dessa perspectiva de oposição pessoal. Nas coisas humanas, em todo lugar há pessoas simpáticas e pessoas antipáticas. Isso vale para a humanidade inteira, isso vale também para nós de algum modo. Preciso colocar essa nota porque ela permitirá falar mais livremente durante minha exposição.

O problema não é que a Fraternidade São Pio X possa “criticar os institutos Ecclesia Dei”. No momento atual, é o próprio Papa Francisco quem parece estar cansado dos institutos Ecclesia Dei e, em geral, de todos os padres ligados à missa tridentina. Isto nos brinda a oportunidade de retornarmos aos começos da Ecclesia Dei: O texto de 2 de julho de 1988 contém a condenação da Fraternidade São Pio X, a condenação de Dom Lefebvre – e estende a mão aos institutos Ecclesia Dei. Continuar lendo

ARIZONA: AVISO DE PROCURA POR BATISMOS INVÁLIDOS

A diocese de Phoenix (Estados Unidos, Arizona) acaba de lançar um apelo a testemunhas a fim de encontrar pessoas que foram “batizadas” por um padre que utilizava uma fórmula inválida, desde 2005.

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

O Arizona é famoso por seu Grand Canyon, uma fenda monumental, com 1.800 metros de profundidade (em alguns lugares), e que se estende por quase 500 km. Mas há vários dias, é outro abismo – esse de incompreensão, no qual estão mergulhados os católicos deste Estado do Sudoeste dos Estados Unidos.

Em 1º de fevereiro de 2022, o canal de televisão Telemundo Arizona, revelou que as cerimônias de batismo realizadas nos últimos 17 anos por um padre da Diocese de Phoenix são, provavelmente, inválidas.

E como o batismo é a porta de entrada necessária para a Igreja e para a vida sacramental, conclui-se que todos os outros sacramentos posteriormente recebidos também são inválidos.

A propósito, nem ousamos imaginar a magnitude desta catástrofe, se um dos sujeitos assim “batizados”, de forma inválida, foi ordenado sacerdote na idade adulta… Continuar lendo

A NOVA MISSA E A FÉ CATÓLICA, PELO CÔNEGO RENÉ MARIE BERTHOD

Esta análise da Missa nova pelo Cônego Berthod vai diretamente ao ponto.

O cônego René Berthod (+ 26/06/1996), sacerdote da Congregação dos Cônegos do Grande São Bernardo, após  uma longa e brilhante carreira como professor, foi diretor do seminário de Econe por muitos anos. Eminente e profundo teólogo, grande conhecedor de Santo Tomás, aceitou, em 1981, escrever uma breve crítica à nova Missa para a revisão do Mouvement de la Jeunesse Catholique de France, Savoir et Servir (n° 9).

La Porte Latine

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A Igreja de Cristo foi instituída para uma dupla missão: uma missão de fé e uma missão de evangelização dos homens redimidos pelo sangue do Salvador. A Igreja deve entregar aos homens a fé e a graça: a fé através de seu ensinamento, a graça através dos sacramentos que lhe confiou Nosso Senhor Jesus Cristo.

Sua missão de fé consiste em transmitir aos homens a Revelação, feita ao mundo por Deus, das realidades espirituais e sobrenaturais, assim como sua conservação, através do tempo e dos séculos, sem alterações. A Igreja Católica é, antes de tudo, a fé que não muda; é como – disse São Paulo – “A coluna de verdade”, a qual é sempre fiel a si mesma e inflexível testemunha de Deus – atravessa o tempo dentro de um mundo em perpétuas mudanças e contradições.

Através dos séculos, a Igreja Católica ensina e defende sua fé em nome de um só critério: “O que sempre acreditou e ensinou”. Todas as heresias, contra as quais a Igreja constantemente enfrentou, foram sempre julgadas e reprovadas em nome da não conformidade com este princípio. O primeiro princípio reflexo da hierarquia na Igreja, e especialmente da romana, foi manter sem mudanças a verdade recebida dos Apóstolos e do Senhor. A doutrina do Santo Sacrifício da Missa pertence a este tesouro de verdade da Igreja. E, se hoje em dia, nesta matéria em particular, aparece uma espécie de ruptura com o passado da Igreja, tal novidade deveria alertar qualquer consciência católica, como nos tempos de grandes heresias nos séculos passados, e provocar universalmente uma confrontação com a fé da Igreja que não muda. Continuar lendo

FINALIZANDO O MÊS, UMA SELETA DE NOSSOS POSTS DE JANEIRO/22

ENTREVISTA DE MONS. ROCHE: AS “RESPONSA AD DUBIA” SE APLICAM AOS INSTITUTOS ECCLESIA DEI?

A REVOLUÇÃO REALIZADA PELA DECLARAÇÃO “NOSTRA AETATE”: “A ANTIGA ALIANÇA NUNCA FOI REVOGADA”

MUNDO MODERNO: UMA DECISÃO JUDICIAL TENDE A FAZER CRER QUE O FILHO NÃO É DESEJADO EM SI MESMO, MAS NA MEDIDA EM QUE CORRESPONDA AOS PLANOS DE SEUS PAIS

O ABORTO FOI A PRINCIPAL CAUSA DE MORTE EM TODO O MUNDO EM 2021

MANUAL DA VERDADEIRA RESISTÊNCIA TRADICIONAL ÀS ORDENS MODERNISTAS: O MILAGRE DE SAINT NICOLAS DU CHARDONNET

NA ALEMANHA: ELE FOI BANIDO DA IGREJA POR RECUSAR “LINGUAGEM INCLUSIVA”

ORDENAÇÕES SACERDOTAIS NO SEMINÁRIO SANTO TOMÁS DE AQUINO (EUA) – 2022

PRIMEIRAMENTE, SERVOS DE DEUS

ONGS FEMINISTAS PROPÕEM ABORTO CONTRA A MUDANÇA CLIMÁTICA

O SEGREDO DA CONFISSÃO: LEI DIVINA OU LEI HUMANA?

KEEP CALM AND CARRY ON

BRUXELAS: FEIRA DE VENDA DE CRIANÇAS CAUSA POLÊMICA

OS BISPOS ITALIANOS E OS NOVOS SACRAMENTOS PANDÊMICOS

A FRATERNIDADE SÃO PIO X ESTÁ FORA DA IGREJA?

CRISTO JUIZ (PARTE 1): UMA VERDADE DE FÉ CAÍDA NO ESQUECIMENTO

UMA ESPIRITUALIDADE SALESIANA?

EUROPA: AMEAÇAS À OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA

RESPONDENDO À ALGUMAS DÚVIDAS SOBRE O COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS NA MISSA

OS BISPOS ITALIANOS E OS NOVOS SACRAMENTOS PANDÊMICOS

Enquanto a Fraternidade São Pio X enfrenta mil dificuldades para manter suas igrejas abertas em Québec – e em muitos casos vendo-se obrigada a fechá-las – por não cumprir com a obrigação de exigir a vacinação dos fiéis que vão aos serviços sagrados, os Bispos italianos vão além das exigências do próprio governo e criam novos poderes sacramentais reservados aos vacinados.

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Atualmente, apesar de um “super green pass” em vigor na Itália, que requer a vacinação para participar de quase todas as atividades da vida civil, o acesso aos locais de culto e a participação nos serviços sagrados permanece regulamentado por um protocolo governamental de 7 de abril de 2020, referendado pela Conferência Episcopal Italiana. Agora não é o momento para discutir o valor jurídico (mesmo partindo dos princípios iníquos da constituição italiana e da péssima Concordata de 1984) de tal documento. O fato é que o acesso aos serviços sagrados ainda é possível sem vacina ou exames de cotonete, respeitando as imposições sobre distanciamentos, máscaras, comunhão na mão e distorções semelhantes do culto.

Os Bispos italianos, no entanto, na onda do entusiasmo pela ampliação das exigências de vacinação por parte do governo, não querem ficar para trás. Durante meses, muitas dioceses impuseram, por iniciativa própria, a vacina ou exames a cada 2 dias a padres, diáconos, ministros da Eucaristia, agentes pastorais, etc., com um zelo certamente digno de registro.

Mas não para por aí. Para o Bispo Francesco Beschi, de Bérgamo, a vacina é literalmente “uma obrigação moral“, e não apenas legal. Continuar lendo

PRIMEIRAMENTE, SERVOS DE DEUS

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Fonte: SSPX Great Britain and Scandinavia – Tradução: Dominus Est

Caros fiéis,

O mundo

O novo ano inicia com uma sensação de “mau presságio”, como se estivéssemos às vésperas de uma guerra. A sociedade ocidental está se desintegrando porque não há mais nenhuma cultura para unir e direcionar as almas a um bem comum. O racionalismo, o materialismo e o capitalismo seguiram seu curso e foram considerados insuficientes; as elites globais visam agora a tecnologia e a coerção para sustentar as estruturas existentes, enquanto preparam uma nova ordem de coisas para manter sua hegemonia. Essa nova ordem mundial será uma tirania ateia, muito provavelmente como a da China, mas com vícios ainda mais antinaturais; e então, por sua vez, entrará em colapso, mas não antes de muito sofrimento e a perda eterna de muitas almas. Eis o presságio.

A Igreja

A única coisa que pode salvar o mundo é a Igreja, instituição essa fundada e dirigida por Deus Encarnado, Jesus Cristo, com uma hierarquia visível de ministros cujo dever é continuar a missão de Jesus Cristo na terra: ensinar, governar e santificar almas. A Igreja é Cristo no mundo: um sinal de contradição, uma cidade assentada no monte, mestra da verdade, defensora da lei natural e divina, uma criadora de santos.

Infelizmente, a Igreja também está em crise. Embora ela seja espiritualmente perfeita como o Corpo Místico de Cristo, ela está fisicamente doente porque muitos de seus ministros parecem ter perdido a fé. Coletivamente, comeram do fruto chamado Modernismo no Concílio Vaticano II, que apregoou uma nova compreensão da fé, uma nova consciência e um novo Pentecostes, mas que então causou um colapso espetacular da fé, da moral e dos membros. Continuar lendo

MANUAL DA VERDADEIRA RESISTÊNCIA TRADICIONAL ÀS ORDENS MODERNISTAS: O MILAGRE DE SAINT NICOLAS DU CHARDONNET

AS MAIS BELAS IGREJAS DA FSSPX – PARTE 7 – SAINT NICOLAS DU CHARDONNET  (FRANÇA) | DOMINUS EST

“Se forem expulsos, simplesmente ocuparão outra igreja, e o processo legal terá que começar novamente – a Catedral de Notre Dame havia sido mencionada.”

Faça um tour virtual na Saint Nicolas du Chardonnet clicando aqui

Conheça mais sobre Mons. Ducaud-Bourget clicando aqui.

Fonte: FSSPX Ásia – Tradução: Dominus Est

No domingo, 27 de fevereiro de 1977, a igreja de Saint Nicolas du Chardonnet, em Paris, foi “ocupada” por Católicos tradicionalistas, ou melhor, “libertada” como eles preferem expressar. A igreja estava ainda firmemente sob o controle deles em 1983, e é, certamente, a mais popular e próspera paróquia de Paris. Histórias melodramáticas do evento foram divulgadas por progressistas. Houve até relatos que deram a impressão de que ela havia caído nas mãos de um esquadrão de uma milícia fascista que usava rosários como socos-ingleses! Quando o Papa visitou a França em 1981, um apelo lhe foi feito para celebrar a Missa com os paroquianos depostos no Salão (Salle Wagram­), que eles tiveram que usar desde que ficaram sem igreja. O Papa recusou o convite. Como o artigo a seguir deixa claro, Saint Nicolas funcionava como paróquia-conjunta com a paróquia de Saint Sérvrin, literalmente a poucos passos de distância. Nesta enorme igreja há uma ampla sala que comporta 100 vezes o número dos paroquianos de Saint Nicolas, ou supostos paroquianos dessa igreja, que não querem mais rezar lá, agora que a Missa Tridentina é oferecida mais uma vez. Embora, estritamente falando, a ocupação de Saint Nicolas não faça parte da história da ruptura entre D. Lefebvre e o Vaticano, que é o assunto deste livro, ela deve ser inserida dentro deste contexto histórico– particularmente no que diz respeito à situação da França. Foi certamente o acontecimento mais dramático do conflito secular entre Tradição e Liberalismo que ocorreu na França desde a triunfante Missa em Lille, pouco mais de seis meses antes (cfr. Vol. I, pp. 253-271)

Tive a grande sorte de visitar Saint Nicolas em 12 de abril de 1977. O relato que se segue é o que escrevi para o The Remmant de 30 de abril de 1977.

Data: terça-feira, 12 de abril de 1977.

Local: Paris – mais precisamente a estação de metrô Maubert-Mutualité. 

Horário: cerca de 18:15h. 

Saio da estação de metrô, e a primeira coisa que observo é o som do sino da igreja soando triunfante, imperiosamente sobre o barulho do tráfego da hora do rush e as multidões apressadas para voltarem pra casa. Em poucos instantes, vejo a igreja onde o sino está tocando – é a Igreja de St. Nicolas du Chardonnet, a igreja onde ocorreu um milagre. Um milagre? Il ne faut pas exagérer, dizem os franceses: “Não se deve exagerar”. Mas isso não é exagero. Até o primeiro domingo da Quaresma, isso era típico da maioria das igrejas paroquiais de Paris. Menos de 100 fiéis compareciam a todas as Missas celebradas no domingo. A outrora bela igreja tinha uma aparência suja e dilapidada. As assembleias dominicais, como a Missa agora é chamada na França, eram celebradas sobre uma mesa colocada sobre um pódio coberto com um material roxo extremamente esfarrapado. O altar havia sido abandonado – aparentemente para sempre.

Durante a Missa, no final da manhã do primeiro domingo da Quaresma, começou o milagre. O punhado de devotos começou a crescer. Lenta, mas seguramente, a igreja começou a encher. Em pouco tempo, ela estava cheia. Os fiéis estavam em pé nos corredores. Um dos clérigos da paróquia não conseguiu conter seu espanto. Continuar lendo

A REVOLUÇÃO REALIZADA PELA DECLARAÇÃO “NOSTRA AETATE”: “A ANTIGA ALIANÇA NUNCA FOI REVOGADA”

A história dos Papas que visitaram a grande Sinagoga de Roma

Fonte: Sì Sì No No | Tradução: Dominus Est

Desde seu primeiro encontro com uma delegação de judeus, em 12 de março de 1979, o Papa João Paulo II cita a declaração conciliar Nostra Aetate, “cujo ensinamento exprime a fé da Igreja” (conforme esclarecerá mais tarde em Caracas, Venezuela, em 27 de janeiro de 1985).

Segundo Nostra Aetate [daqui em diante abreviada por “N.A.”], um vínculo uniria espiritualmente o povo do Novo Testamento com a progenitura de Abraão, que são não só os judeus da Antiga Aliança, mas também aqueles dos dias de hoje.

Com efeito, citando Rom. XI, 28-29, escreve o Padre Jean Stern:  «o Concílio declara a propósito dos judeus [pós-bíblicos] que eles fazem parte de um “povo muito amado de Deus do ponto de vista de eleição, por causa de seu pai, visto que os dons de Deus são irrevogáveis”. Por conseguinte, se a comunidade religiosa hebraica, formada pelo ensinamento rabínico, pertence à descendência [espiritual] de Abraão… o judaísmo [pós-bíblico] constitui uma religião»[1].

“N.A” não exprime a fé da Igreja

A declaração “N.A.”, de 28 de outubro de 1965, sobre “as relações da Igreja com as religiões não-cristãs”, fala em seu n.º 2 do budismo e do hinduísmo, no n.º 3 dos muçulmanos e no 4 fala do “vínculo com que o povo do Novo Testamento está espiritualmente ligado à descendência de Abraão”. Ora, descendência equivale à raça ou estirpe carnal de Abraão. A Igreja, ao contrário, é universal, católica, e protege a fé e a alma de todos os homens de todas as eras e do mundo todo, e por isso não há vínculo com nenhuma descendência ou raça em particular. Com efeito, não se pode relacionar espiritualmente a descendência carnal ou sanguínea com a fé, a alma ou o espírito. Esta é a primeira grande anomalia ou contradição de termos em “N.A.”. Continuar lendo