ENTREVISTA DE D. MAURO TRANQUILLO, FSSPX: O SEDEVACANTISMO NÃO É A SOLUÇÃO DA CRISE

Segue abaixo uma série de nossas publicações complementares ao vídeo sobre o assunto:

CARTA A UM FIEL SOBRE O SEDEVACANTISMO

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DEPOR O PAPA?

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BREVE CATECISMO SOBRE A IGREJA E O MAGISTÉRIO

Introdução

O sedevacantismo

O conciliarismo e a questão do “papa herético”

O galicanismo

O magistério

Magistério e revelação

A infalibilidade do magistério

Os lugares teológicos e o magistério

Magistério, intérprete da tradição

As quatro condições da infalibilidade do magistério extraordinário e ordinário

Conclusão

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PEGANDO O TOURO PELOS CHIFRES: O DILEMA SEDEVACANTISTA

Aspectos – parte 1

Aspectos – parte 2

Refutações

A igreja é visível

La salette

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ONDE O SEDEVACANTISMO E NEOCONSERVADORISMO SE ENCONTRAM

CARTA A UM FIEL SOBRE O SEDEVACANTISMO

Roma sedia Encontro Internacional de Párocos em preparação ao Sínodo da Sinodalidade

Fonte: Le Pescadou nº235 – Tradução: Dominus Est

Pelo Pe. Patrick de La Rocque.

Prezado Senhor,

Por carta, compartilhastes comigo vossos questionamentos relativos ao sedevacantismo.

Com efeito, para quem aceita abrir os olhos com isenção e espírito sobrenatural, a situação que a Igreja, em geral, e o papado, em particular, atravessam desde meio século é terrivelmente desconcertante. Ao passo que o “Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de Pedro para revelar uma nova doutrina, mas para, com a sua assistência, guardar santamente e expor fielmente a revelação transmitida pelos apóstolos, ou seja, o depósito da fé” (Vaticano I, Const. Pastor æternus), é patente que os papas recentes, infelizmente, se servem de sua posição não para este objetivo, mas, ao contrário, para promover uma doutrina humanista e liberal repetidamente condenada por seus predecessores. E não hesitam em levar essa utopia até as suas consequências mais dramáticas. Assim, vimos João Paulo II beijar o Corão e invocar São João Batista para que ele proteja o Islã, ou o papa Francisco celebrar a Pachamama no Vaticano. Da mesma forma, os mais consagrados princípios morais são atualmente enfraquecidos ao ponto de legitimar a comunhão dos divorciados recasados e dos protestantes, ou de provocar a quase dominação dos lobbys LGBT+ na linguagem oficial da Igreja. Tudo isso acontece sobre as cinzas da Tradição católica, renegada em muitos pontos, inclusive em sua liturgia. Esses papas, aliás, baniram oficialmente a Tradição bimilenar da Igreja quando condenaram aqueles que, ao rejeitarem esses princípios errôneos e suas consequências blasfematórias, quiseram permanecer fiéis ao depósito da fé que o ofício pontifício tem, precisamente, a missão de defender.

À luz dessas traições romanas, surgiram o que denominamos de teses sedevacantistas. Plurais, todas se recusam, de um modo ou de outro, a reconhecer o(s) papa(s) atual(ais) como sucessor(es) de Pedro. Um papa, dizem seus defensores, não pode ensinar o erro e promovê-lo permanecendo papa. Assim, consideram “vacante” a “Sé” de Pedro, de onde o termo sedevacantismo. Continuar lendo

DEPOR O PAPA?

Papa defende leis que regulamentem união civil entre homossexuais - Hora  Brasília

Fonte: Si Si No No, ano XLV, n. 8, de 30 de abril de 2019 – Tradução: Dominus Est

INTRODUÇÃO

Em uma “Carta Aberta aos Bispos da Igreja Católica”, datada de maio de 2019, alguns estudiosos leigos e eclesiásticos acusaram o Papa Francisco de heresia(1).

Além disso, os autores acreditam que um Papado herético não pode ser tolerado ou ignorado com a ideia de assim evitar um mal pior, até mesmo um cisma semelhante ao Grande Cisma do Ocidente (século XV), no qual haviam simultaneamente três “Papas” na Igreja, dois dos quais eram antipapas. Um papado como o de Francisco deve ser submetido à correção por parte dos Bispos.

Por esta razão, o estudo contido nesta “Carta” conclui com o convite aos Bispos:

1°) a admoestar o Papa Francisco negar as suas heresias

2°) se ele se recusar obstinadamente, a depô-lo e nomear outro Papa.

Apresentaremos os principais argumentos contidos na “Carta Aberta” sob a forma de “Objeções” e tentaremos refutá-los na forma de “Respostas”.

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OBJEÇÕES E RESPOSTAS

Objeção nº. 1 da “Carta Aberta”: o Decreto de Graciano (dist. XL, can. 6)

“O cânon que primeiro considerou explicitamente a possibilidade da heresia de um Papa encontra-se no Decreto de Graciano. O Cânon 6 da distinção XL do Decreto afirma que um Papa não pode ser julgado por ninguém, a menos que se descubra que ele se desviou da fé”. Continuar lendo

ESPECIAIS DO BLOG: PEGANDO O TOURO PELOS CHIFRES: O DILEMA SEDEVACANTISTA

O Concílio Vaticano II semeou a dúvida no espírito dos católicos. Essa dúvida deve ser entendida, evidentemente, primeiro como a dúvida semeada pelo Concílio a respeito das verdades divinamente reveladas por Deus. O motivo dessa dúvida se concentra inteiramente no princípio da liberdade de consciência adotado pelos Papas desde o último Concílio, de João XXIII a Francisco.

Acesse os links abaixo para acessar todos os capítulos dessa série:

ASPECTOS – PARTE 1

ASPECTOS – PARTE 2

REFUTAÇÕES

A IGREJA É VISÍVEL

LA SALETTE

PEGANDO O TOURO PELOS CHIFRES: O DILEMA SEDEVACANTISTA – LA SALETTE

Fonte: Courrier de Rome – Tradução: Dominus Est

Leia o capítulo anterior clicando aqui.

1. “Roma perderá a fé e tornar-se-á a sede do Anticristo”. Esta suposta profecia, acrescentada ao Segredo de Mélanie, a vidente de La Salette, é invocada com frequência para confirmar o estado atual da crise na Igreja. As aparições da Santíssima Virgem em La Salette foram “reconhecidas” pela Igreja. O que este fato significa? Que crédito se pode capitalizar da referida profecia?

2. O termo “aparições” designa determinados fenômenos que, apesar de sua diversidade, têm em comum serem portadores de um sentido inteligível, às vezes até de uma mensagem determinada. Eles tornam conhecido algo que, até então, era incógnito: neste contexto, podemos falar, portanto, de “revelação”. Mais especificamente, falamos de “aparições” ao dizer que elas são “revelações privadas”. E pretendemos, por isso, distinguir as revelações em questão da Revelação propriamente dita, a Revelação divina, chamada “pública”, que foi finalizada com a morte do último dos apóstolos, que está contida, como em suas fontes, nas Sagradas Escrituras e na Tradição, que é conservada e explicada pelo Magistério da Igreja e que se destina, como meio necessário de salvação, a todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares.

Para melhor compreender o sentido dessa distinção, imaginemos que a revelação, compreendida, em geral, como um ensinamento que Deus endereça ao homem, seja definida, inicialmente, por seu propósito[1], e esse propósito é duplo: transmitir o conhecimento das verdades de fé necessárias a todos para a salvação e dirigir, na prática, as ações destes ou daqueles em vista de sua melhor santificação. O primeiro objetivo define, como tal, a Revelação pública. O segundo propósito define, como tais, as revelações privadas. É possível que, mesmo após a morte do último dos apóstolos, Deus continue a revelar aos homens seus desígnios providenciais. Não se trata mais de comunicar o conhecimento das verdades de fé, necessárias a todos e em todos os tempos, trata-se de manifestar determinado detalhe do plano divino, conforme decide a conduta particular de alguns em uma época ou em um dado lugar[2]. Notemos que o qualificativo “privadas” não quer dizer, necessariamente, que essas revelações sejam destinadas, em si, ao bem próprio de uma única pessoa física. Elas podem abranger vários indivíduos, grupos inteiros e até toda a Igreja de uma determinada época. Não obstante, em todos esses casos haverá uma única entidade moral. E a mensagem sempre interessará, a título de conselho, a algum privilegiado, mas não, a título de preceito, a uma parte apenas da Igreja, e não toda a Igreja enquanto tal, ou seja, enquanto instituição. O concílio de Trento, no decreto sobre a justificação[3], adota a expressão “speciali revelatione”, terminologia talvez menos clássica, porém melhor. Continuar lendo

PEGANDO O TOURO PELOS CHIFRES: O DILEMA SEDEVACANTISTA – A IGREJA É VISÍVEL

Fonte: Courrier de Rome – Tradução: Dominus Est

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1. A principal dificuldade encontrada pela tese sedevacantista é o dogma da visibilidade da Igreja. De modo que, para manter a tese, não há outro recurso senão minimizar essa visibilidade da Igreja, dada a impossibilidade de negá-la. “A visibilidade da Igreja”, dir-nos-ão, “o fato de sua cabeça ser visível, não é uma nota essencial da Igreja como o são a unidade, a santidade, a catolicidade e a apostolicidade. A visibilidade é uma propriedade da Igreja, é um acidente próprio e, como qualquer acidente, é suscetível a variações. A Igreja continua a ser Igreja mesmo quando a sua visibilidade diminui”(1) . Está claro o que se diz aqui: quando a Igreja está habitualmente privada da sua cabeça visível, o Papa.

2. No entanto, os ensinamentos da Revelação são inequívocos sobre este ponto e o Magistério da Igreja dá-nos a formulação exata e invariável, através de repetidas afirmações. Uma das mais explícitas encontra-se na Encíclica Satis cognitum, do Papa Leão XIII. “Certamente, diz o predecessor de São Pio X, Cristo é o rei eterno, e eternamente, do céu, continua a governar e a proteger o seu reino invisivelmente, mas, como quis que este reino fosse visível, teve de nomear alguém para ocupar o seu lugar na terra, depois de Ele próprio ter subido ao céu. Se alguém disser que a única cabeça e o único pastor é Jesus Cristo, que é o único esposo da única Igreja, esta resposta não é suficiente. É obvio, de fato, que é o próprio Jesus Cristo quem opera os sacramentos na Igreja; é ele quem batiza, é ele quem perdoa os pecados. Ele é o verdadeiro sacerdote que se ofereceu a si mesmo no Altar da Cruz, e em virtude do qual o seu corpo é consagrado todos os dias no altar. E, no entanto, como não podia permanecer com todos os fiéis pela sua presença corporal, escolheu ministros por meio dos quais podia dispensar aos fiéis os sacramentos de que acabamos de falar, como dissemos acima (capítulo 74). Do mesmo modo, porque teve de retirar a sua presença corporal da Igreja, teve de designar alguém para cuidar da Igreja universal em seu lugar. Por isso, antes da sua Ascensão, disse a Pedro: ‘Apascenta as minhas ovelhas’”(2). (3) . Continuar lendo

PEGANDO O TOURO PELOS CHIFRES: O DILEMA SEDEVACANTISTA – REFUTAÇÕES

Fonte: Courrier de Rome – Tradução: Dominus Est

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1. A tese sedevacantista fez e ainda faz correr muita tinta. A título de exemplo, eis o juízo expresso dado por um dos nossos colegas (1), a cujos olhos esta tese nem sequer parece demonstrável, ou seja, seria falsa no plano estritamente teórico.

2. “Embora o modernismo liberal seja, em sua essência, a pior das heresias, a vontade perseverante dos homens modernistas, ao longo dos últimos séculos, de conciliar o pensamento moderno com a fé tradicional, acabou por gerar uma tal confusão que, atualmente, nos seminários e colégios católicos, os teólogos mais heréticos e os mais ortodoxos se misturam, passando por todos os graus intermediários. Se se quiser penetrar na doutrina profunda do Novus Ordo Missæ, encontra-se aí um pensamento inteiramente heterodoxo que, no entanto, oferece a muitos teólogos a possibilidade de explicá-lo sob uma luz completamente católica. O Papa pratica um ecumenismo que não parece distinguir-se em nada do sincretismo maçônico. No entanto, aparentemente, condena o sincretismo aqui e ali, e parece dar garantias suficientes para que mais de um teólogo concilie as suas intenções com as de Pio XI em Mortalium animos. O católico comum, que permanece de boa vontade e que evitou qualquer contato com essa atmosfera de confusão que envolve quase toda a Igreja, tem sérias dificuldades em acreditar (como a experiência mostra) que pessoas animadas por intenções aparentemente retas possam conciliar, a tal ponto, a luz e as trevas. Mas os sofismas que realizam este milagre atingiram um grau supremo de perfeição. O resultado de tudo isto é que, entre os papas conciliares, a má-fé do herege ou a má vontade do cismático não aparecem notoriamente. E não nos peçam para o provar, porque (perdoem-nos este paradoxo) a não notoriedade é algo notório, e o que é obvio não se demonstra, a saber, que a grande maioria dos católicos de hoje, psicologicamente equilibrados e doutrinariamente bem formados, que notam a malícia intrínseca do magistério conciliar, não consideram que os papas tenham deixado de sê-lo”. Continuar lendo

PEGANDO O TOURO PELOS CHIFRES: O DILEMA SEDEVACANTISTA – ASPECTOS – PARTE 2/2

Fonte: Courrier de Rome – Tradução: Dominus Est

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Segundo aspecto do dilema

13. O fato é que, tal como os seus quatro predecessores, o atual ocupante da Sé Apostólica abre amplamente a porta à heresia. Há provas abundantes disso, e nos últimos sete anos assistimos a um aumento sem precedentes. No entanto, aos olhos de todos os teólogos, uma tal situação dificilmente seria compatível com o próprio título do papado. A famosa questão do Papa herético fez história: no rescaldo do Grande Cisma e ainda mais no rescaldo do que poderíamos ser tentados a chamar de o caso Savonarola, Caetano foi o primeiro, e depois dele os teólogos foram levados a refletir sobre a natureza da Igreja, e todos previram a possibilidade de um Papa que viria a professar erros contrários à fé.

14. Certamente seu pensamento estava em grande parte condicionado pelo contexto, razão pela qual se fez é história, é porque é da história. Isto porque o problema está demasiado ligado a circunstâncias específicas para que a solução que lhe é dada seja facilmente transponível para a situação pós-Vaticano II. Por um lado, os teólogos daquelas épocas consideravam a heresia, com efeito, professada na devida forma, ao passo que os erros atuais são muito mais sutis e sem precedentes para atrair, obviamente, os anátemas já fulminados na época contra as heresias antigas. Por outro lado, esses mesmos teólogos vêem a heresia limitada à pessoa do Papa, de modo que, se o Papa que caiu em heresia perder o pontificado, é possível e relativamente fácil dar-lhe um sucessor sem dificuldade, enquanto o resto do Corpo da Igreja permanece saudável e ileso da heresia. Hoje, o fato inédito daquilo a que se costuma chamar a “Igreja conciliar”ou seja, a situação de uma hierarquia eclesiástica majoritariamente infiltrada pelo cancro do neo-modernismo, torna muito mais problemática a possibilidade de uma desqualificação seguida de uma nova eleição a favor de um candidato isento de heresias. Podemos ver o que aconteceu nos últimos anos, uma vez que tanto as Dubiaapresentadas ao Papa Francisco por quatro cardeais em 2016 como a Correctio filialis dirigida ao mesmo Papa em 2017 por 62 figuras importantes do mundo católico não surtiram resultado. Continuar lendo

PEGANDO O TOURO PELOS CHIFRES: O DILEMA SEDEVACANTISTA – ASPECTOS – PARTE 1/2

Fonte: Courrier de Rome – Tradução: Dominus Est

1. O Concílio Vaticano II semeou a dúvida no espírito dos católicos. Essa dúvida deve ser entendida, evidentemente, primeiro como a dúvida semeada pelo Concílio a respeito das verdades divinamente reveladas por Deus. O motivo dessa dúvida se concentra inteiramente no princípio da liberdade de consciência adotado pelos Papas desde o último Concílio, de João XXIII a Francisco.

2. “Hoje”, disse João XXIII no discurso de abertura do Concílio Vaticano II, em 11 de outubro de 1962, “a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade. Julga satisfazer melhor às necessidades de hoje mostrando a validez da sua doutrina do que renovando condenações”. Depois dele, na sua mensagem de encerramento do Concílio, dirigida aos governantes, em 8 de dezembro de 1965, Paulo VI declarou que “a Igreja pede apenas liberdade”. Em outras palavras, a verdade pregada pela Igreja é agora reivindicada, no contexto da vida em sociedade e face aos poderes civis, não mais como dogma, mas como uma opinião. O dogma exige para si a exclusividade da expressão — o que implica a repressão dos erros contrários — enquanto a opinião se contenta com a liberdade de expressão e não pretende excluir a expressão de opiniões contrárias. Em sua Mensagem de 8 de dezembro de 1987 pela Jornada Mundial da Paz de 1988, João Paulo II tirou a consequência lógica dessas proposições iniciais de João XXIII e Paulo VI, afirmando que “mesmo quando um Estado concede a uma determinada religião uma posição jurídica particular, deve reconhecer juridicamente e respeitar efetivamente o direito de todos os cidadãos à liberdade de consciência”.

A mesma ideia foi vigorosamente reafirmada por Bento XVI no seu discurso à ONU em 8 de dezembro de 2010: “Todos devem poder exercer livremente o direito de professar e manifestar, individualmente ou comunitariamente, a sua religião ou sua fé, tanto pública como privadamente, no ensino e na prática, nas publicações, no culto e na observância dos ritos. Não devem ser impedidos se quiserem, eventualmente, aderir a uma outra religião ou não professar nenhuma”. Portanto, o tipo de discurso que o Papa Francisco utiliza atualmente não apresenta nenhuma novidade. Quando, no dia seguinte à sua eleição, em outubro de 2013, o sucessor de Bento XVI declarou, numa entrevista a Eugenio Scalfari que “cada um tem a sua própria concepção do bem e do mal”, o novo Papa estava simplesmente traduzindo a doutrina do Concílio sobre a liberdade religiosa. Continuar lendo

ESPECIAIS DO BLOG – BREVE CATECISMO SOBRE A IGREJA E O MAGISTÉRIO

cidade-estado vaticano

Nestes tempos em que a crise neomodernista penetrou diretamente no espírito dos homens da Igreja, é necessário conhecer a natureza da Igreja para não naufragarmos na obra da nossa salvação. De fato, é de Fé revelada (Mt. XVI, 28) e infalivelmente definida (Concílio Vaticano I) que Jesus Cristo fundou a Igreja com o objetivo de continuar a Redenção do gênero humano que Ele próprio iniciou (Mt. XXVIII, 19-20; Conc. Vat. I). Por isso, “fora da Igreja não há salvação” (Lc. X, 10; Atos IV, 12; IV Conc. de Latrão; Conc. de Florença).

Tentaremos resumir os pontos principais do que se encontra na Revelação (Sagrada Escritura e Tradição) e do que o Magistério tem ensinado sobre a Igreja, de forma autêntica e, por vezes, até infalível, para que permaneçamos na Fé Católica “sem a qual é impossível agradar a Deus” (Heb. XI, 6).

INTRODUÇÃO

O SEDEVACANTISMO

O CONCILIARISMO E A QUESTÃO DO “PAPA HERÉTICO”

GALICANISMO

O MAGISTÉRIO

MAGISTÉRIO E REVELAÇÃO

A INFALIBILIDADE DO MAGISTÉRIO

OS LUGARES TEOLÓGICOS E O MAGISTÉRIO

MAGISTÉRIO, INTÉRPRETE DA TRADIÇÃO

AS QUATRO CONDIÇÕES DA INFALIBILIDADE DO MAGISTÉRIO EXTRAORDINÁRIO E ORDINÁRIO

CONCLUSÃO

BREVE CATECISMO SOBRE A IGREJA E O MAGISTÉRIO – O SEDEVACANTISMO

10 curiosidades do Vaticano que vão surpreender você

Fonte: Sì Sì No No, ano XXXIX, n. 18 – Tradução: Dominus Est

Leia o capítulo anterior clicando aqui

A apostolicidade é, na crise que o ambiente eclesial vive, a nota mais útil e importante para compreender o que está acontecendo e para remediar tamanho mal. Sem Apóstolos não há Igreja de Cristo, pois o próprio Jesus a fundou sobre eles. Mas sem o Príncipe dos Apóstolos, sem Pedro, que é a “pedra” secundária e subordinada a Cristo, os Apóstolos estão separados de Cristo. A presença do Papa e dos Bispos em ato é absolutamente necessária, e não apenas em potência ou in fieri, ou seja, no devir, tal como pretende o sedevacantismo. De fato, se a Igreja estivesse em potência ou no devir, ainda não existiria e, além disso, Cristo não estaria com ela, como prometeu, todos os dias até ao fim do mundo, mas estaria com ela como que em intervalos, algumas vezes em ato ou em ser e outras vezes apenas em potência ou in fieri. Em vez disso, Cristo fundou a sua Igreja sobre uma cadeia ininterrupta de Papas no presente e não no devir perpétuo ou intermitente: Pedro e os Apóstolos eram Papas e Bispos em ato e formalmente, não em potência ou in fieri ou materialmente. A Igreja está estabelecida na existência presente, no ato e na forma, não no futuro, na potencialidade e na materialidade. Portanto, a Igreja ou o papado material ou in fieri, que não teria passado ao ato nos últimos cinco papas e teria interrompido a sucessão apostólica formal que vinha desde Pedro, é um Papado concebido pela mente de um homem (mesmo que fosse um grande teólogo que, no entanto, não é Cristo na terra e nem o Magistério eclesiástico), mas não é a Igreja querida por Deus Pai, Filho e Espírito Santo.

É necessário distinguir:

1°) o estado transeunte da Sé vacante, que vai da morte de um papa à eleição de outro, no qual permanecem o Colégio cardinalício, capaz de substituir o papa falecido governando com autoridade (uma espécie de Colégio “vicário” do Vigário de Cristo), e também permanece o Episcopado universal[1], mantendo assim a unidade, a continuidade ininterrupta da série dos papas e a existência da Igreja, enquanto se aguarda a eleição de um novo Papa; Continuar lendo

ONDE O SEDEVACANTISMO E NEOCONSERVADORISMO SE ENCONTRAM

A TENTAÇÃO SEDEVACANTISTA

Fonte: FSSPX Distrito do México – Tradução: Dominus Est

Um estudo sobre a preocupante tendênciaque existe entre alguns católicos que amam os ensinamentos tradicionais e perenes da Igreja.

Sedevacantismo é uma palavra muito extensa que significa, literalmente, que a Santa Sede está vacante. Atualmente, indica a crença de que a pessoa que ocupa a cadeira de São Pedro não é o verdadeiro Papa, mas um impostor sem qualquer direito a exercer o oficio papal.

A razão alegada pelos sedevacantistas é que a crise da igreja tem o respaldo do Bispo de Roma. Eles afirmam que por omissão ou comissão, o Papa está promovendo erros e heresias como a nova Missa, o ecumenismo, a liberdade religiosa e a colegialidade. Os sedevacantistas pensam que um verdadeiro Papa não pode ser responsável por uma crise assim.

Esta mesma crise também produziu outro grupo, o dos neoconservadores, que aderem a tudo o que o Papa diga, pelo simples fato de ser o Papa. Deste modo, são levados a aceitar os falsos ensinamentos do Concilio Vaticano II mencionados acima.

É muito interessante que ambos os grupos, neoconservadores e sedevacantistas, servem-se do mesmo princípio: “O Papa é infalível em tudo, e o que ele ensina é verdadeiro e bom.” A diferença reside na forma como este princípio é aplicado. Os conservadores afirmam que, uma vez que o Vaticano II obteve a aprovação papal, devemos aceitar cegamente seus ensinamentos como bons e verdadeiros, sem importar-nos ou preocuparmos com o que possamos sentira respeito. Os sedevacantistas sustentam que, quando o Vaticano II promove heresias, sua autoridade não pode provir do verdadeiro Papa. Aqui está o dilema perfeito: neoconservador ou sedevacantista!

A solução para o dilema tem sua raiz no próprio princípio. A infalibilidade não é um passe universal para absolutamente tudo o que sai da boca do Papa ou tudo o que Roma diz. A infalibilidade está limitada a declarações específicas, que devem atender a certas condições para ter sua proteção. Esta proteção não se aplica aos documentos do Concílio Vaticano II nem à legislação em torno da Missa nova.

Monsenhor Lefebvre, em seu conhecimento da política romana e sabedoria sobrenatural, conhecia os principais problemas que ocorreram durante o Concílio Vaticano II: presidiu o Coetus, que foi o grupo formado pelos bispos em oposição aos modernistas provenientes dos países do Reno. Ao contrário dos sedevacantistas, o santo bispo não se escandalizou pela terrível confusão que sofreram a fé e a Missa sob o nome de ecumenismo. Ele lutou como um leão contra a Roma modernista e, no entanto, reconhecia a autoridade do Romano Pontífice. Ele agiu do mesmo modo que um bom menino o faria ao resistir a um pai que lhe pedisse para que roubasse, sem deixar de reconhecê-lo como pai.

Alguns sedevacantistas afirmam que os sacerdotes tradicionalistas (incluindo a FSSPX) invocam a pessoa do Papa dizendo “una cum” no cânon da Missa. Para eles ser “una cum” é tanto como dizer “Amém” às heresias promovidas pelo Papa. Na verdade, a tradução mais precisa do termo é que oramos pelo Papa, como cabeça visível da Igreja.

Por muito tentadora que possa parecer neste momento a opção do sedevacantismo, devemos resistir a cair nesse erro. No entanto, isso não significa que devemos alinhar-nos com os neoconservadores que tomam cada declaração papal como quase infalível. Recordemos que na história da Igreja houve santos e homens santos que consideraram necessário resistir ao Papa sem se tornarem sedevacantistas. Esta é a razão pela qual Monsenhor Lefebvre, mesmo com toda a sua oposição à Roma modernista, nunca adotou essa posição, e prudentemente proibiu os sacerdotes da FSSPX professá-la.